Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Larissa Antunes de Souza CEFALEIA Queixa muito comum entre adultos, principalmente em mulheres. Causas: estimulação dos nociceptores periféricos em resposta a algum fator (lesão tecidual, distenção visceral) ou ativação inapropriada das vias produtoras de dor do sistema nervoso periférico ou central. Classificação: Primária ausência de patologia externa Secundária ocorre em decorrência de uma patologia externa Quando ficar alerta com a queixa do paciente?? RED FLAGS (bandeira vermelha): sinais de alerta SNNOOP10 Cefaleias primárias Cefaleia migrânea Do tipo tensional Cefaleias autonômicas do trigêmeo (CAT) Outra A mais comum é a tensional, porém a que mais gera atendimento médicos é a migrânea UpToDate Larissa Antunes de Souza Cefaleia migrânea (enxaqueca) Epidemiologia Segunda causa de cefaleia mais comum no mundo, mais prevalente no sexo feminino A maioria dos pacientes com cefaleia incapacitante tende a apresentar migrânea. Fisiopatologia Depressão alastrante Ativação do sistema trigeminovascular Inflamação neurogênica Vasodilatação Predisposição genética Depressão alastrante de leão hiporresponsividade cortical alastrante, principalmente em região de córtex visual (a maioria das áuras são visuais). Pode ficar mais localizada ou se alastrar e atingir áreas sensitivas e motoras. A hipótese é que a passagem da depressão alastrante (DA) provavelmente ative o sistema trigeminal A alteração elétrica gera alterações neuroquímicas em membrana neuronal e gera liberação de fatores pró-inflamatórios A ativação de células no núcleo trigeminal resultam em liberação de neuropeptídios vasoativos nas terminações vasculares do trigêmeo e no núcleo trigeminal Reação inflamatória neurogênica Base genética: mutações envolvendo o gene CACNA1A Clínica Existem várias formas de migrânea, geralmente é uma dor unilateral, pulsátil, com desencadeantes. *Pacientes tendem a querer ficar em lugares escuros e silenciosos Migrânea com aura: ocorre em 20% das pessoas com migrânea Aura migranosa típica: 5 a 60 minutos de duração e precede a cefaleia Aura mais comum: distúrbios visuais escotomas (pontos de ausência de visão), fotópsia (pontinhos brilhantes) Larissa Antunes de Souza Aura sensitiva: parestesia em membros, face, hemiparestesia Aura motora: disfasia, paresia *Migrânea hemiplégica (esporádica ou familiar): aura atípica, é uma hemiplegia TRANSITÓRIA * Migrânea basilar: aura atípica, tem sintomas de tronco encefálico vertigem, náusea, vômito *Se durar mais de 60 minutos é aura atípica Migrânea sem aura Migrânea episódica Migrânea crônica: ocorrem em 15 dias ou mais por mês *Pode haver migrânea sem cefaleia (aura típica sem cefaleia ou pouca dor) Critérios diagnósticos: (Classificação Internacional de Distúrbios de Cefaleia, 3ª edição) CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS ICHD-3 MIGRÂNEA SEM AURA MIGRÂNEA COM AURA A) Pelo menos cinco ataques que atendem aos critérios de B a D B) Ataques de dor de cabeça com duração de 4 a 72 horas (não tratada ou tratada sem sucesso) C) A dor de cabeça tem pelo menos duas das seguintes características: Localização unilateral Qualidade pulsante Intensidade de dor moderada ou forte Agravamento ou evitação de atividade física de rotina (por exemplo, caminhar ou subir escadas) D) Durante a dor de cabeça, pelo menos um dos seguintes: Náusea, vômito ou ambos Fotofobia e fonofobia E) Não melhor explicado por outro diagnóstico de ICHD-3 A) Pelo menos dois ataques atendendo aos critérios B e C B) Um ou mais dos seguintes sintomas de aura totalmente reversíveis: Visual Sensorial Fala e / ou linguagem Motor Tronco cerebral Retinal C) Pelo menos três das seguintes seis características: Pelo menos um sintoma de aura se espalha gradualmente ao longo de ≥5 minutos Dois ou mais sintomas ocorrem em sucessão Cada sintoma de aura individual dura de 5 a 60 minutos Pelo menos um sintoma de aura é unilateral Pelo menos um sintoma de aura é positivo A aura é acompanhada, ou seguida em 60 minutos, por dor de cabeça D) Não melhor explicado por outro diagnóstico de ICHD-3 Larissa Antunes de Souza Fatores desencadeantes Luzes brilhantes Sons Odores Fome Estresse Esforço físico Altitude ou mudanças de pressão