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S c h o p c n h a i ie r Os Pensadoiés Os Pensadores Sciiopeiihauci' O homem comum, este produto rnductrijt ria natureza. ul como esta o apresenta rhan.cnente dtto milhares. ê :ncjpcí7 30 m-trlOs de modo per*. >“en- li- de uma observação em iodo «n li do :n{e 'i3inente des.r.:erecv2d.a. d ? po de dirigir sud atenção kr- roi -.,-c- ^mon- te enquanto estas apresentam urna rela ção qualquer. mesmo que apenas mui mediafizada., ron> ojõ vontade.' SfHC IPtNHAUI Rr U Manch como Vontade- e Rnpfptpmaçjo Sn o mundo todo. como represen tação, é apenas a visibilidade da vonta de,. è. arte é a est-arecümcnlo riç«»i v si- bilidade, a Cornara abacura a ntospdf objetos corr maií pureza e permitir uma meibos visão de tonjunto-ecombi nação dos mesmos, o ieasro no teatro, o pãko sóbre o pako no htemíet. 5CHOPENHAUER: O Mando como Vontade e Representação O estilo de Kan1 ira? sempre a marca de um espirito superior r.íe uma genuína e sólida originalidade e de uma força de pensamento iníp-rannpn- te fora do comum; pode-se talvez de signar o caráter desse esido. bem a pro pósito.. como de uma bnlhonte secura que lhe permito lança* mãe d cs con ceitos rom firmeza e escoíhè-los com .grande segurança, para depors poder jogá-k»* tíc Já para cá. com a matar h- herdade, para astombro da leitor SCHOPENH.^UcR: Caíicã da í iScsoúa Kantiana Os Pensadoiés ClR-BrasiE. CatalogaçSo-níi-Publicação Câmara Brasileira do Livro, SP S-Wm 2.cd. Schopcnhimcr. A.a1hur_ I7SR- 1RM1 Ü mundo como vonly.dc ç representação, 111 pl. ; Critica <ia filosofia kantíana . Purccg» c pamlipomcnc cap, V, VÈII. XU, XIV Arthur Sdiopc- rthauer : traduções de Wolfgang Leu Maar c Maria Lúcia Mello e Oliveira Caccidla — 2 etl — São Paulo : Abril Cultural. 14JS5. (Ô pcnsadorc.-O Inclui vida c obra çlc Sohtrpcfitwuer. Bibliografia. 1 Conhecimento Teoria 2 FikWdíia alemã 3. Kaitt, Icnrtianud, 1724 1804 - Ontologia 4. Pessimismo 5. Vontade 1. Maar. Wolfgang Leo. IL Cacciola, Maria Lúcia Mdo c Oliveira III Título, IV Titulo: CniK.i da filosofia kantiana. V Título Parerga c paralsporticna VI Série 84-1634 CDD-193 -121 ■ t23 -142.3. -149.6 índices para caiüogo sistemático: 1. Ccinhccuiicuiu : Teoria Filosofia 121 2 Filosofia itifiinu 1V3 3. Kamismo Fitoíofu crítica 142,3 4, Pessimismo : Filosofia 149.6 5. Teoria do conhecimento : Filosofia 121 6, V«iuvik Metafísica . Filosofia f23 ARTHUR SCHOPENHAUER O MUNDO COMO VONTADE E REPRESENTAÇÃO {III PARTE) CRITICA DA FILOSOFIA KANTIANA PARERGA E PARALIPOMENA (CAPÍTULOS V, VIII, XII, XIV) TraclirçíkíN <ie WolfRsmf* Leo Mnnr e Muria I-úcím Mello <■ Oliveira Caccáila •\sst!svnri» <le kuW » RodriRtii** Torres Filho (Critica íiu Fifasofiü Kantianaí 1985 EDITOR: V IC T O R C IV 1T A TTtufas urigmiúã: OiV Weit aí,r WWíe jrnd Vorsítftufíx lfurrrvu ruid Pnrttiiprwwri '■ ( destá «líeâü. AftrLI S.A. Cultura!, Sd» Paulo. IWO - 2 ' edtçiki l*)8.S I lin iu-, t idusiví* mjIik j» tcaJuçôcik dt»U; yíUuík. Abril S.A. Culiumt, f?:wi r.njUt Direiim cxçítKtvos sobie üch^penhaucí Vida. e Obra' Abnl S. A Culuical, Sã* < Paulo SCHOPENHAUER VIDA E OBRA Consultoria. Kuhens Rodrigues Torres Filho - F ilho de Heinrith Floris SchQpénbauer, comerciante dd cidade de Dantzig, na Prússia, o filósofo Arthur Schopenhauer estava destina do a sogub a profissão de seu pai. Por i&so, a família nunca sc prcocu pou muito com sua educação intelectual e. quando contava apenas doze anos do idade, rm 1000, induziu o a empreender uma série de viagens importantes paru um futuro comerei ante. tkhopenhauer per correu a Alemanha, a França, a Inglaterra, a Holanda, a Suíça, a í?ilé- sia e a Áustria. Mas seu interesse não foi despertado por aquilo que seu pai mais desejava o que 1lv de mais importante, durante essas viagens, foi redigir uma sério de cnnsirlepxõés melancólicas e peüftb mistas sobre a miséria H.i condição humana. Fm 180s a família fi xou-se em Hamburgo e o obrigou o cursar uma escola comercial. A morte do pai (possivelmente voluntária) permitiu-lhe, contudo, aban donar paru sempre os estudos comerciais e voltar-se para uma carrci ra universitária, como era » u desejo. Assim, Schiòpedhauer passou a dedicar-se aos estudos hum.místiCos, ingressando no Liceu de Wei- msr cm 1807; dois anos depois, encontrava-so na faculdade de medi em u de Cõningen, onde adquiriu vastos conhecirnemos científicos. Em 1811, na Universidade de BerEim, aüsistm aos cursos rios filósofo* Schleiormacher 0 763-1834) e Fichte (1762-1814).. Este última vería, mais tardo, acusado por Schopenhàuer de ter rfeliberadamente carica turado a filosofia fie Kart íl 724-18(34), fpníanrin "envolver o povo ale mão com ,5 neblina filosófica". Km 181.1, Schopenhauer doulourou su pela Universidade de Berlim ium a tese Sobrv d Quâiiruptn A,u/ do Princípio ríc Kazáo Suficiente. Nessa época, sua mãe, Johanna Schopenhauer, c^abeleccu-se em Wcimar, onde começou u obter progressivo sucesso rumo novelista e passou a frequentar os círculos mundanas que Schopenhauer detesta va o se esforçava por ridicularizar ao máximo. As relações entro os dois deterioraram-se a ponto de Johannu declarar publica mente que a tese de seu filho não passava de um tratado de farmácia; em contia- partida, Sthopenhaucr afirmava ser incerto o futuro de sua mâí* como romancista e que da semente seria lembrada no iuturo pelo fato cie ser sua progonitora Apesar dessas briga*, Scbopun haver frcqüentou durante aígimi tempo õ salão de sua mãe, Ali Eornou-se amigo de Goethe (1749-1832), que reconhecia seu gênio filosófico o sugeriu-lhé que tra balhasse numa luorid antinewtoniana da visão. Á partir dessa suge^táo, Schopcnhauer escreveu Sobre a Visãoeás Ceves, publicado em 18 Ife. VIII SCHOPENHAUER Um filosofo sem puhíico Em 1814, Sebuix-iilutucr rompeu deíminvamente com 3 família e quatro anos depois concluiu sua principal obra. O Mundo cama Van- ijck' <■ ReprvwnL^üv. Em 1810, o livro foi publicado, mas um ano e meio após !lavram sido vendidos apenas c.wca rie HJO exemplares. A crítica também não foi favorável á obra. Durante os anos de 1018 t* 1819, Schopenhauer passou uma íem- purada na Itália: ao voltar, sua situação econômica não era das mt- ihorev Solicitou então um posto de monitor m Universidade de Cer- lim, valendo-se de seu título de doutor e passando por uma prova que consistia numa conferência. Admitido em tf>20, encarregou-se dc um rurso intitulado  Fitüsofiá tnreirjt ou O Ensino do Mundo c dv E f̂tfrito Humana. G título do Curso devia-se, provavelmente, a fie- ge! fl 270-1 que na época era um dos mais reputados professo res da Universidade de Berlim. Tentando competir com Hcftd, Sebo- penliauer escolheu o mesmo horário utilizado pelo rival. mas u tenta tiva redundou em fracasso completo: apenas quatro ouvintes assis tiam a suas aulas. Ao fim do um semestre, renunciou à universidade. Lm 1821, envolveu-se cm um a cadente que teve desagradáveis tronscqüêndás ecOnonuL ,is fe, sobretudo, vifia causar-lhe periódica srisc: de depressão psicológica. Nessa época, o filovoío residia numa pensão, cujos principais locatários, em sua grande maioria, eram se- nhoritas de idade avançada. Essas pensionistas tinham a desagradável hábito de espionar a chegada de supostas amantes, recebidas par Schopenhauer em seus aposentos. Certa noite, quando uma costurei ra chamada t aro!inr-lonise Marquet dcdicava-sc a esse mister, Scho- penhautrr, perdendo a paciência, atirou-a Cstúda abaixo Corno resul tado, foi processador1 -k abou sondo condenado a pagar trezentos fôa- fevs do iltspfK.'is médíi -e. Além ficava obrigado a pagar seswm ta thafcrí anuais, até a morte de ( aroltne,. que sonionte veio a falecer vime unos depois. Durante todo « s e tompo, Sehopomh.mer entrava om depressão nervosa, unia ve/ por ,hk>, todas .u. vezes que ora obri gado a pagar a pensão, ^ua revolta dizia respeito mentis ã quantia du- sembfltsada do que àquilo que sentia como injustiça cometida pptas autoridades.Entre Ih2h c 1333. Schopqnhautir empreendeu Ireqüemes via gr-ns, adoeceu por diversas vezes e tentou uma segunda experiência como profesvor Ha Universidade <k- Berlim . Foi mais umu tentativa ira cassada, somente contrabalançada pela crítica elogiosa a sou O Adpn* rio tom o Vonkidee Rppresvniaçàn, publicada nn periódico k 'eme Bü- chtvsrhaa, A solidão e a glória Em I83J, depois du muitas heslt.u,ues, o filósofo resolveu íixar- st1 em franMurl-stíbre-ívMeno, onrle ptírmarvéceria até sua mrirte prti iBfit) Durante os vinte o seiu .anos que passou em Frankfurt, levou uma vida solitária, acompanhado por seu t ão. Sua predileção por ani mais era fitusoficamente justificada; segundo Scbopenhauer, entre os cã« , confraria monto ao que ocorre entre os homens, a vontade não c dissimulada pela máscara do pensamento VIDA E OBRA !X Dedicado excluMvamcntc ã reflexão filosófica, Schopenhauer tra balhou intensamente em Frankfurt, redigindo e publicando diversos li vros. Im 3S3G. veio a lume o ensaio Sobre a Vontade nJ Natvreja. que deveria completar o segundo livro de O Mundit como Vontade *' Representação Na mesma êpuua, redigiu lambem dois ensaios sobre moral. O primeiro, escrito para concorrer a um concurso da Acade mia de Ciências de Dronsheim (Noruega), intitula-se Sobre j Liberda de dri Vontade. O segundo, O Fundamento üxj Morai concorreu ao concurso «ia Academia de Copénfuigue o continha verdadeiros insul tos j l legei e a FtdiEe, que provocaram escândalo; embora fosse o Único cortcorrenlu, o livro não foi premiado. Puslenormente, os doss. ensaios seriam reunidos soh n título di■ Os Dois Problemas f-undamen- lab da tdeo e publicados em 1B4I. Três anos depois, surgiu o segun da eriição de O Mundo como Vontade e RepresePtaçáo, enriquecida com alguns suplementos Apesar disso, não teve sucesso. O mesmo não ocorreu com a última obra escrita c publicada por Schopôohauer Intitulava-se Párergà e Paralipomvfíü e continha pe quenos ensaios sobre os mais diversos lemas: polílica, moral literatu ra, filosofia, cMrlo e metafísica, entre outros, A obra alcançou inespe rado sucesso, logo depois de ser publicada ern 1851. A partir dai, a notoriedade do áutòr espalhou-?n pela Alemanha e depois pela Euro pa Um artigo de |. Oxenlotd, publicado na Inglaterra, deu início à grande Hitusão de sua filosofia. Na França. muitos filósofos ó esçrito- iv:, viajaram aié Frankfurt paru visii-í-lo. n ,. Alemanha, a filosofia du Hegel enlrou em declínio e SchoptTihauef surgiu como idolo dai no vas gerações. Assim, os últimos anos da vida dc Scbopenhaucr proporei ona- rarn-lhe um ret unhou mento que ekr sempre buscou, Artigos críticos surgiram em grande quantidade nos principais periódico* da época. A Universidade de Bteslau dedicou cur>os ã análise dc sua obra e a Academia Real de Ciências de Berlim propôs-lhe o lítulu de metnlmç em 1858, que ele recusou Dois ánot depois, a dc setembro de lÁbÜ, Arthur Schope- nfviuiT, que Níetzsrhe (184*4-1 yuü) chamaria cavaleiro solitário'J, faloCeu, vítima de pn^umoncí Contava, então, 72 nnns ríe idade mundo cego e irracional O pomo d{r partida do pensamento dc Schopenbauer encontra- se na filosof a knníimi Immqnud Kant (I724-1SQ4) estíibelerorá dís- linçáo entre t>s fenômeno*; e a t oi -i-om -si (que ch am ou nc>víTieruin}f isto r, entre o que nos aparece e o que existida em si mesmo, A coa- sa-em-si (nnumennn} não podería, segundo Kant, ser objeto de conhc- í imenlt) f entffiro ̂ tomo al<* enl.io premndem j metafísica clissicvi. A ciência restringir se-ia. assim, ao mundo dos fenômenos, e seria constituída pelas formas a prtori da sensibilidade (espaço e tempo) e pdas categorias do entendimento Dessas distinções, Schopenhauer concluiu que o mundo náo sorta mais do que representações, entendi das por ele. num primeiro momento, como síntese entre o subjetivo e o objetivo, entre a realidade exterior e a consciência humana. Como afirma em O Mundo como Vontade e Representação, "por mais maci ço e imenso que seja este mundo, sua existência deponde, em qual- X . S C H O P E N H A U E R quyr momento, apenas de um fio único c delgadíssimo d consciên cia em que aparece". Em outra passagem de sua prinrrpai obra Scho- penhauer deixa mais clara essa idéia; "O mundo como representa ção, ibLo é, unicamente do ponto de vista de que o consideramos aqui, tem duas metades essenciais, necessárias e inseparáveis Uma é o objeto; suas formas são o espaço e o tempo, donde a pluralidade A outra metade é o sujeio; não Sé encontra colocada no tempo e no es paço, porque éxsste mie ira e indivisa em todo ser que percebe: daí re sulta que um só desses seres juntu ao objeto completa 0 mundo como representação, tão pcrfeilamente quanto rodos os milhões de seres se melhantes qüe existem: mas. também se esse ser desaparece, o m un do como representação não mais esibUr". Não se pode dizer que essas idéias expressem exata mente rj pen samento kantiãno, mas, seja como for. Schopcnhauer chegou a essas conclusões, partindo do mestrí? que tanto admirava. Schopenhauer, contudo, separa-se, expliçitamcntê, do Kant em um ponto essencial 0, a partir daí. constrói uma filosofia original. Para Kant, .1 coisa em si r inacessível ao conhecimento humano, pois encontra se além dos lrrnh.es das estruturas do próprio ato cognitivo, entendido como sínte se dos dados da intuição sensível, síntese essa rcalizadj pelas catego rias a prior i tio entendimento, bchopcnhaiter, ao contrário, pretendeu abordai a própria coisa-em-si. Lssa coisa-em-si. raiz metafísica de to da .1 realidade, seria a Vontade Segundo o autor de O Mundo como Vontêde e Representação, $ experiência interna do indivíduo assegura-lhe mais do que o simples wto de ele ser "um objeto entre outros". A experiência interna tam bém revela ao indivíduo que d e é> um ser que áe move ü si mesmo, um ser ativo cu|0 comportamento manifesto pxpress.i dirrtamente suo vontade Essa consciência interior que cada urn possui do si mesmo como vontade seria primitiva e irredutível: A vontade revelar-se-ia imediata mente a todas .is pessoas como 0 om-si 0 a percepção que as pessoas têm de m mesmas como vontades seria distinta da percepção que ay, mesmas têm como corpo. Mas iv o não sigrtilica que Srhnpe- nhauer tenha esposado a tese de que .is ações corporais e js açor-- da vontade constituem duas séries cie fatos, entendidas as primeiras co mo eausadurjs das segundas. Para Schopenhauer, o corpo humano é apenas objetivação da vontade, tal como aparece sob as condições da percepção externa. Em outros termos, o que se quer e o que se faz são uma e a mesma coisa, vistos, porém, dç perspectivas diferentes, Da mesma iormn como nos homens, a vontade seria o principio fundamental da natureza. Para Schopcnhauer, na queda rte uma pe dra, no crescimento rJe uma planta r«u no puro comportamento instin tiva rio um animaí afirmam-se lendências,em Cujaobjétivaçãn se cons tituem os corpos, Essas diversas tendências não passariam de disfar ces sob OS quais Sé oculta uma vontade única, superior, de caráter metafísico e presente iguaímente na planta que nasce e cresce, e nas complexas ações humanas. Essa vontade, para Schopenhauor, £ inde pendente da representação e, portanto, não se submete ás leis da ra zão. Ao contrário de Hegel, para quem o real é racional, d íitosofiã de ScHopenhauer sustenta que r> real é em >j mesmo cego o irracio nal, enquanto vontade. As formas racionais da consciência não passa riam de ilusórias aparências e a essência de todas as coisas seria VIDA E OBRA alheia à razão: "A consciência é .1 mera superfície de nossa. mente, da qual, como da terra, não conhecemos o interior, mas apenas a Crosta". O inconsciente representa, assim, papel fundamental na filo sofia dç Scbopenhauer Sob esse aspecto, o autor de O Mundo como Vontade c* Representação antecipou-se a alguns dos conceitos mais importantes da psicanálise fundada por Sigmund Preud >11856-1939). O próprio Freodreconheceu a importância das idéias de Schope- nhàuer, em um de seus escritos afirma que certas considerações so bre a loucura, encontradas no Mundo como Vontade e Represo ora ção, poderíam 'Yigorosamçntç, sobrepor-se à doutrina da repressão". XI Viver é sofrer No sistema d<? Schopenhauer, a vontade é a raiz metafísica do mundo c da conduta humana; ao mesmo tempo, c a fonte de todos os sofrimentos. Sua filosofia é, assim, prolundamenie pessimista, pois a vontade é concebida em seu sistema como algo sem nenhuma meta ou finalidade, um querer irracional e inconsciente, bondo um mal ine rente à existência do homem, ela Rera a rinr, necessária e inevitavel mente, aquilo que ê conhece rnmo felicidade seria apenas a inter rupção temporária de um processo dc infelicidade c somente a lem hrança de um sofrimento passado criaria a ilusão de um bem presen te. Para Schopenhãuer, o prazer é momento fugaz de ausência de dor c náo existe satisfação durável. Todo prazer é ponto de partida de no vas aspirações, sempre obstadas e sempre em luta por sua realização; "Viver d sofrer" Mas, apesar de todo seu profundo pessimismo, a filosofia de Scbopenhauer aponta algumas vias para a suspensão da dor. Num pri meiro momento, o caminho para a supressão da dor encontra-se na contemplação artística. A contemplação desinteressada das idéias se ria um ato de Intuição artística e permitiría a contemplação da vonta de em si mesma, o que, por sua vez, conduziría ao domínio da pró pria vontade. Na arte, a relação entre a vontade e a representação in- verte-se, a inteligência passa a uma posição superior e assiste à histó ria de sua própria vontade, cm outros termos, o inteligência deixa de ser atriz para ser espectadora. A atividade artística revelaria as idéias eternas através de diversos graus, passando sucessivamente pHn arqui tetura, escultura, pintura, poesia lírica, poesia trágica, e, finalmente, pela música Em Schopenhauer, pela primeira vez na história da filo sofia, a música ocupa o primeiro lugar entre todas as artes. Liberta de toda referência especíliCJ j<js diversos objetos da vontade, a música podería exprimir a Vontade em sua essênc ia geral e rndiferenciada. Constituindo um meio capaz de propor a libertação do homem, em fa ce dos diferentes aspectos assumidos pela Vontade. No Nada, a salvação A libertação proporcionada pela arte, segundo Schopcnhauer, nàn é, contudo, Tarai e completa A arte significa apenas um distancia mento relatívamente passageiro e náo a supressão da Vontade. Para XII SCHOPEMHAUER que atinja a libertação, ú necessário que o homem ascenda ao nível da conduta ética, a qual representa uma etapa superior no processo de superação das “dores Ha mundo' - A érira de Sçhopenhauer não está, contudo, presa à noção de 'dever'; Sebo penha uer rejeita a> for mas. imperativas de íilosoíia que sáor para ele, formas de coerção. Sua ctica nao sc apoia em mandamentos, antes na, noção de que a contemplação da verdade é o caminho de acesso ao Ijern. Para Scbo- penhauer, o egoísmo, que taz do hornpm o inimigo do homem ad vêm da ilusão dc vontades independentes que afirmam seus ímpetos individuais- A Superação do egoísmo somente snna possível mediante o conhecimento da natureza única universal da Vontade. Como con sequência moral do desaparecimento dc sua individualidade, o ho mem pode tornar-se bom, au espírito de luta lunira os semelhantes se sue-se o espírito de simpatia. Libertado, pebt etapa ética, o homem atinge o princípio que é o fundamento de Ioda verdade moral: "Não prejudiques pessoa alguma, sê bom com todos" tssn ética da piedade e da comiseração, segundo Si hopenh.iiM-r, encontrou sua mais acabada expressão nos evangelhos, onde ' arrr.i ti teu próximo tumu a U mesmo ' constitui o princípio fundamental da c.pnduta. Mas nem mesmo a ética d.i piedade possibilitaria ao ho mem atingir a felicidade última Para SchopenhuUtír, u mais completa forma de salvação para o homem somente pode ser encontrada na re núncia quirticM no mundo e a todas as soas solicitações, na mortifica ção dos instiulus, na autounuluçju da vontade t* na fuga para o Na da: "...desviemos um instante os olhos de nossa própria ind&fineia e dc nosso limitado horizonte, levemo-lo sobre usses homens que ven ceram o mundo nos quais a vontade, atingindo a perfeita consciência riu si. se reconheceu em tudo que existe c* livremente renunciou a si rnevma então, em vez rlesvu tumulto de aspirações sem fim, em vez di!