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Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na Infância II (OBJETIVOS) 1. Descrever a epidemiologia geral das parasitoses mais frequentes na infância, correlacionando com seus agentes etiológicos e seus respectivos fatores de risco; Ascaridíase; Tricuríase; Ancilostomíase; Oxuríase; Teníase; Estrongiloidíase; Amebíase; Giardíase. 2. Conhecer o ciclo biológico das parasitoses destacadas, inferindo suas manifestações clínicas e seu diagnóstico laboratorial; 3. Compreender o tratamento das parasitoses, diferenciando o tratamento empírico do específico; 4. Identificar as medidas profiláticas. Os parasitos são “vermes” intestinais que podem ser helmintos ou protozoários (vermes microscópicos). Os helmintos são divididos em aqueles que apresentam um formato arredondado/cilíndrico (nematelmintos) ou achatado (platelmintos). Tanto os helmintos como os protozoários podem causar doenças no intestino delgado ou grosso. Conceitos Gerais Epidemiologia Segundo a OMS, as parasitoses intestinais são consideradas como o conjunto de doenças mais comuns no globo terrestre. A ascaridíase, por exemplo, é a segunda infecção mais comum do mundo, perdendo apenas para as cáries. As parasitoses de modo geral estão muito atreladas a países subdesenvolvidos e, populações vulneráveis e expostas à pobreza e às péssimas condições de vida. Prevalência A prevalência geral das parasitoses é de 15 a 80%, variando de acordo com a população e as condições de vida. Separando por critérios de idade, característica ou infecção, temos: Parasitoses em lactentes com 15%; Parasitoses em escolares de 23,3 a 66,3%; Poliparasitismo (presença de mais de um tipo de verminose) entre 15 a 37%; Parasitoses provocadas por Ascaridíase, sendo o helminto mais comum como agente etiológico, enquanto a Giardíase é o protozoário mais comum. Etiologia Helmintos Os helmintos são divididos em nematelmintos (cilíndricos) e platelmintos (achatados). Os principais nematelmintos causadores de parasitoses intestinais são: Ascaris lumbricoides; Enterobius vermicularis; Trichuris trichiura; Necator americanos; Ancylostoma duodenale; Strongyloides stercoralis. Já as patologias causadas pelos platelmintos são: Taenia solium; Taenia saginata; transmissores: Hymenolepis nana; cestódeos Diphylobothrium latum; Schistosoma mansoni – transmissores: trematódeos. Protozoários Os principais protozoários causadores de parasitose intestinal, dentre os mais importantes, são a Giardia lamblia e a Entamoeba histolyca. Porém, é importante ressaltar que existem protozoários comensais do nosso organismo (Entamoeba coli. e Endolimax nana), os quais podem ser encontrados no exame parasitológico de fezes. Além dos principais protozoários causadores de parasitose intestinal, temos outros possíveis protozoários envolvidos no processo patológico, como: Entamoeba histolytica; Giardia lamblia; Cryptosporidium parvum; Cystoisospora belli; Balantidium coli; Microsporidia; Blastocystis hominis; Sarcocystis sp.; Dientamoeba fragilis; Cyclospora cayetanensis. HELMINTOS/VERMINOSES PROTOZOÁRIOS Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na Infância II Clínica Tratamento Em países em desenvolvimento, preconiza-se a terapia empírica periódica a cada 4, 6 ou 12 meses, a depender da epidemiologia local. Devido à recorrente ocorrência de poliparasitismo, o tratamento das parasitoses costuma ser amplo, e não direcionado. A terapia se dá através de drogas anti-helmínticas (mebendazol, tiabendazol e albendazol) e de nitroimidazólicos (metronidazol, tinidazol e secnidazol). Segundo a SBP, a droga de escolha como terapia empírica seria a ALBENDAZOL quando há provável diagnóstico de parasitose intestinal, sendo realizada durante 5 dias nas doses normais do fármaco, em indivíduos maiores de 2 anos. Nos casos de indivíduos menores de 2 anos, a terapia empírica é feita pelo MEBENDAZOL. Prevenção A prevenção passa por melhoria geral das condições de vida das populações atingidas, incluindo melhoria das condições sanitárias, educação sobre higiene ambiental, fornecimento de água potável e orientação acerca do descarte adequado de lixo. Helminto deriva da palavra Hélmins, que significa vermes. É dividido em dois tipos de acordo com o seu formato, podendo ser cilíndrico (nematelmintos) ou achatado (platelmintos). Seu ciclo é dividido em ovo, larva e verme adulto. As principais verminoses se manifestam como a Ascaridíase, a Tricuríase, a Ancilostomíase, a Oxuríase, a Teníase e a Estrongiloidíase. Importante ressaltar que há eosinofilia apenas nas patologias que tem ciclo pulmonar e invasão hematogênica, ou seja, na Ascaridíase, na Ancilostomíase e na Estrongiloidíase. Estrongiloidíase Conceitos A Estrongiloidíase é uma infecção causada por um nematelminto chamado Strongyloides stercoralis, sendo mais comum nas regiões tropicais e temperadas. A Estrongiloidíase acomete indivíduos de todas as idades, com maior prevalência entre 5 e 20 anos, e maior letalidade em imunodeprimidos e etilistas (alcoólatras). Ciclo de Vida 1. A S. stercoralis penetra o hospedeiro pela pele, em sua forma de larva filariótica. Pode ocorrer também por ingestão oral das larvas, sendo um processo bem mais raro. 2. Através da pele, a larva atinge a corrente sanguínea, migrando para os alvéolos pulmonares. Logo após, “sobe” pelos brônquios e traqueia, sendo deglutida e levada ao intestino delgado. É na parte superior do intestino que ocorre a penetração das fêmeas na mucosa intestinal. 