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O GENOCÍDIO DO NEGRO BRASILEIRO Resenha final

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O GENOCÍDIO DO NEGRO BRASILEIRO
Daniela Pinheiro de Oliveira
Disciplina Educação Popular e Culturas
PPGE – Uninove 1º Semestre/2018
NASCIMENTO, Abdias. O Genocídio do Negro Brasileiro – Processo de um Racismo Mascarado. 3. Edição. São Paulo. Perspectivas. 2016. 232p. 
Abdias Nascimento (1914-2011) foi político, ativista social brasileiro, artista plástico, escritor, poeta e dramaturgo, defensor da cultura e da igualdade para a população afrodescendente no Brasil, quando dos ensaios para sua participação no Primeiro Festival Mundial de Artes e Culturas Negras e Africanas, em Daccar no ano de 1966, escreveu em 1977, época marcada pela a ditadura militar, a sua primeira intitulada sob o nome O Genocídio do Negro Brasileiro, pela editora Paz e Terra publicada em 1978. 
Após aproximadamente 40 anos, a obra foi atualizada e impressa pela editora Perspectiva em 2016, cujo autor, Abdias Nascimento, em consonância com os prefácios de Florestan Fernandes, Wole Soyinka e posfácio de Elisa Larkin Nascimento, contam com quinze capítulos, no intuito em apresentar os discursos, a respeito do racismo brasileiro, da sua história mascarada da democracia racial. Os anexos, contidos no livro, intitulados como Colóquio do Segundo Festival Mundial de Artes e Culturas Negras e Africanas: Relatório das Minorias; Teatro Negro-Brasileiro: Uma Ausência Conspícua; Arte Afro-Brasileira: Um Espírito Libertador apresentam-se como documentos de sua importância, registros de fatos históricos, que contribuem para reconstrução da história Afro Brasileira.
O início da leitura alerta-se pela definição da palavra “genocídio”, cuja qual, não é interpretada como aniquilamento coletivo de ordem física, mas, num sentido mais amplo, trata-se assim, de um extermínio cultural, alimentado pelo processo da mestiçagem, numa ideologia elitizada e eurocêntrica. Deste modo, os genocídios são causados pelo “embranquecimento” da raça e da cultura, pelo mito liberdade da Abolição, pelo mito do Senhor benevolente, pelo silenciar do discurso racial, pela repercussão da imagem do Brasil e no exterior, pelo no mito da democracia racial, pelos sincretismos religiosos e as respectivas uniões de culturas, pela exploração e abuso da mulher negra.
O primeiro prefácio foi escrito Florestan Fernandes, amigo e parceiro de jornada de Abdias. E dentro de suas colocações positivas a respeito da obra de seu amigo apontou as três principais contribuições de cunho político e social, inclusive, aos movimentos negros. Assim, Florestan Fernandes percebeu os levantamentos das inquietações de Abdias, quando citou que não existem mais a “Segunda Abolição”, mas uma mudança expressiva nos diversos segmentos negros e mulatos da sociedade brasileira em sua respectiva composição, a segunda percepção, deu-se quando Abdias utilizou o conceito de genocídio, desde o período escravocrata para a compreensão da realidade atual e por fim, apontou a terceira contribuição, como sendo, as tentativas em superar as condições de desigualdade e opressão arraigadas no cerne da sociedade brasileiras, por meio de medidas, reivindicações e proposições para a construção de uma nova sociedade plurirracial:
“(...) a configuração do protesto negro no contexto histórico do último quartel do século XX. (...), “ou ela é democrática para todas as raças e lhes confere igualdade econômica, social e cultural, ou não existe uma sociedade plurirracial democrática. À hegemonia da ‘raça’ branca se contrapõe uma associação livre e igualitária de todos os estoques raciais”. (...)“as populações negras e mulatas têm sofrido um genocídio institucionalizado, sistemático, embora silencioso”. (...) “Com isso, ele concorre para que se dê menos ênfase à desmistificação da democracia racial, para se começar a cuidar do problema real, que vem a ser um genocídio insidioso, que se processa dentro dos muros do mundo dos brancos e sob a completa insensibilidade das forças políticas que se mobilizaram para combater outras formas de genocídio”.(...) “Essas sugestões demarcam a diferença essencial que existe entre uma pseudodemocracia racial e o que deveria ser uma sociedade plurirracial democrática”. (p.18,19).
