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APOSTILA - FUNDAMENTOS HISTôRICOS, TEôRICOS E METODOLôGICOS DO SERVIçO SOCIAL

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Fundamentos Históricos, 
Teóricos e Metodológicos do 
Serviço Social - Políticas Públicas
Professora Esp. Daniela Sikorski
Diretor Geral 
Gilmar de Oliveira
Diretor de Ensino e Pós-graduação
Daniel de Lima
Diretor Administrativo 
Eduardo Santini
Coordenador NEAD - Núcleo
de Educação a Distância
Jorge Van Dal
Coordenador do Núcleo de Pesquisa
Victor Biazon
Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva
Projeto Gráfico e Editoração
André Oliveira Vaz
Revisão Textual
Kauê Berto
Web Designer
Thiago Azenha
UNIFATECIE Unidade 1
Rua Getúlio Vargas, 333,
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 2
Rua Candido Berthier
Fortes, 2177, Centro
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 3
Rua Pernambuco, 1.169,
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 4
BR-376 , km 102, 
Saída para Nova Londrina
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
www.unifatecie.edu.br
As imagens utilizadas neste 
livro foram obtidas a partir
do site ShutterStock
FICHA CATALOGRÁFICA
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFATECIE. 
Credenciado pela Portaria N.º 527 de 10 de junho de 
2020, publicada no D.O.U. em 15 de junho de 2020.
Núcleo de Educação a Distância;
SIKORSKI, Daniela.
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do 
Serviço Social - Políticas Públicas.
Daniela. Sikorski.
Paranavaí - PR.: UniFatecie, 2020. 169 p.
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária
Zineide Pereira dos Santos.
AUTORA
Professora Esp. Daniela Sikorski
●	 Especialista em Política Social e Gestão de Serviços Sociais pela UEL (Univer-
sidade Estadual de Londrina). 
●	 Bacharel em Serviço Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa 
(UEPG). 
●	 Professora Formadora EAD - UniCesumar.
●	 Docente de Cursos Presenciais – UniCesumar (Campus Londrina).
●	 Professora de Pós-Graduação em Gestão da Qualidade em Saúde – UniCesu-
mar. 
●	 Supervisora Acadêmica de Estágio Obrigatório em Serviço Social.
Tem	experiência	profissional	na	área	de	Serviço	Social	na	Educação,	Organizacio-
nal, Terceiro Setor, Responsabilidade Social, Projetos Sociais, Gestão de Pessoas na Área 
da Saúde e Acreditação Hospitalar.
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja muito bem-vindo(a)!
Ao	escolher	o	curso	de	Bacharelado	em	Serviço	Social,	você	escolheu	uma	profis-
são comprometida eticamente com a defesa dos direitos humanos, a justiça, a liberdade, a 
equidade.
Gradativamente	você	conhecerá	a	história	da	profissão,	conseguindo	se	apropriar	
dos fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social e todas as demais 
disciplinas	do	curso,	possibilitando	a	você	se	tornar	um	profissional	diferenciado	e	compro-
metido com a sociedade.
Este	livro	trata	justamente	dos	fundamentos	da	profissão,	fundamentos	históricos,	
teóricos e metodológicos do Serviço Social enfatizando as políticas públicas.
Você terá a oportunidade de estudar sobre a gênese do Serviço Social e seus 
condicionantes históricos, políticos e sociais. A origem da questão social. O surgimento do 
Serviço Social na Europa e nos Estados Unidos, prioritariamente no Brasil. Perspectivas 
teórico-metodológicas	sobre	o	surgimento	da	profissão.	Entidades	representativas	da	pro-
fissão.	A	 legislação	social:	CLT,	LDB,	LOAS,	ECA,	LOS,	Estatuto	do	Idoso;	Lei	Maria	da	
Penha; Estatuto da Igualdade Racial; Lei da Previdência Social.
Na Unidade I você conhecerá a gênese do Serviço Social e a fundação das primei-
ras escola de Serviço Social nos EUA, na Europa, na América Latina e no Brasil. Você ainda 
entenderá como se deu o processo de racionalização da assistência e a origem da questão 
social. Tais elementos serão fundamentais para a compreensão das demais unidades.
Já na Unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre Serviço Social no 
Brasil e seus determinantes sócio-históricos. Veremos ainda como se deram as constru-
ções	clássicas	 tradicionais	da	profissão,	desde	o	período	de	sua	emergência	até	a	sua	
legitimação.
Depois, na Unidade III, vamos tratar sobre o Projeto Ético-Político do Serviço Social. 
Você	ainda	poderá	se	aproximar	do	Código	de	Ética	e	da	Lei	que	Regulamenta	a	Profissão	
de Serviço Social no Brasil. E para encerrar esta unidade de estudo lhe será apresentado a 
trajetória de lutas e conquistas do conjunto CFESS/CRESS (Conselho Federal de Serviço 
Social / Conselho Regional de Serviço Social).
E	por	fim	na	Unidade	IV,	veremos	algumas	legislações	sociais	e	de	proteção	social,	
com as quais o assistente social tem contato no	seu	cotidiano	profissional.
Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada 
de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em 
nosso	material.	Esperamos	contribuir	para	seu	crescimento	pessoal	e	profissional.	
Muito obrigada e bom estudo!
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 7
A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
UNIDADE II ................................................................................................... 44
O Serviço Social no Brasil
UNIDADE III .................................................................................................. 73
O Projeto Ético-Político do Serviço Social
UNIDADE IV ................................................................................................ 123
Legislações Sociais
7
Objetivos de Aprendizagem:
• Contextualizar a gênese do Serviço Social.
• Compreender como se deu a racionalização da prática da assistência e origem da Ques-
tão Social.
• Conhecer	a	fundação	e	especificidades	das	primeiras	escolas	de	Serviço	Social.
Plano de Estudo:
• A racionalização da Assistência e a gênese do Serviço Social.
• Origem da Questão Social.
• A fundação das primeiras Escolas de Serviço Social.
• A história do Serviço Social na América Latina.
UNIDADE I
A Gênese do Serviço Social nos EUA, 
na Europa e na América Latina
Professora Daniela Sikorski
8UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
INTRODUÇÃO
Olá, você está preparado(a) para nossos estudos? Vamos conhecer a gênese da 
nossa	profissão?
Vamos, a partir deste momento, compreender um pouco mais sobre a história do 
Serviço Social, o que possibilitará a você uma fundamentação pautada na história, em que 
atores	foram	construindo	e	consolidando	a	profissão	para	que	se	tornasse	o	que	é	hoje.
Você	verá	que,	historicamente,	o	Serviço	Social	possui	uma	grande	influência	da	
igreja, que, em seguida, foi se somando a questão política.
Conheceremos brevemente como se deu a criação das principais escola de Serviço 
Social no Mundo, sobretudo na Europa, América do Norte (EUA) e América Latina (Peru e 
Chile). 
Para alguns a história pode parecer desestimulante, porém reforço meu convite em 
aprender	a	história	da	profissão.	Por	que	estudar	a	história	da	profissão?	Para	que	você	se	
torne	um(a)	profissional	fundamentado(a),	embasado(a)	e	capaz	de	propor	estratégias	de	
intervenção condizentes com a realidade sócio-ocupacional em que está inserido(a), consi-
derando	a	realidade	atual.	Um(a)	profissional	que	saberá	intervir	com	segurança,	pensando	
a	longo	prazo	e	não	imediatista,	capaz	de	diferenciar	as	ações	profissionais	das	ações	de	
caridade, rompida ao longo dos tempos, porém sem nunca negar a sua essência.
Atualmente,	o	Serviço	Social	é	uma	profissão	inserida	na	divisão	social	e	técnica	do	
trabalho,	e	não	filantropia,	como	por	longo	tempo	foi	entendido.
Está preparado(a)? Vamos lá!
Bons estudos
9UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
1 A RACIONALIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA E A GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL
Inicio este estudo apontando que, historicamente, a realização da prática da as-
sistência esteve distante das relações sociais, ou seja, por longo tempo a prática da assis-
tência social esteve associada à ideia de caridade, ajuda, assistencialismo, benevolência 
e	filantropia.	
Nos dias atuais se faz necessáriocompreendermos com clareza, primeiramente, 
quais	foram	os	fundamentos	e	a	gênese	(origem)	da	profissão,	conhecer	como	nasceu	a	
nossa	profissão.
Em sua gênese, o Serviço Social encontra suas raízes na assistência aos pobres, 
prestada,	a	princípio,	por	mulheres	bondosas.	Vê-se	que	a	profissão,	atualmente,	se	en-
contra inserida na divisão social e técnica do trabalho, em que, de acordo com Estevão 
(2006),	 as	 ricas	 damas	 de	 caridade	 foram	 cedendo	 lugar	 às	 filhas	 da	 classe	média	 ou	
trabalhadores.
De forma bastante breve, leia a pequena história do Serviço Social, apresentada de 
maneira criativa, por Estevão (2006, p. 8-9), em seu livro O que é o Serviço Social:
[…] o Serviço Social tem pai e mãe e, inclusive, até já se deitou no divã do 
analista.
O Serviço Social é fruto da união da cidade com a indústria.
Seu nascimento teve como cenário as inquietudes sociais que surgiram do 
capitalismo	e,	 como	qualquer	bom	filho,	 quis	possuir	mãe	 (a	 cidade)	e	de	
identificar	com	o	pai	(a	indústria).
Na adolescência, negou várias vezes suas origens e hoje pode-se dizer que 
tem	feições	próprias,	com	contornos	definidos	na	luta	pela	sobrevivência	e,	
identificando	com	seus	pais,	chegou	para	ficar.
10UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
É claro que, em sua fase de maturação, mantém todas as ambiguidades 
inerentes	a	uma	profissão	que,	buscando	comprometer-se	com	a	população	
à qual presta serviços, é também canal de ligação entre instituições públicas 
e cidadãos, empregados e patrões.
Assim apresentado, convido você a compreender um pouco mais sobre a gênese 
da	nossa	profissão,	construindo	um	processo	de	formação	acadêmica	que	lhe	conduza	a	
um	futuro	profissional	brilhante.
Para você compreender melhor qual a relação da assistência com a caridade, é pos-
sível dizer que desde que existem pessoas em situação de pobreza, existem também pessoas 
que se preocupam e se comovem com tal situação, buscando ações para minimizá-las.