$w> passagens constantes do desejo ao medo, da alegria ao sofri mento, em VG2 dessas esperanças sempre inafcançadas t» sempre- re- nascentes, que fazem da vida humana, enquanto animada pela vonta de, um sonho interrompido, nãu perceberemos mais do que esta paz, nvu>. preciosa que todos os tesouros da razão, ,1 calma absoluta do es pírito, esta serenidade imperturbável, cal tomo Rafael e Corrogio a pintaram na*, figuras de seus santos e cujo brilho deve ser para nós a mais completa c verídica anunciação da bo.i nova- a vontade desapa receu; subsiste apenas o conhecí monto1". Cronologia 178S — tm a 22 de teverein nasra Anhut .Vrhzip̂ rt/t uj r̂ 17£E9 — A 14 rle inibo, eeludi1 j Revolução Francesa. 1794 — Fichet publica Os Principio* Fundamenteis dà DotiCíii't,i í/ i rim ou. 1A07 — Sthopcfih&uer ingressa rta l i tco dc Weimar. Publicação da h«ü- menobgid do Espírito, do Hegpl 18*3 — üe/icTpenhjuer doutora-v* pela Unrversidjdo dc Sc-rlim coiíi a te.se Sobra a Quádrupla Raiz do Princípio dc Razão Suficiente, Nas-ec Sõrj n Kjcrlççgaard, VIDA E OBRA XII] 1816 ücfitspvníiüuúr pubiicj. tfttav >* Vî uo c üs Coras,. 181 & — NaKje Ka»l Mar*, 1819 — Publicação de (_> Mundo cnmu Vontade r* Representação, de 5'cho- fjenbai/cr. 1831 — Comic inida o publicação de y?u Corso de FHgíoüj PcoíjW. Morre Hegel. 1H3 ̂ Morre Goethe, 1835 - Nasce johannos Brahms. loeciueville publica a primeira parte efe A Democracia na América. 1&40 — PfOüdhon publica Q que é a Propriedade? 1841 — ÊtZ&íftH© Ds Oois, Problemas Funcíimeníais dit Ética, dc Settope- nhíKfcr. 1544 Ninwr Frrrdrirh Wilhelm Nietzscbb 1 a& 1 Tnhopt nhautr pu bítGl P-irerg.i c Paralipomeníi I fííiO Morre a Ui de r̂Srmhm, em Pfanhtur(̂ </li(V <i Merw, Bibliografia Bkíiihh. t. L L/nrgijp PrmiV dv ScfrúQÇdhMwr, iri HüVitè de Mdt.iphvvqve er dc Mondo, 1930 úm í-iH i I C. SctHiponhãuer, flWtewphiwaffbssirtusm. Londres, i 94r>. GmcUimic P.; Sdwpenhduçr. IVn^um Batiks, HdrmtòndsWorih. 1936, Cjs.kiwnik L\: Scràpe/Tii«TCíe6 in The Encyclopedm uf Phiiosophy, 9 vuk, lhe MacMillan t -nnpany X Ffge Press, Nova York, 1967 <' ^(htífwnltM/ct Pfdhsbphc de PAhsurde. P r t w Univers-nairiN de furtei., Pàrb, 1907. Ek»«T C bchopenhaufr, P roso LJnivrrsiiimr-, de fumei', Paris 19011. Tavhw. R.. tehopenbvmr, m A Criticai Htstory oi' WWe/r» Ptufoíophy'. edita i-to por 0.1. í .YConnor I he Frce oí Clencoe, Nova Yiide, 1964, /ivisni II Arthnr $c'hofH'ttb,fuér: bii Life and Phitmaphc, Londres I‘l32 . O MUNDO COMO VONTADE E REPRESENTAÇÃO* ( III PARTE) Oh nichl Nalur zulcízl sich doch crgrunde.?** G ucihc Seleção e tradução dc Wolfgang l^o Maar * I raduzido do original alemão .4rthur Schopzrifuiutf — Sámlliche Werke. 2.“ edição. Kbcrhaid Hroefc hríus Verlag. Wicsbadcn. 3 vol. I. livro III. pp. f09 — .1 Ití. ** Mio « havefá dc Mrtvprcsridüí por fiui a narnrataem s.m âmago? (N, doT .) L I VRO III O MUNDO COM O REPRESENTAÇÃO CONSIDERAÇÃO SEGUNDA "A representação independente do principio do razão: A idéia platônica: o objeto da arte.*' T ilò mèn ad , gênesin rfè ouk èkhôn; küi u íò xignómaion m< /t kat ap#lh‘>ncnont (faias ttv oudéptttt' Õn; * Phi tãa * f>que ê sempre, sem possuir origem? Que co que sais c o que Ipi, mwa rcssJmente nunca é? <l\. di< T.j §30 Apresentado no primeiro livro como pura representação, objeto para um sujeito, consideramos o mundo no segundo livro por sua outra fitee v verificamos eomu esta é vontade, que unicamente se mostrou cómo o que aquele mundo è alémdia reprcsuniação; em conformidade, denominá'vamos o mundo como repre sentação. no todo ou em suas panes, a objetividade da vontade, quer dizer: a von tadlc tornada objeto, i. c.. rcprcsuntaçda. Recordamos também que tal objetivação da vontade possuía graus numerosos. porém determinados, em que. COm clareza e perfeição gradual mente crescente, a vontade surgia na representação, i. e.. se apre sentava como objeto. Reconheciamos as idéias de Platão em tais graduações, na medida cm que estas são as espécies determinadas, ou as formas e propriedades invariáveis originárias dc todos os corpos naturais, orgânicos ou inorgânicos, como também as forças genéricas se manifestando conforme leis naturais. Tais idéias, portanto, sc manifestam em indivíduos e particularidades inumeráveis, comportando sc como modelo para estas suas imagens. A muHiplidda.de dc tais indivíduos é concebível unicamente mediante o tempo e o espaço, seu, surgir u desaparecer unicatltemc mediante a causalidade, em cujas formas reconhecemos somente us diversas modalidades do princípio dc razão, princípio último dc toda rmiiude, toda individuaçào. fôrma geral da representação, tal como esta se da na consciência do indivíduo como tal. A idéia, porém, não sc submete àquele primei pio: por isto não experimenta pluralidade nem mudança. F.nquanto os indivíduos em que sc manifesta são inumeráveis e nascem e perecem irteessantememe. cia permanece invariavelmente a tnesmiu e paru d;t o princípio cie razão não possui signif cado algum. Vias como csic é :t fôrma sob a qual sc encontra todo conhecí mento do sujeito, enquanto este conhece coma indivíduo, assim as idéias sc loeali zarão totalmetue fora dá esfera do conhecimento do sujeito como tal. Portanto, se as tdéías devem sc tornar objeto do conhecimento, a condição é a supressão da individualidade no sujeito cognoscentc. Esclarecimentos mais acurados e porme norizados sobre este assumo ru>s ocuparão a seguir. § 3! Antes de iniciar, seja a seguinte observação essencial, Espero ter sido bem sucedido no livro precedente no formar a convicção de que aquilo que e denomi nado coisa em m na filosofia dc K.ant, apresentado em doutrina sabre modo importante, porem obscura e paradoxo, sobre iudy devido ã maneira pela quál õ S C H O P E N H A U E R KafiE a introduziu, concluindo do efeito para a causa, era encarado como pomo conflitante, e até mesmo como o lado débil de sua filosofia, que isto, assim pre tendo. quando íitinuido pelo caminho bem diverso por nós percorrido, nada mais é do que a vontade, na esfera deste conceito ampliada c determinada do modo indicado, Espero, além disto, que não se hesite em reconhecer, feita a exposição precedente, nos graus determinados da objctivaçào desta vontade, que é o cm sí do mundo, aquilo que Platão denominou, as idéias eternas, ou as formas imutáveis (eidê) que, reconhecidamente o dogma principal, mas simultaneamente mais obs curo e paradoxo de sua doutrina, constituiu-se cm objeto de meditação, de discus são. dc escámio e de admiração por parte de espíritos numerosos e diversos durante séculos. Sendo a vontade a coisa em si, e a idéia a objetividade imediata desta vonta de em um grau determinado, atinamos com a coisa em si du Kant e a i d cia dc Pla tão, única que lhe é ôntós ónt estes dois grandes obscuros paradoxos dos dois maiores filósofos do Ocidente, não como idênticas porem estreitamente afins, e distintas apenas por uma única determinação. Ambos estes grandes paradoxos formam mesmo, justameriie por se enunciarem dc modo tâü diverso, dadas as individualidades extraordinariamente diferentes dc seus uutures. c malgrado toda sua concordância e afinidade internas, o melhor comentário um em relação ao Outro, ao sc assemelharem a dois caminhos bem distintos conduzindo à Objetivo único. Isto permite esclarecimento em poucas palavras, Com efeito, o que Kant diz e essencial mente o seguinte: Tem po, espaço e causalidade não são determi nações da coisa cm si mas pertencem unicamente a seu fenômeno, na medida Cm que não passam dc formas de nosso conhecimento. Mas como toda multipli cidade e todo surgir e fenecer são possíveis unicamente mediante tempo, espaço e causalidade, também aquelas pertencem apenas ao fenômeno, c de modo algum à coísa cm si. Contudo como todo nosso conhecimento 6 condicionado por aque las formas, toda a experiência é apertas conhecimento do fenômeno, não da coisa cm s i: por isto suas leis não podem ser aplicadas à coisa em si Isto é válido inclu ãve para nosso próprio cu. que nós conhecemos unicarncntc como fenômeno, e não pelo que possa ser em si”. Eis., com respeito ao ponto importante conside rado, o sentido c conteúdo da doutrina dc Kant, Por seu lado. Platão afirma: wAs coisas deste mundo, percebidas por nossos sentidos, não possuem ser verdadeiro: elas sempre vêm a Sêr, mas nunca são: possuem apenas um ser relativo, são em conjunto apenas em e mediante sua relação recíproca: assim é possível denomi nar tndo seu ser aí um náo-ser Fm consequência também não aao objetos dc um conhecimento propriamente dito (ep is teme), pois este é possível quanto ao que é em c para si e de um modo sempre idêntico: elas porém são apenas o objein de uma suposição sugerida pela sensação (dôxa m e i1 aisíhéseos a togou). Enquanto limitados à percepção das coisas, parecemos homens em uma caverna escura, atados de m aneira tal que impossibilite mesmo os movimentos da Cabeça, e que nada vissem além das silhuetas de COisas reais projetadas cm uma parede à sua frente pela luz de um fogo aceso por trás de suas COSIfls, inclusive uns em relação aos outros C mesmo cada um quanto a si próprio: somente as sombras naquela O M U N D O C O M O V O N T A D E ti R E P R E S E N T A Ç Ã O 7 parede. Sua sabedoria, porém, constituir se ia na previsão da sequência daquelas sombras, aprendida por experiência. Por outro lado. que pode ser denominado única e verdadeiramente existente (ontâs ón) porque sempre é. mas nunca vem a ser. nem deixa de ser. são os modelos de Laís imagens; as idéias eternas, as formas originais de todas as coisas. Não lhes cabe a multiplicidade: pois cada uma e. con forme sua essência, unicamente enquanto c o próprio modelo, cujas reproduções ou sombras são todas as coisas da mesma espécie, de igual nome. indivi duais e transitórias. Também não possuem começo c nem Jim, pois são verdadei ramente existentes, nunca porém o que começa, nem o que termina, como suas cópias perecíveis. (Estas duas determinações negativas contêm necessariamente o pressuposto, porém, de que tempo, espaço c causalidade não possuem significado nem validade para as idéias, que não existem nestes.) Assim, apenas delas pode mos ter uni conhecimento propriamente dito. uma vez que pode ser objeto deste unicamente o que existe sempre e sob qualquer consideração (portanto em si), e não o que exisle. mas também não existe, conforme seja enfocado '. Esta é a dou- irinn de Platão. 