Flutuações hormonais durante ciclo menstrual Falta ou excesso de sono Álcool Nitratos Mudanças climáticas Aspartame (substância presente em adoçantes) **A pessoa fica muito sensível a estímulos ambientais e sensoriais Tratamento Tratamento não farmacológico (SEMPRE): identificação e controle dos fatores desencadeantes, estilo de vida regular, dieta saudável (com horários regulares para se alimentar), exercícios, higiene do sono, evitar o consumo excessivo de cafeína e de álcool, redução/controle dos níveis de estresse (prática de yoga, por exemplo) Tratamento agudo (abortivo): é feito durante o início dos sintomas álgicos ou aura (se esperar para tratar a crise, há a sensibilização trigeminal e de outros receptores e a dor “alastra” depois desta sensibilização, o efeito do analgésivo é irrelevante) Vai depender da intensidade da dor Leve: analgésicos simples (dipirona, paracetamol) e antieméticos (plasil) Moderada: AINE (naproxeno, ibuprofeno), ergotamínicos ou triptanos (sumatriptano, naratriptano - naramig) Triptano: fazem vasoconstrição cerebral, é contraindicado em pessoas com insuficiência vascular e arterial. Forte: Triptano + AINE, AINE EV ou IM, Corticoide EV * Antieméticos associados as opções acima (plasil é o de escolha) ** CEFALEIA REBOTE Ocorre quando o paciente abusa de analgésicos (> 2 doses/semana) Para prevenir o uso exagerado de analgésicos em pacientes com crises recorrentes de migrânea faz-se o tratamento profilático. Larissa Antunes de Souza [Tratado de Neurologia – Merrit] Tratamento profilático: É indicado se: Paciente tem mais que 3 episódios/mês; Sintomas (aura) incapacitante; Interferindo na vida diária do paciente; Baixa resposta aos abortivos; Escolha do paciente Iniciar em baixa dose e ir ajustando conforme necessidades do paciente *Orientar que leva um tempo a fazer efeito Larissa Antunes de Souza Primeira linha Beta-bloqueadores: – Propranolol, atenolol e metoprolol; Efeitos colaterais: Fadiga, sintomas posturais, bradicardia, depressão, pesadelos *Cautela em pacientes com asma Anticonvulsivantes: – Ácido valproico, divalproato e topiramato; – Ácido valproico: efeitos colaterais -> sonolência, tremores, alopécia, ganho de peso, teratogenicidade, hepatotóxico. – Topiramato: efeitos colaterais -> parestesias, comprometimento cognitivo, perda de peso, náuseas, fadiga, glaucoma e acidose metabólica * Cautela em nefrolitíase Segunda linha Antidepressivos – Amitriptilina, nortriptilina, doxepina, venlafaxina Também atuam na cefaleia tensional. Menor nível de evidência Antagonistas de canal de cálcio – Flunarizina Utilizado em crianças AINE (Naproxeno) Profilático transitório, utiliza por 5 dias e depois suspende (Migrânea menstrual) Complicações da cefaleia migrânea Migrânea crônica Estado migranoso Aura persistente sem infarto Infarto migranoso Crises epilépticas desencadeadas por migrânea Larissa Antunes de Souza Cefaleia do tipo tensional Tipo mais prevalente, porém, poucos pacientes procuram atendimento médico devido á dor. Fisiopatologia Patogenia multifatorial e não bem esclarecida. Clínica Desconforto geralmente bilateral, em peso ou pressão (semelhante a uma faixa), de intensidade leve/moderada. A dor pode progredir lentamente, durando de minutos a dias. Não piora com esforço físico e não está associada a náusea. Pode ter foto ou fonofobia e paciente podeapresentar presença de pontos gatilhos cranianos, faciais e cervicais (locais que podem desencadear dor) Pacientes sofrem muito influência ambiental Classificação Episódica, Crônica Diagnóstico CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS ICHD-3 EPISÓDICA CRÔNICA Pelo menos 10 episódios de dor de cabeça, cada um com duração de 30 minutos a sete dias, que preencham as seguintes condições: Pelo menos dois dos seguintes: Localização bilateral Qualidade de pressão ou aperto (não pulsante) Intensidade leve ou moderada Não é agravado por atividades físicas de rotina, como caminhar ou subir escadas Ambos os seguintes: Sem náuseas ou vômitos Não mais do que um de fotofobia ou fonofobia Dor de cabeça que dura de horas a dias, ou ininterrupta, ocorrendo em ≥15 dias por mês em média, por mais de três meses (≥180 dias por ano) e que cumpre os seguintes critérios: Pelo menos dois dos