Historicamente,
As damas de caridade que pretendiam ganhar o céu minorando as agruras 
alheias acreditavam seriamente que os pobres eram a causa de sua própria 
situação e bastavam uma ajuda inicial e alguns conselhos bem dirigidos para 
que se lhes abrissem as portas das benesses que o capitalismo oferecia a 
todos	indistintamente.	Como	o	pobre	sempre	tem,	muitos	filhos,	não	bastava	
apenas ajudar a pessoa, era necessário também pensar na família, daí surge 
o trabalho com as famílias, com menores, na área de higiene, etc. (ESTE-
VÃO, 2006, p. 16-17).
Veja com atenção a citação apresentada, percebendo que a assistência estava 
diretamente ligada ao favor e ao assistencialismo, uma vez que o poder público não de-
monstrava nenhum interesse em custear os serviços de assistência social. Esses serviços 
ficavam	sob	a	responsabilidade	das	instituições	religiosas.
É importante contextualizar que, estando o capitalismo despontando, a sociedade 
também vai passando por transformações, em todos os seus aspectos.
Você sabia que em dado momento histórico o lucro foi considerado pecado, uma 
imoralidade? Porém, com o surgimento do capitalismo, isso deixa de existir. A burguesia, 
que almejava o poder, se sentia ameaçada pelos problemas sociais e possíveis revoltas 
que os “pobres” ofereciam. Nesse sentido:
Estado e Igreja vão dividir tarefas: o primeiro impõe a paz política (e com toda 
a violência necessária), a Igreja, ou melhor, as igrejas (Católica e Protestante) 
ficam	com	o	aspecto	social:	tratar	de	fazer	caridade.	
A	justificativa	é	a	necessidade	de	todos	praticarem	o	bem,	portanto	os	ricos	
precisavam cumprir com seus deveres com os pobres. Era uma preocupação 
com o indivíduo. O modo pelo qual se pensava resolver os problemas sociais 
era pela “reforma dos costumes” ou “reforma social” de cada um (ESTEVÃO, 
2006, p. 11).
Você, então, pode se questionar: como assim “reforma dos costumes”, professora?
Bem, quando se fala que é preciso “reformar” algo ou alguma coisa é porque ela 
não serve mais do jeito que está, ou não serve mais para o meu “padrão” do que é ade-
11UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
quado.	Por	exemplo:	quando	você	compra	uma	calça	que	ficou	larga,	você	recorre	a	uma	
costureira e pede que ela a reforme para que se ajuste ao seu corpo, correto?
Da mesma forma, com o advento do capitalismo, os pobres precisavam se ajustar 
à sociedade, precisavam de “reforma” para que não oferecessem “perigo” à sociedade. Ser 
pobre era uma contravenção, algo considerado errado, ou seja, eles eram “desajustados”. 
Em dado momento, ser pobre ainda era entendido por alguns como castigo divino ou repre-
sentava a incapacidade da pessoa em se enquadrar na sociedade como as outras pessoas 
“normais”.
Você achou isso estranho? Certamente você dirá que sim. Porém lembre-se que 
eram outros tempos.
Voltemos ao entendimento sobre como era feita a assistência em outros tempos. 
Primeiramente, era feita de maneira assistemática, sem a utilização de planejamento, mé-
todos e teorização. Com o tempo, as ações foram se organizando e tomando uma forma 
mais organizada, porém sem perder a característica de caridade e ajustamento moral, como 
você poderá observar a seguir:
É a partir da segunda metade do século dezenove que algumas pessoas, 
como Chalmers na Inglaterra, Ozanam na França e Von der Heydt na Ale-
manha, praticam caridade de caráter assistencial que se constitui como um 
esboço de técnica e de forma organizada.
Mas o que faziam estas pessoas era diferente da prática caritativa anterior?
Elas dividiam as paróquias em grupos de vizinhança, designaram um respon-
sável em cada setor para distribuir ajuda material e fazer trabalho educativo 
(principalmente dando conselhos) (ESTEVÃO, 2006, p. 11).
A partir dos trabalhos mencionado temos algumas ações e marcos que permitem 
compreender como as práticas de assistência vão se organizando. Um exemplo de ação 
que permite essa compreensão foram as Conferências São Vicente de Paulo (1833). Elas
[...] organizam seu trabalho em torno de visitas e ajudas a domicílio, creches, 
escolas de reeducação de delinquentes, cuidados e socorros a refugiados e 
imigrantes. O que era feito apenas nas paróquias passa a ser feito por toda a 
cidade. A princípio organizada em pequenos bairros, a assistência começou 
a se expandir e procurou conquistar um espaço na cidade inteira.
Até aí a Assistência Social é exercida, em caráter não profissional, como 
contribuição voluntária daqueles que possuíam bens para aqueles que 
eram pobres (ESTEVÃO, 2006, p. 12, grifo nosso).
Caro(a) aluno(a), você está conseguindo perceber como eram realizadas as práti-
cas de assistência? Consegue perceber a dimensão caritativa das ações sociais?
Comentei, no início desta unidade de estudo, que a assistência era praticada por 
“damas de caridades”, lembra? Sendo assim, como se dava essa prática na segunda me-
tade do século XIX? Vamos entender um pouco melhor? Veja a seguir:
12UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Procurava-se em primeiro lugar conhecer as verdadeiras necessidades de 
cada um. Usar economicamente as esmolas disponíveis, visitar as casas dos 
pobres e necessitados, estudar conscienciosamente os pedidos de ajuda e 
conseguir trabalho para os “desocupados”, para prevenir os problemas deri-
vados da pobreza (ESTEVÃO, 2006, p. 12).
Além do apresentado quanto a ação das damas de caridade, temos ainda um outro 
marco acerca da organização da Assistência Social, que se deu em 1869: a Sociedade de 
Organização da Caridade, fundada em Londres. A Sociedade tinha suas ações fundamen-
tadas em alguns princípios, os quais você poderá conferir a seguir:
1. Cada caso será objeto de uma pesquisa escrita;
2. Este relatório será entregue a uma comissão que decidirá o que se deve 
fazer;
3. Não se dará ajuda temporária, mas metódica e prolongada até que o 
indivíduo ou a família voltem às suascondições normais;
4. O assistido será agente de sua própria readaptação, como também seus 
parentes, amigos e vizinhos;
5. Será solicitada ajuda às instituições adequadas em favor do assistido;
6. Os agentes dessas obras receberão instruções gerais e escritas e se 
formarão por meio de leituras e estadias práticas;
7. As instituições de caridade enviarão a lista de seus assistidos para 
formar	um	fichário	central,	com	o	objetivo	de	evitar	abusos	e	repetições	
de pesquisas;
8. Formar um repertório de obras de beneficência que permite organizá-las 
conveniente (ESTEVÃO, 2006, p. 14, grifo nosso).
Observe os itens grifados na citação da autora, perceba que as ações colocam os 
vulneráveis e pobres numa condição de incapazes, passivos, em que a caridade sobrepõe 
a noção de direito. Aliás, a ideia de direito passava longe da assistência social da forma 
como vemos hoje.
Ressalto que, como a Sociedade de Organização da Caridade, fundada em Londres, 
outras sociedades foram formadas em muitos outros países capitalistas, principalmente 
nos Estados Unidos.
A novidade principal destas instituições era colocar, como princípio, a ne-
cessidade de criar instituições que se encarregasse, de formar pessoas 
especificamente	para	realizar	as	tarefas	de	assistência	social	e	colocar	em	
pauta a institucionalização do Serviço Social. O que se fazia por prazer ou 
por	obrigação	religiosa	passa	a	se	esboçar	como	uma	profissão	secularizada	
(ESTEVÃO, 2006, p. 14).
Chamo a sua atenção para algumas questões, ao apresentar a você a questão 
da	 gênese	 da	 profissão	 e	 a	 racionalização	 da	assistência, não devemos desconsiderar 
a história, pois o Serviço Social também se desenvolve no sentido em que a sociedade 
também evolui. Logo, não podemos e não devemos negar nossa origem, pois os movimen-
tos de institucionalização da assistência, somados a outros fatores, contribuíram para a 
construção	da	profissão	da	forma	como	vemos	nos	dias	atuais.
13UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
No próximo item você compreenderá um pouco mais sobre como a assistência 
social vai se racionalizando. Para isso é necessário compreender a questão social e como 
ela se origina, pois compreender a questão social permitirá a dimensão reivindicatória e 
politizada que o Serviço Social vai assumindo. Entendendo que a assistência social não é 
caridade ou favor, ela vai ganhando conotação de direito a partir da exploração e desigual-
dade social, provocadas principalmente pela Revolução Industrial, um marco na história da 
humanidade.
Existem duas teses, claramente opostas, sobre a gênese do Serviço Social. Elas se 
enfrentam como interpretações extremas sobre o tema, sendo que, tal como foram formu-
ladas, se constituem em teses alternativas e mutuamente excludentes.
14UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
2 ORIGEM DA QUESTÃO SOCIAL 
O	Serviço	Social,	em	sua	gênese,	é	marcado	pela	forte	influência	da	Igreja,	bem	
como encontram-se, em seu cerne, as contradições marcadas entre capital X trabalho, 
que chamamos de questão social, seguido de seus desdobramentos, que nomeamos de 
expressões/manifestações da questão social, como, por exemplo: fome, desemprego, vio-
lência, falta de acesso à saúde, educação etc.
Com	o	tempo,	o	Serviço	Social	foi	se	consolidando	enquanto	uma	profissão	inserida	
na divisão social e técnica do trabalho, devidamente regulamentada e reconhecida por sua 
luta pelos direitos da população.
Contudo, meu caro e minha cara aluna, precisamos compreender a nossa história 
enquanto	profissão,	e	ver	que	ela	foi	se	transformando	e	adquirindo	conquistas,	quando	não	
mais utilizada enquanto instrumento da burguesia para manutenção da ordem e interesses 
dessa classe dominante.
Estaremos mais que envolvidos com a questão histórica. Aliás, a história é mais 
que necessária para que possamos compreender como e porque temos e vivenciamos 
o mundo como ele é hoje.
A história não é sucessão de fatos no tempo, não é progresso das ideias, 
mas o modo como homens determinados em condições determinadas cria os 
meios e as formas de sua existência social, reproduzem ou transformam essa 
existência social que é econômica, política e cultural (CHAUI, 2008, p. 8).
