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É uma frequente queixa no PA oftalmológico. É fundamental que o clínico saiba diferenciar as patologias benignas das patologias que podem acarretar (por vezes, num curto espaço de tempo) a perda visual, de forma direta ou indireta. Os principais achados que sugerem gravidade são: Dor ocular acentuada Redução da acuidade visual Sensação de desconforto intenso, provocando fechamento palpebral reflexo Pupila não fotorreagente ou pouco fotorreagente Fotofobia Opacidade corneana Hipópio Sinais e sintomas compatíveis com crise aguda de glaucoma Os quatro principais diagnósticos diferenciais são: conjuntivite, uveíte, glaucoma aguda ou ceratite. Hemorragia ocular: locais vermelhos com locais brancos. Hiperemia: todo o globo ocular vermelho. Hemorragia subconjuntival: é uma coleção de sangue circunscrita entre a conjuntiva e a esclera. Clinicamente, observa-se uma mancha vermelho- vivo na região branca do olho, tipicamente assintomática e circunscrita. Corpo estranho: nunca deixar de virar a pálpebra, pois grande parte dos corpos estranhos estão alojados abaixo da pálpebra. Pede para o paciente olhar para baixo, puxa a pálpebra para frente e vira a pálpebra. Após isso, tira-se o corpo estranho com o dedo ou com agulha com ponta dobrada, coloca uma pomada oftalmológica e faz um curativo oclusivo permanente por 24 horas. Lesões por solda e luz de solda: Os sintomas começam a surgir 6 horas após o contato. Comumente é bilateral. É necessário sedar (Loxepam, Lorazepam) o paciente, fazer analgesia (colírio anestésico) e curativo oclusivo por 24 horas. Lesões por álcalis: É pior do que as lesões por ácido, pois a base se prende ao olho e vai “comendo” a superfície. Tratar com ácido fraco para neutralizar: lavar o olho com 2 colheres de sopa de suco de limão para uma xícara de água. NÃO lavar o olho com água, pois a erosão aumenta. Lesões por ácidos: Tratar com base fraca para neutralizar: lavar o olho com 1 colher de sopa para uma xícara de água. As conjuntivites são as causas mais comuns de “síndrome do olho vermelho”. Na conjuntivite não complicada, o paciente refere desconforto ocular (sensação de “areia nos olhos” ou de corpo estranho), mas não há dor ocular, não há redução da acuidade visual, nem fotofobia acentuada e as pupilas são normais e fotorreagentes. Em geral, um olho é acometido primeiro, seguindo- se o acometimento bilateral. Não é incomum a ocorrência de inflamação palpebral associada (blefarite). A causa mais comum de conjuntivite é a conjuntivite viral, sendo uma doença de alta incidência em todo o Mundo. Quase sempre é causada pelo adenovírus. Conjuntivite granulosa: superfície granulosa na conjuntiva. Pode ser bacteriana ou viral. Conjuntivite com secreção: catarral (semelhante à secreção brônquica, com presença de bolhas de ar) ou purulenta (deve ser tratada em no máximo 48 horas). Toda conjuntivite que com 3 dias não começa a melhorar e 7 dias não cura, ela passa para a córnea. Tracoma: É uma ceratoconjuntivite granulomatosa crônica recidivante causada pela Chlamydia trachomatis sorotipos A, B, Ba ou C. o É uma doença de alta contagiosidade, endêmica em algumas áreas com precárias condições sócioeconômicas. o Não é uma DST! Estes sorotipos da clamídia são transmitidos pelo contato próximo ou através de insetos veiculadores (moscas). o Trata-se de uma infecção ocular crônica, acometendo, principalmente, as crianças com menos de 2 anos de idade, embora também possa acometer até adultos. o No início, o paciente se apresenta com olho vermelho, fotofobia, blefaroespasmo, sensação de “areia nos olhos”, lacrimejamento, com ou sem secreção mucopurulenta. o Ao exame, há uma conjuntivite folicular bilateral, com folículos proeminentes e hipertrofia papilar na conjuntiva tarsal superior e no limbo superior. o A evolução é para acometimento grave da córnea. Este se dá principalmente pelo desenvolvimento do pannus (invasão de fibrovascular da córnea) e pela cicatrização fibrosa da conjuntiva tarsal superior, deformando a pálpebra a ponto de causar