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Schopenhauer

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S c h o p c n h a i ie r
Os Pensadoiés
Os Pensadores
Sciiopeiihauci'
O homem comum, este produto 
rnductrijt ria natureza. ul como esta o 
apresenta rhan.cnente dtto milhares. ê 
:ncjpcí7 30 m-trlOs de modo per*. >“en- 
li- de uma observação em iodo «n li 
do :n{e 'i3inente des.r.:erecv2d.a. d ? po­
de dirigir sud atenção kr- roi -.,-c- ^mon- 
te enquanto estas apresentam urna rela­
ção qualquer. mesmo que apenas mui 
mediafizada., ron> ojõ vontade.'
SfHC IPtNHAUI Rr U Manch como 
Vontade- e Rnpfptpmaçjo
Sn o mundo todo. como represen­
tação, é apenas a visibilidade da vonta­
de,. è. arte é a est-arecümcnlo riç«»i v si- 
bilidade, a Cornara abacura a ntospdf 
objetos corr maií pureza e permitir 
uma meibos visão de tonjunto-ecombi­
nação dos mesmos, o ieasro no teatro, 
o pãko sóbre o pako no htemíet. 
5CHOPENHAUER: O Mando como 
Vontade e Representação
O estilo de Kan1 ira? sempre a 
marca de um espirito superior r.íe uma 
genuína e sólida originalidade e de 
uma força de pensamento iníp-rannpn- 
te fora do comum; pode-se talvez de­
signar o caráter desse esido. bem a pro­
pósito.. como de uma bnlhonte secura 
que lhe permito lança* mãe d cs con­
ceitos rom firmeza e escoíhè-los com 
.grande segurança, para depors poder 
jogá-k»* tíc Já para cá. com a matar h- 
herdade, para astombro da leitor 
SCHOPENH.^UcR: Caíicã da í iScsoúa 
Kantiana
Os Pensadoiés
ClR-BrasiE. CatalogaçSo-níi-Publicação 
Câmara Brasileira do Livro, SP
S-Wm
2.cd.
Schopcnhimcr. A.a1hur_ I7SR- 1RM1
Ü mundo como vonly.dc ç representação, 111 pl. ; Critica <ia filosofia 
kantíana . Purccg» c pamlipomcnc cap, V, VÈII. XU, XIV Arthur Sdiopc- 
rthauer : traduções de Wolfgang Leu Maar c Maria Lúcia Mello e Oliveira 
Caccidla — 2 etl — São Paulo : Abril Cultural. 14JS5.
(Ô pcnsadorc.-O
Inclui vida c obra çlc Sohtrpcfitwuer.
Bibliografia.
1 Conhecimento Teoria 2 FikWdíia alemã 3. Kaitt, Icnrtianud, 
1724 1804 - Ontologia 4. Pessimismo 5. Vontade 1. Maar. Wolfgang Leo. 
IL Cacciola, Maria Lúcia Mdo c Oliveira III Título, IV Titulo: CniK.i 
da filosofia kantiana. V Título Parerga c paralsporticna VI Série
84-1634
CDD-193
-121
■ t23
-142.3.
-149.6
índices para caiüogo sistemático: 
1. Ccinhccuiicuiu : Teoria Filosofia 121 
2 Filosofia itifiinu 1V3
3. Kamismo Fitoíofu crítica 142,3
4, Pessimismo : Filosofia 149.6
5. Teoria do conhecimento : Filosofia 121
6, V«iuvik Metafísica . Filosofia f23
ARTHUR SCHOPENHAUER
O MUNDO COMO 
VONTADE E REPRESENTAÇÃO
{III PARTE)
CRITICA DA FILOSOFIA KANTIANA
PARERGA E PARALIPOMENA
(CAPÍTULOS V, VIII, XII, XIV)
TraclirçíkíN <ie WolfRsmf* Leo Mnnr e Muria I-úcím Mello <■ Oliveira Caccáila
•\sst!svnri» <le kuW » RodriRtii** Torres Filho (Critica íiu Fifasofiü Kantianaí
1985
EDITOR: V IC T O R C IV 1T A
TTtufas urigmiúã:
OiV Weit aí,r WWíe jrnd Vorsítftufíx
lfurrrvu ruid Pnrttiiprwwri
'■ ( destá «líeâü. AftrLI S.A. Cultura!,
Sd» Paulo. IWO - 2 ' edtçiki l*)8.S
I lin iu-, t idusiví* mjIik j» tcaJuçôcik dt»U; yíUuík. 
Abril S.A. Culiumt, f?:wi r.njUt
Direiim cxçítKtvos sobie üch^penhaucí Vida. e Obra' 
Abnl S. A Culuical, Sã* < Paulo
SCHOPENHAUER
VIDA E OBRA
Consultoria. Kuhens Rodrigues Torres Filho
-
F ilho de Heinrith Floris SchQpénbauer, comerciante dd cidade de Dantzig, na Prússia, o filósofo Arthur Schopenhauer estava destina­
do a sogub a profissão de seu pai. Por i&so, a família nunca sc prcocu 
pou muito com sua educação intelectual e. quando contava apenas 
doze anos do idade, rm 1000, induziu o a empreender uma série de 
viagens importantes paru um futuro comerei ante. tkhopenhauer per 
correu a Alemanha, a França, a Inglaterra, a Holanda, a Suíça, a í?ilé- 
sia e a Áustria. Mas seu interesse não foi despertado por aquilo que 
seu pai mais desejava o que 1lv de mais importante, durante essas 
viagens, foi redigir uma sério de cnnsirlepxõés melancólicas e peüftb 
mistas sobre a miséria H.i condição humana. Fm 180s a família fi­
xou-se em Hamburgo e o obrigou o cursar uma escola comercial. A 
morte do pai (possivelmente voluntária) permitiu-lhe, contudo, aban­
donar paru sempre os estudos comerciais e voltar-se para uma carrci 
ra universitária, como era » u desejo. Assim, Schiòpedhauer passou a 
dedicar-se aos estudos hum.místiCos, ingressando no Liceu de Wei- 
msr cm 1807; dois anos depois, encontrava-so na faculdade de medi­
em u de Cõningen, onde adquiriu vastos conhecirnemos científicos. 
Em 1811, na Universidade de BerEim, aüsistm aos cursos rios filósofo* 
Schleiormacher 0 763-1834) e Fichte (1762-1814).. Este última vería, 
mais tardo, acusado por Schopenhàuer de ter rfeliberadamente carica­
turado a filosofia fie Kart íl 724-18(34), fpníanrin "envolver o povo ale­
mão com ,5 neblina filosófica". Km 181.1, Schopenhauer doulourou 
su pela Universidade de Berlim ium a tese Sobrv d Quâiiruptn A,u/ 
do Princípio ríc Kazáo Suficiente.
Nessa época, sua mãe, Johanna Schopenhauer, c^abeleccu-se em 
Wcimar, onde começou u obter progressivo sucesso rumo novelista e 
passou a frequentar os círculos mundanas que Schopenhauer detesta­
va o se esforçava por ridicularizar ao máximo. As relações entro os 
dois deterioraram-se a ponto de Johannu declarar publica mente que a 
tese de seu filho não passava de um tratado de farmácia; em contia- 
partida, Sthopenhaucr afirmava ser incerto o futuro de sua mâí* como 
romancista e que da semente seria lembrada no iuturo pelo fato cie 
ser sua progonitora
Apesar dessas briga*, Scbopun haver frcqüentou durante aígimi 
tempo õ salão de sua mãe, Ali Eornou-se amigo de Goethe 
(1749-1832), que reconhecia seu gênio filosófico o sugeriu-lhé que tra 
balhasse numa luorid antinewtoniana da visão. Á partir dessa suge^táo, 
Schopcnhauer escreveu Sobre a Visãoeás Ceves, publicado em 18 Ife.
VIII SCHOPENHAUER
Um filosofo sem puhíico
Em 1814, Sebuix-iilutucr rompeu deíminvamente com 3 família e 
quatro anos depois concluiu sua principal obra. O Mundo cama Van- 
ijck' <■ ReprvwnL^üv. Em 1810, o livro foi publicado, mas um ano e 
meio após !lavram sido vendidos apenas c.wca rie HJO exemplares. A 
crítica também não foi favorável á obra.
Durante os anos de 1018 t* 1819, Schopenhauer passou uma íem- 
purada na Itália: ao voltar, sua situação econômica não era das mt- 
ihorev Solicitou então um posto de monitor m Universidade de Cer- 
lim, valendo-se de seu título de doutor e passando por uma prova 
que consistia numa conferência. Admitido em tf>20, encarregou-se 
dc um rurso intitulado  Fitüsofiá tnreirjt ou O Ensino do Mundo c 
dv E f̂tfrito Humana. G título do Curso devia-se, provavelmente, a fie- 
ge! fl 270-1 que na época era um dos mais reputados professo­
res da Universidade de Berlim. Tentando competir com Hcftd, Sebo- 
penliauer escolheu o mesmo horário utilizado pelo rival. mas u tenta­
tiva redundou em fracasso completo: apenas quatro ouvintes assis­
tiam a suas aulas. Ao fim do um semestre, renunciou à universidade.
Lm 1821, envolveu-se cm um a cadente que teve desagradáveis 
tronscqüêndás ecOnonuL ,is fe, sobretudo, vifia causar-lhe periódica 
srisc: de depressão psicológica. Nessa época, o filovoío residia numa 
pensão, cujos principais locatários, em sua grande maioria, eram se- 
nhoritas de idade avançada. Essas pensionistas tinham a desagradável 
hábito de espionar a chegada de supostas amantes, recebidas par 
Schopenhauer em seus aposentos. Certa noite, quando uma costurei­
ra chamada t aro!inr-lonise Marquet dcdicava-sc a esse mister, Scho- 
penhautrr, perdendo a paciência, atirou-a Cstúda abaixo Corno resul­
tado, foi processador1 -k abou sondo condenado a pagar trezentos fôa- 
fevs do iltspfK.'is médíi -e. Além ficava obrigado a pagar seswm
ta thafcrí anuais, até a morte de ( aroltne,. que sonionte veio a falecer 
vime unos depois. Durante todo « s e tompo, Sehopomh.mer entrava 
om depressão nervosa, unia ve/ por ,hk>, todas .u. vezes que ora obri 
gado a pagar a pensão, ^ua revolta dizia respeito mentis ã quantia du- 
sembfltsada do que àquilo que sentia como injustiça cometida pptas 
autoridades.Entre Ih2h c 1333. Schopqnhautir empreendeu Ireqüemes via 
gr-ns, adoeceu por diversas vezes e tentou uma segunda experiência 
como profesvor Ha Universidade <k- Berlim . Foi mais umu tentativa ira 
cassada, somente contrabalançada pela crítica elogiosa a sou O Adpn* 
rio tom o Vonkidee Rppresvniaçàn, publicada nn periódico k 'eme Bü- 
chtvsrhaa,
A solidão e a glória
Em I83J, depois du muitas heslt.u,ues, o filósofo resolveu íixar- 
st1 em franMurl-stíbre-ívMeno, onrle ptírmarvéceria até sua mrirte prti 
iBfit) Durante os vinte o seiu .anos que passou em Frankfurt, levou 
uma vida solitária, acompanhado por seu t ão. Sua predileção por ani­
mais era fitusoficamente justificada; segundo Scbopenhauer, entre os 
cã« , confraria monto ao que ocorre entre os homens, a vontade não c 
dissimulada pela máscara do pensamento
VIDA E OBRA !X
Dedicado excluMvamcntc ã reflexão filosófica, Schopenhauer tra­
balhou intensamente em Frankfurt, redigindo e publicando diversos li­
vros. Im 3S3G. veio a lume o ensaio Sobre a Vontade nJ Natvreja. 
que deveria completar o segundo livro de O Mundit como Vontade *' 
Representação Na mesma êpuua, redigiu lambem dois ensaios sobre 
moral. O primeiro, escrito para concorrer a um concurso da Acade­
mia de Ciências de Dronsheim (Noruega), intitula-se Sobre j Liberda­
de dri Vontade. O segundo, O Fundamento üxj Morai concorreu ao 
concurso «ia Academia de Copénfuigue o continha verdadeiros insul­
tos j l legei e a FtdiEe, que provocaram escândalo; embora fosse o 
Único cortcorrenlu, o livro não foi premiado. Puslenormente, os doss. 
ensaios seriam reunidos soh n título di■ Os Dois Problemas f-undamen- 
lab da tdeo e publicados em 1B4I. Três anos depois, surgiu o segun­
da eriição de O Mundo como Vontade e RepresePtaçáo, enriquecida 
com alguns suplementos Apesar disso, não teve sucesso.