Não podemos apenas passar uma “borracha” em tudo o que já foi construído ou 
simplesmente	achar	que	os	acontecimentos	passados	não	influenciam	em	nossas	vidas.	
Não podemos desconsiderar as tentativas de melhorar as condições de vida realizadas por 
nossos antepassados, os erros e acertos e a busca constante por um mundo melhor e que 
atendesse às suas necessidades.
Vamos, então, ampliar nosso conhecimento? Aproveite a leitura!
Quando falamos em questão social não estamos abordando nenhum tema recente 
ou algo novo. O surgimento da questão social está inserido em um contexto histórico, ligado 
a	uma	gama	de	relações	–	mais	especificamente	trabalhistas.	Relações contraditórias, 
desiguais e que geraram mudanças na realidade social da época em que estava inse-
rida. 
Assim, você pode compreender que a questão social deve ser apreendida a partir 
de como as relações se configuram e se apresentam na sociedade e como acontece o 
15UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
enfrentamento da questão social (quais mediações são buscadas), tanto no âmbito social 
quanto no âmbito político. 
Tenha claro que, neste momento, falaremos sobre uma realidade que não é a bra-
sileira e sim inglesa. Contudo essa realidade nos serve de ponto de partida, pois muito dos 
seus	feitos	e	efeitos	refletiram	e	repercutiram	em	todo	mundo	e	são	percebidos	até	os	dias	
atuais.
É importante termos sempre em mente que a leitura não só amplia nosso 
conhecimento, como também contribui para nossa visão de homem e de mundo. Sem 
contar	que	quem	lê,	escreve	e	reflete	muito	melhor,	aperfeiçoa	o	vocabulário	e	melhora	os	
níveis de discussão.
Agora vamos observar o contexto histórico do surgimento da questão social no 
mundo. É preciso ter clareza que não se trata de um fenômeno exclusivamente brasileiro, 
visto que se apresenta em todo o mundo, e em cada lugar assume características diferen-
ciadas conforme a realidade de cada lugar, de cada cultura.
Começaremos	pela	Idade	Média.	No	final	desse	período	o	trabalho	consistia	em	
uma estrutura familiar, este era o modo de produção que prevalecia na sociedade. O espa-
ço temporal de trabalho era o dia, ou seja, o trabalhador iniciava suas atividades laborativas 
com o nascer do sol e parava seus trabalhos somente ao anoitecer. Considerava-se muito 
as forças místicas da natureza, era muito comum os trabalhadores se orientarem e regula-
rem suas vidas a partir da natureza. O espaço físico do trabalho era o lar, a residência e 
os arredores da casa familiar (os agricultores, os sapateiros e os alfaiates). 
É importante ressaltar como o trabalho feminino e o trabalho infantil estão 
presentes nessa sociedade. As necessidades de sobrevivência e as 
obrigações servis contribuem para isso. As crianças, desde que já possam 
exercer alguma atividade laborativa, ingressam no mundo do trabalho para 
auxiliar	na	economia	familiar.	Nessa	lógica,	quanto	mais	filhos,	maior	poderia	
ser o aproveitamento produtivo. Pelo menos era assim que se apresenta 
aquela sociedade e, de maneira não muito distante, podemos observar a 
mesma lógica sendo empregada nas comunidades rurais mais atrasadas 
atualmente (SAUCEDO; NICOLAZZI JUNIOR. In: GEDIEL, 2001, p. 84).
Com o passar do tempo, o comércio e o constante crescimento urbano vão ganhan-
do	destaque	no	final	da	Idade	Média,	no	qual	gradativamente	as	cidades	vão	se	tornando	
espaço de trabalho, pois é nesse espaço que ocorrem as trocas (produtos agrícolas, arte-
sanato etc.) e todo tipo de negócio. Essas transações ocorriam tanto durante o dia como à 
noite,	em	casa	ou	nas	fábricas,	rompendo,	nesse	final	da	Idade	Média,	toda	estrutura	feudal	
vigente,pois surge aí o sistema capitalista.
16UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
A evidência mais marcante do advento do sistema capitalista é a transformação 
das relações sociais. Antes se tinha a relação senhor X servo, com o novo sistema temos 
burguês X proletário. Outra característica é o início da produção em larga escala, lembran-
do que antes as produções eram baseadas na estrutura familiar, sem muitos recursos. 
Priorizava-se o uso e, agora, a troca, aparecendo o que Marx chamava de mais valia. 
SAIBA MAIS
Várias relações foram estabelecidas ao longo dos tempos. Perceba que sempre se apre-
sentou uma constante oposição que podemos resumir entre “opressores e oprimidos”.
Homem livre X Escravo; Patrício X Plebeu; Barão/Senhor X Servo; Burguesia (patrão) 
X Proletariado (empregado).
Fonte: Marx e Engels, 2005.
Outro aspecto que permanece com o sistema capitalista é que, assim como na 
estrutura feudal, todos os membros da família eram trabalhadores, sujeitos aos mesmos 
trabalhos, sem distinção. O que diferenciava era que a grande busca por mulheres e crian-
ças se dava por conta do baixo custo da mão de obra (mulheres recebiam salários bem 
menores que os homens), representando uma maneira de baratear os custos de produção, 
outro motivo era que estes dois grupos (mulheres e crianças) eram “facilmente” disciplina-
dos e fáceis de dominar.
A questão social, originalmente expressa no empobrecimento do trabalha-
dor, tem suas bases reais na economia capitalista. Politicamente, passa a 
ser reconhecida como problema na medida em que os trabalhadores em-
pobrecidos, de forma organizada, oferecem resistência às más condições 
de existência decorrentes de sua condição de trabalhadores para o capital 
(SANTOS; COSTA, 2006, p. 12).
A Revolução Industrial começou na Inglaterra (XVIII), alterando as relações e con-
dições de trabalho, “inchando” as cidades com a vinda das famílias do campo em busca de 
condições melhores de vida.
Aumentar lucros e diminuir despesas é o princípio do sistema capitalista, 
portanto, os proprietários buscam novas tecnologias para suas fábricas; exploram seus 
operários com carga horária de trabalho exorbitante, salários irrisórios e locais insalubres, 
17UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
tudo	isso	para	justificar	o	aumento	da	produção	de	mercadorias	e	o	aumento	do	lucro	para	
os proprietários.
A partir desse cenário, originário da Revolução Industrial, vemos o aumento descon-
trolado da população nas cidades. Os camponeses, deslumbrados com a ideia de uma vida 
mais fácil e melhores salários na cidade, sem pensar muito, abandonavam suas vidas no 
campo, contudo, ao chegarem à cidade encontravam um cenário caótico e desesperador. 
Temos o avanço na produção e industrialização, ao mesmo tempo, temos tam-
bém o crescimento dos problemas socioeconômicos, pois não havia emprego para toda a 
demanda que chegava na cidade. Dessa forma, começou a aparecer, em larga escala, o 
problema do desemprego, fome, moradia (cortiços), prostituição, alcoolismo, sem contar a 
ausência de leis trabalhistas, o que muito facilitavam a exploração daqueles que ainda 
possuíam emprego. 
Nesse contexto histórico, temos ainda a chamada Segunda Fase da Revolução 
Industrial (1871-1914), que é compreendida pela introdução de outras inovações tecnoló-
gicas; fonte de energia: não só o vapor, mas também a eletricidade e o petróleo; criação 
de novas máquinas e ferramentas, com outra estrutura de trabalho que agora é colocada 
em	prática:	avançada	fragmentação	de	tarefas;	ações	eram	repetidas	infinitamente	até	al-
cançar maior produtividade; para obter a colaboração dos funcionários foram estabelecidos 
remuneração e prêmios extras. 
Assim, o trabalhador tornou-se uma extensão da máquina e, ainda hoje, vemos 
nitidamente	os	reflexos	desse	modelo	de	trabalho.	Um	exemplo	clássico	desse	formato	é	o	
apresentado	no	filme	Tempos Modernos, de Charlie Chaplin.
Entre	os	anos	de	1855	e	1866	houve	um	aumento	bem	significativo	de	“indigentes”	
na Inglaterra. Estes não tinham alternativa que não fosse recorrer à caridade pública e 
acabavam se submetendo aos serviços das workhouses: 
As Workhouses eram grandes casas fundadas para fornecer moradia, tra-
balho e educação ao homem destituído, mas apto a desenvolver um ofício 
e ingressar na sociedade de trabalho requisitada pela indústria. Esta nova 
organização exigia uma nova concepção de trabalho, pois a forma como 
o homem se organizava na manutenção de sua vida já não respondia aos 
interesses produtivos. Tal conceito de trabalho era diferente do até então 
vigente, tendo por objetivo adaptar o trabalhador às novas necessidades pro-
dutivas. Algumas das Workhouses foram organizadas pela união de várias 
igrejas para dividir melhor os custos, isto porque muitas cidades pequenas 
não tinham condições de manter uma instituição desse porte. Outras eram 
construídas em terras compradas pela comissão real 10 ou em prédios que 
correspondessem às exigências da lei para abrigar os que necessitavam, 
conforme previa o parágrafo 23 da Segunda Lei dos Pobres, de 1834 
(DORIGON, 2006, p. 125).
18UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Cabe ressaltar que no meio rural (campo) a realidade não era muito diferente que 
a realidade da cidade. No campo se agravou a questão da fome, as mulheres e crianças 
foram as mais atingidas, já que a prioridade na alimentação era o homem, pois este deveria 
estar bem alimentado para que pudesse trabalhar, e o restante da família vinha em “segun-
do lugar”.
Quando analisamos esse contexto de crescimento do empobrecimento das famí-
lias, tanto do campo quanto da cidade, percebemos a origem do que hoje chamamos de 
questão social.
Não	esqueça	que	o	sistema	capitalista,	com	seus	crescentes	conflitos	de	classes,	
gerou o agravamento das desigualdades sociais. O que trouxe à tona a discussão acerca 
da questão social, isso se deu a partir dos problemas dos trabalhadores, a crescente misé-
ria, a insatisfação com as condições sociais, as lutas por melhorias urbanas. Esses pontos, 
quando problematizados, ganham um caráter político na sociedade da época.