3. A fêmea põe ovos na mucosa duodenal, e as larvas rabditoides (L1), quando eclodem, se encaminham para o lúmen. 4. Antes de serem eliminadas pelo ânus, podem penetrar a parede intestinal, gerando autoinfecção, o que pode manter a infecção parasitária por longos períodos. Nesse processo, as larvas podem sofrer mudanças morfofisiológicas, tornando as infecções concomitantes de diferentes formas de apresentação clínica. Dessa forma, o quadro do paciente é mais grave; Muito comum em imunodeprimidos e desnutridos graves. Os Nematelmintos podem ser chamados também de geo- helmintos, por terem um ciclo desenvolvido no solo ou no ambiente. Os principais representantes desse filo são a ascaridíase, a enterobíase, a tricuríase, a ancilostomíase e a estrongiloidíase. Já os Platelmintos podem ser chamados de bio-helmintos, por terem um ciclo desenvolvido dentro de animais. O principal representante deles é a teníase. Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na Infância II 5. Caso não ocorra autoinfecção, a larva é eliminada no meio externo, podendo transformar-se em larva infectante ou em adulto de vida livre. FASES: Fase 1: as larvas rabditoides, ou L1, são liberadas nas fezes após a eclosão dos ovos embrionados da fêmea; Fase 2: as larvas, ainda na fase rabditoide evoluem para o tipo L2; Fase 3: Processo direto: no solo, as larvas em L2 evoluem para as larvas filarióides, ou L3, assumindo a forma infectante do verme. Dessa forma, a larva penetra a pele do hospedeiro. Processo indireto: algumas das larvas cursam com ciclo indireto, as quais evoluem para fêmeas ou machos. Essas larvas vivem e copulam no próprio solo, produzindo os ovos embrionados. Esses ovos eclodem e liberam larvas rabiditoides em L1. Estas evoluem para L2 e depois para L3, assumindo a forma infectante. Fase 4: após as larvas penetrarem a pele do indivíduo, ela passa para a corrente sanguínea e seguem para os pulmões. É nesse momento que ela se torna L4. Fase final: O verme já em L4 migra para o intestino delgado, onde continua o processo natural de copulação e deposição de ovos. Fisiopatologia Os vermesadultos, no intestino, exercem ação traumática e lítica, levando a uma reação inflamatória que pode determinar atrofia vilositária de intensidade variável. As larvas, ao penetrarem na mucosa, podem atingir os vasos linfáticos e disseminar-se, acometendo gânglios mesentéricos, fígado e vesícula biliar. Clínica Sinais e Sintomas O espectro clínico pode variar desde quadros assintomáticos até infecção aguda sintomática, formas crônicas com sintomas de hipersensibilidade e as formas graves, que resultam da disseminação do parasita em indivíduos imunodeprimidos. Ou seja, a forma de manifestação clínica da patologia varia de acordo com a carga parasitária, do estado nutricional do hospedeiro, da sensibilidade imunológica e da fase de migração do verme no hospedeiro. Pele: no local que a larva penetra a pele, pode ocorrer reação local com prurido; Trato respiratório: Tosse; Expectoração (pode não ocorrer); Crises do tipo asmática; Dispneia; Broncoespasmo; Síndrome de Loeffler (acúmulo de eosinófilos no pulmão); Infiltrado pulmonar transitório; Trato gastrointestinal: normalmente, é um efeito mais tardio da doença, ocorrendo quando o verme coloniza o intestino delgado. Isso causa: Diarreia, sem presença de sangue (quando há hiperinfecção, há sangue nas fezes); Dor abdominal alta ou epigastralgia (por causa do local onde a fêmea deposita os ovos, que no caso é no duodeno); Náuseas; Vômitos. Sinais e Sintomas de acordo com a gravidade: Reinfecção: reações de hipersensibilidade. Edema; Eritema; Prurido; Papas hemorrágicas. Autoinfecção externa: Lesões urticariformes transitórias na região perianal. Estrongiloidíase disseminada: Acometimento do sistema linfohematogênico; Diarreia importante, que pode levar à desidratação; Enteropatia perdedora de proteínas; Esteatorreia com grande perda de peso; Náuseas e vômitos; Enterorragia e/ou melena; Forte dor abdominal; Início abrupto; Distensão abdominal; Febre; Bacteremia (por bactérias gram-negativas): o principal achado clinico de bacteriemia é o choque, podendo causar até óbito. Infecção pela larva currens: raríssima! Sinais de infecção disseminada (as lesões cutâneas lembram as de infecção por bicho geográfico). IMPORTANTE! As larvas podem invadir os órgãos internos, causando lesão tecidual extensa e disfunção orgânica. Vias de Transmissão A principal via de transmissão é a partir da penetração da larva na fase L3 (ou filarióide), através da pele e mucosas. Outros meios de transmissão seriam a autoinfecção externa pela L3, através da reinfecção na região perianal (mais comum em crianças e pacientes que utilizam fraudas), a autoinfecção interna que ocorre pela L3 no lúmen intestinal (pacientes constipados ou