Na Introdução da obra, sem poupar palavras, Nascimento, não só atribui apenas às elites dominantes os ganhos com a ideologia do branqueamento inserido no Brasil, mas faz uma crítica aos diversos autores que fortalecem esse ideal. Vale aqui neste momento, colocar em evidencia, Gilberto Freire, que baseado numa ideologia da integração da cultura negra com a cultura branca, de modo a socializarem-se, demonstra o luso tropicalismo, tal como uma ideologia que permitiu a tais intelectuais, a acreditarem que os portugueses mereceram colonizar o Brasil, bem como parte do continente africano, denotam a supremacia racial portuguesa e a sua relevância, e que defendem a formação de uma sociedade avançada e constituída na mestiçagem:
“(...) A teoria luso-tropicalista de Freyre, partindo da suposição de que a história registrava uma definitiva incapacidade dos seres humanos em erigir civilizações importantes nos trópicos (os “selvagens” da África, os índios do Brasil seriam documentos viventes deste fato), afirma que os portugueses obtiveram êxito em criar, não só uma altamente avançada civilização, mas de fato um paraíso racial nas terras por eles colonizadas tanto na África como na América. (...) Freyre cunha eufemismos raciais tendo em vista racionalizar as relações de raça no país, como exemplifica sua ênfase e insistência no termo modernidade, não se trata de ingênuo jogo de palavras, mas sim de proposta vazando uma extremamente perigosa mística racista, cujo seria o maior exemplo desta racionalização que tem como objetivo é o desaparecimento inapelável do descendente de africano, tanto fisicamente quanto espiritualmente, através do malicioso processo de embranquecer a pele negra e a cultura do negro”. (p.49)
Destacando o genocídio por meio do pensamento conservador, que foi capaz de difundir o racismo, radicado no tecido social, quanto às relações sociais, hierarquias e etc., o negro, segundo Florestan foi socializado a tolerar as desigualdades, ao invés de buscar atitudes para erradicar o racismo, permanece a sua condição de escravo, diante das influencias culturais. Outrossim, Abdias entende que o genocídio indígena foi tratado somente pelos colonizadores europeus, mas foi colocado que os negros se aliaram aos brancos para tal erradicação dos povos indígenas.
Ainda neste tópico, Nascimento aborda Gilberto Freyre, um conservador de direita, como um “fértil criador de imagens”, dando uma ideia de afetividade entre os brancos e os negros, por meio de conceitos da morenidade, isto é metarraça dadas pela retirada da identidade africana e a branqueia, ocidentalizando o negro. A democracia racial também propagandeia que os negros tenha o mesmo direito e oportunidades que os brancos, deste modo, como se o racismo fosse camuflado. Portanto, tanto o embraquecimento como a democracia racial supõe-se numa ficção ideológica, quando por uma espécie de etiqueta brasileira, busca abafar, qualquer discurso contrário, da situação racial.
No segundo capítulo da obra, intitulada como “Escravidão: O mito do Senhor Benevolente”, narra a respeito de uma escravidão vivida pelos africanos e seus descendentes não sofridas em razão da benevolência dos senhores, proprietários dos escravos. Desde os primórdios da escravidão, os africanos embatiam-se com os opressores hegemônicos, inclusive com a Igreja Católica, negando tal mito da benevolência, como também das respectivas aptidões naturais ao trabalho pesado, assim, existiam as diversas formas de recusas, incluindo o suicídio, protestos, crimes, fuga:
“(...) igreja católica teria exercido a função de principal ideólogo e pedra angular para a instituição da escravidão em toda a sua brutalidade.(...) O cristianismo, em qualquer de suas formas, não constitui outra coisa que aceitação, justificação e elogio da instituição escravocrata, com toda sua inerente brutalidade e desumanização dos africanos(p. 62, 63).”