1: evidente, e não requer qualquer comprovação adicional, que o sentido interno de ambas as doutrinas é totalmente o mesmo, que ambas explicam o mundo visível como um fenômeno, sem existência cm si, c que somente mediante o que nele se manifesta (para um, a coisa em si. para outro, a idéia) pos sui significado c realidade emprestada: realidade esta porém, vcrdadciramenle existente, a que, conforme ambas as doutrinas, todas as formas daquele fenôme no. mesmo as mais gerais c essenciais, são inteiramente estranhas, Para negar estas formas. Kam as encerrou em expressões abstratas c por assim dizer negou ã coisa em si o tempo, o espaço e n causalidade como meras formas do fenômeno. Platão, por outro lado. não atingiu a expressão mais elevada, c recusou aquelas formas somente de modo m ediatizado, às suas idéias, ao negar a estas o que uni camente é possível mediante aquelas, ou seja. a multiplicidade do análogo, o sur gii è o desaparecer. Por redundância, contundo, desejo ressaltar ainda com um exemplo aquelapeculiar e importante concordância. Esteja frente a nós um ani mal em sua vitalidade plena. Platão dirá: "Este animai não tem uma existência verdadeira, mas somente uma aparente, uni devir constante, um ser ai relativo, que pode ser chamado tanto nâo-ser quanto um ser. Verdadeiramente existente è apenas a idéia que se reproduz naquele animal, ou o animal em si mesmo (auto tò thêrion). de tudo independente, mas existindo em e para si fkath 'eauíô. aei hosau íôs), sem começo, sem fim. porém sempre do mesmo modo (aei ón, kai medepote oúíc gignómcnon. oúíc apollymenon). Portanto, enquanto rcconhc cemos neste animal a sua idéia, é totalmenie indiferente e sem significado o ter mvs frente a nós agora esie animal, ou seu ancestral de um milênio, que o local seja este ou num país distante, que se apresente desta ou daquela maneira, posi çào ou ação. que finalmente seja este ou aquele indivíduo de *uu espécie: islo tudo não existe e refere se som ente ao fenômeno: unicamente a idéia do animal possui existência verdadeira e é objeto de conhecimento real". Assim Platão. Kant diria por exemplo: “Este animal é um fenômeno no tempo, no espaço c na causalidade que todos são as condições a priori da possibilidade da experiência que w eneon S C H O P E N H A U E R iram cm no^su capacidade cognitiva, c não determinações da coisa cm si. Por isto este animal, tal como o percebemos neste instante determinado. nesLe dado local, em conexão com a expericncia. i. e.. a cadeia de causas c efeitos, como um indiví duo que teve inicio e Ju mesmo mudo necessariamente terá fim. não c um ser em si, mas um fenômeno válido apenas em relação ao nosso conhecimento. Paru se conhccc-lo no que possa ser em si, consequentemente independente de todas as determinações situadas no tempo, no espaço c na causalidade. >eria necessário um modo de conhecimento outro do que o único que nos é possível, através? dos sentidos e do entendimento". Aproximando ainda mais o enunciado kantiano do platônico, diriamos: tempo, espaço c causalidade sào aqueles dispositivos de nosso intelecto graças a que o scr único de qualquer espécie. propriamente existe-niL*. sc nos apresenta como uma multiplicidade de seres de mesma espécie, num nascer e perecer inces $antemente renovado, numa sucessão infinita. Tomar as coisas mediante c con forme dito dispositivo o a apercepção titianenla: mas fazê-lo com consciência do processo empregado constitui a apercepção trurtòcefidÈiUctí, lista última atingi mos in absíracto pela crítica da razão pura , contudo cxccpcionaímente ela pode se verificar também de modo intuitivo. fc:stc adendo final é meu. que mc esforço por uclurar com este terceiro livro. 1 ivesse jamais a doutrina kantiana. tivesse, a partir de Kant, a doutrina pla tônica sido efetivam ente compreendida c interpretada, houvesse sido meditado com fidelidade e seriedade sobre o sentido e comaúdo interno das doutrinas de ambos os grandes mestres, em vc/. de empregar a torto e u direito os termos de um e parodiar o estilo de outro; não se subtrairía o reconhecimento de quanto ambos os grandes sábios concordam, e o significado estrito. o objetivo de ambas as dou trinas, é cstríunicnie o mesmo. Não somente não nc teria comparado constante menie Platão c Leibniz. quem de modo algum sen espirito inspira, ou até com um conhecido senhor1 ainda vivo. como a zombar dos manes do grande pensador da antiguidade; mas icr se ia de um modo geral muito ulém do que o feito, nu melhor, nào se teria retrocedido de modo tão ignominioso como nestes derra dcirtxs quaruut.i anus; nào sc teria sido logrado, hoje por um, amanha por outro cabeça de vento, c nào se lería inaugurado na Alemanha o século XIX. tão promissoramente significativo, com farsas filosóficas aprcseniâdíus sobre o túmu lo de Kant (como ocasionalmente os antigos durante os funerais dos seus), sob o justo escárnio de outras nações, visto ser o alemão, sério e mesmo cerimonioso. 0 menos indicado para tanto. Porém tão restrito é o público efetivo de filósofos verdadeiros, que, mesmo os discípulos que compreendem, lhes são conduzidos mui parcamente através dos séculos. Ei si dè nanhekophúroi mèn poiíoi, bákkhoi dè ge paurói. (Thyrsígeri quidem mulíi. Bacc/ti vero p a u c ij2 He aiimia philosophia dià tauia prospâploken, hôti ou k a i h t i <ian auíéx huplóntüi ou gàr nótfious edei áplesJhai, aílà gnésious. (Ewn oh reni philosophia ' I- ll, Jacobi. (N, do A.) 1 1 1ü muitos úimJutOfCS Jc Tir so. mas somente poucos Bacnnws. (N. Ju T.) O M U N D O C O M O V O N T A D E E R E P R E S E N T A Ç Ã O 4 uí injarniam incidií, quod non pro dignítitte ípsam auinguni: neque cnim a spurm. sed a legitímis eraí aitredunda.2 (Platão.) Estriba vam se nas palavras, as palavras: “representações a priori, Ibrmas conscientes do iruuir c do pensar independente da experiência, conceitos primiii võs do enitrnc.ilmento puro”, etc., e perguntava sc então sc as idéias de Platão, que também pretendem ser conceitos primitivos e alem disto também reminiscências de uma intuição das coisas vçrdadeiramcntc existentes, anterior à vida, nao seriam idênticas com as formas kantianas do intuir e do pensar, que se encontram « priori em nossa consciência: estas duas doutrinas inteiramente heterogêneas, a kantiana das formas, que restringem o conhecimento do indivíduo 40 fenômeno, e a plató nica das idéias, cujo conhecimento nega explicitamcnte aquelas formas — estas doutrinas, nesta medida diametral mento- opostas, pois que se assemelhavam um pouco em suas expressões, eram comparadas com atenção, discutidas quanto à sua identidade, concluindo se por lim que não eram mesmo iguais, c inferindo que a doutrina das idéias de Platão e a critica da razão de Kant nada possuem cm com um .' Mas isto ê 0 suficiente sobre este assunto. § 32 Em consequência de nossas considerações anteriores, com toda a coinci ciência interna entre Kant c Platão, c a idcnndadc do objetivo que ambos tinham cm mente, ou a concepção dc mundo, que os estimulava e conduzia ao filosofar, mesmo assim idéia e coisa cm si nào são simplesmente uma e n mesma: mas a idéia c para nós somente a objetividade imediata, c por isto adequada, da coisa cm si. que porém cia própria é a voniúde* .1 vontade enquanto ainda não objeti vada, ainda nào tornada representação. Pois a coisa em si deve, conforme Kant, scr livre dc Iodas as formas presas ao conhecimento como tal: e c apenas um erro de Kant (como será mostrado no suplemento). * que ele nào incluísse enirc estas formas, ames de tudus us outras, o ser objeto para um sujeito, por ser justamente esta a forma primeira c mais geral de todo fenômeno, isto é, representação; eis porque ele deveria ter recusado expressamente a sua coisa cm si 0 ser obieto. 0 que o teria preservado daquela grande ineonscqiicncia, que não sc tardou cm des cobrir. A idéia platônica, por outro lado. é necessariamente objeio, algo reconhe cido. uma representação, e jusiamente devido a isto. e somente devido a isto, dis tinta da coisa em si. Ela se despojou apenas das formas subordinadas do fenômeno, todas por nós compreendidas sob o princípio do razão, ou melhor, ainda não as adotou; eoniudo manteve a forma primeira e mais geral, a da repre- J IVv rit, . ,1 fíloíofo caíll Há iiliTmli > pois qui- .1 ela não h j dedicação sufieieme: |x>i ifiic n;"u» <k‘ven:i -.lt ucupikçãit Jc cbttiliilúcs, mus ilc |i-mfrv'iii.'iHíiis. IN.íIii I .1 * Veja sc por exemplo: i>nmanud Kant, unt Monumento de Fr. frujj.triwc.fc, p, i'J, c a HLutiria tiu l tlow/iu, ile tkible.tomo0. p, st)̂ aiefcis e KJJ. (l\|, u<* A.) s Tiara sc do .idrsndo aft I " vol. ,|f 0 Mundo Como Vontade r* Kcptcu-utuçeó. que sc dciximinn CnV/ra da Jiiusojui kunòana, e que pwln a seguinte epiprafe: "C'ex< pririlèt;e iht orai fiénie, et surtáM du néttie uul ouvre unt camcrc, tkfuirc tmpunemem dc çrarrdes Jaua-y ", (Vultaire.) (£ 0 privilegie do verdadeiro gênio, l- cohrctudíi rínquelcque abrç novos ru mm. de fa/çr impunetnenle ̂ rurulcserros'.