imunodeprimidos) e com a ingestão de alimentos ou água contaminados com larvas L3. Diagnóstico O diagnóstico é feito principalmente por exame parasitológico das fezes pelo método de Baermann. O achado laboratorial positivo evidencia larva rabditoide, e também larvas filarióides, vermes adultos e ovos. Dessa forma, deve-se fazer análise de pelo menos 3 amostras. O ideal é colher de 3-5 amostras em dias alternados e que vá para a análise ainda fresca. O processo de deposição de ovos até a liberação das larvas nas fezes dura aproximadamente 4 semanas. A eosinofilia está intimamente ligada ao ciclo pulmonar da doença. GRAVIDADE Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na Infância II A presença de ovos nas fezes indica hiperinfecção ou paciente com quadro diarreico. Já a presença de larvas filarioides indica paciente com intestino lento ou fezes envelhecidas. Outros métodos seriam: IFM: detecção de anticorpos séricos IgG para antígenos de superfícies de larvas filarióides; Exame do líquido duodenal (obtido por sondagem aspirativa); Teste sorológico ELISA (90% de sensibilidade); Leucograma (evidencia-se acentuada eosinofilia). Tratamento O tratamento para estrongiloidíase pode ser feito por quatro fármacos, sendo os principais a IVERMECTINA e o TIABENDAZOL. Importante lembrar que o controle de cura da estrongiloidíase é feito através de três exames parasitológicos de fezes, após 7, 14 e 21 dias do tratamento. Ivermectina: droga de escolha! Aplica-se 200µg/kg/dia, por 1 ou 2 dias. Há bastante resposta em indivíduos imunossuprimidos, sendo mais um ponto importante. Só pode ser feito em crianças a partir de 15 kg. Também é semelhante ao tiabendazol, mas com efeitos colaterais inferiores; Tiabendazol: aplica-se 50 mg/kg (máximo de 3 g) em dose única ou 25 mg/kg, 2 vezes/dia, por 2 dias consecutivos. Apesar de eficaz, esse fármaco tem elevado percentual de efeitos colaterais, como sonolência, fadiga, cefaleia, tontura, febre, anorexia, náuseas e vômitos; dor abdominal, diarreia, prurido, exantema, linfadenopatia, odor caracterestico na urina. NÃO SE ACHA MUITO NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA; Albendazol: 400 mg/dia, por 3 dias seguidos. Não há necessidade de repetição; Cambendazol: 5mg/kg, em dose única, via oral; repetido após 10 dias; Laxantes: indicado em casos de pacientes constipados. Utilizado para evitar autoinfecção interna. Ancilostomíase / Necatoríase Conceitos A ancilostomíase ou necatoríase, é a clássica infecção por ancilostomídeo causada pelo Ancylostoma duodenale, Ancylostoma ceylanicum (mais observado na Ásia) e pelo Necator americanus (causa mais comum de ancilostomíase humana no BRASIL). No Brasil, a prevalência do Necator americanos chega a 60% dos agentes da ancilostomíase, sendo os lavradores, as crianças e os adolescentes mais suscetíveis devido ao hábito de andarem descalços. Devido à necessidade de umidade, sombra e calor adequados no solo, a parasitose é mais comum em áreas tropicais e subtropicais. Infecções mais graves ocorrem em pessoas que visitam áreas endêmicas, admitindo-se a existência de uma resistência adquirida. É a doença presente no personagem Jeca Tatu! Ciclo de Vida O ciclo de vida do ancilóstomo dura cerca de 45 dias. 1. No meio externo, os ovos liberados são depositados no solo e, com umidade e sombra adequadas, se desenvolvem nas larvas de primeiro estágio (rabditoides) e eclodem (após 4 a 5 dias). Em seguida, as larvas sofrem duas mudanças até o estágio infectante. 2. A infecção ocorre tanto por via percutânea durante contato com o solo contaminado (N. americanus) quanto por via oral após ingestão de larvas (A. duodenale); 3. As larvas penetram a pele e atingem a circulação. Nos capilares pulmonares, penetram os alvéolos, migram pela árvore brônquica e atingem o esôfago, sendo ingeridas. 4. No intestino delgado, atingem o estado adulto, onde se fixam (através de suas cápsulas bucais armadas com placas cortantes e dentes para facilitar a fixação à mucosa) e iniciam a ovoposição; 5. Os ovos então são liberados nas fezes, e o ciclo reinicia. Fisiopatologia Durante a fase intestinal da infecção, os parasitas adultos aderem à mucosa duodenal pela cápsula bucal e, para sua nutrição, suga o sangue, podendo levar a grandes perdas sanguíneas, a depender da gravidade da infestação. Com o tempo, o ferro alimentar não consegue manter os padrões hematimétricos em níveis normais. Estima-se que cada ancilóstomo adulto cause uma perda de 0,25 mL de sangue por dia, já um necator adulto provoca a perda de 0,03 mL. Essa perda sanguínea provoca uma anemia hipocrômica e microcítica. Clínica Sinais e Sintomas O quadro clínico varia de pacientes assintomáticos (previamente bem nutridos) a anêmicos em estado de gravidade. Pele: a larva pode fazer surgir uma erupção papulovesicular no local da invasão, a qual evolui com prurido e desaparece em 24-72 horas; Trato respiratório: no pulmão, as larvas podem ocasionar pequenas lesões pulmonares, tosse e broncopneumonia, além da Síndromede Loffler. Circulação sanguínea: para fins nutritivos, o parasita suga o sangue do hospedeiro, o que faz com que este fique suscetível a grandes perdas