Buscar

CASO HIPOTÉTICO ACAO CIVIL PUBLICA CONSUMIDOR

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

10
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL DA COMARCA DE JOINVILLE - SANTA CATARINA.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, através de suas Promotoras de Justiça que a presente subscreve, no exercício de suas atribuições legais, com fundamento nos artigos 127, caput; 129, III da Constituição Federal; nas Leis nº 8.625/93; e 7347/85; da Resolução n. 1451/95 do Conselho Federal de Medicina, do Código de Processo Civil Brasileiro, Código de Defesa do Consumidor e demais disposições pertinentes, bem como na inclusa Ação Civil nº ____________________, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, ajuizar a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE DANOS MORAIS COLETIVOS COM PEDIDO 
LIMINAR DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
Contra a ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE EVANGÉLICA DE JOINVILLE, através de sua matriz inscrita no CNPJ/MF sob o número: 84.694.405/0001-67 com sede à rua Blumenau n° 123, Bairro Centro, no Município de Joinville, Estado de Santa Catarina, CEP 89.204-250, telefone (47) 3451-3333. Pelos fatos e fundamentos seguintes:
1. DO BREVE RESUMO DOS FATOS 
No processo nº ______________ ajuizado na __ Vara Cível da Comarca de Joinville por Mikael .., casado, professor universitário, inscrito no CPF sob o número: _________________, e RG sob o número: ___________, em conjunto com Catherine ..,casada, modelo, devidamente inscrita no CPF sob o número: _______________ e RG sob o número:___________ ajuizaram AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR PRODUTO DEFEITUOSO C/C RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO C/C DANOS MORAIS E MATERIAIS em face de Dell Computadores do Brasil LTDA e Associação Beneficente Evangélica de Joinville, ré neste processo.
A ação é resultado de incidente causado pelo computador Alienware Gamer, no valor de R$19.600,00 (dezenove mil e seiscentos reais). Na inicial os autores aduzem que por considerar que o computador não era suficiente para suas atividades diárias, requereu a devolução do seu dinheiro. A empresa orientou Mikael por e-mail a manter o computador na caixa original para enviar o produto após a normalização dos serviços dos Correios. Todavia, o autor alegou que não poderia ficar todos esses dias sem utilizar o produto para poder realizar suas atividades. 
Na noite do dia 14 de abril de 2020 o consumidor, em sua residência, utilizava o aparelho em seu colo, junto à esposa, a modelo Catherine. Foi então que o produto explodiu sobre suas pernas, causando danos físicos ao casal. Os resultados foram queimaduras nas coxas e órgãos genitais de Mikael, lesões na face direita do rosto de Catherine, bem como danos no seu imóvel, nos quais vitimaram seu animal de estimação. 
Segundo consta nos autos, com ajuda de vizinhos os autores foram conduzidos ao hospital Dona Helena (estabelecimento da ré), onde receberam atendimento médico emergencial. Foram atendidos naquela noite pelo plantonista-médico cardiologista Gustavo ... (CRM n.. ______), às 23 horas e 36 minutos. Não haviam enfermeiros para auxiliá-lo, ou sequer um segundo médico anestesiologistas disponível no hospital para auxiliá-lo no atendimento. Pedro ... (CRM n. _______), radiologista, que casualmente estava laudando exames naquela noite prestou assistência ao colega de trabalho, salienta-se que não fazia parte do Corpo Clínico emergencial. Além da escassez de profissionais, consta em ponto virtual que o profissional Gustavo, responsável pela cirurgia, trabalhava à degradantes 37 horas seguidas.
Como resultado das ocorrências, Catherine que havia lesionado o lado direito do rosto, retornou à sua residência com 13 pontos à esquerda. Mikael, devido a complicações cirúrgicas, quedou-se estéril e suas coxas devido ao grave dano e queimaduras de terceiro grau necessitaram de reconstituição.
2. LEGITIMIDADE
2.1. DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO
A Ação Civil Pública corresponde a um remédio constitucional, para a proteção processual dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, reconhecidos pelo doutrinador Mauro Cappelletti como “superdireitos”. Regido pela Lei nº 7.347/85, em concordância com o artigo 6º Código de Processo Civil brasileiro e o artigo 129 inciso III da Constituição Federal de 1988, certificando, dessa forma, a legitimidade extraordinária do Ministério Público para o ajuizamento da presente ação. 
