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Originalmente publicado na Revista FAFIC (ISSN:2316-4328). 7ª EDIÇÃO, Vol. 8, Nª 8, Ano: 2018. No seguinte endereço: http://www.fescfafic.edu.br/revista/index.php/component/k2/content/10-7-edicao IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS: A INÉRCIA LEGISLATIVA FACE UM MECANISMO DE ARRECADAÇÃO DE RENDA IARA PEREIRA CAVALCANTI 1 LARISSE LEITE ALBUQUERQUE 2 MONNÍZIA PEREIRA NÓBREGA 3 RESUMO: A Constituição brasileira de 1988 dedicou no Título VI, regramentos gerais a respeito da Tributação e do Orçamento, nessa oportunidade, trouxe regramentos gerais a respeito da matéria, bem como as competências tributárias de cada ente federativo. Quando do tratamento dos tributos de competência da União, previu, no art. 153, VII, a previsão de criação do IGF (Imposto sobre Grandes Fortunas), porém, o referido imposto nunca foi regulamentado, não existe na legislação tributária brasileira. Diante da crise econômica que se impôs, alguns estudiosos da área enxergam no IGF uma injeção de ânimo na economia brasileira sem sobrecarregar a base da população brasileira, que é a que mais sente o peso da carga tributária. Entretanto, isso não é uma unanimidade, diante do fato de pesquisadores classificarem a possibilidade de existência do IGF um erro a ser evitado a todo custo. O objetivo da pesquisa é apontar fonte alternativa econômica de grande potencial financeiro capaz de contribuir para o aumento de renda percebidos pelos cofres públicos, sem onerar ainda mais a base da pirâmide social. Para tanto, se fará uso de pesquisa bibliográfica e da documental indireta por meio da utilização de doutrinas, artigos e legislação relativas ao tema. PALAVRAS-CHAVE: Imposto sobre grandes fortunas; economia; renda. ABSTRACT: The Brazilian Constitution of 1988 dedicated in Title VI, general regulations regarding Taxation and Budget, on that occasion, it brought general regulations regarding the matter, as well as the tax competencies of each federative entity. When dealing with the taxes of competence of the Union, 153, VII, the creation of the IGF (Large Fortune Tax), but this tax has never been regulated, it does not exist in Brazilian tax legislation. Faced with the economic crisis that has taken place, some scholars in the area see the IGF as an injection of courage into the Brazilian economy without overloading the Brazilian population base, which is the one that feels the most of the tax burden. However, this is not unanimous, given the fact that researchers classify the possibility of IGF existence as an error to be avoided at all costs. The objective of the research is to point out an alternative economic source of great financial potential capable of contributing to the increase of income perceived by the public coffers, without further burdening the base of the social pyramid. To do so, we will use bibliographical research and indirect documentary through the use of doctrines, articles and legislation related to the topic. 1 Iara Pereira Cavalcanti é aluna da Instituição FESC-FAFIC, Bacharela do curso de Ciências Jurídicas e Sociais, e Pós-Graduanda em Gestão Tributária pela mesma instituição de ensino. 2 Larisse Leite Albuquerque é aluna da Instituição FESC-FAFIC, Bacharela do curso de Ciências Jurídicas e Sociais, e Pós-Graduanda em Gestão Tributária pela mesma instituição de ensino. 3 Monnízia Pereira Nóbrega orientadora da presente pesquisa, é especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Federal de Campina Grande - Centro de Ciências Jurídicas e Sociais - Campus Sousa- PB (2005); Mestra em Sistema Agroindustriais pela Universidade Federal de Campina - Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar - Campus Pombal - PB (2016). Originalmente publicado na Revista FAFIC (ISSN:2316-4328). 