Buscar

Empoderamento da Enfermagem Sob Uma Perspectiva Sociológica

Prévia do material em texto

FACULDADE DE FARMÁCIA,ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
CURSO DE ENFERMAGEM
DISCIPLINA: PRINCÍPIOS DE SOCIOLOGIA DA SAÚDE
Docente: Celina Amalia Ramalho Galvão Lima
Discentes: Carolina Chaves de Alexandrino
Felipe Hugo Mesquita de Paula
Giovanna de Oliveira Gildo
Lara Thays Araújo Sousa Torres
Lívia Mota Sousa
Ludmilla Silva dos Santos
Monalisa Dutra Barbosa
Rafaelle Bezerra Colares
Sara Araújo Bezerra
EMPODERAMENTO DA ENFERMAGEM SOB UMA PERSPECTIVA
SOCIOLÓGICA
Fortaleza
2021
Origem do cuidado e história da enfermagem cristã e sua implicação nos dias de hoje -
Nietzsche;
A origem do cuidado teve como primeira forma de manifestação a proteção materna
instintiva. A atividade de cuidar ou tomar conta de pessoas se confunde no tempo com o
trabalho da mãe no cuidado e na nutrição dos filhos e de outras pessoas dependentes , como
os idosos, os feridos ou doentes. Dessa forma, práticas de saúde, associadas ao trabalho
feminino estariam a serviço da sobrevivência, pois os saberes relacionados ao ato de cuidar
eram passados de mãe para filha, de geração para geração, de comunidade para comunidade.
Com o advento do cristianismo, houve forte influência da igreja nas práticas de saúde,
o cuidado dos enfermos, embora não fosse a única forma de caridade prestada, elevou-se a
um plano superior, isto é, se converteu em uma vocação sagrada e passou a ser integrado por
homens e mulheres cristãos e, assim, a enfermagem era reconhecida como um trabalho de
Deus. Ademais, o cuidado ao enfermo era prestado por diáconos e diaconisas, que eram
servos e tinham a enfermagem como uma forma de salvar sua alma, Havia grande
preocupação com as virtudes morais, disciplina, caridade e com espírito de sacrifício, era
necessário que seguisse a moral cristã, pois o cuidado prestado era considerado como o amor
a Deus em ação, propiciando para aqueles que o praticavam o fortalecimento de caráter, a
purificação da alma e um lugar garantido no céu, baseando no cumprimento do dever, no
servir, no ceder, no cuidar e no amor ao próximo. As práticas em saúde tinham um caráter
mais religioso do que assistencial ou curativo.
Nessa perspectiva, o cuidado dos enfermos foi uma das muitas formas de caridade
adotadas pela igreja e que se conjuga à história da enfermagem. Os ensinamentos de amar e
de fraternidade transformaram não somente a sociedade, mas também o desenvolvimento da
enfermagem, marcando, ideologicamente, a prática de cuidar do outro e modelando
comportamentos que atendessem a esses ensinamentos. Nesse contexto, a enfermagem
profissional sofreria influência direta destes ensinamentos, porém, com o passar do tempo, o
que era só um cuidado começou a ganhar corpo, príncipios e a se tornar realmente uma
profissão.
Por volta do século XVI, a atividade era vista, na Europa, como uma profissão que já
começava a se institucionalizar, principalmente a partir da Revolução Industrial, que é
marcada pelo êxodo rural, com muitas pessoas migrando do campo para cidade, houve um
crescimento urbano descontrolado que, por sua vez, aumentou o número de doenças
contagiosas e acelerou as suas propagações. Urgia a necessidade de mais atenção à saúde
pública. Então, o governo começou a assumir o controle dessa pasta, passando a criar órgãos
específicos responsáveis para dar assistência médica à população. A profissão de enfermeiro
começa a ganhar força com a atuação. O trabalho consistia em dar suporte durante as grandes
guerras do período. Outro fator importante é que foi nesse período também que as primeiras
escolas de Enfermagem foram inauguradas. E a enfermagem, por sua vez, se desvincula um
pouco da religião.
