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História Contemporânea I

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Prévia do material em texto

Rafael Lopes de Sousa
História 
Contemporânea
Revisada por Rafael Lopes de Sousa (maio/2012)
É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de História Contemporâ-
nea, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autô-
nomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) 
uma apresentação do conteúdo básico da disciplina.
A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-
ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.
Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, 
a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, 
bem como acesso a redes de informação e documentação.
Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple-
mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para 
uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.
A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!
Unisa Digital
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 5
1 FRANÇA PRÉ-REVOLUCIONÁRIA .................................................................................................... 7
1.1 Estrutura Social do Antigo Regime Francês ............................................................................................................8
1.2 Crise Econômica e Desgaste Social ............................................................................................................................9
1.3 As Primeiras Medidas da Revolução ....................................................................................................................... 11
1.4 Convenção e Governo Jacobino .............................................................................................................................. 12
1.5 O Governo do Diretório .............................................................................................................................................. 13
1.6 Era Napoleônica ............................................................................................................................................................. 14
1.7 Consulado ........................................................................................................................................................................ 14
1.8 Implantação do Império ............................................................................................................................................. 15
1.9 Governo dos Cem Dias ................................................................................................................................................ 16
1.10 Congresso de Viena .................................................................................................................................................... 17
1.11 Resumo do Capítulo .................................................................................................................................................. 19
1.12 Atividades Propostas ................................................................................................................................................. 19
2 NACIONALISMO, LIBERALISMO E SOCIALISMO NO SÉCULO XIX .........................21
2.1 A Comuna de Paris ........................................................................................................................................................ 22
2.2 Liberalismo ...................................................................................................................................................................... 22
2.3 O Nascimento do Socialismo .................................................................................................................................... 24
2.4 Socialismo Científico .................................................................................................................................................... 25
2.5 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 25
2.6 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 26
3 O MÉTODO DO PENSAMENTO MARXISTA .............................................................................27
3.1 Infraestrutura .................................................................................................................................................................. 27
3.2 Luta de Classes ............................................................................................................................................................... 28
3.3 A Mais-Valia ..................................................................................................................................................................... 28
3.4 Ideologia ........................................................................................................................................................................... 30
3.5 Alienação .......................................................................................................................................................................... 30
3.6 Ditadura do Proletariado ............................................................................................................................................ 32
3.7 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 33
3.8 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 33
4 IMPERIALISMO E PARTILHA DA ÁFRICA E DA ÁSIA ........................................................35
4.1 Partilha da África ............................................................................................................................................................ 35
4.2 A Partilha da Ásia ........................................................................................................................................................... 36
4.3 Primeira Guerra Mundial ............................................................................................................................................. 37
4.4 As Principais Etapas da Guerra ................................................................................................................................. 38
4.5 Tratados de Paz .............................................................................................................................................................. 38
4.6 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 39
4.7 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 39
SUMÁRIO
5 REVOLUÇÃO RUSSA .......................................................................................................................... 41
5.1 A Revolução Burguesa de Fevereiro de 1917 .................................................................................................42
5.2 Trotskismo ...................................................................................................................................................................425.3 Stalinismo ....................................................................................................................................................................43
5.4 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................43
5.5 Atividades Propostas...............................................................................................................................................44
6 CRISE DE 1929, REGIMES TOTALITÁRIOS E A SEGUNDA GUERRA 
MUNDIAL ................................................................................................................................................... 45
6.1 O Surgimento dos Regimes Totalitários ...........................................................................................................46
6.2 Segunda Guerra Mundial e as suas Consequências ....................................................................................47
6.3 O Mundo após a Segunda Guerra Mundial ....................................................................................................48
6.4 Guerra Fria ...................................................................................................................................................................49
6.5 Colapso do Socialismo: Fim da Guerra Fria .....................................................................................................50
6.6 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................50
6.7 Atividades Propostas...............................................................................................................................................50
7 PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO ................................................................................................ 51
7.1 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................53
7.2 Atividades Propostas...............................................................................................................................................53
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 55
RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 57
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 59
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
5
Caro(a) aluno(a), 
Esta apostila contempla os conteúdos de História Contemporânea I e II. Procuramos abranger 
os processos históricos das sociedades, desde a Revolução Francesa até a atualidade da globalização. 
Nesse sentido, assuntos e aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais estão aqui contemplados. 
Esperamos, com isso, transmitir-lhe um referencial teórico que o estimule a refletir e a participar de ma-
neira ativa das decisões que são tomadas em seu tempo. 
Uma variedade de temas é tratada aqui como parte integrante de um mesmo e diversificado pro-
cesso, que envolve: transformações socioculturais, problemas relacionados ao nacionalismo, impactos 
e consequências da Primeira e Segunda Guerra Mundial, significado e desdobramento da Guerra Fria, 
formação dos Blocos Econômicos e os efeitos da globalização.