sanguíneas. Cada adulto de A. duodenale provoca uma perda estimada de 0,2 mL de sangue/dia, facilitando a instalação de anemia. Também é comum haver palidez, tontura, zumbidos, taquicardia, fadiga, sonolência, lipotimia, sopro cardíaco, déficit pondoestatural e atraso no desenvolvimento psicomotor. Trato digestório: as manifestações digestivas incluem náuseas, vômitos, anorexia, diarreia, dores abdominais e constipação. Pequenas úlceras, edema, infiltrado leucocitário e aumento do peristaltismo também cursam com o quadro. Pode haver a perversão do apetite (ou geofagia), como uma fome por giz, terra, reboco de parede e etc. Isso se dá devido a carência de ferro, cálcio e fósforo, obrigando o corpo a tentar suprir os baixos níveis de outra forma. Se houver reinfecção ou resistência das larvas fêmeas, indica-se repetir o tratamento. Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na Infância II Diagnóstico O padrão-ouro no diagnóstico é estabelecido através do exame parasitológico de fezes, realizando a pesquisa de ovos ou larvas (exame direto ou amostras fecais preservadas em solução salina). Hemograma: anemia hipocrômica e microcítica; Leucograma: apresenta-se com eosinofilia; Radiografia torácica: os achados são infiltrado pulmonar, Síndrome de Loffer, podendo aparecer também uma pneumonia e uma broncopneumonia. Tratamento Albendazol: administração de 400 mg em dose única ou por 3 dias consecutivos. Não tem necessidade de repetir a dosagem por atuar em todas as fases do ciclo de vida do verme; Indicado para maiores de 2 anos. Mebendazol: aplica-se 500 mg em dose única ou 100 mg, duas vezes/dia, durante 3 dias consecutivos. Repete-se com 21 dias como forma de conseguir atingir os vermes adultos de em todo o ciclo do verme; Levamisol: 2,5 mg/kg em dose única; Pamoato de pirantel: 10-11 mg/kg em dose única ou por 3 dias. IMPORTANTE! Como o parasita apresenta ciclo pulmonar, o tratamento deve ser repetido 2-3 semanas após o término da terapia. Ascaridíase Conceitos A ascaridíase é uma helmintíase ocasionada pelo Ascaris lumbricoides, um verme cilíndrico que habita o intestino delgado e possui tempo de vida médio de 10-24 meses. A ascaridíase corresponde à parasitose humana mais prevalente e é encontrada principalmente em áreas onde as condições sanitárias são precárias e em áreas tropicais. Acomete principalmente crianças de menor idade e pré- escolares, fato explicado pelo maior contato de indivíduos dessa faixa etária com o solo. Nesse sentido, é importante destacar que a transmissão é do tipo mão-boca, mas pode envolver a ingestão de frutas e vegetais crus contaminados. Ou seja, a transmissão é puramente por via oral. Ciclo de Vida 1. Os ovos eliminados pelo indivíduo infectado atingem o solo e se transformam em larvas infectantes após 2 semanas. 2. Quando ingeridos, os ovos eclodem no intestino delgado e as larvas penetram a mucosa. 3. Em seguida, chegam aos pulmões através da circulação, onde penetram os alvéolos, e ascendem pela árvore brônquica e voltam a ser ingeridas. Nos pulmões, podem causar sintomas respiratórios, a exemplo de tosse, dispneia, febre, estertores e sibilos (ascaridíase pulmonar). 4. A ovoposição se inicia 2-3 meses após a infecção, podendo uma fêmea grávida produzir 200.000 ovos por dia. Fisiopatologia As larvas, ao atravessarem a barreira pulmonar, determinam lesões alveolares e irritação da árvore brônquica, com repercussões que variam de acordo com a intensidade da infestação e da sensibilidade do hospedeiro. O verme adulto pode ser patogênico por vários mecanismos: Ação mecânica na luz intestinal, podendo levar à oclusão ou semioclusão; Ação traumática e espoliadora; Ação tóxica e alergizante; Migração do verme adulto. Clínica Sinais e Sintomas O quadro clínico varia a depender do estado de infecção (forma larvária ou verme adulto), da carga parasitária e do estado nutricional do paciente. O indivíduo parasitado pode ser assintomático ou apresentar alterações decorrentes da reação de hipersensibilidade à infecção pelas larvas, ao alérgeno de vermes adultos e, inclusive, à grande tolerância à presença do verme adulto. Larvas: ao migrarem para os pulmões, as larvas provocam sintomas respiratórios semelhantes à asma. São eles: Tosse; Dispneia; Febre; Estertores; Sibilos. Vermes adultos: no intestino delgado, estão associados a pouca ou nenhuma sintomatologia, exceto quando são numerosos. Podem ser observadas cólicas intestinais periumbilicais com ou sem diarreia, meteorismo, náuseas, vômitos e eliminação de vermes pela boca, ânus e vias aéreas superiores. Além disso pode haver redução da atividade da enzima lactase. A complicação mais importante é a semioclusão intestinal, que ocorre pelo deslocamento maciço de grande carga de parasitas no lúmen intestinal, formando massas de vermes que frequentemente se impactam na região ileocecal. Tais massas são vistas como imagens O alérgeno do áscaris é considerado o mais ativo de todos os alérgeno de origem parasitária. A Síndrome de Loeffler é o conjunto com associação entre os sintomas pulmonares e o acúmulo de eosinófilos, além dos achados radiológicos (não específicos, de caráter migratório e fugaz). Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na Infância II tubulares na luz intestinal pela radiografia simples de abdome (imagem de miolo de pão). Ocorre mais em crianças entre 1 e 5 anos, ocasionando dor abdominal, náuseas, vômitos, parada da eliminação de fezes, distensão abdominal e presença de tumoração palpável. Outra complicação da ascaridíase se deve à migração do verme e ao seu tropismo por orifícios, promovendo o deslocamento de vários órgãos, sintomas alérgicos, urticária e doença granulomatosa. Diagnóstico O diagnóstico se baseia na observação de ovos pelo método direto a fresco ou corado e pelas técnicas de concentração. Além disso, pode haver análise do escarro (crianças mais velhas) para checar a presença de larvas. No hemograma, apresenta-se com leucocitose e eosinofilia. Tratamento Mebendazol: administra-se 100 mg, 2-3 vezes ao dia ou 500 mg em dose única. É realizado durante 3 dias, a cada 12 horas, devendo ser repetido 21 dias após, no mesmo esquema de 3 dias. Seu mecanismo de ação se dá mediante o bloqueio da captação de glicose pelo verme, provocando sua imobilização e morte posterior. Indicado para crianças menores de 2 anos; Contudo, pode causar leves efeitos adversos. Albendazol: aplica-se 400 mg em dose única, devendo ser repetido após 21 dias. Na prática, é o fármaco mais utilizado, por mais que o mebendazol seja o mais efetivo; Pamoato de pirantel: 10 ou 11 mg/kg em dose única (máximo de 1g); Levamisol: 2,5 mg/kg em dose única. É o mais barato, porém efetivo apenas contra Ascaris; Piperazina: 100 mg/kg por 3-5 dias; restrita ao tratamento de obstrução ou semiobstrução intestinal); Sua prescrição está reservada ao tratamento de obstrução ou semiobstrução intestinal por bolo de A. lumbricoides. Tem ação curarizante sobre os vermes, provocando paralisia flácida e expulsão através do peristaltismo intestinal. Uso de olho mineral: com o paciente em jejum, aplica-se óleo mineral, 15 a 30 ml, por sonda nasogástrica a cada 2 horas, até que haja sua eliminação pelo ânus; a seguir, inicia-se a piperazina. IMPORTANTE! Devido a presença de ciclo pulmonar, recomenda-se a repetição do tratamento, independentemente do fármaco utilizado, 2 a 3 semanas depois. Oxiuríase / Enterobíase Também chamada de oxiuríase, é uma afecção causada pelo Enterobius vermiculares ou Oxiurus vermiculares, atingindo principalmente crianças agrupadas (colégios,orfanatos e creches) e sendo mais prevalente em indivíduos de 5-14 anos. O acometimento de várias pessoas de uma mesma família é comum, já que os ovos são resistentes e podem sobreviver no meio externo por vários dias. Vias de Transmissão Em termos gerais, a transmissão pode ocorrer de forma direta (ânus-boca), secundária (poeira ou alimentos contaminados) ou por retroinfecção (migração das larvas da região perianal ao intestino grosso). Ciclo de Vida 1. O verme adulto habita preferencialmente o ceco e áreas adjacentes, como o apêndice, o íleo e o cólon ascendente. 2. As fêmeas fecundadas se desprendem do ceco e migram para a região perianal à noite, onde eliminam até 15.000 ovos. 3. Ao serem ingeridos, os ovos sofrem transformações ao longo do intestino delgado, chegando ao ceco na sua forma adulta. 4. Provoca sintomas por estimulação mecânica, irritação e reações alérgicas, as quais podem determinar ulcerações e pequenas hemorragias. 5. A movimentação das fêmeas na região perianal provoca intenso prurido e traumatismo local em consequência do ato de coçar, podendo desencadear infecção secundária. Patogênese Ocorre um processo irritativo-inflamatório com ulcerações e pequenas hemorragias no trato gastrointestinal. Além disso, a movimentação das fêmeas na região perianal provoca intenso prurido e traumatismo local em consequência do ato de coçar. Isso pode gerar uma infecção secundária por outros agentes etiológicos ou pelo próprio verme. Clínica Sinais e Sintomas O quadro clínico é caracterizado por dor em quadrante inferior direito, flatulência e diarreia. O sintoma mais importante é o prurido, o qual pode levar à insônia, irritabilidade e anorexia. Quando a migração atinge o aparelho genital feminino, provoca corrimento vaginal e salpingite (inflamação das tubas uterinas). Ademais, pode gerar apendicite, doença inflamatória pélvica, Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na Infância II peritonite e hepatite, todos secundários à migração para locais ectópicos. Diagnóstico Clinicamente analisando, o sinal mais importante é a história de prurido anal. Já o diagnóstico laboratorial ocorre através dos exames laboratoriais, sendo o exame parasitológico das fezes (o achado analisado são os ovos do parasito nas fezes), o método da fita gomada (realizado pela manhã, ao acordar e antes da higienização da região perianal) e o swab anal. Tratamento Pamoato de pirvínio: 10 mg/kg em dose única. Repete-se após 14 dias. É a droga de escolha! Mebendazol: 500 mg em dose única ou 100 mg, 2 vezes/dia, durante 3 dias; Albendazol: 400 mg/kg em dose única, com repetição após 10 dias. DEVE SER REALIZADO EM TODAS AS ESSOAS DA FAMÍLIA E DA INSTITUIÇÃO QUE O PACIENTE FREQUENTA. Tricuríase Conceitos A