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EPILEPSIA SUMÁRIO 1. Epidemiologia .............................................................. 3 2. Conceitos Importantes ............................................ 3 3. Fisiopatologia .............................................................. 3 4. Etiologias ....................................................................... 5 5. Diagnóstico .................................................................. 7 6. Classificação das Crises Convulsivas ................ 9 7. Tipos de Epilepsia ....................................................14 8. Síndrome Epiléptica ................................................16 9. Estado de Mal Epiléptico .......................................16 10 Diagnósticos Diferenciais ...................................17 11. Comorbidades ........................................................18 12. Encefalopatia epiléptica ......................................18 13. Avaliação Clínica ...................................................19 14. Tratamento ..............................................................20 Referências Bibliográficas .........................................28 3EPILEPSIA 1. EPIDEMIOLOGIA Atualmente, estima-se que há mais de 50 milhões de pessoas com epi- lepsia no mundo, a maioria vivendo em países em desenvolvimento onde a qualidade de vida é pior e a incidên- cia de infecções do sistema nervoso central (SNC) é maior. Na população mundial, a prevalência de epilepsia encontra-se entre 1,5 e 30 casos para cada mil habitantes. 2. CONCEITOS IMPORTANTES A epilepsia não é uma entidade sin- gular, havendo uma certa variação na definição dos termos crises convulsi- vas, epilepsia e síndrome epiléptica. Por conta disso, uma definição preci- sa de ambos os termos é importan- te para uma adequada comunicação entre profissionais de saúde, legisla- dores, educadores e para a seguran- ça no trabalho. Assim, atualmente as seguintes definições são utilizadas: [box conceito (crise/epilepsia e síndrome em box diferentes): Cri- se convulsiva: é uma atividade elé- trica anormal, a qual gera sinais e sintomas específicos – como abalos musculares. • Crise provocada: é uma crise epi- léptica decorrente de uma causa imediata identificada, como distúr- bio metabólico, intoxicação aguda, abstinência de drogas sedativas ou insulto neurológico agudo. Deve existir uma relação temporal entre o desencadeante e a crise, geral- mente, nos últimos 7 dias. Entre 1 e 10% da população terá uma cri- se provocada na sua vida. • Crise não provocada: quando não há uma causa conhecida para a crise, após investigação clínica, la- boratorial e de imagem. • Epilepsia: é uma doença cerebral crônica causada por diversas etiologias e caracterizada pela recorrência de crises epilépticas não provocadas. • Síndrome Epiléptica: Uma sín- drome epiléptica se refere a um conjunto de características incluin- do tipos de crises, EEG e caracte- rísticas de imagem, que tendem a ocorrer juntas.] 3. FISIOPATOLOGIA Estudos com microeletrodos intra- neuronais demonstraram que a gera- ção dos surtos de potenciais de ação envolve mecanismos sinápticos pró- prios de alguns neurônios, entre eles, os neurônios piramidais grandes - localizados principalmente no hipo- campo e no neocórtex. Além disso, como fatores associados, temos que canais de cálcio e de potássio lentos permitem uma despolarização celular prolongada. 4EPILEPSIA Alguns mecanismos sinápticos po- dem interferir na liberação de neu- rotransmissores, que duram vários milissegundos na fenda sináptica. A desregulação desses neurotransmis- sores e o bloqueio da ação GABA permite a geração de surtos de po- tenciais de ação descontrolados. Durante a atividade repetitiva ictal a concentração de potássio aumenta no meio extracelular e modifica o po- tencial de equilíbrio desse íon, de tal forma que as correntes de saída en- fraquecem e não são mais efetivas repolarização da membrana. Nessa fase também há aumento da acetil- colina que reduz ainda mais a con- dutância do potássio, prolongando o efeito excitatório. Células gliais con- tribuem para o clearance extracelular, facilitando a recapitação dos neuro- transmissores e, assim, contribuindo para reduzir o efeito epileptogênico. Sendo assim, podemos dizer que cin- co são os principais fatores envolvi- dos na epileptogênese: FATORES ENVOLVIDOS NA EPILEPTOGÊNESE Eventos intrínsecos da membrana de determinadas células O grau de desinibição da população neuronal Presença de circuitos recorrentes excitatórios Modulação da concentração de íons transmissores no espaço intercelular Presença de interações elétricas entre os neurônios FLUXOGRAMA: FATORES ENVOLVIDOS NA EPILEPTOGÊNESE 5EPILEPSIA Outras vezes não se identifica um fa- tor causal para a crise epiléptica, em que muitos desses pacientes não voltarão a ter crises. Por outro lado, alguns indivíduos apresentam cri- ses epilépticas espontâneas recor- rentes e são, portanto, considerados epilépticos. 