7ª EDIÇÃO, Vol. 8, Nª 8, Ano: 2018. No seguinte endereço: http://www.fescfafic.edu.br/revista/index.php/component/k2/content/10-7-edicao KEYWORDS: Tax on large fortunes; economy; income. INTRODUÇÃO A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, dedicou no Título VI, regramentos gerais a respeito da Tributação e do Orçamento, devendo lei complementar infraconstitucional regulamentar a matéria. Previu nessa oportunidade a existência de alguns tributos, bem como a competência para legislar. Dentre os tributos que são de competência normativa da União, nos termos do art. 153, da Carta Maior, trouxe no inciso VII, do artigo supra, a liberalidade de se instituir o Imposto sobre Grandes Fortunas, o IGF. Entretanto, sabe-se que o imposto ora mencionado nunca foi criado. Alguns estudiosos tributaristas, pensando na criação de rendas para satisfação de interesses básicos da sociedade, e sabendo que a carga tributária já paga pela população de maneira geral já é bastante onerosa, vê na instituição do IGF, uma alternativa para injetar recursos financeiros, contribuindo para o aumento de renda, assim como ultrapassar o período de crise econômica vivenciado. Entretanto, outros, dedicam uma carga crítica intensa na possibilidade de instituição do IGF, defendendo que a sua criação só traria mais problemas de ordem econômico-financeiro do que benefícios. Não é recente na história legislativa do Congresso Nacional o desejo pela criação do IGF, mas o fato é que o projeto nunca saiu do papel, não se sabe os reais motivos, se se deve à carência de um projeto sustentável, ou pela ausência de interesse na sua criação. Seja como for, verifica-se a existência de vários projetos. Com o fim de alcançar os objetivos da pesquisa, que visa apontar fonte alternativa econômica de grande potencial financeiro capaz de contribuir para o aumento de renda percebidos pelos cofres públicos, sem onerar ainda mais a base da pirâmide social. Para tanto, fez-se uso da pesquisa bibliográfica através de doutrinas e artigos científicos relacionados ao tema proposto e da documentação indireta, por meio das legislações cabíveis ao assunto. PROBLEMATIZAÇÃO OU CONSTRUÇÃO DO OBJETO A SER PESQUISADO (CONCEITOS, DELIMITAÇÕES ECONÔMICAS E DIREITO COMPARADO ACERCA DO IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS) Originalmente publicado na Revista FAFIC (ISSN:2316-4328). 7ª EDIÇÃO, Vol. 8, Nª 8, Ano: 2018. No seguinte endereço: http://www.fescfafic.edu.br/revista/index.php/component/k2/content/10-7-edicao Poucos impostos demandam a necessidade de serem implementados por meio de lei complementar, sob um regime mais rigoroso de aprovação, portanto. Dentre estes, encontra-se o imposto sobre grandes fortunas (IGF), na forma do art. 153, VII, da CF/88. Assim como as Contribuições Sociais e o Imposto residual, o imposto Sobre Grandes Fortunas não é mencionado no Código Tributário Nacional, lei infraconstitucional regulamentadora dos impostos. Por não ter sido instituído, resta comprometido o conceito do que deve ser entendido como “grandes fortunas”, ou sobre quem deveria recais, pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas. Mas é certo que implementação deste imposto no plano dos fatos traria resultados vultosos, apesar de pequeníssima parcela da sociedade dispor de patrimônio vultoso. Fato é que o imposto sobre grandes fortunas traria uma renda significativa ao orçamento público, que poderia ser voltado aos três pilares mais importantes em uma nação: educação, saúde e segurança, sem sobrecarregar ainda mais a base da pirâmide social que já paga uma carga tributária enorme. Na França o referido imposto era denominado de “Impôt de Solidarité sur La Fortune - ISF”, tendo sido criado em 1981, e extinto em 1986, reintroduzindo novamente ao sistema tributário em 1988. É da legislação tributarista francesa que buscou referência a legislação brasileira. Nesse sentido, Piketty (2013). O imposto sobre as grandes fortunas foi introduzido na França em 1981, extinto em 