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Fonte: Dra. Iara Andrade, Medcurso 2019, Rotinas em Ginecologia Introdução – Ciclo menstrual *Melhor explicado no resumo de ciclo menstrual O hipotálamo secreta GnRH, que é um estímulo para a hipófise liberar FSH e LH, hormônios que agem no crescimento e amadurecimento dos folículos (FSH) e estimulação de androgênios que serão convertidos em estradiol (LH), causando queda do FSH por feed back negativo. O estrogênio por sua vez, estimula o espessamento endometrial, atingindo seu pico na metade do ciclo e reduzindo o FSH e LH, fazendo com que grande parte dos folículos sofram involução. Em seguida, há um novo pico de FSH e LH, promovendo a ovulação, ruptura do folículo e liberação do óvulo. Após isso, ocorre a formação do corpo lúteo, que secreta estrogênio e quantidades elevadas de progesterona, com o objetivo de manter a gestação. Não havendo fecundação em 10-12 dias, os níveis de progesterona e estrogênio caem, provocando a diminuição da produção de LH e FSH, de modo que o corpo lúteo regrida, reduzindo por sua vez a produção de progesterona e estrogênio e fazendo com que o endométrio descame, ocorrendo a menstruação e dando início a um novo ciclo. Introdução - Amenorreia Amenorreia é a ausência de menstruação no período do menacme (período fértil), podendo ser classificada como primária ou secundária. A amenorreia primária é a ausência de menarca em: 1. Pacientes até 16 anos de idade, porém com características sexuais secundárias presentes ou 2. Pacientes até 14 anos de idade, porém com características sexuais secundárias ausentes. A amenorreia secundária, por sua vez, é a ausência de menstruação por 3 meses ou por um período equivalente a três ciclos habituais, para a paciente que apresentou ou que apresentava ciclos menstruais previamente. A amenorreia também pode ser classificada em: → Fisiológica: gestação, amamentação e menopausa. → Causas anatômicas: hímen imperfurado, malformação uterina, sinéquias uterinas, lesão por infecção do endométrio, lesão do endométrio ou ovário por irradicação. → Anomalias genéticas: síndrome de Turner, deficiência enzimática por herança autossômica recessiva, hermafroditismo verdadeiro e pseudo hermafoditismo. → Causas ovarianas: falência ovariana precoce, síndrome dos ovários policísticos, tumor ovariano de granulosa, síndrome dos ovarianos resistentes. → Causas hipofisárias: tumores de hipófise, hiperprolactinemia de causa não tumoral, síndrome de Sheehan, síndrome da sela vazia. → Causas hipotalâmicas funcionais: estresse, perda de peso/dieta, psicogênica, exercício físico excessivo. → Causas hipotalâmicas orgânicas: tumores, infecções, doenças crônicas debilitantes, iatrogenias. → Outras: obesidade, Cushing, doenças da tireoide. Conceitos importantes sobre o sangramento menstrual a. Hipomenorreia: redução nos dias de duração ou no fluxo. b. Oligomenorreia: redução na frequência das menstruações (intervalos menores que 35 dias). c. Criptomenorreia: o sangramento não se exterioriza por alterações do trajeto de saída. d. Amenorreia: ausência de menarca ou de menstruação por no mínimo 3 ciclos menstruais consecutivos ou 6 meses. e. Atraso menstrual: ausência da menstruação por período inferior a três ciclos. Anamnese Sempre descartar gestação! História ginecológica pessoal e familiar: quantidade de gestações, se houve realização de aborto, hemorragias intraparto. Hábitos de vida: atentar para sinais sugestivos de bulimia ou hiporexia. Questões familiares, conjugais e situação profissional. Drogas de abuso. Atentar para queixas sugestivas de hiperandrogenia ou de falência ovariana. Exame físico Exame clínico-ginecológico, incluindo palpação de abdome e exame das mamas (buscando galactorreia). Peso e altura (magreza excessiva, obesidade), atentando para a distribuição