4. ETIOLOGIAS Desde o momento em que o paciente apresenta a primeira crise epiléptica, o clínico deve objetivar a determinação da etiologia de sua epilepsia. É im- portante entendermos que existem diversos tipos de etiologias que po- dem/estão envolvidos com a epilep- sia. Dessa forma, podemos organizar essa etiologias em 5 principais gru- pos: estrutural, genética, infecciosa, metabólica, imune e desconhecida. A epilepsia de um paciente pode ser classificada em mais de uma catego- ria etiológica. As etiologias não são hierárquicas e a importância dada ao grupo dependerá da circunstância em que o paciente se encontra. FLUXOGRAMA: ETIOLOGIAS ETIOLOGIAS Estrutural Infecciosa Imune Genética Metabólica Desconhecida Estrutural Uma etiologia estrutural se refere a anormalidades visíveis em estu- dos de neuroimagem estrutural. Em que, a avalição eletroclínica associa- da aos achados de imagem levam à um grau razoável de inferência de que a anormalidade da imagem é, provavelmente, a causa das crises do paciente. As etiologias estruturais podem ser adquiridas - como uma encefalopa- tia hipóxico-isquêmica, acidente vas- cular cerebral, trauma e infecção - ou genéticas - como a esclerose tube- rosa. Sendo importante salientar que, 6EPILEPSIA apesar de existir uma base genética em tais malformações, é a alteração estrutural a responsável pela epilep- sia deste indivíduo. Genética A epilepsia genética é o resultado direto de uma mutação genética co- nhecida ou presumida na qual as cri- ses epilépticas constituem o sintoma central da doença. As epilepsias na quais a etiologia genética tem sido implicada são muito diversas e, na maioria dos casos, os genes respon- sáveis ainda não são conhecidos. Primeiramente, a inferência de uma etiologia genética pode ser baseada apenas em uma história familiar de uma doença autossômica dominante. Em segundo lugar, uma etiologia ge- nética pode ser sugerida pela pesqui- sa clínica em populações com a mes- ma síndrome. Em terceiro, uma base molecular pode ter sido identificada, podendo implicar um único gene ou variações no número de cópias como efeito maior. Nas formas de epilepsia que seguem herança complexa, a qual implica que múltiplos genes com ou sem contri- buição ambiental, podem ser identi- ficadas variantes de susceptibilidade que contribuem para causar a doen- ça mas são insuficientes, por si só, para causar epilepsia. Nesta situa- ção, pode não haver história familiar de epilepsia pois outros membros da família podem não ter variantes dos genes de epilepsia suficientes para serem afetados. É importante ressaltar que genético não é sinônimo de hereditário. O pa- ciente pode ter uma mutação nova que surgiu nele, e que a mutação ge- nética não foi herdada, e assim, é im- provável que haja história familiar de crises. No entanto este paciente pode agora ter uma forma hereditária de epilepsia. Pacientes também podem ser mosai- cos para a mutação. Isso significa queeles apresentam duas populações de células, uma que contém a mutação e outra que tem o alelo tipo selvagem (normal). Mosaicismo pode impactar na gravidade de sua epilepsia, com taxas de mosaicismo mais baixas resultando em epilepsias de menor gravidade. Uma etiologia genética não exclui uma contribuição ambiental. O fato de que fatores ambientais contribuem para a epilepsia é um conceito bem aceito, por exemplo, vários indivíduos com epilepsia são mais propensos a ter crises quando expostos a privação de sono, estresse e doenças. Infecciosa Etiologia infecciosa resulta direta- mente de uma infecção conhecida, na qual as crises epilépticas são os sintomas centrais da afecção. Uma 7EPILEPSIA etiologia infecciosa se refere a um paciente com epilepsia e não às cri- ses ocorrendo no contexto de uma infecção aguda como meningite ou encefalite. Exemplos comuns em regiões espe- cíficas do mundo incluem: neurocis- ticercose, tuberculose, HIV, malária cerebral, panencefalite esclerosante subaguda, toxoplasmose cerebral, e infecções congênitas como pelo Zika vírus e citomegalovírus. Metabólica A epilepsia metabólica, por sua vez, é o resultado direto de um distúrbio metabólico conhecido ou presumido, no qual o sintoma central do distúrbio são as crises epilépticas. Está relacionada a distúrbios metabó- licos bem delineados com manifesta- ções ou alterações bioquímicas em todo o corpo como: porfiria, uremia, aminoacidopatias ou as crises por de- pendência de piridoxina. Imune A epilepsia imune resulta diretamente de um distúrbio imune no qual as cri- ses são o sintoma central desta afec- ção. Pode ser conceituada quando há evidência de uma inflamação imuno- -mediada no sistema nervoso central. Desconhecida A Epilepsia de etiologia desconhecida é descrita quando mesmo depois da investigação, não é possível determi- nar a origem do quadro. Não sendo possível fazer um diagnóstico espe- cífico além da semiologia eletroclínica básica. 5. DIAGNÓSTICO Clínico Na maioria dos casos, o diagnóstico de uma crise epiléptica pode ser fei- to clinicamente através da obtenção de uma história detalhada e de um exame físico geral, com ênfase nas áreas neurológica e psiquiátrica. Mui- tas vezes, o auxílio de uma testemu- nha ocular é importante para que a crise seja descrita em detalhes. A existência de aura bem como as condições que possam ter precipitado a crise devem ser registradas. Idade de início, frequência de ocorrência e intervalos mais curtos e mais lon- gos entre as crises devem ser carac- terizados, muitas vezes com o auxílio de um diário de crises. A história deve cobrir a existência de eventos pré e perinatais, crises no período neonatal, crises febris, qualquer crise não provocada e his- tória de epilepsia na família. Trau- ma craniano, infecção ou intoxi- cações prévias também devem ser investigados. 