[...] a questão social, originalmente expressa no empobrecimento do trabalha-
dor, tem suas bases reais na economia capitalista. Politicamente passa a ser 
reconhecida como problema na medida em que os indivíduos empobrecidos, 
de forma organizada, oferecem resistência as más condições de existência 
decorrentes de sua condição de trabalhadores para o capital. No percurso do 
desenvolvimento do capitalismo atravessado por lutas sociais entre capital 
e trabalho constituem-se respostas sociais mediadas ora por determinadas 
organizações sociais, ora pelo Estado, em um processo impulsionado pelo 
movimento de reprodução do capital (SANTOS; COSTA, 2006, p. 3).
Tudo isto gera uma grande insatisfação e descontentamento, originando, assim, a 
organização dos operários, processo este que não ocorreu do dia para a noite.
Sendo assim, quem interveio nesse contexto foi a Igreja Católica, com vistas a “re-
cuperar” e melhorar os efeitos trágicos que caíam sobre a classe trabalhadora. Ela atuaria 
no espaço entre
A recusa do Estado em assumi-la e a incapacidade das chamadas ‘classes 
inferiores’ de decidir sobre seu destino. Nesse sentido, ela lançará mão de 
um conjunto de procedimentos e estratégias de forte conteúdo moralizador, 
atuando basicamente em três níveis: [...] assistência aos indigentes por meio 
de	técnicas	que	antecipam	o	trabalho	social	no	sentido	profissional	do	termo;	
o desenvolvimento de instituições de poupança e de previdência voluntária 
que apresentam as premissas de uma sociedade segurancial; a instituição da 
proteção patronal, garantia da organização racional do trabalho e, ao mesmo 
tempo, da paz social (CASTEL, 1998 p. 319).
Na	Inglaterra,	por	volta	do	final	do	reinado	de	Elizabeth,	os	seusparlamentares	da	
época perceberam a necessidade de melhorar a política que estava relacionada ao auxílio 
aos mais pobres do país.
19UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
No ano de 1597 foi implantada uma nova lei que ordenava que as paróquias no-
meassem o que chamaram de “inspetores” dos pobres. Estes tinham como função encon-
trar trabalho para aqueles que estivessem sem ocupação. Os inspetores dos pobres tinham 
ainda como tarefa a construção de “paróquias-abrigo”, que deveriam contar com hospitais 
e asilos.
As “paróquias-abrigo” eram utilizadas para acolher aqueles que não possuíam 
condições	de	garantir	a	sua	própria	subsistência.	Esse	projeto	era	financiado	com fundos 
públicos, dando origem ao que chamamos, na história da Inglaterra, de “bem-estar social” 
inglês.
No ano de 1601, todas as medidas, gradativamente sancionadas nesse sentido, 
foram organizadas em um estatuto que se chamou de Primeira Lei dos Pobres (Poor Law), 
mantida, basicamente, inalterada até 1834.
A Lei dos Pobres de 1601 foi estimulada pelas circunstâncias econômicas e 
pelo aumento populacional da Inglaterra em relação a épocas anteriores, que 
levou à expansão da pobreza. O homem pobre, destituído de seus direitos, 
não tinha trabalho, alimentação e moradia, nem condições para alimentar 
seus	filhos,	 constituindo-se	desta	 forma	em	um	problema	de	ordem	social	
(DORIGON, 2006, p. 119).
Conforme	 explanação	 de	Dorigon	 (2006),	 a	 Lei	 dos	Pobres	 era	 financiada	 pelo	
imposto fundiário, estabelecendo, para quem não tinha meios de subsistência, o direito à 
assistência social. Acontecia a partir dos seguintes princípios: a) Obrigação de socorro aos 
necessitados; b) Assistência pelo trabalho; c) Taxa cobrada para o socorro dos pobres (poor 
tax); d) Responsabilidade das paróquias pela assistência de socorros e de trabalho.
A Lei dos Pobres foi pensada a partir do aumento da população carente no país, 
oriunda da expansão do sistema capitalista, o que afetou a estabilidade da ordem econô-
mica. Claro que a lei não foi pensada somente por pura preocupação da classe dominante 
com os mais necessitados e afetados pelo sistema, por trás dessa ideia encontrava-se a 
intenção da classe burguesa controlar esse segmento da população.
REFLITA
A história revela que mesmo o homem sendo um ser de relações e em constante evolu-
ção, ele foi capaz de gerar entre a sua própria espécie segregação e divisão, instaurando 
a “verdade” de que uns “abençoados” são melhores e “superiores” que outros coitados. 
Fonte: a autora.
20UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
O progresso econômico e social da humanidade foi capaz de produzir também a 
alienação, a exploração de uns poucos sobre muitos, bem como a divisão desigual de bens 
e lucros, gerando, assim, as desigualdades de problemáticas sociais. Essas questões foram 
sendo cada vez mais agravadas com o passar do tempo, crescia na mesma proporção que 
a industrialização e o aumento do lucro. 
O avanço veio às custas daqueles que eram obrigados a vender a sua força de tra-
balho, já que esta era a única coisa que tinha a oferecer em troca do mínimo para garantir 
a sua subsistência. Feliz aquele que ainda possuía este recurso, e não dependia apenas 
da caridade alheia. 
O operário se torna mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais 
aumenta a produção em poderio e em extensão. O operário converte-se em 
mercadoria cada vez mais barata à medida que cria mais mercadorias. O 
valor crescente do mundo das coisas determina a proporção direta da desva-
lorização do mundo dos homens. O trabalho produz não só mercadorias; se 
produz a si mesmo e ao operário como mercadorias; e o faz na proporção em 
produzir as mercadorias em geral (MARX, 2004, p. 68).
Marx, em sua obra O Capital (1985), já apontava a exploração do patrão sobre o 
empregado, apontava a retirada da mais valia, com vistas à acumulação do capital; no qual, 
gradativamente, poucos vão acumulando muito enquanto muitos, cada dia mais, experien-
ciam a dor da exploração, miséria e desigualdade.
A relação de exploração do trabalho vivo pelo capital é uma relação social de 
produção historicamente determinada, na qual os trabalhadores são despos-
suídos dos meios de produção e obrigados a vender sua força de trabalho. 
É no mercado que são encontrados os capitalistas dispostos a comprar tal 
mercadoria para valorizá-la no processo de produção e realizá-las continua-
mente como capital.
Quando o capitalista gasta a soma inicial de dinheiro com o objetivo de au-
tovalorizar o dinheiro acumulado primitivamente, ele acaba por transformar 
os meios de produção e a capacidade de trabalho em capital. As merca-
dorias compradas pelo capitalista não são capital por natureza ou por suas 
características físicas próprias; elas se tornam capital em relações históricas 
e sociais determinadas (CASTELO BRANCO, 2006, p. 144).
Logo, podemos dizer que as relações que se estabelecem assim, dessa forma 
desigual	e	tão	conflituosa	entre	o	capital	e	o	trabalho,	acabam	por	configurar a questão 
social em que o sistema econômico se encontra.
A partir do exposto anteriormente, vamos entender uma das fontes das desigualda-
des presentes há tempos na sociedade, em que o valor de troca vai dando lugar ao valor de 
uso.	Entendamos	um	pouco	mais	o	que	significa	o	termo mais valia, de acordo com Karl 
Marx (2003, p. 227, grifos do autor):
A teoria marxiana da mais-valia consiste não só em perceber o trabalho como 
fonte geradora do valor, mas, principalmente, em perceber que existe uma 
dupla natureza do trabalho – concreto e abstrato – e uma diferença de mag-
21UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
nitude	do	valor	de	troca	e	do	valor	de	uso	da	força	de	trabalho,	o	que	significa	
dizer que o trabalhador não recebe o valor integral da jornada de trabalho, 
mas tão somente uma fração da mesma. “O possuidor do dinheiro pagou o 
valor diário da força de trabalho; pertence-lhe, portanto, o uso dela durante o 
dia, o trabalho de uma jornada inteira. A manutenção quotidiana da força de 
trabalho custa apenas meia jornada, e o valor que sua utilização cria em um 
dia é o dobro do próprio valor-de-troca”.
Além da exploração do homem pelo homem, por conta do sistema, gerando os 
problemas sociais, vemos também nessa relação a alienação do homem.
É importante ter em mente que não se pode intervir junto aos problemas que não se 
conhece. Para tanto, é preciso conhecer a história, dialogar com os pensadores e teóricos 
e, assim, formular os conceitos e ideias acerca da questão social. Esse momento sinaliza o 
início do processo de desalienação. 
Já parou para pensar nisto? Então vamos continuar nossa empreitada. Retomar 
nosso estudo.
Os trabalhadores, percebendo todo esse movimento exploratório ligado à acumu-
lação desigual de capital, resolvem se organizar em movimentos reivindicatórios e movi-
mentos de luta, buscando melhores condições de vida e trabalho, sem contar na solução 
dos problemas sociais que se alastrava nas diversas realidades, tanto do campo quanto da 
cidade.
22UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
3 A FUNDAÇÃO DAS PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL
3.1 Serviço Social na Europa
Vou apresentar para você, neste tópico, um pouco sobre a criação das primeiras 
escolas	de	Serviço	Social	no	Mundo,	assim	você	poderá	conhecer	mais	sobre	a	profissão	
que escolheu, pois conhecendo sobre o passado conseguimos também entender e dar 
significado	para	o	presente.
Ao estudar sobre o surgimento do Serviço Social na Europa e Estados Unidos, 
irá compreender que essas Escolas trazem consigo uma história de lutas, reivindicações, 
questionamentos, mas também muitas conquistas.
Assim	exposto,	entenda	um	pouco	mais	de	como	surgiu	a	nossa	profissão,	por	que	
surgiu e para que surgiu.
Em primeiro lugar é quando ela se torna essencialmentenecessária e as 
práticas	profissionais	se	gestam	no	labor	cotidiano.	Antes	de	serem	instituí-
das,	as	profissões	se	legitimam	pela	sua	eficácia	social	e/ou	política.	É	claro	
que as questões humanísticas contam como declaração de boas intenções, 
principalmente	para	aqueles	que	serão	os	pioneiros	da	profissão.	O	Serviço	
Social também começou assim (ESTEVÃO, 2006, p. 14-15).
Assim entendido, no ano de 1899 é fundada, em Amsterdã, a primeira escola de 
Serviço	Social	no	mundo,	em	que	a	profissão	vai	assumindo	um	caráter	científico,	tendo	
um primeiro suporte teórico.
