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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE PEDAGOGIA PEDAGOGIA EMPRESARIAL: DIFERENTES CONCEPÇÕES E FORMAS DE ATUAÇÃO Cristiani Maria Jora Lorensini Lajeado, junho de 2015 Cristiani Maria Jora Lorensini PEDAGOGIA EMPRESARIAL: DIFERENTES CONCEPÇÕES E FORMAS DE ATUAÇÃO Monografia apresentada na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II, do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Univates, como parte de avaliação para a obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia. Orientadora: Profa. Dra. Morgana Domênica Hattge Lajeado, junho de 2015 Aos queridos e amados avós: Ivo Kummer (in memoriam) e Herminda Kummer. Agradeço por Deus tê-los colocado em minha vida. Sou-lhes grata por muito do que sou hoje. AGRADECIMENTOS Ao final desta trajetória, entre idas e vindas, cumprindo longo percurso diário, parte de ônibus e parte pilotando minha moto, passando por invernos rigorosos e gelados e verões escaldantes, chuvas e barro na estrada ou ainda, contando com as forças das próprias pernas nas importunas falhas mecânicas, vislumbro mais uma grande conquista. Conquista essa que tem inúmeros personagens, os quais foram muito importantes, pois sem eles essa conquista não teria sentido e com quem compartilho esse mérito. Em primeiro lugar, agradecer a Deus por ter me dado a vida, este presente divino e magnífico e por Ele estar presente em minha vida, me dando força e coragem e ouvindo minhas orações em horas de aflição e medo. Agradecer a minha querida mãe Liane, que nunca mediu esforços para que eu pudesse estudar e que sempre esteve ao meu lado dando força e carinho. Obrigada querida mãe, seus ensinamentos me fizeram ser a pessoa que sou hoje. Ao meu querido e amado esposo Roberto, que sempre esteve presente em todos os momentos, que me auxiliou, que perdeu horas de sono, mas que diante de momentos bons e ruins, me dava forças para continuar minha caminhada. Hoje, não tenho palavras para expressar seu carinho e gratidão, só posso dizer “amo muito você” e agradeço a Deus por tê-lo colocado em minha vida. A minha Família que sempre me deu apoio, esteve presente em todos os momentos. Juntos soubemos passar por várias frustações e perdas, mas continuamos unidos, firmes e fortes para que nossos laços não se rompessem. Pedir desculpas pelas ausências durante minha trajetória acadêmica, pelos finais de semana em que não estive presente, pois os estudos eram prioridade. Obrigada pela compreensão e afeto. Meu carinho a todos. Ao meu avô Ivo (in memoriam), que já não se encontra mais conosco, mas que deixou muita saudade, que me ensinou que a vida deve ser aproveitada em seus pequenos detalhes. Gostaria muito que estivesse aqui para compartilhar comigo esta vitória, mas esteja onde estiver, estará sempre em meu coração. A minha querida avó Herminda, a “Muda”, como carinhosamente lhe chamamos, que sempre me esperava nos finais de semana, para me dar seu abraço carinhoso e suas palavras de fé e confiança. Suas atitudes como pessoa me servem de exemplo e sou grata a Deus por tê-la em minha vida. A minha querida Orientadora, Morgana, pessoa admirável, a quem dedico enorme admiração e carinho, que nunca mediu esforços para me auxiliar, tanto no planejar como na escrita. Que se aventurou comigo nesta caminhada, onde ambas aprendemos juntas. Sempre disposta a solucionar os problemas, me fez repensar várias vezes, a pensar de formas diferentes, ir além. Não tenho palavras suficientes para agradecer o quão importante você foi nesta trajetória. O fruto de nossas inquietações está aqui. Compartilho minha vitória com você, pois é parte muito importante deste caminho. Obrigada por tudo. Não posso deixar de agradecer a todos os professores do Centro Universitário Univates, especialmente os do Curso de Pedagogia, pois cada disciplina, cada estudo, cada prática, valeu muito a pena. O conhecimento que tenho hoje tem uma raiz em cada professor. Só tenho a agradecer e me sentir muito feliz por tê-los como mestres e que me fizeram ser a pessoa que sou hoje. Obrigada a todos (as). Agradecer também a todas as pessoas que voluntariamente me ajudaram a concluir minha pesquisa. Sem eles, o resultado não seria o mesmo. Esta vitória não é somente minha, compartilho-a e agradeço por tê-los em minha vida. Meu muito obrigado de coração a todos (as). Que Deus abençoe a vida de cada um. RESUMO Este trabalho apresenta reflexão e análise da Pedagogia Empresarial e da atuação do profissional Pedagogo no contexto das empresas. Percebeu-se a Pedagogia Empresarial como um novo campo de atuação para o Pedagogo. A partir disso, realizou-se uma pesquisa bibliográfica para uma abordagem inicial do tema. Em seguida, foram analisadas as respostas obtidas a partir de um questionário direcionado a pedagogos atuantes em empresas de diferentes estados do Brasil. Os resultados da pesquisa possibilitam compreender a grande importância desse profissional dentro das empresas, atuando em diferentes frentes e promovendo o desenvolvimento e a capacitação dos colaboradores das empresas. Palavras-chave: Pedagogia Empresarial. Educação Não Formal. Educação de pessoas. LISTA DE QUADROS Quadro 1 - A educação em outros espaços .............................................................. 13 Quadro 2 - Gestão de pessoas: desafio para as empresas ...................................... 32 Quadro 3 - Conhecimento dentro do contexto empresarial ....................................... 33 Quadro 4 - Importância do pedagogo empresarial na empresa ................................ 34 Quadro 5 - Visão do pedagogo ................................................................................. 37 Quadro 6 - Tarefas que podem ser exercidas pelo pedagogo no contexto empresarial ................................................................................................................ 38 Quadro 7 - Pedagogo empresarial e a importância da gestão .................................. 39 Quadro 8 - Pedagogo empresarial e o “olhar” pedagógico ....................................... 41 Quadro 9 - Pedagogo Empresarial e suas competências ......................................... 43 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Número de participantes e locais que residem ........................................ 27 Tabela 2 – Formação ................................................................................................ 28 SUMÁRIO 1 O CONTEXTO DA PESQUISA: CALÇANDO OS SAPATOS ................................. 9 1.1 Propondo uma reflexão: início do percurso ................................................... 12 1.2 Pedagogia empresarial e educação não formal ............................................. 14 2 PROBLEMATIZANDO A TEMÁTICA: PERCALÇOS AO LONGO DO CAMINHO .................................................................................................................................. 17 3 ALAVANCANDO NOVAS PERCEPÇÕES: PESQUISANDO O CAMINHO ......... 22 3.1 As redes sociais como fissuras de um novo campo de pesquisa ................ 25 4 ANALISANDO O CAMINHO PERCORRIDO ........................................................ 27 5 PEDAGOGIA EMPRESARIAL: FORMAS DE ATUAÇÃO .................................... 31 5.1 Pedagogia empresarial: foco no fator humano .............................................. 34 5.2 Pedagogia empresarial e a gestão do conhecimento e de pessoas ............. 37 5.3 Pedagogia empresarial e a educação de pessoas ......................................... 40 5.4 Pedagogia empresarial e a preparação de pessoas (treinamento) ............... 42 6 PALAVRAS FINAIS – O FIM DO PERCURSO .....................................................44 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47 APÊNDICES ............................................................................................................. 50 APÊNDICE A - Esboço de e-mail enviado as empresas ...................................... 51 APÊNDICE B - Perguntas a serem respondidas pelos participantes da pesquisa .................................................................................................................................. 52 9 1 O CONTEXTO DA PESQUISA: CALÇANDO OS SAPATOS Após onze anos cursando Pedagogia, me deparei com uma gama enorme de conteúdos que me foram colocados à disposição. Conteúdos que envolvem educação infantil, séries iniciais do ensino fundamental, processos de gestão, enfim, foram tantos assuntos, tantas leituras e discussões realizadas que fica difícil escolher uma opção para escrever o trabalho de conclusão. A escolha do tema sobre o qual escrevo este trabalho se deu após a realização de umas das disciplinas do curso de Pedagogia, sendo esta a Prática Investigativa II1, que foi ministrada pela professora Angélica Vier Munhoz2. Nessa Disciplina, a professora Angélica nos mostrou uma proposta diferente em relação à atuação do pedagogo em espaços não formais (denominadas instituições não escolares, onde ocorre uma ação educativa), enfatizando aspectos da pedagogia empresarial3 e da pedagogia hospitalar. Mostrou que é muito importante rever a atuação do pedagogo e que existem novas possibilidades de atuação. Como na época eu não possuía nenhuma prática em escolas e sim em empresas, o assunto pedagogia empresarial ficou em meu pensamento; o interesse e a curiosidade foram aumentando, sendo assim, comecei a procurar autores e 1 Disciplina Obrigatória no Curso de Pedagogia cursada no ano de 2010. 2 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil (2009). Professora titular do Centro Universitário Univates, Brasil. 