1986, depois reintroduzido em 1988 soba forma do imposto de solidariedade sobre as fortunas (ISF). Os valores de mercado têm, às vezes, variações bruscas que podem parecer arbitrárias, mas têm o mérito de fornecer a única base objetiva universalmente aceita para tal imposto. Com a condição, porém, de ajustar com regularidade as taxas e categorias de tributação e não deixar as receitas subirem automaticamente com as mudanças no mercado imobiliário; caso contrário, estaríamos expostos a revoltas fiscais, como ilustra a célebre Proposição 13 adotada na Califórnia em 1978 para limitar as altas uniformes do property tax. Em 2012, o percentual proposto pela França era de 3%, sobre as fortunas. Foi alvo de muitas críticas, dentre elas, que o referido imposto representava uma espécie de punição àqueles que detinhas fortunas, conforme aponta El-Jaick (2016). Ainda segundo esta mesma pesquisadora, o tributo é cobrado da seguinte forma: as alíquotas são progressivas que variam de 0,55% a 1,8% e incidem sobre a riqueza líquida que exceder a 800 mil euros. Em contrapartida, a soma do ISF junto ao Importo de Renda não pode representar porcentagem superior a 50% da renda bruta do contribuinte, além do imposto sobre o imóvel de residência Originalmente publicado na Revista FAFIC (ISSN:2316-4328). 7ª EDIÇÃO, Vol. 8, Nª 8, Ano: 2018. No seguinte endereço: http://www.fescfafic.edu.br/revista/index.php/component/k2/content/10-7-edicao sofrer abatimento de 30%, bem como os demais alugados o referido abatimento possuir uma variação entre 20% a 40%. (EL-JAICK, 2016). Ainda, no que se refere ao direito comparado, outros países já se debruçaram sobre o tema, a respeito preleciona El-Jaick (2016, p. XX), que: Na Alemanha, o IGF teve origem na Prússia mas posteriormente o Tribunal Constitucional Alemão considerou o imposto inconstitucional. Já nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Austrália após diversos estudos, optou-se por aperfeiçoar o Imposto de Renda em vez de criar o novo imposto. Itália, Irlanda e Japão chegaram a adotar o IGF, no entanto entenderam melhor abandoná-lo em razão do baixo custo benefício, já que a parcela da população atingida era pequena, não gerando montante suficiente para sua manutenção. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), do ano de 2016: Na Suíça, o imposto é de competência dos cantões e das municipalidades, e as alíquotas podem ser progressivas ou não e se situam entre 0,2% e 1%. Elas podem variar de 0,2% no cantão de Nidwalden a 1% no cantão de Genebra. Na Suíça, os não residentes que não têm renda ou propriedade em território suíço estão isentos do Imposto de Renda e do WealthTax. Os limites de isenção são também variáveis, podendo ser de 50 mil a 200 mil francos suíços (US$ 56,8 mil a US$ 227,3 mil em setembro de 2011), conforme dispuser a legislação de cada cantão. Na Espanha, Piketty (2013), explica que a renda tributável como grandes fortunas é acima de 700.000 euros, com alívio financeiro de 300.000 euros de dedução para a residência principal, e a taxa mais alta é de 2,5% (ela foi elevada a 2,75% na Catalunha). A Islândia, quando atravessava uma crise financeira passou a tributar grandes fortunas. De maneira geral, atualmente os países Europeus mais ricos que instituíram o tributo em questão são: Holanda, França, Suíça, Noruega, Islândia, Luxemburgo, Hungria e Espanha. Por sua vez, dos países da América latina e integrantes do Mercosul instituíram esse tributo foram Argentina e Uruguai. O estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mencionado no PL 130/12 (Projeto de Lei do Imposto Sobre Grandes Fortunas no Brasil), demonstra que atualmente esse imposto é responsável por 1,2% e 6,3%, respectivamente, do total da arrecadação tributária dos países mencionados acima. Conforme consta na justificativa do PL 130/12 que tramita no Congresso Nacional, o valor da arrecadação com a instituição do IGF não seria desprezível, ainda que estabelecido em porcentagens ínfimas, tal como ocorre na Argentina. Veja-se: Se a adoção do IGF no Brasil implicasse em uma arrecadação de 1,2% do total da arrecadação tributária do País, percentual que se observa na Argentina, a Originalmente publicado na Revista FAFIC (ISSN:2316-4328). 