8EPILEPSIA Para afirmarmos que um indivíduo possui epilepsia, devemos encaixá-lo em pelo menos um dos seguintes cri- térios diagnósticos: • 2 crises não provocadas, em um intervalo >24h (porque se o inter- valo for menor que 24 horas, po- dem ser manifestações da mesma atividade cerebral anormal); • Paciente com alta chance de re- corrência (presença de alteração estrutural no SNC, por exemplo). Nesse caso, uma crise já pode ser o suficiente para o diagnóstico; • Síndrome epiléptica. Exames Complementares Os exames complementares devem ser orientados pelos achados da história e do exame físico. O princi- pal exame é a eletroencefalografia (EEG), cujo papel é auxiliar o médico a estabelecer um diagnóstico acura- do. O EEG é capaz de responder a três importantes questões diagnós- ticas nos pacientes com suspeita de epilepsia: • O paciente tem epilepsia? • Onde está localizada a zona epileptogênica? • O tratamento está sendo adequado? Dessa forma, temos que o EEG em vigília e em sono são obrigatórios para confirmação diagnóstica de epi- lepsia, para detecção de sinais de intoxicação medicamentosa e como auxílio à definição da síndrome epi- léptica. Entretanto, é importante sa- lientar que um resultado normal do exame não exclui a possibilidade de o indivíduo possuir epilepsia. Em cerca de 90% dos casos a repetição do exame é suficiente para detectar a alteração. Exames de imagem como ressonân- cia magnética (RM) do encéfalo e tomografia computadorizada (TC) de crânio devem ser solicitados na suspeita de causas estruturais (le- sões cerebrais, tais como tumores, malformações vasculares ou esclero- se hipocampal), que estão presentes na maioria dos pacientes com epilep- sia focal. O diagnóstico de uma causa estrutu- ral subjacente tem implicações tera- pêuticas as quais podem embasar a indicação de tratamento cirúrgico da epilepsia, e prognósticas, definindo mais precocemente uma refratarie- dade ao tratamento medicamentoso. Em casos de pacientes refratários a tratamentos medicamentosos (persistência de crises epilépticas apesar do uso de dois fármacos an- ticonvulsivantes de primeira linha, em doses adequadas), os seguintes 9EPILEPSIA procedimentos são auxiliares na in- vestigação e condução dos casos: • RM do encéfalo obrigatória para pacientes com epilepsias focais re- fratárias, para os quais a presença de uma lesão cerebral é forte predi- tor de refratariedade a tratamento medicamentoso em monoterapia; • Diário de registro de crises, me- dida importante para a determina- ção de refratariedade; • Relatório médico, com descrição dos medicamentos e doses máxi- mas previamente empregadas no tratamento; • Teste psicométrico para casos de efeitos cognitivos negativos pro- vocados pelo uso de medicamen- tos convencionais. FLUXOGRAMA: CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS 2 crises não provocadas, em um intervalo >24h Paciente com alta chance de recorrência Síndrome epiléptica 6. CLASSIFICAÇÃO DAS CRISES CONVULSIVAS Crise de Início Focal São definidas como crises bem lo- calizadas ou mais difusamente distribuídas, iniciadas em redes neu- rais limitadas a apenas um hemis- fério cerebral, podendo originar-se também em estruturas subcorticais. 10EPILEPSIA As crises focais podem ser classifica- das de acordo com a percepção. Per- cepção é operacionalmente definida como conhecimento de si mesmo e do ambiente. A avaliação da percepção é um marcador substituto pragmáti- co, usado para determinar se o nível de consciência está ou não afetado. Durante uma crise focal perceptiva, a consciência estará intacta. Percepção especificamente refere-se à consci- ência durante a crise, e não ao fato do paciente ter ou não percebido a ocor- rência da crise. Se a percepção do evento está com- prometida em qualquer parte da cri- se, então a crise deve ser classificada como crise focal com comprometi- mento da percepção ou dispercep- tiva. De uma forma prática, temos que compreender que uma crise focal com comprometimento da percepção implica na habilidade da pessoa - que teve a crise - de verificar se a consci- ência permaneceu intacta. Figura 1. 11EPILEPSIA SE LIGA! Ocasionalmente crises podem produzir uma amnesia epiléptica tran- sitória com percepção preservada, mas para a classificação destas crises seria necessária uma documentação excep- cionalmente clara feita por observadores. A classificação básica das crises tam- bém permite a classificação em crises com sintomas de início motor e início não motor (por exemplo, sensorial). Existe ainda uma categoria especial de tipo de crise, que é a crise focal evoluindo para tônico-clônica bila- teral. A ocorrência desse tipo de crise é comum e importante, apesar de re- fletir mais um padrão ictal de propa- gação do que um tipo específico de crise. Crise de Início Generalizado As crises de início generalizado são definidas como crises iniciadas em algum local de uma rede neuronal, com rápido envolvimento de redes distribuídas bilateralmente. Figura 2. 12EPILEPSIA São divididas em crises motorase não motoras (ausência). O grau de percepção não é utilizado como clas- sificador para crises generalizadas, já que a maioria dessas crises (embora não todas) estão associadas a altera- ção da percepção. Crises motoras Para ser definida como generalizada, a atividade motora deve ser bilateral desde o início, mas na classificação básica o tipo de atividade motora não precisa ser especificado. Nos casos em que o início da atividade motora bilateral é assimétrica, pode ser difícil determinar se a crise tem início focal ou generalizado baseado apenas na semiologia. Crises não motoras As crises não motoras de início ge- neralizado ou crises de ausência apresentam-se com súbita parada da atividade e da percepção. Crises de ausência tendem a ocorrer em indivíduos jovens, seu início e fi- nal são mais abruptos e geralmente são acompanhadas de automatis- mos menos complexos do que aque- les observados nas crises focais com comprometimento da percepção. Crise de Início Desconhecido Na crise de início desconhecido o in- divíduo ou informantes não conse- guem caracterizar o início da crise, apenas informam desconhecimento. Uma crise de início desconhecido ainda pode apresentar algumas evi- dências que a define como crise com características motoras (ex. tônico- -clônica) ou não motora (ex. parada comportamental). Uma posterior re- classificação em crises de início focal ou generalizado é possível. 