3 Projeto de pesquisa realizado na Disciplina de Processos de Gestão – Organização do Trabalho Pedagógico, orientado pela Professora Daiani Clesnei da Rosa, no ano de 2008, tendo como componentes do grupo: Cristina Knobloch, Cristiani Maria Jora, Graziela Windberg, Lia Bottoni e Rosane Souza da Rosa. 10 estudar sobre o assunto. Após várias pesquisas realizadas, não tive dúvida, esse seria o assunto escolhido para meu trabalho de conclusão, enfatizando a minha experiência na gestão de pessoas na empresa em que trabalhei e na criação de minha própria empresa, uma agroindústria familiar, há quase dois anos. Acredito na importância de se mostrar a todos os pedagogos e pedagogas que existem novas possibilidades, novas formas de atuação, não desvalorizando o espaço desse profissional nas escolas, mas propondo novos possíveis rumos e atuações. Tendo em vista que a pedagogia é a ciência da educação, a mesma ocorre em todos os espaços, pois é fruto da socialização. O pedagogo é o profissional competente para desenvolver uma práxis comprometida com a transformação social, que não colabore para perpetuar o distanciamento entre o saber da experiência e o saber sistematizado, mas que valorize esses saberes que são distintos, porém complementares (ALMEIDA, 2010, p. 130). Este trabalho que foi batizado como “Pedagogia Empresarial: diferentes concepções e formas de atuação” apresenta reflexões sobre a atuação do profissional Pedagogo em ambientes empresariais, considerando a empresa como um novo campo de atuação. No primeiro momento procurou-se diferentes concepções sobre esse “novo” tipo de profissional a partir de vários autores. O eixo de pesquisa está embasado numa tentativa de descoberta sobre a função exercida pelo Pedagogo Empresarial, verificando a sua atuação e as tarefas exercidas por ele junto às empresas. Na primeira movimentação, esta pesquisa foi direcionada para empresas de diferentes segmentos localizadas no Vale do Taquari/RS, mas que após verificações, não houve resultado significativo. Na segunda movimentação, à procura de novos resultados, foi necessária uma mudança de rumos, onde a busca de respostas se associou ao uso da internet, mais precisamente, com o uso da rede social, o Facebook, para a coleta de dados de diversos participantes, com vistas à obtenção de respostas que fossem ao encontro do tema principal deste trabalho. Este trabalho está dividido em seis capítulos que se originaram da pesquisa sobre o tema em destaque. No primeiro capítulo propõe-se uma relação entre a Pedagogia Empresarial e 11 a Educação Não Formal, sendo que a prática educativa do Pedagogo Empresarial ocorre neste espaço, apresentando uma breve análise sobre este âmbito educacional. No segundo, promove-se a problematização, fazendo um questionamento, propondo uma reflexão e buscando respostas com profissionais atuantes sobre a função exercida pelo profissional Pedagogo no contexto empresarial. No terceiro, revelam-se os métodos que foram utilizados para alcançar as respostas, promovendo novas reflexões e percepções sobre a Pedagogia Empresarial e explana-se o uso das redes sociais como “brechas” para um novo campo de pesquisa, sobre o qual este trabalho foi desenvolvido, apresentando a importância da internet e especialmente às redes sociais para a obtenção de informações em complemento da pesquisa. O quarto capítulo apresenta uma análise de resultados obtidos através da pesquisa, a partir de um questionário composto por sete questões. Sendo assim, neste capitulo, faz-se uma pequena introdução, caracterizando participantes e locais onde residem, sendo que as análises das respostas dos questionários serão realizadas de modo a produzir uma composição entre o referencial teórico estudado ainda por ocasião da construção do projeto e os dados produzidos no decorrer da pesquisa. Ao invés de apresentá-los em blocos separados, descritos individualmente, serão colocados em tabelas ao longo do trabalho, proporcionando a ligação entre o teórico e o prático, de acordo com as respostas dadas pelos participantes. Utiliza-se a abreviação (P) para participante e uma numeração em ordem crescente que identifica o participante, por exemplo: (P1, P2, P3,...). No quinto, são listadas algumas atribuições dadas à Pedagogia Empresarial nas empresas, verificando pontos de importância que devem ser observados pelo profissional Pedagogo e formas de atuação desse profissional em diferentes funções; ressalta-se a importância do fator humano dentro das empresas, a gestão do conhecimento e de pessoas, a educação de pessoas e o treinamento associado à prática do profissional da Pedagogia na empresa. No capítulo final, são apresentadas considerações acerca dos conhecimentos adquiridos na trajetória do Curso, enriquecidos pela pesquisa. Está proposta uma 12 reflexão envolvendo concepções e formas de atuação do profissional Pedagogo no contexto empresarial. 1.1 Propondo uma reflexão: início do percurso Os estudos realizados durante a minha trajetória acadêmica envolveram diferentes disciplinas, muitas voltadas para a área da educação no âmbito escolar, tanto para a educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental e ensino médio, e algumas direcionadas para outras áreas em espaços não formais, como o trabalho de ONGs, problemáticas do terceiro setor, educação ambiental, etc. Nesse sentido, o Curso de Pedagogia proporciona inúmeras reflexões em diferentes âmbitos da educação e possibilita a formação do pensamento crítico. O curso de Pedagogia será destinado à formação de profissionais interessados em estudos do campo teórico-investigativo da educação e no exercício técnico-profissional, como pedagogos no sistema de ensino, nas escolas e em outras instituições educacionais, inclusiveas não-escolares. (LIBÂNEO, 2001 p. 14). O pedagogo com seu vasto conhecimento em diferentes áreas de estudo, o que o Curso de Pedagogia proporciona, possibilitará que seu trabalho seja também reconhecido em outros campos de atuação. [...]. O pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modos de ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua contextualização histórica (LIBÂNEO, 2001, p.11). Nesse contexto, o pedagogo pode ser atuante em diversos espaços de conhecimento, onde possa promover a educação como um todo em contextos diferenciados, englobando um caráter educativo e pedagógico (ALMEIDA, 2010). Portanto. Para além de razões históricas, pensamos que a identificação do pedagogo com o docente incorre num equivoco lógico conceitual. A Pedagogia é uma reflexão teórica a partir e sobre as práticas educativas. Ela investiga os objetivos sociopolíticos e os meios organizativos e metodológicos de viabilizar os processos formativos em contextos socioculturais específicos. Todo educador sabe, hoje, que as práticas educativas ocorrem em muitos lugares, em muitas instâncias formais, não-formais, informais. Elas acontecem nas famílias, nos locais de trabalho, na cidade e na rua, nos meios de comunicação e, também, nas escolas. Não é possível mais afirmar que o trabalho pedagógico se reduz ao trabalho docente nas escolas [...] 13 (PIMENTA, 2002, p. 29). Pensar em Pedagogia, primeiramente nos remete ao trabalho com crianças e em escolas, especialmente na área da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, mas a Pedagogia vai além dos muros escolares, ela ultrapassa e mostra novas práticas pedagógicas, fazendo com que se ampliem e criem novas possibilidades de aprendizagem, englobando espaços formais, informais e não formais. Pedagogia é, então, o campo do conhecimento que se ocupa do estudo sistemático da educação – do ato educativo, da prática educativa como componente integrante da atividade humana, como fato da vida social, inerente ao conjunto dos processos sociais. Não há sociedade sem práticas educativas. Pedagogia diz respeito a uma reflexão sistemática sobre o fenômeno educativo, sobre as práticas educativas, para poder ser uma instância orientadora do trabalho educativo. Ou seja, ela não se refere apenas às práticas escolares, mas a um imenso conjunto de outras práticas. O campo do educativo é bastante vasto, uma vez que a educação ocorre em muitos lugares e sob variadas modalidades: na família, no trabalho, na rua, na fábrica, nos meios de comunicação, na politica, na escola. De modo, que não podemos reduzir a educação ao ensino e nem a Pedagogia aos métodos de ensino. Por consequência, se há uma diversidade de práticas educativas, há também várias pedagogias: a pedagogia familiar, a pedagogia sindical, a pedagogia dos meios de comunicação etc., além, é claro, da pedagogia escolar (LIBÂNEO, 2001, p. 6-7). O tema Pedagogia Empresarial me instigou a preparar este trabalho, para sanar minhas dúvidas, aprender mais e para que este trabalho possa inspirar outros pedagogos (as) a garimparem esse novo campo de atuação. E neste aspecto, ressalto a resposta dada por um dos participantes que enfatiza a escolha da Pedagogia Empresarial. Quadro4 1 - A educação em outros espaços Primeiramente fiz uma pesquisa bibliográfica em livros, sites, utilizando plataformas de pesquisa como o Google Acadêmico, Scielo, entre outros. Foram vários os artigos encontrados englobando o assunto Pedagogia Empresarial, diferentes concepções e formas de atuação do Pedagogo Empresarial. 4 Os excertos dos questionários serão apresentados em quadros para diferenciá-los das demais citações. Os participantes serão identificados através da letra (P) seguida de um numeral. - Amo educar e tenho verdadeira paixão em ensinar, repassar meus conhecimentos, ter troca de experiências. Então resolvi cursar a faculdade, pois na época vi como um mercado promissor, ter a capacidade de ser um educador dentro das empresas, fazendo com que a educação tivesse um espaço em outros ambientes e não somente no âmbito escolar. Não me arrependo em nenhum momento da profissão que escolhi, sou muito feliz como pedagoga empresarial (P4). 