} 1N, do T.) LO S C H O P S N H A U E R sen fação em geral, do ser objeto paríi um sujeito. Às formas a esta subordinadas (cuja expressão geral é o princípio de razão) multiplicam a idéia em indivíduos singulares e transitórios cujo número é imetrameme indiferente à idéia. O pr inc í pio de razão c portanto novamente a forma adotada pela idéia, ao cair no conhe cimento do sujeito enquanto indivíduo. À coisa individual que aparece em confbr midade com o princípio de razão é portanto somente uma objetivaçãa medi ata da coisa cm si (que é a vontade), entre as quais se encontra a idéia, como a única objetividade imediata da vontade, ao não adotar forma alguma própria ao conhe cer como tal. senão a da representação cm geral, i. çr, do ser objeto para um sujei to, Por isto também unicamente ela é a ohjerivaçâo mais adequada da vontade on coisa em si, é ela mesma toda a coisa em si. apenas sob a forma da representação: é nisto reside o motivo da grande concordância entre Platão c Kani„ embora, a rigor extremo, o dito por ambos não seja idêntico. As coisas individuais porem não são uma objetividade da vontade bifeiramcnte adequada, mas aqui esta já se encontra ubscurecida por aquelas formas, cuja expressão comum è o princípio de razão, que constituem, contudo, condições do conhecimento, tal como esíti e pos sível ao indivíduo enquanto tal. De fato. se Fosse permitido concluir a partir de um pressuposto impossível, nós não mais conheceriamos coisas individuais, rvem acontecimentos, nem mudanças, nem multiplicidade, mas somente idéias, somen te 05 graus da übjdJvação daquela vontade unica. da verdadeira coisa cm si, se riam captados com conhecimento distinto, e cm consequência nosso mundo seria um Nunc stans; s e não fôssemos, como sujeito do conhecimento, simultânea mente indivíduos, i. e.„ nossa intuição não fosse medíaUzada por um corpo, de cujas afccçcMís ela parte, e ele próprio apenas vontade eonçrçta, objetividade do desejo, portanto objeto entre objetos, e como tal, na medida em que penetra nn consciência conhecedor a, pode faze lo apenas nas formas do principio de ra/.ão, £ consequentemente pressupõe e jissím introduz c tempo e todas as ouiras formas expressas por aquele principio. O tempo é somente a visão dispersa e dividida possuída por um ser individual das idéias que estão fora do tempo, e portanto são eternas; por isto Platão afirma que o tempo e a imagem móvel da eternidadeiaió- nos eíkori feinetè ho khrônns.1 Uma vez que, como indivíduos, não temos conhecimento algum fora do subordinado ao princípio dc razão, porém esta fôrma exclui o conhecimento das idéias, é certo que. se for possível nos elevarmos do conhecimento dus. coisas indi viduais ao das idéias, isto somente pode se verificar peta ocorrência de uma irans formação no sujeito, correspondente e análoga àquela grande mudança de todo o mudo do objeto, e mediante 0 qual o sujeito, enquanto conhecendo ttma idéia, não è mais indivíduo. § 33 11 Scr níi pruscsilc. (Mi llO T.) 0 tempo è 0 quadro cm movimento da eternidade. (N.dn T.) Veja se eap. 20 do !•> voi. Ué o a 1 fN. do A.) O M U N D O C O M O V O N T A D E C R E P R E S E N T A Ç Ã O 11 Sabemo.s peto Eivro precedente, que o conhecimento em gerai pertence cio próprio à objetivaçao da vontade em acus graus mais elevados, e que a sensibili dade. os nervos, o cérebro, como outras panes do ser orgânico, constituem ape nas expressão da vontade neste grau de sua objetividade, e portanto a répresen tação por eis produzida está igualmente destinada ao serviço daquela como um meio (mekhané) para atingir seus agora complexos (pofyteíéstera) objetivos, para a manutenção de um ser provido de múltiplas necessidades. Origina!mente, por- tanro. e conforme sua essência, o conhecimento é útil à vontade, e. assim como o objeto imediato que, com a aplicação da lei da causalidade se torna *eu ponto de partida, e somente vontade objetivada, assim também todo conhecimento resul tante do princípio de razão se mantêm numa relação mais ou menos estreita com a vontade. Pois u indivíduo encontra seu corpo conto um objeto entre objetos, com iodos eles mantendo variadas relações c proporções conforme o principio de razão, cuja observação* portanto, por vius mais ou m cri os extensas, sempre recòfl duz a.o seu corpo, logo à sua vontade. Como è o princípio de razão que situa os objetos nesta relação com o corpo, c por isto com a vontade, o conhecimento ser vidor desta também se empenhara unicamente em conhecer dos objetos justa mente as proporções estabelecidas pelo princípio de razão» portanto em seguir suas diversas relações no espaço, tempo e causalidade. Pois é somente graças a estas que o objeto éjnierçs&ante ao indivíduo, i. ç., possui uma relação com a vontade. Por isto o conhecimento a serviço da vontade conhece dos objetos prati ca mente nada além dc suas relações, conhece os objetos somente enquanto exis tem neste momento, neste local, sob tais circunstâncias, por tais causas, com estes efeitos, em uma palavra, como coisas individuais; e suprimindo todas estas relações, também os objetos desapareceríam ao conhecimento, que deles, noda mais conhecería. Não devemos também dissimular que o que as ciências çonsi deruru nas êuisas de igual modo constitui essencial mente nada além daquilo» ou seja, suas relações, as relações dc tempo e espaço, as causas de transformações naturais, a comparação das configurações, os motivos dos acontecimentos, poi tanto nada senão relações. O que as distingue do conhecimento comum c apenas sua Ibrma, o sistemático» a lacilitação do conhecimento pela reunião dc todo o individual no geral, mediante a subordinação dos conceitos, c pela comploteza desie-. avdm adquirida. Toda relação possui cia m onta somente uma existência relativa: por exemplo, todo ser no tempo é também um não sen pois o tempo é apenas aquilo mediante o que podem corresponder à mesma coisa determinações opostas; por isto todo fenômeno no tempo também npo í - pois o que separa seu começo de seu fim é justamente apenas o tempo, algo esscncíaUnente passageiro, desprovido dc substância e relativo, aqui denominado duração. Ü tempo, porém, c a forma mais geral de todos os objetos do conhecimento a serviço da vontade e o protótipo das domais formas do mesmo. Regra geral, o conhecí mento permanece sempre sujeito ao serviço da vonta de. dado que se form ou para este serviço, c mesmo emergiu da vontade assim como a cabeça emerge do tronco. Kúa. animais, esta serviçalidade do conheci mento sob a vontade nunca pode ser suprimida. Nos homens, esta supressão 12 s c h o p e n h a l f .r ocorre somente como exceção, tomo a seguir veremos mais de perto. Esta distin ção entre homem e animal é expressa externamente pda diferença da relação da cabeça com o tronco. Nos animais interiores ambas as partes se acham ainda sol dadas homogeneamente; cm todos, a cabeça está úrienlada para a terra, onde se encontram os objetos da vontade; mesmo nos superiores, a cabeça e o tronco per manecem unos de modo mais aceiiLuado do que no homem, cuja cabeça parece livremente assente sobre o corpo, apenas portada por este. sem servi-lo. Este privilegio humano, o apresenta cm seu mms alto grau o Apoio de Belvederm u ca beça contemplado™ do deus das musas de La3 modo se ergue livre nos ombros, que parece liberta inteiramente do corpo, e desobrigada de cuidados com ele $ 34 Esta transição possível, porém, sempre excepcional, do conhecimento comum de coisas individuais, ao conhecimento da idéia, ocorre de modo repenti no. ao arrancar-st- o conhecimento .ao serviço da vontade, por cessar precisa mente o sujeito de sei meramente individual, tornando-se agora sujeito puro do conhecimento, destituído de vontade, não mais se ocupando, conforme o princi pio de razão, das relações: mas repousando e sendo absorvido na contemplação firme do objeto oferecido fora de quaisquer conexões com outros. Isto requer, para sc 1 ornar claro, necessariamenteum exame pormenorizado, tan cujas estranhe/as não há que se detér. pois desaparecerão por si. eoncuEentido o conjunto do pensamento u ser exposto nesta obra. Quando, erguidos pela força do espirito, abandonamos o modo comum de examinar as coisas, cessando de acompanhar somente suas relações entre si. cujo objetivo último é sempre a relação com a própria vontade, pelo fio condutor dás configurações do princípio de razlu, sem mais considerar nas coisas o onde, quando, por que c para que. mas única c cxclusivumcnte o que, nào permitindo também que se aloje na consciência o pensamento abstrato, os conceitos da razão; entregando porém todo poder de nosso espírito à contemplação, submer gindo nesta íntei remonte. permitindo o preenchimento pleno da consciência pela tranquila contemplação do objeto natural ocasional malte presente, seja uma p,ii sagem. uma árvore, um rochedo, uma construção, ou o que for; ao nos perdermos inteiramente neste objeto (slch %Qim~ltch in diesen Gegenstand verlisrt). num % nifieat:vo modo de expressão alemão, .ou seja. esquecendo nosso indivíduo, nossa vontade, continuando a subsistir somente como sujeito puro. límpido e;*pc llio ú*.i objeto; de tal modo que tudo se passasse, como se existisse unicamente o objeto, sem alguém que o percebesse, nào se podendo mais distinguir portanto a intuição do seu sujeito, mas ambos se tomaram um, ao ser a consciência plena meme preenchida e ocupada por uma única imagem intuitiva; quando, portanto, ü objeto abandonou toda relação com algo externo a ele. e o sujeito toda relação com a vontade: erttão o que c conhecido não é mais a coisa individual corno tal; mas ê a idéia, n forma eterna, a objetividade imediata da vontade neste grau; e precisamente por isto q referido nesta intuição já não é indivíduo, pois o índiví- O M U N D O C O M O V O N T A D E E R E P R E S E N T A Ç Ã O 13 duo mu perdeu numa tal intuição: mas ele è sujeito puro do conhecimento* desti tuída de vontade, de dor. de temporalidade. Esta afirmação tào surpreendente por ora (de que nâo ignoro confirmar a expressão proveniente de Paine, clu subtitne au ridicule ii « > a qu 'un p as)* tornar-sé a pelo que segue gradativa mente mais ciara a menos estranha, Também rida pensava Espinosa, ao escrever: mens aeterna esK quatenus res sah aetemitotis specfe eondpit* (Ética V. prop. 3 1. SChol,)10 Numa tal contemplação, dc um só golpe a coisa ind ividual se torna a idéia de sua espécie, e o indivíduo que intui, o sujeito puro do conhecimento, O indivíduo como tal conhece apenas coisas individuais; o sujeito puro do conheci mento, somente idéias, Pois 0 indivíduo c o sujeito do conhecimento cm Sua rela ção com um fenômeno individual determinado da vontade, dé quem é servidor, Este Fenômeno individual da Vontade, como tal c subordinado ao princípio dc razão cm todas as configurações: todo conhecimento que se refere ao mesmo pro cede por isto também do principio de razão, e a propósito da vontade também ne nhum se presta a nâo scr este, que maEitémi sempre somente relações com o obje to, O indivíduo que conhece, como tal. e a coisa individual por de conhecida, sempre estão em algum lugar, um momento. e são membros da cadeia de causas c efeitos. O sujeito puro do conhecimento, c seu correlato, a idéia, se formaram a partir dc todas aquelas formas do princípio dc razão: o tempo. 