inversão palpebral (entrópio) e dos cílios (triquíase), que lesam a córnea mecanicamente. Tracoma folicular → Tracoma intenso → Cicatrização conjuntival tracomatosa → Triquíase tracomatosa → Opacidade corneana. o O processo evolui para ceratite ulcerativa e opacidade corneana, obscurecendo a visão. o Se tratado na fase precoce, é possível curar a doença sem deixar sequelas. A preferência é para a terapia sistêmica com dose única de azitromicina 20 mg/Kg ou 1g para adultos. A episclerite é uma inflamação aguda da episclera, de evolução benigna e autolimitada, não trazendo risco á acuidade visual do paciente. Na maioria das vezes é idiopática (70% dos casos), embora possa ocorrer associada a doenças sistêmicas inflamatórias. O paciente se apresenta com um quadro agudo de olho vermelho, com desconforto ocular e lacrimejamento. Tipicamente, não há dor ocular, fotofobia, borramento visual ou secreção e na maioria das vezes é unilateral. O quadro clínico geralmente resolve espontaneamente em poucos dias (2-21 dias). Episclerite nodular (da foto): o olho do paciente apresenta uma inflamação nodular localizada. É o tipo mais comum, geralmente idiopático. Episclerite difusa: o olho do paciente possui inflamação mais difusa, de predomínio periférico e com “injeção episcleral” (engurgitamento dos vasos episclerais), semelhante à “injeção conjuntival”. Tratamento: Para alívio dos sintomas, deve-se prescrever colírios lubrificantes (hidroxipropilmetilcelulose 0,5%) 4-6x/dia até a resolução da inflamação ocular. Em casos mais sintomáticos, apesar dos colírios lubrificantes, pode-se acrescentar colírios anti- inflamatórios AINE 4x/dia, como o colírio de cetorolaco de trometamina 0,5% (Acular) ou o diclofenaco 1% (Still). As ceratites formam um grupo de doenças que provocam lesão inflamatória da córnea, muitas delas apresentando um potencial destrutivo e ameaçador à visão, especialmente as causas infecciosas. O grande problema das ceratites é o potencial para causar um dano irreversível à visão. As complicações são mais prováveis nas ceratites infecciosas profundas, que afetam o estroma corneano, como a ceratite herpética avançada, bacteriana, fúngica e amebiana. Quatro complicações com repercussão visual podem ocorrer: Astigmatismo irregular: decorrente da irregularidade dos meridianos de uma córnea cicatrizada. Algumas vezes, pode ser corrigido com lentes de contato rígidas. Leucomas: são cicatrizes estromais fibróticas da córnea. A infecção ou inflamação do estroma tendem a cicatrizar com formação de cicatrizes fibróticas, deixando manchas brancas permanentes. Se estas manchas se localizarem no eixo pupilar, trarão importante prejuízo da visão. Perfuração da córnea e Endoftalmite: é a complicação mais temida das ceratites! A necrose estromal pode atingir toda a espessura do estroma, causando descemetocele (abaulamento da membrana de Descemet em direção anterior), seguida de perfuração. Neste caso, o agente infeccioso se alastra para todos os tecidos oculares, acarretando endoftalmite, com grande chance de amaurose. O paciente com ceratite costuma se manifestar com olho vermelho devido à injeção conjuntival reativa, localizada na área perilímbica (flush ciliar) ou então por apresentar uma conjuntivite associada (ceratoconjuntivite). Dor ocular, intensa fotofobia, pupilas mióticas, sensação de corpo estranho provocando fechamento palpebral reflexo (blefaroespasmo) e redução recente da acuidade visual são achados sugestivos de ceratite. A dor ocular é causada pela própria lesãocorneana (a córnea é ricamente inervada por ramos do V par craniano) e pela contração reflexa do músculo ciliar e esfíncter da íris. Secreção mucopurulenta branco-amarelada pode ser vista nas ceratites bacterianas, embora apareça em menor quantidade quando comparada à conjuntivite bacteriana. A presença de dor ocular importante e fotofobia pode dificultar o exame. Neste caso, na ausência de sinais de trauma perfurante, um colírio anestésico pode ser aplicado, aliviando a dor do paciente por cerca de 10-20min. Teste da Fluoresceína ou