Passado o período de Guerras, se inicia a Era Moderna da Enfermagem e com ela o
desenvolvimento da educação em Enfermagem no Brasil. Mais escolas são abertas,
especialização criadas, conselhos, associações e sindicatos de classe organizados, entre outras
https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial
https://upis.br/blog/agronegocio/
https://upis.br/blog/enfermeiro/
medidas, e a própria profissão de enfermeiro é regulamentada. Outrossim, mudanças
importantes na saúde, de um modo geral, também foram implementadas, dentre elas, a
criação do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do
Sistema Único de Saúde (SUS). Por fim, vale salientar que temos Florence Nightingale, a
qual fundou a enfermagem moderna, ressalta-se que a enfermagem profissional no mundo foi
erigida a partir das bases científicas propostas por ela, que foi influenciada diretamente pela
sua passagem nos locais onde se executava o cuidado de enfermagem leigo e fundamentado
nos conceitos religiosos de caridade, amor ao próximo, doação, humildade, e também pelos
preceitos de valorização do ambiente adequado para o cuidado. Florence desenvolveu o
projeto da Escola de Enfermagem do Hospital de St. Thomas, em Londres. Alguns
fundamentos da escola criada por Florence focam no atendimento aos pobres, ligação de
escolas aos hospitais para treinamento e no ensino por equipe formada na área.
Com isso, conclui-se que nessa era moderna da enfermagem, foi ela quem exerceu
maior influência sobre a reforma da enfermagem no mundo, desenvolvendo com que
profissionais saibam exercer a enfermagem ligando o saber científico ao cuidado
humanizado.
Inspirado por Schopenhauer, Nietzsche se insere como um dos filósofos mais importantes da
Idade Contemporânea, vivendo de 1844 a 1900. Ele é conhecido por criticar a moral cristã, e
também por analisar o pensamento religioso, o dualismo de bem e mal de sua época. A
filosofia dele tenta responder uma pergunta: “Como podemos viver em um mundo sem algo
(um Deus) que garanta que a vida tenha sentido?”. Nietzsche tenta, portanto, buscar um
significado à vida, uma resposta não religiosa para o sentido das coisas, uma condição que ele
chamou de niilismo – a crença de que nada tem sentido. Ele também é conhecido por
influenciar os filósofos do século XX, como a psicanálise de Freud, o existencialismo de
Sartre, a filosofia da linguagem de Wittgenstein e a fenomenologia de Husserl. Pode-se dizer
que Nietzsche era materialista e que também afirmava a vida e observava as questões de
moral e da verdade, buscando esses contrapontos em suas análises. Posto isso, tais reflexões
sobre a moral cristã trazem à tona a origem e a história da Enfermagem, pois ela foi vista, por
muito tempo, como puramente religiosa, uma profissão de caridade, o que se pode afirmar
que não se aplica aos dias hodiernos, porém se pode associar aos valores que regem a
profissão, os quais são relacionados à benevolência e a não-maleficência, por exemplo. No
entanto, essa concepção, como dito, não condiz com a realidade, pois a assistência, enquanto
ciência, configura-se como uma das profissões mais antigas do mundo, porém agora
sistematizada, com autogestão e realidade multidisciplinar visando o bem estar do paciente.
Além disso, a profissão de Enfermagem também requer condições de trabalho adequadas,
bem como um salário digno, que reflita não só a complexidade dos processos profissionais,
mas a profunda arte de cuidar da vida humana. Infelizmente, ao passo que a Enfermagem se
consolida como ciência, as heranças religiosas ainda são fatores que influenciam na visão da
sociedade sobre a profissão e muitas vezes, seja por desconhecimento ou senso comum, as
pessoas indiretamente ou diretamente, qualificam-na como menos científica frente à outras
profissões da área de saúde e mais caridosa, mais religiosa, o que se afirma que não se aplica,
pelo menos não mais. Então, trouxe-se a visão de Nietzsche como forma de salientar uma
postura crítica frente a esses pré-conceitos tão enraizados na sociedade em relação à
profissão, de maneira a frisar o seu pensamento quando ele afirma que, para o cristianismo,
há uma grande aposta em uma outra vida, em outro mundo, que desvaloriza, de certa forma,
esta vida e o mundo presente, ressaltando características como o desprendimento e a própria
caridade. A problemática se insere quandoessa situação está associada a uma profissão, a um
ofício, o que, em uma sociedade em que se depende de salário, de boas condições e da
própria sobrevivência, em uma realidade cada vez mais complicada, as conjunturas não são
as mais favoráveis. No entanto, quando se trata de valores, de bondade, as concepções cristãs
se tornam muito bem-vindas, mas elas não podem reger uma ocupação e também não podem
colocar um piso salarial nesta.