7ª EDIÇÃO, Vol. 8, Nª 8, Ano: 2018. No seguinte endereço: http://www.fescfafic.edu.br/revista/index.php/component/k2/content/10-7-edicao arrecadação desse tributo seria de R$ 12,66 bilhões, segundo o último dado disponibilizado pela Receita Federal, que se refere ao ano de 2009. Esse valor corresponderia a quase um terço das necessidades de financiamento da saúde, estabelecido em R$ 45 bilhões quando da discussão da regulamentação da Emenda Constitucional n° 29 por esse Parlamento. Desta forma, o valor que potencialmente pode ser arrecadado pela adoção do IGF pelo Brasil não é desprezível e ajudaria a resolver o problema de financiamento do SUS. Com esses dados, não encontraria guarida o argumento de que os valores arrecadados com o IGF não trariam resultados econômicos importantes que fizessem diferença na economia brasileira. EVENTUAIS PRINCÍPIOS NORTEADORES DO IGF Os princípios no Direito Tributário correspondem a limitações ao poder de tributar que a Constituição Federal impõe ao Estado, em face dos contribuintes, prevendo algumas situações em que a tributação não irá ocorrer, ou mesmo, havendo sua incidência sobre determinados fatos, determina limites a essa liberalidade. Todos os impostos instituídos devem respeito às normas principiológicas, não seria diferente com a instituição do Imposto sobre Grandes Fortunas. O primeiro dos princípios que merece atenção, é o princípio da igualdade, advindo de observância expressa no Texto Constitucional, no art. 5º, segundo o qual, todos são iguais perante a lei, sem quaisquer distinções, aos residentes ou não no país, garantindo o respeito aos demais direitos da liberdade, vida, segurança, propriedade. Em se tratando de matéria tributária, mais especificamente temos o art. 150, II, da CF/88, que veda a possibilidade de instituir tributos desiguais para pessoas que se encontram equivalentes quanto à capacidade tributária, conforme afirma Torres (1999): A igualdade tributária é um princípio vazio, ao qual repugnam as discriminações arbitrárias, isto é, afastadas da natureza das coisas e da fundamentação ética dos valores e dos princípios jurídicos. Serve de medida e harmoniza simultaneamente a justiça (e seus princípios da capacidade contributiva, da redistribuição de rendas, do desenvolvimento econômico), a segurança (e seus princípios da legalidade, da irretroatividade, da vinculação ao lançamento, etc.) e a própria liberdade absoluta (e suas imunidades explícitas ou implícitas), mediante a ponderação entre esses valores, que deverão ser sopesados frente aos casos concretos. O referido princípio representaria a justiça social, de acordo com a capacidade tributária de cada indivíduo, quem tem mais, contribui com mais, quem possui uma renda mais reduzida, de igual modo deveria incidir a carga tributária. É, pois, a aplicação efetiva da Originalmente publicado na Revista FAFIC (ISSN:2316-4328). 7ª EDIÇÃO, Vol. 8, Nª 8, Ano: 2018. No seguinte endereço: http://www.fescfafic.edu.br/revista/index.php/component/k2/content/10-7-edicao igualdade substancial, segundo a qual, trata os iguais como iguais, e os desiguais como tais, na medida de suas desigualdades. Conforme se depreende dos ensinamentos de Carvalho, P. (2012, p.169), o princípio da igualdade nos conduz a outros dois, não menos importantes, a saber, o princípio da isonomia tributária e capacidade econômica do contribuinte: A capacidade contributiva do sujeito passivo sempre foi o padrão de referência básico para aferir-se o impacto da carga tributária e o critério comum dos juízos de valor sobre o cabimento e a proporção