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1. Conceito Doença infecciosa e transmissível que afeta prioritariamente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos ou sistemas. É uma doença de tratamento prolongado e que está mais presente na classe econômica e social mais baixa e, por isso, torna-se um problema de saúde pública. 2. Contexto histórico • Identificação em múmias egípcias – 3.400a.C. • Múmias andinas do período pré-colombiano • Transmissão ampliada pelo mercantilismo e rotas comerciais • Disseminada ao novo mundo pela colonização da América • Revolução industrial e circunstancias epidemiológicas facilitadoras (miséria, desnutrição, aglomeração) • Denominada peste branca no século XIX 3. Epidemiologia A cada ano surgem, em média, 73 mil novos casos de tuberculose, com cerca de 4 mil óbitos, é predominante no sexo masculino, em populações mais pobres e pacientes HIV positivo. O Brasil ocupa a posição 18 em número de mortes por tuberculose, afetando de forma heterogênea a sociedade, mas existem locais e subgrupos populacionais que apresentam maior risco e vulnerabilidade. Em caso de confirmação da tuberculose, deve ser realizado um teste para HIV, já que essas doenças andam lado a lado, e ser HIV positivo aumenta o risco e as chances de complicação. 4. Agente etiológico É uma doença desencadeada pelo Mycobacterium tuberculosis, também conhecido como bacilo de Koch. É um vacilo estritamente aeróbio, patógeno intracelular que possui crescimento lento (25-32 horas), coloração por meio de BAAR – azul (Álcool-ácido resistente). Não produz toxinas, é imóvel e não produz esporos. 5. Transmissão e infectividade A principal forma é por via aérea, por fala, espirro, tosse, ou qualquer outra forma que lance gotículas contaminadas no ar, sendo as formas clínicas laríngea e pulmonar que mais transmitem. Algumas manifestações clínicas não são capazes de transmitir, como a meningite causada por M. tubercullosis ou tuberculose ganglionar sem que haja acometimento pulmonar. É importante saber que na eliminação das partículas, podem haver variações de tamanhos e da carga bacilar (gotículas de Wells), o que implica na infecção após contato com paciente bacilífero. Logo, para haver infecção, alguns pontos são determinantes: • Concentração de bacilos expelidos e virulência • Intensidade e frequência de contato • Condições ambientais • Resistência do indivíduo exposto – imunidade inata e adquirida Respostas possíveis Resposta efetiva do hospedeiro e destruição dos bacilos Bacilos em multiplicação após infecção, tuberculose primária Bacilos tornam-se latentes, infecção latente Bacilos latentes voltam a se multiplicar, reativação ou tuberculose primária Alguns fatores de risco devem ser evidenciados para desenvolver a doença ativa no futuro, seja por reinfecção endógena ou exógena, como os extremos de idade, imunodepressão, existência de comorbidades – como DM, desnutrição, etilismo, HIV positivo, tabagismo, áreas de poluição ambiental intensa. Cerca de 5-10% dos indivíduos que são infectados desenvolvem a infecção primária – apresentação de sintomas, uma pequena parte consegue eliminar o microrganismo, e aa outra parte manifesta-se como tuberculose latente, que fica inativa por, mais ou menos 5 anos, e tem reativação, formando as cavitações que são as formas que mias transmitem os bacilos. A tuberculose não é uma doença que os anticorpos produzidos são de memoria imunológica, ou seja, caso haja reinfecção, a produção dos anticorpos será igual à primeira vez, apenas com intuito de neutralizar. Deve ser seguido novamente o tratamento. Atualmente, a vacinação disponível, a BCG, ela não impede que os indivíduos desenvolvam a doença, mas atua reduzindo as chances de uma infecção com curso grave. 