Relação do trabalho, interdependência e divisão do trabalho - Durkheim;
David Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de
1917) foi um sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo francês. É
citado como o homem que tornou a sociologia uma ciência e, junto com Karl Marx e Max
Weber, é frequentemente citado como o principal criador da ciência social moderna e pai da
sociologia. Em seus trabalhos ele estava dando notória atenção a forma como as sociedades
poderiam manter sua integridade e coerência na modernidade, uma era em que os tradicionais
laços sociais e religiosos não são mais assumidos e que novas instituições sociais têm
surgido. Seu primeiro trabalho sociológico importante foi Da Divisão do Trabalho Social,
livro publicado em 1893. Também teve um importante trabalho publicado em 1897, sua
monografia seminal O Suicídio, um estudo sobre as taxas de suicídio em populações católicas
e protestantes, uma investigação social moderna que serviu para distinguir a ciência social em
relação à psicologia e à filosofia política.
❏ Da Divisão do Trabalho - Solidariedade
Durkheim interpretou o vínculo social através dos conceitos de solidariedade
orgânica e mecânica. A solidariedade segundo Durkheim é oriunda de dois tipos de
consciência: a consciência coletiva (ou comum) e a consciência individual. Cada indivíduo
possui uma consciência individual que sofre influência da consciência coletiva, que nada
mais é que a combinação das consciências individuais de todos os homens ao mesmo tempo.
A consciência coletiva seria responsável pela formação de nossos valores morais, e exerce
uma pressão externa aos indivíduos no momento de suas escolhas. A soma da consciência
individual com a consciência coletiva forma o ser social.
Em seu livro Da Divisão do Trabalho Social, Durkheim define a evolução da
solidariedade: as sociedades tradicionais passadas foram baseados na solidariedade mecânica,
correspondendo às sociedades tradicionais, pré-capitalistas, marcadas por uma
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89pinal
https://pt.wikipedia.org/wiki/15_de_abril
https://pt.wikipedia.org/wiki/1858
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paris
https://pt.wikipedia.org/wiki/15_de_novembro
https://pt.wikipedia.org/wiki/1917
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Antrop%C3%B3logo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cientista_pol%C3%ADtico
https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_social
https://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx
https://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber
https://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncias_sociais
homogeneidade social muito grande. Nelas, os indivíduos se parecem. As culturas
tradicionais partilham de crenças e valores comuns, cujos controles e padrões morais são
fornecidos pela religião, sendo fundadas no consenso, havendo pouco espaço para a
divergência. Nessas culturas, vê-se uma baixa divisão de trabalho, diferente nas sociedades
que começam a se industrializar e urbanizar. A harmonia é possível graças à semelhança de
valores entre os indivíduos. O processo de transição para a industrialização e urbanização
trouxe o colapso da solidariedade mecânica e, à medida que crescia a especialização das
tarefas e a diferenciação social, uma nova solidariedade, nomeada de orgânica, se estabelece.
A solidariedade orgânica, portanto, é própria da sociedade capitalista. Supõe uma
complexidade social maior, em que os indivíduos são diferentes. Logo, chegamos na
conclusão que dentro da Enfermagem, vivemos uma solidariedade orgânica, pois cada parte
da equipe multiprofissional é muito importante para uma Unidade de Saúde e para que o
cuidado seja efetivo, cada profissional exerce uma função que não pode ser substituída por
outra, assim, fica evidente que deve haver trabalho em equipe e respeito.
❏ A divisão Social do Trabalho e a Superespecialização:
Como mencionado, cada indivíduo possui uma função na estrutura social, essa divisão
tem como um de seus produtos principais a capacidade de aumentar a produtividade, que está
diretamente relacionada com a especialização que tem como produto final um aumento tanto
da qualidade, quanto da produtividade.
Inicialmente o trabalho é dividido com a função de promover atividades cotidianas,
contudo outras divisões surgem como a divisão sexual do trabalho, a divisão capitalista do
trabalho, a divisão internacional do trabalho, bem como a divisão social do trabalho.