No que concerne à aceitação da religiosidade africana, exposto no terceiro capítulo, apresenta o sincretismo como uma forma de integração do catolicismo, ratificando a permanência cultural africana no seio da sociedade brasileira, porém Nascimento contra esta falácia de grave perigo, que apresenta um apelo sedutor, capaz de ter aparato na elite intelectual e política, que detém o domínio sobre a dinâmica social no país, cita que:
“(...) Postula o mito que a sobrevivência de traços da cultura africana na sociedade brasileira teria sido o resultado de relações relaxadas e amigáveis entre senhores e escravos. Canções, danças, comidas, religiões, linguagem, de origem africana, presentes como elemento integral da cultura brasileira, seriam outros tantos comprovantes da ausência de preconceito e discriminação racial dos brasileiros “brancos” (p. 66)”.
Em suma, apesar da falsa ideia de benevolência, justificada pelo cristianismo, na legitimação da escravidão, Abdias cita que na verdade a Igreja Católica apoiou a escravidão, o batismo do negro escravizado tinha como objetivo o de exterminar a raça negra, ou seja, além de salva-los, teriam suas almas brancas.
Ao criticar a “Exploração Sexual da Mulher Africana”, Nascimento denunciará a herança patriarcal portuguesa, no Brasil: “(...) Ainda nos dias de hoje, a mulher negra, por causa da sua situação de pobreza, ausência de status social, e total desamparo, continua a vítima fácil, vulnerável a qualquer agressão sexual do homem, principalmente do homem branco” (p. 73-74). O mito da “democracia racial” exposto do Nascimento, cita as relações saudáveis por meio do casamento entre as raças brancas e negras, ao passo que as mulatas são frutos de estupro da mulher africana, pelos senhores, elites escravocratas. A mulher africana era tida como um objeto de fornicação dos senhores escravocratas, que segundo Abdias, geravam rendas, por meio da prostituição de suas cativas, bem como, existiam consideráveis rejeições, entre esses casamentos, brancos e mulheres africanas.
O “Mito do Africano Livre” é pauta do quinto capítulo da obra, considerado um elemento central na construção de seus estudos a respeito do genocídio do negro brasileiro, primeiro porque um escravo ao cabo de sete a oito anos já era considerável imprestável para trabalhar, em virtude da fadiga, da falta de alimentação, das condições precárias em que viviam, bem como os escravos velhos, os doentes, os aleijados, os mutilados, eram atirados nas ruas a própria sorte, como se fossem lixos humanos, assim, eram o mito da liberdade. Segundo, que o ato da Abolição, dominada como um ato libertador foi um ato de assassinato em massa, pelos crimes. Os africanos e seus descendentes, tendo sido exonerados de responsabilidades, os senhores, o Estado e a Igreja, passaram à condição de marginalidade. E outra abordagem, refere-se ao mito da liberdade por meio do aliciamento pelos serviços militares, prometendo ao escravo, a condição de serem livres e patriotas, durante as guerras no período escravagistas, ao passo que, segundo Nascimento, a interpretação real, era forçar a participação do escravo africano nas guerras coloniais de Portugal e do Brasil como prova da integração do negro e da sua identidade brasileira, assim, os cativos se inscreviam preferindo morrer no campo de batalha, mas estavam precariamente livres.
Não obstante, Abdias identificou que formação social no Brasil e do consequente processo de genocídio do negro, diz respeito à ideologia do branqueamento, apresentando, um processo progressivo de clareamento da população brasileira, com a supervalorização do “mulato” e a liquidação da raça negra, que permaneceram em desvantagem social, pois ambos são vítimas de igual desprezo, idêntico preconceito e discriminação, cercado pelo mesmo desdém da sociedade brasileira institucionalmente branca. Em outras palavras, no final do século XIX e começo do século XX era proposto que as classes dominantes no país, a construir uma sociedade que apresentasse o domínio hegemônico da cultura de matriz europeia branca, logo o Brasil não teria nenhuma característica multirracial ou multicultural.
Nascimento censurará todo processo de expurgo dos negros da sociedade brasileira, frequentemente, que se vê impedida pelos tabus erigidos pela proibição da discussão sobre raça, até mesmo entre a população negra no Brasil, uma vez que qualquer movimento de conscientização da população afro-brasileira é vista como ameaça ou agressão retaliativa pela elite intelectual e pelos setores políticos dominantes. Deste modo, para Abdias o processo de um racismo mascarado tem por finalidade negar ao negro a possibilidade de um auto- reconhecimento indenitário, fato que contribui para a repercussão da dominação e exploração da população negra no Brasil, desmotivando-a, imobilizando-a e desacreditada qualquer tipo de organização que vise questionar a real condição deste segmento social.
