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Regime Administrativo à luz dos problemas da Pandemia

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REGIME DE DIREITO ADMINISTRATIVO À LUZ DOS PROBLEMAS ENFRENTANDOS EM DECORRÊNCIA DA PANDEMIA DA COVID-19.
ADMINISTRATIVE LAW REGIME IN THE LIGHT OF PROBLEMS FACING THE COVID-19 PANDEMIC.
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo promover reflexões sobre o regime jurídico administrativo em tempos de pandemia. Os reflexos da imposição do afastamento social que incidem nas liberdades individuais em contraponto com a necessidade de atuação da administração para abrandar o crescente de número de pessoas infectadas com o novo coronavírus e métodos de auxílio a população; somado a soberania do direito coletivo frente ao individual. Entendendo a necessidade administrativa como um princípio administrativo implícito em uma nova concepção de legalidade. Sem contestar que a gravidade da situação demanda providências que consistam em ações coordenadas e planejadas, sempre preservando o bem comum, mas também respeitando os limites constitucionais. O momento é o de prevenir todo e qualquer risco de dano à ordem público-administrativa, na busca da preservação da vida.
Palavras-Chave: Regime de direito administrativo; Pandemia.
ABSTRACT: This article aims to promote reflections on the administrative legal regime in times of pandemic. The reflexes of the imposition of social exclusion that affect individual freedoms in contrast to the need for action by the administration to slow the growing number of people infected with the new coronavirus and methods of helping the population; added to the sovereignty of the collective right over the individual. Understanding administrative need as an administrative principle implicit in a new conception of legality. Without contesting that the gravity of the situation demands measures that consist of coordinated and planned actions, always preserving the common good, but also respecting the constitutional limits. The moment is to prevent any risk of damage to the public-administrative order, in the search for the preservation of life.
Keywords: Administrative law regime; Pandemic
1. INTRODUÇÃO
Brasil declara o coronavírus como Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) através da Portaria do Ministério da Saúde nº 188/2020. ESPINs são surtos ou epidemias que apresentam risco de disseminação nacional, são produzidos por agentes infecciosos inesperados, representam a reintrodução de doença erradicada, apresentam gravidade elevada, ou extrapolam a capacidade de resposta da direção estadual do SUS. ESPIIs são declarados pela OMS em casos de eventos extraordinários que podem exigir potencialmente uma resposta internacional coordenada, ou constituir um risco de saúde pública para outros Estados através da disseminação internacional da doença. Neste momento, a infecção por Coronavírus já é considerada uma epidemia, ou seja, a ocorrência da doença estava claramente excessiva em relação ao esperado em determinadas regiões.
Nesse sentido o Brasil vem adotando métodos para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus. Promovendo medidas de isolamento, que buscam evitar a propagação da infecção e transmissão local, e de quarentena, que buscam garantir a manutenção dos serviços de saúde em determinado local.
Situações excepcionais demandam medidas excepcionais a fim de preservar o interesse coletivo, no entanto, é sabido que o direito administrativo deve pautar suas ações no estrito cumprimento da lei, ainda que o regime jurídico administrativo garanta privilégios desconhecidos dos entes privados e podendo ser utilizados para conter o cenário atual, essa “liberdade” deve estar pautada na lei. Com isso, perceberemos adiante que o direito administrativo urge flexibilização nas suas ações para manter o equilíbrio das relações.
2. CONCEPÇÃO ACERCA DO REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO
O conjunto de regras e os princípios, previstos na Constituição Federal, que estruturam a Administração Pública Brasileira constituem o regime jurídico administrativo. Nos ensinamentos de Di Pietro (2019, p.203),
[...] a expressão regime jurídico administrativo é reservada tão somente para abranger o conjunto de traços, de conotações, que tipificam o Direito Administrativo, colocando a Administração Pública numa posição privilegiada, vertical, na relação jurídico-administrativa.