Com base na referida Lei 7.347/85 e segundo o entendimento do doutrinador Rodolfo de Camargo Mancuso, compete ao Ministério Público através de ação civil pública atuar nos interesses que dizem respeito a: a) saúde ou à segurança das pessoas; b) aqueles em que haja extraordinária dispersão dos lesados; e c) zelo pelo funcionamento de um sistema econômico social ou jurídico. 
O direito processual civil moderno, ao agasalhar a ação civil pública, visou contribuir para o aceleramento da entrega da prestação jurisdicional, permitindo que, por via de uma só ação, muitos interesses de igual categoria sejam solucionados, pela atuação do Ministério Público.
Nesse sentido, com intuito de afirmar a legitimação deste ministério na presente ação, é que a Lei em comento 7.347/85, em seu artigo 5°, discorre sobre o rol de legitimados para propor tal ação. Senão vejamos:
Art. 5° Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I – O Ministério Público;
II – A Defensoria Pública;
III – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV – A autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V – A associação que, concomitantemente:
Dessa forma, em consonância com artigo 6º do Código de Processo Civil, a lei específica que trata de ação civil pública confere legitimidade extraordinária ao Ministério Público para o ajuizamento de ação civil pública.
A Constituição da República de 1988 também conferiu legitimidade ao Ministério Público para ajuizar ação civil pública, vindo a reforçar o que a lei específica já estabelecia. A legitimidade de cunho constitucional do Ministério Público deriva da dicção do artigo 129, inciso III, da C.R/88 que dispõe o seguinte:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
[...] III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos
Portanto, pelas funções que lhe são atribuídas e confiadas pela Constituição da República e demais dispositivos legais, não resta dúvida da capacidade do Ministério Público de representar adequadamente os interesses em jogo por meio da ação civil pública
2.2. DA EXISTÊNCIA DA RELAÇÃO DE CONSUMO
É inegável a relação de consumo existente entre o réu com Catherine e Mikael, bem ainda, demais usuários contratantes dos serviços prestados pela Associação. O hospital, sendo considerado pessoa jurídica de direito privado. Conforme citado nos autos, prestou serviços de atendimento médico ao casal mencionado, que se encontrava em extrema vulnerabilidade devido aos danos físicos e psicológicos causados pela explosão do computador, impossibilitados de questionar a qualidade da equipe e condições dos procedimentos.
Este serviço foi prestado pelo médico Gustavo, o cardiologista e Pedro, o radiologista. Ambos executaram o serviço médico no estabelecimento da ré, às 23 horas e 36 minutos, conforme consta prova nos autos apensados. Vejamos o que diz o julgado acerca da relação consumerista entre paciente e ambiente hospitalar: 
A responsabilidade civil dos fornecedores de serviços, a cujo conceito se amolda a instituição financeira e a rede hospitalar, é objetiva e solidária, fundada no risco da atividade desenvolvida, conforme arts. 14 do CDC e 186 e 927 do CC, não se fazendo necessário perquirir acerca da existência de culpa. Em caso tais, basta a comprovação do liame de causalidade entre o defeito do serviço e o evento danoso experimentado pelo consumidor, cuja responsabilidade somente poderá ser afastada nas hipóteses de força maior, eventos imprevisíveis, inexistência do defeito e culpa exclusiva do ofendido e de terceiros.(Acórdão n. 1207751, 07003499020198070012, Relator: FABRÍCIO FONTOURA BEZERRA,1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do DF, j. em 10/10/2019)
Dessa forma, conclui-se que a relação de consumo existe, não apenas entre o casal mencionado, mas também entre outros contratantes dos serviços oferecidos pela ré. Cabe salientar que, ao defender os direitos coletivos dos consumidores, “o Ministério Público, no âmbito do Direito do Consumidor, também faz jus à inversão do ônus da prova.(REsp 1554153/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, j. em 20-6-2017).”
É de grande importância salientar que o Código do Consumidor, em seu artigo 14, responsabiliza o prestador de serviço ainda que excluída a culpabilidade do agente.
 Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
3. DA LESÃO AO DIREITO
Para tratar do direito lesado dos ora autores no processo a qual essa ação se remete, vale ressaltar algumas circunstâncias do caso concreto; 1) o médico plantonista, Dr. Gustavo, encontrava-se trabalhando de maneira ininterrupta há 37 horas, conforme seu ponto de trabalho virtual; 2) Não havia, no momento do atendimento aos pacientes/clientes Mikael e Catherine, nenhuma enfermeira disponível para auxiliar no atendimento; 3) nos procedimentos feitos nos pacientes, estava presente para auxiliar Dr. Gustavo, apenas o médico radiologistas, Dr. Pedro.