6. Patogênese O bacilo, ao ser inalado, é evado aos alvéolos pulmonares e são fagocitados por macrófagos, que não capazes de eliminar ou inativa-lo. Após acumular um grande número de bacilos, a células se rompe e morre. Com isso, há atração de outros macrófagos para a região, desenvolvendo um quadro de foco pneumônico. Os macrófagos então direcionam-se aos linfonodos hilares e mediastinais para fazer a apresentação do antígeno, onde continuam se multiplicando e atingem a corrente sanguínea, para ativar a imunidade celular. • Surgimento da imunidade Entre 2 e 10 semanas, a imunidade especifica se forma completamente, permitindo uma defesa eficaz contra o bacilo. Os macrófagos que estão nos pulmões começam a produzir citocinas pró-infamatórias, assim como a apresentação do Tuberculose Doenças Infecciosas e Parasitárias – aula 1 Nicole Sarmento Queiroga Figura 1. Técnica de Ziehl-Neelsen para coloração do M. tuberculosis. antígeno, promove a migração de mais macrófagos e de linfócitos, em especial o T CD4, para o foco pneumônico. Os macrófagos aumentam seu citoplasma, ganhando aspecto semelhante ao de células epiteliais e, por isso, são chamados de células epitelioides. Essas células se acumulam em volta do foco de infecção primária, formando o granuloma tuberculoso, e nos focos de disseminação linfonodal e hematogênica. Na maioria dos casos, a tuberculose é controlada em todos os focos, de modo que o paciente permaneça assintomático. O granuloma tuberculoso é formado por macrófagos, que produzem colágeno e formam sua capsula, por linfócitos e até células de Langerhans (fusão de macrófagos, células LTCD4/LTCD8). O granumola incial ou nódulo de Ghon é um tipo especial de reação inflamatória com hipersensibilidade tipo IV, que possui apenas bacilos latentes, de tamanho pequeno (1-2mm) e não chega a ser visto no RX de tórax, exceto se atingir dimensões acima de 8mm. No cáseo, os bacilos se proliferam com dificuldade devido à baixa tensão de oxigênio e ao pH ácido. Caso haja manutenção desse estado, o processo tem mais chances de estabilizar, mas se houver a liquefação da necrose caseosa, por meio de enzimas proteases liberadas por macrófagos que sofreram apoptose ou que estão na lateral do foco, forma um material excelente para a reprodução bacilar, área denominada cavitação ou caverna pulmonar. A drenagem da liquefação caseosa pode ter 3 destinos extrapulmonares: broncogênico, linfático ou hematogênico. • Patologia Existem 3 tipos de lesão parenquimatosa na tuberculosa. Uma delas é a lesão proliferativa ou produtiva, caracterizada pela formação de granulomas caseosos denominas tubérculos que desenvolvem capsula fibrosa, estando a infecção contida nesses focos. A lesão exsudativa é a que se caracteriza como pneumonia tuberculosa: alvéolos preenchidos por macrófagos e neutrófilos, entremeados por necrose caseosa, sua reposta costuma ocorrer nos focos broncogênicos. O tipo mais comum de lesão, no entanto, é a mista. 7. Síndromes da tuberculose • Tuberculose pulmonar primária Forma mais comum em crianças e em adultos jovens, fase que inicia após conto com o microrganismo. Apresenta sintomas e sinais como febre baixa ou moderada ao longo de 2 semanas, irritabilidade, inapetência, sintomas respiratórios não comuns, hipersensibilidade por cerotoconjuntive, eritema nodoso ou Artropatia de poncet, pode estar ou não associado à adenomegalia hilar ou mediastinal ipsilateral, que pode causar compressão brônquica e promover atelectasia. No RX não é comum uma cavitação pulmonar, porque ainda não