14 1.2 Pedagogia empresarial e educação não formal5 Após a produção dos recortes dos textos lidos, meu próximo passo foi separar em tópicos os pontos mais abordados nas leituras, para serem os pontos de discussão deste trabalho. Cada item abaixo será um ponto de pesquisa e escrita relacionado ao tema Pedagogia Empresarial. Além de quatorze artigos lidos, realizei a leitura de livros, englobando autores como Amélia Escotto do Amaral Ribeiro6 e José Abrantes7. Uma dificuldade encontrada foi a escassez de publicações enfatizando o tema Pedagogia Empresarial e a ausência de livros para venda nas livrarias, sendo que a maioria que engloba o conceito pedagogia empresarial encontra-se esgotada. Dentre os artigos lidos, quatro deles focaram a importância da gestão de saberes, conhecimentos e pessoas no contexto da pedagogia empresarial, sendo assim, esta temática será descrita no item 5.2. Em oito artigos, foi abordada a educação de pessoas, dentro das empresas referidas como recursos humanos8, temática descrita no item 5.3. Apenas em dois artigos englobou-se a preparação de pessoas, mais especificamente, o treinamento, tema detalhado no item 5.4 deste trabalho. Como balizamento inicial, achei conveniente começar a descrever o que se entende por educação não formal, sendo um espaço de ensino no qual o pedagogo vai pode atuar e desenvolver diferentes ações ligadas à educação, no caso da Pedagogia Empresarial, a empresa como local educativo. A educação não formal, uma realidade educacional que existe há muito 5 De acordo com a nova ortografia a palavra não formal encontra-se sem o emprego do hífen, mas sempre em citações de textos anteriores a 2009 será mantida a grafia original. 6 Doutora em Educação. Especialista em Pedagogia Empresarial. Citada em todos os artigos lidos como uma das principais referências sobre o tema Pedagogia Empresarial. Livros publicados que serão utilizados neste trabalho: Pedagogia Empresarial – Atuação do Pedagogo na Empresa e Temas Atuais em Pedagogia Empresarial. 7 Doutor em Engenharia de Produção. Autor citado em vários artigos lidos, tendo como referência seu livro: A Pedagogia Empresarial: nas organizações que aprendem. 8 No cenário da empresa, as pessoas são muito importantes, por possuírem características de aprendizagem e serem capazes de executar muitas tarefas, portanto, são vistas como recursos humanos, que podem ser moldados através da educação e de praticas pedagógicas. 15 tempo, mas que só começou a ser popularizada a partir do ultimo terço do século XX, e a partir disso, a se fixar na linguagem pedagógica (TRILLA, 2008) mostra-se como uma vasta área a ser descobertae um novo modo para a atuação do pedagogo, mas é uma área do conhecimento que ainda está em construção (GOHN, 2006). Toda e qualquer ação educativa fora do âmbito da escola denomina-se educação não formal. É a educação através de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços coletivos (GOHN, 2006). A Educação não formal busca capacitar o cidadão, promovendo projetos de desenvolvimento pessoal e social que podem acontecer em diversos espaços: comunidades, empresas, penitenciárias, organizações não governamentais, entre outros (TOZETTO, 2011, p. 1). Sendo assim, Trilla (2008) acrescenta que a educação não formal se mostra sem as características da escola: Em suma, quando se fala em metodologiasnão-formais, o que se quer dar a entender é que se trata de procedimentos que, com maior ou menor radicalismo, se distanciam das formas canônicas ou convencionais da escola. Assim, como um sentido muito semelhante ao dessa acepção de educação não-formal, alguns autores utilizaram expressões como “ensino não convencional” ou “educação aberta” (TRILLA, 2008, p. 40). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº9. 394/96 enfatiza em seu artigo 40 que a educação profissional precisa desenvolver habilidades e competências para promover um aprendizado. Entende como sendo o espaço fora do ambiente escolar, também um local de aprendizagem. Artigo 40: A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho. (SOUZA, 1997, p.67). A educação não formal não é organizada em séries/idades/conteúdo, ela ajuda na construção da identidade coletiva do grupo, fundamenta-se no critério de solidariedade e identificação de interesses comuns (GOHN, 2006). Algo de destaque sobre a educação não formal enfatiza que ela abrange e atinge uma parte da população que é excluída do sistema escolar. A educação não-formal, por sua vez, supõe também a intenção de estender a educação e, por isso, a maioria da população que atinge é de pessoas menos incluídas no sistema no sistema escolar convencional, ainda que não esteja dirigida a determinados grupos de idade, sexo, classe social, hábitat 16 urbano ou rural etc. Essas pessoas apresentam grande motivação intrínseca, sua adesão a programas costuma ser voluntária, e, sendo seus interesses e necessidades mais claramente assumidos, podem seguir ou abandonar os programas conforme entendam que estes satisfazem ou não suas expectativas (TRILLA, 2008, p. 71-72). A educação não formal se destaca por ser uma educação que se aprende no “mundo da vida”, voltada para o ser humano como um todo, cidadão do mundo, cidadão pleno e se baseia em temas de aprendizagem que surgem da necessidade de um determinado grupo (GOHN, 2006). “[...] é mais difusa, menos hierárquica e menos burocrática” (GADOTTI, 2005). No entanto, a educação não formal não deve ser vista em substituição à educação formal (escolas), pois a educação não formal é um espaço concreto de formação na aquisição de aprendizagens envolvendo um coletivo que envolve [...] “habilidades corporais, técnicas, manuais, referentes a um trabalho a ser realizado”. (GOHN, 2009). [...]. O formal é aquilo que assim é definido, em cada país em cada momento, pelas leis e outras disposições administrativas; o não-formal, por outro lado, é aquilo que permanece à margem do organograma do sistema educacional graduado e hierarquizado. Os conceitos de educação formal e não-formal apresentam, portanto, uma clara relatividade histórica e política: o que antes era não-formal pode mais tarde passar a ser formal, do mesmo modo que algo pode ser formal em um pais e não formal em outro (TRILLA, 2008, p. 40). A educação não formal representa a inserção do pedagogo em um novo campo de atuação, no qual se utilizará de técnicas e métodos de aprendizagens para atingir um determinado público e uma determinada causa, no caso da Pedagogia Empresarial, a empresa como local de aprendizagens e aquisição de conhecimentos. 17 2 PROBLEMATIZANDO A TEMÁTICA: PERCALÇOS AO LONGO DO CAMINHO De acordo com o tema principal deste trabalho, a Pedagogia Empresarial é um novo campo de atuação do profissional pedagogo, mas atualmente, não é muito fácil encontrar este profissional atuante em empresas. Neste contexto, pergunta-se: Qual o espaço de atuação do profissional pedagogo no contexto empresarial em Municípios do Vale do Taquari/RS? Quantas empresas do Vale do Taquari/RS possuem um profissional pedagogo atuante dentro da empresa? Estes questionamentos surgiram da curiosidade incessante em ter as respostas para tais questionamentos e pelo aprofundamento sobre a prática de trabalho deste novo cenário de atuação do pedagogo empresarial. Por aqui, o problema de pesquisa não é descoberto, mas engendrado. Ele nasce desses atos de rebeldia e insubmissão, das pequenas revoltas com o instituído e aceito, do desassossego em face das verdades tramadas, e onde nos tramaram. Mas, como é que se faz isso? Como é que nos tornamos fortes para explodir as formas como lemos, compreendemos, pensamos? Ao modo do trabalho foucaultiano, desfocando os olhos das coisas vistas e elevando-os até as visibilidades de uma época; bem como, deslocando-nos da moradia confortável das palavras e das frases, para chegar aos enunciados. O que funciona é exercitar a suspeição sobre a própria formação histórica que nos constituiu e constitui, e interrogá-la sobre se tudo o que dizemos é tudo o que pode ser dito, bem como, se aquilo que vemos é tudo o que se pode ver (CORAZZA, 1996, p. 119). A partir de tantos questionamentos e dúvidas, inicialmente o problema de 18 pesquisa foi construído da seguinte forma: Como se dá a atuação do pedagogo empresarial em empresas do Vale do Taquari/RS? Portanto, pensar neste problema de pesquisa vai além dos conhecimentos já existentes, ele abre novas janelas para se verificar como as empresas do Vale do Taquari/RS estão englobando em seu contexto de trabalho esse novo perfil de profissional e qual o espaço destinado ao pedagogo empresarial dentro da empresa. Antes de iniciar a primeira aproximação com as empresas, foi elaborado um esboço de um e-mail que seria enviado para as empresas, especificando alguns itens para que entendessem o que estaria pesquisando e o meu propósito de pesquisar tal assunto. Para dar início à pesquisa de campo, foram contatadas algumas associações do Vale do Taquari, onde estão inseridas várias empresas, de pequeno, médio e grande porte para obter contatos telefônicos e outros dados para que se pudesse fazer uma primeira aproximação com as empresas. O contato com as associações se deu através de e-mails, sendo no mês de janeiro, período em que muitas empresas proporcionam férias coletivas, resolveu-se usar esta ferramenta eletrônica também por ser um meio mais rápido de obter as informações. Após o envio dos e-mails, mais precisamente no dia 17 de janeiro de 2015, para quinze associações de empresas do Vale do Taquari, ficou-se na expectativa de respostas. Para algumas associações, houve problema no envio, pois o endereço eletrônico já não existia mais e apenas três associações se propuseram a responder meu e-mail. Em resposta, as três associações, de primeira mão comunicaram que em sua organização não havia nenhum profissional Pedagogo, e somente uma delas, se prontificou a repassar uma lista com os nomes das empresas associadas para que se pudesse aprofundar a pesquisa com as empresas associadas e outra informou que iria buscar estas informações e que se obtivesse algum resultado, entraria em contato. 