0 local, 0 indiví duo que conhece, e o indivíduo que e conhecido, não possuem significado para cies, V. primeira mente na medida em que um indivíduo conhecedor eleva se a si próprio, do modo descrito, a sujeito puro do conhecimento, c com tsio também 0 objeto ob servad o , a idéia, que aparece puro e por inteiro O m u n d o c o m o repre sentação, s ocorre a objetivaçao perfeita da vontade, já que unicamente a idéia é sua objetividade adequada. Esta encerra cm si sujeito c objeto por igual, uma vez que estes são sua única forma: nela contudo ambos mantêm estritamente o equilí brio; e como também aqui o objeto nada c atém da representação do sujeito, a$sim também o sujeito, dissolvendo <íc por inteiro no objeto observado, se torna ele próprio este abjeto, na medida cm que toda a conüuiênúiu nada mais é além da imagem límpida deste, fi justaraente esta consciência, coneehida como traspas sada pela totalidade ordenada das idéias, ou graus da objetividade da vontade, que constitui propriamente todo o mundo como representação. As coisas indi viduais de todas as épocas e lugares, nada mais s |o do que as idéias, multípli cadas pelo princípio dc razão (a forma do conhecimento das indivíduo*; como tais), e por isso turvada cm sua objetividade pura. Assim como. ao surgir a idéia, não são mais distinguíveis nela sujeito e objeto, porque é somente quando estes se complementam e se interpenetram çompletamente. que se forma a ideiã. a objeii vi d ade adequada da vontade, o mundo como representação propriamente; do mesmo modo também o indivíduo que aqui conhece, e o que é conhecido ja não * Do sublitne aO riJíaulo nialià mais Jn que um passe'. (N. doT.I " O-e-Hpii-iui i eicmci en queime- upnwndc Sv COiAttido ponto de visia ijil VltrmiJnde. iN eU T-l Recomendo lambem íi que afirma em L. II. prop. 40, sehoÈ. I, e ainda L. V, prop. 25 » 33. -.obre o cognt U0 IfW-f gmi-ris, siveimvíiiva* para elucidar o rciinlo de ceníiscamento aqui referido, e p^ciiLulafiiience prop, 29. çolrwl.; prop 16. sehAl. ê pfíip. 38 demwistr. c sdmf (N. dn A.1 "O conhecimento da, teitorira espéíio, i e ,o irlultq vo. {N. do T. i J 4 S C H O P E N H A U E R são diterenciáveis. Pois se abstrairmos inteiramente daquele mimdo como repre sentação propriamente dilo, nada resta além do mundo como vontade. A vontade é o em-si da ídéia. esta objetivando períeitamente aquela; cEn também è o cm-si da coisa individual e do indivíduo que conhece esia: estes objetivando imperfeita* mente aquela. Como vontade, fora da representação e de todas as suas formas, ela é uma e a mesma, no objeto contemplado, c no indivíduo que, elevando-se por esta contemplação, sc torna consciente dc si como puro sujeito: estes dois por isto não são em si diferenciáveis, pois cm si são a vontade que se conhece 3 si mesma, e 6 somente do modo pelo qual este conhecimento se lhe constitui, i. c„ somente no fenômeno, graças à sua forma, o principio de razão, multiplicidade e diversi dade. Tampouco cu, sem o objeto, sem a representação, sou sujeito que conhece, mas tão somente simples vontade cega; lampouco sem mim, como sujeito do conhecimento, a coisa conhecida é objeto, mas tão-somente simples vontade, ím peto cego. Esta vontade é em sí. i e.. fora da representação, idêntica com a minha própria; somente no mundo como representação, cuja forma c sempre pelo menos sujeito e objeto, nos separamos como indivíduo conhecido c conhecedor. Supri mido o conhecedor, 0 mundo como representação, nada resta além de simples vontade, ímpeto cego, Que d e adquira objetividade, sc lorne em representação, instaura dc um golpe, tailto sujeito como objeto: porém que esta objetividade seja objetividade pura, perfeita, adequada da vontade, instaura 0 objeto como idéia, livre das formas do princípio de razão, 9 0 sujeito como puro sujeito do conhcci mento, livre de Individualidade u servidão para a vontade. Quem do modo descrito se aprofundou e perdeu na intuição da natureza a tal ponto de nada ser além de puro sujeito COgnosçente sentirá de imediato que, como tal. se constitui nn condição, portanto o suporte, do mundo e de ioda usis tenein objetiva, uma vez que esta se apresenta agora como dependente da sua. Fie recolhe portanto a natureza cm si mesmo, a senti La somente ainda como um acidente de seu próprio ser. Neste sentido Byron diz: Are noí the mountains, n-auej and skies* a pari O f me and 0/ my sou l as 1 0/ lhem .?11 Mas como podería quem isto sentisse, considerar se a si mesmo, em contraste com a imperecivel natureza, como absoluta mente perecível? Será muito mais arrebatada pela consciênciado proferido pelo Upanichadc dos Vedas: Hat: omites creatu rae in totum egn siwi, ct praeter me aliud èns non est, (Oupnekhiat. I, I22 ) 12 § 35 Para um exame mais profundo da essência do mundo, torna-se indispensável aprender a distinguir a vontade como coisa em si, de sua objetividade adequada, 1 1' Nno são si* monunh.)ondas e nuvens, como umu piirw/De mim c dc minha nlimu como eu juirn cias? (N. do T.) 12 Sou todas estris criaturas cm eúnjuntD, e (or;.i Jc mim eiia Ii.í nenhum ouiro «cr (N. dó T.) Ver lamhém cap. 30 do 2.4 vol. (dc 0 Mundo. I. < N do A I O M U N D O C O M O V O N T A D E E R E P R E S E N T A Ç Ã O Í5 o s cliver&os graus em que esta aparece de m&do m yís üiíílinLo- e perfeito, i. r.. as próprias idéias, do simples fenômeno das idéias na configuração do princípio de razão, o modo limitado do conhecimento dos indivíduos* Assim concordaremos COm Platão, ao conceder esta eristéncia propriam ente dita somente às idéias, reconhecendo. por outro lado. às cuisas no espaço e no tempo, este mundo real para o indivíduo, apenas uma existência aparente, ilusória* Eníno nos daremos conta como uma e mesma idéia se revela em tantos fenômenos, apresentando sua essência aos indivíduos cog nascentes só Iragmentariarnerite. um lado após o outro. Disiinguiremos então também entre a idéia mesma. e o modo pelo qual seu fenômeno se insere na observação do indivíduo, reconhecendo aquela como essencial, esta corno tncpsçncínl. Examinaremos is to por exemplos, primeiro numa abordagem mais restrita, depois duma maneira mais ampla. Quando p as sam as nuvens, não lhes são essenciais as figuras que elas formam, lhes são indi ferentes: mas sim que come névoa d ártica, são comprimidas pelo impacto do vento, levadas adiante, dispersas c rompidas: esta é sua natureza, a essência das forças que nelas se objetivam, c a idéia: as figuras ocasionais são somente para o observador individual. Ao córrego rolando sobre pedras, os remoinhos, as ondas* as formações do espuma que ele mostra, sâo indiferentes e inessenciaís: que obe deça ao peso. sc comporte como líquido ine-lástiço. corrtplctamcnte sem rigidez,, sem forma e transparente; esta é sti;a Ê&s&ncía. esto é, quando itUuirivamente conhecida, a idéia; apenas para nós. enquanto conhecendo como indivíduos, há aquelas configurações. O gelo na janela se assenta conforme às leis da cristaliza çílq, que revelam a essência da força natural aqui aparente, represe mundo s idéia: mas as figuras de árvores e flores assim formadas são incsscnctais. c existem ape nas para nós. O que aparece nas nuvens, no córrego c nos cristais, é o mais débil cCO daquela vontade, que se mus Era de modo mais perfeito no vegetal, mais per feito ainda no animal, do modo mais perfeito no homem. Porém somente o essen cial de todos aqueles graus de sua objdivação constitui a idéia: mas o desdobra mento desta, ao yer estendido em fenômenos -diversos e múltiplos nas configurações do princípio da razão: isco è incssencial ã idéia, repousa apenas no modo de çonheeimento do indivíduo, c unicamente parti este possui realidade. O mesmo vale ncces&ariamenie também para n desdobramento daquela idéia que é a objetividade mais perfeita da vontade: em consequência a história da humani dade. a agitação dos acontecimentos, a mudança dos tempos, as formas variadas da vida humana em países e épocas diferentes, tudo istne apenas a forma aeiden tal do fenômeno da idéia, não pertence a esta mesma, em que sc encontra unica mente a objetividade adequada da vontade, mns apenas ao fenômeno, que cai no conhecimento do indivíduo, e c tão esfranhu, uiessencial c indiferente à idéia ela mesma, como são :ix figuras, às nuvens, a forma dos» rem oinhos c das espumas para o córrego, as árvores e as llores para o gelo, Quem entendeu bem tudo isto, e sabe distinguir a vontade da idéia, c esta de seu fenômeno, a este os acontecimentos do mundo terão significado somente enquanto sào as letras em que é possível ler a idéia do