teve tempo para desenvolver a imunidade e isolar o microrganismo no granuloma, mas é identificado o complexo de Ranke (opacidade até mediastino identificada pela área infectada, lifangite e aumento do linfonodo). • Tuberculose pulmonar pós-primária ou secundária Tipo em que a doença se desenvolve em pacientes que já foram infectados pela tuberculose há mais de 3 anos, atinge principalmente indivíduos entre 15-30 anos. Pode ocorrer por reativaçãode um foco latente ou por reinfecção Quadro clínico com febre vespertina por mais de 3 semanas ou 2 semanas se imunodeprimido, sudorese noturna, adinamia, anorexia, perda de peso, tosse que evolui de seca para produtiva, dor torácica, hemoptise, podendo até estar assintomático. Ausculta pode apresentar sibilos, roncos ou estertores. Como a memória imunológica já está desenvolvida, a reação granulomatosa se instala rapidamente com áreas de necrose caseosa. Logo, é muito comum a formação de cavitações, disseminação broncogênica, transmissão da infecção. No RX há identificação de áreas de cavitação, infiltrados no parênquima pulmonar e lesões, principalmente, segmentos posteriores do lobo superior e superiores dos lobos inferiores, isso porque são as regiões de maior tensão de oxigênio e menor drenagem linfática. Figura 3. RX de tórax com nódulo de Ghon em pulmão direito (esquerda) e adenopatia hilar (direita). Figura 2. Esquematização da infecção pro M. tuberculosis. Figura 4. RX de tórax com adenomegalia mediastinal. Figura 5. RX de tórax com cavitação e infiltrado (região hiperdensa). • Tuberculose miliar Essa forma é uma alternativa, já que os pacientes acometidos podem não desenvolver a imunidade e isolar o antígeno no granuloma, sendo a primo-infecção. Mais comum em crianças menores de dois anos e não vacinadas com BGC, pacientes com imunodepressão moderada ou grave e idosos. É a disseminação hematogênico, pelo lançamento de bacilos na corrente sanguínea ou pela existência de um foco metastático na parede de uma veia pulmonar (foco de Weigart). Os locais mais acometidos são o interstício pulmonar e as meninges, mas também está presente no sistema reticuloendotelial (fígado, baço, linfonodos, medula óssea). Se não tratada precocemente pode levar ao óbito. A caracterização de miliar está associada ao aspecto macroscópico de múltiplos nódulos. A meningite tuberculosa também é uma forma de tuberculose miliar primária. Paciente apresenta febre, calafrio, tosse, taquipneia, prostração, ausculta com ronco e crepitação, hepatomegalia, esplenomegalia, meningoencefalite, leucopenia, baciloscopia negativa, histopatológico e cultura de tecidos. • Tuberculose miliar tardia É a reativação desse tipo de tuberculose, ocorrendo principalmente em idosos ou indivíduos imunodeprimidos. Quadro clínico insidioso marcado por apatia, anorexia, febre baixa, emagrecimento. Os achados são semelhantes no aspecto de imagem. • Tuberculose pleural É o tipo de disseminação por contiguidade, em que o inicio pode ser abrupto ou insidioso, advindo da progressão de um foco subpleural que lançou bacilos no espaço pleural, promovendo uma reação inflamatória exsudativa e derrame pleural unilateral. O quadro clínico é de dor torácica, principalmente na inspiração, nas regiões escapulares, mamilares e base do tórax, febre moderada e alta, tosse seca e posição antálgica de decúbito lateral sobre área acometida. Os exames de imagem indicam derrame pleural unilateral e de moderada intensidade. O liquido retirado na toracocentese é de coloração amarelo-citrino, turvo pela alta concentração de proteínas e predomínio de mononucleares (linfócitos), glicose baixa, pH normal entre outros. • Linfadenite