Ressalta-se que o Direito Administrativo nasceu e desenvolveu-se amparado no fenômeno histórico-político da Revolução Francesa, cuja a essência propiciou o desenvolvimento concomitante do regime individualista e o regime administrativo. Dessa forma, este ramo do direito público tem por um lado a proteção dos direitos individuais frente ao Estado, que serve de fundamento ao princípio da legalidade e, por outro lado, contempla as necessidades do interesse coletivo, que confere prerrogativas e privilégios para a Administração Pública, seja para limitar o exercício dos direitos individuais respaldado no bem-estar coletivo, ou para a prestação de serviços públicos.
Diante da dicotomia presente no Direito Administrativo, o poder da administração e a liberdade individual, é primordial manter o equilíbrio. Submete a administração pública, para garantir os direitos individuais, observar a lei, princípios e valores previstos na Constituição, aplica-se assim, o princípio da legalidade ao direito púbico. Para assegurar o poder da Administração Pública são-lhe concedidas prerrogativas para garantir a supremacia do interesse público sobre o particular.
O que sugere à administração pública privilégios distintos do direito privado, tais como autoexecutoriedade, autotutela, poder de expropriar, requisitar bens e serviços, ocupar temporariamente o imóvel alheio, instituir servidão, aplicar sanções administrativas, alterar e rescindir unilateralmente os contratos, impor medidas de polícia. Goza, ainda, de determinados privilégios como a imunidade tributária, prazos dilatados em juízo, juízo privativo, processo especial de execução, presunção de veracidade de seus atos.
Em contra partida existem restrições a que está sujeita a administração. Di Pietro destaca (2019, p. 205) 
[...]observância da finalidade pública, bem como os princípios da moralidade administrativa e da legalidade, a obrigatoriedade de dar publicidade aos atos administrativos e, como decorrência dos mesmos, a sujeição à realização de concursos para seleção de pessoal e de concorrência pública para a elaboração de acordos com particulares.
Se por um lado as prerrogativas colocam a Administração em patamar de superioridade em relação ao particular, sempre com a finalidade de atingir o benefício da coletividade, as restrições a que está sujeita limitam a sua atividade a determinados fins e princípios que, se não observados, implicam desvio de poder e consequente nulidade dos atos da Administração.
3. ESTADO DE NECESSIDADE
A Constituição Federal prevê ferramentas que permitem que o Estado controle situações excepcionais que demandem restrições de direitos, com o fim de minimizar as drásticas consequências geradas por um estado de necessidade. Autorizando expressamente que ocorra superação da regra quando verificados e assegurados os pressupostos para a aplicação de uma legalidade excepcional.
É evidente que em um Estado Democrático de Direito as restrições à direitos e garantias fundamentais, por exemplo o direito de ir e vir, desapropriação, contratações de emergência, contratações de regime especial de direito administrativo, o direito de propriedade e de segurança, somente poderão ser limitados em casos atípicos, com base legal e constitucional.
Essas excepcionalidades, fogem às regras gerais de direito administrativo a fim de adequar a norma ao caso concreto. No entanto, tais exceções, determinadas pela lei, são específicas a um rol taxativos de situações, pois não há, no ordenamento jurídico brasileiro, cláusula geral expressa para regulamentar aquelas situações excepcionais em que o uso da regra se mostraria insuficiente ou até mesmo impróprio.
O estado de necessidade administrativa é um princípio constitucionalimplícito que permite a Administração ir além ou até contra a lei a fim de superar uma situação de crise, iminente, real e atual que ameace interesses coletivos e cuja superação seria ineficiente e insuficiente, caso fossem utilizadas as regras de direito ordinário. Nas palavras de Miranda (2010, p.116) 
O estado de necessidade administrativa é uma espécie de cláusula habilitadora, com efeitos derrogatórios, suspensivos ou até criativos, de uma atuação da Administração Pública interventiva e ordenadora na sociedade, não prevista em lei ou contrária a esta, integrando o conceito de legalidade alternativa, sem prescindir da constatação de circunstâncias excepcionais que clamam por uma ação urgente e necessária, posto o resguardo do interesse maior sopesado e ponderado.
