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Natália Giacomin Lima – medicina UFES 101 MICROBIOTA VAGINAL NORMAL A vagina é uma cavidade ricamente habitada por bactérias que compõe o que chamamos de MICROBIOTA VAGINAL (popularmente conhecida como flora vaginal) o A maior parte das bactérias que compõe essa microbiota são bacilares – BACILOS DE DODERLEIN (acidófilos) • Possuem a propriedade de transformar o GLICOGÊNIO (presente no epitélio escamoso da vagina) em ÁCIDO LÁTICO • Mantém o pH vaginal naturalmente ÁCIDO (pH < 4,5) – forma de proteção contra o meio externo • Esses bacilos além de serem os responsáveis pela produção de ácido lático precisam de um ambiente ácido para sobreviver. Dessa forma quando o pH da vagina se torna mais alcalino (distancia-se do normal – ácido) esses bacilos começam a morrer VAGINOSE BACTERIANA I GARDNERELLA o Gardnerella vaginalis o Bactéria anaeróbia – existe na microbiota vaginal normal em quantidade muito pequena (<1%) o pH (>4,5) • Relações sexuais frequentes com ejaculação na vagina (sêmen é alcalino – alcaliniza a vagina) • Mulheres que recebem sexo oral com frequência (saliva é alcalina alcaliniza a vagina) • Ducha vaginal #OBS: O aumento do pH vaginal acima de 4,5 (alcalinização) leva a morte dos lactobacilos que precisam de pH ácido para sobreviver. A Gardnerella se aproveita dessa condição para multiplicar-se o lactobacilos o proliferação da Gardnerella – passam a compor 20-30% da microbiota vaginal o Além da Gardnerella outros anaeróbios podem levar a vaginose, são elas: • Mobiluncus • Prevotella ❑ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA VAGINOSE o Leucorreia (corrimento) fluida, acinzentada e FÉTIDA – “cheiro de peixe podre” • Exacerbação dos sintomas pode se dar após o coito (alcalinização da vagina) e menstruação o Teste de Whiff (teste das aminas) + na vaginose – faz-se a coleta da solução (corrimento) e adiciona-se KOH → volatiliza as aminas – potencializa o mau cheiro ❑ EXAME A FRESCO o CLUE CELLS (células indicadoras ou células alvo): “parece como se tivesse jogado sal fino na lamina” – células de aspecto granuloso com má delimitação da membrana plasmática → células escamosas recobertas por cocobacilos o Ausência de leucócitos ou presentes em muito pequena quantidade: leucócitos são células inflamatórias, ou seja, são recrutadas quando há inflamação local (“ITE”). Lembrar que se trata de uma vaginose e não de uma vaginite – ou seja, o sufixo “OSE” denota que a INFLAMAÇÃO ESTÁ AUSENTE ou é mínima Como cai em prova: “FR para a vaginose bacteriana” – ducha vaginal, sexo oral, sexo vaginal com ejaculação intravaginal Natália Giacomin Lima – medicina UFES 101 ❑ DIAGNÓSTICO DA VAGINOSE BACTERIANA • Deve apresentar pelo menos 3 dos 4 critérios a seguir CRITÉRIOS DE AMSEL Leucorreia branco-acinzentada pH > 4,5 (mais alcalina que o normal) Teste das aminas + Células alvo (clue cells) ao exame a fresco TRATAMENTO DA VAGINOSE BACTERIANA (1ª OPÇÃO) METRONIDAZOL (VO) – 500mg ------12 em 12h por 7 dias OU *METRONIDAZOL (GELEIA/ GEL VAGINAL) Aplicadores ------------------------------ 5 noites #OBS: “Creme vaginal de Metronidazol” – funciona, contudo está em desuso. O que é mais eficaz é o gel ou geleia vaginal de Metronidazol CLINDAMICINA 300mg (2ª OPÇÃO) ---------- 1 comprimido de 12/12h por 7 dias OUTRAS OPÇÕES (não levantadas pelo ministério da saúde): o SECNIDAZOL o TINIDAZOL #IMPORTANTE: GESTANTES: O metronidazol é um fármaco potencialmente teratogênico. Até um tempo atrás o ministério da saúde recomendava utilizar CLINDAMICINA nos primeiros 3 meses de gestação, e depois de passado esse período de embriogênese poderia se utilizar o METRONIDAZOL, #PROTOCOLO ATUALIZADO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE: Expõe como inferior o potencial risco de utilização de METRONIDAZOL no primeiro trimestre de gestação quando comparado ao risco da mulher persistir com uma vaginose bacteriana não tratada (que pode cursar com desfecho: aborto, parto pre- termo, infecção ovular, ...) – tanto na VO quanto na forma de gel vaginal CANDIDÍASE (MONILÍASE) o Candida albicans – fungo saprófita que faz parte da microbiota