da gordura corporal. Palpação da tireoide. Sinais sugestivos de hiperandrogenismo: piora da acne, hirsutismo, sinais de resistência a insulina. Investigação Inicialmente, sempre descartar a gestação pedindo um BHCG. → Positivo: iniciar pré natal. → Negativo: dosar TSH e prolactina. Dosagem de TSH o A dosagem do TSH objetiva a detecção do hipotireoidismo subclínico (TSH elevado com T4 livre normal), encontrado em pequeno número de pacientes amenorreicas e/ou com galactorreia. o O TRH (fator liberador do hormônio tireotrófico) apresenta ação estimuladora sobre a produção da prolactina, o que explica a necessidade de avaliação dos níveis de TSH. o Normalmente, causa mais amenorreia primária, mas pode causar amenorreia secundária, embora não seja frequente. o Os níveis elevados dos hormônios tireoidianos causam aumento da conversão periférica de androstenediona e testosterona em estrona e estradiol, respectivamente, determinando aumento dos estrogênios circulantes. o Assim, há um retrocontrole hipotalâmico anormal, que culmina com níveis persistentemente elevados de LH e consequente anovulação, e eventualmente, amenorreia. Dosagem de prolactina o A prolactina é um hormônio sintetizado pela adeno- hipófise e possui como funções fisiológicas a indução e manutenção da lactação, inibição da função reprodutiva e inibição do impulso sexual. o A hiperprolactinemia promove amenorreia pela inibição da secreção pulsátil do GnRH. Este efeito pode ser contornado com o uso de agonistas da dopamina, como a bromocriptina e a cabergolina, pela inibição da secreção de prolactina. TSH alterado: manejo de doença tireoidiana. Prolactina alterada: repetir exame*. → <= 100 mcg/dL: na ausência de causas destacadas*, referenciar ao endocrinologista. → > 100 mcg/dL: solicitar RM de crânio para investigar prolactinoma. ▪ Normal: referenciar ao endocrinologista. ▪ Alterada: referenciar ao neurocirurgião. *Elevações de prolactina podem estar relacionada a estresse, alimentação, e/ou medicamentos, motivo pelo qual é importante repetir a dosagem antes do prosseguimento investigativo. Explicando imagem anterior o Um dos mecanismos pelo qual o hipotireoidismo pode causar amenorreia é: a redução primária nos níveis circulantes de tireoide provoca aumento compensatório no hormônio hipotalâmico liberador da tireotrofina (TRH). o Como parte do eixo da tireoide, o TRH aumenta o TSH estimulando os tireotrofos hipofisários. o Além disso, o TRH liga-se também aos lactotrofos hipofisários, aumentando a secreção de prolactina. o O aumento da prolactina circulante resulta em aumento compensatório da dopamina central, o principal inibidor da secreção de prolactina. o O aumento nos níveis centrais da dopamina altera a secreção de GnRH, rompendo, consequentemente, a secreção gonadotrófica cíclica normal e impedindo a ovulação. o Não há dúvidas de que há outros mecanismos por meio dos quais o hipotireoidismo e a hiperprolactinemia provocam distúrbios na função menstrual, mas, no momento, tais mecanismos não estão bem compreendidos. TSH e prolactina normais → Faz teste do progestagênio: medroxiprogesterona 10 mg, 1x/dia por 7-10 dias. ▪ Com sangramento: manejo conforme possíveis causas, como SPO, estresse, exercício físico intenso e dieta excessiva. ▪ Sem sangramento: teste com estrógeno e progestágeno. → Teste com estrógeno e progestágeno: 1,25 mg de estrogênios conjugados por 21 dias + 10 mg de medroxiprogesterona nos últimos 7-10 dias (dias 12-21). ▪ Sem sangramento: pesquisar causas uterinas, como sinéquias. É necessário fazer um exame de imagem. ▪ Com sangramento: dosar FSH e LH. Teste da progesterona o Avalia simultaneamente o status estrogênico e a patência do trato genital de saída. o A ocorrência do sangramento de supressão, dois a sete dias após o término do esquema, significa queo estrogênio