homem, mas nao em e para si. Não acreditara com a opinião comum, que o tempo possa produzir algo vertia S C H O P E N H A U E R deirameníe novo e importante, que nele Ou por meio dele algo efetivamente real adquira existência, ou mesmo que ele próprio, como um todo. possua começo e fim. plano e desenvolvimento, e porventura cr)mu objetivo ultimo a perfeição Suprema (de acordo com seus conceitos) da última geração du trinta anos. Por isto ele não comporá, como Tez Homero, todo um Olimpo com deuses para a direção daqueles acontecimentos temporais, nem considerará, como Ossian. as figuras das nuvens como seres, individuais, visto que ambas as coisas tem igual importância em relação á ideia nelas contida. N íis variadas formações da vida humana e nii incessante transformação dos acontecimentos, eíe considerará como o durável e essencial somente a ideia. cm que o quUreoviver13 possui sua mais perfeita objetividade, e que mostra suas diversas faces nas propriedades, paixões, enganos e preferência dá espécie humana, no egoísmo, ódio. amor. temor, audá cia, leviandade, esiupíttex. esperteza, humor, gênio, etc., que, se reunindo e combi nando em configurações mil (indivíduos), apresentam continuamente a grande c a pequena comédia da história do mundo, sendo indiferente se seu móvel c ctmsti tuído por nozes ou coroas. Por Um, perceberá que tudo sucede no mundo como nos dramas de Gozzi. em iodos os quais se apresentam sempre as mesmas pes soas, como igual propósito c igual destino; c certo que o$ motivos c aconteci mentos são diferentes em onda peça; mas o espírito dos acontecimentos é o mesmo; as pessoas de uma peça também nada sabem dos acontecimentos duma outra, em que porém cias mesmas atuavam; por isto. após todas as experiências das peças anteriores. Panialeão não se tornou mais ágil ou generoso, Tariaglia, mais escrupuloso, Brigucla. unais corajoso, l* Columbina. mnis virtuosa. Suponhamos que nos fosse dado obter uma visão distinta no reino das possi bilidades c sobre todas as cadeias de causas e efeitos. que o espirito do mundo « apresetuas.se v nos mostrasse em um único quadro os mais excelentes indivíduos, sábios e heróis, destruídos pelo acaso antes do momento dc sua eficácia e cnlão os grandes eventos, que [criam transformado a história do mundo e trazido períodos da mais alta cultura e esclarecimento. impedidos em seu surgimento pela mais cega casualidade, o mais insignificante imprevisto - ftnalmemc as maravi lhosas lorças de grandes indivíduos, capastes de fertilizar eras inteiras, que estes porém, por engano ou paixão, ou premidos pela necessidade, desperdiçaram inutilmente em objetos indignos o infecundos, ou mesmo as esbanjaram por gáa dio; víssemos rudo isto. nos horrorizaríamos c lastimaríamos os tesouros perdí dos de épocas inteiras. Mas o espírito do mundo se tomaria de um sorriso c d iria; k,A fonte de que jorram os indivíduos e suas forças c inesgotável e infinita como o tempo c o espaço; pois aqueles são. justameiitc como estas formas de iodo fenô meno, também somente fenômeno, visibilidade da vontade. Medida finita alguma pode esgotar aquela fonte infinita; e por isto a todo evento, oli obra, sufocada em germe, ainda .se apresenta em aberto para o retomo a infinidade intuía, Neste mundo do fenômeno há tão pouco prejuízo verdadeifo passível, quanto verda deiro lucro. Unicamente a vontade é: ela, a coisa em si. ela. a fonte daqueles fenó J f) 13 TradwiirtVs tWUtsum Lebat por querer viver, COlfUrmc a versão IronceSa v>ju!uíi i-tw, lN. do I | O M U N D O C O M O V O N T A D E E R E P R E S E N T A Ç Ã O 17 mçnos. Seu autoconhcei mento, e a afirmação t>u negação decidida a partir deste. è o unico acontecimento em $FT 1 4 Seguir o fio dos acontecimentos c ocupação dá história: cia ô pragmática ao deduzi-los pela lei da motivação, lei que determina a vontade fenoménica ali onde esta é iluminada pelo conhecimento. Nos graus interiores de sua objetivi dade. em que ainda age sem conhecimento,a lei das transformações de seus fenô menos é examinada pelas ciências naturais, como etiologia. e o que nele.? ê permanente, corno rnorfologca. que torna mais fácil sua tarefa quase infinita com 0 auxílio dos conceitos, reunindo o geral, para dele deduzir o particular. Final mente, as formas puras, em que. para 0 conhecimento do sujeito como individuo. as idéias aparecem multiplicíidas. portanto o tempo e o espaço, são examinadas pela matemática. Tudo isto. que em comum recebe 0 nome de ciência, obedece portanto ao princípio de razão em suas diversas configurações,e seu lema perma nece o fenômeno, süas leis. sua conexão c as* relações assim originadas. M asque espécie de coriheei mento examinará entáo o que existe exterior e independente de toda relação, único propriamente essencial do mundo, o verdadeiro conteúdo de seus fenômenos, submetido a mudança alguma c por isto conhecido com igual verdade a qualquer momento, em uma palavra, as idéias, que constituem a objeti vidade imediata c adequada da coisa em si. da vontade? B :t arte. a obra do gênio. Ela reproduz as idéias eternas, apreendida? mediame pura contemplação. o essen cial c permanente dc iodos os fenômenos do mundo, e conforme a matéria cm que ala reproduz, se constitui em artes plásticas, poesia ou música. Sun única brigem c o cpnhecimcnlo das idéias; seu único objetivo, ;i comunicação deste conheci mento. Enquanto a ciência, perseguindo a torrente incessante e instável das oau sus a dos efeitos., em suas quatro formas, em cada meta ntingida é cfmtinuamente forçada adiante, sem poder atingir um objelivo último, uma satisfação plena, assim como não podemos correndo alinpir 0 ponto onde a? nuvens locam o hori zonte; ao contrário, a arte sempre está em seu ubjetivu. Puis d a arranca do curso dos acontecimentos do mundo o objeto de sua contemplação, isolando-o IVemc a si; e este alfiü individual, que era urna parte imensamente pequena naquela torren te, corna-se seu representante do todo, um equivalente do infíniLamente numeroso no espaço c no tempo: d a permanece portanto neste individual, detém a roda do tempo, as relações desaparecem para ela. somente o essencial, a idéia, é seu obje to. Assim podemos mesmo designa-Ia como o modo dc encarar ax coisas Usdcpeii- dentemente da principio de ração, em oposição àquele que a este obedece, que é a via da expefiçodu e da ciência. Bs(c ultimo modo é comparável a uma linha infinita, horizontal: n primeiro, contudo, ú vertical que a carta em qualquer ponto desejado. O que se dá conforme o principio de razão, ê o procedimento racional, 1 1 “ F.ctn ulhnu eiiaçió niu jwnir.ncr rn rertiídsi *?m o livro segui nic, (IV, 0 \htnáo,. . J \ N. Jt> A.) Ver |mc,i Líuitu vs uip. l ie 14 du Z:' n.i], itu farcr^u t Ptuailpamwv, nvili mesma cdjçia.fN. ttoT.) 18 s c h o p ê n h a u ê r único válido e útil na vida prática, bem como na-ciência: o que abstraí do con teúdo daquele princípio, é u procedimento genial, único válido e útil na arte, O primeiro é o procedimento de Aristóteles; o segundo é, em seu conjunto, o de Pia tão. O primeiro e igual à tempestade, propagando-se sem origem nem meta. tudo arqueando. agitando c arrastando; o segundo, ao sereno raio de sol, cortando o caminho desta tempestade, sem ser por esta afetado. O primeiro é igual às gotas inumeráveis c agitadas da cachoeira, que, em permanente renovação, não repou sam um só instante: o segundo, ao tranquilo nrco-íris em fepouso sobre esta fúria tumultuosa. Somente mediante a contemplação pura acima descrita, inteira mente absorvida no objeto, as idéias podem s<r captadas, e a essência d o g ê n io consiste justa mente na capacidade predominante para tal contemplação: como esta requer um esquecimento completo da própria pessoa e de suas rdaçuc.s; assim a g e n ia l i d a d e nada mais é do que a mais perfeita o b je t iv id a d e , i. e,, orientação objetiva do espirito, contraposta ã subjetiva, dirigida à própria pessoa, i. e... â vontade. Desta forma, a genialidade 6 a capacidade de sc comportar apenas iniuitivamente, sc perder ms intuição e arrebatar o conhecimento, existente originaImcnte somente para tal fim, ao serviço da Vòntade. i. c . abstrair por completo dc seu interesse, seu querer, seus objetivos, despojar se por um tempo mleíramcnte dc sua persona lidade, para permanecer como x u je fto p u r o d o c o n h e c im e n to , límpida vista tló mundo: e isto nào por instantes, mas durante o lempo necessário, c com tal circunspecção, para reproduzir o apreendido mediante uma arte estudada, e assim l‘o que paira cm imagens oscilantes, ser firmado Cm pensamentos permn nentes”. Tudo sc passa como sc, para o gênio sc mostrar num indivíduo, a este deve iej correspondido uma medida de força intelectual hem superior ã necessária ao serviço dc uma vontade individual; excedente livre de conhecimento, consti tuindo agora um sujeito isento de vontade, espelho luminoso da essência do mundo. D to explica a vivacidade imranqüilü cm indivíduos geniais, ao lhes ser raramente .suficiente o presente por não preencher sua consciência; o que lhes con fere sua dedicação incansável, sua permanente procura dc objetos novos e dignos dc consideração, c também sua quase nunesi satisfeita busca de seres scmelhames, ã ‘un altura, com quem se comunicar: enquanto o mortal comum, complctamentc preenchido e satisfeito pilo presente ordinário, nele é absorvido, e CUCOUtrando por toda parte seus semelhante:; possuí no diu a dia aquele confurug que é recu sado ao gênio. A fantasia foi reconhecida como um integrante substancial da genialidade. Lendo mesmo com ela por vezes sido identificada: aquilo com razão, isto não Os objetos do gênio como tal sendo as idéias eternas, as formas essen ciais permanentes- do mundo c de todos seus fenômenos, o conhecimento da adera sendo contudo necessariamente intuitivo, e não abstrato: o conhecimento do gênio seria limitado ás idéias dos objetos verdade ira mente presentes à