A partir dos fatos acima descritos, pode-se fazer uma análise de lesão ao direito do médico, submetido a mais de 24 horas ininterruptas como plantonista, e, além disso, das circunstâncias do atendimento aos pacientes, averiguando a qualidade deste atendimento, devido à falta significativa de profissionais para efetuar os procedimentos de urgência.
O cirurgião Gustavo, que prestou o atendimento, já estava trabalhando ininterruptamente por tempo suficiente a gerar um risco potencial de prejudicar os pacientes. Por conseguinte, houveram complicações na cirurgia de Mikael, que após o procedimento, ficou estéril. Catherine por sua vez, teve o lado oposto ao talho costurado pelo médico; o lado lesionado era o lado direito, e não o esquerdo, conforme consta nos autos.
As consequências causadas por um atendimento negligente e uma conduta culpável trouxeram ao casal danos físicos e psicológicos permanentes, além de um grande trauma emocional, que poderia ter sido evitado.
A negligência dos réus tem início, no momento em que submetem um médico a 37 horas de plantão de forma ininterrupta, ferindo o que se impõe na resolução nº 01, de 11 fevereiro de 2019, no qual dispõe em seu artigo 1º, §2º que:
“§ 2º A carga horária de um médico plantonista é aquela prevista no âmbito legal, variando entre 6 e 12 horas por plantão, porém NÃO deve ser superior a 24 horas ininterruptas, visando resguardar a saúde do profissional e do paciente, devendo o plantonista se ausentar apenas na presença do médico substituto. ”
Ademais, em consonância com o dispositivo acima, a Resolução do CREMESP n. 90/2010 traz em seu artigo 8º “Ficam proibidos plantões subsequentes superiores a vinte e quatro (24) horas ininterruptas, exceto em caso de plantões à distância”
Um estudo feito nos Estados Unidos na década de 90, por JS Samkoff e CH Jacques (“Review of studies concerning effects of sleep deprivation and fatigue on residents' performance”), demonstram por meio de experiências com médicos residentes e plantonistas, o quanto a carga horaria excessiva trabalho e falta de descanso, por trabalhar initerruptamente, afeta drasticamente a capacidade deste profissional. Deste modo, encontravam-se em uma condição de desempenho inferior aos demais médicos, e gastavam em média 30% a mais de tempo nos mesmos atos cirúrgicos. Muitos outros estudos foram feitos desde que surgiu o debate em 1970, nos EUA e na Inglaterra, pela incidência de erros médicos devido ao trabalho ininterrupto por mais de 24 horas seguidas, como por exemplos os estudos feitos por Sales PP, Berna MG e Jiménez AP e Smith-Coggins R, Rosekind MR e Buccino KH.
À vista disto, mesmo que no Brasil, pouco se discuta sobre esse tema, é de extrema importância trazê-lo à tona, para que seja visível a necessidade de manutenção da segurança dos médicos, submetidos a essas circunstâncias, e dos pacientes que dependem da melhor execução do trabalho deste profissional, tão primordial a sociedade. 
No tocante à falta de profissionais da saúde, no momento do atendimento ao casal, nos remete a outros dispositivos legais, que tratam sobre a efetiva prestação de serviço. Com objetivo de assegurar o melhor atendimento possível, com a segurança esperada por meio da contratação dos serviços da referida instituição privada, vem de encontro a resolução do CFM n° 1.451/95, que aduz sobre a estrutura dos estabelecimentos de prontos socorros públicos e privados que atendam a situações de urgência e de emergência:
“Artigo 1º: Os estabelecimentos de Prontos Socorros Públicos e Privados deverão ser estruturados para prestar atendimento a situações de urgência-emergência, devendo garantir todas as manobras de sustentação da vida e com condições de dar continuidade à assistência no local ou em outro nível de atendimento referenciado.”