Em 1899, na cidade de Amsterdã, funda-se a primeira escola de Serviço 
Social	do	mundo	e	inicia-se	também	o	processo	de	secularização	da	profis-
são, isto é, para o Serviço Social, as explicações religiosas do mundo são 
substituídas	por	explicações	científicas.	O	nascimento	da	Sociologia	vai	dar	o	
suporte teórico para o Serviço Social (ESTEVÃO, 2006, p. 14-15).
23UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
O	Serviço	Social	na	Europa	possui	forte	influência	da	Igreja	Católica	e	Protestante,	
mas também foi fortemente impulsionado pelos movimentos dos trabalhadores, dado ao 
contexto social e econômico pelo qual passava, sobretudo os ingleses que sofriam ampla-
mente os impactos trazidos pela Revolução Industrial. 
Uma época de profundas crises econômicas, com a pobreza e a miséria se 
alastrando, consequências do rápido crescimento urbano e industrial. A so-
ciologia tentou dar conta de tudo isto e oferecer uma explicação não religiosa 
ao que acontecia na sociedade e, ao mesmo tempo, havia na sociedade 
americana	várias	experiências	de	filantropia	e	caridade,	tendendo	a	procurar	
um	espaço	dentro	 das	novas	profissões	emergentes	 (ESTEVÃO,	2006,	 p.	
16-17).
Desta	maneira,	além	da	influência	religiosa,	é	possível	constatar	que	a	profissão	
surge na Inglaterra em meio ao cenário de industrialização e modernização do continente 
europeu, devido às	vastas	reservas	de	carvão	mineral,	capaz	de	produzir	energia	suficiente	
para colocar em movimento as locomotivas e máquinas à vapor.
A relação do Serviço Social e os impactos da Revolução Industrial consistem em 
compreender que esta última provocou uma mudança no cenário social inglês. Em posse 
de muita matéria prima, a Inglaterra também era possuidora de ampla mão de obra, e 
muitos saíam do campo em busca de emprego nas cidades.
A burguesia, detentora do capital e matéria prima, também contratava os funcioná-
rios, com a modernização dos equipamentos e modo de produção a mão de obra humana 
acaba, cada vez mais, sendo substituída por máquinas e processos mecânicos. 
A Revolução Industrial, então, propaga-se pela Europa Ocidental e logo chega aos 
Estados Unidos, dando visibilidade a um novo “modelo de produção”, através de grandes 
fábricas e indústrias, acarretando um capitalismo industrial. Mesmo com toda a moderni-
zação dos processos, na época ainda era necessário mão de obra para a realização das 
operações.
Considerando as pessoas que já viviam nas cidades, somado às famílias que mi-
graram do campo em busca de uma vida melhor, começa-se a ter um grande contingente de 
pessoas vivendo ao redor das indústrias, sendo designadas “proletariados” (classe social 
operária), ou seja, aquele que vende sua força de trabalho ao empresário capitalista (classe 
dominante), sendo o proletário explorado. Até mesmo o Estado da época era subordinado à 
burguesia; competia ao Estado da época a proteção do capital e aqueles que a possuíam.
Dada a sede pelo lucro, as condições e ambientes de trabalho não eram nada 
salubres, as condições precárias de trabalho eram seguidas de baixa remuneração, longas 
jornadas de trabalho. Devemos considerar ainda o alto índice de trabalho infantil e o traba-
24UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
lho feminino, sendo que mulheres e crianças possuíam um salário ainda menor. Um cenário 
de exploração grandioso, podendo citar que os trabalhadores ainda estavam sujeitos a 
castigos físicos praticados por seus patrões.
Não existia nenhum direito que protegesse o trabalhador, nenhuma lei trabalhista 
que lhe garantisse férias, 13º salário, auxílio-doença etc. Diante deste cenário os traba-
lhadores começam a se organizar, buscando, através de manifestações, reivindicar seus 
direitos e melhores condições de trabalho.
Como forma de defender seus interesses, a burguesia encontra novas maneiras de 
continuar produzindo e obtendo lucro às custas da exploração do proletariado, e a opressão 
só aumenta.
Tal aumento da opressão e exploração provoca também um aumento da miséria 
do povo, repercutindo em toda as áreas sociais, pois sem emprego ou subemprego as 
pessoas não tinham como prover as condições básicas de sobrevivência: cuidado com 
saúde, moradia, alimentação, habitação, educação, entre outros.
Dado o cenário exposto, a burguesia novamente busca alternativas para contro-
lar as manifestações, inquietações e crescente pobreza do povo. É nesse contexto que 
aparecem as primeiras práticas assistencialistas, porém estas ainda visavam conservar 
as ordens capitalistas, pois o pobre deveria aceitar a ajuda (benesse), sem questionar. 
Nesse movimento, ainda se tem um crescente número de pobres, os membros da classe 
dominante, a Igreja Católica e as autoridades locais, se organizaram com o objetivo de 
transformar a assistência pública.
Surge, então, a convocação para os chamados reformistas sociais. Estes tinham 
como tarefa realizar um inquérito da vida pessoal e também familiar do pobre atendido. 
O poder público passa a controlar a vida deste necessitado, estabelecendo, assim, uma 
relação de dependência do necessitado para o com Estado.
Mesmo	tal	medida	não	foi	suficiente	para	conter	as	manifestações	e	reivindicações	
da população. Neste momento, então, burguesia, Igreja e Estado se unem e dão origem, em 
1869, à Sociedade de Organização da Caridade, já abordadas anteriormente, lembra?
Certo, agora que você relembrou as atribuições dessa Sociedade, lembrou também 
que competia a ela a reforma e regulamentação da prática da assistência.
É neste cenário que surgem os (as) primeiros(as) assistentes sociais, que 
executavam	as	práticas	relacionadas	à	assistência	social.	A	profissionalização	acontecia	
por meio da prestação de serviços, designado como Serviço Social, denominação essa que 
fora utilizada pelos Estados Unidos, em 1904.
25UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
 O Serviço Social fora caracterizado, em sua origem, por várias determinações e 
valores, através de práticas repressoras e controladoras. Assim, podemos entender que 
o Serviço Social resulta da emergência da questão social do conjunto de expressões da 
desigualdade social, econômica e/ou cultural. 
Em seguida foi criado em Londres, em 1884, o Centro de Ação Social, com ativida-
des relacionadas à higiene e saúde para com os pobres e proletários. 
 A Sociedade de Organização da Caridade buscava novas estratégias de atuação, 
organizava e efetivava a realização de visitas domiciliares que possuíam o objetivo de 
educar e ensinar ao pobre regras de higiene e organização da vida, visto que a pobreza era 
concebida	como	uma	questão	de	caráter.	A	finalidade	implícita	das	visitas	domiciliares	era	
adequar o pobre à sociedade, incutindo o pensamento capitalista, bem como não oferecer 
resistência à burguesia.
Essa prática social continuou a ser realizada por algum tempo, apresentando o 
mesmo rigor para controlar e corrigir os desfavorecidos, que passaram a não considerar 
tanto a assistência pública e começam a se ajudar mutuamente. Dão ainda continuidade às 
reclamações quanto ao modo como eram tratados, uma vez que não eram atendidos em 
suas reivindicações pelo setor público e muito menos pela burguesia. Por longo período se 
fizeram	presentes	a	exploração,	a	miséria,	o	poder	capitalista	e	as	práticas	assistenciais,objetivando tão somente o controle social. 
Após a Conferência Nacional de Caridade e Correção, em que Mary Richmond 
apresentou sua ideia de assistência social (que já citei anteriormente), foi criada na Ingla-
terra, no ano de 1908, a primeira escola de Serviço Social. Sendo seguida de várias outras 
escolas,	sempre	com	o	apoio	e	influência	da	Igreja	Católica.
Quadro 1 - Surgimento das Escola de Serviço Social na Europa – XIX / XX
PAÍS EUROPEU ANO PAÍS EUROPEU ANO
Inglaterra 1886 Israel 1934
Alemanha 1899 Irlanda 1934
França 1907 Portugal 1935
Suíça 1910 Dinamarca 1937
Áustria 1912 Grécia 1945
Finlândia 1918 Itália 1945
Noruega 1920 Turquia 1961
Bélgica 1920 Iugoslávia 1953
Espanha 1932 Islândia 1981
Fonte: adaptado de Brauns e Kramer (1986).
26UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Ao passar do tempo as ações sociais acabam se ligando cada vez mais à política, 
mas	ainda	objetivando	controlar	as	manifestações	e	conflitos	dos	trabalhadores.	Essa	apro-
ximação também oculta o semblante da miséria, atendendo àqueles que nela residiam. Nos 
anos	seguintes	do	fim	da	guerra,	a	relação	com	a	Igreja	Católica	fora	trocada	para	o	Estado,	
remetendo a prática social para outro contorno. 
3.2 Serviço Social nos Estados Unidos
Considere o período pós Primeira Guerra Mundial, somado ao surgimento do 
capitalismo monopolista, que evidencia seu lado excludente, provocando um aumento 
exponencial da pobreza. 
Retomando seu conhecimento em história, lembre-se que os Estados Unidos 
saíram vencedores desta Primeira Guerra Mundial, tornando-se o centro do capitalismo. 
Neste	cenário	de	pós-guerra	desponta	também	o	Serviço	Social.	A	profissão	nasce	com	um	
propósito bastante claro, nesta época tinha-se que a pessoa era passível de ser controlada, 
adequada, reformada, para que se encaixasse na sociedade.
Mary Richmond foi uma grande impulsionadora do Serviço Social Norte Americano 
e, posteriormente, em muitos outros países, como, por exemplo, europeus, que você viu 
anteriormente.
Nesse contexto norte americano que temos despontando no cenário mundial uma 
assistente social chamada Mary Richmond, que logo no início do século XX “teve a sen-
sibilidade de começar a pensar e a escrever a respeito do que é o Serviço Social e de 
como ele deveria ser exercido” (ESTEVÃO, 2006, p. 18). Foi Mary Richmond a primeira 
a	sistematizar	a	diferença	entre	fazer	caridade,	fazer	filantropia	e	o	que	era	fazer	Serviço	
Social,	ressaltando	que	este	último	se	refere	à	profissão	propriamente	dita.	