 Apesar disso, conforme o princípio da legalidade, a administração somente age se autorizada pela lei para viabilizar determinada atuação administrativa em concreto, não havendo margem de inovação. Contudo, como ordenamento jurídico é insuficiente e incompleto, a estrita legalidade torna-se inadequada em situações de anormalidade ou de crise.
Diante de certos casos atípicos, a aplicação da regra causaria impactos descontrolados e negativos para a administração. Nesse caso, ocorrendo o confronto de preceitos é de competência da administração sobrestar as regras de direito em favor de princípios e diretrizes que se amoldam ao caso concreto.
Ainda que exista previsão legal de medidas excepcionais, as regras de direito administrativo são limitadas perante necessidade de adequação a uma situação de crise. Com isso, sendo as regras de direito escassas, exige-se da administração mecanismos razoáveis e proporcionais a fim de superar uma situação crítica, até mesmo, medidas que não encontram previsão na lei. Ressalta se que, diante situações de anormalidade ou de crise, entende-se que a necessidade administrativa advém da maior relevância que se dá à superação de uma ameaça de um dano gravoso ou um perigo iminente e atual, do que se observar a regra, violando-se, em última ratio, os anseios da coletividade. 
4. PANDEMIA DA COVID-19 E ESTADO DE EXCEÇÃO
Considerando a situação de pandemia em relação ao novo coronavírus pela Organização Mundial da Saúde, assim como a Declaração de Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional da Organização Mundial da Saúde, tornou-se imprescindível a adoção de medidas preventivas à propagação da infecção pelo vírus. Sendo assim, o Estado de Emergência e Estado de Calamidade vêm sendo decretados não somente pela União, mas também pelos demais entes federativos.
Frisa-se que o Estado de Emergência está definido no Decreto Federal n. 7.257/10, que define em seu artigo 2º inciso III, a situação de emergência como “situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento parcial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido”. Enquanto no inciso IV do mesmo dispõe sobre o Estado de Calamidade como “situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento substancial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido”. 
 Dessa forma, a fim de que o combate à pandemia seja eficaz surge a necessidade de restrição das liberdades fundamentais, como a livre circulação de pessoas, interdição de viagens, o recrudescimento do controle fronteiriço ou mesmo o fechamento de fronteiras, a restrição ou supressão de reuniões públicas, e até interferência em funerais. 
Prevê o art. 3º Lei nº 13.979/2020 para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus, que as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, dentre outras, as seguintes medidas: 
I - isolamento; 
II - quarentena;
III - determinação de realização compulsória de:
a) exames médicos;
b) testes laboratoriais;
c) coleta de amostras clínicas;
d) vacinação e outras medidas profiláticas; ou
e) tratamentos médicos específicos;
IV - estudo ou investigação epidemiológica;
V - exumação, necropsia, cremação e manejo de cadáver;
VI - restrição excepcional e temporária de entrada e saída do País, conforme recomendação técnica e fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por rodovias, portos ou aeroportos;
VI - restrição excepcional e temporária, conforme recomendação técnica e fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por rodovias, portos ou aeroportos de: 
a) entrada e saída do País; e 
b) locomoção interestadual e intermunicipal; 
VII - requisição de bens e serviços de pessoas naturais e jurídicas, hipótese em que será garantido o pagamento posterior de indenização justa; e
VIII - autorização excepcional e temporária para a importação de produtos sujeitos à vigilância sanitária sem registro na Anvisa, desde que:
VIII – autorização excepcional e temporária para a importação e distribuição de quaisquer materiais, medicamentos, equipamentos e insumos da área de saúde sujeitos à vigilância sanitária sem registro na Anvisa considerados essenciais para auxiliar no combate à pandemia do coronavírus, desde que: (Redação dada pela Lei nº 14.006, de 2020) [...]
Instrumentos de restrição e suspensão de direitos humanos foram empregados pelos entes federativos que se aplicam às atuais medidas em combate à pandemia de Covid-19, se diferenciam pelo nível de gravidade e interferência nas liberdades individuais. Os direitos humanos podem ser limitados a fim de harmonizar seu exercício com os direitos de outros e com o interesse geral da comunidade, como a saúde pública. Contudo, não é faculdade dos estados, de forma arbitrária, restringir direitos humanos, pois devem ser previstas em leis, de forma que se alcance o propósito da forma menos intrusiva possível e proporcionais ao bem comum que se busca.