O mundo pós-Guerra Fria foi reorganizado e constituiu uma nova disposição geográfica. Novos 
conflitos eclodem e muitos deles, por conta da economia globalizada, afetam direta ou indiretamente 
todos os países, alterando as relações de poder e apresentando novos desafios à humanidade. A História 
é uma ferramenta para compreender esse novo mundo.
A análise dos conteúdos aqui apresentados está diretamente associada a uma visão de mundo do 
Autor, a partir da sua filiação historiográfica. Ela não está, entretanto, fechada e pode evidentemente ser 
alterada frente ao embate com outras ideias que expressem divergências fundamentadas sobre o con-
teúdo apresentado. 
Esperamos que você, com sua experiência de vida e com a reflexão histórica dos assuntos aqui 
abordados, possa ampliar a participação cidadã no meio circundante. Será um prazer acompanhá-lo(la) 
nessa jornada. Esperamos que, ao final dela, você seja um(a) cidadão(ã) mais pleno(a) de seus direitos e 
mais consciente de seus deveres, só assim construiremos uma sociedade mais plural e democrática, na 
qual a diversidade e as diferenças sociais, étnicas, culturais e religiosas serão respeitadas. 
INTRODUÇÃO
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
7
Caro(a) aluno(a), 
Neste capítulo, analisaremos a situação da 
França pré-revolucionária, pois, para entender o 
processo revolucionário, algumas características 
da França no final do século XVIII são de funda-
mental importância. Ao analisar esse processo, 
percebemos que a ideia de liberdade, igualdade 
e fraternidade foi uma bandeira levantada pelos 
revolucionários contra os privilégios da sociedade. 
Você acredita que esses princípios são respeitados 
no cotidiano das pessoas na atualidade? Esses di-
reitos estão efetivamente garantidos para todos os 
povos e sociedades ou há ainda povos e socieda-
des que lutam para conquistá-los? São essas ques-
tões que queremos refletir com você ao longo des-
te capítulo.
Na segunda metade do século XVIII, a bur-
guesia francesa controlava boa parte da estrutura 
de sua sociedade. Esse controle abrangia os mais 
diversos setores: comércio, finanças e indústria; 
faltava-lhes, porém, o controle da estrutura po-
lítica para o domínio ser completo. A Monarquia 
mantinha-se, curiosamente, alheia a essas trans-
formações e, julgando que as responsabilidades 
de administrar o Estado eram por demais onero-
sas, ofertava mais participação aos burgueses no 
aparelho do estado. Os burgueses abraçaram essa 
oferta com total dedicação, pois viam nela a pos-
sibilidade de ampliar seus negócios e ainda influir 
nos rumos políticos da nação. Eles estavam, aliás, 
convencidos de que eram os escolhidos para repre-
sentar os interesses de um novo homem, de uma 
nova sociedade, de uma nova época, enfim, de um 
novo mundo. 
Afirmar que se avizinhava, na França do sécu-
lo XVIII, uma nova sociedade parece mesmo con-
traditório, principalmente quando constatamos 
que 80% de sua população ainda vivia no campo 
em regime de servidão. Ocorre que, por essa épo-
ca, os benefícios da Revolução Industrial alteravam 
o cotidiano da população, com o aumento do con-
sumo, a emergência de novos e diversificados pro-
dutores e o surgimento de novos métodos de culti-
vo da terra. Essa nova realidade ofereceu condições 
e argumentos para os camponeses questionarem 
as obrigações feudais que deviam aos senhores.
Nessa época, os filósofos Iluministas intensi-
ficaram suas críticas à ordem social vigente. Você 
sabe quem eram esses filósofos? Eles foram pessoas 
importantes para o pensamento ocidental; alguns 
deles serão trabalhados em nossas aulas, então, fi-
que atento! Entre as ideias mais difundidas desses 
filósofos, estão aquelas vinculadas ao pensamento 
de Jean-Jacques Rousseau, que pregava a sobe-
rania política do povo. Esse princípio espalhou-se 
pela França como um rastilho de pólvora e deu for-
ça para o surgimento de importantes movimentos 
revolucionários. A estrutura de sustentação da so-
ciedade francesa passou, agora, a ser questionada 
de maneira mais incisiva. 
FRANÇA PRÉ-REVOLUCIONÁRIA1
Rafael Lopes Sousa
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
8
Estudiosos da Revolução Francesa, entre os 
quais, podemos destacar Soboul (1995) e Hobs-
bawn (1982), observam que a França antes da Re-
volução de 1789 estava organizada em três esta-
dos. O Primeiro Estado era formado pelo clero; o 
Segundo Estado era representado pela nobreza;e 
o Terceiro Estado era composto pelo restante da 
população. 