Traçando uma linha do tempo sobre essas divisões do trabalho, observa-se que no
início o trabalho configurava-se com divisões sexuais e por idade, com o passar do tempo, a
agricultura surge, causando o aprofundamento dessas divisões sexuais e uma secção entre o
homem do gado e do agro, posteriormente, o comércio surge a partir da troca de produtos
manufaturados por produtos agrícolas. Por fim, surge o capitalismo com suas diversas
adaptações, especializações e segmentações do trabalhador
A superespecialização é uma questão bastante discutida, principalmente pelos seus
efeitos maléficos na área da saúde, que tem relação direta com a não criação de vínculos com
o paciente, até um olhar segmentar do paciente, que, por um lado, pode ser interessante ao
olhar sob um prisma de focar em um único problema, porém, países como EUA e Reino
Unido, sinalizam que profissionais generalistas e com foco na atenção primária, são o futuro
da saúde mundial.
Alienação e questões salariais - Karl Marx
❏ Desafios trabalhistas da Enfermagem.
A enfermagem possui uma grande atuação e importância sociológica, pois está inserida nos
cuidados e na assistência em todos os âmbitos, estabelecimentos de saúde e ao longo de toda
a vida de um indivíduo, desde o nascimento até o pós-morte. Portanto, a enfermagem é parte
essencial para a prestação de uma assistência de qualidade em todo o país.Contudo, esta
profissão ainda enfrenta muitos desafios, seja no campo da formação, do mercado de
trabalho, como diante da sociedade, que necessitam de enfrentamento, buscando a
valorização desses profissionais, os quais desempenham um papel fundamental à frente da
saúde brasileira.
Desse modo, os desafios enfrentados pela enfermagem na formação à serem enfrentados são,
tanto o combate de cursos de baixa qualidade, que reduzem o nível de competência da
profissão, como os muitos cursos sem a infraestrutura necessária, em modalidade de ensino à
distância (EAD), além do descompasso entre oferta de cursos e a ausência de políticas
públicas para a inclusão dos egressos no mercado de trabalho. Todos esses fatores levam à
muitos outros problemas para a profissão, como a subestimação, a desvalorização, tanto
salarial como em relação à própria ciência da profissão. Além disso, vemos na Pesquisa Perfil
da Enfermagem no Brasil, de Machado (2017), que existem outros problemas na formação da
enfermagem no Brasil, com a baixa taxa de qualificação, em que entre os enfermeiros, 4,7%
são doutores, 14,5% são mestres e 72,8% têm Especialização; já entre os auxiliares e técnicos
apenas 23% têm Especialização e 45,8% fizeram alguma atualização no decorrer de sua vida
profissional. Além disso, 60% informaram que não fizeram nenhuma qualificação nos
últimos 12 meses. Contudo, o desejo de se qualificar é um anseio do profissional de
Enfermagem brasileiro, que busca melhorar sua posição no mercado de trabalho,
demonstrado pelos dados da pesquisa de Machado (2017), em que 80,1% dos enfermeiros
reportam ter feito cursos de pós-graduação, sendo a maioria (72,8%) na modalidade de
Especialização, segundo dadosda Pesquisa Perfil da Enfermagem no Brasil. A maioria, os
quais são 78,1% dos trabalhadores de nível médio (técnicos e auxiliares), deseja cursar
graduação e muitos já apresentam escolaridade acima da exigida para o desempenho de suas
atribuições, com 22,8% reportando nível superior incompleto e 11,5% tendo concluído curso
de graduação.