Assim, os principais desafios que a pandemia traz ao Direito são, a priori, a garantia ao direito à saúde em um contexto que a saúde pública já vive uma crise permanente, e, a posteriori, como gerir as necessidades das instituições e manter o equilíbrio entre o público e o privado sem abusar do cenário atual. 
5. DA RIGIDEZ AUTORITÁRIA À FLEXIBILIZAÇÃO DEMOCRÁTICA DO DIREITO ADMINISTRATIVO
A garantia de um direito fundamental primordial que é a saúde emana medidas que visem conter o vírus que ameaça a vida do homem, no entanto, a soluções jurídicas trazem respostas excepcionais provocando no sistema atuação flexível e democrática da Administração Pública
 Portanto, diante do panorama atual de crise mundial e a fim de conter os problemas causados pela pandemia, exige-se maior flexibilização legalidade administrativa. Ocorre que o princípio da legalidade sofre certa maleabilidade para adotar decisões não pautadas somente na lei, mas na necessidade emergencial dos administrados. Vale lembra que, embora haja, excepcionalmente, uma superação da norma não há que se falar em perda do estado democrático de direito ante aos problemas, analisados mais à frente, tendo em vista, que a atuação de toda e qualquer medida jurídica exige motivação e interesse coletivo.
 Evidentemente, essa emergência e a interpretação abrandada de legalidade não permitem não permitem a distinção intransponível entre atos vinculados e discricionários, mas somente a diferenciação em seus diferentes graus de vinculação. As ações ainda devem ser pautadas nos limites fixados no ordenamento jurídico, sob pena de responsabilidade. Se, por um lado, o Estado não pode se manter inerte às necessidades ímpares da população neste momento de pandemia, por outro, suas condutas não podem dar margem a decisões arbitrárias e infundadas, em desrespeito à finalidade das ferramentas administrativas emergenciais.
Nesse sentido, o controle judicial dos atos administrativos, em situações excepcionais, deixa de lado o entendimento puramente legalista, mas deve atentar também para procedimentos, competências e responsabilidades da administração pública, sempre em prol do interesseda coletividade, à luz da Constitução. Esse controle deve ser tão denso quanto maior for o grau de restrição imposto à atuação administrativa. 
6. ROBLEMAS ENFRENTADOS COM A PANDEMIA DA COVID-19
6.1 CRISE NO SISTEMA DE SAÚDE
A pandemia da COVID-19 vem se apresentado como um dos maiores desafios sanitários em escala global deste século. O insuficiente conhecimento científico sobre o novo coronavírus, sua alta velocidade de disseminação e capacidade de provocar mortes em populações vulneráveis, geram incertezas sobre quais seriam as melhores estratégias a serem utilizadas para o enfrentamento da epidemia em diferentes partes do mundo. No Brasil, os desafios são ainda maiores, pois o sistema de saúde pública enfrenta dificuldades estruturais muito antes da crise atual.
Contudo, a situação se agrava perante o contexto de grande desigualdade social, pois a população não dispõe de forma uniforme de meios de prevenção conta o vírus, com indivíduos vivendo em condições precárias de habitação e saneamento, sem acesso sistemático à água e em situação de aglomeração os níveis de infectados aumentam e consequentemente agrava o sistema de saúde e impede sua contenção de forma mais rápida.
Dessa forma, o poder público utiliza de mecanismos, objetivando dar maior celeridade e atender a demanda, tal como a contratação direta sem licitação e a requisição administrativa, que pode incidir sobre bens imóveis ou móveis, serviços, de modo a intervir na propriedade privada, flexibilizando o direito administrativo em favor de uma excepcionalidade maior
6.2 LIMITAÇÕES AO DIREITO DE IR E VIR
A contenção da pandemia do novo coronavírus necessita a aplicação de medidas rígidas. Em contraposição a efetivação dessas medidas, limita-se o direito de ir e vir (CF, art. 5º, inciso XV), verificando, neste momento, um confronto entre a manutenção de uma liberdade individual frente aos direitos fundamentais à vida e à saúde da coletividade, bem como a possibilidade da potencialização de risco ao próprio Sistema Único de Saúde, de caráter universal.