O mesmo não ocorreu com a última obra escrita c publicada por 
Schopôohauer Intitulava-se Párergà e Paralipomvfíü e continha pe­
quenos ensaios sobre os mais diversos lemas: polílica, moral literatu­
ra, filosofia, cMrlo e metafísica, entre outros, A obra alcançou inespe­
rado sucesso, logo depois de ser publicada ern 1851. A partir dai, a 
notoriedade do áutòr espalhou-?n pela Alemanha e depois pela Euro­
pa Um artigo de |. Oxenlotd, publicado na Inglaterra, deu início à 
grande Hitusão de sua filosofia. Na França. muitos filósofos ó esçrito- 
iv:, viajaram aié Frankfurt paru visii-í-lo. n ,. Alemanha, a filosofia du 
Hegel enlrou em declínio e SchoptTihauef surgiu como idolo dai no­
vas gerações.
Assim, os últimos anos da vida dc Scbopenhaucr proporei ona- 
rarn-lhe um ret unhou mento que ekr sempre buscou, Artigos críticos 
surgiram em grande quantidade nos principais periódico* da época. 
A Universidade de Bteslau dedicou cur>os ã análise dc sua obra e a 
Academia Real de Ciências de Berlim propôs-lhe o lítulu de metnlmç 
em 1858, que ele recusou
Dois ánot depois, a dc setembro de lÁbÜ, Arthur Schope- 
nfviuiT, que Níetzsrhe (184*4-1 yuü) chamaria cavaleiro solitário'J, 
faloCeu, vítima de pn^umoncí Contava, então, 72 nnns ríe idade
mundo cego e irracional
O pomo d{r partida do pensamento dc Schopenbauer encontra- 
se na filosof a knníimi Immqnud Kant (I724-1SQ4) estíibelerorá dís-
linçáo entre t>s fenômeno*; e a t oi -i-om -si (que ch am ou nc>víTieruin}f
isto r, entre o que nos aparece e o que existida em si mesmo, A coa- 
sa-em-si (nnumennn} não podería, segundo Kant, ser objeto de conhc- 
í imenlt) f entffiro ̂ tomo al<* enl.io premndem j metafísica clissicvi. 
A ciência restringir se-ia. assim, ao mundo dos fenômenos, e seria 
constituída pelas formas a prtori da sensibilidade (espaço e tempo) e 
pdas categorias do entendimento Dessas distinções, Schopenhauer 
concluiu que o mundo náo sorta mais do que representações, entendi­
das por ele. num primeiro momento, como síntese entre o subjetivo e 
o objetivo, entre a realidade exterior e a consciência humana. Como 
afirma em O Mundo como Vontade e Representação, "por mais maci­
ço e imenso que seja este mundo, sua existência deponde, em qual-
X . S C H O P E N H A U E R
quyr momento, apenas de um fio único c delgadíssimo d consciên­
cia em que aparece". Em outra passagem de sua prinrrpai obra Scho- 
penhauer deixa mais clara essa idéia; "O mundo como representa­
ção, ibLo é, unicamente do ponto de vista de que o consideramos 
aqui, tem duas metades essenciais, necessárias e inseparáveis Uma é 
o objeto; suas formas são o espaço e o tempo, donde a pluralidade A 
outra metade é o sujeio; não Sé encontra colocada no tempo e no es­
paço, porque éxsste mie ira e indivisa em todo ser que percebe: daí re­
sulta que um só desses seres juntu ao objeto completa 0 mundo como 
representação, tão pcrfeilamente quanto rodos os milhões de seres se­
melhantes qüe existem: mas. também se esse ser desaparece, o m un­
do como representação não mais esibUr".
Não se pode dizer que essas idéias expressem exata mente rj pen­
samento kantiãno, mas, seja como for. Schopcnhauer chegou a essas 
conclusões, partindo do mestrí? que tanto admirava. Schopenhauer, 
contudo, separa-se, expliçitamcntê, do Kant em um ponto essencial 
0, a partir daí. constrói uma filosofia original. Para Kant, .1 coisa em 
si r inacessível ao conhecimento humano, pois encontra se além dos 
lrrnh.es das estruturas do próprio ato cognitivo, entendido como sínte­
se dos dados da intuição sensível, síntese essa rcalizadj pelas catego­
rias a prior i tio entendimento, bchopcnhaiter, ao contrário, pretendeu 
abordai a própria coisa-em-si. Lssa coisa-em-si. raiz metafísica de to 
da .1 realidade, seria a Vontade
Segundo o autor de O Mundo como Vontêde e Representação, $ 
experiência interna do indivíduo assegura-lhe mais do que o simples 
wto de ele ser "um objeto entre outros". A experiência interna tam­
bém revela ao indivíduo que d e é> um ser que áe move ü si mesmo, 
um ser ativo cu|0 comportamento manifesto pxpress.i dirrtamente suo 
vontade Essa consciência interior que cada urn possui do si mesmo 
como vontade seria primitiva e irredutível: A vontade revelar-se-ia 
imediata mente a todas .is pessoas como 0 om-si 0 a percepção que as 
pessoas têm de m mesmas como vontades seria distinta da percepção 
que ay, mesmas têm como corpo. Mas iv o não sigrtilica que Srhnpe- 
nhauer tenha esposado a tese de que .is ações corporais e js açor-- da 
vontade constituem duas séries cie fatos, entendidas as primeiras co­
mo eausadurjs das segundas. Para Schopenhauer, o corpo humano é 
apenas objetivação da vontade, tal como aparece sob as condições 
da percepção externa. Em outros termos, o que se quer e o que se faz 
são uma e a mesma coisa, vistos, porém, dç perspectivas diferentes,
Da mesma iormn como nos homens, a vontade seria o principio 
fundamental da natureza. Para Schopcnhauer, na queda rte uma pe­
dra, no crescimento rJe uma planta r«u no puro comportamento instin­
tiva rio um animaí afirmam-se lendências,em Cujaobjétivaçãn se cons­
tituem os corpos, Essas diversas tendências não passariam de disfar­
ces sob OS quais Sé oculta uma vontade única, superior, de caráter 
metafísico e presente iguaímente na planta que nasce e cresce, e nas 
complexas ações humanas. Essa vontade, para Schopenhauor, £ inde­
pendente da representação e, portanto, não se submete ás leis da ra­
zão. Ao contrário de Hegel, para quem o real é racional, d íitosofiã 
de ScHopenhauer sustenta que r> real é em >j mesmo cego o irracio­
nal, enquanto vontade. As formas racionais da consciência não passa­
riam de ilusórias aparências e a essência de todas as coisas seria
VIDA E OBRA
alheia à razão: "A consciência é .1 mera superfície de nossa. mente, 
da qual, como da terra, não conhecemos o interior, mas apenas a 
Crosta". O inconsciente representa, assim, papel fundamental na filo­
sofia dç Scbopenhauer Sob esse aspecto, o autor de O Mundo como 
Vontade c* Representação antecipou-se a alguns dos conceitos mais 
importantes da psicanálise fundada por Sigmund Preud >11856-1939). 
O próprio Freodreconheceu a importância das idéias de Schope- 
nhàuer, em um de seus escritos afirma que certas considerações so­
bre a loucura, encontradas no Mundo como Vontade e Represo ora­
ção, poderíam 'Yigorosamçntç, sobrepor-se à doutrina da repressão".
XI
Viver é sofrer
No sistema d<? Schopenhauer, a vontade é a raiz metafísica do 
mundo c da conduta humana; ao mesmo tempo, c a fonte de todos 
os sofrimentos. Sua filosofia é, assim, prolundamenie pessimista, pois 
a vontade é concebida em seu sistema como algo sem nenhuma meta 
ou finalidade, um querer irracional e inconsciente, bondo um mal ine­
rente à existência do homem, ela Rera a rinr, necessária e inevitavel­
mente, aquilo que ê conhece rnmo felicidade seria apenas a inter­
rupção temporária de um processo dc infelicidade c somente a lem 
hrança de um sofrimento passado criaria a ilusão de um bem presen 
te. Para Schopenhãuer, o prazer é momento fugaz de ausência de dor 
c náo existe satisfação durável. Todo prazer é ponto de partida de no­
vas aspirações, sempre obstadas e sempre em luta por sua realização; 
"Viver d sofrer"
Mas, apesar de todo seu profundo pessimismo, a filosofia de 
Scbopenhauer aponta algumas vias para a suspensão da dor. Num pri­
meiro momento, o caminho para a supressão da dor encontra-se na 
contemplação artística. A contemplação desinteressada das idéias se­
ria um ato de Intuição artística e permitiría a contemplação da vonta­
de em si mesma, o que, por sua vez, conduziría ao domínio da pró­
pria vontade. Na arte, a relação entre a vontade e a representação in- 
verte-se, a inteligência passa a uma posição superior e assiste à histó­
ria de sua própria vontade, cm outros termos, o inteligência deixa de 
ser atriz para ser espectadora. A atividade artística revelaria as idéias 
eternas através de diversos graus, passando sucessivamente pHn arqui­
tetura, escultura, pintura, poesia lírica, poesia trágica, e, finalmente, 
pela música Em Schopenhauer, pela primeira vez na história da filo­
sofia, a música ocupa o primeiro lugar entre todas as artes. Liberta de 
toda referência especíliCJ j<js diversos objetos da vontade, a música 
podería exprimir a Vontade em sua essênc ia geral e rndiferenciada. 
Constituindo um meio capaz de propor a libertação do homem, em fa­
ce dos diferentes aspectos assumidos pela Vontade.