Estes problemas e outros levam à outros desafios enfrentados pela enfermagem, desta vez no
contexto do mercado de trabalho. Segundo Silva & Machado (2020), estes desafios são:
situação de precarização do trabalho, em que 62,5% possuem salários de até 3 mil reais e
14,4% estão na condição de sub salários (igual ou inferior a mil reais), dados do setor
público; além da ausência do piso salarial, que se apresenta como uma luta antiga e ainda não
ganha pela categoria; jornada incompatível com o trabalho, sendo que 40,8% dos
profissionais atuam mais de 40 horas no setor público, enquanto no setor privado, 38,5% se
localizam nessa faixa, culminando em até 80 horas semanais, levando À sobrecarga desses
profissionais e consequentemente à redução da qualidade da assistência; outra problemática é
o desemprego aberto e estrutural, justificado pelo boom de escolas de enfermagem, causando
um desequilíbrio entre oferta e demanda; há também a composição desigual dos profissionais
da enfermagem no país, que possuem concentração urbana e regional, além de que 77% são
técnicos e auxiliares, enquanto somente 23% são enfermeiros, o que gera
desproporcionalidade na equipe de enfermagem e sobrecarga dos enfermeiros, em que,
segundo Silva & Machado (2020), 65,9% declaram desgaste profissional; há ainda baixa
qualidade de vida, justificada pelo aumento crescente de depressão, sedentarismo, obesidade,
extremo cansaço, sentimento de desvalorização nesta classe de profissionais; a falta de
infraestrutura de descanso, presente em menos de 50% dos estabelecimentos de saúde; e por
final a alarmante violência , o qual na pesquisa de Machado (2017) uma parte significativa
(52,8%) declara ser maltratada e desrespeitada pela população usuária, especialmente pelos
familiares dos pacientes e 19,7% já sofreram violência física, psicológica ou institucional.
Desse modo, destaca-se a necessidade do enfrentamento e resolução desses desafios, tanto
por meio do envolvimento com os movimentos e órgãos de sindicalização, como por meio da
parceria com os órgãos representativos da enfermagem, como os Conselhos Regionais de
Enfermagem (COREN), como com o órgão que promove o avanço científico da classe, a
Associação Nacional de Enfermagem (ABEn). Todas essas iniciativas visam lutar pelos
direitos sociais e trabalhistas da enfermagem, crescimento e progresso da categoria como
ciência, visibilidade da profissão e respeito, mais que merecido, perante a sociedade, para que
assim não haja só a melhora no trabalho e na vida desses profissionais, mas também para a
otimização da assistência em saúde.
❏ Marx, Luta de classes, Mais-Valia e Alienação
Karl Marx (1818-1883) Foi um prussiano muito importante para a sociologia, filosofia,
economia e para outras áreas. Ele trouxe os conceitos de Mais-Valia, Alienação, Luta de
classes. Foi o principal influenciador do comunismo com sua teoria marxista.
Marx cria os conceitos de proletariado e burguesia, que movem outro maior, chamado de luta
de classes. Na luta de classes há um constante movimento entre essas duas peças, que são o
proletariado e a burguesia, as quais estão sempre tentando superar uma à outra. Na verdade, o
proletariado é que tenta essa superação, visto que a burguesia está sempre no topo dessa
pirâmide e é quem explora o proletariado através dos meios de produção.
Na mais valia, o valor pago pela produção de mercadorias e o valor que essa mercadoria vale
no mercado são diferentes, ou seja, quando usa a força de trabalho do proletariado, a
burguesia gera mais valor que o necessário para remunerar por esse trabalho. Assim, a
burguesia fica cada vez mais rica através da exploração do proletariado. E isso gera uma
desigualdade social enorme. Assim, o proletariado busca constantemente superar essa
desigualdade, fazendo com que haja sempre essa luta de classes, como afirma Marx
Para Marx, ao invés de realizar o homem, o trabalho o escraviza, ao invés de o humanizar, o
trabalho o desumaniza. Sua vida passa a se medir pelo que ele possui e não pelo que ele é.
Marx cita a alienação religiosa e estatal, nas quais o homem, ao invés de tornar-se livre, cada
vez mais se aprisiona. Mas a alienação básica na sua concepção é a econômica, que faz com
que haja a separação do trabalho em todas as suas instâncias, alienando o trabalhador, que
não se reconhece mais em uma atividade e que desenvolve apenas uma de suas habilidades,
visto que é encarregado de fazer apenas uma parte do produto final. Além disso, o
trabalhador gera o acúmulo de riqueza apenas a uma minoria, seus chefes, a burguesia. Dessa
forma, o trabalhador não reconhece mais seu trabalho e não se dá conta da exploração a qual
é submetido. Assim, a divisão de trabalho e a acumulação de capital formam a base da
sociedade capitalista e são as fontes de alienação moderna e é por meio dessas que se
constitui um sistema de dominação.