13EPILEPSIA Quadro Clínico Algumas manifestações motoras que o paciente pode apresentar, são: • Automatismos: movimentos este- reotipados (Ex: mastigação); • Atônica: perda do tônus muscular; • Tônica: hipertonia muscular; • Clônica: abalos rítmicos focais; • Mioclônica: abalos focais breves e irregulares (semelhante a um susto). Sendo que paciente que tem mioclonia geralmente não a percebe; • Hipercinética: movimentos rápidos; • Espasmos epilépticos: (Ex: flexão e extensão dos braços e flexão do tronco). FLUXOGRAMA: CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE CRISES CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE CRISES INÍCIO FOCAL INÍCIO GENERALIZADO INÍCIO DESCONHECIDO Motoras Tônico-clônicas Outras motoras Não motoras Motoras Tônico-clônicas Outras motoras Não motoras (ausências) Parada comportamental Disperceptivas Início não motor Perceptivas Início motor Focal evoluindo para tônico-clônica bilateral 14EPILEPSIA Como manifestações não-moto- ras que o paciente pode apresentar, temos: • Autonômico: palago. • Cognitivo: alteração de linguagem, sensação de dejavu, incerteza; • Emocional: ansiedade, medo extremo; • Sensitivo: parestesia, hipoestesia; • Parada comportamental: indivíduo parado com olhar vago. 7. TIPOS DE EPILEPSIA Além dos tipos de crises convulsivas sobre as quais aprendemos acima, é importante entender a classificação das epilepsias, como veremos agora! Epilepsia Generalizada A Epilepsia Generalizada é caracteri- zada pela apresentação de atividade de complexos de espícula-onda ge- neralizados no EEG. Indivíduos com epilepsias generaliza- das podem apresentar um conjunto de diferentes tipos de crises que in- cluem: crises de ausência, mioclôni- cas, atônicas, tônicas e tônico-clôni- cas. O diagnóstico é feito com base nos dados clínicos, corroborados pelo achado de descargas interictais típi- cas no EEG. Dentro do grupo das epilepsias ge- neralizadas existe um subgrupo bem reconhecido e comum, o das Epi- lepsias Generalizadas Idiopáticas (EGI). As EGI são representadas por quatro síndromes epilépticas bem estabelecidas: • Epilepsia Ausência da Infância, • Epilepsia Ausência Juvenil, • Epilepsia Mioclônica Juvenil • Epilepsia com Crises Tônico-clônicas No entanto, atualmente, este grupo de síndromes pode ser definido como Epilepsias Generalizadas Genéticas (EGGs), quando o clínico conta com evidências suficientes para esta clas- sificação. Tais evidências são retira- das de pesquisas clínicas meticulosas sobre a herança destas síndromes em estudos hereditários e não significa que mutações genéticas específicas tenham sido identificadas. A intenção de remover o termo “idio- pático” da Classificação das Epilep- sias foi sugerida porque sua definição era: sem etiologia conhecida ou sus- peitada exceto por uma possível pre- disposição hereditária. Porém, a des- coberta crescente da participação de genes envolvidos em várias epilep- sias, fez com que o enquadramento no novo termo fosse sugerido. 15EPILEPSIA Epilepsia Focal As Epilepsias Focais incluem distúr- bios unifocais e multifocais envol- vendo apenas um hemisfério. Uma variedade de tipos de crises epilép- ticas pode ser encontrada incluindo: crises focais perceptivas, crises focais disperceptivas ou com comprome- timento da percepção, crises focais motoras e não motoras e crises focais evoluindo para crises tônico-clônicas bilaterais. O EEG interictal tipicamente mostra descargas epileptiformes focais, mas o diagnóstico deve ser feito com base nos dados clínicos, corroborado pelos achados de EEG. Existem várias epilepsias focais au- tolimitadas, as quais tipicamente têm início na infância. A epilepsia au- tolimitada mais comum é a epilepsia com descargas centrotemporais. SAIBA MAIS! Epilepsia benigna Com o aumento do reconhecimento do impacto das epilepsias sobre a vida de um indivíduo, tem havido considerável preocupação que o uso do termo benigno subestime esta sobrecar- ga. Assim, benigno como um descritor para uma epilepsia é substituído tanto por autolimi- tado como farmacorresponsivo, cada um dos quais substituindo diferentes componentes do significado de benigno • Autolimitado: se refere à possível resolução espontânea da síndrome. • Farmacorresponsivo: significa que as crises da síndrome epiléptica provavelmente serão controladas com o uso de fármacos antiepilépticos apropriados. Os termos maligno e catastrófico não devem ser mais utilizados, eles foram removidos do léxico da epilepsia por suas conotações sérias e devastadoras. Epilepsia Combinada A Epilepsia Combinada ocorre quan- do um mesmo paciente apresenta tanto crises focais, como crises ge- neralizadas. O diagnóstico de ambos os tipos de crises é feito com bases clínicas, corroborado pelas descargas no EEG. Registros ictais são úteis, mas não essenciais. O EEG interictal pode mostrar tanto espícula-onda gene- ralizada como descargas epileptifor- mes focais, mas atividade epileptifor- me não é exigida para o diagnóstico. Exemplos comuns nos quais ambos os tipos de crises estão presentes são as síndromes de Dravet e de Lennox-Gastaut. [BOX SAIBA MAIS!: 16EPILEPSIA Epilepsia de tipo desconhecido O termo “desconhecido” é usado para denotar a situação na qual sabe-se que o paciente tem epilepsia, mas o clínico é incapaz de determinar se o tipo de epilepsia é focal ou genera- lizado porque há pouca informação disponível. Isto pode ocorrer por várias razões. Pode não haver acesso ao EEG ou os estudos de EEG são não informativos, por exemplo, normais. Se o(s) tipo(s) de crise(s) são desconhecidos, então o tipo de epilepsia também será des- conhecido por razões similares, em- bora os dois possam não ser sempre concordantes. Por exemplo, o paciente pode ter tido crises tônico-clônicas simétricas sem características focais e registros EEG normais. Assim, o início das crises é desconhecido e a pessoa tem um tipo de epilepsia desconhecido. 