No Nada, a salvação
A libertação proporcionada pela arte, segundo Schopcnhauer, 
nàn é, contudo, Tarai e completa A arte significa apenas um distancia­
mento relatívamente passageiro e náo a supressão da Vontade. Para
XII SCHOPEMHAUER
que atinja a libertação, ú necessário que o homem ascenda ao nível 
da conduta ética, a qual representa uma etapa superior no processo 
de superação das “dores Ha mundo' - A érira de Sçhopenhauer não 
está, contudo, presa à noção de 'dever'; Sebo penha uer rejeita a> for­
mas. imperativas de íilosoíia que sáor para ele, formas de coerção. 
Sua ctica nao sc apoia em mandamentos, antes na, noção de que a 
contemplação da verdade é o caminho de acesso ao Ijern. Para Scbo- 
penhauer, o egoísmo, que taz do hornpm o inimigo do homem ad­
vêm da ilusão dc vontades independentes que afirmam seus ímpetos 
individuais- A Superação do egoísmo somente snna possível mediante 
o conhecimento da natureza única universal da Vontade. Como con­
sequência moral do desaparecimento dc sua individualidade, o ho­
mem pode tornar-se bom, au espírito de luta lunira os semelhantes se 
sue-se o espírito de simpatia. Libertado, pebt etapa ética, o homem 
atinge o princípio que é o fundamento de Ioda verdade moral: "Não 
prejudiques pessoa alguma, sê bom com todos"
tssn ética da piedade e da comiseração, segundo Si hopenh.iiM-r, 
encontrou sua mais acabada expressão nos evangelhos, onde ' arrr.i ti 
teu próximo tumu a U mesmo ' constitui o princípio fundamental da 
c.pnduta. Mas nem mesmo a ética d.i piedade possibilitaria ao ho­
mem atingir a felicidade última Para SchopenhuUtír, u mais completa 
forma de salvação para o homem somente pode ser encontrada na re­
núncia quirticM no mundo e a todas as soas solicitações, na mortifica­
ção dos instiulus, na autounuluçju da vontade t* na fuga para o Na­
da: "...desviemos um instante os olhos de nossa própria ind&fineia e 
dc nosso limitado horizonte, levemo-lo sobre usses homens que ven­
ceram o mundo nos quais a vontade, atingindo a perfeita consciência 
riu si. se reconheceu em tudo que existe c* livremente renunciou a si 
rnevma então, em vez rlesvu tumulto de aspirações sem fim, em vez 
di!$w> passagens constantes do desejo ao medo, da alegria ao sofri­
mento, em VG2 dessas esperanças sempre inafcançadas t» sempre- re- 
nascentes, que fazem da vida humana, enquanto animada pela vonta­
de, um sonho interrompido, nãu perceberemos mais do que esta paz, 
nvu>. preciosa que todos os tesouros da razão, ,1 calma absoluta do es­
pírito, esta serenidade imperturbável, cal tomo Rafael e Corrogio a 
pintaram na*, figuras de seus santos e cujo brilho deve ser para nós a 
mais completa c verídica anunciação da bo.i nova- a vontade desapa­
receu; subsiste apenas o conhecí monto1".
Cronologia
178S — tm a 22 de teverein nasra Anhut .Vrhzip̂ rt/t uj r̂
17£E9 — A 14 rle inibo, eeludi1 j Revolução Francesa.
1794 — Fichet publica Os Principio* Fundamenteis dà DotiCíii't,i í/ i rim ou. 
1A07 — Sthopcfih&uer ingressa rta l i tco dc Weimar. Publicação da h«ü- 
menobgid do Espírito, do Hegpl
18*3 — üe/icTpenhjuer doutora-v* pela Unrversidjdo dc Sc-rlim coiíi a te.se 
Sobra a Quádrupla Raiz do Princípio dc Razão Suficiente, Nas-ec Sõrj n 
Kjcrlççgaard,
VIDA E OBRA XII]
1816 ücfitspvníiüuúr pubiicj. tfttav >* Vî uo c üs Coras,.
181 & — NaKje Ka»l Mar*,
1819 — Publicação de (_> Mundo cnmu Vontade r* Representação, de 5'cho- 
fjenbai/cr.
1831 — Comic inida o publicação de y?u Corso de FHgíoüj PcoíjW. Morre 
Hegel.
1H3 ̂ Morre Goethe,
1835 - Nasce johannos Brahms. loeciueville publica a primeira parte efe A
Democracia na América.
1&40 — PfOüdhon publica Q que é a Propriedade?
1841 — ÊtZ&íftH© Ds Oois, Problemas Funcíimeníais dit Ética, dc Settope- 
nhíKfcr.
1544 Ninwr Frrrdrirh Wilhelm Nietzscbb
1 a& 1 Tnhopt nhautr pu bítGl P-irerg.i c Paralipomeníi 
I fííiO Morre a Ui de r̂Srmhm, em Pfanhtur(̂ </li(V <i Merw,
Bibliografia
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/ivisni II Arthnr $c'hofH'ttb,fuér: bii Life and Phitmaphc, Londres I‘l32 .
O MUNDO COMO 
VONTADE E REPRESENTAÇÃO*
( III PARTE)
Oh nichl Nalur zulcízl
sich doch crgrunde.?**
G ucihc
Seleção e tradução dc Wolfgang l^o Maar
* I raduzido do original alemão .4rthur Schopzrifuiutf — Sámlliche Werke. 2.“ edição. Kbcrhaid Hroefc 
hríus Verlag. Wicsbadcn. 3 vol. I. livro III. pp. f09 — .1 Ití.
** Mio « havefá dc Mrtvprcsridüí por fiui a narnrataem s.m âmago? (N, doT .)
L I VRO III
O MUNDO COM O 
REPRESENTAÇÃO
CONSIDERAÇÃO SEGUNDA
"A representação independente do principio do razão:
A idéia platônica: o objeto da arte.*'
T ilò mèn ad , gênesin rfè ouk èkhôn; küi u
íò xignómaion m< /t kat ap#lh‘>ncnont (faias ttv
oudéptttt' Õn; * Phi tãa
* f>que ê sempre, sem possuir origem? Que co que sais c o que Ipi, mwa rcssJmente nunca é? <l\. di< T.j
§30
Apresentado no primeiro livro como pura representação, objeto para um 
sujeito, consideramos o mundo no segundo livro por sua outra fitee v verificamos
eomu esta é vontade, que unicamente se mostrou cómo o que aquele mundo è 
alémdia reprcsuniação; em conformidade, denominá'vamos o mundo como repre­
sentação. no todo ou em suas panes, a objetividade da vontade, quer dizer: a von 
tadlc tornada objeto, i. c.. rcprcsuntaçda. Recordamos também que tal objetivação 
da vontade possuía graus numerosos. porém determinados, em que. COm clareza e 
perfeição gradual mente crescente, a vontade surgia na representação, i. e.. se apre­
sentava como objeto. Reconheciamos as idéias de Platão em tais graduações, na 
medida cm que estas são as espécies determinadas, ou as formas e propriedades 
invariáveis originárias dc todos os corpos naturais, orgânicos ou inorgânicos, 
como também as forças genéricas se manifestando conforme leis naturais. Tais 
idéias, portanto, sc manifestam em indivíduos e particularidades inumeráveis, 
comportando sc como modelo para estas suas imagens. A muHiplidda.de dc tais 
indivíduos é concebível unicamente mediante o tempo e o espaço, seu, surgir u 
desaparecer unicatltemc mediante a causalidade, em cujas formas reconhecemos 
somente us diversas modalidades do princípio dc razão, princípio último dc toda 
rmiiude, toda individuaçào. fôrma geral da representação, tal como esta se da na 
consciência do indivíduo como tal. A idéia, porém, não sc submete àquele primei 
pio: por isto não experimenta pluralidade nem mudança. F.nquanto os indivíduos 
em que sc manifesta são inumeráveis e nascem e perecem irteessantememe. cia 
permanece invariavelmente a tnesmiu e paru d;t o princípio cie razão não possui 
signif cado algum. Vias como csic é :t fôrma sob a qual sc encontra todo conhecí 
mento do sujeito, enquanto este conhece coma indivíduo, assim as idéias sc loeali 
zarão totalmetue fora dá esfera do conhecimento do sujeito como tal. Portanto, se 
as tdéías devem sc tornar objeto do conhecimento, a condição é a supressão da 
individualidade no sujeito cognoscentc. Esclarecimentos mais acurados e porme­
norizados sobre este assumo ru>s ocuparão a seguir.
§ 3!
Antes de iniciar, seja a seguinte observação essencial, Espero ter sido bem 
sucedido no livro precedente no formar a convicção de que aquilo que e denomi­
nado coisa em m na filosofia dc K.ant, apresentado em doutrina sabre modo 
importante, porem obscura e paradoxo, sobre iudy devido ã maneira pela quál
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KafiE a introduziu, concluindo do efeito para a causa, era encarado como pomo 
conflitante, e até mesmo como o lado débil de sua filosofia, que isto, assim pre­
tendo. quando íitinuido pelo caminho bem diverso por nós percorrido, nada mais 
é do que a vontade, na esfera deste conceito ampliada c determinada do modo 
indicado, Espero, além disto, que não se hesite em reconhecer, feita a exposição 
precedente, nos graus determinados da objctivaçào desta vontade, que é o cm sí 
do mundo, aquilo que Platão denominou, as idéias eternas, ou as formas imutáveis 
(eidê) que, reconhecidamente o dogma principal, mas simultaneamente mais obs­
curo e paradoxo de sua doutrina, constituiu-se cm objeto de meditação, de discus­
são. dc escámio e de admiração por parte de espíritos numerosos e diversos 
durante séculos.