Mary Richmond traz no início do século XX a discussão de que o Serviço Social 
exige uma prática competente e que “dar ajuda material para as pessoas pobres não era 
Serviço Social, era apenas um osso [fazia parte] do ofício, mas não o próprio ofício” (ES-
TEVÃO, 2006, p. 18). Ela traz, pela primeira vez, a ideia de que era necessário olhar além 
da necessidade imediata da pessoa e, para isso, seria necessário compreender a pessoa 
na sua totalidade, o meio no qual está inserida, observar o contexto, propondo ações que 
fossem além do imediatismo.
O	grande	mérito	de	Mary	Richmond	foi	dar	um	estatuto	de	seriedade	à	profissão,	
mostrar que era possível fazer mais do que caridade, ser rigoroso em termos de procedi-
mento,	descobrir	técnicas	que	possibilitassem	o	exercício	profissional	(ESTEVÃO,	2006). 
27UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Contudo,	ainda	não	é	nesse	momento	que	a	profissão	 rompe	com	a	 religião	e	práticas	
assistencialistas,	mas	esse	foi	o	início	da	consolidação	da	profissão.
No ano de 1897, precisamente na Conferência Nacional de Caridade e Correção, 
Mary Richmond apresentou sua ideia de assistência social, propondo, com isso, a elabora-
ção e/ou criação de uma escola voltada à aprendizagem de Filantropia Aplicada. Enfatizou 
a relação existente entre as pessoas e o mundo, considerando o sujeito enquanto pessoa 
quando interage com o meio social do qual faz parte. Foi com a escola de Filantropia 
Aplicada	que	tiveram	início	a	institucionalização	e	a	profissionalização	do	Serviço	Social	–	o	
interessado trabalhava como agente reintegrador e transformador de caráter.
Em 1917, com a obra Diagnóstico Social, de autoria da própria Mary Richmond, o 
Serviço	Social	apresentou	um	considerável	avanço	enquanto	profissão,	levando	em	conta	
o entendimento do sujeito, enfatizando o fortalecimento do ego para a obtenção do êxito no 
tangível à solução de problemas internos e externos. 
Ao escrever o livro Caso Social Individual,	no	ano	de	1917,	profissionais	do	mundo	
todo começam a debater sobre o que seria o Serviço Social e quais seriam as ações reali-
zadas	pelo	profissional.	Esse	livro	foi	escrito	em	contexto	mundial	específico,	pois
[...] após o susto da revolução socialista soviética , quando o capitalismo 
assume	novas	feições,	e	que,	nesta	época,	já	várias	instituições	de	filantropia	
remuneravam	 seus	 profissionais;	 assim,	 trabalhar	 como	 assistente	 social,	
pouco a pouco, perdia seu caráter de voluntariado para se constituir em mais 
uma	profissão	dentro	da	divisão	social	do	trabalho,	na	sociedade	industrial	
capitalista e desenvolvida. Mary Richmond foi pioneira do Serviço Social 
nestas bandas (ESTEVÃO, 2006, p. 22).
O Serviço Social de Casos correspondia à prática de lidar com cada pessoa 
individualmente,	 assim,	o	profissional	 teria	melhor	 resultado,	pois	 se	olhar	 cada	pessoa	
no	seu	contexto	individual,	isoladamente,	o	profissional	conseguiria	resolver	cada	“caso”,	
aqui entendido como demanda. As demandas são situações ou problemas que o usuário 
apresenta quando recorre ao assistente social.
Após um tempo, o Serviço Social assume um outro método de atuação, chamado 
de Serviço Social de Grupo. Convido você a entender primeiramente o contexto histórico, 
para que possa compreender melhor porque esse método aparece no Serviço Social.
O aprofundamento da crise capitalista tornou evidente que resolver ‘casos’ 
de	maneira	isolada,	um	por	um,	já	não	era	suficiente	para	atender	as	grandes	
demandas. Ao mesmo tempo, a manipulação de massas realizada por fascis-
tas e nazistas, no bojo desta crise, despertou a atenção da psicologia social 
para o desenvolvimento de teorias e experimentação sobre o comportamento 
dos grandes grupos.
Kurt Levin, um psicólogo alemão, judeu, exilado nos Estados Unidos, ela-
borou uma teoria a respeito dos grupos: os grupos têm uma certa dinâmica 
que, sendo trabalhada, poderia oferecer resultados práticos no tratamento 
28UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
psicológico. A coisa funcionou e esta prática de psicologia de grupos passou 
a ser utilizada em várias áreas de atividade: acampamento de jovens, Centros 
Comunitários... etc. (ESTEVÃO, 2006, p. 23).
A partir do cenário apresentado é que, em meados de 1934, o Serviço Social de 
Grupo	também	começa	a	ser	utilizado	nas	práticas	profissionais.	Sendo	possível	ao	As-
sistente Social, dentro das instituições que atua, organizar grupos por tipo de situação 
apresentada.
grupo de jovens que [queriam] fazer recreação, senhoras que [queriam] 
ajudar os “favelados” de uma região, ou então ser solicitada por algum grupo 
local para dar orientação técnica necessária ao bom funcionamento destes 
grupos. O problema a ser tratado pelo Assistente Social tanto podia ser do 
grupo como exterior a ele (ESTEVÃO, 2006, p. 23).
Considerando os métodos e técnicas já adotados – Serviço Social de Casos e 
Grupos –, além da observação do rápido crescimento urbano, o qual não possuía nenhum 
planejamento, levando cada vez mais pessoas a uma situação de vulnerabilidade social, 
o	Serviço	Social	é	levado	a	um	terceiro	método	de	atuação	profissional:	Serviço	Social	de	
Comunidade.
A concepção de trabalhos com grupos se desenvolveu para ação intergrupos, 
isto é: há certo tipo de problemática social que necessita dessa necessidade 
de atuação de vários grupos, que,por terem objetivos comuns, devem se 
interligar. É a partir dessa necessidade que começa a se gestar a noção de 
Serviço Social de Comunidade (ESTEVÃO, 2006, p. 25).
E	você	faz	ideia	de	como	isso	se	deu	em	meio	à	profissão	na	década	de	1930/1940?	
Vamos lá, vou te contar brevemente como esse método foi utilizado:
De início trata-se de um trabalho de organização da comunidade enten-
dido como a arte e o processo de desenvolver os recursos potenciais e 
os talentos de grupos de indivíduos e dos indivíduos que compõem esses 
grupos. Depois o Serviço Social de Comunidade vai ser concebido como 
um processo de adaptação e ajuste de tipo interativo e associativo e mais 
uma técnica para conseguir o equilíbrio entre os recursos e necessidades 
(ESTEVÃO, 2006, p. 23).
Assim apresentado, vamos conhecer como se organizaram as primeiras escolas 
de Serviço Social nos Estados Unidos. No ano de 1919 inaugura-se a chamada Escola de 
Trabalho Social, na cidade de Nova York. Logo em seguida, em 1920, é criada a Associação 
Nacional de Trabalho Social, nesta associação participavam apenas aqueles que já fossem 
assistentes sociais.
Com o passar do tempo, novas escolas foram sendo criadas, com caminhos di-
ferentes.	Ressalto	que,	por	muito	tempo,	no	Brasil	a	profissão	seguiu	métodos	e	técnicas	
norte americana.
29UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
4 A HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA
Toda	profissão	deve	responder	a	uma	necessidade	social,	dentro	de	um	determi-
nado contexto, pois é apenas dentro da dinâmica social que encontraremos os nexos de 
explicação	das	exigências	que	originam	o	surgimento	do	Serviço	Social	 como	profissão	
reconhecida tácita e legalmente.
Com a implantação do capitalismo na América Latina, as relações sociais dentro de 
cada país do continente sofreram alterações.
A partir desse momento você terá a oportunidade de conhecer “Os protagonistas 
das cenas – Igreja Católica, os Estados da nossa América [...], os movimentos das lutas de 
classes,	o	imperialismo	e	suas	agências,	o	Serviço	Social	e	seus	profissionais	–	aparecem	
com suas determinações peculiares” (NETTO, 1984 apud CASTRO, 2006, p. 179) que 
fizeram	e	fazem	parte	da	profissão	de	Serviço	Social.	
Vamos lá? Bons estudos!
4.1 Serviço Social no Chile
Em 1925, inaugura-se o Serviço Social na América Latina, com a criação da Escola 
Dr. Alexandre Del Rio e, quatro anos depois, a criação da Escola Católica Elvira Matte de 
Cruchaga.
Nos anos de 1920, apareceram novos grupos sociais na vida chilena, resultado 
das mudanças na economia do país. O movimento operário, já se manifestara 
desde	o	final	do	século	XIX,	conquistou	um	espaço	proeminente	na	sociedade	
chilena.	E	sob	o	estímulo	dos	movimentos	operários	e	populares,	influenciado	
30UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
por ideias anarco-sindicalistas, tem lugar uma mudança no sistema político 
orientada a democratização do país e à elevação de vida nos setores que 
lutam por um campo de ação para o seu desenvolvimento autônomo e pela 
institucionalização das suas demandas (CASTRO, 2006, p. 68).
A	legalização	de	medidas	sociais	e	a	própria	criação	do	Serviço	Social	profissional	
pode ser considerado como uma resposta à disfuncionalidade que ameaçava a ordem 
social,	dada	a	ação	conflituosa	vivida	pelo	Chile;	alto	 índice	de	desemprego,	baixos	sa-
lários, analfabetismo, de 60% a 70% referente à população rural, problemas de natureza 
médico-social	(predomínio	de	tuberculose,	sífilis	etc.).
A	influência	das	ideias	europeias	na	configuração	do	Serviço	Social	latino	americano	
explica-se, entre outros fatores, pelos nexos da subordinação estrutural e ideológica.
Se ocorreu à Europa como modelo para a legislação trabalhista, para a previdência 
social ou para a assistência social, foi porque existia uma compatibilidade entre os projetos 
sociais de classe, que as classes dominantes sustentavam e o conteúdo e a mensagem 
das fórmulas de ação importadas.
No quadro político interno, os anos de 1920 marcaram-se pela instabilidade. Arturo 
Alessandri, oriundo das camadas médias e enfrentando a oligarquia, encabeçou um movi-
mento reformista. No poder, porém, conciliou com os setores oligárquicos e as demandas 
operárias incorporaram-se à institucionalidade do Estado.