8. SÍNDROME EPILÉPTICA Uma síndrome epiléptica se refere a um conjunto de características in- cluindo tipos de crises, EEG e carac- terísticas de imagem, que tendem a ocorrer juntas. Frequentemente tem características dependentes da idade tais como idade de início e remissão (quando aplicável), desencadeadores de crises, variação diurna e algumas vezes prognóstico. 9. ESTADO DE MAL EPILÉPTICO O Estado de Mal Epiléptico é defini- do como como a presença de duas ou mais crises sem a completa recu- peração da consciência entre elas ou uma crise com mais de 30 minutos de duração. No entanto,sabe-se que crises com mais de 5-10 minutos de duração têm baixa probabilidade de cessarem espontaneamente. Adicionalmente, estudos experimentais e clínicos de- monstram que crises não controladas SAIBA MAIS! Síndrome de Dravet e Síndrome de Lennox-Gastaut A Síndrome de Dravet corresponde a uma epilepsia genética da infância caracterizada por crises resistentes a fármacos, muitas vezes induzida por febre e que frequentemente resulta na deterioração cognitiva e motora. Já a Síndrome de Lennox-Gastaut corresponde a um tipo raro de epilepsia da infância, caracterizada por crises que aparecem sem febre e são re- sistentes a fármacos. É acompanhada de disfunções cognitivas, atraso do desenvolvimento neurológico e psicomotor. 17EPILEPSIA predispõem o cérebro a crises de mais difícil controle. Por isso, do ponto de vista operacional, crises que persis- tem após 5 minutos são consideradas e tratadas como estado epiléptico. Essa situação caracteriza emergência médica e segundo alguns estudos, sua mortalidade pode chegar a 20%, portanto, qualquer crise que dure cin- co minutos ou mais deve ser tratada agressivamente. São etiologias relacionadas com esse quadro: • Má aderência ao tratamento; • Lesão estrutural; • Metabólica (hipo ou hipernatremia e hipo ou hiperglicemia); • Tóxica; • Uso ou overdose de drogas e sín- dromes de abstinência; • Sepse. Tratamento: • Benzodiazepínico (Diazepam EV – inicialmente com 10mg e au- menta para 20mg se não houver melhora). • Anticonvulsivante (Fenitoína EV 15-20mg/Kg). • Sedação (Midazolam, Propofol ou Pentobarbital). 10 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Agora que compreendemos melhor como se caracterizam as epilepsias, é importante elencarmos algumas do- enças que são diagnósticos diferen- ciais importantes desse quadro, são elas: • Síncope; • AIT; • Ataques de pânico; • Crise não epiléptica psicogênica; • Arritmias cardíacas; • Migrânea; • Distúrbios metabólicos. 18EPILEPSIA 11. COMORBIDADES Há um aumento na conscientização de que várias epilepsias são asso- ciadas com comorbidades tais como problemas de aprendizado, psicosso- ciais e comportamentais. Estas variam em tipos e gravidade, tais como dificuldades de aprendi- zado sutis até incapacidade intelec- tual, a características psiquiátricas como transtorno do espectro autis- ta e depressão, até preocupações psicossociais. Nas epilepsias mais graves, pode ser verificada uma gama complexa de comorbidades, incluindo déficits motores como paralisia cerebral ou deterioração na marcha, transtornos de movimento, escoliose, alterações de sono, e doenças gastrointestinais. É importante que a presença des- tas comorbidades seja considerada para todos os pacientes em cada es- tágio da classificação, capacitando a identificação precoce, o diagnóstico e a conduta apropriada. 12. ENCEFALOPATIA EPILÉPTICA Encefalopatia epiléptica era o termo empregado àquela em que a ativi- dade epiléptica por si contribui para comprometimentos cognitivo e com- portamental grave, além daqueles SAIBA MAIS! Crise Não Epiléptica Psicogênica As crises não epilépticas (CNEP) são definidas como crises, ataques ou acessos recorrentes que podem ser confundidos com epilepsia, devido à semelhança das manifestações com- portamentais, mas que dela diferem por não serem consequentes de descargas elétricas cerebrais anormais. As crises psicogênicas não epilépticas apresentam alterações no motor e sinais e sintomas sensórios, autonômicos e/ou cognitivos, mas diferentemente da epilepsia, não são causadas por atividade epileptiforme ictal. Em contraste com a crise epiléptica, que é uma manifes- tação de descargas excessivas e hipersincrônicas no cérebro, as crises não epilépticas psico- gênicas possuem bases e causas psicológicas. O diagnóstico incorreto da CNEP leva ao tratamento inadequado da epilepsia presumida, com risco significativo de lesão iatrogênica, morbidade e custo para os pacientes e para o sistema de saúde. Vários estudos documentaram que são comuns erros de diagnóstico resul- tantes de interpretações errôneas da história dos pacientes ou de eletroencefalografia (EEG). As características que mais sugerem crises psicogênicas são: longa duração, curso flutuante, movimentos dessincronizados, movimentos pélvicos, movimentar a cabeça de um lado para o outro, olhos fechados, ictal crying (que consiste na vocalização tônica expiratória prolonga- da da laringe ou vocalização clônica gutural profunda) e recuperação de memória. 