Sendo a vontade a coisa em si, e a idéia a objetividade imediata desta vonta­
de em um grau determinado, atinamos com a coisa em si du Kant e a i d cia dc Pla­
tão, única que lhe é ôntós ónt estes dois grandes obscuros paradoxos dos dois 
maiores filósofos do Ocidente, não como idênticas porem estreitamente afins, e 
distintas apenas por uma única determinação. Ambos estes grandes paradoxos 
formam mesmo, justameriie por se enunciarem dc modo tâü diverso, dadas as 
individualidades extraordinariamente diferentes dc seus uutures. c malgrado toda 
sua concordância e afinidade internas, o melhor comentário um em relação ao 
Outro, ao sc assemelharem a dois caminhos bem distintos conduzindo à Objetivo 
único. Isto permite esclarecimento em poucas palavras, Com efeito, o que Kant 
diz e essencial mente o seguinte: Tem po, espaço e causalidade não são determi­
nações da coisa cm si mas pertencem unicamente a seu fenômeno, na medida Cm 
que não passam dc formas de nosso conhecimento. Mas como toda multipli­
cidade e todo surgir e fenecer são possíveis unicamente mediante tempo, espaço 
e causalidade, também aquelas pertencem apenas ao fenômeno, c de modo algum 
à coísa cm si. Contudo como todo nosso conhecimento 6 condicionado por aque­
las formas, toda a experiência é apertas conhecimento do fenômeno, não da coisa 
cm s i: por isto suas leis não podem ser aplicadas à coisa em si Isto é válido inclu 
ãve para nosso próprio cu. que nós conhecemos unicarncntc como fenômeno, e 
não pelo que possa ser em si”. Eis., com respeito ao ponto importante conside­
rado, o sentido c conteúdo da doutrina dc Kant, Por seu lado. Platão afirma: wAs 
coisas deste mundo, percebidas por nossos sentidos, não possuem ser verdadeiro: 
elas sempre vêm a Sêr, mas nunca são: possuem apenas um ser relativo, são em 
conjunto apenas em e mediante sua relação recíproca: assim é possível denomi­
nar tndo seu ser aí um náo-ser Fm consequência também não aao objetos dc um 
conhecimento propriamente dito (ep is teme), pois este é possível quanto ao que é 
em c para si e de um modo sempre idêntico: elas porém são apenas o objein de 
uma suposição sugerida pela sensação (dôxa m e i1 aisíhéseos a togou). Enquanto 
limitados à percepção das coisas, parecemos homens em uma caverna escura, 
atados de m aneira tal que impossibilite mesmo os movimentos da Cabeça, e que 
nada vissem além das silhuetas de COisas reais projetadas cm uma parede à sua 
frente pela luz de um fogo aceso por trás de suas COSIfls, inclusive uns em relação 
aos outros C mesmo cada um quanto a si próprio: somente as sombras naquela
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parede. Sua sabedoria, porém, constituir se ia na previsão da sequência daquelas 
sombras, aprendida por experiência. Por outro lado. que pode ser denominado 
única e verdadeiramente existente (ontâs ón) porque sempre é. mas nunca vem a 
ser. nem deixa de ser. são os modelos de Laís imagens; as idéias eternas, as formas
originais de todas as coisas. Não lhes cabe a multiplicidade: pois cada uma e. con­
forme sua essência, unicamente enquanto c o próprio modelo, cujas reproduções 
ou sombras são todas as coisas da mesma espécie, de igual nome. indivi­
duais e transitórias. Também não possuem começo c nem Jim, pois são verdadei 
ramente existentes, nunca porém o que começa, nem o que termina, como suas 
cópias perecíveis. (Estas duas determinações negativas contêm necessariamente o 
pressuposto, porém, de que tempo, espaço c causalidade não possuem significado 
nem validade para as idéias, que não existem nestes.) Assim, apenas delas pode­
mos ter uni conhecimento propriamente dito. uma vez que pode ser objeto deste 
unicamente o que existe sempre e sob qualquer consideração (portanto em si), e 
não o que exisle. mas também não existe, conforme seja enfocado '. Esta é a dou-
irinn de Platão. 1: evidente, e não requer qualquer comprovação adicional, que o 
sentido interno de ambas as doutrinas é totalmente o mesmo, que ambas explicam 
o mundo visível como um fenômeno, sem existência cm si, c que somente 
mediante o que nele se manifesta (para um, a coisa em si. para outro, a idéia) pos­
sui significado c realidade emprestada: realidade esta porém, vcrdadciramenle 
existente, a que, conforme ambas as doutrinas, todas as formas daquele fenôme 
no. mesmo as mais gerais c essenciais, são inteiramente estranhas, Para negar 
estas formas. Kam as encerrou em expressões abstratas c por assim dizer negou 
ã coisa em si o tempo, o espaço e n causalidade como meras formas do fenômeno. 
Platão, por outro lado. não atingiu a expressão mais elevada, c recusou aquelas 
formas somente de modo m ediatizado, às suas idéias, ao negar a estas o que uni 
camente é possível mediante aquelas, ou seja. a multiplicidade do análogo, o sur 
gii è o desaparecer. Por redundância, contundo, desejo ressaltar ainda com um 
exemplo aquelapeculiar e importante concordância. Esteja frente a nós um ani 
mal em sua vitalidade plena. Platão dirá: "Este animai não tem uma existência 
verdadeira, mas somente uma aparente, uni devir constante, um ser ai relativo,
que pode ser chamado tanto nâo-ser quanto um ser. Verdadeiramente existente è 
apenas a idéia que se reproduz naquele animal, ou o animal em si mesmo (auto tò 
thêrion). de tudo independente, mas existindo em e para si fkath 'eauíô. aei hosau 
íôs), sem começo, sem fim. porém sempre do mesmo modo (aei ón, kai 
medepote oúíc gignómcnon. oúíc apollymenon). Portanto, enquanto rcconhc
cemos neste animal a sua idéia, é totalmenie indiferente e sem significado o ter
mvs frente a nós agora esie animal, ou seu ancestral de um milênio, que o local 
seja este ou num país distante, que se apresente desta ou daquela maneira, posi 
çào ou ação. que finalmente seja este ou aquele indivíduo de *uu espécie: islo tudo 
não existe e refere se som ente ao fenômeno: unicamente a idéia do animal possui 
existência verdadeira e é objeto de conhecimento real". Assim Platão. Kant diria
por exemplo: “Este animal é um fenômeno no tempo, no espaço c na causalidade 
que todos são as condições a priori da possibilidade da experiência que w eneon
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iram cm no^su capacidade cognitiva, c não determinações da coisa cm si. Por isto 
este animal, tal como o percebemos neste instante determinado. nesLe dado local, 
em conexão com a expericncia. i. e.. a cadeia de causas c efeitos, como um indiví­
duo que teve inicio e Ju mesmo mudo necessariamente terá fim. não c um ser em 
si, mas um fenômeno válido apenas em relação ao nosso conhecimento. Paru se 
conhccc-lo no que possa ser em si, consequentemente independente de todas as 
determinações situadas no tempo, no espaço c na causalidade. >eria necessário 
um modo de conhecimento outro do que o único que nos é possível, através? dos 
sentidos e do entendimento".
Aproximando ainda mais o enunciado kantiano do platônico, diriamos: 
tempo, espaço c causalidade sào aqueles dispositivos de nosso intelecto graças a 
que o scr único de qualquer espécie. propriamente existe-niL*. sc nos apresenta 
como uma multiplicidade de seres de mesma espécie, num nascer e perecer inces 
$antemente renovado, numa sucessão infinita. Tomar as coisas mediante c con­
forme dito dispositivo o a apercepção titianenla: mas fazê-lo com consciência do 
processo empregado constitui a apercepção trurtòcefidÈiUctí, lista última atingi 
mos in absíracto pela crítica da razão pura , contudo cxccpcionaímente ela pode 
se verificar também de modo intuitivo. fc:stc adendo final é meu. que mc esforço 
por uclurar com este terceiro livro.
1 ivesse jamais a doutrina kantiana. tivesse, a partir de Kant, a doutrina pla­
tônica sido efetivam ente compreendida c interpretada, houvesse sido meditado 
com fidelidade e seriedade sobre o sentido e comaúdo interno das doutrinas de 
ambos os grandes mestres, em vc/. de empregar a torto e u direito os termos de um 
e parodiar o estilo de outro; não se subtrairía o reconhecimento de quanto ambos 
os grandes sábios concordam, e o significado estrito. o objetivo de ambas as dou­
trinas, é cstríunicnie o mesmo. Não somente não nc teria comparado constante 
menie Platão c Leibniz. quem de modo algum sen espirito inspira, ou até com um 
conhecido senhor1 ainda vivo. como a zombar dos manes do grande pensador da 
antiguidade; mas icr se ia de um modo geral muito ulém do que o feito, nu 
melhor, nào se teria retrocedido de modo tão ignominioso como nestes derra
dcirtxs quaruut.i anus; nào sc teria sido logrado, hoje por um, amanha por outro 
cabeça de vento, c nào se lería inaugurado na Alemanha o século XIX. tão 
promissoramente significativo, com farsas filosóficas aprcseniâdíus sobre o túmu 
lo de Kant (como ocasionalmente os antigos durante os funerais dos seus), sob o 
justo escárnio de outras nações, visto ser o alemão, sério e mesmo cerimonioso.
0 menos indicado para tanto. Porém tão restrito é o público efetivo de filósofos 
verdadeiros, que, mesmo os discípulos que compreendem, lhes são conduzidos 
mui parcamente através dos séculos. Ei si dè nanhekophúroi mèn poiíoi, bákkhoi 
dè ge paurói. (Thyrsígeri quidem mulíi. Bacc/ti vero p a u c ij2
He aiimia philosophia dià tauia prospâploken, hôti ou k a i h t i <ian auíéx 
huplóntüi ou gàr nótfious edei áplesJhai, aílà gnésious. (Ewn oh reni philosophia
' I- ll, Jacobi. (N, do A.)
1 1 1ü muitos úimJutOfCS Jc Tir so. mas somente poucos Bacnnws. (N. Ju T.)
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uí injarniam incidií, quod non pro dignítitte ípsam auinguni: neque cnim a spurm. 
sed a legitímis eraí aitredunda.2 (Platão.)
Estriba vam se nas palavras, as palavras: “representações a priori, Ibrmas 
conscientes do iruuir c do pensar independente da experiência, conceitos primiii 
võs do enitrnc.ilmento puro”, etc., e perguntava sc então sc as idéias de Platão, que 
também pretendem ser conceitos primitivos e alem disto também reminiscências 
de uma intuição das coisas vçrdadeiramcntc existentes, anterior à vida, nao seriam 
idênticas com as formas kantianas do intuir e do pensar, que se encontram « priori 
em nossa consciência: estas duas doutrinas inteiramente heterogêneas, a kantiana 
das formas, que restringem o conhecimento do indivíduo 40 fenômeno, e a plató 
nica das idéias, cujo conhecimento nega explicitamcnte aquelas formas — estas 
doutrinas, nesta medida diametral mento- opostas, pois que se assemelhavam um 
pouco em suas expressões, eram comparadas com atenção, discutidas quanto à 
sua identidade, concluindo se por lim que não eram mesmo iguais, c inferindo que 
a doutrina das idéias de Platão e a critica da razão de Kant nada possuem cm 
com um .' Mas isto ê 0 suficiente sobre este assunto.