tricuríase é uma infecção causada pelo Trichuris trichiura, também chamada de tricocefalose ou tricurose. O verme é mais frequente nas regiões quentes e úmidas, condições que favorecem o desenvolvimento do ovo no solo. É mais frequente em crianças de idade escolar. É a segunda patologia mais comum das parasitoses intestinais. Ciclo de Vida 1. Os ovos são eliminados pelas fêmeas e atingem o solo, sendo necessários 10 dias, em condições ambientais adequadas, para que se desenvolva a larva infectante; 2. Uma vez ingeridos, os ovos se rompem no duodeno, onde permanecem até alcançar a maturidade; 3. Quando adultos, os vermes migram para o intestino grosso, onde se fixam principalmente ao ceco e cólon ascendente; 4. Ocorre então a deposição de ovos que serão eliminados pelas fezes do hospedeiro; 5. Importante ressaltar que a próxima pessoa infectada obterá o verme através da ingestão dos ovos embrionados através das mãos, alimentos ou bebidas (também pode ocorrer por moscas e outros insetos, de forma indireta). Patogênese A profundidade e extensão das lesões intestinais, que variam de simples erosões até úlceras múltiplas, dependem de fatores relacionados ao hospedeiro (idade, estado nutricional, acometimento imunitário) e à carga parasitária, determinando a quantidade de sangue eliminado, que pode causar até enterorragias maciças. A perda sanguínea também está relacionada com o verme adulto, que suga sangue. O prolapso retal, característico das lesões graves, ocorre devido a três fatores básicos: 1. Relaxamento esfincteriano e hipotonia muscular devido à diarreia associada; 2. Tensão retal devido ao tenesmo; 3. Ondas peristálticas de maior intensidade, estimuladas pelos vermes fixados à parede intestinal. Clínica Sinais e Sintomas Manifestações gerais: anorexia, perda de peso, anemia e apatia; Infecções leves: as crianças podem ser assintomáticas ou apresentar alguma dor e desconforto na fossa ilíaca direita; Casos graves: Quadros diarreico e disentérico; Tenesmo; Urgência; Prolapso retal, característico dessa síndrome. Diagnóstico Pode ser dado por meio do exame parasitológico das fezes, através da pesquisa de ovos nas fezes. Pode ser feito ainda a retossigmoidoscopia, que permite a visualização das lesões e coleta de material para exame. Ao hemograma, pode haver anemia microcítica e hipocrômica. Tratamento Pamoato de Oxipirantel: administra-se 20 mg/kg/dia, 2 vezes/dia, por 2 dias seguidos. Fármaco de escolha; Mebendazol: aplica-se 100 mg, 2 vezes/dia, por 3 dias seguidos. Tem efeito ovicida incompleto, mas é eficaz contra os parasitas adultos. Repete-se após 21 dias; Albendazol: é menos efetivo que o mebendazol para eliminar essa parasitose, de acordo com o IMIP. Porém é o mais utilizado na prática. Teníase A principal verminose causada por platelmintos. Conceitos A teníase é o processo infeccioso causado pela tênia, a qual pode ser advinda dos hospedeiros intermediários como o boi (Taenia saginata) ou o porco (Taenia solium). Já no homem é encontrado apenas a forma adulta do parasita. As Taenias saginata e solium são platelmintos cestóides. No Brasil, os locais mais comuns em relação à prevalência são su e sudeste, onde o consumo de carne é maior. Ciclo de Vida 1. As tênias adultas são compostas por cabeça ou escólex e corpo estróbilo. O corpo é composto por anéis denominados proglotes, as quais são hermafroditas. Chegando ao final do corpo da tênia é onde se estabelecem os ovos maduros contendo embriões; 2. O indivíduo parasitado elimina proglotes nas fezes, contaminando o solo, ou pode eliminar ovos eclodidos ainda dentro do hospedeiro; 3. As proglotes se rompem, eliminando até 80 mil ovos. Estes permanecem viáveis por 4 a 6 meses; Diferentemente das outras parasitoses intestinais, a oxiuríase não apresenta eosinofilia no hemograma, pois na maioria dos casos não há invasão tecidual. Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na Infância II 4. Os ovos são ingeridos por bois ou porcos (HOSPEDEIROS INTERMEDIÁRIOS), onde há a liberação de embriões no intestino do animal; 5. Através da corrente sanguínea, os embriões atravessam músculos e órgãos internos, onde tornam-se vesículas chamadas de cisticercos (larva madura + líquido); A larva da Taenia sollium é a Cysticercus cellulosal, já a da Taenia saginata é chamada de Cysticercus bovis. 6. O cisticerco infectante permanece na carne derivada de animal até ser ingerida pelo hospedeiro definitivo; 7. O cisticerco libera a escólex no corpo do hospedeiro, a qual se fixa na mucosa intestinal e inicia a formação de proglotes; 8. O verme adulto elimina as proglotes nas fezes após 3 meses, em média (esse processo se chama HETEROINFESTAÇÃO). Via de Transmissão A autoinfestação também ocorre na teníase, podendo ser interna ou externa. A autoinfestação interna ocorre quando o portador da teníase é reinfectado devido ao refluxo do conteúdo gastrointestinal. Já a externa ocorre quando há uma nova ingestão de ovos embrionados da tênia concomitantemente à infecção anterior. ClínicaSinais e Sintomas Alguns pacientes são assintomáticos, enquanto outros cursam com sintomas semelhantes aos das outras parasitoses. São eles: Emagrecimento; Anorexia ou fome exagerada; Desconforto ou dor abdominal; Diarreia leve; Convulsões no adolescente decorrentes da neurocisticercose nas teníases por Taenia solium; Tenesmo. Diagnóstico Um dos exames utilizados é o exame parasitológico das fezes, onde se identifica ovos do parasita, ou quando se identifica proglotes no ato da defecação. Já laboratorialmente analisando, utiliza-se a tamização das fezes para pesquisa de proglotes ou vermes (através de uma peneira de metal). Tratamento Albendazol: administra-se 400 mg/dia, durante 3 dias; Praziquantel: aplica-se 10 a 30 mg/kg em dose única. O ciclo dos protozoários é dividido em cistos, oocistos e trofozoítos. As principais patologias ligadas aos protozoários são a amebíase e a giardíase. Amebíase Conceitos A amebíase tem um termo fixo e reservado, pois o único agente etiológico que pode causa-la é a Entamoeba histolytica. Apesar de ser mais comum no adulto, acomete crianças com frequência relativa, porém sendo raro em lactentes. Estima-se que a infecção por E. histolytica leve a 50 milhões de casos de doença sintomática e 40.000-110.000 mortes anualmente, fazendo com que a amebíase seja a segunda maior causa parasitária de morte mundialmente, atrás apenas da malária. É importante frisar que as cepas da E. histolyca são divididas em patogênicas e não-patogênicas (denominadas de Entamoeba dispar, as quais não tem poder de invasão tecidual). Ciclo de Vida A Entamoeba histolytica apresenta duas fases em seu ciclo evolutivo: Trofozoítica: móvel, cujo habitat é o intestino grosso ou as últimas porções do íleo; Cística: o trofozoíto é envolvido por uma membrana cística protetora, forma através da qual é transmitido. Os cistos são eliminados para o meio externo, onde podem sobreviver por longos períodos, e contaminam água e alimentos. O processo de evolução da entamoeba se dá por: 1. Os cistos, depois de ingeridos, atingem a porção inferior do intestino delgado, onde liberam as amebas; 2. Estas, por sua vez, originam os trofozoítos, com habitat no intestino grosso ou nas últimas porções do íleo, onde se multiplicam e evoluem para o encistamento, com os cistos sendo eliminados nas fezes. Patogenia 1. Seus cistos são eliminados para o meio externo, contaminando alimentos/água e sobrevivendo por períodos prolongados por serem resistentes a condições desfavoráveis. 2. Após ingestão, são resistentes à acidez gástrica e às enzimas digestivas. 3. Uma vez aderida à mucosa colônica, a ameba libera proteases que permitem a penetração através da camada epitelial. As células do hospedeiro são destruídas por citólise (mediada pela liberação de fosfolipases, hemolisinas e proteínas formadoras de poros, conhecidas como ameboporos) e por apoptose, provocando lesões localizadas principalmente no retossigmoide e no ceco. 4. Assim que as células hospedeiras são parcialmente digeridas pelas proteases amebianas, o material degradado é internalizado através de fagocitose. 5. Os trofozoítos, então, produzem a úlcera em forma de gargalo de garrafa característica. 6. Posteriormente, as lesões se espalham na submucosa e, em sua progressão, podem atingir a camada muscular e o peritônio, dando origem à perfuração intestinal. 7. As paredes vasculares, uma vez atingidas, originam hemorragias. 8. Formas extraintestinais são determinadas a partir da via hematogênica. Clínica Quadro Clínico O quadro clínico varia desde formas assintomáticas (80-90% dos casos) a quadros graves de abdome agudo por perfuração intestinal. Forma intestinal: Colite amebiana disentérica: forma clínica menos frequente. É caracterizada por dores abdominais Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na Infância II intensas, evacuações frequentes, fezes mucossanguinolentas, puxos, tenesmo, náuseas, vômitos, prostração, anorexia e febre de baixa intensidade; Colite não disentérica: traduz-se por surtos de diarreia alternados por períodos de normalidade ou constipação, cólicas abdominais, meteorismo, anorexia, náuseas, vômitos, tenesmo e astenia; Forma extraintestinal: Hepática: abscesso amebiano hepático caracterizado por hepatomegalia dolorosa, febre elevada, anorexia e astenia, sendo positivo ao sinal de Torres-Homem; Pulmonar; Cerebral; Cutânea; Genital; Esplênica; Pericárdica. Complicações Uma complicação da forma intestinal da amebíase é o ameboma, o qual corresponde ao depósito de amebas. A identificação microscópica de cistos e trofozoítos nas fezes é o método mais comum de diagnóstico. Normalmente, os cistos estão presentes em fezes formadas e os trofozoítos estão presentes em fezes diarreicas. A TC, RM ou USG podem ser úteis na identificação de abscessos e demais complicações, ao passo que a retossigmoidoscopia permite a visualização de ulcerações amebianas e coleta de material para diagnóstico. Reações sorológicas são preconizadas para diagnóstico de formas invasoras. Diagnóstico A identificação microscópica de cistos e trofozoítos nas fezes é o método mais comum de diagnóstico, ou seja, o exame parasitológico das fezes (30-40 minutos). Nas fezes formadas, a pesquisa de cistos pode ser dar pelo método direto a fresco ou corado. Já nas fezes diarreicas, o