seguintes: Localização bilateral Qualidade de pressão ou aperto (não pulsante) Intensidade leve ou moderada Não é agravado por atividades físicas de rotina, como caminhar ou subir escadas Ambos os seguintes: Não mais do que um de fotofobia, fonofobia ou náusea leve Nem náuseas moderadas ou graves, nem vômitos Larissa Antunes de Souza Tratamento Agudo: analgésico (dipirona, paracetamol), AINE (AAS, naproxeno, ibuprofeno e cetoprofeno) Crônico: antidepressivos (amitriptilina - 10 a 100 mg/dia) Cefaleias trigêmino-autonômicas (CAT) As CAT descrevem um grupo de cefaleias primárias, incluindo a cefaleia em salvas, a hemicrania paroxística, a SUNCT/SUNA (cefaleia de curta duração, unilateral, neuralgiforme com hiperemia conjuntival e lacrimejamento) Crises de duração relativamente curta, associada a sintomas cranianos autonômicos (lacrimejamento, hiperemia conjuntival, congestão nasal) CEFALEIA EM SALVAS Tipo raro de cefaleias, maior prevalência no sexo masculino e idade entre 20 a 40 anos Clínica Dor profunda, localização periorbital, frontal e temporal, geralmente unilateral, DE MUITA INTENSIDADE (EXCRUCIANTE), ocorre de forma súbita. Acompanhada de hiperemia conjuntival, lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia, sudorese facial, miose, ptose e edema palpebral O paciente fica agitado, inquieto pela intensidade da dor. A duração é de 15 min a 3h, mas geralmente é rápida. Geralmente vem episódios em salva, 1 episódio/dia por cerca de 8 dias seguido por longos períodos de remissão. Desencadeantes: uso de álcool, nitroglicerina, histamina Tratamento Agudo: O2 em máscara a 7 a 10 L/min por 10min + Sumatriptano spray nasal *Medicamento oral não é indicado devido ao tempo que levam para fazer efeito Tratamento profilático: feito no início no período de salvas (precocemente) e mantido por, aproximadamente, 2 semanas após desaparecimento da dor. Avaliar o tempo do tratamento e efeitos colaterais. Larissa Antunes de Souza Medicamentos de escolha: Verapamil Carbonato de lítio Corticoides (curto período) Valproato de sódio Ergotamínicos Tratamento cirúrgico: termocoagulação por radiofrequência ou microcoagulação por balão do gânglio HEMICRANIA PAROXÍSTICA Predomina no sexo feminino Clínica Crises unilaterais, intensas e de curta duração, frequentes (1 a 40 episódios ao dia), a dor tende a ser retro-orbital, mas também pode afetar outras regiões da cabeça e está associada a fenômenos cranianos autonômicos ipsilaterais, como lacrimejamento e congestão nasal. Duração: 2 a 30 minutos *Semelhante a salvas Tratamento Indometacina profilática Efeitos colaterais: gastrointestinaus Cefaleias secundárias Causas comuns de atendimento em centros primários e serviços de PA, são potencialmente graves. SINAIS DE ALARME: red flags INVESTIGAÇÃO TC de crânio sem contraste → avaliação inicial! Avaliar segundo a clínica de cada paciente: RM de encéfalo; AngioTC ou angioRM (venosa e/ou arterial) Larissa Antunes de Souza Punção lombar: manometria e análise do LCR Causas – Aumento de pressão intracraniana: neoplasias ou tumores, hidrocefalia, trombose Tumor cerebral: dor geralmente é indefinida – uma dor surda, intermitente e profunda de intensidade moderada, que pode se agravar com o esforço ou a mudança de posição e que pode estar associada a náuseas e vômitos. Glaucoma: cefaleia extenuante, associada a náuseas e vômitos. Com frequência, a cefaleia começa com dor ocular intensa. No exame físico, o olho frequentemente está avermelhado com pupila fixa e moderadamente dilatada – Hipotensão intracraniana – Sangramentos espontâneos ou traumáticos: HSA – Eventos vasculares: dissecção arterial Hemorragia subaracnóidea: cefaleia intensa e aguda com rigidez da nuca, porém sem febre. Imagem – Processos infecciosos: meningoencefalites Meningite: cefaleia intensa e aguda com febre e rigidez da nuca, geralmente tem piora da dor com movimentação ocular. Náuseas, vômitos, fotofobia. Punção lombar – Doenças inflamatórias: arterites; doenças granulomatosas Arterite temporal: idade média de início é de 70 anos, mais comum em mulheres. Cefaleia unilateral ou bilateral, de caráter surdo, geralmente em associação com mal- estar e mialgias Referência UpToDate Tratado de neurologia – Merritt, 13º ed
Compartilhar