No capítulo intitulado “Discriminação: Realidade Racial” Abdias Nascimento aponta que a condição de pobreza da população negra, refere-se principalmente à questão racial, do que uma questão de classe. O autor indaga a visão de muitos “ideólogos mal-intencionados” que fortalecem a ideia de que o negro encontra-se em situação de pobreza e miserabilidade por vontade própria. Categoricamente, a condição racial define a posição social inferiorizada da população negra em relação à população branca, assim, em outras palavras, para Abdias, tratar em uma estratificação “não racial” ou “puramente social e econômica” no Brasil é reproduzir slogans e racionalizações racistas, “pois a raça determina a posição social e econômica na sociedade brasileira”.
No que tange a imagem internacional que o Estado brasileiro buscou construir, Nascimento ratifica sua condição desfavorável dos afro-brasileiros, pois não é apresentada ao cenário internacional, com a disseminação da ideia do mito “democracia racial” e da suposta predominância de relações raciais harmônicas, que “só concede aos negros um único privilégio: aquele de se tornarem brancos, por dentro e por fora”. Para o autor, esta espécie de imperialismo da brancura, influenciado pelo capitalismo, produz conceitos de assimilação, aculturação e miscigenação, que se disfarçam, sob uma superfície teórica, uma a crença intocada na inferioridade dos africanos e seus descendentes. E todo um aparato legal e de mecanismos de controle social e cultural, consubstanciado no sistema educativo, nos meios de comunicação de massas e na imprensa em geral, a tudo isso, controlado por uma elite que destitui o negro da condição de pessoa e de criador e condutor de uma cultura própria. Assim, segundo Nascimento:
“(...)Quando de considera a duplicidade do comportamento brasileiro face às nossas relações de raça [...], surge com toda a naturalidade a pergunta: até que extensão representa um gesto de amizade e de relações positivas a preconizada política brasileira, em direção à África? Tudo não seria – como todas as indicações sugerem – mera tentativa de substituir a influência de Portugal colonialista, expulso da África pelas armas da libertação, por outra influência, desta vez de um neocolonialismo brasileiro? Não significaria o conteúdo dessa a continuidade dos interesses econômicos, políticos e culturais daquelas mesmas classes que têm tradicionalmente se beneficiado com a opressão e a exploração dos africanos e seus descendentes?” (p. 109).
No nono capítulo, abordará a respeito do “Embranquecimento Cultural: Outra Estratégia de Genocídio”, deste modo, Nascimento, ratifica que assimilação cultural é efetiva da mesma forma, quanto a herança da cultura africana existe em estado de permanente confronto com o sistema dominante, cujo qual, foi idealizado para negar as suas respectivas fundações e fundamentos, destruir ou degradar suas estruturas. Todavia, além do africano e o afrodescendente não ser reconhecido culturalmente como um elemento que contribui para a formação de uma estrutura social, desde o ponto de vista de uma identidadecoletiva, têm, no plano individual, sérias dificuldades de autoafirmação enquanto integrantes de uma matriz étnico-racial. Abdias do Nascimento, afirmou que o sistema educacional, também reproduz esses discursos, pois a identidade negro-africana é negada de forma “intelectual e científica” no lócus de produção do conhecimento, inclusive no espaço universitário. 
Segundo as culturas trazidas ao Brasil, afirma Abdias:
“(...) Nem todos os africanos condutores dessas culturas e seus descendentes estavam em condições de manter vivas e desenvolver suas respectivas contribuições à cultura do novo país, na medida em que eles próprios se achavam sob terríveis condições. Vítimas permanentes da violência, suas instituições culturais se desintegraram no estado de choque a que foram submetidas. As línguas africanas – expressão fundamental da visão de mundo de suas respectivas culturas – foram destruídas, com raras exceções para fins rituais. O racismo, exatamente como classifica as raças em “superior” e “inferior”, emprega idêntico critério para rotular as línguas em “inferior” e “superior” (p. 125).