❏ Marx e a Enfermagem
É importante ressaltar que os conceitos de Alienação e Mais-valia infelizmente estão
presentes na atual situação trabalhista da Enfermagem, que muitas vezes trabalha em uma
jornada de trabalho desgastante e exagerada, com um salário incompatível, com insalubridade
e desrespeito, literalmente sendo explorada.
A Enfermagem tem um histórico de lutas por reconhecimento trabalhista, bem como por
qualificação profissional. O enfermeiro é muitas vezes menosprezado pela sociedade, que
ainda o trata como inferior ao médico. No entanto, é justamente através da união da classe,
por meio dos seus órgãos, que esse reconhecimento e essas melhorias são efetivados.
As acusações de Marx ao sistema capitalista instiga à reflexão sobre a situação da
enfermagem nesse sistema e como é possível lutar para a mudança.
❏ Importância das lutas sindicais e da atuação dos órgãos representativos
Em primeiro plano, Segundo Souza, Mendes & Chaves (2020) Marx disserta sobre os
diferentes tipos de trabalho e exploração, no qual a enfermagem se enquadra na terceira
categoria, o qual nas palavras do sociólogo “A terceira categoria da superpopulação relativa,
a estagnada, constitui parte do exército ativo de trabalhadores, mas com ocupação
completamente irregular. Ela proporciona, assim, ao capital, um reservatório inesgotável de
força de trabalho disponível. Sua condição de vida cai abaixo do nível normal médio da
classe trabalhadora, é exatamente isso faz dela uma base ampla para certos ramos de
exploração do capital ”, ou seja, a enfermagem se mostra como profissão explorada, em que
muito serviço é oferecido, contudo com um retorno desproporcional ao trabalhador, que passa
a ter sua qualidade de vida reduzida.
Visto isso, a enfermagem necessita de representatividade perante a sociedade e órgãos que
preocupam-se com suas lutas e melhorias trabalhistas, além do aumento da sua qualidade de
vida. Contudo, existem barreiras que dificultam esse processo, como a valorização do
assalariamento como “privilégio” do que a realidade do trabalho em si, que superestimação
do assalariamento, apesar de desproporcional, justificado no perfil de profissionais com
raízes na precarização do trabalho, negação dos direitos e informalidade, além da
inexperiência em ações de resistência ou representação sindical, associado à valorização do
emprego como ascensão social, e ainda a falsa consciência de que o fato do setor ser
composto majoritariamente por mulheres significa que a categoria é submissa e dócil, que se
trata apenas de uma visão machista da profissão, não esquecendo ainda da desinformação
sobre seus direitos e como alcançá-los, que ainda se perpetua na profissão (SOUZA;
MENDES & CHAVES, 2020).
Desse modo, os sindicatos, COREN’s e a ABEn, devem agir em conjunto no intuito de:
● Regulamentar a profissão;● Lutar pelos direitos da categoria;
● Instruir os profissionais sobre seus direitos e de como lutar por eles;
● Proteção dos profissionais da enfermagem;
● Modificar a visão de que a enfermagem é caridade, mas sim ciência;
● Aumentar as oportunidades de qualificação profissional e crescimento da categoria no
âmbito universitário;
● Dar visibilidade à categoria profissional.
Cultura de massa e estigma da enfermagem - Guy Debord;
Guy Debord, filósofo e cineasta francês, nasceu em 28 de dezembro de 1931 e ficou
conhecido principalmente por sua obra A Sociedade do Espetáculo, publicada em 1967.
Nessa obra, Debord desenvolveu a teoria contemporânea que dá nome ao livro para explicar
o mundo após a Revolução Industrial, isto é, o mundo globalizado ligado à questão da
imagem. Com essa globalização, sobretudo devido ao advento da Indústria Cultural, há o
desenvolvimento de uma dominação ideológica das pessoas por meio do controle da imagem.
Esse controle pela Indústria Cultural, conceito criado por Theodor Adorno e Max
Horkheimer, compreende a produção cultural e artística como um produto do capitalismo que
é feito em escala industrial e distribuída através de técnicas específicas de reprodutibilidade,
tal qual um produto, fazendo com que se perca a autenticidade da obra.