É notório que nenhum direito fundamental é absoluto. Esse direito deve ser exercido nos termos da lei, podendo ser restringido em decorrência de uma situação excepcional não previamente prevista na Constituição, por outro não pode ser anulado enquanto garantia constitucional, necessitando ser assegurado o núcleo essencial do próprio direito. 
O novo cenário pelo Covid-19 põe em discussão a supremacia da saúde pública sobre os demais direitos, como a liberdade de locomoção, de reunião entre outros. Porém, a vida em sociedade e a efetividade da democracia demandam a abdicação de vontades individuais em prol de uma ordem lógica coletiva, de uma vontade que satisfaça, se não a todos, pelo menos à maioria.
6.3 PODER ADMINISTRATIVO DE LIMITAR O PARTICULAR 
A satisfação do interesse público pode implicar na restrição a bens, direitos e interesses privados. Porém, de forma proporcional e observando certa margem de liberdade de apreciação (discricionariedade); com seus próprios meios e sem necessidade de determinação judicial (autoexecutoriedade) e com força coercitiva a todos aos cidadãos. Através do poder de polícia visa regrar a intervenção administrativa no âmbito infralegal restringindo a autonomia privada para concretizar valores constitucionais e atender ao interesse público.
Nesse sentido, desde o início do mês de março com decreto nº 40.560 do Governo do Estado de Sergipe vem determinando barreiras sanitárias e impedindo o acesso de pessoas em locais públicos, fechando lojas, shopping centers e academias, redução da frota de Ônibus, entre outras medidas.
Art. 2º Para o enfrentamento inicial da emergência de saúde decorrente do coronavírus ficam suspensos todos os eventos públicos de quaisquer natureza que participem mais de 100 (cem) pessoas em ambientes fechados, ou 250 (duzentos e cinquenta) em ambientes abertos, ainda que previamente autorizados, tais como eventos desportivos, shows, passeatas, feiras, eventos científicos ou escolares, comícios, dentre outros.
 § 1º As atividades educacionais em todas as escolas, universidades e faculdades poderão ser suspensas conforme critérios epidemiológicos e assistenciais, determinados de forma conjunta pelos Secretários de Estado da Saúde e de Educação, do Esporte e da Cultura. § 2º A suspensão determinada com base no parágrafo anterior deverá ser compreendida como recesso ou férias escolares do mês de julho. 
§ 3º O recesso ou férias escolares terá duração máxima de 15 (quinze) dias corridos, independente do quantitativo de dias de recesso constante no calendário escolar da unidade de ensino.
 § 4º As unidades escolares da rede privada de ensino do Estado de Sergipe poderão adotar a antecipação do recesso ou férias escolares prevista neste Decreto, ou determinar a suspensão das aulas pelo período determinado, a critério de cada unidade. 
§ 5º Os ajustes necessários para o cumprimento do calendário escolar serão estabelecidos pela Secretaria de Estado da Educação, Esporte e Cultura (SEDUC), após o retorno das aulas.
 § 6º O Secretário de Estado da Justiça, do Trabalho e da Defesa do Consumidor (SEJUC) poderá, no âmbito de suas competências, adotar medidas progressivas de restrição de visitas, remoção, transporte e isolamento de pessoas presas, ouvido previamente o Secretário de Estado de Saúde (SES), cabendo-lhe, ainda, disciplinar o regime de visita dos advogados nas unidades prisionais do Estado de Sergipe.
 § 7º O Secretário de Estado de Saúde regulamentará a visitação a pacientes internados com diagnóstico de coronavírus.
 § 8º Recomenda-se à iniciativa privada adotar os mesmos mecanismos de restrição previstos no “caput deste artigo”.