doexpediente impositivo. Mensurar a possibilidade econômica de contribuir para o erário com o pagamento de tributos é o grande desafio de quantos lidam com esse delicado instrumento de satisfação dos interesses públicos e o modo como é avaliado o grau de refinamento dos vários sistemas de direito tributário. Muitos se queixam, entre nós, do avanço desmedido no patrimônio dos contribuintes, por parte daqueles que legislam, sem que haja atinência aos signos presuntivos de riqueza sobre os quais se projeta a iniciativa das autoridades tributantes, o que compromete os esquemas de justiça, de certeza e de segurança, predicados indispensáveis a qualquer ordenamento que se pretenda racional nas sociedades pós-modernas. É perceptível que a incidência de tributos afeta de maneira mais significativa a grande parte da população, consequentemente a que detém menos recursos, sendo mais oneroso para essa maioria arcar com todos os impostos do que uma pequena parcela da sociedade que dispõe de um patrimônio mais vultuoso. Fala-se a todo momento na instituição de novos tributos que irão incidir de maneira direta e mais forte na camada mais pobre da sociedade, como a retomada recente pela reinserção da CPMF. Assim sendo, deve o princípio incidir sobre o contribuinte respeitando sua capacidade tributária, sem colocar em risco o direito que este possui em deter bens, o que faz recair em outro princípio de observância obrigatória na instituição do IGF, trata-se do princípio do não confisco. Segundo este princípio, o imposto não pode sobrecarregar o contribuinte de sobremaneira que o inviabilize de possuir tais bens tidos como fato gerador à cobrança do imposto. Nesse sentido, explica Sabbag (2012): Nesse passo, vale a pena recordar que o princípio da vedação ao confisco deriva do princípio da capacidade contributiva, atuando aquele, em conjunto com este, porquanto essa capacidade econômica se traduz na aptidão para suportar a carga tributária sem que haja perecimento da riqueza tributável que a lastreia, calcada no mínimo existencial. A propósito, o mínimo existencial (vital ou necessário) está delineado no art. 7º, IV, CF, cujo teor indica os parâmetros de quantidade de riqueza mínima, suficiente para a manutenção do indivíduo e de sua família, isto é, um limite intangível pela tributação, no bojo da capacidade contributiva. Originalmente publicado na Revista FAFIC (ISSN:2316-4328). 7ª EDIÇÃO, Vol. 8, Nª 8, Ano: 2018. No seguinte endereço: http://www.fescfafic.edu.br/revista/index.php/component/k2/content/10-7-edicao Assim, o princípio deve atender à capacidade tributária do contribuinte sem que isso afete seu patrimônio de maneira que o impeça de o deter, o que não é permitido segundo o princípio em questão. VIABILIDADE DO IGF Há quem discorde da instituição do IGF, apontando como um dos principais efeitos negativos a evasão tributária. Entretanto, conforme destaca a pesquisadora Tilbury (2016) apud El Jack (2012), que ao contrário do que os opositores à instituição do IGF, seria essa uma forma de efetivação de controle da administração tributária, elidindo a evasão fiscal, nesse sentido: A redistribuição da riqueza seria outro efeito benéfico do IGF, que funcionaria também como instrumento de controle da administração tributária, mediante o cruzamento de dados com base nas declarações da renda auferida, dos bens para o IR ou o IGF e das parcelas do patrimônio consideradas para tributações específicas. Haveria, assim, menor possibilidade de evasão de diversos tributos. Nessa esteira, é o que declara o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Carvalho (2015), o qual enxerga no IGF uma maneira de reduzir os excessos de incentivos fiscais e o alto custo político que muitos municípios brasileiros têm em cobrar o IPTU, pelo fato de haver quando da cobrança do IGF, um abatimento naquele imposto, tal como ocorre nos países que já cobram esse tributo, conforme