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U N I D A D E 0 1 C O N C E P Ç Õ E S D E L I N G U A G E M E E N S I N O D E P O R T U G U Ê S J O Ã O WA N D E R L E Y G E R A L D I ( I E L / U N I C A P ) MIKHAIL BAKHTIN “Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro”. Conclui-se que “ a orientação da palavra em função de um interlocutor, de um auditório social, tem uma importância muito grande”. Essa perspectiva fundamenta a abordagem designada por Linguística da Enunciação, abordagem adotada nas análises de João Wanderley Geraldi AINDA A PERSPECTIVA DE BAKHTIN(ORIOL 1895 - MOSCOU,1975) O autor procura levar em conta a enunciação completa, seja ela uma palavra, uma frase, ou uma sequência de frases. A enunciação, compreendida como a réplica do diálogo social, é a unidade de base da língua. Ela é de natureza social. Há sempre um interlocutor presumido. O locutor se exprime sempre para um auditório social. (Marxismo e Filosofia da Linguagem, São Paulo: Hucitec.) O BAIXO NÍVEL DE UTILIZAÇÃO DA LÍNGUA (CRENÇA) O autor evidencia essa crença, enumerando alguns problemas relacionados à utilização da língua, que permitem evidenciar o que se costuma chamar “ crise do sistema educacional brasileiro”: redações de vestibulandos com desempenho insuficiente; a utilização da gíria pelo jovem, o baixo nível de leitura (tiragens de jornal, vendas de livros, uso de bibliotecas, etc...) REFLEXÕES SOBRE O PROBLEMA Constatar o fracasso relacionado ao desempenho linguístico não significa que tenhamos que responsabilizar o professor pelos resultados insatisfatórios. Ao contrário, trata-se de: 1- Refletir sobre as condições de trabalho do professor; 2- Remuneração; 3- Condições para desenvolver capacitação em serviço, dentre outros determinantes para um trabalho Quais elementos adicionais poderíamos sugerir? 4- 5- QUESTÃO PRÉVIA: A OPÇÃO POLÍTICA E A SALA DE AULA Antes de se pensar em atividade adequada, metodologia de ensino, material didático, necessário ter em conta que qualquer metodologia de ensino envolve uma opção política. Talvez, devêssemos perguntar: qual a base teórica, qual o fundamento ideológico em que se apoia o professor? No lugar de se enfatizar perguntas como: 1- O que ensinar? 2- Como ensinar? Valeria indagar: 3- Para que ensinamos o que ensinamos? CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM Identificam-se, via de regra, segundo o autor, três concepções 1- A linguagem é a expressão do pensamento: pessoas que não se expressam conforme um ideal estabelecido não pensam. Fundamenta, notadamente, os estudos tradicionais – prevalece a seguinte abordagem: Gramática tradicional 2- A linguagem é instrumento de comunicação: associada à teoria da comunicação, com base em alguns elementos chave. Emissor – Língua/canal – Receptor (língua pensada como código). Abordagem presente em muitos livros didáticos, notadamente nas mensagens dirigidas aos professores. Prevalece a seguinte abordagem: estruturalismo TERCEIRA CONCEPÇÃO: OPÇÃO ADOTADA PELO AUTOR 3- A linguagem é uma forma de interação. Não se trata apenas de se transmitir uma mensagem da parte de um emissor para um receptor. A linguagem é concebida como lugar de interação humana : diálogos, réplicas. Nessa perspectiva, compreende-se que o sujeito que fala age sobre o ouvinte. Falantes são sujeitos do discurso, da enunciação. Há compromissos, vínculos estabelecidos quando dos processos de interação verbal. Prevalece a seguinte abordagem: Linguística da Enunciação A INTERAÇÃO LINGUÍSTICA • Evidencia-se uma espécie de jogo nos processos de interlocução verbal. Alguém fala, enuncia. Outro aceita o enunciado, concorda ou o rejeita. Fica, então estabelecido o jogo que se joga em sociedade cada vez que ouvimos e participamos dos processos interativos por meio da fala. • Segundo o autor, “ estudar a língua é, então, tentar detectar os compromissos que se criam por meio da fala e as condições que devem se preenchidas por um falante para falar de certa forma em determinada situação concreta de interação”. A DEMOCRATIZAÇÃO DA ESCOLA • A democratização do acesso à escola promoveu a necessidade de se lidar com as variedades linguísticas de maneira cada vez mais acentuada. Precisaríamos, então, indagar: 1- qual a forma de fala que foi elevada à categoria de língua? Norma culta? 2- Como lidar com os alunos de diferentes camadas sociais, que trazem diferentes modos de falar? • Reflexão importante: “ uma variedade vale o que valem na sociedade os seus falantes. Vale como reflexo do poder, da autoridade que têm seus falantes no domínio, político, econômico.” ( Maurizio Gnerre) TRANSFORMAÇÃO DE UMA VARIEDADE LINGUÍSTICA EM VARIEDADE CULTA OU PADRÃO 1- A associação da variedade à modalidade escrita. 2-A associação da variedade à tradição gramatical. 3- A dicionarização dos signos da variedade. 4- A consideração da variedade como portadora legítima de uma tradição cultural e de uma identidade nacional (academias, universidades, instituições de prestígio em geral) INDAGAÇÃO DERIVADA DA ANÁLISE: QUAL A ATITUDE DO PROFESSOR? DOMINAR QUE FORMA DE FALAR? Outras perguntas necessárias • 1- Adotar a variedade trazida pelos alunos oriundos das camadas populares? • 2- Adotar a variedade de prestígio designada como culta ou padrão? • 3- ?? ENSINO DE LÍNGUA E ENSINO DE METALINGUAGEM Podemos inferir que o objetivo mais amplo do ensino de língua portuguesa seja oportunizar o domínio do dialeto padrão, da norma culta. Logo, como resolver o dilema: ensino da língua ou ensino da metalinguagem? Observe-se que adotar uma concepção de linguagem não ajuda construir somente uma nova metodologia de ensino, mas, sobretudo, um novo conteúdo. Qual o conteúdo necessário para se ensinar a língua nos anos iniciais do Ensino Fundamental? Quais os problemas decorrentes de um excesso do ensino da metalinguagem? TAREFA Clique na ferramenta QUESTIONÁRIO para responder às questões do estudo orientado. Com base nas reflexões indicadas por João Wanderley Geraldi, responda as questões das páginas 05 e 12. REFERÊNCIAS • GERALDI, João Wanderley. Concepções de linguagem e o ensino de português. In: GERALDI, João Wanderley. (org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2001, p.39-45. • GNERRE, Maurizio. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1985. • SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1986.
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