No mesmo dispositivo, em seu artigo 2º, lista qual deve ser, no mínimo, a equipe de profissionais para trabalhar durante o plantão, sendo eles: anestesiologia, clínica médica, pediatria, clínica geral e ortopedia. Vale ressaltar ainda, a importância da presença do enfermeiro legalmente inscrito no COREN durante todo o horário de funcionamento das unidades de saúde, conforme lei nº 7.498/86. Contudo, nenhum desses requisitos estavam presentes durante as cirurgias de urgência de Mikael e Catherine. Nos fatos apontados na exordial e nos depoimentos das testemunhas arroladas, consta-se a presença apenas de um cardiologista (Dr. Gustavo) e um radiologista (Dr. Pedro). Não há nos autos indicativos que apontem a presença de profissional médico habilitado no momento da entrada dos pacientes no hospital. 
Sendo assim, diante da negligência do réu, que em face de não disponibilizar um profissional capacitado para pronto atendimento de urgência e emergência, não agiu de acordo com regramento jurídico, configurando então o ato ilícito. Presentes o dano e o ato ilícito, a fim de que sejam estabelecidos os requisitos para responsabilidade civil, é preciso que se configure o nexo de causalidade entre os dois institutos.
Conforme já previamente exarado na presente ação, com fulcro no artigo 14, caput, do CDC, o prestador de serviço é responsabilizado pelos danos causados na relação de consumo. Subsequentemente, as consequências causadas nos pacientes (principalmente a Catherine, que teve o lado errado do rosto operado) são inerentes aos serviços prestados pelo hospital ora réu, respaldo no inciso I do §1º do artigo 14 do código de defesa do consumidor.
Sobre esse tema, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina já decidiu por meio de jurisprudência: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ERRO MÉDICO. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. AFASTAMENTO. ATENDIMENTO REALIZADO NAS DEPENDÊNCIAS DO HOSPITAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO NÃO COMPROVADA E QUE, ADEMAIS, NÃO EXIME A RESPONSABILIDADE CIVIL DA INSTITUIÇÃO POR ATO CULPOSO PRATICADO POR PROFISSIONAL INTEGRANTE DA EQUIPE MÉDICA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. - A responsabilidade civil do hospital é objetiva pelos danos causados na condição de fornecedor aos consumidores, consoante o artigo 14, caput, do Código de Defesa do Consumidor. A exceção prevista no § 4º do mencionado dispositivo refere-se à responsabilidade subjetiva, que é restrita aos profissionais liberais, inclusive aos médicos. In casu, o hospital é parte legítima para integrar o polo passivo de ação indenizatória fundada em responsabilidade civil da médica que integra a sua equipe. (TJSC, Agravo de Instrumento n. 2014.072482-8, de Chapecó,rel. Des. Júlio César M. Ferreira de Melo, Câmara Especial Regional de Chapecó, j. 24-11-2014).
4. DANO MORAL COLETIVO
Sendo o dano moral coletivo uma espécie do gênero indenização, partimos de que as indenizações visam reparar lesão (art. 944 do CC). Todavia, não havendo um indivíduo definido na presente ação, em todos os momentos, a ser restituído pelo dano causado pela ré, cabe ao instituto da proteção dos direitos coletivos, indenizar pelo dano moral, já que, são atingidos valores e interesses fundamentais de um grupo. 
Esta demanda trata de direito individual homogêneo, ou seja, direito individual que acidentalmente torna-se coletivo. Embora a falta de Corpo Clínico tenha afetado especificamente o atendimento à Mikael e Catherine, a conduta da ré fere os direitos de toda a coletividade de consumidores que poderiam utilizar o serviço emergencial. Conduta esta, onde comprovadamente não segue os parâmetros legais para uma prestação de serviço segura e eficaz, conforme já esmiuçado nesta peça. 
De maneira taxativa, o acórdão do Supremo Tribunal Federal traz as atribuições da indenização por dano moral coletivo, senão vejamos:
“[...] função de: a) proporcionar uma reparação indireta à lesão de um direito extrapatrimonial da coletividade; b) sancionar o ofensor; e c) inibir condutas ofensivas a esses direitos transindividuais” (STJ, REsp 1.643.365/RS, rel. ministra Nancy Andrighi, 3ª Turma, j. 5/6/2018)” 
Resta evidente que a falta do mínimo legal de profissionais e que submeter o profissional a uma jornada degradante fere os princípios do Direito do Consumidor ao “atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança”, bem ainda, o desrespeito à “garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.” (art. 4º do Código do Consumidor). De tal maneira, faz jus a indenização por dano moral e responsabilização pelos atos ilícitos negligentes apurados....................................................................................