explanado alhures. Entretanto, tal como se vislumbra nos países que já instituíram o IGF, é preciso estar atento aos possíveis erros e efeitos que essa medida possa trazer, tal como ocorreu na Suécia com a queda do valor de mercado das ações em 5% a 10%, evitando dessa maneira incidir nos mesmos erros, e o estudo com o Direito Comparado é um importante instrumento nesse sentido, aprimorando as práticas que deram certo, e evitando atitudes que venham a atingir negativamente a economia internacional do país. Outro vetor importante desse tributo é diminuição da concentração de grandes rendas em um número reduzidíssimo de parcela da sociedade. E complementa Fazan, et al (2016), destacando que “a regulamentação do IGF fará com que diminua a regressividade do sistema tributário, descentralizando mais recursos para Originalmente publicado na Revista FAFIC (ISSN:2316-4328). 7ª EDIÇÃO, Vol. 8, Nª 8, Ano: 2018. No seguinte endereço: http://www.fescfafic.edu.br/revista/index.php/component/k2/content/10-7-edicao Estados e Municípios, desonerando a folha de pagamento das empresas e contribuindo para reduzir a informalidade”. Por outro lado, há quem discorde da instituição de maneira enérgica, é o que defende o estudioso Mazloum (2017), destacando que a instituição do imposto em estudo representa um erro triplo: moral, jurídico e econômico, além de colocar como um erro sua previsão no corpo da Constituição Federal, na oportunidade do art. 153, VII, e comemora a ausência desse tributo na legislação brasileira. E, destaca o mencionado (2017), que: A Constituição Federal de 1988, apesar de ser um primor no seu artigo 5º e seus incisos, estabelecendo inúmeras garantias e direitos ao cidadão, principalmente no que se refere à persecução penal, apresenta inúmeras sandices ao longo de seu extenso corpo. Dentre elas se encontra uma que, na aparência, e somente na aparência, parece uma proposta louvável, justa e correta, mas que na sua essência não passa de uma medida maldosa, injusta e errada. Trata-se do Imposto Sobre Grandes Fortunas, previsto no art. 153, VII da Lei Maior. Muitos são os que se queixam do fato deste imposto nunca ter saído do papel. Eu registro esse fato com alegria, pois tal imposto é um triplo erro: moral, jurídico e econômico. Destaca o pesquisador supracitado (2017) que é preciso extirpar das mentes o que ele denomina de “dogma de Montaigne”, segundo o qual, se um ganha, o outro necessariamente perde. Acrescenta que a presença do IGF traria sérios riscos à economia brasileira, que, ao invés de parecer uma saída, como fonte de renda extra, paralisaria a produção, aumentando desemprego, acarretando por fim, a escassez de produtos. Isso porque, o imposto em questão incidiria de maneira direta nos ativos de uma empresa, e é esse capital que garante um fundo de reinvestimento, contratação de mão de obra, o que diminui de maneira efetiva o índice de desemprego. Representa, pois, o IGF, confisco dos bens geradores de riquezas. Pois, além de representar uma forma de confisco de bens, representa o IGF na bitributação, de modo que, os fatos geradores sobre os quais poderiam vir a incidir o IGF, já haviam sido objeto de tributação ao longo de toda a cadeia tributária. Um verdadeiro retrocesso, conclui. PROJETOS DE LEI QUE VISAVAM NA INSTITUIÇÃO DO IGF NO BRASIL A primeira tentativa de se instituir o Imposto Sobre Grandes Fortunas no Brasil foi em 1989, quando então Senador Fernando Henrique Cardoso propôs o Projeto de Lei Complementar nº 162. Mesmo tendo sido aprovada no mesmo ano no Senado, foi analisada pela Comissão de Finanças e Tributação da Câmara (CFT), 11 anos depois, e apesar de obter Originalmente publicado na Revista FAFIC (ISSN:2316-4328). 