Rosa-bengala: Fluoresceína: impregna qualquer defeito epitelial da córnea, superficial ou profundo (úlcera corneana), seja por ceratite ou por abrasão. Na presença de um defeito, a iluminação pela luz azul de cobalto irá revelar áreas de coloração verde ou esverdeada. Rosa-bengala: impregna células epiteliais desvitalizadas, sendo muito usado para o diagnóstico da lesão herpética. As lesões adquirem tonalidade vermelha quando iluminadas pela luz branca. Tratamento Ceratites infecciosas: os antimicrobianos tópicos são a base da terapia e devem ser iniciados o quanto antes. ▪ Nas primeiras 24h de tratamento duas gotas do colírio a cada 15min nas primeiras 6h e depois a cada 30min nas próximas 18h (podendo reduzir um pouco a frequência de aplicação durante o sono do paciente). ▪ Após este período, mantém-se a posologia a cada 1h, espaçando-se progressivamente os intervalos, até completar um total de 5-7 dias. ▪ A melhor opção em nosso meio é o colírio de ciprofloxacina 0,3% (Ciloxan, Biamotil) Ceratites não infecciosas, na síndrome do olho seco, na ceratite herpética neurotrófica e nas abrasões da córnea: colírios lubrificantes podem auxiliar no reparo tecidual e no alívio do desconforto ocular. Ceratites dolorosas: são utilizados colírios cicloplégicos como adjuvantes, por auxiliar no controle da dor, já que inibem o espasmo do músculo ciliar e do esfíncter da íris. O colírio de ciclopentolato 1% (Cicloplégico colírio) ou o colírio de atropina 1% podem ser aplicados 2x/dia. o Anterior: é a inflamação da íris, sendo também conhecida como irite. Representa 70-80% dos casos de uveíte na prática médica, sendo uma das causas mais importantes de síndrome do olho vermelho. o Posterior (5%): é a inflamação da coroide (coroidite), estando frequentemente associada à vitrite (inflamação do corpo vítreo) e à retinite (inflamação da retina). A causa mais comum de uveíte posterior é a toxoplasmose. Eventualmente, a uveíte posterior ocorre de forma combinada com uveíte anterior. o Intermediária (1%): inflamação da pars plana do corpo ciliar (parsplanite). o Panuveíte (<1%): inflamação de todo o trato uveal, sendo uma forma particularmente grave de uveíte. A uveíte posterior e a uveíte intermediária não se manifestam com olho vermelho e não serão descritas neste resumo. A uveíte anterior é uma entidade especialmente importante para os clínicos, devido à sua frequente associação com doenças sistêmicas, especialmente as doenças reumáticas, a doença inflamatória intestinal e a sarcoidose. A uveíte anterior pode ser dividida em dois tipos: (1) aguda (não granulomatosa) (2) crônica (granulomatosa) O tipo não granulomatoso é mais comum e pode ser idiopático ou associado à espondiloartropatias soronegativa ou artrite reumatoide juvenil. O tipo granulomatoso, na maioria das vezes, tem associação com a sarcoidose ou sífilis. A uveíte anterior pode ter uma instalação aguda, evoluindo geralmente com surtos auto limitados e recidivantes, ou se apresentar de forma insidiosa e crônica. Uveíte anterior aguda (não granulomatosa): O acometimento costuma ser unilateral. A doença se apresenta ao longo de horas ou dias com olho vermelho, dor ocular intensa opressiva (por vezes, referida como periorbitária), fotofobia acentuada, lacrimejamento e borramento visual de grau variado (quando presente). Não há secreção ocular ou hiperemia tarsal, como nas conjuntivites e nem sensação de corpo estranho, como nas ceratites. Sinais encontrados: hiperemia e injeção conjuntival, miose em graus variados, redução da acuidade visual, redução transitória da PIO. Sinais e achados no exame de lâmpada de fenda: ▪ Flare: uma cortina entre o primeiro e segundo feixe, que está relacionado à inflamação da câmara anterior. ▪ Precipitados ceráticos: são agregados de linfócitos grudados no endotélio da córnea. ▪ “Células” na câmara anterior (indicam uveíte em atividade): o oftalmologista observa na região do feixe luminoso grupamentos de leucócitos (“células”) flutuando nas correntes de convecção do humor aquoso. ▪ Hipópio: uma coleção de pus estéril na câmara