19 Após conversar com o gerente geral da associação que se propôs a oferecer material de pesquisa, obteve-se uma lista impressa com 403 nomes de empresas cadastradas a essa associação, tendo descrito o nome da empresa, bairro, fone, ramo de atividade, endereço, cidade, e-mail e qual segmento de atuação. Com o material em mãos, iniciou-se uma análise das empresas e de seus respectivos ramos de atividade. Verificou-se que na lista havia muitas empresas, então fez-se um apanhado de nomes para que pudesse ser feito o primeiro contato. Foram então escolhidas 108 empresas de diferentes segmentos para iniciar a trajetória de pesquisa. A escolha das empresas se deu aleatoriamente. Com o endereço eletrônico em mãos, encaminhou-se às empresas um e-mail para que tivessem conhecimento da origem, o motivo e objetivo da pesquisa. Após alguns dias, começaram a chegar respostas de alguns e-mails.Depois de uma semana, foram obtidas apenas 30 confirmações de respostas de diferentes empresas. Em análise das respostas obtidas pelas empresas, muitas delas referiam: “nossa empresa não possui”, “não temos”, “no momento não temos este profissional aqui”, “não temos o referido cargo na empresa”, “infelizmente não temos pedagogos aqui na empresa”, “não temos este profissional trabalhando conosco”, “não utilizamos pedagogos em nossa operação”, “não possuímos esse profissional no nosso quadro de funcionários”, e assim, sucessivamente as respostas foram as mesmas. O que mais chamou à atenção nas respostas obtidas, que em grande maioria foram dadas pelos profissionais do setor administrativo e de recursos humanos, foi verificar que afirmam não haver tal profissional na empresa, mas manifestam disposição em auxiliar na pesquisa e a maioria das empresas desejou que se fizesse um bom trabalho. Outra resposta obtida de uma cooperativa que chamou a atenção foi: “Não temos profissionais pedagogos atuando na Cooperativa. Atualmente temos psicólogos ou administradores com especialização em gestão de pessoas em cooperativas, para atuar na área de gestão de pessoas.” Neste caso, percebe-se que dão importância ao trabalho das pessoas nas empresas e que há outros 20 profissionais realizando essa tarefa, pois uma vez que a Psicologia e a Administração também atuam junto à gestão de pessoas. Possivelmente ainda não haja conhecimento suficiente acerca das funções possíveis para um pedagogo nas empresas. Uma empresa de ensino em resposta ao e-mail da pesquisa, “assinada” por uma Pedagoga, explicou o seguinte: “Atuo como pedagoga na escola, que é minha formação. Tenho especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional e direcionei meu trabalho final para a atuação do Psicopedagogo no meio empresarial, mais focado nas dificuldades de aprendizagem dos colaboradores. Não consegui fundamentar da forma como gostaria, pois na psicopedagogia essa área é nova. Na empresa hoje, estamos reorganizando os setores, pois acabamos de fazer mudança de sede e reestruturar algumas funções. Hoje atuo mais na coordenação e acompanhamento a professores e alunos, fugindo um pouco da parte empresarial, pois a ideia é que um profissional de RH faça esse acompanhamento.” Neste caso, verifica-se que a profissional tentou elaborar um trabalho na área empresarial, mas como há pouco material sobre o assunto, e pouco conhecimento sobre essa nova modalidade de atuação do pedagogo, pouco êxito obteve em sua pesquisa. Assim, frente a essas constatações, fez-se necessária uma mudança de rumos, que promovesse a saída da zona de conforto e ultrapassasse novas barreiras. Nesse momento a pesquisa estava sem rumo, sem foco definido, sem munição, sem luz. Era necessário achar uma forma de transpor os obstáculos, sair da escuridão e promover uma nova visão, buscar algum alvo, direcionar o pensamento e acalentar inquietações. Como visualizo tais labirintos? Eles são construídos com repartimentos polimorfos, de disposição esteticamente enredada, tortuosa, intrincada, que nunca repetem sua própria forma, sendo que tais feitios são justamente aqueles que os tornam um lugar complicado e, muitas vezes, inextricável e admiravelmente emaranhado. Seus corredores estão dispostos em uma ordem tumultuosa, que depois de neles entrar é quase impossível encontrar a saída, mesmo que desejemos. O traçado de seu desenho é formado por linhas sinuosas e imprevisíveis, das quais, quando se está dentro, não se tem a mínima ideia de onde levarão, nem onde estão seus pontos de fuga, ou mesmo aqueles de aprisionamento. Lugar onde muitas vezes é preciso voltar sobre os próprios passos, para encontrar outras possibilidades de continuar em movimento; ou então gritar bem alto, para que o som da própria voz seja a única a fazer companhia, e não se morra de solidão (CORAZZA, 1996, p. 107-108). Era necessário rever e repensar, portanto, o problema da pesquisa passa a 21 ser apresentado na forma do seguinte questionamento: De que forma se define a função e a atuação do Pedagogo no contexto empresarial em diferentes estados do Brasil? Sendo assim, passei a buscar profissionais formados em Pedagogia e em atuação dentro de empresas como Pedagogos Empresariais para verificar o tipo de trabalho exercido por esse profissional no contexto empresarial. 22 3 ALAVANCANDO NOVAS PERCEPÇÕES: PESQUISANDO O CAMINHO Pesquisar algo é muito importante para aumentar nosso conhecimento sobre um determinado assunto, sendo que isso proporciona novas verificações e modos de se posicionar frente a um novo conhecimento. Pesquisar é uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saber, conhecimentos, e quem conhece, governa. Conhecer não é descobrir algo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do real. Conhecer é descrever, nomear, relatar, desde uma posição que é temporal, espacial e hierárquica. O que chamamos de “realidade” é o resultado desse processo. A realidade ou “as realidades” são, assim, construídas, produzidas na e pela linguagem. Isto não quer dizer que não existe um mundo fora da linguagem, mas sim que o acesso a este mundo se dá pela significação mediada pela linguagem (COSTA, 2007, p. 104-105). Retomando a pesquisa, primeiramente foi feita uma aproximação com empresas do Vale do Taquari, através de suas associações, a fim de realizar o mapeamento de profissionais pedagogos atuantes no contexto empresarial. O primeiro contato se deu através de e-mail enviado as associações as quais pertencem a maioria das empresas e após o recebimento das respostas foi realizada uma análise quantitativa do número de empresas que possuem um pedagogo empresarial no seu contexto de trabalho. Em seguida, foi feita uma análise qualitativa através da realização de entrevistas com os profissionais pedagogos atuantes em empresas, verificando aspectos do seu trabalho no âmbito empresarial e buscando compreender a atuação desse profissional na área. A entrevista se mostra como uma ferramenta para uma aproximação com o 23 profissional, verificando seu trabalho e atribuições no contexto empresarial. Partimos da constatação de que a entrevista face a face é fundamentalmente uma situação de interação humana, em que estão em jogo as percepções do outro e de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e interpretações para os protagonistas: entrevistador e entrevistado. Quem entrevista tem informações e procura outras, assim como aquele que é entrevistado também processa um conjunto de conhecimentos e pré-conceitos sobre o entrevistador, organizando suas respostas para aquela situação. A intencionalidade do pesquisador vai além da mera busca de informações; pretende criar uma situação de confiabilidade para que o entrevistado se abra. Deseja instaurar credibilidade e quer que o interlocutor colabore, trazendo dados relevantes para seu trabalho. A concordância do entrevistado em colaborar na pesquisa já denota sua intencionalidade – pelo menos a de ser ouvido e considerado verdadeiro no que diz -, o que caracteriza o caráter ativo de sua participação, levando-se em conta que também ele desenvolve atitudes de modo a influenciar o entrevistador (SZYMANSKI, 2002, p. 12). Portanto, a entrevista serviu como um modo de aproximação, promovendo a busca de novos conhecimentos com pessoas que atuam na área da Pedagogia Empresarial e sanando as dúvidas sobre a atuação desse profissional dentro da empresa. Após verificar que não havia respostas significativas para o primeiro problema de pesquisa, pensou-se em uma forma de problematizar um novo desafio. Desafio este, que no primeiro momento me causou abalo, pois estava sem rumo, não se havia conseguido encontrar pedagogo atuante dentro de alguma empresa do Vale do Taquari. Mas, tendo que seguir em frente, sair da zona de conforto epossibilitar um novo pensamento, um novo ponto de interrogação. Conduziu-se a pesquisa a outro rumo, a exemplo da citação de Meyer (2012, p. 15): Uma metodologia de pesquisa é sempre pedagógica porque se refere a um como fazer, como fazemos ou como faço minha pesquisa. Trata-se de caminhos a percorrer, de percursos a trilhar, de trajetos a realizar, de formas que sempre têm por base um conteúdo, uma perspectiva ou uma teoria. Pode se referir a formas mais ou menos rígidas de proceder ao realizar uma pesquisa, mas sempre se refere a um como fazer. Uma metodologia de pesquisa é pedagógica, portanto, porque se trata de uma condução: como conduzo ou conduzimos nossa pesquisa. Após algumas conversas com a orientadora, decidiu-se buscar profissionais Pedagogos através de ferramentas como as redes sociais, mais precisamente o Facebook, para poder responder o segundo questionamento. Poder utilizar uma ferramenta diferente para realizar uma pesquisa seria algo interessante e instigador, mas logo de início, veio a frustração. 