O Primeiro Estado estava subdividido em 
dois grupos. O primeiro era o Alto Clero e reunia 
bispos e abades; esse segmento representava a 
base moral da sociedade e era sustentado com os 
dízimos recolhidos dos fiéis e a renda proveniente 
do aluguel de imóveis de propriedade da igreja. O 
segundo grupo era representado pelo Baixo Cle-
ro, composto por padres responsáveis pelas paró-
quias mais carentes. A proximidade desse segmen-
to com a população mais pobre emprestou a esse 
grupo certa simpatia com os ideais revolucionários 
da época. 
A composição do Segundo Estado estava 
também dividida segundo os interesses de cada 
segmento que o representava. Havia aí três gru-
pos principais: o primeiro era a Nobreza Palacia-
na, composta por quatro mil nobres que viviam na 
corte à custa do Estado francês; o segundo era a 
Nobreza Provincial, um segmento empobrecido 
da corte que vivia no interior do país, beneficiado 
pelos privilégios feudais; e o terceiro era a Nobreza 
de Toga, isto é, burgueses que compraram títulos 
de nobreza.
O Terceiro Estado estava na base dessa pirâ-
mide social, representava aproximadamente 97% 
da sociedade e estava dividido em diversos gru-
pos, sendo que os principais eram os burgueses, 
os camponeses e as camadas populares da cidade, 
chamados sans-culottes. A soma desses três seg-
mentos totalizava mais de 24 milhões de pessoas. 
Eles reivindicavam, entre outras coisas, o fim dos 
privilégios concedidos ao Primeiro e ao Segundo 
Estado.
O descontentamento que esse segmento 
alimentava contra as privações dos direitos de ci-
dadania pode ser percebido nos questionamentos 
que um folheto popular da época fazia à estrutura 
da sociedade francesa:
O que é o Terceiro Estado? Devemos for-
mular três perguntas: 
Primeira: O que é o Terceiro Estado? Tudo
Segunda: O que ele tem sido em nosso sis-
tema político? Nada.
Terceira: O que pode ele? Ser alguma coisa. 
Embora seja verdade que todos os mem-
bros do Terceiro Estado, artesão, campo-
neses e burguesia estivessem tentando 
‘ser alguma coisa’, foi principalmente o úl-
timo grupo que conseguiu o que queria. 
A burguesia forneceu a liderança, enquan-
to os outros grupos realmente lutaram. E 
foi a burguesia que mais lucrou. Durante 
o curso da Revolução, teve várias oportu-
nidades para enriquecer e fortalecer-se. 
Especulou nas terras tomadas da igreja e 
da nobreza, e amontoou fortunas imensas 
através de contratos fraudulentos com o 
exército. (HUBERMAN, 1984, p. 162).
1.1 Estrutura Social do Antigo Regime Francês
Saiba maisSaiba mais
A roupa da nobreza era uma calça justa 
denominada culotte. Os populares que 
moravam nas cidades usavam lenços 
na cabeça e vestiam calças largas, que 
necessitavam de uma faixa na cintura 
para prendê-las. Sans-culotte significa, 
literalmente, sem culote e é, geralmen-
te, associado aos setores revoltosos da 
sociedade.
História Contemporânea
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
9
A França foi, de meados do século XVII até 
meados do século XVIII, a maior potência europeia. 
Essa situação de destaque começou, contudo, a se 
inverter quando ela se envolveu em três guerras 
sucessivas, que ajudaram a correr as bases de sua 
estrutura social. Percebe, caro(a) aluno(a), como a 
guerra pode trazer glórias, mas muitas vezes carre-
ga também o fracasso e a decadência.
A primeira dessas guerras foi a Guerra de 
Sucessão Austríaca (1740-1748). Nessa guerra, a 
França tinha como intenção enfraquecer o poderio 
da família Habsburgo, uma das principais rivais da 
Coroa francesa à época, e com isso aumentar sua 
influência na região. A guerra mostrou-se, contudo, 
desastrosa para as pretensões dos franceses, que 
não conseguiram alcançar o seu objetivo e ainda 
viram a Prússia sair fortalecida do conflito. 
O segundo conflito ocorreu exatamente con-
tra a Prússia, na chamada Guerra dos Sete Anos 
(1776-1783). Nessa guerra, a Inglaterra, temen-
do o fortalecimento dos franceses no continente, 
aliou-se aos prussianos. A França foi derrotada e 
viu seu poderio diminuir. Enfraquecida, permitiu 
que a Inglaterra tomasse posse do Canadá fran-
cês e dos portos franceses na Índia. O desgaste era 
grande para a Coroa francesa, que procurou rever-
ter a situação prestando apoio ao movimento de 
independência dos Estados Unidos (1776-1783) 
contra a Inglaterra. 