7ª EDIÇÃO, Vol. 8, Nª 8, Ano: 2018. No seguinte endereço: http://www.fescfafic.edu.br/revista/index.php/component/k2/content/10-7-edicao parecer favorávelna Comissão de Constituição e Justiça e Redação da Câmara (CCJR), foi rejeitado no mérito (CARVALHO, 2015). Em 2003, o governo propôs a PEC 41/03, na qual propunha a supressão de parte do artigo 153, VII CF, do termo “nos termos de lei complementar”, e com isso ser possível a instituição do IGF por meio de lei ordinária, não tendo sido, entretanto, pelos parlamentares. Foi somente em 2008, onde se propôs novamente Projeto de Lei Complementar visando a instituição do IGF, Projeto nº 50/2008 foi proposto pela Senadora Serys Slhessarenko. Nesse mesmo ano o Senador José Nery apresentou Projeto de Lei Complementar nº 100/2008, e o Senador Paulo Paim, apresentou o Projeto nº 128/2008. Os três projetos foram arquivados no Senado Federal (CARVALHO, 2015). Em 2011, o senador Antônio Carlos Valadares propôs o Projeto de Lei Complementar de nº 534, visando na criação do IGF, que tinha como fato gerador “conjunto de bens e direitos de qualquer natureza”, e previa a incidência do tributo nas rendas a partir de 2,5 milhões de reais. Deveria estar excluído da incidência o imóvel residencial que não excedesse a 1 milhão de reais, e os bens e equipamentos de produção em trabalho autônomo de até 1,5 milhão de reais (SUL21). Esse projeto era mais minucioso e apresentava uma tabela com alíquota progressiva do IGF, que variavam entre 0,5% e 2,5%, conforme fosse o patrimônio superior a 40 milhões de reais. O referido projeto não foi analisado pelo Senado Federal. Por sua vez, no ano de 2012, foi homologada a proposta legislativa de nº 130/12, encabeçada por nove deputados do PT. Consta no projeto a definição do que deveria ser compreendido como “Grandes Fortunas”, dessa forma, o artigo 3º, prevê que, “o imposto tem como fato gerador a titularidade de grande fortuna, definida como o patrimônio líquido que exceda o valor de 8.000 (oito mil) vezes o limite mensal de isenção para pessoa física do imposto de que trata o art. 153, III, da Constituição Federal, apurado anualmente, no dia 31 de dezembro do ano-base de sua incidência”. A iniciativa mais recente de instituir o IGF ocorreu por meio do Projeto de Lei Complementar nº 315/2015, novamente proposta pelo Senador Paulo Paim, do PT do Rio Grande do Sul. Segundo esse projeto, o imposto incidiria sobre o patrimônio das pessoas físicas de valor superior a 50 milhões de reais, como alívio fiscal exclui os imóveis residenciais e os bens de produção de qualquer valor, acrescentando os bens de consumo não alienáveis e os bens guardados pela cláusula de inalienabilidade, mais abrangente que o projeto anterior, portanto. Originalmente publicado na Revista FAFIC (ISSN:2316-4328). 7ª EDIÇÃO, Vol. 8, Nª 8, Ano: 2018. No seguinte endereço: http://www.fescfafic.edu.br/revista/index.php/component/k2/content/10-7-edicao Ainda, a alíquota, reduzida se comparada aos projetos anteriores, seria de apenas 1%, com possibilidade de alguns abatimentos na base de cálculo, tais como os tributos incidentes sobre o patrimônio (IPVA, IPTU, ITR, ITCMD e ITBI). Atualmente o projeto se encontra na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal. Ainda, o projeto traz ao longo de seu texto outras hipóteses de não incidência do tributo, como bem dispõe El Jaick (2016): Por fim o PL 315/2015 se encontra com o relator desde 24/09/2015. Tal PL indica nos incisos do artigo 2º § 1º o que não seria de incidência do imposto: “I–o imóvel de residência do contribuinte e os bens de pequeno valor, de uso doméstico, conforme o disposto em Regulamento; II os bens de produção e instalações utilizados para obtenção de rendimentos de trabalho autônomo; III- os bens objeto de tombamento ou de declaração de utilidade pública pelo Poder Público e os gravados por reserva legal ou voluntária para fins de utilização social ou de preservação ambiental; IV– os bens dados em usufruto a entidades culturais, educacionais, filantrópicas, religiosas e sindicais, ou reconhecidas como de utilidade pública, enquanto