19EPILEPSIA que seriam esperados pela patolo- gia isolada. A atividade epileptifor- me pode causar regressão em um indivíduo com desenvolvimento nor- mal ou com atraso no desenvolvi- mento preexistente, que então mos- tra uma estagnação ou regressão no desenvolvimento. Novos estudos mostraram, entretan- to, que em afecções genéticas pode haver uma lentificação no desenvol- vimento antes da presença de ativi- dade epileptiforme frequente no EEG. Estas observações, pertinentes a várias encefalopatias genéticas, su- gerem que há necessidade de uma amplificação da terminologia. Atual- mente, os seguintes termos devem ser utilizados: • Encefalopatia do desenvolvi- mento: quando há apenas com- prometimento do desenvolvimen- to sem atividade epileptiforme frequente associada com regres- são ou lentificação progressiva no desenvolvimento. • Encefalopatia epiléptica: quando não há atraso no desenvolvimento preexistente e não há evidências de que a mutação genética cause alentecimento por si própria. • Encefalopatia epiléptica e do de- senvolvimento: quando ambos os fatores desempenham um papel definido. 13. AVALIAÇÃO CLÍNICA Na avaliação de um paciente com suspeita de epilepsia é extremamen- te importante a construção de uma anamnese detalhada, que permita classificar quanto a possíveis etio- logias, tipo de início, manifestações motoras ou não motoras, entre outras coisas. Sendo por muitas vezes ne- cessária a complementação da his- tória por parte de uma testemunha visual dos quadros. Além disso, a história deve ser com- plementada por um exame físico que permita avaliar achados característi- cos e auxiliar a associar ou não a pos- síveis diagnósticos diferenciais. Quantos aos exames laboratoriais que podem ser solicitados, temos que podem ser solicitados (principal- mente para definir etiologia ou reali- zar diagnostico diferencial): glicemia, rastreio infeccioso, avaliação hi- droeletrolítica e perfil toxicológi- co. Caso suspeitemos de infecção do SNC, podemos solicitar uma coleta de líquor, com posterior análise dele. Caso um indivíduo chegue à emer- gência com uma crise convulsiva e não possui diagnóstico prévio, ou até mesmo num acompanhamento am- bulatorial na busca por uma melhor caracterização do quadro, é impor- tante para buscar alterações em exames complementares de imagem, como tomografia computadorizada de crânio ou ressonância magnética 20EPILEPSIA em busca de alteração estrutural. Ou- tros exames importantes, são: • Eletroencefalograma: caracteriza- ção do foco epiléptico e síndrome específica. • Eletrocardiograma: exclusão de diagnósticos diferenciais como síncopes. 14. TRATAMENTO O tratamento das epilepsias é dota- do da possibilidade de uso de uma gama de fármacos, sendo fonte de estudo até os dias atuais. A deter- minação do tipo específico de crise e da síndrome epiléptica do paciente é importante, uma vez que os mecanis- mos de geração e propagação de crise diferem para cada situação, e os fár- macos anticonvulsivantes agem por diferentes mecanismos que podem ou não ser favoráveis ao tratamento. Na escolha do tratamento do pacien- te, existem alguns importantes pila- res que devem ser levados em conta, são eles: • Deve-se priorizar a qualidade de vida do paciente, o controle de cri- se e tentar utilizar aquele fármaco com menos efeitos adversos. • Se possível, priorizar uma mono- terapia, em mínima dose efetiva até dose máxima tolerada, dimi- nuindo assim os efeitos adversos,possíveis interações medica- mentosas e facilitando a adesão terapêutica. • Se for necessário, deve ser realiza- da a associação de medicamen- tos, evitando fármacos com inte- rações complexas, mecanismo de ação diferentes e evitar o uso de mais de três fármacos. • O que deve ser considerado ne escolha do medicamento? Deve- -se considerar o espectro de ação, efeitos adversos, interação com outros fármacos, teratogenicidade, custo e a opinião do paciente. Fármacos Antiepilépticos Historicamente, os fármacos antie- pilépticos (FAEs) podem ser classifi- cados em três gerações. A primeira geração compreende aqueles comer- cializados entre 1857 e 1958 e inclui o brometo de potássio, o fenobar- bital e várias moléculas derivadas da estrutura dos barbitúricos, como a fe- nitoína, a primidona, a trimetadiona e a etossuximida. A segunda geração inclui fármacos como a carbamazepina, o valproato e os benzodiazepínicos, introduzidos entre 1960 e 1975, quimicamente di- ferentes dos barbitúricos. Apenas após 1980, passaram a ser comercializados compostos da tercei- ra geração, constituída por fármacos descobertos pelo “desenvolvimento 21EPILEPSIA racional”, como a progabida, a ga- bapentina, a vigabatrina e a tia- gabina, bem como por outras ain- da descobertas de forma acidental, como a lamotrigina e o topiramato. Neste momento, testemunha-se o desenvolvimento de FAEs de quarta geração. Agora, iremos explorar algumas ca- racterísticas dos principais FAES utilizados, entre elas: mecanismo e espectro de ação, interação medica- mentosa, função psiquiátrica, tera- togênese, dose mínima efetiva até máxima tolerada e efeitos adversos. Fenobarbital Mecanismo de ação: gabaérgica Espectro de ação: focais / tônico clô- nica generalizada (TCG) Interação medicamentosa: indutor enzimático Função psiquiátrica: efeito negativo Teratogênese: D- evidência de risco fetal Dose: 100 a 200 mg Efeitos adversos: ataxia, tontura, so- nolência, disartria, fadiga, cefaleia, irritabilidade, vertigem, nistagmo e depressão. Indicação: Tratamento de crises fo- cais e generalizadas de pacien- tes de qualquer idade, inclusive recém-nascidos. Ácido valproico Apresentações: • Valproato de sódio • Ácido valproico: Depake- ne e Depakene ER (liberação prolongada) • Divalproato de sódio: Depako- te e Depakote ER (liberação prolongada) Mecanismo de ação: ação gabaérgi- ca, bloqueio do canal de cálcio tipo T e bloqueio do canal de sódio. Espectro de ação: amplo (focais/ generalizada). Interação medicamentosa: inibidor enzimático. Função psiquiátrica: efeito positivo. Teratogênese: D – evidência de risco fetal (cognitivo e estrutural) Dose: 500 a 3000 mg Efeitos adversos: náusea, cefaleia, aumento do tempo de sangramen- to, trombocitopenia, tremor, alopecia, astenia, sonolência, diplopia, tontura, dispepsia, zumbido, nistagmo, vômi- tos e diarreia. Obs: é também utilizado como esta- bilizador de humor Indicação: Monoterapia e terapia ad- junta de pacientes com mais de 10 anos de idade e com qualquer for- ma de epilepsia. 