exame a fresco pode revelar trofozoítos móveis com hemácias fagocitadas no seu interior, sendo essa uma evidência da forma amebiana invasiva, já que as formas não patogênicas não são eritrofágicas. A retossigmoidoscopia é um exame alternativo que permite a visualização das ulcerações amebianas e a coleta do material para diagnóstico Tratamento O tratamento da amebíase intestinal consiste em: Metronidazol: administra-se 35-50 mg/kg/dia durante 7-10 dias, 3 vezes ao dia; Em caso de abscesso amebiano, administra-se 50mg/kg/dia de metronidazol durante 10 dias. Tinidazol: aplica-se 50 mg/kg/dia em dose única, durante três dias; Em caso de abscesso amebiano, aplica-se tinidazol em 60mg/kg/dia em dose única por 3 dias. Infecções por outros tipos de ameba que não sejam a Entamoeba histolytica não são tratadas, já que a maior parte das amebas são não patogênicas. Isso ocorre principalmente quando o quadro é assintomático. Giardíase Conceitos Causada pelo protozoário flagelado Giardia lamblia, a giardíase ocorre principalmente nos primeiros anos de vida e é a protozoose mais comum entre as crianças nos países subdesenvolvidos. É possível que se adquira imunidade após exposições precoces e sucessivas, sendo a exposição a creches um importante fator de risco. Via de regra, a infecção ocorre através de transmissão pessoa a pessoa ou após a ingestão do cisto em água e alimentos contaminados (via fecal-oral). Ciclo de Vida Apresenta-se de duas formas principais: Trofozoítica: localizada no duodeno e nas porções altas do jejuno; Cística: forma infectante eliminada nas fezes. A postura dos ovos se faz de forma cíclica, havendo períodos de 8 a 10 dias nos quais ocorre interrupção da eliminação de ovos, chamado de período negativo. 1. O protozoário infecta seres humanos após estes ingerirem um mínimo de 10-100 cistos, sendo cada cisto capaz de produzir dois trofozoítos no duodeno; 2. Após o desencistamento, os trofozoítos colonizam o lúmen do duodeno e jejuno proximal, onde se multiplicam e se aderem à membrana por meio de suas ventosas; 3. À medida que os trofozoítos não aderidos passam pelo trato intestinal, eles encistam. Os cistos, então, são eliminados nas fezes de indivíduos infectados e podem permanecer viáveis na água por até 2 meses, sobrevivendo a temperaturas de até 60 °C e cloração. O período de incubação varia de 1-4 semanas. Patogênese Os mecanismos patogênicos da giardíaseenglobam: Lesão de mucosa; Processo inflamatório; Formação de barreira física; Invasão tecidual (em imunodeprimidos); Associação com outros enteropatógenos; Interferência no metabolismo dos sais biliares. Clínica Quadro Clínico A infecção assintomática é a forma mais comum e a giardíase aguda é, normalmente, um quadro autolimitado (alcança cura em 2-4 semanas). Nas formas sintomáticas: Giardíase aguda: é autolimitada e apresenta diarreia em mais de 90% dos casos (fezes líquidas, com muco e sem sangue), perda de peso em 60-70% dos casos, náuseas, Estudos têm apontado o leite materno como um importante fator de proteção contra infecções por G. lamblia, possivelmente pela ação giardicida da enzima esteratase e da IgA secretória. Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na Infância II distensão/dor abdominal e flatulência. Pode evoluir para esteatorreia. Giardíase crônica: Em 30-50% dos indivíduos, a diarreia se torna persistente e crônica, cursando com retardo do crescimento, devido à má-absorção intestinal dos nutrientes. A princípio, as fezes podem ser profusas e aquosas, tornando-se gordurosas e mal cheirosas posteriormente. Como consequência da má absorção intestinal, os pacientes podem mostrar deficiência laboratorial de vários nutrientes, tais como gorduras, vitamina A e ácido fólico. Outros sinais e sintomas são anorexia, flatulência, cólica, náuseas e vômitos. Giardíase extraintestinal: a disseminação extraintestinal é incomum, mas é possível que trofozoítos migrem para os ductos biliares ou pancreáticos. Pacientes com hipogamaglobulinemia e imunodeficiência tendem a apresentar manifestações clínicas prolongadas. Diagnóstico O diagnóstico é feito por meio do exame seriado de fezes, em que se pesquisa cistos e trofozoítos. Ademais, trofozoítos podem ser encontrados no fluido duodenal. Em caso de dificuldade para estabelecer diagnóstico, a biópsia duodenojejunal é utilizada a fim de evidenciar o parasita e a agressão à mucosa. Ensaios imunoenzimáticos, ou sorologia, a exemplo do ELISA, são utilizados para detectar antígenos da Giardia lamblia. Tratamento Enquanto formas assintomáticas não são tratadas, o tratamento recomendado para formas sintomáticas se baseia em: Metronidazol: 15-20 mg/kg/dia, 3 vezes/dia, durante 5 dias; Tinidazol: 50 mg/kg/dia em dose única; Furazolidona: aplica-se 5 a 7 mg/kg/dia durante 7 dias; Abendazol: 400 mg/dia, por 3 a 5 dias. O Albendazol possui ação vermicida, larvicida e ovicida. Sua absorção é mínima, o que garante altas concentrações na luz intestinal. Através da inibição da absorção de glicose pelo verme ou protozoário, inviabiliza sua sobrevivência. Não deve ser usado em crianças menores de 2 anos.
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