A participação da França na Guerra de Inde-
pendência (1776-1783) foi a terceira guerra vivida 
pelos franceses no curto período de 40 anos. Como 
é de conhecimento de todos, os Ingleses foram 
derrotados e os Estados Unidos proclamaram a 
sua Independência e tornaram-se a primeira nação 
republicana do mundo moderno. A vitória ameri-
cana não se converteu, todavia, em ganho político 
ou estratégico para a Coroa francesa, que saiu da 
guerra com a sua estrutura social ainda mais esgar-
çada e as finanças completamente debilitadas.1
A fim de melhorar essa situação, a Coroa au-
mentou os impostos e taxou os segmentos dos no-
bres e clérigos, até ali isentos de qualquer tipo de 
cobrança. Seria então correto afirmar que a perda 
de privilégios de alguns segmentos precipitou a 
decadência da nobreza? Não esteja tão certo dis-
so, caro(a) aluno(a), pois você terá a oportunidade 
de constatar, na sequencia da leitura, que outras 
questões também contribuíram com a decadência 
da nobreza. Os corpos privilegiados da sociedade 
revoltaram-se e passaram a criticar abertamente 
as medidas da Coroa. Para complicar ainda mais 
a situação, a França era devastada por problemas 
climáticos, como seca e inundações, que afetavam 
a lavoura e prejudicavam o abastecimento de ali-
mentos para a população. De tudo isso, resultava 
uma massa de desvalidos sociais que perambulava 
pelos campos faminta e disposta a qualquer tipo 
de sacrifício para sobreviver. 
Em 1774, Luís XVI assumiu o trono francês 
cercado de muitas expectativas. Esperava-se do 
novo soberano soluções rápidas para os problemas 
econômicos da sociedade. Para enfrentar esses 
problemas, ele nomeou o fisiocrata Turgot para 
ser o reformador das finanças. Assim, logo após a 
sua posse, Turgot adotou duas medidas inovadoras 
para a economia. Primeiramente, apresentou algu-
mas ideias para modernizar o comércio e a indús-
tria, retirando-lhes as amarras feudais que inibiam 
o crescimento desses setores. Posteriormente, 
apresentou uma proposta de cobrança de impos-
tos do clero e da nobreza e sugeriu, ainda, o corte 
de despesas nos gastos diários da corte. 
O Primeiro e o Segundo Estado rechaçaram 
essas propostas e minaram o plano de reformas de 
Turgot, promovendo o boicote contra essas medi-
das. Sem força e apoio político para levar adiante 
um plano consistente de reforma da estrutura eco-
nômica da sociedade francesa, renunciou em 1776. 
1.2 Crise Econômica e Desgaste Social
1 Mais informações sobre as consequências dessas guerras para a sociedade francesa ver: Hobsbawn (1982).
Rafael Lopes Sousa
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
10
Para substituir Turgot, o rei convocou o ban-
queiro Necker. Em sua gestão, trabalhou com de-
terminação para concluir que boa parte dos pro-
blemas financeiros da França estava localizado nos 
gastos exorbitantes da Coroa. A Coroa não gostou 
de ver os seus gastos tornados públicos e, assim, 
demitiu Necker em 1782. 
Em 1783, Calonne foi nomeado para ser o 
novo ministro da França e, tão logo tomou posse, 
demonstrou interesse em retomar alguns pontos 
importantes que foram trabalhados na política 
econômica de seus antecessores. Em 1786, Calon-
ne colocou em prática um acordo comercial com 
a Inglaterra. Esse acordo revelar-se-ia desastroso 
para as pretensões econômicas e comerciais dos 
franceses. Pelo acordo, ficava acertado que a Ingla-
terra compraria toda a produção de vinho francês 
e a França, em contrapartida, promoveria a aber-
tura de seus portos aos manufaturados ingleses. O 
acordo foi excelente para os ingleses, que tinham 
uma manufatura mais competitiva,e assim conse-
guiram se sobrepor à manufatura francesa. O mes-
mo não aconteceu com o vinho francês, que teve o 
seu preço depreciado, levando à ruína um número 
considerável de camponeses. 
Frente às dificuldades financeiras do Estado, 
o controlador geral das finanças, Calonne, não 
teve alternativa senão convocar a Assembleia dos 
Notáveis. Essa Assembleia era composta por no-
táveis, ou seja, representantes das duas primeiras 
ordens: clero e nobreza. Entre os privilégios desses 
dois segmentos, estava o de não pagar impostos. 