tuberculosa, tuberculose ganglionar ou escrófula Segunda forma extrapulmonar mais comum, acometendo os linfonodos mediastinais, mesentéricos e até cervicais. Esses linfonodos possuem características endurecidas, dolorosas, apresentar confluência e sofrer fistulização cutânea, com liberação do conteúdo caseoso, além de apresentar sintomas sistêmicos como febre, perda ponderal de peso, hepatoesplenomegalia, adenopatia cervical e/ou abdmonial. O diagnóstico é feito por meio de biópsia e aspirado do conteúdo para baciloscopia e culturas. Figura 6. RX de tórax com cavitação e nódulos centrolobulares. Figura 7. RX de tórax com opacidades reticulo-micro-nodulares difusas. Figura 8. TC de tórax com opacidades reticulo-micro-nodulares difusas. Figura 9. RX de tórax com derrame pleural a esquerda. Figura 10. Adenopatia cervical. • Meningoencefalite tuberculosa Acomete principalmente crianças antes dos 2 anos de idade, sendo de características insidiosas, podendo ser a forma primaria da doença por via hematogênica. A vacina BGC reduz as chances desse tipo de tuberculose. No adulto, a maioria dos casos é pós-primaria, decorrente da reativação dos focos. Os bacilos estão alocados em focos subependimários (epêndima é a camada celular que reveste os ventrículos e o canal medular) e se infiltram no espaço subaracnóideo e nos ventrículos, atravessando a barreira hematoencefálica. O intenso estimulo inflamatório promove um exsudato espesso que se concentra na base do crânio e nas cisternas, comprimindo a origem de nervos e de vasos da região, promovendo vasculite, que modifica a permeabilidade dos vasos e promove a entrada de proteínas, gerando o edema cerebral. Ainda, os vasos podem trombosar e causar infartos cerebrais ou encefálicos, deixando sequelas motoras, por exemplo. Além disso, pode ser causado a hidrocefalia devido à obstrução da passagem de líquor pelas cisternas ou da drenagem nas granulações aracnoides. O diagnóstico é feito pela coleta de líquor (hiperproteinorraquia, pleocitose mononuclear, hipoglicorraquia), (, TC de crânio (hidrocefalia em 85% dos casos) e RX de tórax (TB pulmonar primaria em crianças r TB pós-primária ou cicatricial em adultos). ✓ Fase I – 2 semanas (pródromo) Febre, cefaleia, alterações de humor, irritabilidade, alucinações. ✓ Fase II (meníngea) Comprometimento de pares cranianos (estrabismo, ptose palpebral, fotofobia, paralisia facial), síndrome meníngea e HIC (hipertensão intracraniana), desorientação, hemiparesia. ✓ Fase III (avançada) Sonolência, estupor, coma, HAS, arritmias cardíacas e respiratórias, hemiplegia, cetoacidose. Na meningoencefalite tuberculosa algumas sequelas podem ser deixadas, como a paralisia dos pares cranianos, motoras, mentais (distúrbios psiquiátricos não prévios), movimentos involuntários, ópticos e surdez. RIPE por nove meses, com as doses de rifampicina e isoniazida aumentadas e acrescentando-se o corticoide (prednisona 1-2 mg/kg/dia ou 30 mg/dia) por 2-4 meses. • Outras manifestações ✓ Peritonite ✓ Pericardite ✓ Tuberculose cutânea ✓ Tuberculose óssea (doença de Pott) ✓ Tuberculose do trato digestório ✓ Tuberculose renal 8. Paciente com HIV positivo Apresenta risco de contrair a doença cerca de 30x maior que os indivíduos imunocompetentes. O mecanismo pode ser por reativação, reinfecção ou infecção primária. Quando o CD4 está acima de 200 células/mm3, a tuberculose pulmonar manifesta-se semelhante à do imunocompetente, com formação cavitaria predominando no adulto. Na imunodepressão grave, isso é, <200 células/mm3, possui clínicorradiológico atípico, sendo encontradas alterações semelhantes à pneumocistose, com infiltrado intersticial difuso. Derrame pleural e adenopatia hilar/mediastinal também passam a ser mais frequentes. 