anterior. Está presente em apenas algumas uveítes anteriores, como nas uveítes HLA-B27 positivas e na doença de Behçet. Uveíte anterior crônica (granulomatosa): Está geralmente associada à sarcoidose, sua causa mais comum). Manifesta-se insidiosamente com borramento visual e leve vermelhidão ocular. A dor e a fotofobia são discretas ou inexistentes. A doença geralmente começa unilateral e evolui para o acometimento bilateral. Sinais e achados no exame de lâmpada de fenda: ▪ Nódulos inflamatórios na íris: são dois tipos. Os nódulos de Koeppe são vistos na borda pupilar e os nódulos de Busaca são observados na superfície anterior da íris. ▪ Precipitados ceráticos tipo “gordura de carneiro”: são precipitados grandes e de aspecto “gorduroso”, distribuídos numa região triangular na porção inferior da córnea. ▪ “Flare”: como não está relacionado à atividade de uveíte, o “flare” se torna permanente nas uveítes crônicas. ▪ “Células”: são observadas apenas em períodos de exacerbação aguda da doença. ▪ Sinéquias posteriores: são bastante frequentes nas uveítes crônicas granulomatosas. Tratamento Inclui dois tipos de fármaco: (1) corticoides tópicos, (2) cicloplégicos tópicos. O colírio de acetato de prednisolona 1% é aplicado no(s) olho(s) afetado(s) a cada 2h, durante pelo menos 1 semana, quando então, caso haja melhora da inflamação, a aplicação é espaçada para 4x/dia durante semanas ou meses, dependendo do caso. O colírio cicloplégico tem duas funções: (1) inibir a contração do músculo ciliar e do esfíncter da íris, aliviando a dor ocular e a fotofobia do paciente, (2) afastar a borda pupilar do cristalino, prevenindo ou desfazendo as sinéquias posteriores. A atropina 1% ou ciclopentolato 1% são aplicados a cada 12h durante 1-3 semanas. O glaucoma primário de ângulo fechado (GPAF) representa cerca de 10% dos adultos com glaucoma idiopático, sendo definido pela presença de um ângulo iridocorneano (ângulo de filtração) estreito na vigência da lesão neuropática glaucomatosa. A crise de glaucoma agudo ocorre pelo mecanismo de bloqueio pupilar, no qual o humor aquoso é impedido de passar da câmara posterior para anterior, pois os olhos afetados apresentam câmara anterior estreita. O GPAF predomina na faixa etária entre 55-70 anos e no sexo feminino. Fatores de risco: - Ângulo iridocorneano estreito (constitucional) - Idade > 40 anos - Sexo feminino (3:1) - Asiáticos - Esquimós - História familiar positiva (parente de 1o grau) - Hipermetropia - Diabetes mellitus - Íris plateau - Pseudo-esfoliação Na crise há dor ocular intensa, redução da acuidade visual, às vezes associada a náuseas e vômitos. Perceba que esta crise pode simular uma crise grave de enxaqueca. Ao exame ocular notam-se PIO alta (>45 mmHg), hiperemia, edema de córnea, câmara anterior rasa e médio midríase fixa. Tratamento Analgesia Manitol 20% 250 ml EV em 45 minutos: promove aumento da osmolaridade plasmática, com desidratação do humor vítreo eredução da PIO. É contraindicado em paciente com DRC grave ou ICC. Colírio de acetato de prednisolona 1% 5-5 minutos 3 vezes: promove a redução da inflamação ocular. Depois manter 1 gota 2/2 horas nas primeira 24 horas. Colírios hipotensores: maleato de timolol 0,5%, 1 vez, tartarato de brimonidina 0,2% 1 vez e cloridrato de dorzolamida 2% 1 vez. Colírio de pilocarpina 2% 5-5 minutos 3 vezes: ação colinérgica, tem por objetivo promover fechamento pupilar e quebra do bloqueio iridoristalino. Acetazolamida 500 mg VO: reduz a produção do humor aquoso ao inibir a anidrase carbônica. Massagem ocular com pressão corneana anteroposterior: tenta quebrar o bloqueio pupilar. Durante o tratamento da crise aguda de glaucoma, a tonometria deve ser aferida a cada 30min. Se a PIO não cair abaixo 21 mmHg após 2h de tratamento farmacológico, a iridoplastia a laser de argônio, deve ser feita em caráter de emergência. Se a PIO continuar acima de 21 mmHg após 4-6h de tratamento, o paciente é encaminhado para a cirurgia de urgência (ou iridotomia a laser de urgência).
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