5. POSSIBILIDADE DE INTERDIÇÃO
 Tendo em vista que o CRM ponderou sobre o mínimo de recursos humanos hábeis a compor um serviço emergencial que possibilite um atendimento médico adequado, é possível transferimos para o compromisso do fornecedor com seus consumidores. Sendo assim, o artigo 2º do CFM n° 1.451/95 indica que dos 5 (cinco) profissionais necessários ao atendimento satisfatório, havia somente 1 (um) — levando em conta que Pedro apareceu casualmente.
 Dentre as sanções administrativas elencadas do Código do Consumidor, está possibilidade de interdição de total ou parcial, do estabelecimento (art. 56, X). Tal sanção se demonstra cabível em virtude não só da lesão ao consumidor, mas também em virtude de que a mercadoria oferecida pela ré se tratar de um direito fundamental, a saúde.
 Considerando tais ponderações que este ministério plenteia pela alternativa de interdição da ala emergencial do hospital Dona Helena — observadas as hipóteses do art. 59 do CDC — em caso de descumprimento de ordem de harmonização dos recursos humanos.
6. TUTELA DE URGENCIA
Com fulcro no Código de Processo Civil brasileiro, em seu artigo 300, existe a possibilidade da concessão da tutela de urgência quando: “[...] houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo” 
Portanto, se tratando de um direito coletivo, pautado na saúde e na segurança, o perigo de dano é iminente. A brevidade e necessidade de liminar advém da falta de margem de tempo, objetivando evitar que a ré continue executando os mesmos atos ilícitos que foram submetidos o casal Mikael e Catherine. Se nenhuma medida coercitiva for aplicada, a continuidade de direitos lesados vai ao encontro do previsto legalmente.
Se protocolada a tutela de urgência em sede liminar, além de reconhecer o caráter emergencial, concede a segurança jurídica desejada. Contudo, não impede alteração, pelo fato de não ser uma medida irreversível. 
7. DOS PEDIDOS 
a) diante do fumus boni iuris, caracterizado pela verossimilhança dos fundamentos aduzidos e, ainda, do periculum in mora, caracterizado pelo perigo de dano irremediável que a demora da prestação jurisdicional poderá acarretar à saúde dos consumidores do serviço da Associação Beneficente Evangélica de Joinville, a concessão LIMINAR DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA obrigando à ré ao pagamento de multa diária (art. 56, I do CDC) no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) até que o Corpo Clínico do atendimento emergencial seja preenchido adequadamente;
b) em não havendo comprovação da adequação dos recursos humanos do setor do Pronto Socorro nos termos do art. 2 º do CFM n° 1.451/95, interdição do setor emergencial do estabelecimento hospitalar (art. 56, IX do CDC);
c) citação da ré para responder, aos termos desta ação, sob pena de revelia;
d) havendo necessidade, o deferimento de outros tipos de multa que assegurem o resultado prático equivalente ao cumprimento das obrigações, nos termos do art. 537 do Código de Processo Civil;
e) condenação da ré aos ônus derivados da sucumbência como custas processuais, honorários de peritos e demais custas processuais;
f) requer o apensamento do processo de nº ________________, na hipótese do art. 685 do Código de Processo Civil;
g) apuração do faturamento anual da ré, a fim de mensurar o valor da causa;
H) condenação da ré aos danos morais coletivos descritos ao longo desta exordial.
8. DAS PROVAS
Requer a produção de todos os meios de provas em direito admitidos e cabíveis ao gênero, em especial perícias, juntada de documentos, depoimento pessoal dos representantes legais dos requeridos e oitiva de testemunhas, cujo rol será oportunamente ofertado. 
9. VALOR DA CAUSA 
Atribui-se à causa o valor temporário de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para os devidos fins, podendo ser ajustado de acordo com demonstração de faturamento da ré. 
Pede e aguarda deferimento, por ser de Direito e de Justiça.
Joinville, 10 de junho de 2020.
Agatha Morgana
Emanuella Chaves
Luiza Loraine
Samantha de Oliveira
Yasmin dos Santos
	PROMOTORAS DE JUSTIÇA	
Assinado digitalmente
Fórum de Joinville - R. Hermann August Lepper 980, Saguaçú, Joinville/SC - CEP 89221-902
E-mail: promotoria01.joinville@mpsc.mp.br . Fone: 3456-7890

Continue navegando