Calonne defendia, entretanto, que para melhorar a 
situação financeira da França esses segmentos de-
veriam abdicar desses e de outros privilégios e con-
tribuir também com o recolhimento de impostos. 
Os notáveis, entretanto, não abriram mão de seus 
privilégios; resistiram e, ainda, provocaram várias 
revoltas contra o poder real, numa clara demons-
tração de insubordinação. Acossado pelas revoltas, 
Luís XVI não teve alternativa senão convocar a As-
sembleia dos Estados Gerais, que era composta 
por notáveis e pelos diversos segmentos do tercei-
ro estado.2
Em abril de 1789, ocorreram as eleições para 
eleger os representantes da Assembleia dos Es-
tados Gerais. O terceiro estado elegeu 600 depu-
tados, a nobreza elegeu 300 deputados e o clero 
conseguiu também eleger 300 representantes. De 
acordo com a tradição, cada estado tinha direito a 
um voto. Ocorre que, nas votações, o clero e a no-
breza sempre votavam juntos contra as propostas 
do terceiro estado, que sempre ficava isolado e 
não conseguia levar adiante as suas reivindicações. 
Percebe, caro(a) aluno(a), como a elite sempre ma-
nipulou o poder? Ao perceber essa situação, o ter-
ceiro estado decidiu se reunir separadamente dos 
Estados gerais para proclamar-se Assembleia Na-
cional. Defendia abertamente a extinção dos privi-
légios da nobreza e do clero e a elaboração de uma 
nova Constituição para a França, baseada nos pre-
ceitos do Iluminismo. Luís XVI tentou, mas não con-
seguiu impedir essa iniciativa, pois os outros dois 
estados se aliaram ao terceiro estado para formar a 
Assembleia Nacional Constituinte. 
O rei já não tinha mais o controle da situação. 
Até mesmo destacamentos reais rebelavam-se e 
aderiam às manifestações contra a nobreza. Em 
meio a esses acontecimentos, as armas da guar-
da real foram tomadas e distribuídas à população, 
que, desafiadoramente, organizou uma guarda 
nacional dos revoltosos, que teve La Fayette (um 
nobre dissidente) como comandante. No dia 14 
de julho, a Bastilha, símbolo do absolutismo, em 
que eram mantidos os presos políticos, foi tomada 
pelos revoltosos, que libertaram todos os presos e, 
em seguida, se apossaram das armas ali estocadas, 
para defender os ideais do terceiro estado.
2 Mais informações sobre a crise financeira que antecedeu a Revolução Francesa ver: Souboul (1995) e Hobsbawn (1982).
Saiba maisSaiba mais
A chamada Escola Fisiocrática de eco-
nomia surgiu no século XVIII e é consi-
derada a primeira escola de economia 
científica. Embasava-se na economia 
agrária, identificando na terra a fonte 
única de toda a riqueza humana.
História Contemporânea
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11
As forças das circunstâncias obrigaram, por-
tanto, o rei Luís XVI a reconhecer a legitimidade da 
Assembleia Constituinte. Logo após a sua efetiva-
1.3 As Primeiras Medidas da Revolução
DicionárioDicionário
Voto censitário: definido pelas posses do indivíduo, 
ou seja, estabelece a necessidade de comprovação 
de uma renda mínima para o indivíduo ter o direito 
de votar. Difundiu-se no século XIX com a consoli-
dação da sociedade burguesa e a difusão dos siste-
mas parlamentares representativos.
ção, a Assembleia Nacional Constituinte tratou de 
ratificar algumas das principais reivindicações dos 
revoltosos. 
Em 4 de agosto de 1789, a Assembleia Na-
cional Constituinte decidiu abolir os direitos feu-
dais, privando a nobreza e o clero de antigos privi-
légios, entre os quais, estava o não pagamento de 
impostos. No mesmo mês, anunciou a Declaração 
dos Direitos do Homem e do Cidadão. Seus pon-
tos básicos eram: 
�� liberdade e igualdade dos cidadãos pe-
rante a lei; 
�� inviolabilidade da propriedade;
�� direito de resistência;
�� liberdade de pensamento e de opinião. 
Essas medidas representavam uma radicali-
zação do processo revolucionário que só fazia cres-
cer, ano após ano. Em 1790, os bens do clero foram 
confiscados e colocados à disposição das causas 
revolucionárias. Em 1791, a Constituição ficou fi-
nalmente pronta. Sua instituição alterava radical-
mente a estrutura social e administrativa da França. 
A Constituição legou uma nova forma de 
governo a ser assumida pela França: a monarquia 
constitucional. Nessa forma de governo, o rei per-
dia os “poderes absolutos” e a burguesia ganhava 
mais visibilidade e prestígio. A monarquia conti-
nuaria hereditária. A Assembleia era agora com-
posta por deputados, com mandato de dois anos, 
e, para exercer o direito de voto, o eleitor precisaria 
comprovar uma riqueza mínima, ou seja, o voto era 
censitário.