§ 32
Em consequência de nossas considerações anteriores, com toda a coinci 
ciência interna entre Kant c Platão, c a idcnndadc do objetivo que ambos tinham 
cm mente, ou a concepção dc mundo, que os estimulava e conduzia ao filosofar, 
mesmo assim idéia e coisa cm si nào são simplesmente uma e n mesma: mas a 
idéia c para nós somente a objetividade imediata, c por isto adequada, da coisa 
cm si. que porém cia própria é a voniúde* .1 vontade enquanto ainda não objeti­
vada, ainda nào tornada representação. Pois a coisa em si deve, conforme Kant, 
scr livre dc Iodas as formas presas ao conhecimento como tal: e c apenas um erro 
de Kant (como será mostrado no suplemento). * que ele nào incluísse enirc estas 
formas, ames de tudus us outras, o ser objeto para um sujeito, por ser justamente 
esta a forma primeira c mais geral de todo fenômeno, isto é, representação; eis 
porque ele deveria ter recusado expressamente a sua coisa cm si 0 ser obieto. 0 
que o teria preservado daquela grande ineonscqiicncia, que não sc tardou cm des­
cobrir. A idéia platônica, por outro lado. é necessariamente objeio, algo reconhe­
cido. uma representação, e jusiamente devido a isto. e somente devido a isto, dis­
tinta da coisa em si. Ela se despojou apenas das formas subordinadas do 
fenômeno, todas por nós compreendidas sob o princípio do razão, ou melhor, 
ainda não as adotou; eoniudo manteve a forma primeira e mais geral, a da repre-
J IVv rit, . ,1 fíloíofo caíll Há iiliTmli > pois qui- .1 ela não h j dedicação sufieieme: |x>i ifiic n;"u» <k‘ven:i -.lt 
ucupikçãit Jc cbttiliilúcs, mus ilc |i-mfrv'iii.'iHíiis. IN.íIii I .1
* Veja sc por exemplo: i>nmanud Kant, unt Monumento de Fr. frujj.triwc.fc, p, i'J, c a HLutiria tiu l tlow/iu, 
ile tkible.tomo0. p, st)̂ aiefcis e KJJ. (l\|, u<* A.)
s Tiara sc do .idrsndo aft I " vol. ,|f 0 Mundo Como Vontade r* Kcptcu-utuçeó. que sc dciximinn CnV/ra da 
Jiiusojui kunòana, e que pwln a seguinte epiprafe: "C'ex< pririlèt;e iht orai fiénie, et surtáM du néttie uul
ouvre unt camcrc, tkfuirc tmpunemem dc çrarrdes Jaua-y ", (Vultaire.) (£ 0 privilegie do verdadeiro gênio, 
l- cohrctudíi rínquelcque abrç novos ru mm. de fa/çr impunetnenle ̂ rurulcserros'.} 1N, do T.)
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sen fação em geral, do ser objeto paríi um sujeito. Às formas a esta subordinadas 
(cuja expressão geral é o princípio de razão) multiplicam a idéia em indivíduos 
singulares e transitórios cujo número é imetrameme indiferente à idéia. O pr inc í ­
pio de razão c portanto novamente a forma adotada pela idéia, ao cair no conhe­
cimento do sujeito enquanto indivíduo. À coisa individual que aparece em confbr 
midade com o princípio de razão é portanto somente uma objetivaçãa medi ata da 
coisa cm si (que é a vontade), entre as quais se encontra a idéia, como a única 
objetividade imediata da vontade, ao não adotar forma alguma própria ao conhe­
cer como tal. senão a da representação cm geral, i. çr, do ser objeto para um sujei­
to, Por isto também unicamente ela é a ohjerivaçâo mais adequada da vontade on 
coisa em si, é ela mesma toda a coisa em si. apenas sob a forma da representação: 
é nisto reside o motivo da grande concordância entre Platão c Kani„ embora, a 
rigor extremo, o dito por ambos não seja idêntico. As coisas individuais porem 
não são uma objetividade da vontade bifeiramcnte adequada, mas aqui esta já se 
encontra ubscurecida por aquelas formas, cuja expressão comum è o princípio de 
razão, que constituem, contudo, condições do conhecimento, tal como esíti e pos­
sível ao indivíduo enquanto tal. De fato. se Fosse permitido concluir a partir de 
um pressuposto impossível, nós não mais conheceriamos coisas individuais, rvem 
acontecimentos, nem mudanças, nem multiplicidade, mas somente idéias, somen­
te 05 graus da übjdJvação daquela vontade unica. da verdadeira coisa cm si, se­
riam captados com conhecimento distinto, e cm consequência nosso mundo seria 
um Nunc stans; s e não fôssemos, como sujeito do conhecimento, simultânea 
mente indivíduos, i. e.„ nossa intuição não fosse medíaUzada por um corpo, de 
cujas afccçcMís ela parte, e ele próprio apenas vontade eonçrçta, objetividade do 
desejo, portanto objeto entre objetos, e como tal, na medida em que penetra nn 
consciência conhecedor a, pode faze lo apenas nas formas do principio de ra/.ão, 
£ consequentemente pressupõe e jissím introduz c tempo e todas as ouiras formas 
expressas por aquele principio. O tempo é somente a visão dispersa e dividida 
possuída por um ser individual das idéias que estão fora do tempo, e portanto são 
eternas; por isto Platão afirma que o tempo e a imagem móvel da eternidadeiaió- 
nos eíkori feinetè ho khrônns.1
Uma vez que, como indivíduos, não temos conhecimento algum fora do 
subordinado ao princípio dc razão, porém esta fôrma exclui o conhecimento das 
idéias, é certo que. se for possível nos elevarmos do conhecimento dus. coisas indi 
viduais ao das idéias, isto somente pode se verificar peta ocorrência de uma irans 
formação no sujeito, correspondente e análoga àquela grande mudança de todo o 
mudo do objeto, e mediante 0 qual o sujeito, enquanto conhecendo ttma idéia, não
è mais indivíduo.
§ 33
11 Scr níi pruscsilc. (Mi llO T.)
0 tempo è 0 quadro cm movimento da eternidade. (N.dn T.) Veja se eap. 20 do !•> voi. Ué o a 1 
fN. do A.)
O M U N D O C O M O V O N T A D E C R E P R E S E N T A Ç Ã O 11
Sabemo.s peto Eivro precedente, que o conhecimento em gerai pertence cio 
próprio à objetivaçao da vontade em acus graus mais elevados, e que a sensibili­
dade. os nervos, o cérebro, como outras panes do ser orgânico, constituem ape­
nas expressão da vontade neste grau de sua objetividade, e portanto a répresen 
tação por eis produzida está igualmente destinada ao serviço daquela como um 
meio (mekhané) para atingir seus agora complexos (pofyteíéstera) objetivos, para 
a manutenção de um ser provido de múltiplas necessidades. Origina!mente, por- 
tanro. e conforme sua essência, o conhecimento é útil à vontade, e. assim como o 
objeto imediato que, com a aplicação da lei da causalidade se torna *eu ponto de 
partida, e somente vontade objetivada, assim também todo conhecimento resul­
tante do princípio de razão se mantêm numa relação mais ou menos estreita com 
a vontade. Pois u indivíduo encontra seu corpo conto um objeto entre objetos, 
com iodos eles mantendo variadas relações c proporções conforme o principio de 
razão, cuja observação* portanto, por vius mais ou m cri os extensas, sempre recòfl 
duz a.o seu corpo, logo à sua vontade. Como è o princípio de razão que situa os 
objetos nesta relação com o corpo, c por isto com a vontade, o conhecimento ser­
vidor desta também se empenhara unicamente em conhecer dos objetos justa 
mente as proporções estabelecidas pelo princípio de razão» portanto em seguir 
suas diversas relações no espaço, tempo e causalidade. Pois é somente graças a 
estas que o objeto éjnierçs&ante ao indivíduo, i. ç., possui uma relação com a 
vontade. Por isto o conhecimento a serviço da vontade conhece dos objetos prati­
ca mente nada além dc suas relações, conhece os objetos somente enquanto exis­
tem neste momento, neste local, sob tais circunstâncias, por tais causas, com 
estes efeitos, em uma palavra, como coisas individuais; e suprimindo todas estas 
relações, também os objetos desapareceríam ao conhecimento, que deles, noda 
mais conhecería. Não devemos também dissimular que o que as ciências çonsi 
deruru nas êuisas de igual modo constitui essencial mente nada além daquilo» ou 
seja, suas relações, as relações dc tempo e espaço, as causas de transformações 
naturais, a comparação das configurações, os motivos dos acontecimentos, poi 
tanto nada senão relações. O que as distingue do conhecimento comum c apenas 
sua Ibrma, o sistemático» a lacilitação do conhecimento pela reunião dc todo o 
individual no geral, mediante a subordinação dos conceitos, c pela comploteza 
desie-. avdm adquirida. Toda relação possui cia m onta somente uma existência 
relativa: por exemplo, todo ser no tempo é também um não sen pois o tempo é 
apenas aquilo mediante o que podem corresponder à mesma coisa determinações 
opostas; por isto todo fenômeno no tempo também npo í - pois o que separa seu 
começo de seu fim é justamente apenas o tempo, algo esscncíaUnente passageiro, 
desprovido dc substância e relativo, aqui denominado duração. Ü tempo, porém, 
c a forma mais geral de todos os objetos do conhecimento a serviço da vontade 
e o protótipo das domais formas do mesmo.
Regra geral, o conhecí mento permanece sempre sujeito ao serviço da vonta­
de. dado que se form ou para este serviço, c mesmo emergiu da vontade assim 
como a cabeça emerge do tronco. Kúa. animais, esta serviçalidade do conheci­
mento sob a vontade nunca pode ser suprimida. Nos homens, esta supressão
12 s c h o p e n h a l f .r
ocorre somente como exceção, tomo a seguir veremos mais de perto. Esta distin­
ção entre homem e animal é expressa externamente pda diferença da relação da 
cabeça com o tronco. Nos animais interiores ambas as partes se acham ainda sol 
dadas homogeneamente; cm todos, a cabeça está úrienlada para a terra, onde se 
encontram os objetos da vontade; mesmo nos superiores, a cabeça e o tronco per­
manecem unos de modo mais aceiiLuado do que no homem, cuja cabeça parece 
livremente assente sobre o corpo, apenas portada por este. sem servi-lo. Este 
privilegio humano, o apresenta cm seu mms alto grau o Apoio de Belvederm u ca­
beça contemplado™ do deus das musas de La3 modo se ergue livre nos ombros, 
que parece liberta inteiramente do corpo, e desobrigada de cuidados com ele
$ 34
Esta transição possível, porém, sempre excepcional, do conhecimento 
comum de coisas individuais, ao conhecimento da idéia, ocorre de modo repenti­
no. ao arrancar-st- o conhecimento .ao serviço da vontade, por cessar precisa­
mente o sujeito de sei meramente individual, tornando-se agora sujeito puro do 
conhecimento, destituído de vontade, não mais se ocupando, conforme o princi­
pio de razão, das relações: mas repousando e sendo absorvido na contemplação 
firme do objeto oferecido fora de quaisquer conexões com outros.
Isto requer, para sc 1 ornar claro, necessariamenteum exame pormenorizado, 
tan cujas estranhe/as não há que se detér. pois desaparecerão por si. eoncuEentido 
o conjunto do pensamento u ser exposto nesta obra.