endógeno ocasionou a proliferação endometrial normal (os níveis de estrógenos devem ser > 40 pg/ml) e o trajeto de saída está pérvio. o Neste caso, como as dosagens de TSH e de prolactina são normais, é possível concluir que houve anovulação: a presença do estrogênio endógeno garantiu uma resposta endometrial satisfatória, mas não houve antagonização pela progesterona (ausência da formação do corpo lúteo). o Por conseguinte, não ocorreu a queda nos níveis plasmáticos de progesterona que desencadeiam a menstruação. o Na ausência de sangramento após o teste da progesterona, devemos suspeitar de causas relacionadas à produção estrogênica deficiente, resposta endometrial inadequada ou fator obstrutivo do trato de saída. Teste da progesterona e estrogênio o A mimetização de um ciclo com estrogênio e progesterona exógenos visa examinar a resposta endometrial e avaliar a patência do trato de saída. o A ocorrência de sangramento (teste positivo) exclui as causas uterovaginais, enquanto a falta de resposta ao ciclo artificial atesta alteração no compartimento I, ou seja, anomalias do trato genital. o Diferentemente do esperado, mulheres com aderências uterovaginais podem apresentar algum grau de sangramento de privação, o que torna a avaliação da cavidade endometrial essencial na definição diagnóstica, mesmo em mulheres com teste positivo. o O teste negativo geralmente está associado a causas de amenorreia primária. → FSH > 20 e LH > 40: manejo conforme possíveis causas de falência ovariana, como menopausa, menopausa precoce e síndrome genética. → FSH e LH < 5: solicitar uma RM para investigar hipófise. ▪ Normal: referenciar ao endocrinologista. ▪ Alterada: referenciar ao neurologista. Tratamento Tratar a causa base, sempre associando às mudanças de estilo de vida. SOP → Estimular a paciente a ter hábitos de vida saudáveis, diminuir o peso, psicoterapia. → Contraceptivos hormonais combinados (dar preferência a medicamentos que tenham baixa androgenicidade ou antiandrogênicos). → Metformina + ciproterona: aumenta a sensibilidade periférica à insulina, diminui efeitos androgênicos e restaura ovulação. → Clomifeno 25-50 mg/dia do terceiro ao sétimo dia do ciclo. Em caso de falha, utilizar gonadotrofinas. Anticoncepcional → Deve-se considerar suspender temporariamente o anticoncepcional. A menstruação geralmente retorna após dois meses da cessação do uso do ACO, mas pode ser necessário esperar até 6 meses para que isso ocorra. Após a interrupção do uso da medroxiprogesterona de depósito, pode ser necessário até um ano para retorno da menstruação. Deve-se oferecer outro método contraceptivo para evitar gestação indesejada. Amenorreia hipotalâmica → Oferecer apoio psicossocial focado no estresse situacional e na melhora da capacidade de resolução de proteínas pode ser suficiente nos casos leves. → Se necessário, solicitar apoio do matriciamento em saúde mental. → Casos mais graves, especialmente se envolverem transtornos alimentares, são mais bem manejados por equipe especializada multidisciplinar. Falência ovariana → Orientar e atentar ao manejo clínico de outros sintomas relacionados à falência ovariana. → Se idade < 40 anos, encaminhar para ginecologista ou endocrinologista para avaliar menopausa precoce. Hiperprolactinemia → Se confirmada hiperprolactinemia e afastadas causas iatrogênicas, encaminhar para endocrinologista ou ginecologista. Hipotireoidismo: reposição de levotiroxina. Neoplasia de ovário ou adrenal: encaminhar para avaliação especializada com urgência, conforme fluxo local. Tumores de sistema nervoso central: para seu diagnóstico, deve-se solicitar RC ou RM, geralmente em nível secundário ou terciário. Fator uterino (obstrução do trato genital): encaminhar para ginecologista para avaliação.
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