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1 Stephane D’arc – Mód. Saúde da Mulher Hepatites Virais Definição Geral A hepatite viral é uma infecção que gera necroinflamação do fígado, com manifestações clínicas e laboratoriais relacionadas à lesão hepática inflamatória. Existem 5 vírus principais relacionados às hepatites virais, sendo eles essencialmente: os vírus A, B, C, D e E – Vírus Hepatotrópicos Obs: Outros vírus podem cursar com hepatite como uma de suas manifestações sistêmicas, a exemplo do citomegalovírus, herpes vírus, Epstein-Barr, varicela, febre amarela, dengue. Manifestações clínicas da Hepatite Após entrar em contato com o vírus da hepatite o indivíduo pode desenvolver um quadro de hepatite aguda, podendo apresentar formas clínicas oligo/assintomática ou sintomática. → Forma oligo/assintomática – simulação de um quadro gripal → Forma sintomática - a apresentação é típica, com os sinais e sintomas característicos da hepatite como febre, icterícia e colúria. Fase aguda (hepatite aguda) Fase pré-ictérica: os sintomas são inespecíficos como: • Viremia • Febre • Náuseas • Aumento de ALT, AST Esse período pré-ictérico dura geralmente uma semana, podendo estender-se até três semanas. Importante - Além disso, a doença tende a apresentar-se de forma mais aguda na hepatite A e, mais insidiosa, na hepatite C Fase icterícia: o marco dessa fase é a urina com coloração escura com: • Pico de ALT/AST • Icterícia • Sem febre • Hepatomegalia Nessa fase, os níveis virais começam a decair no sangue e no fígado. Duração da fase ictérica: Normalmente alguns dias até uma semana, podendo se estender por 4-8 semanas. Fase de convalescença: período que se segue ao desaparecimento da icterícia, quando retorna progressivamente a sensação de bem-estar. A recuperação completa ocorre após algumas semanas, mas a fraqueza e o cansaço podem persistir por vários meses. IMPORTANTE: a maioria dos pacientes evolui para cura, em particular nas hepatites A e E. Porém, 55% a 80% dos casos de hepatite C e 2% a 10% dos adultos com hepatite B irão evoluir para forma crônica – além disso, no caso da hepatite B, 95% dos recém-nascidos e 20% das crianças irão evoluir para forma crônica. Hepatite A A infecção causada por um vírus RNA classificado como sendo da família Picornavirus, transmitida por via fecal-oral. o Doença benigna e autolimitada (não apresenta forma crônica) Período de incubação: 15-45 dias A transmissão sexual (relação sexual oral-anal) nos faz classificar hepatite A como uma IST. ➢ Vacina de vírus inativado Quem pode/deve se vacinar? ❖ A partir de 1 ano de idade, em 2 ou 3 doses, com intervalo de 6 meses; ❖ Hepatopatas crônicos ❖ Viagens, HSH, HIV+ ❖ Individuo que teve contato pode tomar a vacina de bloqueio. Obs: é recomendada a vacinação para relação HSH com anti-HAVIgC negativo. 2 Stephane D’arc – Mód. Saúde da Mulher Epidemiologia: a distribuição desse vírus é mundial e os surtos epidêmicos resultam da contaminação de reservatórios de água e alimentos, especialmente em condições de aglomeração primária – como escolas, creches e prisões. Não à toa, a infecção é mais comum em crianças e adolescentes, e em regiões tropicais subdesenvolvidas. Fisiopatologia: o mecanismo de lesão hepática parece não ter relação á ação direta do vírus, mas sendo uma consequência da resposta imune do hospedeiro contra antígenos expressos nos hepatócitos. O vírus se replica no fígado e é montado no citoplasma dos hepatócitos, sendo secretado na bile e no soro. Diagnóstico: O diagnóstico da hepatite A é baseado no quadro clínico e nas provas sorológicas evidenciando infecção aguda. ❖ Há dois tipos de anticorpo relacionados ao vírus da hepatite A O anti-VHA IgC e o anti-VHA IgM A forma IgM marca a infecção aguda, aparecendo no soro logo no início da doença e tem seu pico em poucas semanas após o início dos sintomas. Em até 5 meses, metade dos infectados não têm mais a forma IgM detectável no sangue. A forma IgG pode ser detectada na fase aguda, mas na fase de convalescência se torna predominante, atingindo seu pico em 3 a 12 meses após o início da doença e persistindo por toda a vida. Hepatite B A infecção é causada por vírus de DNA da família HepaDNAviridae que infecta os hepatócitos. As vias de transmissão são: o Sexual(IST) o Parenteral o Vertical o Horizontal/Domiciliar Período de incubação: 60-180 dias O vírus possui um envoltório externo, o qual contém proteínas antigênicas denominadas de antígeno de superfície do HBV(HBsAg). Importante: Um dos marcadores de cronicidade da hepatite B é a persistência desse antígeno HBsAg por um período de 6 meses. O core(HBcAg) armazena DNA, contém a enzima DNA-polimerase e um antígeno solúvel(HBeAg) que relaciona-se com a replicação da hepatite B. Epidemiologia: No mundo há locais com alta endemicidade, ou seja >8% da população é HBsAg+; Fisiopatologia: seu DNA possui quatro fases de leitura, que codificam os genes para: o antígeno de superfície (gene S, HbsAg) – sendo o HbsAg marcador de infecção tanto aguda quanto crônica; antígeno-core (gene C, HbcAg); a polimerase doHBV (gene P) – importante alvo dos antivirais – e uma pequena proteína com funções transativadoras (gene x, HbxAg). Além disso, o gene C tem dois códons de iniciação, podendo