sua pessoa, c dependente do cncadeamento das circunstâncias que estes lhe apresentassem, nâo ampliasse a fantasia 0 seu horizonte benrt acima da realidade de sua expe riência pessoal, .situando o numa posição tal a construir, a partir do pouco intro duzido cm sua verdadeira apercepção, todo o restante, desfilando por si assim quase tüdos os quadros possíveis da rida, Além disto, os objetos verdadeiros O M U N D O C O M O V O N T A D E E R E P R E S E N T A Ç Ã O 19 quase sempre são apenas exemplares bem íacunosos da idéia que neles se apre senta: pt>T isto o gênio necessita da fantasia, para enxergar nas coisas nào somen te aquilo que a natureza realmente Formou, porém u que pretendia formar, mas sem sucesso, dad» i\ luta de suas formas entre si. mencionada no livro precedente. Retomaremos isto mais adiante, au tratar da escultura. A fantasia, portanto, am plia a visão do gênio sobre as coisas apresentadas na realidade a sua pessoa, tanto com respeito ã qualidade, como à quantidade. Por isto força excepciona] da fantasia c companheira, e mesmo condição, da genialidade. Porem, inversamente, aquela não com prova esta; pois mesmo pessoas não gEniais em alto grau. podem possuir bastante fantasia. Porque como é possível considerar um objeto real de duas maneiras opostas; de modo purameute objetivo, genial, assimilando a sua idéia; ou de modo ordinário, somente em suas. relações conforme o principia de razão com outros objetos e aom a própria vontade; assim também é possível cnn tcmplar um a imagem ilusória segundo cslcs modos: polo primeiro, constitui um meio para o conhecimento da idéia, cuja comunicação é a obra de arte: no segun do caso. a imagem ilusória é utilizada para construir Cttstclos no ar. que agradem ao egoísmo ou ao capricho próprio, iludem momentaneamente c deliciam; enquanto das imagens ilusórias assim combinadas propriamente apenas as rela ções sâti conhecidas. Quem se diverte num t:il jogo. é um fanlasà.sta: facilmente mesclará ás imagens,com que se delicia solitariamente, com a realidade, toman do sc a&sim imprestável para esta: LaLvez lhe ocorra relatar as fraudes de sua, fan tàsia, que se constituirão comumemc cm romances de todos os tipos, a entreter seus semelhantes c o grande público, ao se imaginarem os leitores no lugar do herói, encontrando assim a representação bem “agradável", Ü homem com um , c\ste produto industrial dfi natureza, tal com o esta o apre se» La diariam ente aos m ilhares, é incapaz, ao m enos dc m odo persistente, de uma observação em todo sentido iruetranienic desinteressada: ale pode dirigir sub alen ção às coisas som ente enquanto estas apresentam uma relação qualquer, m esm o que apenas mui mediiltivudu. eòm suu vontade. C om o a este respeito, que solicita sempre apenas a conhecim ento das relações, o con ceito a bs i rato da coisa c sulí ciente e em geral m esm o m ais útil. o hom em comum nào perm anece muito tempo com a pura intuição, não fixando por muito tem po sua visão num objeto, m as pro aura cm tudo que se lhe apresenta, apenas rapidamente o conceito sob 0 qual o alojar, assim com o o indolente procura a cadeira, após o que isto já nào lhe inte ressu Por isio ele esgota tudo com rapidez, obras de arte. abjetos belos da nature za, e a visão propriamente sempre significativa da vida cm todos os seus atos. Ele. porém, não se demora: procura apenas seu cam inho na vida, quando muito o que ainda podería vir a sc-lo. portanto, notícias topográficas em seu sentido mais am pla: nào perde tempo com n contem plação da vida com o tal. O gênio, contudo. Cuja faculdade de conhecim ento, dado seu sobrêpeso. se suhtrai por uma parte do seu tem po, ao serviço dc sua vontade, perseverandó na contem plação &á própria vida. am bicionando apreendei a idéia de todas as co isas, e não suas relações com outras co isa s: destarte descuidando freqiientemente da observação de seu próprio cam inho na vida. que percorre na m aioria dos casos com suficiente inabilidade. 20 S C H O P E N H A U F R Enquanto para o homera comum sua faculdade de conhecer é a fantena que ilu mina seu caminho, para o homem de gênio é o sol que revela o mundo. Esta maneira tào diferente de encarar a vida rapidamente torna-se visível mesmo em seu exterior. O olhar do homem, cm que reside e atua o gênio. o distingue com facilidade, ao portar, viva e firmemente, o caráter contemporizador da contempla çâo: que podemos ver nos retratos das poucas cabeças geniais, produzidas entre os inumeráveis milhões aqui c ídi pela natureza; em contraste, no olhar dos outros, quando este não ê, como geralmcnte ocorre, destituído de espírito# eleva çâo. discernimos, com facilidade, o verdadeiro oposto da contemplação, tf espiar. Assim a “expressão genial" de uma cabeça consiste cm tornar visível uma doei siva preponderância do conhecer cm relação ao querer, e em consequência tam bem um conhecer destituído de qualquer relnção com um querei, i. c.. um conhe c e r p u r o . Ao contrário, cm cabeças regulares, a expressão do querer é dominante, e torna-se claro que o conhecer sempre è movido pelo querer, usstm dirigindo se somente a moitvos. Senclo o conhecimento geninl, ou conhecimento da idéia, o que não obedece ao princípio dfi razão, e por outro lado, aquele que lhe obedece, outorga esperteza c sagacidade na vida c origina as ciências; os indivíduos geniais serão afetados com as carências provocadas pela negligência do último modo dc conhecimento. Con tudo há quv fazer u restrição dc quê Ilido o abordado aqui neste sentido, somente lhes dirá respeito enquanto estiverem efetivamente no exercício do modo de conhecimento genial, o que de modo algum ocorre cm todos os momentos dç sua vida. já que u grande tensão, pur mais espontânea, requerida para n percepção das idéias isenta do vontade, necessariamente .sofre uni relaxamento, portando grandes intervalos em que. tanto no que se refere ás vantagens quanto às defjdcn cias. sua simaçâo xc assemelha bastante a dos homens, comuns. í por isto que a ação do gênio desde sempre foi encarada como uma inspiração, e como o pró prio nome indica, como a atividade dc um ser sobre humano, distinto do imiiví duo ele mesmo, e que apenas periodicamente dclc se apropria. A aversão dos indi víduos de gênio, em dedicar atenção no conteúdo do princípio dc razão, sc apre setltará em primeiro lugar cm relação ao princípio do ser,' 9 corno aversão pela matemática, cujas considerações dizem respeito às formas mais gerais do fenôme no, do espaço e do tempo, elas próprias somente configurações do principio de razão, sendo assim predsamente o oposto daquela consideração que procura jus- lamcme apenas o conteúdo do fenômeno, a idéia que nele se manifesta, abs traindo de todas as relações. Além disio t> tratamento lógico dado à matemática repugnará ao gênio, já que este. impedindo a compreensão propriamente dita, não .satisfaz, mas oferecendo um simples encadea mento de conclusões conforme o princípio dc razão do conhecimento, solicita de todas as faculdades do espírito, sobretudo a memória, para estarem presentes sempre todas as proposições ante riores, às quais há que sc reportar. Também a experiência confirmou que grandes ’ " Curtiu ?ara nós Súli vom ü m m ie sc torna princípio da rasou, o icrmo aqui rçfcridu,origijjftJrccnte tiruit de des Seim. podería ser também rarãa do ser; pais dar Snta vnw* CruttJc d& S&n» O principio tfç m.Jt.J dosar (H di>T.> 0 M U N D O C O M O V O N T A D E E R E P R E S E N T A Ç Ã O gênios da arte nào possuem capacidade para a matemática: jamais houve homem notável em ambas simultaneamente. Alfícri narra não ter mesmo nunca enrendido sequer o quarto teorema de Eu elides. A tioethe se reprovou muito a carência de conhecimento matemático, por parte dc adversários ineptos de sua teoria das cores: justamente aqui. onde nào se tratava dc calcular e medir sobre dados hipo téticos. mas de mtelecção imediata da causa e do efeito, aquela reprovação era a tal ponto injusta c indevida, que por ela os críticos revelaram sua lotai ausência de capacidade de juízo, como o fizeram com todas suas outras expressões dignas dc Midas. Que mesmo hoje, quase meio século após o surgimento da teoria das cores de Goethe, inclusive na Alemanha, os ilusionistas newtonianos se mantem tranquilos dc posse das cátedras e se prossegue, com in fira seriedade, a falar das sete cores homogêneas c dc sua diferente rcfração — isto será incluído algum dia entre os grandes traços intelectuais do caráter da Humanidade cm geral, c da germanidade em particular. Pela mesma razão acima exposta se esclarece o falo iguaImcntc conhecido de que. pelo contrário, excelentes matemáticos possuem pouca receptividade para as obras das belas artes, o que transparece de maneira parlicularmente ingênua na conhecida anedota daquele matemático francês que após a leitura da Ifigênia de Racinc perguntava encolhendo os ombros: Quest-ce- que cela prouve? 1 6 Como além disto uma compreensão aguda das relações con forme o princípio da causalidade e motivação constituí propriamente a esperteza, o conhecimento genial porém não se orienta para as relações; um homem esperto, enquanto o for. nào será genial, c um homem genial, enquanto o for. nào será “esperto. Por fim. o conhecimento intuitivo, em cuja área se locali/n sobretudo a idéia, é direiamcnte oposto ao conhecimento racional, ou abstrato, orientado pelo principio de razão do conhecimento. Também raramente se encontra grande genialidade aliada ao predomínio de racionalidade, pelo contrário, indivíduos geniais são dominados frequentemente pot afecçòo violentas c paixões irracio nais. 0 motivo disto contudo nào é fraqueza da razão, mas em parte a energia descomunal do fenômeno da vontade cm conjunto, que ê o indivíduo dc gênio, á qual sc manifesta pela violência dc todas as ações da vontade, cm parte o predo mínio do conhecimento intuitivo pelos sentidos e pelo entendimento, sobre 0 abs trato. donde