9. Diagnóstico A baciloscopia é uma técnica de baixa sensibilidade usada para identificar microscopicamente o microrganismo com a técnica de Ziehl-Neelsen, de forma que o exame pode vir negativo, mas o paciente está com tuberculose, porque possui baixa quantidade de bacilos na amostra do escarro coletada (<5.000 bacilos/mL), correspondendo entre 20-30% os falso- negativos. É mais importante no acompanhamento do paciente que no diagnóstico, já que outros conseguem ser mais específicos. No resultado, é negativo se apresentar 0 bacilos/100campos. A positividade é marcada por cruzes, ou seja, quanto mais bacilos, mais cruzes (+ → 10-99bac/100 campos, ++ →1-10bac/50 campos, +++ →10bac/20campos). É mais indicado a realização em jejum, para positivar. Pode ser feita pela coleta de materiais da árvore brônquica, como escarro espontâneo, induzido ou LBA (lavado broncoalveolar), ou pode ser de outras fontes, como pleura, urina, exsudato de lesões cutâneas, aspirado de linfonodos. A cultura é o exame de maior sensibilidade e especificidade para o BK, identifica também a sensibilidade aos antimicrobianos. É indicado em suspeita da manifestação pulmonar com baciloscopia negativa, suspeita de resistência aos tuberculostáticos, extrapulconar (LCR, pleural), pacientes HIV positivos com sintomas respiratórios e recidiva de tuberculose. Porém, seu resultado é liberado apenas ente 28 a 60 dias. Sorologia não existe!!! Teste de amplificação de ácido nucleico ou teste rápido molecular (TRM), PCR para DNA do M. tuberculosis. Possui alta sensibilidade (90%) e especificidade, além de identificar se é resistente à Rifampicina. Em caso de apresentar resistência ao medicamento citado anteriormente, deve ser indicada a cultura para realizar a terapia mais adequada para o paciente. Pode ser feito pelo escarro espontâneo ou induzido, LBA, lavado gástrico (quando o paciente não consegue expectorar), líquor, linfonodo. Indicado em novos casos de tuberculose pulmonar ou laríngea, diagnóstico de TB extrapulmonar, triagem para retratamento e suspeita de falência terapêutica. Para pacientes que acabaram de ter eficácia no tratamento, o exame ainda vai ser positivo porque o material genético da micobactéria ainda está presente, por isso é indicado a realização da cultura e da baciloscopia para identificar se a o material está inativo ou se reproduzindo. Resultados da TRM-TB Resultados Interpretação MTB não detectado Negativo MTB detectado e resistência à rifampicina não detectada Positivo para tuberculose, sem resistência à rifampicina MTB detectado e resistência à rifampicina detectada Positivo para tuberculose, com resistência à rifampicina MTB detectado e resistência à rifampicina detectada Positivo para tuberculose, resistência à rifampicina inconclusiva – repetir teste em nova amostra Sem resultado/inválido/erro Inconclusivo – repetir teste em nova amostra Histopatologia é indicada para investigação de tuberculose extrapulmonar. Identificação do granuloma, com infiltração histiocitário e necrose de caseificação. Deve ser feito o diagnóstico diferencial com micoses, sarcoidose, colagenoses e a confirmação é feita pela baciloscopia ou cultura. Figura 11. Granuloma com necrose de caseificação. A prova tuberculínica (PPD) é um exame realizado pela aplicação intradérmica do derivado proteico de cepas M. tuberculosis, com observação da pápula entre 48 a 96 horas. Se for o resultado for <5MM é negativo, se for >5MM é positivo, comprovando infecção latente. É indicado para infecção latente BK, mas pode ser forte reator em crianças