Essas restrições são justificadas diante da situação de risco atual, de modo que limita não só o direito de e vir, como também, interfere nas relações econômicas dos particulares, não se pode fazer uso das liberdades individuais e gerir de forma continuada o comércio. Pois o que se busca não é uma imposição do público sobre o privado e sim assegurar o bem da coletividade.
Ou seja, a liberdade da pessoa deve ter restrições quando pode colocar a saúde e a vida das outras pessoas em risco, especialmente quando estamos diante de um vírus de rápida transmissibilidade. O isolamento, portanto, é de extrema importância não apenas para garantir que a pessoa doente tenha tratamento adequado e seguro, mas também para evitar que acabe por transmitir o vírus para várias outras pessoas.
6.4 OBRIGAÇÃO DO ESTADO EM AUXILIAR ECONOMICAMENTE AS PESSOAS EM TEMPO DE ISOLAMENTO
Além da subvenção à saúde, o governo também tem agido para apoiar empresas e os indivíduos questão sofrendo os impactos econômicos da pandemia. 
Ainda que alguns setores empresariais tenham conseguido adaptar-se ao cenário da pandemia, optando pelo trabalho de casa (o home office), há empresas que não têm como operar sem funcionários presenciais. Então, quando a doença obriga pessoas a ficar em casa, não é possível manter o nível de produção. É o que aconteceu com boa parte do comércio, que com a queda do consumo também leva a uma diminuição das receitas, e muitas empresas podem optaram por reduzir atividades, ou até fechar as portas. 
 Entrando, aqueles que optaram por reduzir as atividades, nem todos conseguiram nem todos conseguiram manter o mesmo quadro de profissionais empregados levando o corte de funcionários para conseguir manter o negócio aberto. Somando se a isso, tem questão com relação ao nível de endividamento às empresas no cenário pandêmico é. A queda das receitas coloca a capacidade das firmas de pagar e contrair novas dívidas em fragilidade mesmo em um cenário de juros baixos. Isso significa que as empresas têm um risco maior de quebrar ou ter sua saúde financeira seriamente afetada. Se elas não pagarem suas dívidas, o impacto pode chegar até os bancos, desencadeando efeitos negativos sobre o sistema financeiro.
A principal ação do governo para tentar manter os empregos durante a crise foi com a medida provisória Medida Provisória936, que permite a suspensão e a redução de jornada e salário, proporcionando a manutenção dos funcionários ativamente empregados. Ainda, sancionado a lei que prevê o pagamento de um auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores de baixa renda prejudicados pela pandemia do coronavírus (Lei 13.982/2020). O programa do auxílio emergencial tem como objetivo ajudar os cidadãos que precisam de suporte para enfrentar os impactos oriundos da pandemia do coronavírus. Será destinado a maiores de idade sem emprego formal, mas que estão na condição de trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI) ou contribuintes da Previdência Social. Também é necessário ter renda familiar mensal inferior a meio salário mínimo per capita ou três salários mínimos no total e não ser beneficiário de outros programas sociais ou do seguro-desemprego.
 O governo também anunciou que os bancos públicos irão agir para garantir, via crédito, que haja dinheiro suficiente circulando na economia. Para minimizar os prejuízos, o governo tomou algumas medidas importantes, como: a liberação de R$ 5 bilhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador em forma de crédito para micro e pequenas empresas; adiamento durante o período de 90 dias no pagamento do FGTS; adiamento durante o período de 90 dias no pagamento da parte da União do Simples Nacional.
 
CONCLUSÃO
Diante dos problemas enfrentados com pandemia da covid-19, visando o interesse público a fim de evitar um caos social/sanitário o poder público atua a fim de conter a proliferação do vírus, mas também, age para manter mitigar os impactos sociais.
Para tanto, é notório, que regras ordinárias de direito administrativo não são suficientes e adequadas para se superar uma situação de crise, compreendida como uma situação anormal de perigo, atual e iminente, que ameace interesses públicos. Nem sempre é possível se ter uma regra que regule especificamente determinada situação, sobretudo quando as circunstâncias não são ordinárias e sim excepcionais.