As mudanças nas regras do jogo até então 
jogado despertaram sentimentos antagônicos. No 
plano externo, deram, por exemplo, estímulo aos 
revolucionários de diversas nacionalidades para or-
ganizar manifestações de apoio aos rebeldes fran-
ceses. No plano interno, despertaram a ira de Luís 
XVI, que passou a conspirar secretamente com os 
monarcas da Áustria e da Prússia, que também se 
sentiam ameaçados com os rumos da Revolução 
Francesa. A fim de impedir que os “desmandos” 
da revolução se espalhassem pela Europa, os mo-
narcas do império austro-prussiano ordenaram a 
invasão da França pelos seus exércitos. Alguns dos 
líderes revolucionários, entre os quais, podemos 
destacar Danton e Marat, organizaram a luta de 
resistência contra a invasão. Em setembro de 1792, 
o exército invasor foi expulso pelas forças revolu-
cionárias na Batalha de Walmy. 
Desse momento em diante, as ações da re-
volução tornaram-se mais radicais. Luís XVI foi, por 
exemplo, acusado de traição por colaborar com os 
invasores na guerra e, por conta disso, teve seus po-
deres suspensos pela Assembleia. Concomitante-
mente a esses acontecimentos, foram convocadas 
eleições para uma nova Assembleia, que adotou 
o nome de Convenção. Dessa vez, os deputados 
foram eleitos por sufrágio universal masculino, ou 
seja, sem exigência de renda. O processo revolucio-
nário estava causando grande prejuízo na estrutu-
ra de poder monárquico, você não acha? 
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12
1.4 Convenção e Governo Jacobino
Na convenção, os grupos políticos ficaram as-
sim posicionados:
�� os girondinos (sentavam-se à direita 
da Assembleia): eram um segmento 
moderado, que defendia os interesses 
da alta burguesia e pretendia formar 
uma república burguesa e, com ela, di-
fundir os ideais da Revolução Francesa 
pela Europa; 
�� os jacobinos (sentavam-se à esquer-
da da Assembleia): eram um segmento 
considerado radical e representavam os 
interesses da pequena burguesia; reivin-
dicavam maior participação política e 
maior poder econômico para as baixas 
camadas e restrição do movimento re-
volucionário aos limites da França. Entre 
suas principais lideranças, estavam Ma-
ximilien Robespierre, Georges Danton e 
Jean-Paul Marat; 
�� a planície (sentavam-se na parte de 
baixo da Assembleia): era os represen-
tantes da burguesia financeira e não ti-
nha posição política definida. Fazia um 
jogo duplo, prestando apoio ora aos 
girondinos, ora aos jacobinos, ou seja, a 
quem estivesse no poder e atendesse às 
suas conveniências e interesses imedia-
tos. 
Logo após a batalha de Walmy, a Convenção 
proclamou a República e instituiu um novo calen-
dário. O ano de 1792 passou a ser considerado o 
Ano I da Revolução e o Ano IV da liberdade. Impôs 
também o Edito do Máximo, medida que consis-
tia no tabelamento dos preços máximos dos gêne-
ros de primeira necessidade.Em seguida, tornou a 
Educação livre e obrigatória. Posteriormente, criou 
uma Taxação das riquezas, com o aumento dos 
impostos dos ricos e medidas de proteção para os 
pobres e desempregados. Determinou, ainda, que 
as terras dos emigrados fossem Confiscadas para 
servir às causas da Revolução. Aboliu a escravidão 
nas colônias.
O teor “radical” dessas medidas despertou a 
resistência dos segmentos conservadores (giron-
dinos), que passaram a lutar contra as propostas 
de mudanças do governo jacobino. Ocorreram re-
voltas separatistas na Normandia e na Provença. 
O governo jacobino trabalhou, todavia, para que 
esse sentimento revanchista não prosperasse; para 
tanto, adotou algumas medidas drásticas, sendo a 
instituição do regime do Terror a principal delas. 
Com o regime do Terror, instalou-se uma 
ditadura dos jacobinos, que teve Maximilien Ro-
bespierre como o seu principal líder. Nesse regime, 
centenas de pessoas foram levadas à prisão, sob a 
acusação de estarem conspirando contra a Revolu-
ção. Muitos desses suspeitos morreram esperando 
julgamento.