que tomaram a BCG ou por reações cruzadas causadas por outras micobactérias. Pode dar falso-negativo em casos de problema na realização da técnica, imunodepressão intensa (paciente não é capaz nem de produzir imunidade contra o microrganismo como em pacientes com HIV, DM ou outras situações de imunodepressão) insuficiência renal, gestantes, desnutridos. É importante para avaliar se o paciente teve contato importante com a micobactéria, nem sempre confirmando o diagnóstico da doença, avaliar a latência da doença, para TB em criança é diagnóstico. IGRA (ensaio de liberação de Interferon-gama) ainda não é disponível no SUS, mas é um exame que consegue identificar o IFN liberado pelos linfócitos T. Não é usado na TB ativa, mas para evidenciar se paciente já teve contato relevante. É necessário associar com informações clínicas e epidemiológicas. Não há falsa positividade com BCG. • Tuberculose pulmonar ✓ Hemograma: pode apresentar leucocitose moderada 10.000-15.000/mm3, monocitose ou linfocitose, anemia normocrômica e normocítica ✓ RX de tórax: pode ser achado granulomas, infiltrados, cavitações ✓ TC de tórax: confirma o RX com mais detalhes ✓ Baciloscopia: 2 culturas com intervalo de um dia entre elas ✓ Cultura de sensibilidade ao antimicrobiano: importante para identificar se o paciente possui bactéria resistente ✓ Teste rápido para M. tuberculosis (maior especificidade e sensibilidade) Em caso da baciloscopia já positivar, o tratamento é iniciado, esperando apenas o resultado da cultura para confirmar a terapia escolhida. Caso a baciloscopia dê negativo, mas o paciente revela grande suspeita, então é feito o teste rápido para confirmação diagnóstica. • Tuberculose miliar ✓ Hemograma: leucocitose ou leucopenia, com ou sem neutrofilia e presença de formas jovens ✓ Elevação da fosfatase alcalina – devido à disseminação hematogênica, afeta a produção de proteínas hepáticas ✓ RX de tórax: infiltrado micronodular em parênquima pulmonar bilateral ✓ TC de tórax: confirma o RX com mais detalhes ✓ Baciloscopia do LBA (lavado broncoalveolar): em caso do paciente apresentar tosse seca e não for possível fazer direto pelo escarro ✓ Biópsia transbrônquica ✓ Cultura • Meningoencefalite tuberculosa ✓ TC de crânio: obrigatório ser realizado antes da punção em qualquer tipo de meningite se houve relato de alteração neurológica (alteração de par craniano, convulsão, rebaixamento do nível de consciência, etc) e identificar se há contraindicação de realização da punção, como aumento da PIC (provocar herniação e até provocar parada cardiorrespiratória), se paciente apenas com cefaleia, orientado, não é solicitada a TC previamente, porque não há indícios de aumento da PIC. ✓ LCR: límpido – turvo, com celularidade (100-500 células), linfomononuclar, glicose baixa (<2/3G sérica), proteína elevada (>500mg), adenosina deaminase (ADA > 8) • Tuberculose pleural ✓ Punção torácica: celularidade elevada (linfomononuclear) ✓ ADA (enzima liberada pelos linfócitos): >40U/mL ✓ BAAR do líquido pleural (baixa sensibilidade) ✓ Cultura para BK ✓ Biópsia pleural durante a toracocentese ✓ RX de tórax: opacidade em forma hiperbólica, apagando o seio costofrênico, devido ao líquido pleural • Tuberculose ganglionar ✓ USG/TC da região comprometida ✓ Biópsia (histopatológica) ✓ BAAR ✓ Cultura Não faz sentido solicitar uma cultura de escarro para um paciente que não apresenta sintomas respiratórios. • Crianças que não expectoram ou têm escarro negativo com menos de 10 anos ✓ 15 pontos cada: febre ou sintomas como tosse, adinamia, expectoração, emagrecimento e sudorese por ≥ 2 semanas; adenomegalia hilar ou padrão miliar e/ou condensação