Assim, dispor contra as regras é possível quando se está diante de um princípio jurídico hierarquicamente superior, como o da necessidade administrativa. Concluiu-se que a necessidade administrativa se apresenta, assim, como um princípio constitucional implícito que permite dispor contra as regras de direito, sempre que se está diante de situação excepcional, urgente e necessária, em respeito à supremacia do interesse público. A necessidade tem como fundamento os próprios limites e a insuficiência do ordenamento jurídico em prever uma regra específica para cada situação. Verifica-se que a necessidade administrativa é um preceito da proporcionalidade em que se visa sacrificar um bem maior (regra de direito) em observância aos valores basilares do ordenamento jurídico, como o interesse público, a dignidade da pessoa humana e os valores fundamentais.
Isso decorre das prerrogativas calcadas no regime jurídico de direito administrativo, que tem o poder de sobrepor o interesse coletivo em detrimento dos direitos individuais, sem, contudo, utilizar se métodos arbitrários e desarrazoados diante de uma situação concreta de crise. O que ocorre é uma flexibilização do princípio da legalidade para gerir os interesse e necessidades do povo diante de uma situação de excepcionalidade, em que a aplicação da regra seria insuficiente. 
REFERÊNCIAS
Di Pietro, Maria Sylvia Zanella.Direito administrativo . 32. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
MIRANDA, Juliana Gomes. A teoria da excepcionalidade administrativa: a juridicização do estado de necessidade. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2010.
BRASIL. Decreto Federal n. 7.257/10.Regulamenta a Medida Provisória nº494 de 2 de julho de 2010, para dispor sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil-SINDEC, sobre o reconhecimento de situação de emergência e estado de calamidade pública, sobre as transferências de recursos para ações de socorro, assistência às vítimas, restabelecimento de serviços essenciais e reconstrução nas áreas atingidas por desastre, e dá outras Providências. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7257.htm .Acesso em: abr. 2020.
BRASIL. Lei n. 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019. Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-022/2020/Lei/L13979.htm.Acesso em: jun.2020.
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Portaria n. 52, de 12 de março de 2020. Estabelece, no âmbito do Conselho Nacional de Justiça, medidas temporárias de prevenção ao contágio pelo Novo Coronavírus COVID 19, considerada a classificação de pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS).Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/files/original222922202003125e6ab7c2e37fb.pdf. Acesso em: jun. 2020.
SERGIPE. Dcreto Estadual nº 40.560/20. Dispõe sobre a decretação de situação de emergência na saúde pública do Estado de Sergipe, em razão da disseminação do vírus COVID-19 (novo coronavírus) e regulamenta as medidas para enfrentamento da crise de saúde pública de importância internacional, nos termos da Lei (Federal) n° 13.979, de 06 de fevereiro de 2020.
ARTIAGA, Carlos Eduardo; ALMEIDA , Paula Isabel Arice Koboldt de. PRINCÍPIO DO ESTADO DE NECESSIDADE ADMINISTRATIVO: CONCEPÇÃO, FUNDAMENTOS, JUSTIFICATIVAS E CONTROLE. TEORIA & PRÁTICA: REVISTA DE HUMANIDADES, CIÊNCIAS SOCIAIS E CULTURA, [s. l.]. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=88f0bf2899c59514. Acesso em: 4 jun. 2020.
BEVILÁCQUA, Luiz Alberto Segalla; CALDAS, Tania Alencar de. OS DIREITOS CONSTITUCIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA. TEORIA & PRÁTICA: REVISTA DE HUMANIDADES, CIÊNCIAS SOCIAIS E CULTURA, Limeira –SP, ano 2020, v. 1, n. 1, Jan-jun.de 2020. Disponível em: http://isca.edu.br/revista/index.php/revista/article/view/28/14. Acesso em: 1 jun. 2020.
CARVALHO, Gabriela de. A nova Administração Pública e o direito administrativo. Fórum Administrativo — FA, Belo Horizonte, ano 14, n. 158, p. 37-48, abr. 2014.
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