24 Para começar esta segunda etapa da pesquisa, publicou-se uma mensagem em um grupo fechado do Facebook intitulado “Pedagogia Empresarial”, composto por mais de três mil membros. A primeira postagem ocorreu no dia 26 de fevereiro de 2015 com a seguinte mensagem: “Boa Tarde Grupo da Pedagogia Empresarial. Sou estudante concluinte do Curso de Pedagogia - Univates - RS, e estou fazendo meu trabalho de conclusão sobre o tema "Pedagogia Empresarial", no entanto, fiz uma pesquisa para procurar algum profissional da Pedagogia atuando onde resido e nos municípios vizinhos e não tive êxito, não consegui encontrar nenhum Pedagogo atuando no âmbito empresarial, portanto, venho através deste grupo verificar se algum integrante possui formação no curso de Pedagogia e que já esteja trabalhando na área empresarial e que se propusesse a me ajudar. Gostaria se possível a ajuda de vocês para conseguir realizar a minha pesquisa.” Após a postagem, a espera. Espera esta que angustiava, pois a cada visualização que era realizada, não se encontrava nada, nem curtida e nem comentário. O que fazer? Nova postagem no dia 27 de fevereiro. Depois de dois dias, uma pessoa que estava cursando Pedagogia e fazendo estágio em empresas se manifestou e outra pessoa indicou um amigo para ajudar, mas este amigo não se manifestou. Um desânimo foi se formando: e agora? Se não conseguir algum profissional o que fazer? De que forma será possível continuar a pesquisa? Enfim, vários questionamentos e angústias foram tomando conta do que antes era entusiasmo. Após pensar muito, a próxima tentativa foi selecionar alguns membros do grupo e encaminhar uma mensagem individual para cada integrante escolhido. Foram enviadas inúmeras mensagens que até o sistema do Facebook informou não ser possível enviar mais mensagens naquele dia daquele endereço. O próximo passo seria esperar, mas para surpresa e alívio, as respostas não demoraram a chegar. Respostas essas que foram das mais variadas, sendo que algumas pessoas não atuavam na área empresarial, outras se propuseram a ajudar, alguns que estavam no grupo apenas por interesse e curiosidade, enfim, foram várias as respostas, mas que no final se obteve a ajuda de 14 pessoas que se propuseram a responder um questionário para contribuir com a pesquisa. Um questionário composto por sete questões foi elaborado para se obter os 25 conhecimentos desejados. Mas havia outro problema, como proceder em relação ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido? Como fazer para que os participantes assinassem este termo? Eis aí, mais um desafio que foi enfrentado. Sendo assim, usou-se como principal fonte para solucionar este obstáculo, o texto de Jeane Félix, intitulado “Entrevistas on-line ou algumas pistas de como utilizar bate-papos virtuais em pesquisas na educação e saúde”, que se encontra em Meyer (2012). Neste texto, a autora sinaliza sua forma de conseguir aprovação de seus pesquisados para o uso do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido: “[...] Considerei, como assinatura dos/as jovens, um e-mail indicando concordância com a utilização do material para fins acadêmicos [...]”. (FÉLIX, 2012, p. 145). Desta forma, fez-se o mesmo procedimento em relação aos que se dispuseram a ajudar; foi solicitado leitura e retorno autorizando o uso das informações no questionário que seria enviado no segundo momento. Sendo assim, encontrados os Pedagogos Empresariais e enviados o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o questionário composto por sete questões, o próximo passo foi esperar para que os questionários voltassem para realizar minha análise sobre as respostas obtidas. 3.1 As redes sociais como fissuras de um novo campo de pesquisa A internet está praticamente em todos os lugares. Utiliza-se a internet para pesquisar, ver vídeos, mandar e-mails, falar com os amigos através das redes sociais, enfim, ela tem se tornado uma ferramenta importante e indispensável no nosso contexto, tanto pessoal como profissional. Esta ferramenta foi extremamente importante para que este trabalho fosse desenvolvido. Neste sentido, Félix (2012, p. 133) complementa: Nos últimos anos, a internet vem sendo utilizada como objeto, local e instrumento de pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento. Por tratar-se de algo de certo modo ainda recente, a utilização da internet no âmbito das pesquisas traz muitas potencialidades, mas também vários desafios e limites, e nos coloca diante de questões éticas novas e específicas [...]. 26 As redes sociais são locais onde podemos encontrar amigos de ontem e de hoje, trocam-se informações sobre negócios, criam-se novos laços de amizade, enfim, várias funções, inclusive como meio de pesquisa, finalidade para a qual foi utilizada neste trabalho. Dando sequência, o próximo capítulo contém uma espécie de feedback, utilizando as leituras feitas durante todo o processo de escrita e questionários respondidos como ferramentas de análise, onde se procura responder o problema de pesquisa desta pesquisa. Portanto, realiza-se um diagnóstico sobre o caminho percorrido ao longo deste trabalho, enfatizando todos os dados obtidos e propondo uma reflexão associada à teoria. 27 4 ANALISANDO O CAMINHO PERCORRIDO Tempo de espera, assim designo esta etapa, era necessária muita paciência para aguardar o retorno das respostas dos questionários. Espera que não foi tão angustiante como inicialmente se supôs, pois em menos de dois dias a caixa de e- mails estava recheada de questionários respondidos. Isto foi um alívio, pois se poderia assim, iniciar uma coleta de dados significativos para a pesquisa. Para esta parte da pesquisa em que foi utilizado um questionário, obteve-se a participação de catorze pessoas, de diferentes estados do país, de acordo com as informações descritas na tabela abaixo. Tabela 1 – Número de participantes e locais que residem Fonte: Da autora (2015). Participantes Local que reside P1 Rio de Janeiro – RJ P2 Recife – PE P3 Rio de Janeiro – RJ P4 Gravataí – RS P5 São Caetano do Sul – SP P6 Fortaleza – CE P7 Rio de Janeiro – RJ P8 Padre Miguel – RJ P9 Rio de Janeiro – RJ P10 Cachoerinha – RS P11 Rio de Janeiro – RJ P12 Rio de Janeiro – RJ P13 Salvador – BA P14 Rio de Janeiro - RJ 28 Nesta pesquisa para manter em sigilo a identidade dos participantes que responderam os questionários, será utilizada a letra P (que indica participante) associada a um numeral para identificar a participação dos mesmos em ordem crescente, por exemplo, (P1, P2...). De acordo com a Tabela 1, os participantes residem em diferentes estados brasileiros, sendo que oito participantes são do Rio de Janeiro, dois do Rio Grande do Sul, um de Pernambuco, um do Ceará, um de São Paulo e um da Bahia. Cada participanteaceitou voluntariamente participar desta pesquisa. Verifica-se que a maior parte dos pedagogos empresariais atuantes se localiza no Estado do Rio de Janeiro, talvez por ter mais oportunidades e um reconhecimento da atuação e função do Pedagogo Empresarial pelas empresas. Ao seguir verifiquei a formação de cada participante, se possuía Graduação em Pedagogia e outro curso de pós ou especialização. Tabela 2 – Formação Participante Formação Pós- especialização P1 Graduação em Pedagogia Especialização em Psicopedagogia e em Educação Corporativa P2 Graduação em Pedagogia Especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica P3 Graduação em Pedagogia Especialização em Gestão de RH, Gestão Estratégica, Designer Instrucional e Gestão de EAD P4 Graduação em Pedagogia MBA em Gestão Estratégica de Pessoas P5 Graduação em Pedagogia Pós-graduação em Pedagogia Empresarial P6 Graduação em Pedagogia MBA – Pedagogia e Psicopedagogia Empresarial P7 Graduação em Pedagogia Pós-graduação em Pedagogia Empresarial P8 Graduação em Pedagogia Empresarial - P9 Graduação em Pedagogia Pós-graduação em Pedagogia Empresarial, Educação a Distância e Designer Instrucional P10 Graduação em Pedagogia – Habilitação em matérias pedagógicas do Ensino Médio e Pedagogia Empresarial - P11 Graduação em Pedagogia - P12 Graduação em Pedagogia - (Continua...) 