vaginal normal • O que acontece é que o corpo está sempre em equilíbrio com esse fungo e em condições normais não há nenhum prejuízo. • Quando as defesas do organismo (queda da imunidade) caem a Candida se aproveita dessa condição – FUNGO OPORTUNISTA. • Alguns cenários de queda de defesa corporal: → DM → AIDS → Umidade local (ex: época de verão muito tempo com biquini molhado) → Estresse → Gestação → Obesidade → Uso de ACO combinado → Uso crônico de corticosteroides → Desequilíbrio da microbiota (uso de ATB) NÃO PRECISA TRATAR O PARCEIRO! NÃO É UMA IST (na verdade é um desequilíbrio da microbiota vaginal) NÃO TRATAR paciente assintomática! Caso o resultado do colpocitopatológico mostre a presença de Gardinerella (que é uma bactéria que faz parte da microbiota vaginal normal <1%) NÃO devemos tratar, a menos que a paciente tenha alguma queixa associada (corrimento vaginal, de odor fétido) por isso é importante conversar com a paciente! Não tratamos o exame! Tratamos a pessoa! EXCEÇÕES: Gestantes – tratar SEMPRE!! Risco de evoluir para parto prematuro ou complicações Pacientes que irão realizar algum procedimento ginecológico risco de contaminação #IMPORTANTE: É importante orientar a paciente para que não faça uso de bebidas alcoólicas durante o tratamento e até 48 h após o fim do tratamento → EFEITO ANTABUSE (ou dissulfiram): o álcool tem uma reação cruzada com o metronidazol de forma que leva ao acumulo de aldeído acético na circulação sanguínea → cefaleia intensa; confusão mental; sensação de morte iminente Natália Giacomin Lima – medicina UFES 101 #OBS: exemplo que mais cai em provas: “paciente em utilização de ATB para tratamento de sinusite bacteriana inicia quadro de corrimento, coceira, ardor vulvovaginal,... o QP: • leucorreia grumosa – lembra “ricota” ou “queijo cotage” (diferente da Gardnerella) • Prurido – causado pela RI local • Ardência vulvovaginal FIGURA 3-13 Leucorreia branca densa, eritema e edema nos grandes lábios que podem ser observados na candidíase. (Fotografia cedida pelo Dr. William Griffith.) ❑ DIAGNÓSTICO DA CANDIDÍASE • Exame a fresco da secreção coletada • Visualização das hifas (“galhos de árvore”) ❑ TRATAMENTO DA CANDIDÍASE • 1ª OPÇÃO: MICONAZOL 2% creme vaginal ----------- 1 aplicador a noite durante 7 noites NISTATINA 100.000 UI creme vaginal ------- 1 aplicador vaginal a noite durante 14 noites • 2ª OPÇÃO FLUCONAZOL 150 mg VO – dose única (ministério da saúde coloca como 2ª opção) • OUTRAS OPÇÕES → Cetoconazol → Clotrimazol → Anfotericina → Isoconazol ❑ OBS: CANDIDÍASE DE REPETIÇÃO • 4 ou mais episódios de candidíase/ ano • Fluconazol --------------- 150 mg D1; D4; D7 → Manter com 1 comprimido por semana durante 6 meses • Importante investigar causas de base – solicitar exames (excluir DM e HIV!!): → Anti-HIV → Glicemia ❑ TIPOS DE CANDIDA • 90-95% ou mais das candidíases vaginais são causadas pela Candida albicans • Contudo existem outras duas espécies de • cândida (C. glabrata e C. tropicalis) que não costumam responder bem aos agentes azóis (miconazol, nistatina, fluconazol,...) → Paciente não melhora com os antifúngicos prescritos → Tratamento deve ser feito com ÁCIDO BÓRICO (óvulos vaginais 600mg de 7 a 14 noites) NÃO PRECISA TRATAR O PARCEIRO! NÃO É UMA IST (na verdade é um desequilíbrio da microbiota vaginal). Contudo pode ocorrer a passagem do fungodurante o ato sexual e alguns homens virem a desenvolver balamoprostite por candida?? – tratar o parceiro somente quando sintomático (rubor?). o tratamento pode ser o mesmo que o da mulher (aplicação do creme vaginal na cabeça da glande a noite) NÃO DEVEMOS NUNCA TRATAR CANDIDA EM PACIENTES ASSINTOMÁTICAS!! NEM MULHERES GRAVIDAS ASSINTOMÁTICAS!! O TRATAMENTO EM GESTANTES É O MESMO QUE EM NÃO GESTANTES. Pode utilizar tanto nistatina quanto miconazol. A única diferença é que em gestantes devemos sempre optar pelo tratamento tópico (NÃO PODE USAR VO) Natália Giacomin Lima – medicina UFES 101 → Mais comum em pacientes diabéticas ou com SIDA TRICOMONÍASE o Protozoário flagelado anaeróbio o É sexualmente transmissível (IST) • 80% chance H → M • 70% chance M → H o Período de incubação: 4 a 20 dias ❑ ASPECTOS CLÍNICOS DA TRICOMONÍASE • Leucorreia esverdeada, abundante e BOLHOSA • PODE LEVAR A RI IMPORTANTE cursando com prurido, queimação (semelhante a candidíase) • Pode dar mau-cheiro (assim como a Gardnerella pois é um protozoário anaeróbio ) • Colpite tigroide (colpite inflamatória): colo em morango ou colo em framboesa → Teste de Schiller - evidencia “aspecto onçóide” • PH> 4,5 ❑ EXAME A FRESCO DA SECREÇÃO VAGINAL • Protozoários flagelados moveis Colo em framboesa (morango) – petéquias - característico da infecção pelo protozoário Colo em framboesa Leucorreia bolhosa ❑ TRATAMENTO DA TRICOMONÍASE METRONIDAZOL 500mg --------------- 12 em 12h por 7 dias OU METRONIDAZOL 2g VO -------------- DOSE ÚNICA VAGINITE INFLAMATÓRIA o Substituição dos lactobacilos por ESTREPTOCOCOS do grupo B (presente na vagina em muitas mulheres) #OBS: uma das principais causas de sepse neonatal o Patogênese pouco conhecida o Leucorreia purulenta o Irritação vulvo vaginal ❑ TRATAMENTO CLINDAMICINA 2% --- creme vaginal (aplicar durante 7-14 noites) SEMPRE TRATAR O PARCEIRO!! SEMPRE TRATAR PACIENTE ASSINTOMÁTICA! (IST): não é um microrganismo que faz parte da microbiota vaginal normal (então se for evidenciado no exame de Papanicolaou mesmo a paciente sendo assintomática devemos tratar!) IMPORTANTE orientar a paciente que NÃO faça uso de álcool durante o tratamento e até 48 h após o fim do mesmo – efeito dissulfiram UTILIZAÇÃO DE METRONIDAZOL EM GESTANTES – O Metronidazol é uma droga potencialmente teratogênica. O ministério da saúde preconiza o tratamento da tricomoníase em detrimento a não intervenção. O tratamento é feito do mesmo jeito: METRONIDAZOL 2g – VO DOSE ÚNICA – mesmo que a paciente esteja no 1º Trimestre de gestação Natália Giacomin Lima – medicina UFES 101 VAGINITE POR CORPO ESTRANHO o Crianças --------- leucorreia amarelada com odor fétido o Sempre devemos desconfiar de abuso – mas via de regra leucorreia amarelada em crianças nos faz pensar em corpo estranho VAGINOSE CITOLÍTICA o Vagina mais ácida que o normal ( pH) • Causa não é bem elucidada • lactobacilos ✓ Leucorreia esbranquiçada ✓ Prurido; ardência; coceira ------ clinica semelhante a candidíase #OBS: As queixas da paciente normalmente se assemelham às da vaginose por Cândida. Contudo, ao exame especular (e a fresco) NÃO observamos nenhuma alteração sugestiva (ausência de hifas) #OBS: É normal que a vagina esteja mais ácida no período pré-menstrual o O excesso de acidez leva ao rompimento das células – por isso esta vaginose é denominada “CITOLÍTICA” (CITO = célula / LISE = quebra) → pode ser visto no EXAME A FRESCO da secreção coletada. No exame a fresco vemos NÚCLEOS NUS (perdidos) não há célula/ membrana envolvendo os núcleos ❑ TRATAMENTO DA VAGINOSE CITOLÍTICA Alcalinização -------------- bicarbonato de sódio (NaHCO3) → Diluição do bicarbonato e aplicação com seringa da solução diretamente na vagina VAGINITE ATRÓFICA o Típica de pacientes menopausadas • lactobacilos • pH • A atrofia pode ser grande e evidenciada por sangramento ao exame especular! o A atrofia pode cursar com vaginite – paciente pode ter queixa de corrimento, ardência, coceira – causados pela atrofia. o Comum em pacientes idosas (muito tempo após a menopausa) o Devemos lembrar que Candidíase é incomum em mulheres pós-menopausa. Dessa forma quando uma paciente pós-menopausa (e idosas) chega com sintomas sugestivos pensar em VAGINITE ATRÓFICA o TRATAMENTO: Estrogenioterapia tópica Candidíase • Leucorreia grumosa com aspecto de ricota, vagina e vulva avermelhadas, prurido, • Exame a fresco: Hifas • TT: Miconazol ou Nistatina Gardinerella • Leucorreia acinzentada • Odor fétido (peixe podre) • TT: Metronidazol Tricomoniase • Leucorreia esverdeada, bolhosa, abundante • Inflamação da vulva e vagina • TT: Metronidazol – TRATAR O PARCEIRO (IST)!! #IMPORTANTE – NÃO ESQUECER DOS “BICHOS” DA VAGINA ▪ Lactobacilo de Doderlein – principal ▪ Candida albicans ▪ Gardinerella ▪ Tricomonas – não faz parte da microbiota ▪ Estreptococo do grupo B – sim ▪ Gonococo – não faz parte da microbiota (IST) ▪ Chlamydia – NÃO (IST)
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