produzir dois produtos diferentes: HbcAg, retido nas células hepáticas até a montagem e incorporados aos vírions; e o HbeAg, secretado no soro – por isso o HbeAg é um marcador de replicação viral. O vírus se replica predominantemente nos hepatócitos, podendo 3 Stephane D’arc – Mód. Saúde da Mulher ocorrer sua replicação também nas células--tronco do baço, pâncreas e medula óssea. O mecanismo de lesão hepática não está relacionado a um efeito citopático direto do vírus, mas à resposta imune dos hospedeiros. Linfócitos T citotóxicos geram apoptose das células hepáticas infectadas, gerando a lesão. Clínica - Marcadores É de suma importância saber o perfil da sorologia – agudo/crônico para definir o tratamento. AgHbs (superfície) AgHbe (replicação) Anti-Hbc total (contato) IgM(agudo)/IgG Anti-Hbs (cura) Anti-Hbe Anti-Hbc total (contato) – é o marcador do contato. Indica que houve contato com o vírus. Ele possui 2 frações: • Anti-Hbc total- fração IgM+: ele pode está fazendo uma infecção aguda ou está reativando a hepatite B. • Anti-Hbc total- fração IgG+: mostra que houve contato prévio com o vírus. Anti-Hbe+: geralmente define uma parada na replicação viral. O que teremos no período de incubação? - HbsAg, HbcAg e DNA do vírus no soro. O que teremos no início da fase aguda? - anti- Hbc e as aminotransferases também se elevam – anti-Hbc IgM está relacionado á fase aguda da infecção e tende a desaparecer gradualmente, enquanto o anti-Hbc IgG se eleva posteriormente no individuo infectado e permanece por toda a vida. O que teremos na fase de recuperação? o HbsAg declina e, posteriormente, o anti-Hbs aumenta, após o desaparecimento do HbsAg. O anti-Hbs é um marcador de infecção passada ou curada, indicando imunidade ao vírus. Neste caso, o anti-Hbc irá diferenciar aqueles com infecção passada e com imunidade por vacinação: ele estará presente no primeiro caso e ausente no segundo. Diagnóstico: Pode ser suspeitado em pacientes com sinais e sintomas e alterações bioquímicas no sangue, associados a um HbsAg+ no soro. Obs: O marcador HbsAg+ está presente também na infecção crônica e pode indicar que, na verdade, o paciente já era portador e, por algum motivo, agudizou a hepatopatia. Dessa forma, a dosagem de Anti-Hbc IgM é importante pois este marcador se eleva precocemente na infecção, desaparecendo em 6-12 meses após o inícioda doença. Logo, se ele for positivo favorece a hipótese de hepatite B aguda. Tratamento: Normalmente quem merece mais atenção são os pacientes que apresentam a forma crônica da doença. → Uso de inibidores de transcriptase reversa, imunomoduladores e antivirais: • Entecavir • Tenofovir • Alfapeguinterferona Hepatite C Vírus de RNA, pertencente á família Flaviridae, e possui elevada diversidade genética contando com alto número de genótipos. A transmissão acontece por: o Contato parenteral o Transmissão sexual (incomum) o Materna-infantil Período de incubação: até 6 meses Não possui vacina/imunoglobulina Fisiopatologia: fisiopatologia, vírus se replica intensamente no fígado e os linfócitos citotóxicos têm papel essencial na resposta imune, assim como na lesão hepática. Esses linfócitos geram diretamente os hepatócitos por apoptose, semelhantemente ao que ocorre na hepatite B. A resposta imune, no entanto, é menos intensa, raramente resultando em hepatite fulminante. Obs: A evolução para a infecção crônica é muito frequente (de 55% a 80% dos casos). Diagnóstico: Ocorre a partir do quadro clínico e da presença do Anti-HCV no soro do paciente, contudo este marcador não distingue entre a Dentre as complicações da hepatite B, temos: cirrose, insuficiência hepática e o carcinoma hepatocelular. 4 Stephane D’arc – Mód. Saúde da Mulher infecção aguda e crônica. Além disso, o anti-HCV é detectado de 1-2 meses após a infecção, ou seja, pode estar negativo mesmo em um quadro de infecção aguda. Dessa forma, deve ser usado o RNA viral, que pode ser detectado pouco tempo após o contato, pelo método PCR. Tratamento: No caso de hepatite C aguda, aguardamos 12 semanas após o início dos sintomas e, se a viremia persistir usa-se: • Anti-viral – interferon por 24 semanas. Paciente com diagnóstico de hepatite C, mas assintomático, inicia-se a terapia logo após o diagnóstico. Fármacos utilizados para tratar a hepatite C: Alfapeginterferona,ribavirina,daclatasvir, sofosbuvir, ledipasvir/sofovir, elbasvir/grazoprevir, glecaprevir/pibrentasvir,velpatasvir/sofosbuvir,alfa epoetina, flgrastim. O esquema e combinação de fármacos, doses e duração do tratamento irão depender do genótipo da hepatite C, dado que genótipos diferentes respondem de maneira distinta aos vários esquemas. O objetivo do tratamento é a resposta sustentada, caracterizada pela ausência do RNA viral na 12a ou 24ª semana de uso. A metodologia do exame deve ser pelo PCR, com limite de detecção de <12UI/mL. Referências Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite B e Coinfecções / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. –Brasília: Ministério da Saúde, 2017. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite B e Coinfecções / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. – Brasília :Ministério da Saúde, 2019.
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