22EPILEPSIA Fenitoína Mecanismo de ação: bloqueador do canal de sódio Espectro de ação: crises focais / TCG Interação medicamentosa: indutor enzimático Função psiquiátrica: Efeito negativo Teratogênese: D – evidência de risco fetal Dose: 100-300 mg Efeitos adversos: ataxia, tontura, so- nolência, disartria, nistagmo, atrofia cerebelar, bradicardia, bloqueio de condução (apenas com infusão rá- pida), hipertrofia gengival e anemia megaloblástica. Obs: única droga disponível por via endovenosa. Indicações: • Tratamento de crises TCG, focais complexas, ou combinação de ambas, em crianças, adolescen- tes e adultos; • Prevenção e tratamento de crises epilépticas durante ou após pro- cedimento neurocirúrgico; • Tratamento das crises tôni- cas, próprias da síndrome de Lennox-Gastaut. Carbamazepina Mecanismo de ação: bloqueador do canal de sódio e discreta ação anticolinérgica. Espectro de ação: crises focais / TCG Interação medicamentosa: indutor enzimático Função psiquiátrica: efeito positivo Dose: 400 a 1200 mg Efeitos adversos: ataxia, tontura, so- nolência, náuseas e vômitos Obs: É uma droga de baixo cus- to! O que pode facilitar a adesão terapêutica. Indicações: Monoterapia ou terapia adjuvante de crises focais, com ou sem generalização secundária; Crises TCG em pacientes com mais de um ano de idade. Oxcarbazepina Mecanismo de ação: bloqueador do canal de sódio Espectro de ação: crises focais / TCG Interação medicamentosa: indutor enzimático fraco Função psiquiátrica: efeito positivo Teratogênese: sem dados (é utilizada em gestantes) Dose: 600 a 1800 mg Efeitos adversos: tontura, ataxia, ce- faleia, náuseas, nistagmo, sonolên- cia, alteração da marcha, tremor, dor 23EPILEPSIA abdominal, fadiga, vertigem, anorma- lidades visuais Lamotrigina Mecanismo de ação: bloqueador do canal de sódio Espectro de ação: amplo (focais e generalizadas) Interação medicamentosa: não tem efeito no citocromo P450, mas seus níveis são influenciados por inibido- res ou indutores Função psiquiátrica: efeito positivo Teratogênese: C – uso com cautela Dose: 200 a 600 mg Efeitos adversos: tontura, diplopia, cefaleia, ataxia, turvação visual, rinite, sonolência, alergia e rash cutâneo. Obs: Ao aumentar a dose, deve ser feito progressivamente de 25mg em 25 mg. Se o paciente estiver usan- do inibidor enzimático, esse aumento deve ser realizado de 12,5 em 12,5 mg. Indicações: • Monoterapia para crises focais com ou sem generalização secun- dária em pacientes com mais de 12 anos de idade em situações de intolerância ou refratariedade a medicamentos de primeira linha; • Monoterapia para crises primaria- mente generalizadas em pacien- tes com mais de 12 anos de idade em situações de intolerância ou refratariedade a medicamentos de primeira linha; • Terapia adjuvante para crises fo- cais em pacientes mais de 2 anos de idade; • Terapia adjuvante para crises ge- neralizadas da síndrome de Len- nox-Gastaut, em pacientes com mais de 2 anos de idade. Topiramato Mecanismo de ação: bloqueador do canal de sódio, gabaérgica, antago- nista do receptor de AMPA/Kinase Espectro de ação: amplo (focais e generalizadas) Interação medicamentosa: não tem efeito no citocromo P450 Função psiquiátrica: efeito negativo Teratogênese: D – evidência de risco fetal Dose: 200 a 400 mg Efeitos adversos: redução de bicar- bonato sérico, tontura, fadiga, ataxia, nervosismo, parestesia, lentificação psicomotora, visão anormal, anorexia, confusão, alteração de memória, náu- seas, alteração da fala e dificuldade de na realização de cálculos. Obs: por ser um fármaco com grande quantidade de efeitos adversos, não é tão bem tolerado! Indicações: 24EPILEPSIA • Monoterapia para crises focais ou primariamente TCGs em pacien- tes mais de 10 anos de idade com intolerância ou refratariedade a outros medicamentos de primeira linha; • Terapia adjuvante para crises fo- cais, primariamente generalizadas ou crises associadas com a síndro- me de Lennox-Gastaut em pacien- tes mais de dois anos de idade. Levetiracetam Mecanismo de ação: ligação com pro- teína SV2A (vesícula sináptica), im- pedindo que o neurotransmissor al- cance a fenda sináptica, ou seja, atua na condução sináptica Espectro de ação: amplo (focais e generalizadas) Interação medicamentosa: não tem efeito no citocromo P450 Função psiquiátrica: efeito negativo Teratogênese: C – uso com cautela Dose: 1 a 3g Efeitos adversos: astenia, cefa- leia, HAS, sonolência, fadiga, ano- rexia, fraqueza, tosse, depressão e irritabilidade. Obs: É um fármaco mal tolerado do ponto de vista psiquiátrico (muitos efeitos negativos) e possui um eleva- do custo. Bem... Agora que já aprofundamos um pouco o conhecimento sobre os fármacos antiepilépticos, podemos destacar as principais indicações de uso, de acordo com o tipo de crise que o paciente apresenta. Até o momento, foram publicados qua- tro guidelines – AcademiaAmericana de Neurologia (AAN), National Institu- te for Clinical Excellence (NICE), Scot- tish Intercollegiate Guidelines Network (SIGN) e a International League Against Epilepsy (ILAE) –, baseados em evidên- cias, para o tratamento da epilepsia. Vá- rias discrepâncias significativas entre eles foram constatadas. Neste material trabalharemos com as recomendações da ILAE, que foram baseadas apenas em evidências de eficácia e efetividade, para escolha de fármacos anticonvulsi- vantes são as seguintes: • Adultos com epilepsia focal → carbamazepina, fenitoína e ácido valproico; • Crianças com epilepsia focal →carbamazepina; • Idosos com epilepsia focal → la- motrigina e gabapentina; • Adultos e crianças com crises TCG, crianças com crises de ausência, epilepsia rolândica e epilepsia mio- clônica juvenil → nenhuma evidên- cia alcançou níveis A ou B de re- comendação. Mas usualmente são utilizados: ácido valproico (1ª es- colha), lamotrigina e etossuximida. 