durar a dação; V– os bens cujo uso esteja interditado por posse, invasão ou esbulho possessório, assim reconhecido por sentença judicial e enquanto durar a interdição; VI – os bens consumíveis não destinados à alienação; VII – os bens guardados por cláusula de inalienabilidade Tognolli (2016), chama a atenção para o fato de que, apesar de tantos projetos de lei visando a instituição do Imposto Sobre Grandes Fortunas no Brasil, não teve os propositores a feliz ideia de anexar a estes estudos preliminares que apresentassem os impactos que sem a menor dúvida a criação de um imposto dessa magnitude faria sentir, o que dificulta sua aprovação. E prossegue afirmando (2016), que: O fato é que em nenhuma dessas tentativas de criar o IGF no Brasil foi apresentado um estudo preliminar sobre os impactos econômicos decorrentes da instituição desse novo imposto, demonstrando, assim, o nível especulativo e ideológico dos projetos. Os valores de base de cálculo dos projetos não são construídos a partir de dados objetivos. Aliás, considerando a análise comparativa, ainda é desconhecido pela academia qualquer estudo sério sobre um estado que tenha instituído um tributo semelhante e que tenha concomitantemente incrementado as receitas e preservado o investimento nos seus limites territoriais. Assim, a ausência de um estudo mais profundo acerca da viabilidade econômica do Projeto, pontos positivos e negativos passíveis de ocorrência após a instituição, dificulta sua compreensão e sua possível apresentação. Originalmente publicado na Revista FAFIC (ISSN:2316-4328). 7ª EDIÇÃO, Vol. 8, Nª 8, Ano: 2018. No seguinte endereço: http://www.fescfafic.edu.br/revista/index.php/component/k2/content/10-7-edicao CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do que foi explanado, verifica-se que existe a viabilidade da tributação sobre grandes fortunas, que poderia vir a ser uma fonte de renda extra que impulsionaria a melhoria de serviços públicos básicos, a exemplo da saúde, educação e segurança. Entretanto, não se vislumbra projetos de leis que apresentem propostas pensadas, racionais e baseadas em estudos sérios, realizadas por profissionais capacitados na área. O que se pretende deixar claro, é que reformas são necessárias ao longo do desenvolvimento de uma sociedade, da economia de um Estado, no entanto, devem ser analisadas, estudadas, melhor formuladas, e não apenas impostas. O Direito Comparado é uma importante ferramenta para a criação do Imposto sobre Grandes Fortunas, uma vez que, realizados os estudos necessários, é capaz de apontar os erros mais comuns quando da sua instituição, quais atitudes devem ser evitadas, bem como quais delas merecem ser encorajadas. E as críticas de igual modo devem ser respeitadas e acolhidas, como maneira de aperfeiçoar qualquer projeto que se queira colocar no plano dos fatos. Conforme se depreende, e apesar de todas as críticas, a instituição do IGF seria uma excelente oportunidade de injeção financeira na economia brasileira, trazendo um respiro para as necessidades mais urgentes do país, sem onerar ainda mais a classe mais humilde da sociedade, e também a que mais sofre com a carga tributária, que no Brasil é exorbitante. Por óbvio, o que de fato melhoraria de maneira significativa os problemas sociais do Brasil, seria uma administração eficiente de toda a renda que é arrecada, visto que o país possui uma carga tributária dentre as mais altas do mundo, e oferece serviços públicos que não correspondem com o que recebe. As constantes e sucessivas operações policiais demonstram isso com uma clareza cristalina. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>.Acesso em 15 abril 2018. CARVALHO, Pedro Humberto Bruno De. As discussões sobre a regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas: a situação no Brasil e a experiência internacional. IPEA, out. 2015. 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