Por outro lado, um dos principais espaços onde se buscou a eliminação do referencial cultural africano foi na religião. O catolicismo apresentou-se como uma religião em termos de igualdade com as religiões africanas, pelo dado sincretismo, apenas com o intuito de submeter às últimas aos seus dogmas e preceitos, além do domínio físico, o domínio psicológico dos escravos. Abdias, afirma que só o nome “sincretismo” envolveu as culturas africanas entre si, e estas com a religião dos índios brasileiros. O falso modo deste chamado sincretismo pode ser também percebido no tratamento desdenhoso dispensado às religiões africanas por seus supostos “parceiros” de sincretismo, a saber: os católicos brancos e os estudiosos da religião. Nascimento, assim, entende que ao esvaziamento cultural, a inferiorizarão da cultura afro-brasileira, é denominada folclorização, como uma forma de desenvolver a cultura afro-brasileira a sua comercialização, dispensando a classe dominante.
Para discorrer o título Bastardização da Cultura Afro-Brasileira, Abdias numa definição simplória, demonstra a importância de que se admita a matriz cultural africana como formadora da identidade nacional brasileira. Abdias também identificou como “branquificação interior” sendo a incapacidade de aguentar a estratificação vigente e a relevância imposta pela noção de ser um homem ocidental, resultando, em muitos negros e mulatos, revelações de “ódio pela própria cor”. A obrigação estética submeteu ao indivíduo negro à assimilação cultural e a criar neste, a aceitação dos níveis de superioridade e inferioridade racial. No entanto, a tudo que se relaciona com que cultura africana e do africano como pessoa no Brasil, há quatro séculos reina, coagindo-os a alienar a própria identidade pela pressão social, apesar da limitação que a classe dominante, impunha, a essa atividade, a expansão espiritual do africano, extravasou as fronteiras em especial de cunho cultural, segundo o autor.
O último capítulo intitulado como “Uma reação contra o embraquecimento: O Teatro experimental Negro, Abdias do Nascimento aborda os motivos pelos quais fundou, em 1944, o Teatro Experimental do Negro (TEN) cujos objetivos fundamentais eram o de resgatar os valores da cultura africana, marginalizados e relegados à condição de “folclóricos, pitorescos e insignificantes”, assim, como uma forma de visibilidade aos atores negros em superar as imagens grotescas e estereotipadas e questionar, refletir e criticar a literatura que focalizava o negro como um exercício esteticista ou diversionista. Por fim, segundo Abdias do Nascimento, o TEN primou por um processo de revisão dos conceitos com vistas às mudanças de atitudes e a liberação espiritual e social da comunidade afro-brasileira.
Contudo, diante dos fatos mencionados, baseados nas Conclusões da obra, quanto às condições sociais econômica do mestiço no Brasil, o pardo, também ocupa o mesmo lugar de discriminação racial, ou seja, é uma inclusão por exclusão. 
A estratégia em embranquecer o país, a coisificação da mulher negra, pelos brancos de modo que cada geração tornasse um país mais branquiado, o ideal, colocado na mente das pessoas mesmo que de forma sutil, para que o mestiço não se identificasse com sua ancestralidade negra, mas com sua ancestralidade branca de maneira que ele passasse a ser parte da manobra da classe dominante branca, “O genocídio do negro brasileiro” sintetiza-se na busca pela operacionalização de Abdias do Nascimento nas categorias mestiçagem e genocídio como sendo centrais em sua análise da condição social e política do negro brasileiro. 
O conceito de morenidade é o ápice do genocídio, definido por ele, processado pela “orquestração” e “implementação” de uma “mestiçagem programada” que tem por desígnio eliminar sistematicamente o elemento negro da dinâmica social brasileira.
Por fim, a obra como um todo, remete a uma leitura prazerosa, completada por dados estatísticos, peças da arte literária, versos, ditos populares, entre outros, quando são estudados de forma minuciosa, revelando o racismo implícito e explícito. Tal obra bem estruturada, assemelha-se a um catalogado de registros históricos, os quais, convidam ao leitor a ler com atenção para melhor compreensão. O livro enfim, destina-se aqueles que simpatizam-se com os as questões étnico raciais do Brasil, bem como aos grupos de pesquisas acadêmicos, relacionados as temáticas.
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