Alessandri abandonou o cargo três meses antes do término do mandato; Emílio 
Figueiroa o substituiu, governando por pouco tempo, cedendo lugar ao Coronel Ibanez, em 
1927. Contudo o regime, acuado por uma onda de protestos pelas graves consequências 
da crise de 1929, foi derrubado por um levante geral em 1931. 
O único dado que pode servir como referencial do impacto da crise: a produção de 
salitre, produto básico da exportação chilena foi, em 1920, de mais de três milhões de tone-
ladas. A presença da organização da classe operária na vida política do Chile, registra-se 
na tentativa socialista de 1932, que foi reprimida pela ação dos militares e marcou a volta 
de Alessandri ao poder, através das eleições.
A burguesia chilena é pioneira ao institucionalizar diversas reivindicações popula-
res e operárias no seio do direito burguês. Essa institucionalização gerou uma legislação 
que obrigava, (não exclusivamente do Estado), a busca de respostas aos angustiantes 
problemas sociais.
A fundação da Escola Del Rio, em 1925, por Alejandro Del Rio, tem sua origem 
mais ligada à ação do Estado. A legislação, aprovada em 1924, exigia a adequação das 
entidades estatais e paraestatais em virtude da aprovação de leis referentes à Previdência 
31UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Social, seguro obrigatório, habitação popular, direito de greve, sindicalização legal, proteção 
do trabalho infantil e feminino.
Alejandro	Del	Rio,	ao	criar	uma	escola,	queria	 formar	profissionais	destinados	à	
complementação do trabalho médico, devido às consequências da miséria e desgastes da 
força de trabalho.
No	que	se	refere	à	Escola	fundada	por	Del	Rio,	ficam	assinaladas	as	ligações	com	
a expansão do aparelho estatal. A sua fundação ocorre num período de intensas lutas de 
classes,	de	combatividade	operária,	de	sérias	dificuldades	fiscais	e	de	crise	no	Estado	para	
a	elaboração	de	um	definido	projeto	das	classes	dominantes.
Se a primeira escola católica de serviço social foi fundada depois da primeira 
escola laica, isto não quer dizer que só a partir da criação do seu centro de 
formação a Igreja decidiu intervir nesse terreno. Sem dúvida, ela [a Igreja] ti-
nha precedência na assistência social, exercendo-a sob arraigada inspiração 
religiosa, com seus agentes operando um apostolado que sustentava 
inúmeras “obras de misericórdia” com os vultuosos recursos de que dispunha 
(CASTRO, 2006, p. 72).
A Igreja Católica busca uma estratégia de continentalização do Serviço Social, 
como parte do seu projeto de recuperação de hegemonia, bem como
Procurava colocar-se à frente do conjunto do movimento intelectual para 
recuperar a função de condutora da moral da sociedade. Comprimida entre 
o pragmatismo burguês e o ‘ateísmo’ socialista, a Igreja Católica redobrava a 
sua ação nos terrenos mais diversos, renovando os seus intelectuais orgâni-
cos e dotando-os dos instrumentos de intervenção requeridos pelo momento 
(CASTRO, 2006, p. 73).
Em 1929, criou-se a primeira a primeira escola Católica de Serviço Social, chamada 
de Escola Elvira Matte de Cruchaga. Desde o primeiro momento cobriu o amplo espaço da 
questão social, e essa escola concebe o Serviço Social como uma vocação.
A Igreja se via impedida – e aqui radica o novo caráter da assistência social 
– a situar-se no interior da questão social emergente com a modernização 
capitalista. Tratava-se de atender não mais às vítimas das pestes ou aos 
semi-libertos de um ordem social ainda não depurada, mas de voltar os olhos 
para os que suportavam as consequências de uma ordem que mercantiliza aforça	de	trabalho,	redefine	família,	promove	concentrações	urbanas,	incorpo-
ra ao salariato a mulher, origina novas doenças, etc. (CASTRO, 2006, p. 73).
A visitadora social, proveniente da classe burguesa, com educação familiar e virtu-
des cristãs, devia combinar a esses requisitos a ciência e a técnica para obter desempenho 
eficaz.
Tanto a Escola Del Rio como a Elvira Matte de Cruchaga tiveram início com a in-
fluência	europeia;	a	influência	norte	americana	tornou-se	evidente	após	a	Segunda	Guerra	
32UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Mundial. Os projetos de ação das escolas se colocavam como instrumentos funcionais à 
defesa, ao resguardo e à forma de regime da classe vigente.
A	Escola	Elvira	Matte	de	Cruchaga,	articulando	a	formação	profissional	de	Serviço	
Social aos interesses da Igreja Católica, elegeu requisitos básicos para que se pudesse ser 
aluna do curso: 
[...] ter 21 anos completos e menos de 35. Apresentar atestado médico de 
boa saúde; apresentar declaração de antecedentes probatórios de honora-
bilidade e recomendação paroquial; ter bom aproveitamento nos estudos 
fundamentais de ciências humanas; apresentação de um texto manuscrito, 
contendo um resumo de sua história pessoal (COSTA, 2006, p. 79).
O	que	pode	ser	confirmado	na	citação	a	seguir.	Leia	com	bastante	atenção	qual	era	
o	perfil	da	assistente	social	(antes	chamada	de	visitadora	social)	que	se	buscava:
[...] a formação das visitadoras sociais católicas, que desenvolvam suas 
atividades à base de uma verdadeira caridade cristã; visitadoras que não só 
cuidem do aspecto material dos seus assistidos, mas que se dediquem com 
amor a tratar também de suas almas [...]. Baseando-se nestes princípios, a 
escola	concebe	o	Serviço	Social	mais	que	uma	simples	profissão	–	concebe-
-a como vocação, para qual são tão necessários os conhecimentos técnicos 
como	o	amor.	Portanto	o	fim	colimado	pela	Escola	é	conseguir	formas	visita-
doras que, onde forem, levem a paz, transmitam alegria, ofereçam segurança 
e	confiança,	abrindo	o	seu	coração	a	todos	que	necessitam	de	ajuda	e	de	
orientação. Tais visitadoras hão de ser as mais alegres, tolerantes e com-
preensivas, as mais inteligentes e as mais amáveis de todas as mulheres 
que se entreguem a este trabalho. Hão de ser sadias de alma e corpo, já 
que deverão comunicar esta saúde e esta força aos que nunca as tiveram 
ou aos que delas se vêem privados pelas vicissitudes da vida (ESCUELA DE 
SERVIÇO SOCIAL ELVIRA MATTE DE CRUCHAGA, s.d., p. 7-8).
Fica evidente a questão religiosa, bem como a busca de um elitismo, que só abrangia 
as damas da sociedade, pois ligado aos requisitos havia taxas de matrículas. Ressalta-se, 
contudo, mesmo com forte viés religioso, a Escola apresentava uma real aproximação da 
ciência e da técnica, uma preocupação metodológica que foi dando contornos a essa nova 
profissão.
A Escola Elvira Matte de Cruchaga representou não só uma possibilidade 
diversificada	 de	 ação	 profissional,	 mas	 também	 um	 centro	 de	 educação	
especializado	que	definiu	a	sua	fisionomia	a	partir	do	Serviço	Social	católico	
–	 com	decisiva	 influência	 europeia,	 é	 certo	 –	 e	 onde	membros	 ilustres	da	
burguesia puderam desenvolver as suas mais arraigadas convicções doutri-
nárias (CASTRO, 2006, p. 76).
O programa de formação prévia tem três anos de duração, sendo dividido em duas 
partes: teórica e prática. A parte teórica é composta pelos estudos sobre: religião, psico-
logia, pedagogia, sociologia, economia social, assistência social, direito, instrução cívica, 
anatomia,	fisiologia,	higiene	privada	e	pública	e	ética	profissional	(COSTA,	2006).
Dentre os programas que tratavam das questões práticas, tinha-se o
33UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
tratamento de caso social individual, encaminhamentos jurídicos, técnicas de 
escritório e estatísticas, contabilidade, primeiros socorros, cuidados domici-
liares à doentes, puericultura, nutricionismo, trabalhos manuais, exercícios 
de oratória. Os cursos práticos incluíam nutricionismo, corte e costura e 
puericultura (COSTA, 2006, p. 80).
A ênfase na questão de saúde relacionava-se aos problemas derivados das pés-
simas condições de salubridade resultantes do reordenamento capitalista da economia e 
da sociedade, bem como antecedentes que aproximavam o Serviço Social e Enfermagem 
–	com	influência	da	Europa.
Alguns anos após a sua fundação, a Escola Elvira Matte de Cruchaga organizou 
as “Semanas de Estudos”, orientadas para o aperfeiçoamento técnico e espiritual das visi-
tadoras sociais já formadas. Com esses eventos regulares, a Escola mantinha um contato 
permanente	com	suas	ex-alunas,	conhecia	o	seu	desempenho	profissional,	assimilava	as	
experiências, reforçava o idealismo e o espírito religioso de suas egressas.
A Escola Elvira Matte de Cruchaga recebeu da União Católica Internacional de 
Serviço Social (UCISS), com sede em Bruxelas, a tarefa de fomentar o Serviço Social Ca-
tólico na América Latina, o que ela acatou, passando a enviar aos países vizinhos folhetos 
explicativos	sobre	a	profissão,	visitas	às	autoridades	e	contato	nas	escolas	superiores.
Quanto ao objetivo da UCISS, tem-se que a União deveria
[...] propiciar a difusão do Serviço Social católico, e relacionar as diferentes 
obras e pessoas que nele militam através de publicações, conferências e 
congressos. A UCISS é o centro de orientações e direcionamento das expe-
riências que se realizam em distintos países e hão de servir como estímulo 
e guia para o futuro desenvolvimento do Serviço Social católico (CASTRO, 
2006, p. 94).
A Escola de Serviço Social desenvolveu trabalhos de estudo sistemático da reali-
dade social, orientando à “melhoria da situação das classes necessitadas”, como também 
a preocupação em colaborar com a legislação do país. Surge aqui um importante elemento 
de diferenciação em face das formas anteriores de assistência social. A Escola Elvira Matte 
de Cruchaga, reconhecendo o papel mediador do Estado para normatizar as relações entre 
o	capital	e	o	trabalho,	reordenou	a	intervenção	profissional,	partindo	da	compreensão	da	
função das visitadoras sociais que, por sua proximidade e conhecimento dos problemas 
sociais, teriam condições para sugerir leis e regulamentos.