Quando, erguidos pela força do espirito, abandonamos o modo comum de 
examinar as coisas, cessando de acompanhar somente suas relações entre si. cujo 
objetivo último é sempre a relação com a própria vontade, pelo fio condutor dás 
configurações do princípio de razlu, sem mais considerar nas coisas o onde, 
quando, por que c para que. mas única c cxclusivumcnte o que, nào permitindo 
também que se aloje na consciência o pensamento abstrato, os conceitos da 
razão; entregando porém todo poder de nosso espírito à contemplação, submer­
gindo nesta íntei remonte. permitindo o preenchimento pleno da consciência pela 
tranquila contemplação do objeto natural ocasional malte presente, seja uma p,ii 
sagem. uma árvore, um rochedo, uma construção, ou o que for; ao nos perdermos 
inteiramente neste objeto (slch %Qim~ltch in diesen Gegenstand verlisrt). num 
% nifieat:vo modo de expressão alemão, .ou seja. esquecendo nosso indivíduo, 
nossa vontade, continuando a subsistir somente como sujeito puro. límpido e;*pc 
llio ú*.i objeto; de tal modo que tudo se passasse, como se existisse unicamente o 
objeto, sem alguém que o percebesse, nào se podendo mais distinguir portanto a 
intuição do seu sujeito, mas ambos se tomaram um, ao ser a consciência plena 
meme preenchida e ocupada por uma única imagem intuitiva; quando, portanto, 
ü objeto abandonou toda relação com algo externo a ele. e o sujeito toda relação 
com a vontade: erttão o que c conhecido não é mais a coisa individual corno tal; 
mas ê a idéia, n forma eterna, a objetividade imediata da vontade neste grau; e 
precisamente por isto q referido nesta intuição já não é indivíduo, pois o índiví-
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duo mu perdeu numa tal intuição: mas ele è sujeito puro do conhecimento* desti­
tuída de vontade, de dor. de temporalidade. Esta afirmação tào surpreendente por 
ora (de que nâo ignoro confirmar a expressão proveniente de Paine, clu
subtitne au ridicule ii « > a qu 'un p as)* tornar-sé a pelo que segue gradativa 
mente mais ciara a menos estranha, Também rida pensava Espinosa, ao escrever: 
mens aeterna esK quatenus res sah aetemitotis specfe eondpit* (Ética V. prop. 3 1. 
SChol,)10 Numa tal contemplação, dc um só golpe a coisa ind ividual se torna a 
idéia de sua espécie, e o indivíduo que intui, o sujeito puro do conhecimento, O 
indivíduo como tal conhece apenas coisas individuais; o sujeito puro do conheci­
mento, somente idéias, Pois 0 indivíduo c o sujeito do conhecimento cm Sua rela­
ção com um fenômeno individual determinado da vontade, dé quem é servidor, 
Este Fenômeno individual da Vontade, como tal c subordinado ao princípio dc 
razão cm todas as configurações: todo conhecimento que se refere ao mesmo pro­
cede por isto também do principio de razão, e a propósito da vontade também ne­
nhum se presta a nâo scr este, que maEitémi sempre somente relações com o obje 
to, O indivíduo que conhece, como tal. e a coisa individual por de conhecida, 
sempre estão em algum lugar, um momento. e são membros da cadeia de causas 
c efeitos. O sujeito puro do conhecimento, c seu correlato, a idéia, se formaram a 
partir dc todas aquelas formas do princípio dc razão: o tempo. 0 local, 0 indiví­
duo que conhece, e o indivíduo que e conhecido, não possuem significado para 
cies, V. primeira mente na medida em que um indivíduo conhecedor eleva se a 
si próprio, do modo descrito, a sujeito puro do conhecimento, c com tsio também 
0 objeto ob servad o , a idéia, que aparece puro e por inteiro O m u n d o c o m o repre 
sentação, s ocorre a objetivaçao perfeita da vontade, já que unicamente a idéia é 
sua objetividade adequada. Esta encerra cm si sujeito c objeto por igual, uma vez 
que estes são sua única forma: nela contudo ambos mantêm estritamente o equilí 
brio; e como também aqui o objeto nada c atém da representação do sujeito, 
a$sim também o sujeito, dissolvendo <íc por inteiro no objeto observado, se torna 
ele próprio este abjeto, na medida cm que toda a conüuiênúiu nada mais é além da 
imagem límpida deste, fi justaraente esta consciência, coneehida como traspas 
sada pela totalidade ordenada das idéias, ou graus da objetividade da vontade, 
que constitui propriamente todo o mundo como representação. As coisas indi 
viduais de todas as épocas e lugares, nada mais s |o do que as idéias, multípli 
cadas pelo princípio dc razão (a forma do conhecimento das indivíduo*; como 
tais), e por isso turvada cm sua objetividade pura. Assim como. ao surgir a idéia, 
não são mais distinguíveis nela sujeito e objeto, porque é somente quando estes se 
complementam e se interpenetram çompletamente. que se forma a ideiã. a objeii 
vi d ade adequada da vontade, o mundo como representação propriamente; do 
mesmo modo também o indivíduo que aqui conhece, e o que é conhecido ja não
* Do sublitne aO riJíaulo nialià mais Jn que um passe'. (N. doT.I
" O-e-Hpii-iui i eicmci en queime- upnwndc Sv COiAttido ponto de visia ijil VltrmiJnde. iN eU T-l
Recomendo lambem íi que afirma em L. II. prop. 40, sehoÈ. I, e ainda L. V, prop. 25 » 33. -.obre o cognt 
U0 IfW-f gmi-ris, siveimvíiiva* para elucidar o rciinlo de ceníiscamento aqui referido, e p^ciiLulafiiience prop, 
29. çolrwl.; prop 16. sehAl. ê pfíip. 38 demwistr. c sdmf (N. dn A.1
"O conhecimento da, teitorira espéíio, i e ,o irlultq vo. {N. do T. i
J 4 S C H O P E N H A U E R
são diterenciáveis. Pois se abstrairmos inteiramente daquele mimdo como repre­
sentação propriamente dilo, nada resta além do mundo como vontade. A vontade 
é o em-si da ídéia. esta objetivando períeitamente aquela; cEn também è o cm-si da 
coisa individual e do indivíduo que conhece esia: estes objetivando imperfeita* 
mente aquela. Como vontade, fora da representação e de todas as suas formas, 
ela é uma e a mesma, no objeto contemplado, c no indivíduo que, elevando-se por 
esta contemplação, sc torna consciente dc si como puro sujeito: estes dois por isto 
não são em si diferenciáveis, pois cm si são a vontade que se conhece 3 si mesma, 
e 6 somente do modo pelo qual este conhecimento se lhe constitui, i. c„ somente 
no fenômeno, graças à sua forma, o principio de razão, multiplicidade e diversi 
dade. Tampouco cu, sem o objeto, sem a representação, sou sujeito que conhece, 
mas tão somente simples vontade cega; lampouco sem mim, como sujeito do 
conhecimento, a coisa conhecida é objeto, mas tão-somente simples vontade, ím­
peto cego. Esta vontade é em sí. i e.. fora da representação, idêntica com a minha 
própria; somente no mundo como representação, cuja forma c sempre pelo menos 
sujeito e objeto, nos separamos como indivíduo conhecido c conhecedor. Supri 
mido o conhecedor, 0 mundo como representação, nada resta além de simples 
vontade, ímpeto cego, Que d e adquira objetividade, sc lorne em representação, 
instaura dc um golpe, tailto sujeito como objeto: porém que esta objetividade seja 
objetividade pura, perfeita, adequada da vontade, instaura 0 objeto como idéia, 
livre das formas do princípio de razão, 9 0 sujeito como puro sujeito do conhcci 
mento, livre de Individualidade u servidão para a vontade.
Quem do modo descrito se aprofundou e perdeu na intuição da natureza a 
tal ponto de nada ser além de puro sujeito COgnosçente sentirá de imediato que, 
como tal. se constitui nn condição, portanto o suporte, do mundo e de ioda usis 
tenein objetiva, uma vez que esta se apresenta agora como dependente da sua. 
Fie recolhe portanto a natureza cm si mesmo, a senti La somente ainda como um 
acidente de seu próprio ser. Neste sentido Byron diz:
Are noí the mountains, n-auej and skies* a pari 
O f me and 0/ my sou l as 1 0/ lhem .?11
Mas como podería quem isto sentisse, considerar se a si mesmo, em contraste 
com a imperecivel natureza, como absoluta mente perecível? Será muito mais 
arrebatada pela consciênciado proferido pelo Upanichadc dos Vedas:
Hat: omites creatu rae in totum egn siwi,
ct praeter me aliud èns non est, (Oupnekhiat. I, I22 ) 12
§ 35
Para um exame mais profundo da essência do mundo, torna-se indispensável 
aprender a distinguir a vontade como coisa em si, de sua objetividade adequada, 1
1' Nno são si* monunh.)ondas e nuvens, como umu piirw/De mim c dc minha nlimu como eu juirn cias? 
(N. do T.)
12 Sou todas estris criaturas cm eúnjuntD, e (or;.i Jc mim eiia Ii.í nenhum ouiro «cr (N. dó T.) Ver lamhém 
cap. 30 do 2.4 vol. (dc 0 Mundo. I. < N do A I
O M U N D O C O M O V O N T A D E E R E P R E S E N T A Ç Ã O Í5
o s cliver&os graus em que esta aparece de m&do m yís üiíílinLo- e perfeito, i. r.. as 
próprias idéias, do simples fenômeno das idéias na configuração do princípio de 
razão, o modo limitado do conhecimento dos indivíduos* Assim concordaremos 
COm Platão, ao conceder esta eristéncia propriam ente dita somente às idéias, 
reconhecendo. por outro lado. às cuisas no espaço e no tempo, este mundo real 
para o indivíduo, apenas uma existência aparente, ilusória* Eníno nos daremos 
conta como uma e mesma idéia se revela em tantos fenômenos, apresentando sua 
essência aos indivíduos cog nascentes só Iragmentariarnerite. um lado após o 
outro. Disiinguiremos então também entre a idéia mesma. e o modo pelo qual seu 
fenômeno se insere na observação do indivíduo, reconhecendo aquela como 
essencial, esta corno tncpsçncínl. Examinaremos is to por exemplos, primeiro 
numa abordagem mais restrita, depois duma maneira mais ampla. Quando p as­
sam as nuvens, não lhes são essenciais as figuras que elas formam, lhes são indi­
ferentes: mas sim que come névoa d ártica, são comprimidas pelo impacto do 
vento, levadas adiante, dispersas c rompidas: esta é sua natureza, a essência das 
forças que nelas se objetivam, c a idéia: as figuras ocasionais são somente para o 
observador individual. Ao córrego rolando sobre pedras, os remoinhos, as ondas* 
as formações do espuma que ele mostra, sâo indiferentes e inessenciaís: que obe­
deça ao peso. sc comporte como líquido ine-lástiço. corrtplctamcnte sem rigidez,, 
sem forma e transparente; esta é sti;a Ê&s&ncía. esto é, quando itUuirivamente 
conhecida, a idéia; apenas para nós. enquanto conhecendo como indivíduos, há 
aquelas configurações. O gelo na janela se assenta conforme às leis da cristaliza 
çílq, que revelam a essência da força natural aqui aparente, represe mundo s idéia: 
mas as figuras de árvores e flores assim formadas são incsscnctais. c existem ape­
nas para nós. O que aparece nas nuvens, no córrego c nos cristais, é o mais débil 
cCO daquela vontade, que se mus Era de modo mais perfeito no vegetal, mais per 
feito ainda no animal, do modo mais perfeito no homem. Porém somente o essen­
cial de todos aqueles graus de sua objdivação constitui a idéia: mas o desdobra 
mento desta, ao yer estendido em fenômenos -diversos e múltiplos nas 
configurações do princípio da razão: isco è incssencial ã idéia, repousa apenas no 
modo de çonheeimento do indivíduo, c unicamente parti este possui realidade. O 
mesmo vale ncces&ariamenie também para n desdobramento daquela idéia que é 
a objetividade mais perfeita da vontade: em consequência a história da humani­
dade. a agitação dos acontecimentos, a mudança dos tempos, as formas variadas 
da vida humana em países e épocas diferentes, tudo istne apenas a forma aeiden 
tal do fenômeno da idéia, não pertence a esta mesma, em que sc encontra unica 
mente a objetividade adequada da vontade, mns apenas ao fenômeno, que cai no 
conhecimento do indivíduo, e c tão esfranhu, uiessencial c indiferente à idéia ela 
mesma, como são :ix figuras, às nuvens, a forma dos» rem oinhos c das espumas 
para o córrego, as árvores e as llores para o gelo,
Quem entendeu bem tudo isto, e sabe distinguir a vontade da idéia, c esta de 
seu fenômeno, a este os acontecimentos do mundo terão significado somente 
enquanto sào as letras em que é possível ler a idéia do homem, mas nao em e para 
si. Não acreditara com a opinião comum, que o tempo possa produzir algo vertia
S C H O P E N H A U E R
deirameníe novo e importante, que nele Ou por meio dele algo efetivamente real 
adquira existência, ou mesmo que ele próprio, como um todo. possua começo e 
fim. plano e desenvolvimento, e porventura cr)mu objetivo ultimo a perfeição 
Suprema (de acordo com seus conceitos) da última geração du trinta anos. Por 
isto ele não comporá, como Tez Homero, todo um Olimpo com deuses para a 
direção daqueles acontecimentos temporais, nem considerará, como Ossian. as 
figuras das nuvens como seres, individuais, visto que ambas as coisas tem igual 
importância em relação á ideia nelas contida. N íis variadas formações da vida 
humana e nii incessante transformação dos acontecimentos, eíe considerará como 
o durável e essencial somente a ideia. cm que o quUreoviver13 possui sua mais 
perfeita objetividade, e que mostra suas diversas faces nas propriedades, paixões, 
enganos e preferência dá espécie humana, no egoísmo, ódio. amor. temor, audá­
cia, leviandade, esiupíttex. esperteza, humor, gênio, etc., que, se reunindo e combi­
nando em configurações mil (indivíduos), apresentam continuamente a grande c a 
pequena comédia da história do mundo, sendo indiferente se seu móvel c ctmsti 
tuído por nozes ou coroas. Por Um, perceberá que tudo sucede no mundo como 
nos dramas de Gozzi. em iodos os quais se apresentam sempre as mesmas pes 
soas, como igual propósito c igual destino; c certo que o$ motivos c aconteci­
mentos são diferentes em onda peça; mas o espírito dos acontecimentos é o 
mesmo; as pessoas de uma peça também nada sabem dos acontecimentos duma 
outra, em que porém cias mesmas atuavam; por isto. após todas as experiências 
das peças anteriores. Panialeão não se tornou mais ágil ou generoso, Tariaglia, 
mais escrupuloso, Brigucla. unais corajoso, l* Columbina. mnis virtuosa.