ou infiltrado (com ou sem escavação) inalterado por duas semanas ou evoluindo com piora ou sem melhora com antibióticos para germes comuns; prova tuberculínica ≥ 5 mm em não vacinados com BCG, vacinados ≥ 2 anos e imunossuprimidos ou ≥ 10 mm em vacinados < 2 anos. ✓ 10 pontos: Contato próximo com adulto bacilífero nos últimos dois anos. ✓ 5 pontos cada: Condensação ou infiltrado de qualquer tipo por < 2 semanas; desnutrição grave. ✓ - 5 pontos: RX de tórax normal ✓ -10 pontos: Infecção respiratória com melhora após uso de antibióticos para germes comuns ou sem antibióticos. ✓ 0 pontos: assintomático ou com sintomas há menos de duas semanas; contato com adulto bacilífero ocasional ou negativo; prova tuberculínica 0 a 4 mm. Se forem somados mais de 40 pontos, o diagnóstico é muito provável e tratamento deve ser iniciado, se entre 30-35, o médico que estabelece critérios para iniciar tratamento. Se abaixo de 30 pontos, a busca deve continuar. 10. Tratamento É feita uma terapia combinada de medicações com funções diferentes para que as diversas fases do metabolismo do MK sejam atingidas – rápido, lento e intermitente.A associação de medicamentos também é realizada para evitar a resistência. Características do M. tuberculosis e atuação dos antiTB Localização Características Justificativa Medicament os Intracelular (macrófago) Crescimento lento pH ácido, ação enzimática, baixa oferta de O2 Rifampicina Pirazinamida Isoniazida Etambutol Lesão caseosa (fechada) Crescimento intermitente pH neutro ou ácido (necrose tecidual, acúmulo de CO2 e ác. Lático) Rifampicina Pirazinamida Isoniazida Cavidade pulmonar Crescimento geométrico pH neutro, boa oferta de oxigênio e presença de nutrientes Rifampicina Pirazinamida Estreptomici Etambutol Atividade dos diferentes medicamentos antiTB Atividade Prevenção de resistência Atividade bactericida Atividade esterelizante Toxicidade Alta Rifampicina Isoniazida Etambutol Rifampicina Isoniazida Levofloxacino Moxifloxacino Rifampicina Pitazinamida Levofloxacino Moxifloxacino PAS Etionamida Linezolida Outras Moderada Injetáveis FQN Etionamida Cicloserina PAS Linezolida Injetáveis Linezolida Bedaquilina Delamanid Injetáveis Linezolida Clofazimina Bedaquiina Delamanid Injetáveis Pirazinamida Baixa Pirazinamida Etionamida Pitazinamida Isoniazida Etambutol Rifampicina Isoniazida FQN O tratamento para indivíduos maiores de 10 anos é feito com associação entre: • Rifampicina (R) • Isoniazida (H) • Pirazinamida (Z) • Etambutol (E) O tratamento é feito em duas fases. A fase intensiva é a primeira e ocorre durante 2 meses com a terapia RHZE que tem o objetivo de reduzir a população de bacilos e de mutantes resistentes. A fase seguinte é a de manutenção, feita com RH, que dura 4 meses em tuberculose pulmonar e extrapulmonar (pleural ou ganglionar) OU fase de manutenção com RH por 10 meses para a manifestação osteoarticular ou neurológica (meningite) + prednisona (1-2mg/Kg/dia por 4-8 semanas), com objetivo de destruir as formas mais lentas (persistente). Em casos graves, deve ser usado a dexametasona injetável (0,3 a 0,4mg/kg/dia) por 4-8 semanas com redução gradual da dose nas 4 semanas subsequentes. *Prednisona e dexametasona são feitas para reduzir a inflamação, que gera o edema cerebral, e após essas semanas é feito o desmame do corticoide, porque a interrupção abrupta pode causar insuficiência adrenal. Para crianças com menos de 10 anos, o tratamento também se faz em duas fases, mas elas ocorrem com tempos diferentes. A fase intensiva é feita por 2 meses com RHZ e a fase de manutenção por 4 meses com RH. Para gestantes, a terapia é a mesma do adulto, mas adiciona-se