29 Participante Formação Pós- especialização P13 Graduação em Pedagogia Especialização em andamento em Educação Permanente em Saúde P14 Pedagogia em formação – 7º período - Fonte: Da autora (2015). De acordo com a Tabela 2, verifica-se que a maioria dos participantes tem formação em Pedagogia, em dois casos houve uma formação já direcionada à Pedagogia Empresarial e um participante está concluindo sua formação em Pedagogia. Em relação a algum outro curso como pós-graduação ou especialização, verifica-se que alguns participantes possuem especialização em diferentes áreas de interesse da Pedagogia Empresarial, englobando a Educação Corporativa, Especialização em Gestão de RH, Gestão Estratégica de Pessoas, Psicopedagogia Empresarial e Designer Instrucional. Em continuidade, os participantes foram questionados sobre o porquê da escolha da Pedagogia Empresarial e neste ponto, verificou-se através das respostas obtidas, uma grande ênfase em relação ao Curso de Pedagogia ampliar o campo de atuação do Pedagogo, proporcionar novos rumos e formas de atuação. Seguindo, a próxima pergunta enfatizava as tarefas exercidas dentro das empresas, sendo que verificou-se interessantes associações entre o pensamento de autores pesquisados e o que os participantes descreveram, cujo detalhamento é feito ao longo deste trabalho. Outro questionamento enfatizava a importância atribuída à atuação do pedagogo no contexto empresarial, acerca do que, obtive inúmeras respostas muito significativas e que vem ao encontro do que este trabalho enfatiza, sendo que as respostas obtidas complementam e enriquecem a escrita. Em seguida, pergunta-se se estes profissionais encontraram alguma barreira ao iniciar a trajetória de Pedagogo Empresarial e em havendo, quais seriam estas barreiras. No total, nove participantes afirmaram que encontraram muitas barreiras, e citam a falta de legitimação da identidade do pedagogo nas organizações, mercado de trabalho muito restrito competindo com pessoas da área da Psicologia, a pouca (Conclusão) 30 visão das empresas nacionais em comparação as multinacionais perante a questão de treinamentos e desenvolvimento de pessoas, o fato das empresas desejarem resultados imediatos sobre o processo de treinamento e desenvolvimento que é de médio a longo prazo, a falta de conhecimentos de formação administrativa que não nos Cursos de Pedagogia e o preconceito em relação ao desenvolvimento profissional do Pedagogo dentro das empresas. Os outros cinco participantes afirmaram não ter tido nenhuma barreira ao iniciar sua trajetória de Pedagogos Empresariais. Neste caso, verifica-se que existem barreiras, mas que podem ser rompidas e valorizando o trabalho do Pedagogo no contexto empresarial, promovendo oportunidades. O último questionamento abordou o que os participantes esperam do futuro do Pedagogo no contexto empresarial. Neste quesito, na grande maioria das respostas, deseja-se a real valorização deste profissional e que ele se torne essencial para o planejamento estratégico da empresa, mostrando seu valor à gestão do conhecimento e de pessoas, que o mercado assimile e consiga entender a atuação do Pedagogo Empresarial, enfim, que esta profissão de dissipe e tenha a sua importância para as empresas e que os currículos das universidades contemplem amplamente todas as áreas de atuação do Pedagogo. Nesta questão, apenas um participante não acredita no futuro promissor a curto e médio prazo para a Pedagogia Empresarial, pois enfatiza que as empresas de treinamento são muito fechadas e novos profissionais encontram muitas dificuldades no mercado de trabalho, mas enfatiza que cada vez mais se faz necessário o Pedagogo em todas as áreas , tanto empresarial, como escolar e profissional. 31 5 PEDAGOGIA EMPRESARIAL: FORMAS DE ATUAÇÃO O termo denominado “Pedagogia Empresarial” é algo muito recente, por isso encontram-se poucas referências bibliográficas e trabalhos que enfoquem seu conteúdo. A Pedagogia na Empresa caracteriza-se como uma das possibilidades de formação/atuação do pedagogo bastante recente, especialmente no contexto brasileiro. Tem seu surgimento vinculado à ideia da necessidade de formação e/ou preparação dos Recursos Humanos nas empresas (RIBEIRO, 2010, p. 9). Sendo assim, a Pedagogia Empresarial mostra-se como um novo modo de atuação dentro das empresas, englobando várias funções. Por isso, enfatiza-se: Considera-se também que a pedagogia empresarial implanta programa de qualificação e requalificação profissional, produz e difunde o conhecimento, estrutura o setor de treinamento, desenvolve e adéqua metodologias de informação e da comunicação às práticas de treinamento (ARAÚJO, 2011, p. 2). O pedagogo neste novo contexto educativo trabalhará com um grupo de pessoas baseando-se em atividades com objetivos específicos para que haja aprendizagem e buscando estratégias e metodologias que garantam um ganho de conhecimento significativo (RIBEIRO, 2010). Mas, para que haja êxito em suas práticas dentro da empresa, o pedagogo empresarial necessita ter um profundo conhecimento dos comportamentos humanos dentro do contexto da organização, pois toda sua prática estará centrada no desenvolvimento de pessoas (ALMEIDA, 2012). 32 Quadro 2 - Gestão de pessoas: desafio para as empresas Esse espaço de trabalho dentro da empresa proporcionará ao pedagogo uma prática vinculada ao caráter educativo, promovendo o desenvolvimento das pessoas envolvidas, além de avaliar e diagnosticar problemas no contexto da empresa. (ALMEIDA, 2010). Por isso, enfatiza- se o papel da Pedagogia nesse espaço educativo: Considerando-se a Empresa como essencialmente um espaço educativo, estruturado como uma associação de pessoas em torno de uma atividade com objetivos específicos e, portanto, como um espaço também aprendente, cabe à Pedagogia a busca de estratégias e metodologias que garantam uma melhor aprendizagem/apropriação de informações e conhecimentos, tendo sempre como pano de fundo a realização de ideias e objetivos precisamente definidos. Tem como finalidade principal provocar mudanças no comportamento das pessoas de modo que estas melhorem tanto a qualidade do seu desempenho profissional quanto pessoal (RIBEIRO, 2010, p. 11). A empresa ou organização (CHIAVENATO, 2009) se mostra no contexto da Pedagogia Empresarial como local de aprendizagens, onde todos aprendem. A Pedagogia Empresarial pode ser definida como relacionadaà aprendizagem das empresas e de seus funcionários ou, como é conhecida atualmente, capital intelectual. A proposta da Pedagogia Empresarial é ajudar as empresas a “aprender a aprender”, isto dentro do contexto da educação continuada, ou seja, para um mundo em constante mudança. O saber de hoje, com certeza, estará ultrapassado em pouco tempo. O sucesso de uma empresa hoje não lhe garante o futuro. Todos, empresa e funcionários, precisam aprender a aprender (ABRANTES, 2009, p. 95). Ribeiro (2010a) complementa tal afirmação e foca a função do pedagogo empresarial nesse processo de aprendizagem, direcionando sua prática no planejamento, gestão, controle e avaliação: Entendendo-se as organizações como espaços privilegiados de aprendizagem e estímulo ao desenvolvimento profissional e pessoal, a atuação do pedagogo empresarial está diretamente relacionada com as atividades de planejamento, gestão, controle e avaliação da aprendizagem de modo que se promova a melhoria da qualidade dos diferentes processos organizacionais. Em outras palavras, atuando na área de gestão de pessoas, busca formas educacionais para aprendizagens organizacionais cada vez mais efetivas por meio do conhecimento aprofundado de como as pessoas constroem e utilizam os conhecimentos para resolver situações do cotidiano (RIBEIRO, 2010a, p. 9) - Nenhuma mudança se faz sem educação. A empresa tem desafios de fazer a gestão de pessoas, a gestão de talentos. Na era da informação o capital intelectual é o capital humano. O conhecimento e a aprendizagem fazem parte da estratégia da empresa, uma forma de torna-la competitiva, através do desenvolvimento de talentos com diferencial [...].(P8). 33 As empresas em seu âmbito de trabalho querem que sua equipe de funcionários seja competente e qualificada para poder atuar em qualquer situação que possa ocorrer dentro da empresa, sendo assim, o pedagogo empresarial também deve possuir seus requisitos fundamentais. O perfil do pedagogo desejado pelas empresas baseia-se nas seguintes habilidades: criatividade, espírito de inovação, compromisso com os resultados, pensamento estratégico, trabalho em equipe, capacidade de realização, direção de grupos de trabalho, condução de reuniões, enfrentamento e análise em conjunto das dificuldades cotidianas das empresas, bem como problemas profissionais (ARAÚJO, 2009, p. 16). O pedagogo empresarial além de possuir muitas habilidades, deve desenvolver competências das pessoas com as quais está trabalhando (FERREIRA, 2011). Eis o que descreve um dos participantes sobre o que considera ser importante na atuação do pedagogo no contexto empresarial. Quadro 3 - Conhecimento dentro do contexto empresarial No contexto da empresa, o Pedagogo pode ter muitas funções e atribuições, envolvendo atividades pedagógicas, técnicas, sociais, burocráticas e administrativas. Pascoal (2007) elenca estas atribuições e funções: Conceber, planejar, desenvolver e administrar atividades relacionadas à educação na empresa; diagnosticar a realidade institucional; elaborar e desenvolver projetos, buscando conhecimento também em outras áreas profissionais; coordenar a atualização em serviço dos profissionais da empresa; planejar, controlar e avaliar o desempenho profissional dos funcionários da empresa; assessorar as empresas no que se refere ao entendimento dos assuntos pedagógicos atuais (PASCOAL, 2007, p. 190). Nos textos lidos, percebe-se que a Pedagogia Empresarial é entendida como uma importante ferramenta para qualquer empresa, pois é através da atuação do profissional pedagogo que a empresa se fortificará e atingirá seus objetivos. Nesse cenário conclui-se que a participação do pedagogo empresarial representa um fator importante no trabalho dinâmico, visando a interação, comunicação de equipes atuantes, também a permanente capacitação e aprendizado no interior das organizações, diferenciando as pessoas, - Adotar como princípio essencial o desenvolvimento de valores humanos nos processos educacionais da organização e implementar abordagens pedagógicas pautadas em processos de ensino-aprendizagem que propiciem a aplicação prática do conhecimento na formação profissional e continuada (P9). 