Foi uma época em que a Igreja se reservava exclusivamente para os auxílios das 
camadas sociais dominantes que desejam atuar junto às áreas de assistência social. Há, 
na perspectiva desta Escola, um esforço para conquistar uma funcionalidade no interior 
das relações entre as classes, propondo soluções aos problemas deste angulo do Estado.
34UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Em 1937 surge a Escola de Montevidéu (Uruguai) a partir dos trabalhos realizados 
e	visitas	de	profissionais	da	Escola	Elvira	Matte	de	Cruchaga	(Chile).	Logo	em	seguida,	no	
ano de 1939, surge, no Paraguai, a Escola Polivalente de Visitadoras de Higiene; em 1940, 
a Escola Católica de Serviço Social, em Buenos Aires (Argentina), após na Colômbia e 
Venezuela, evidenciado, assim, a importância histórica do Chile na construção do Serviço 
Social na América Latina.
4.2 Serviço Social no Peru
A década de 1920 trouxe mudanças para a história do Peru. Léquia governou o 
país nos anos de 1919 a 1930, quando ocorria a subordinação ao capital norte americano, 
exportação das riquezas minerais para os Estados Unidos.
Em 1929, com a crise internacional, devido à quebra da Bolsa de Valores de Nova 
York, a economia peruana foi afetada, pois tinha boa parte dos recursos públicos depen-
dentes	de	financiamento	externo.	O	preço	das	matérias	primas	caiu	e	reduziu-se	a	expor-
tação, ocasionando crise de desemprego. Nesse período ocorreram lutas e movimentos de 
classes e populares.
●	 1931 - Eleições: não trouxeram estabilidade. Houve um atentado contra o então 
presidente, Sanchez Cerro, sendo responsável a Aliança PopularRevolucioná-
ria Americana (APRA), que alimentou e patrocinou várias rebeliões que foram 
violentamente reprimidas pelas forças armadas. 
●	 1933 – Sanchez Cerro é assassinado e a Assembleia entrega o poder ao Gene-
ral Oscar R. Benavides.
●	 1936 – Benavides convocou eleições e foi impedido de participar sob a alega-
ção de ser um partido internacional, porém apoiou Luiz Antônio Eguigurem, que 
ganhou as eleições. O governo pedido a anulação das eleições, sob a alegação 
de	que	o	presidente	eleito	se	beneficiou	dos	votos	de	um	partido	internacional	e	
Benavides proclamou-se Presidente.
Benavides, na segunda etapa de seu governo, compreendeu que a repressão e a 
violência não impediam a mobilização popular, então adotou medidas sociais em favor do 
povo peruano, dentre elas:
●	 Regulamentação de pagamento de hora extra;
●	 Remuneração do feriado de primeiro de maio;
●	 Criação do Seguro Social Operário;
●	 Restaurantes populares;
●	 Criação de bairros populares em Lima (capital do Peru);
●	 Criação do Ministério de Saúde Pública, Trabalho e Previsão Social; Reorgani-
zação do Ministério da Educação.
35UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Em 1937, criou-se a Lei 8530 – Fundação da Escola de Serviço Social do Peru 
(ESSP), que surge vinculada ao Ministério da Saúde Pública, Trabalho e Previsão Social. 
Francisca Benavides (Primeira Dama do país) interveio diretamente na formação da Escola 
de Serviço Social do Peru (ESSP) , com a ajuda da ação Católica e da União Católica de 
Serviço Social.
A ESSP deveria contribuir com parte do pessoal que trabalharia naquele ministério, 
bem como com outras instituições que estavam surgindo em decorrência das medidas do 
governo Benavides. Assim, o surgimento dessa escola está mais ligado à expansão e a 
modernização estatal do que à demanda procedente do setor privado.
A Escola de Serviço Social do Peru foi precedida por outras tentativas de organi-
zação e formação de agentes sociais. Em 1931, o Instituto da Criança criou a Escola de 
Visitadoras Sociais de Higiene Infantil e Enfermeira de Puericultura, ampliando a interven-
ção do Estado no campo dos cuidados à infância. Essa escola teve curta duração devido 
a interesses políticos, pois fora fundada por iniciativas do governo Léquia, quando este já 
estava fora do poder.
Houve, então, com a criação da Escola de Serviço Social do Peru, a rivalidade 
desta	com	a	Escola	de	Visitadoras	Sociais,	devido	ao	restrito	mercado	de	trabalho,	influindo	
para	a	mudança	da	titulação	profissional	da	Escola	de	Serviço	Social	do	Peru	de	visitadora	
social para Assistente Social.
Esses	 conflitos	evidenciavam	a	 indefinição	profissional	 entre	 visitadoras	 sociais,	
enfermeiras, nutricionistas e assistentes sociais, na medida que existia uma constante 
superposição	de	funções	que	cada	profissão	reclamada	como	sua.
A Escola de Serviço Social do Peru revelava a concretização de três projetos distin-
tos, porém ideologicamente unidos:
1. Igreja:	como	estratégia	de	continentalização	de	sua	influência	sobre	o	Serviço	
Social na busca de resgatar sua função de condução da moral da sociedade, 
dentro de uma estrutura capitalista vigente.
2. Estado:	mediar	conflitos	oriundos	da	estrutura	de	produção	ligada	ao	capitalista	
dependente e subordinação externa, bem como estabelecer clima de estabilida-
de interna, assegurando a própria permanência política do governo.
3. Medicina:	 responder	 de	 forma	 mais	 eficiente	 aos	 problemas	 médico-sociais	
decorrentes das condições de trabalho e moradia da população trabalhadora.
36UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
A Igreja, através da Ação Católica, contando com o apoio de Christine de Hemptine, 
centrava-se no âmbito das requisições da Igreja e de sua ação social, no Peru e no con-
tinente.	O	médico	Venceslau	Molina	defendia	a	formação	de	assistentes	sociais,	a	fim	de	
promover a saúde por via da educação.
A formação acadêmica enfatizava a preparação doutrinária, tanto através de cursos 
explicitamente	ministrados	para	esse	fim	(religião,	ética	profissional,	moral)	quanto	median-
te	cadeira	de	cariz	científico	(que	eram	marcadas	por	uma	orientação	predominantemente	
introdutória e formativa).
O primeiro plano de estudos estimulava também a preocupação para trabalhos 
considerados propriamente femininos (como economia doméstica) que, em larga medida 
constituíam	o	corpo	instrumental	da	profissão.	As	alunas	da	Escola	de	Serviço	Social	do	
Peru eram provenientes das classes altas da sociedade e as escolas as distanciavam do 
ambiente	universitário	que,	no	Peru,	tinha	influência	das	ideias	de	esquerda	e,	assim,	as	
elites não suprimiam as suas reticências quanto a incorporação da mulher no trabalho.
Para	as	pioneiras	da	profissão,	a	opção	pelo	Serviço	Social	era	–	tal	como	no	caso	
chileno	–	algo	ligado	mais	à	vocação	que	à	profissão.	Outro	aspecto	material,	como	remu-
neração, não era questionado devido às primeiras assistentes sociais não dependerem do 
salário	para	viver.	Assim	o	próprio	caráter	de	sub	profissional	não	era	questionado	e	a	sua	
autonomia	ligada	aos	pareceres	de	outras	profissões,	como	o	da	medicina	e	o	direito.
Por	fim,	encerro	esta	unidade	com	as	considerações	de	 Iamamoto	acerca	desta	
breve história do Serviço Social: 
[...]	não	significa	apenas	uma	revisão	do	passado,	mas	 instiga	 indagações	
sobre o presente. Em tempos de globalização, sob a hegemonia do capital 
financeiro	 e	 do	 neoliberalismo	 na	 condução	 das	 políticas	 governamentais,	
renascem, sob novos moldes, velhos recursos e ideológicos que tiveram 
vigências no passado desenvolvimentista no trato da questão social 
(IAMAMOTO, 2000 apud CASTRO, 2006, p. 179).
E agora eu te pergunto: valeu a experiência? Ampliou seu conhecimento? Espero 
que	sim,	pois	cada	vez	mais	essa	profissão	nos	encanta	e	apaixona	pela	história	de	luta	em	
prol do ser humano.
37UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Veja	bem	como	a	história	da	nossa	profissão	traz	elementos	significativos	e	muito	
importantes	para	a	sua	 formação.	Sem	saber	de	onde	viemos	enquanto	profissão,	 sem	
sabermos	nossa	história,	dificilmente	entenderemos	as	bandeiras	e	posicionamentos	ado-
tados	pela	profissão	atualmente.	Temos	muito	orgulho	de	nossa	história,	não	somente	no	
Brasil (como veremos adiante) mas em todo o mundo.
Iniciamos nossa unidade estudando sobre a origem do Serviço Social, as suas raízes 
históricas e sua relação com a Igreja Católica, o processo de racionalização da assistência 
e o entendimento enquanto necessidade humana e cidadã. Em breve você compreenderá 
como a assistência foi considerada um direito previsto na Constituição Federal de 1988.
Você conseguiu compreender a origem da questão social e como ela se tornou o 
objeto	de	intervenção	profissional	do	Serviço	Social,	em	que	o	homem	é	o	foco	da	ação	
profissional.
Em	seguida	você	conheceu	como	a	profissão	foi	se	desenvolvendo	em	diferentes	
países da Europa, Estados Unidos e América Latina (Chile e Peru), onde tivemos diferentes 
personagens que contribuíram para a construção do Serviço Social. Uma construção co-
nectada com movimentos sociais e econômicos da sociedade, sempre voltada para o bem 
comum.
A	marca	 trazida	pela	profissão	nos	 faz	compreender	que	não	existe	 justiça	sem	
luta,	empenho	e	determinação.	Muitas	profissões	fazem	parte	dessa	história	e	essa	marca	
precisa	estar	presente	na	sua	formação	e	durante	toda	a	sua	atuação	profissional.
A seguir iremos conhecer um pouco sobre a história do Serviço Social Brasileiro e 
você	conseguirá	compreender	algumas	questões	presentes	em	nossa	profissão	até	os	dias	
atuais	e	de	onde	vêm	algumas	imagens	atreladas	à	profissão.	Esse	conhecimento	fará	com	
que você consiga compreender que a sua escolha pelo Serviço Social foi acertada e que 
você tem uma grande missão pela frente!
Até a próxima e bons

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