A Sociedade do Espetáculo tem suas origens no próprio capitalismo industrial, o qual é
composto pela dominação midiática intensificada com os produtos da globalização: os meios
de comunicação.
Esses veículos de transmissão de informação e de conhecimento, a exemplo da televisão e do
telefone, utilizou-se (e ainda utiliza-se) da propaganda repleta de diversas técnicas midiáticas,
a chamada Era de dominação das imagens. Para Guy Debord, as imagens exercem um
controle nas pessoas, uma vez que são dotadas de recursos audiovisuais e imagéticos,
características responsáveis por tornar os indivíduos cada vez mais vulneráveis a todas e
quaisquer informações.
No entanto, por mais que a imagem seja a validação da realidade, segundo ele, em muitas
situações não cabe apenas a imagem como “pagamento” e, em muitas situações a reprodução
midiática não cabe de jeito nenhum. Isso causa, na sociedade, uma confusão entre a ficção e a
realidade.
Como exemplo disso a gente pode citar algumas notícias, como a que diz que profissionais de
saúde do Distrito Federal fazem “gambiarra” para garantir o suprimento de oxigênio dos
pacientes. Enquanto isso, pessoas da mídia se engajam em movimentos que não dão o devido
reconhecimento à enfermagem, como o apresentador Luciano Huck, entre outras
celebridades, que fez um vídeo aplaudindo os profissionais da saúde. O problema não se
encontra no fato de a população se sentir à vontade com essa ação, mas que a prática da
cidadania se encontre apenas nesse ato que demonstra, sim, empatia pelos enfermeiros e
enfermeiras, mas não dá a eles e elas a devida importância. Aplaudir os profissionais de casa
não é o mesmo que abraçar a luta da classe por condições dignas de trabalho.
A exemplo disso, a gente tem outro caso, como o de servidores da maternidade Dona Regina
que dizem estar cansados de improvisar por causa da falta de equipamentos de proteção
individual. A sociedade precisa atuar mais ativamente ao invés de romantizar a situação
chamando os profissionais de “guerreiros”. Acontece que eles não são guerreiros. Nós não
estamos nos formando para sermos guerreiros. A profissão precisa da devida atenção por
parte da sociedade civil e isso deve ser seguido pela mídia. Há muito tempo, o ambiente de
trabalho da enfermagem é marcado por condições precárias e recursos insuficientes. Em
situações como essas, o retorno midiático não chega aos pés do merecido. A pandemia
potencializou os problemas enfrentados pela profissão, mas não se muda isso com panelaços,
aplausos ou apenas amor. A enfermagem precisa de piso salarial digno, respeito e
valorização, além de condições apropriadas de trabalho e isso não é fornecido por meio de
postagens que reafirmam a crítica de Debord. O reconhecimento da profissão se faz
necessário por meios legais, não apenas pela espetacularização da profissão.
Questionamento de como aumentar esse empoderamento e pesquisa;
O que é empoderar-se no âmbito da Enfermagem? É apropriar-se daquilo que é seu por
direito, é ter a autonomia sobre suas atribuições exclusivas, é valorização de si como
indivíduo, da equipe de enfermagem e da profissão num contexto mais geral. É, também,
apropriar-se dos princípios éticos da Enfermagem:
❏ Beneficência/Benevolência
❏ Justiça
❏ Não-maleficência
❏ Fidelidade
❏ Veracidade
❏ Confidencialidade
❏ Autonomia
É, além disso, ser fiel e cumprir o CEPE (Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem)
- compreendendo a Resolução COFEN Nº 5642017 -, praticar os valores da profissão e
entender a necessidade dos órgãos reguladores (conselhos, associações e sindicatos).
Enfim, é válido ressaltar, também, duas formas de empoderamento, de acordo com o Artigo
Empoderamento estrutural dos enfermeiros no ambiente hospitalar1.
Na perspectiva do empoderamento estrutural:
❏ Planejar e buscar atingir metas organizacionais preestabelecidas;
❏ Buscar recursos e apoio para realizar esse planejamento;
❏ Sempre se atualizar dentro da sua área, por meio de capacitações, cursos, congressos e
etc;
❏ Troca de “feedbacks” entre colegas de trabalho e superiores em relação a, incessante,
busca pela aprendizagem.