34 valorizando o trabalho do grupo sem excluir o individual, transformando as empresas, criando novas estratégias e sendo um importante personagem no desenvolvimento organizacional [...] (MACHADO, 2011, p. 4). A resposta de um dos participantes sintetiza muito bem essa definição da Pedagogia dentro das empresas, uma descrição bem clara e muito importante da definição do pedagogo empresarial. Quadro 4 - Importância do pedagogo empresarial na empresa A Pedagogia Empresarial, atrelada ao papel do profissional pedagogo, se mostra como uma grande ferramenta para qualquer empresa, pois trará benefícios a todos os envolvidos e proporcionará através de práticas educativas, o crescimento da empresa e qualidade em tudo o que for feito. 5.1 Pedagogia empresarial: foco no fator humano Toda organização funciona com e através das pessoas. Nenhuma organização funciona por si própria. É necessário pessoas para dirigir, controlar, operar e fazer funcionar algo. E em todo o sucesso alcançado e na continuidade por uma determinada organização, é necessário o trabalho das pessoas. (CHIAVENATO, 2009). Os trabalhadores de uma organização formam sua estrutura. Portanto, o desafio das empresas de hoje é formar e integrar uma boa equipe de trabalho com conhecimento, capacidade e habilidades especificas para os postos de trabalho, para cumprirem as tarefas exigidas e para pensarem estrategicamente sobre os destinos da organização (BASSANI et al., 2003, p. 43). As organizações são conjuntos de pessoas que buscam atingir objetivos específicos, mas elas representam mais do que isso, pois - A formação e desenvolvimento nesse espaço, algumas vezes, estão condicionadas à lei do retorno, do treinar para aperfeiçoamento de uma prática ou para melhor atendimento nos serviços, ou seja, as ações ainda acontecem de modo tecnicista. Dessa forma, a importância do Pedagogo nesse espaço, é criar um ambiente de aprendizagem participativa e colaborativa, que coloque o sujeito, os trabalhadores, como seres importantes e construtores do seu processo formativo permanente, que possam refletir sobre a sua prática na busca por melhorias e mudanças que favoreçam ao crescimento da empresa e da sua valorização profissional. Além de que, o pedagogo nesse espaço também assume a posição de sujeito acolhedor, que direciona e que incentiva o processo de estudo e alcance de uma aprendizagem significativa (P13). 35 Dentro de uma abordagem mais ampla, as organizações são unidades sociais (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objetivos específicos. Isso significa que as organizações são construídas de maneira planejada e elaboradas para atingir determinados objetivos. Elas também são construídas, isto é, reestruturadas e redefinidas, na medida em que os objetivos são atingidos ou que se descobrem meios melhores para atingi-los com menor custo e menor esforço. Uma organização nunca constitui uma unidade pronta e acabada, mas um organismo social vivo e sujeito a constantes mudanças (CHIAVENATO, 2009, p. 12-13). Na atualidade as empresas verificam que é necessário fazer uma referência ao potencial humano e a sua capacitação em vários segmentos, vivenciamos cotidianamente isso na empresa a qual estou vinculada. As informações e o conhecimento estão disponíveis, mas cabe ao sujeito assimilar e colocar em prática os conhecimentos obtidos (BARRETO, 2005). Verifica-se também que o elemento humano9 é alguém com sentimentos, percepções e opiniões próprias (RIBEIRO, 2010). Nas organizações, as pessoas se destacam por ser o único elemento vivo e inteligente, pelo seu caráter eminentementedinâmico e pelo seu incrível potencial de desenvolvimento. As pessoas têm enorme capacidade para aprender novas habilidades, captar informações, adquirir novos conhecimentos, modificar atitudes e comportamentos, bem como desenvolver conceitos e abstrações e alavancar competências. As organizações lançam mão de uma variedade de meios para desenvolver as pessoas, agregar-lhes valor e torná-las cada vez mais capacitadas, qualificadas e habilitadas para o trabalho (CHIAVENATO, 2009, p. 382). Em uma empresa ou organização, a parte que representa a maneira como as organizações procuram lidar com as pessoas que trabalham em conjunto, denomina-se área de RH (Recursos Humanos) (CHIAVENATO, 2009). Esta área da empresa se constitui como uma das mais importantes, pois Cabe ratificar que a área de recursos humanos, sobretudo no contexto da sociedade e das organizações contemporâneas, constitui-se na área mais importante e imprescindível na estrutura de qualquer organização. Planejá- la e implantá-la não é algo tão simples, especialmente quando se trata de operacionalizar programas que atendam tanto aos interesses organizacionais quanto aos aspectos de melhoria de desempenho profissional e pessoal (RIBEIRO, 2010, p. 53). Sendo assim, a área de RH influencia diretamente as pessoas. As pessoas que são o capital humano da organização. Capital esse que significa talentos que precisam ser mantidos e desenvolvidos (CHIAVENATO, 2009). Esse espaço do RH se mostra como um campo de atuação do pedagogo empresarial, no qual trabalhará 9 O autor utiliza o termo “elemento humano” para descrever as pessoas. Na maioria dos livros lidos, esse termo aparece frequentemente e está relacionado às pessoas. 36 a formação e a preparação de pessoas (RIBEIRO, 2010), pois é o elemento humano o ponto-chave de sua atuação, e quanto mais conhecimento dispor sobre o comportamento das pessoas, mais efetiva será a sua atuação em todos os sentidos. (RIBEIRO, 2010a). A área de RH deve procurar tratar as pessoas como pessoas e não apenas como importantes recursos organizacionais, rompendo a maneira tradicional de tratá-las meramente como meios de produção. Pessoas como pessoas e não simplesmente pessoas como recursos ou insumos. Há pouco tempo, as pessoas eram tratadas como objetos e como recursos produtivos – quase da mesma forma como se fossem máquinas ou equipamentos de trabalho, como meros agentes passivos de administração [...] (CHIAVENATO, 2009, p. 46-47). Sendo assim, o setor de RH se mostra atrelado a duas vertentes que devem ser levadas em conta ao se trabalhar com pessoas: [...]. A área do RH tem duas diferentes vertentes para considerar as pessoas: as pessoas como pessoas (dotadas de características próprias de personalidade e individualidade, aspirações, valores, atitudes, motivações e objetivos individuais) e as pessoas como recursos (dotadas de habilidades, capacidades, destrezas e conhecimentos necessários para a tarefa organizacional) (CHIAVENATO, 2009, p. 46). Portanto, neste contexto na área de RH, o pedagogo empresarial irá investigar, estudar, aplicar, aperfeiçoar e avaliar ações que potencializem as capacidades das pessoas, através de situações de aprendizagem devidamente planejadas, englobando outras áreas do conhecimento (RIBEIRO, 2010a). Na perspectiva das mudanças nas organizações, os setores de Recursos Humanos (e nestes, a Pedagogia Empresarial) estão sendo chamados a responder de forma mais efetiva em termos da sua real contribuição para o desempenho global da organização. Transformam-se, pois em “centro de lucratividade”. Uma das alternativas metodológicas, neste contexto, é a gerência de projetos que permite uma capacitação de pessoas e o aumento da produtividade tanto em nível pessoal quanto organizacional (RIBEIRO, 2010, p. 46). O pedagogo empresarial atuando em conjunto com a área do RH proporcionará novos rumos e novas propostas de trabalho, envolvendo as pessoas e fazendo com que todos se sintam participantes ativos do crescimento da empresa. Um dos participantes enfatiza bem essa questão da valorização das pessoas no contexto empresarial: 37 Quadro 5 - Visão do pedagogo 5.2 Pedagogia empresarial e a gestão do conhecimento e de pessoas Para que alguma tarefa seja feita, é necessário conhecimento. Conhecimento que vem através do estudo, de leituras, de dedicação, de querer aprender sempre, pois segundo Fernandes et al. (1996), a palavra conhecimento significa: “Ato ou efeito de conhecer; idéia10, noção; informação; direito de julgar [...]”. Conhecimento que tem inúmeras finalidades. O conhecimento serve primeiramente para nos conhecer melhor, a nós mesmos e todas as nossas circunstancias. Serve para conhecer o mundo. Serve para adquirirmos as habilidades e as competências do mundo do trabalho; serve para tomar parte nas decisões da vida em geral, social, política econômica. Serve para compreender o passado e projetar o futuro. Finalmente, serve para nos comunicar, para comunicar o que conhecemos, para conhecer melhor o que já conhecemos e para continuar aprendendo. (GADOTTI, 2005, p. 4). O conhecimento se constrói através de aprendizagens individuais e coletivas, por isso A aprendizagem é um processo de reflexão, ou seja, recebe-se uma informação e, após uma analise reflexiva, adquire-se (ou não) um conhecimento. Em resumo, o processo de aprendizagem depende de ações pessoais, tanto de quem ou que transmite a informação quanto de quem processa esta informação e a transforma em conhecimento (ABRANTES, 2009, p. 93). Tanto na escola quanto na empresa existem vários modos através dos quais se pode transmitir o conhecimento às pessoas, por isso é necessário avaliar a realidade na qual se está inserido e usar ferramentas que sejam adequadas para esta realidade. Contudo Hoje, qualquer funcionário de qualquer empresa tem acesso aos mais modernos meios de informação, portanto não tem sentido tentar “ensinar” da forma clássica. A forma moderna de aprender quebra o conceito cartesiano das disciplinas estanques. Cada vez mais, vivemos a multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade. Tudo está interligado e tudo muda constantemente. O aprendizado tem de ser 10 Bibliografia consultada com grafia original. Não está inserida na nova ortografia. - [...] Mas creio que um PEDAGOGO, leva a HUMANIZAÇÃO aos postos de trabalhos em uma empresa. Pois, em um mundo onde existe tanta competição a visão do Pedagogo é de um olhar diferente, mais acolhedor e CRÍTICO [...] (P14). 