25EPILEPSIA Critérios para troca de medicamento (manutenção de monoterapia) Assegurada a adesão ou nível sérico (quando disponível) recomenda-se a troca de medicamentos nas seguintes situações: • Intolerância à primeira monoterapia em doses adequadas; • Falha no controle ou presença de exacerbação de crises. Critérios para o uso de associação medicamentosa Poderá haver associação de medica- mentos nos seguintes casos: • Controle inadequado de crises com duas monoterapias sequenciais; • Paciente de alto risco para agrava- mento de crises, definido por epi- lepsias generalizadas sintomáticas, quando em uso de anticonvulsivan- te de espectro estreito. Há evidências de sinergismo entre o ácido valproico e a lamotrigina, quan- do utilizados em combinação no tra- tamento de crises focais e generaliza- das. Há, também, evidências de que o uso de carbamazepina em combinação com lamotrigina pode favorecer o apa- recimento de efeitos adversos neurotó- xicos devido a interações farmacodinâ- micas adversas. Critérios de Interrupção do tratamento Por falha de tratamento O período de avaliação da respos- ta será de 3 meses com o tratamento em doses máximas, após o que, caso não haja resposta, um segundo medi- camento será adicionado ao esquema terapêutico. Por remissão das crises O paciente é considerado livre de crises quando elas não ocorrerem por pelo menos 2 anos, em vigência de trata- mento com dose inalterada neste pe- ríodo. Pacientes com crises após este período são considerados refratários. Monitorização do tratamento O tempo de tratamento da epilepsia é, em geral, imprevisível. Há duas situa- ções em que ele pode ser interrompido, como falamos logo acima: por falha do tratamento ou por remissão completa das crises. O período de reavaliação é de 3 me- ses. Na reavaliação, o médico verificará eficácia e segurança do tratamento. A resposta ao tratamento deve ser ava- liada com base na redução do número de crises, bem como na tolerabilidade, levando em consideração os efeitos adversos, especialmente os cognitivos e comportamentais. Sugere-se elaboração de um diário de crises contendo doses do medicamen- to em uso, descrição das crises e efei- tos colaterais. 26EPILEPSIA MAPA MENTAL: MANEJO TERAPÊUTICO Crises focais simples Crises focais complexas Crises focais TCG Crises generalizadas Outros tipos Carbamazepina, fenobarbital ou ácido valproico (> 10 anos) Carbamazepina, fenobarbital, fenitoína ou ácido valproico (> 10 anos) Carbamazepina (>1 ano), fenobarbital, fenitoína ou ácido valproico (> 10 anos) Fenobarbital, ácido valproico (> 10 anos) ou etossuximida (somente crise de ausência em pacientes > 3 anos de idade ou com mioclonias negativas Terapia intermitente: • Clobazam • Ác. Valpoicro mono ou adjuvante (>10 anos) Crise astática: • Etossuximida (adjuvante) • Ác. Valpoicro mono ou adjuvante (>10 anos) Prevenção e tratamento de crises após cirurgia: • Fenitoína • Ác. Valpoicro mono ou adjuvante (>10 anos) Espasmos infantis: • Vigabatrina • Ác. Valpoicro mono ou adjuvante (>10 anos) Síndrome de Lennox-Gastaut: • Ác. Valpoicro mono ou adjuvante (>10 anos) • Topiramato adjuvante (>2 anos) • Fenitoína • Lamotrigina para crises generalizadas (>2 anos) Classificar conforme tipo de crises NÃO Possui idoso ou psiquiátrico? NÃO Possui critérios de exclusão SIM Exclusão do protocolo de tratamento NÃO Possui critérios de inclusão SIM PACIENTE COM DIAGNÓSTICO DE EPILEPSIA Idoso: Recomenda-se gabapentina ou lamotrigina; em casos de falha, tratar conforme tipo de crise, com restrição a fenobarbital e fenitoína. Psiquiátrico: Prefere-se lamotrigina com restrição a fenobarbital e fenitoína.SIM Critérios de inclusão: • Diagnóstico estabelecido de epilepsia (2 crises com intervalo > 24h); • EEG em sono e vigília compatível com o diagnóstico; • RM obrigatória para paciente com epilepsia focal refratária Critérios de exclusão: • Pacientes com diagnóstico duvidoso de epilepsia; • Suspeita de crises não epilépticas. 27EPILEPSIA MAPA MENTAL: EPILEPSIA RESUMO Epilepsia Definição Tratamento Classificação das crises Tipos de epilepsias Critérios Diagnósticos Etiologias Doença cerebral crônica caracterizada pela recorrência de crises epilépticas não provocadas Paciente com alta chance de recorrência 2 crises não provocadas, em um intervalo >24h Síndrome epiléptica EEG em sono e vigília é obrigatório! Estrutural Genética Infecciosa Metabólica Desconhecida Epilepsias FocaisEpilepsias Generalizadas Valproato, Lamotrigina, Topiramato, Levetiracetam. Carbamazepina, Oxcarbamazepina, Lamotrigina, Topiramato, Lacosamida e Levetiracetam Epilepsia Generalizada Epilepsia focal Epilepsia combinada Epilepsia de tipo desconhecido Início Focal Inicio Generalizado Início Desconhecido Perceptiva ou Disperceptiva Início motor ou não motor Focal evoluindo para TCG Início motor ou não motor Início motor ou não motor 28EPILEPSIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SCHEFFER, I.E., et al. Classificação da ILAE das epilepsias: artigo da posição da Comissão de Classificação e Terminologia da International League against Epilepsy. 2017. LAFRANCE W.C. Jr, et al. Minimum requirements for the diagnosis of psychogenic nonepi- leptic seizures: A staged approach. 2018. YACUBIAN, E.M.T., et al. Tratamento medicamentoso das epilepsias. 2014. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: Epilepsia. Ministério da Saúde. 2013. 29EPILEPSIA
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