Suponhamos que nos fosse dado obter uma visão distinta no reino das possi­
bilidades c sobre todas as cadeias de causas e efeitos. que o espirito do mundo « 
apresetuas.se v nos mostrasse em um único quadro os mais excelentes indivíduos, 
sábios e heróis, destruídos pelo acaso antes do momento dc sua eficácia e 
cnlão os grandes eventos, que [criam transformado a história do mundo e trazido 
períodos da mais alta cultura e esclarecimento. impedidos em seu surgimento pela 
mais cega casualidade, o mais insignificante imprevisto - ftnalmemc as maravi­
lhosas lorças de grandes indivíduos, capastes de fertilizar eras inteiras, que estes 
porém, por engano ou paixão, ou premidos pela necessidade, desperdiçaram 
inutilmente em objetos indignos o infecundos, ou mesmo as esbanjaram por gáa 
dio; víssemos rudo isto. nos horrorizaríamos c lastimaríamos os tesouros perdí 
dos de épocas inteiras. Mas o espírito do mundo se tomaria de um sorriso c d iria; 
k,A fonte de que jorram os indivíduos e suas forças c inesgotável e infinita como 
o tempo c o espaço; pois aqueles são. justameiitc como estas formas de iodo fenô­
meno, também somente fenômeno, visibilidade da vontade. Medida finita alguma 
pode esgotar aquela fonte infinita; e por isto a todo evento, oli obra, sufocada em 
germe, ainda .se apresenta em aberto para o retomo a infinidade intuía, Neste 
mundo do fenômeno há tão pouco prejuízo verdadeifo passível, quanto verda 
deiro lucro. Unicamente a vontade é: ela, a coisa em si. ela. a fonte daqueles fenó
J f)
13 TradwiirtVs tWUtsum Lebat por querer viver, COlfUrmc a versão IronceSa v>ju!uíi i-tw, lN. do I |
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mçnos. Seu autoconhcei mento, e a afirmação t>u negação decidida a partir deste. 
è o unico acontecimento em $FT 1 4
Seguir o fio dos acontecimentos c ocupação dá história: cia ô pragmática ao 
deduzi-los pela lei da motivação, lei que determina a vontade fenoménica ali 
onde esta é iluminada pelo conhecimento. Nos graus interiores de sua objetivi­
dade. em que ainda age sem conhecimento,a lei das transformações de seus fenô­
menos é examinada pelas ciências naturais, como etiologia. e o que nele.? ê 
permanente, corno rnorfologca. que torna mais fácil sua tarefa quase infinita com
0 auxílio dos conceitos, reunindo o geral, para dele deduzir o particular. Final 
mente, as formas puras, em que. para 0 conhecimento do sujeito como individuo. 
as idéias aparecem multiplicíidas. portanto o tempo e o espaço, são examinadas 
pela matemática. Tudo isto. que em comum recebe 0 nome de ciência, obedece 
portanto ao princípio de razão em suas diversas configurações,e seu lema perma­
nece o fenômeno, süas leis. sua conexão c as* relações assim originadas. M asque 
espécie de coriheei mento examinará entáo o que existe exterior e independente de 
toda relação, único propriamente essencial do mundo, o verdadeiro conteúdo de 
seus fenômenos, submetido a mudança alguma c por isto conhecido com igual 
verdade a qualquer momento, em uma palavra, as idéias, que constituem a objeti­
vidade imediata c adequada da coisa em si. da vontade? B :t arte. a obra do gênio. 
Ela reproduz as idéias eternas, apreendida? mediame pura contemplação. o essen­
cial c permanente dc iodos os fenômenos do mundo, e conforme a matéria cm que 
ala reproduz, se constitui em artes plásticas, poesia ou música. Sun única brigem 
c o cpnhecimcnlo das idéias; seu único objetivo, ;i comunicação deste conheci­
mento. Enquanto a ciência, perseguindo a torrente incessante e instável das oau 
sus a dos efeitos., em suas quatro formas, em cada meta ntingida é cfmtinuamente 
forçada adiante, sem poder atingir um objelivo último, uma satisfação plena, 
assim como não podemos correndo alinpir 0 ponto onde a? nuvens locam o hori­
zonte; ao contrário, a arte sempre está em seu ubjetivu. Puis d a arranca do curso 
dos acontecimentos do mundo o objeto de sua contemplação, isolando-o IVemc a 
si; e este alfiü individual, que era urna parte imensamente pequena naquela torren­
te, corna-se seu representante do todo, um equivalente do infíniLamente numeroso 
no espaço c no tempo: d a permanece portanto neste individual, detém a roda do 
tempo, as relações desaparecem para ela. somente o essencial, a idéia, é seu obje­
to. Assim podemos mesmo designa-Ia como o modo dc encarar ax coisas Usdcpeii- 
dentemente da principio de ração, em oposição àquele que a este obedece, que é 
a via da expefiçodu e da ciência. Bs(c ultimo modo é comparável a uma linha 
infinita, horizontal: n primeiro, contudo, ú vertical que a carta em qualquer ponto 
desejado. O que se dá conforme o principio de razão, ê o procedimento racional, 1
1 “ F.ctn ulhnu eiiaçió niu jwnir.ncr rn rertiídsi *?m o livro segui nic, (IV, 0 \htnáo,. . J \ N. Jt> A.)
Ver |mc,i Líuitu vs uip. l ie 14 du Z:' n.i], itu farcr^u t Ptuailpamwv, nvili mesma cdjçia.fN. ttoT.)
18 s c h o p ê n h a u ê r
único válido e útil na vida prática, bem como na-ciência: o que abstraí do con­
teúdo daquele princípio, é u procedimento genial, único válido e útil na arte, O 
primeiro é o procedimento de Aristóteles; o segundo é, em seu conjunto, o de Pia 
tão. O primeiro e igual à tempestade, propagando-se sem origem nem meta. tudo 
arqueando. agitando c arrastando; o segundo, ao sereno raio de sol, cortando o 
caminho desta tempestade, sem ser por esta afetado. O primeiro é igual às gotas 
inumeráveis c agitadas da cachoeira, que, em permanente renovação, não repou­
sam um só instante: o segundo, ao tranquilo nrco-íris em fepouso sobre esta fúria 
tumultuosa. Somente mediante a contemplação pura acima descrita, inteira mente 
absorvida no objeto, as idéias podem s<r captadas, e a essência d o g ê n io consiste 
justa mente na capacidade predominante para tal contemplação: como esta requer 
um esquecimento completo da própria pessoa e de suas rdaçuc.s; assim a g e n ia l i ­
d a d e nada mais é do que a mais perfeita o b je t iv id a d e , i. e,, orientação objetiva do 
espirito, contraposta ã subjetiva, dirigida à própria pessoa, i. e... â vontade. Desta 
forma, a genialidade 6 a capacidade de sc comportar apenas iniuitivamente, sc 
perder ms intuição e arrebatar o conhecimento, existente originaImcnte somente 
para tal fim, ao serviço da Vòntade. i. c . abstrair por completo dc seu interesse, 
seu querer, seus objetivos, despojar se por um tempo mleíramcnte dc sua persona­
lidade, para permanecer como x u je fto p u r o d o c o n h e c im e n to , límpida vista tló 
mundo: e isto nào por instantes, mas durante o lempo necessário, c com tal 
circunspecção, para reproduzir o apreendido mediante uma arte estudada, e 
assim l‘o que paira cm imagens oscilantes, ser firmado Cm pensamentos permn 
nentes”. Tudo sc passa como sc, para o gênio sc mostrar num indivíduo, a este
deve iej correspondido uma medida de força intelectual hem superior ã necessária 
ao serviço dc uma vontade individual; excedente livre de conhecimento, consti­
tuindo agora um sujeito isento de vontade, espelho luminoso da essência do 
mundo. D to explica a vivacidade imranqüilü cm indivíduos geniais, ao lhes ser 
raramente .suficiente o presente por não preencher sua consciência; o que lhes con­
fere sua dedicação incansável, sua permanente procura dc objetos novos e dignos 
dc consideração, c também sua quase nunesi satisfeita busca de seres scmelhames, 
ã ‘un altura, com quem se comunicar: enquanto o mortal comum, complctamentc 
preenchido e satisfeito pilo presente ordinário, nele é absorvido, e CUCOUtrando 
por toda parte seus semelhante:; possuí no diu a dia aquele confurug que é recu­
sado ao gênio. A fantasia foi reconhecida como um integrante substancial da 
genialidade. Lendo mesmo com ela por vezes sido identificada: aquilo com razão, 
isto não Os objetos do gênio como tal sendo as idéias eternas, as formas essen 
ciais permanentes- do mundo c de todos seus fenômenos, o conhecimento da adera 
sendo contudo necessariamente intuitivo, e não abstrato: o conhecimento do 
gênio seria limitado ás idéias dos objetos verdade ira mente presentes à sua pessoa, 
c dependente do cncadeamento das circunstâncias que estes lhe apresentassem, 
nâo ampliasse a fantasia 0 seu horizonte benrt acima da realidade de sua expe­
riência pessoal, .situando o numa posição tal a construir, a partir do pouco intro­
duzido cm sua verdadeira apercepção, todo o restante, desfilando por si assim 
quase tüdos os quadros possíveis da rida, Além disto, os objetos verdadeiros
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quase sempre são apenas exemplares bem íacunosos da idéia que neles se apre­
senta: pt>T isto o gênio necessita da fantasia, para enxergar nas coisas nào somen­
te aquilo que a natureza realmente Formou, porém u que pretendia formar, mas 
sem sucesso, dad» i\ luta de suas formas entre si. mencionada no livro precedente. 