Robespierre equilibrou-se durante o governo 
da Convenção entre as diversas tendências políti-
cas que ela abrigava. Algumas dessas tendências 
estavam mais próximas da alta burguesia e outras 
mais próximas das aspirações e interesses das ca-
madas populares. Governando com o apoio de 
uma nova Constituição, Robespierre conseguiu por 
Pelo novo calendário instituído em 
1793, os meses receberam novas de-
nominações, sempre segundo as mani-
festações da natureza. Assim, os meses 
de outono passaram a ser Vindimário, 
Brumáripo, e Frimário; os de inverno, 
Nivoso, Pluvioso e Ventoso; os de prima-
vera, Germinal, Floreal e Prairial; e os de 
verão, Messidor, Termidor e Frutidor. Daí 
as expressões Reação Termidoriana e 
Golpe de 18 do Brumário.
CuriosidadeCuriosidade
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em prática algumas das principais reivindicações 
dos revolucionários, como o sufrágio universal, por 
exemplo.3 
O avanço alcançado pelas medidas revolu-
cionárias não conseguiu impedir, entretanto, o 
surgimento de divisões no interior do governo dos 
jacobinos. De um lado, havia a ala dos radicais, lide-
rada por Herbert, um importante líder dos sans-cu-
lottes, que defendia a intensificação das execuções 
contra aqueles que trabalhavam contra os avanços 
da revolução. Do outro, estava a ala moderada, do 
partido jacobino, liderada por Danton e Marat, 
que defendia o fim das execuções e argumentava 
que elas depunham contra os preceitos iniciais da 
revolução. Herbert, Danton e Marat foram acu-
sados de traição e, em seguida, condenados pelo 
Comitê de Salvação Pública, que os enviou para a 
guilhotina. Diante desses acontecimentos, os sans-
-culottes retiraram o apoio aos jacobinos, que fica-
ram, doravante, cada vez mais isolados.
A facção de centro dos jacobinos, liderada 
por Robespierre e Saint-Just, emergiu vitoriosa 
desse cenário, porém enfraquecida em suas bases 
de apoio. A burguesia aproveitou esse momento 
de divisão entre os jacobinos e iniciou uma cam-
panha de retomada do comando da Revolução. Era 
o fim da Convenção e o Início do Diretório. Você 
está conseguindo perceber as muitas idas e vindas 
do processo revolucionário?
3 Mais informações a esse respeito ver: Hobsbawn (1982, p. 104).
1.5 O Governo do Diretório
Em 9 de novembro de 1794, os membros da 
Planície, representantes da burguesia financeira, 
deram um golpe e tomaram o poder dos enfra-
quecidos jacobinos. Os principais representantes 
do antigo governo, Robespierre e Saint-Just, foram 
detidos e executados na guilhotina. O feitiço havia 
se virado contra o feiticeiro. Para aplacar a onda 
de radicalismo, o governo do Diretório revogou a 
maioria das medidas instituídas pelo governo dos 
jacobinos. Proibiu, por exemplo, a execução da 
Marselhesa, hino nacional francês, aboliu a Lei do 
Edito do Máximo e eliminou do calendário políti-
co o voto universal. Em seguida, promulgou uma 
nova constituição e, com ela, o voto censitário foi 
restabelecido.
Os membros do Diretório levaram adiante os 
propósitos dos girondinos de espalhar a Revolução 
pelo continente europeu. Nesse contexto, alguns 
países foram dominados pelos franceses, mas a In-
glaterra continuava a desfrutar de certa tranquili-
dade, por conta de sua posição insular. Napoleão 
Bonaparte tentou enfraquecê-la dominando o 
Egito e cortando as suas relações comerciais com 
o Oriente. 
Temendo as consequências da movimenta-
ção francesa no continente, a Inglaterra formou 
com a Áustria, a Turquia e a Rússia uma Coalizão 
para enfrentar os franceses. O território francês vol-
tava a ser ameaçado pelas forças absolutistas da 
Europa. 
Diante dessas ameaças, Napoleão Bonapar-
te foi convocado para voltar à França e protegê-la 
de seus inimigos. A incapacidade política do Dire-
tório em conter as revoltas criou condições para Na-
poleão Bonaparte ser alçado à condição de grande 
líder e foi com essa condição que ele foi apoiado 
pelo exército e pela burguesia para desferir um gol-
pe de estado contra o Diretório e assumir o poder. 