38 feito via contextualização, ou seja, utilizando tudo o que ocorre na prática. Adultos, ou seja, funcionários de empresa, aprendem melhor quando se contextualiza o que se pretende “ensinar” e, melhor ainda, quando se parte da prática ou do concreto para o abstrato (ABRANTES, 2009, p. 94). A empresa almeja conhecimentos, pois são os conhecimentos que os funcionários possuem que vão direcionar o caminho de conquistas e vitórias da empresa, tanto na questão de produtividade, quanto no trabalho em equipe e também na qualidade do serviço prestado. Considerando as constantes mudanças no ambiente organizacional, as emergentes alianças empresariais em busca do diferencial competitivo do mercado, o surgimento de correntes tecnológicas de otimização de recursos frente às promessas de ganho na lucratividade e a obtenção de resultados superiores, sabemos que as empresas não terão escolha, senão a de se converterem em organizações baseadas em conhecimento. As mudanças oriundas dessa nova corrente mundial significam, para muitas organizações empresariais, a possibilidade de testarem a sua própria capacidade de se reinventar, de se recriar, ou seja, a aptidão para adquirir um novo saber, disseminá-lo de umaforma holística e, por fim, integrá-lo a todos os processos organizacionais, modelo esse que poderá ser a “nova chave” do sucesso corporativo, porque estimula a inovação de forma constante. (EBOLI et al., 2010, p. 162). Portanto, conforme Prado (2013), o pedagogo no espaço empresarial irá planejar executar, coordenar e avaliar programas educacionais dentro da empresa, pois ele possui conhecimento para trabalhar todas estas questões. A formação do pedagogo agrega em sua atuação no mercado, o conhecimento como referência a inserção em organizações, estando capacitado a ocupar cargos que tratem da educação, ao relacionamento interpessoal e desenvolvimento de lideranças, bem como qualquer outra atividade educativa (MACHADO, 2011, p. 2). Ao analisar as funções acima descritas para o Pedagogo Empresarial, um dos participantes sintetiza bem as funções por ele exercidas em uma empresa e que corrobora com o citado pelos diferentes autores estudados. Quadro 6 - Tarefas que podem ser exercidas pelo pedagogo no contexto empresarial - Estudo das competências institucionais, fundamentais e especificas para pesquisa e trabalho de evolução da Gestão por Competências do órgão que trabalho e mapeamento de competências para captação e análise das necessidades de capacitação e treinamento do órgão. Participação na elaboração de projetos executivos em educação para capacitação inicial, programa de integração, aprendizagem em serviço, pós-graduação, cursos modulados, palestras, campanhas, seminários e cursos à distância [...]. 39 Para que o trabalho do pedagogo dentro da empresa seja eficiente e traga benefícios a todos, é necessário que ele assuma o papel de gestor e saiba direcionar bem a equipe, pois A gestão dos recursos humanos empreende ações voltadas à capacitação e integração de pessoas, valorização de equipes para a descentralização dos processos decisórios exigidos pela redução dos níveis hierárquicos. As ações, entretanto, não possuem o caráter de qualificação, mas um sentido que leva ao desenvolvimento de novas competências, integrando as potencialidades de cada sujeito ao capital organizacional. Somente com equipes coesas e desenvolvidas será possível gerir a competitividade, a complexidade, as incertezas e as formas de adaptabilidade requeridas para o mundo atual (BARRETO, 2005, p. 169). A gestão de pessoas é de suma importância para qualquer organização, pois é através dela que se estrutura a gestão do conhecimento, promovendo melhorias à vida das pessoas envolvidas, melhoria da forma de executar alguma tarefa e a partir disso, surgem novas oportunidades de desempenho individual dentro do local de trabalho (BASSANI et al., 2003). O pedagogo empresarial junto com a gestão de pessoas serão os grandes responsáveis pelo desenvolvimento daqueles que na organização atuam. Para que isso seja possível, o profissional em questão desfrutará do auxilio de dinâmicas de grupos e de treinamentos. Desta forma, a Pedagogia tem como principal finalidade mudar o comportamento e as ações das pessoas, prezando pela qualidade de vida, sem deixar de levar em consideração o contexto de vida de cada indivíduo (SILVA, 2009, p. 11). No contexto da empresa, o pedagogo empresarial focará seu trabalho em novos modos de atingir as pessoas para que elas saibam utilizar todo o seu potencial e possam atingir os objetivos e metas propostos pela empresa, sendo assim, consequentemente, o trabalho realizado por elas será de extrema importância para todos os âmbitos da empresa, pois cada pessoa possui uma função na empresa, e todas as funções se intercalam para que haja produtividade e qualidade. Neste sentido, enfatizo a resposta dada por um participante ao ser questionado por suas principais atribuições na empresa. Muitas dessas atribuições vividas por ele condizem e muito em relação aos autores pesquisados. Segundo ele, sua função ligada a gestão é: Quadro 7 - Pedagogo empresarial e a importância da gestão - Desenvolvimento de estratégias de treinamento de acordo com as necessidades das áreas internas, sendo responsável pelo desenho das grades, definições da metodologia e elaboração; organização e gerenciamento do diagnostico de necessidades de treinamento e desenvolvimento de toda a instituição, visando propor a solução educacional mais adequada a cada demanda; gestão das capacitações via videoconferência; acompanhamento e controle de indicadores da área de RH; contratação de consultoria externa para aplicar treinamento, acompanhamento, validação e busca de novas estratégias; [...] (P3). 40 5.3 Pedagogia empresarial e a educação de pessoas Educar, palavra que remete à educação. De acordo com Fernandes et al (1996), a palavra educar significa: “Dar educação a; ensinar, doutrinar; plantar, aclimatar; instruir-se; cultivar o espirito.” Várias definições para uma pequena palavra. A educação é um dos requisitos fundamentais para que os indivíduos tenham acesso ao conjunto de bens e serviços disponíveis na sociedade. Ela é um direito de todo ser humano com condição necessária para ele usufruir de outros direitos constituídos numa sociedade democrática [...] (GADOTTI, 2005, p. 1). Ao falarmos em educar ou ensinar, o que nos vem ao pensamento, é o simbolismo da escola, local onde se aprende a ler e a escrever, visto por muito tempo, o único local destinado a isso. Mas, com a mudança dos tempos, a escola continua sendo um local de aprendizagem e outros cenários se configuram como espaço educativo, e um desses espaços é a empresa. E nesse novo espaço educativo, a Pedagogia Empresarial mostra a sua cara, focando seu trabalho na educação de pessoas. Considerando-se a Empresa como essencialmente um espaço educativo, estruturado como uma associação de pessoas em torno de uma atividade com objetivos específicos e, portanto, como um espaço também aprendente, cabe à Pedagogia a busca de estratégias e metodologias que garantam uma melhor aprendizagem/apropriação de informações e conhecimentos, tendo sempre como pano de fundo a realização de ideais e objetivos precisamente definidos [...] (RIBEIRO, 2010, p. 11). A educação se mostra como a principal ferramenta usada pelas empresas nos tempos atuais, pois ela “[...] promove e integra o desenvolvimento sustentável, proporciona um planejamento estratégico [...]” e faz com que haja mais participação com todos os segmentos da empresa (EBOLI, et al. 2010). Como todo trabalho humano, o ensino é um processo de trabalho constituído de diferentes componentes que podem ser isolados abstratamente para fins de análise. Esses componentes são o objetivo do trabalho, o objeto de trabalho, as técnicas e os saberes dos trabalhadores, o produto do trabalho e, finalmente, os próprios trabalhadores e seu papel no processo de trabalho. A análise de tais componentes objetiva evidenciar seus impactos sobre as práticas pedagógicas (TARDIF, 2002, p. 123). Conforme Almeida (2010), a Pedagogia é a ciência da educação e ela ocorre 41 em todos os espaços, através da socialização, promovendo assim a junção do saber da experiência e do saber sistematizado. Portanto, a empresa através da atuação do profissional pedagogo, estará inserida em um novo contexto educativo, promovendo desenvolvimento e novas oportunidades de crescimento, tanto ao funcionário como para a empresa. As empresas do novo século estão transformando-se em organizações de aprendizagem comprometidas com a educação e o desenvolvimento dos funcionários. Boa parte das empresas está criando universidades corporativas para consolidar uma infra-estrutura de aprendizagem corporativa, a fim de desenvolver meios de estimular o conhecimento e conduzir a novas oportunidades de negócios, entrar em novos mercados globais, criar relacionamentos mais profundos com os clientes e impulsionar a empresa para um novo futuro [...] (CHIAVENATO, 2009, p. 435). Complementando
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