Retomaremos isto mais adiante, au tratar da escultura. A fantasia, portanto, am­
plia a visão do gênio sobre as coisas apresentadas na realidade a sua pessoa, 
tanto com respeito ã qualidade, como à quantidade. Por isto força excepciona] da 
fantasia c companheira, e mesmo condição, da genialidade. Porem, inversamente, 
aquela não com prova esta; pois mesmo pessoas não gEniais em alto grau. podem 
possuir bastante fantasia. Porque como é possível considerar um objeto real de 
duas maneiras opostas; de modo purameute objetivo, genial, assimilando a sua 
idéia; ou de modo ordinário, somente em suas. relações conforme o principia de 
razão com outros objetos e aom a própria vontade; assim também é possível cnn 
tcmplar um a imagem ilusória segundo cslcs modos: polo primeiro, constitui um 
meio para o conhecimento da idéia, cuja comunicação é a obra de arte: no segun­
do caso. a imagem ilusória é utilizada para construir Cttstclos no ar. que agradem 
ao egoísmo ou ao capricho próprio, iludem momentaneamente c deliciam; 
enquanto das imagens ilusórias assim combinadas propriamente apenas as rela­
ções sâti conhecidas. Quem se diverte num t:il jogo. é um fanlasà.sta: facilmente 
mesclará ás imagens,com que se delicia solitariamente, com a realidade, toman­
do sc a&sim imprestável para esta: LaLvez lhe ocorra relatar as fraudes de sua, fan 
tàsia, que se constituirão comumemc cm romances de todos os tipos, a entreter 
seus semelhantes c o grande público, ao se imaginarem os leitores no lugar do 
herói, encontrando assim a representação bem “agradável",
Ü homem com um , c\ste produto industrial dfi natureza, tal com o esta o apre 
se» La diariam ente aos m ilhares, é incapaz, ao m enos dc m odo persistente, de uma 
observação em todo sentido iruetranienic desinteressada: ale pode dirigir sub alen 
ção às coisas som ente enquanto estas apresentam uma relação qualquer, m esm o 
que apenas mui mediiltivudu. eòm suu vontade. C om o a este respeito, que solicita 
sempre apenas a conhecim ento das relações, o con ceito a bs i rato da coisa c sulí 
ciente e em geral m esm o m ais útil. o hom em comum nào perm anece muito tempo 
com a pura intuição, não fixando por muito tem po sua visão num objeto, m as pro 
aura cm tudo que se lhe apresenta, apenas rapidamente o conceito sob 0 qual o 
alojar, assim com o o indolente procura a cadeira, após o que isto já nào lhe inte 
ressu Por isio ele esgota tudo com rapidez, obras de arte. abjetos belos da nature­
za, e a visão propriamente sempre significativa da vida cm todos os seus atos. Ele. 
porém, não se demora: procura apenas seu cam inho na vida, quando muito o que 
ainda podería vir a sc-lo. portanto, notícias topográficas em seu sentido mais 
am pla: nào perde tempo com n contem plação da vida com o tal. O gênio, contudo. 
Cuja faculdade de conhecim ento, dado seu sobrêpeso. se suhtrai por uma parte do 
seu tem po, ao serviço dc sua vontade, perseverandó na contem plação &á própria 
vida. am bicionando apreendei a idéia de todas as co isas, e não suas relações com 
outras co isa s: destarte descuidando freqiientemente da observação de seu próprio 
cam inho na vida. que percorre na m aioria dos casos com suficiente inabilidade.
20 S C H O P E N H A U F R
Enquanto para o homera comum sua faculdade de conhecer é a fantena que ilu­
mina seu caminho, para o homem de gênio é o sol que revela o mundo. Esta 
maneira tào diferente de encarar a vida rapidamente torna-se visível mesmo em 
seu exterior. O olhar do homem, cm que reside e atua o gênio. o distingue com 
facilidade, ao portar, viva e firmemente, o caráter contemporizador da contempla 
çâo: que podemos ver nos retratos das poucas cabeças geniais, produzidas entre 
os inumeráveis milhões aqui c ídi pela natureza; em contraste, no olhar dos 
outros, quando este não ê, como geralmcnte ocorre, destituído de espírito# eleva 
çâo. discernimos, com facilidade, o verdadeiro oposto da contemplação, tf espiar. 
Assim a “expressão genial" de uma cabeça consiste cm tornar visível uma doei 
siva preponderância do conhecer cm relação ao querer, e em consequência tam 
bem um conhecer destituído de qualquer relnção com um querei, i. c.. um conhe­
c e r p u r o . Ao contrário, cm cabeças regulares, a expressão do querer é dominante, 
e torna-se claro que o conhecer sempre è movido pelo querer, usstm dirigindo se 
somente a moitvos.
Senclo o conhecimento geninl, ou conhecimento da idéia, o que não obedece ao 
princípio dfi razão, e por outro lado, aquele que lhe obedece, outorga esperteza c 
sagacidade na vida c origina as ciências; os indivíduos geniais serão afetados com 
as carências provocadas pela negligência do último modo dc conhecimento. Con 
tudo há quv fazer u restrição dc quê Ilido o abordado aqui neste sentido, somente 
lhes dirá respeito enquanto estiverem efetivamente no exercício do modo de 
conhecimento genial, o que de modo algum ocorre cm todos os momentos dç sua 
vida. já que u grande tensão, pur mais espontânea, requerida para n percepção 
das idéias isenta do vontade, necessariamente .sofre uni relaxamento, portando 
grandes intervalos em que. tanto no que se refere ás vantagens quanto às defjdcn 
cias. sua simaçâo xc assemelha bastante a dos homens, comuns. í por isto que 
a ação do gênio desde sempre foi encarada como uma inspiração, e como o pró 
prio nome indica, como a atividade dc um ser sobre humano, distinto do imiiví 
duo ele mesmo, e que apenas periodicamente dclc se apropria. A aversão dos indi­
víduos de gênio, em dedicar atenção no conteúdo do princípio dc razão, sc apre 
setltará em primeiro lugar cm relação ao princípio do ser,' 9 corno aversão pela 
matemática, cujas considerações dizem respeito às formas mais gerais do fenôme 
no, do espaço e do tempo, elas próprias somente configurações do principio de 
razão, sendo assim predsamente o oposto daquela consideração que procura jus- 
lamcme apenas o conteúdo do fenômeno, a idéia que nele se manifesta, abs­
traindo de todas as relações. Além disio t> tratamento lógico dado à matemática 
repugnará ao gênio, já que este. impedindo a compreensão propriamente dita, não 
.satisfaz, mas oferecendo um simples encadea mento de conclusões conforme o 
princípio dc razão do conhecimento, solicita de todas as faculdades do espírito, 
sobretudo a memória, para estarem presentes sempre todas as proposições ante 
riores, às quais há que sc reportar. Também a experiência confirmou que grandes
’ " Curtiu ?ara nós Súli vom ü m m ie sc torna princípio da rasou, o icrmo aqui rçfcridu,origijjftJrccnte tiruit 
de des Seim. podería ser também rarãa do ser; pais dar Snta vnw* CruttJc d& S&n» O principio tfç m.Jt.J 
dosar (H di>T.>
0 M U N D O C O M O V O N T A D E E R E P R E S E N T A Ç Ã O
gênios da arte nào possuem capacidade para a matemática: jamais houve homem 
notável em ambas simultaneamente. Alfícri narra não ter mesmo nunca enrendido 
sequer o quarto teorema de Eu elides. A tioethe se reprovou muito a carência de 
conhecimento matemático, por parte dc adversários ineptos de sua teoria das 
cores: justamente aqui. onde nào se tratava dc calcular e medir sobre dados hipo 
téticos. mas de mtelecção imediata da causa e do efeito, aquela reprovação era a 
tal ponto injusta c indevida, que por ela os críticos revelaram sua lotai ausência 
de capacidade de juízo, como o fizeram com todas suas outras expressões dignas 
dc Midas. Que mesmo hoje, quase meio século após o surgimento da teoria das 
cores de Goethe, inclusive na Alemanha, os ilusionistas newtonianos se mantem 
tranquilos dc posse das cátedras e se prossegue, com in fira seriedade, a falar das 
sete cores homogêneas c dc sua diferente rcfração — isto será incluído algum dia 
entre os grandes traços intelectuais do caráter da Humanidade cm geral, c da 
germanidade em particular. Pela mesma razão acima exposta se esclarece o falo 
iguaImcntc conhecido de que. pelo contrário, excelentes matemáticos possuem 
pouca receptividade para as obras das belas artes, o que transparece de maneira 
parlicularmente ingênua na conhecida anedota daquele matemático francês que 
após a leitura da Ifigênia de Racinc perguntava encolhendo os ombros: Quest-ce- 
que cela prouve? 1 6 Como além disto uma compreensão aguda das relações con­
forme o princípio da causalidade e motivação constituí propriamente a esperteza, 
o conhecimento genial porém não se orienta para as relações; um homem esperto, 
enquanto o for. nào será genial, c um homem genial, enquanto o for. nào será 
“esperto. Por fim. o conhecimento intuitivo, em cuja área se locali/n sobretudo a 
idéia, é direiamcnte oposto ao conhecimento racional, ou abstrato, orientado pelo 
principio de razão do conhecimento. Também raramente se encontra grande 
genialidade aliada ao predomínio de racionalidade, pelo contrário, indivíduos 
geniais são dominados frequentemente pot afecçòo violentas c paixões irracio­
nais. 0 motivo disto contudo nào é fraqueza da razão, mas em parte a energia 
descomunal do fenômeno da vontade cm conjunto, que ê o indivíduo dc gênio, 
á qual sc manifesta pela violência dc todas as ações da vontade, cm parte o predo­
mínio do conhecimento intuitivo pelos sentidos e pelo entendimento, sobre 0 abs­
trato. donde

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