Já sob o olhar do empoderamento psicológico:
❏ Buscar aplicar táticas de motivação para que a equipe se sinta valorizada;
❏ Demonstrar e reconhecer quando os profissionais estiverem se saindo bem no seu
ofício;
❏ Autocuidado.
Combater relações destrutivas no ambiente de trabalho se faz necessário para que o ambiente
esteja favorável para as boas relações, assim, viabilizando, o empoderamento de se instaurar.
Ademais, com o objetivo de elucidar com mais propriedade, foi feita uma breve pesquisa no
Google Forms. Os resultados serão apresentados durante a apresentação oral do seminário.
Referências Bibliográficas:
1. Allan, Kenneth; Allan, Kenneth D. (2005). Explorations in Classical Sociological
Theory: Seeing the Social World. Thousand Oaks: Pine Forge Press. p. 104. ISBN
978-1-4129-0572-5.
2. Calhoun, Craig J. (2002). Classical sociological theory (em inglês). [S.l.]:
Wiley-Blackwell. p. 107. ISBN 978-0-631-21348-2.
https://pt.wikipedia.org/wiki/International_Standard_Book_Number
https://pt.wikipedia.org/wiki/Especial:Fontes_de_livros/978-1-4129-0572-5
http://books.google.com/books?id=6mq-H3EcUx8C&pg=PA103
https://pt.wikipedia.org/wiki/International_Standard_Book_Number
https://pt.wikipedia.org/wiki/Especial:Fontes_de_livros/978-0-631-21348-2
3. CELEPAR. Contribuições de Émile Durkheim - Disciplina - Sociologia. Pr.gov.br.
Disponível em:
<http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=16
7#solidariedade_social>. Acesso em: 24 Mar. 2021.
4. DURKHEIM, Émile. De la division del trabajo social. Uruguay: Shapire Editor,
1967. TIRYAKIAN, Edward A. O trabalho em Èmile Durkheim. In: MERCURE, D.;
SPURK, J. (Orgs.). O trabalho na história do pensamento ocidental. Petrópolis
(RJ): Vozes, 2005, p. 215-234.
5. Kim, Sung Ho (2007). "Max Weber". The Stanford Encyclopedia of Philosophy
(entrada em 24 de agosto de 2007) http://plato.stanford.edu/entries/weber/
6. MOURA, Lenize Nunes et al . Empoderamento estrutural dos enfermeiros no
ambiente hospitalar. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto , v. 28, e3373,
2020 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692020000100425
&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 23 mar. 2021. Epub 06-Nov-2020.
http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.3915.3373.
7. Machado MH, coordenadora. Pesquisa Perfil da Enfermagem no Brasil: Relatório
Final. Rio de Janeiro: Nerhus- Daps-Ensp/Fiocruz; 2017. Disponível em:
<http://www.cofen.gov.br/perfilenfermagem/index.html> Acesso em: 23 de Mar. de
2021
8. ORGANIZAÇÃO EDUCACIONAL FARIAS BRITO (Ceará). Organização
Educacional Farias Brito (org.). Filosofia e Sociologia.Fortaleza: Sistema Farias
Brito, 2018. 286 p
9. SILVA, Manoel Carlos Neri da; MACHADO, Maria Helena. Sistema de Saúde e
Trabalho: desafios para a Enfermagem no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio de
Janeiro , v. 25, n. 1, p. 7-13, jan. 2020 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232020000100007
&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 23 mar. 2021. Epub 20-Dez-2019.
https://doi.org/10.1590/1413-81232020251.27572019.
10. SOUZA, Helton Saragor de; MENDES, Áquilas Nogueira; CHAVES, Alessandro
Rodrigues. Trabalhadores da enfermagem: conquista da formalização, “dureza” do
trabalho e dilemas da ação coletiva. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 25, n.
1, p. 113-122, jan. 2020 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232020000100113
&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 23 mar. 2021. Epub 13-Dez-2019.
https://doi.org/10.1590/1413-81232020251.29172019.
https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Stanford_Encyclopedia_of_Philosophy
http://plato.stanford.edu/entries/weber/
http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.3915.3373
http://www.cofen.gov.br/perfilenfermagem/index.html
https://doi.org/10.1590/1413-81232020251.27572019
https://doi.org/10.1590/1413-81232020251.29172019

Continue navegando