piridoxina (vit. B6) 50mg/dia, a fim de reduzir o risco de toxicidade neurológia da isoniazida para o feto Esquema básico para tratamento da TB > 10 anos Esquema Faixa de peso Unidade/dose Duração RHZE 150/75/400/275mg (comprimidos em doses fixas combinadas) 20 a 35 kg 2 cp 2 meses Fase intensiva 36 a 50 kg 3 cp 51 a 70 kg 4 cp Acima de 70 kg 5 cp RH 300/150mg ou 150/75mg (comprimid em dose fixa combinada) 20 a 35 kg 1 cp 300/150mg ou 2 cp 150/75mg 4 meses Fase de manutenção 36 a 50 kg 1 cp 300/150mg + 1 cp 150/75mg ou 3 cp 150/75mg 51 a 70 kg 2 cp 300/150mg ou 4 cp 150/75mg Acima de 70kg 2 cp 300/150mg + 1 cp 150/75mg ou 5 cp 150/75mg Se o paciente não estiver tomando a dose adequada, pode acontecer dois eventos: tomar a dose além do que deve prova efeitos adversos, tomar uma subdose promove falha terapêutica. Esquemas de tratamento da TB e local de manejo clínico Situação Orientação terapêutica Local de manejo Caso novo e retratamento (recidiva após cura e reingresso após abandono) Esquema básico para adultos e crianças Atenção primária TB meningoencefálica e osteoarticular Esquema básico para TB manifestação neurológica e osteoarticular Hospital e, depois, atenção secundária Toxicidade, intolerância ou impedimento do esquema básico e avaliação de falência Esquemas especiais Referência secundária Falência terapêutica por resistência e resistência comprovada Esquemas especiais para resistências Referência terciária O seguimento do tratamento é mensal, sendo no primeiro mês, importante solicitar alguns exames, como o teste rápido de HIV, glicemia, função hepática (TGO, TGP e bilirrubinas) e função renal. A estreptomicina é uma medicação que não deve ser usada como primeira escolha, apenas em impossibilidade de uso da rifampicina, e merece atenção porque afeta a função renal. A baciloscopia deve ser realizada todos os meses do acompanhamento se o paciente apresentar a forma pulmonar como manifestação e, a partir do segundo mês ela já deve vir negativa ou evoluir na redução das cruzes. Em caso de dois meses seguidos apresentarem a mesma classificação em cruzes, é confirmatório de quadro de resistência ao antimicrobiano, falha terapêutica ou má adesão ao tratamento. Assim, se baciloscopia positiva ao final do 2º mês ou não redução de cruzes, a prolongação da fase intensiva (RHZE) deve ser feita por mais 30 dias associada à realização da cultura com teste de sensibilidade, fazendo o ajuste para a fase de manutenção. 11. Quimioprofilaxia • Secundária – ILTB Para pacientes que apresentaram PPD com riscos de adoecimento deve ser feita a administração de isoniazida (5- 10mg/kg/dia (máximo de 300mg) por 6 a 9 meses, a depender da idade, a fim de reduzir os riscos de adoecimento. Valores de referência para prova tuberculínica PT ≥ 5mm ou IGRA positivo 1. PVHIV 2. Contatos com adultos e adolescentes 3. Alterações radiológicas fibróticas sugestivas de sequela de TB 4. Uso de inibidores TNF-α 5. Uso de corticosteroides (>15mg/dia de prednisona por mais de 1 mês) 6. Pré-transplante que fará uso de terapia imunossupressora PT ≥ 10mm ou IGRA positivo 1. Silicose 2. Neoplasia de cabeça e pescoço, linfomas ou outras hematológicas 3. Insuficiência renal em diálise 4. Neoplasia com quimioterapia imunossupressora 5. DM 6. Baixo peso (< 85% do ideal) 7. Tabagistas (>20 cigarros/dia) 8. Calcificação isolada em RX Conversão (2ª PT com incremento de 10mm em relação à 1ª) 1. Contato de TB confirmada laboratorialmente 2. Profissional de saúde 3. Profissional de laboratório de micobactéria 4. Trabalhador do sistema prisional ou instituições de longa permanência
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