Esse acontecimento ficou conhecido como Golpe 
do 18 de Brumário de 1799; ele assinala o início 
de uma nova etapa da Revolução Francesa. Sobre 
o golpe do 18 de Brumário, veja o que observou 
Karl Marx (1976, p. 18):
Camile Desmoulins, Danton, Robespierre, 
Saint-Just, Napoleão, os heróis, bem como 
os partidos e massas da primeira Revolu-
ção Francesa cumpriram, utilizando a rou-
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14
pagem e a fraseologia romanas, a tarefa da 
sua época: a eclosão e instauração da so-
ciedade burguesa moderna. Se os primei-
ros reduziram a pedaços as instituições 
feudais e cortaram as cabeças feudais, que 
tinham crescido à sombra dessas mesmas 
instituições, Napoleão, por seu turno, criou 
no interior da França, as condições graças 
às quais se podia doravante desenvolver a 
livre concorrência, explorar a propriedade 
parcelar do solo e utilizar as forças produ-
tivas industriais da nação que tinham sido 
libertadas, enquanto no exterior, varreu 
por toda a parte as instituições feudais, 
na medida em que isso era preciso para 
criar a sociedade burguesa em França, o 
ambiente de que ela tinha necessidade no 
continente europeu.
1.6 Era Napoleônica
 Na minha carreira encontrar-se-ão erros, sem dúvida; mas Arcole, Rivoli, as 
Pirâmides, Marengo, Austerlitz, Iena, Friedland [batalhas] são de granito; o dente 
da inveja nada pode contra elas... Eu aterrei o abismo anárquico e pus ordem no 
caos. Eu limpei a Revolução... E depois sobre que poderiam atacar-me de que um 
historiador não pudesse defender-me? Enfim, seria a minha ambição? Ah! Sem 
dúvida, ele encontra-la-á em mim – e muita; mas a maior e a mais alta que talvez 
jamais tenha existido: a de estabelecer, de consagrar o império da razão e o pleno 
exército, o inteiro gozo de todas as faculdades humanas... Em poucas palavras, eis, 
pois, toda a minha história... Milhares de séculos decorrerão antes que as circuns-
tâncias acumuladas sobre a minha cabeça vão encontrar um outro na multidão 
para reproduzir o mesmo espetáculo. 
(BONAPARTE, 1976, p. 124).
1.7 Consulado
As dificuldades que o Diretório enfrentava 
para restabelecer a paz e a confiança da popula-
ção na economia contribuíram decisivamente para 
o Golpe de 18 do Brumário. Logo após o golpe, a 
Assembleia foi dissolvida e o regime do Consula-
do foi implantado. Nessa época, a França vivia em 
grandes dificuldades. A indústria e o comércio es-
tavam com sua capacidade operativa severamente 
comprometida, o serviço público estava desorga-
nizado e a desconfiança da população com o seu 
governo era imensa; por isso mesmo, o movimento 
de emigração só fazia crescer. 
Ao chegar ao poder, Napoleão tomou várias 
medidas para restabelecer a paz para o povo fran-
cês. Vejamos, então, algumas dessas medidas:
 Napoleão Bonaparte nasceu na Córsega, 
em 1769.Estudou na Academia Militar francesa e 
tornou-se personalidade conhecida após a Revolu-
ção de 1789. Com 26 anos de idade já era general 
e comandou o exército francês nas bem-sucedidas 
campanhas contra a Itália e Egito entre os anos de 
1796 e 1797. Foi por isso mesmo uma alternativa 
política para solucionar os problemas que a França 
enfrentava na fase do Diretório. 
 O governo de Napoleão Bonaparte pode ser 
estruturado em três fases, assim divididas: fase do 
Consulado (1799-1804), fase do Império (1804-
1814) e o Governo dos cem dias (1815). A seguir, 
analisaremos as características de cada uma dessas 
fases.
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15
�� paz: adotou uma política de reconcilia-
ção com algumas províncias rebeladas 
(Bretanha e Vendeia), notadamente;
�� segurança: adotou medidas de proteção 
para os transeuntes, inibindo as ações 
dos salteadores nas estradas; 
�� economia: criou o Banco da França, que, 
entre outras funções, passou a ser o res-
ponsável pelo controle de emissão de 
papel-moeda;
�� educação: reorganizou o ensino, com o 
intuito de preparar funcionários para o 
Estado. Os liceus que tinham essa função 
eram organizados em moldes militares;
�� leis : criou o Código Civil, uma reforma 
das leis existentes no país, que atendiam, 
em grande parte, aos interesses da bur-
guesia. Esse código ficou conhecido tam-
bém como Código Napoleônico;
�� religião: elaborou a Concordata, um 
acordo entre a Igreja Católica e o Esta-
do. Por esse acordo, o papa Pio VII reco-
nhecia o confisco dos bens eclesiásticos 
pelo Estado francês. O Estado francês 
reconhecia o catolicismo como religião 
oficial, mas Napoleão indicaria os bispos.
O êxito alcançado por essas medidas aumen-
tou o prestígio de Napoleão junto à população 
francesa. Assim, com apoio quase incondicional da 
população, Napoleão alterou as regras do regime 
do consulado e instaurou, em 1802, o Consulado 
Vitalício, espécie de Monarquia vitalícia, que pas-
sou a ser hereditária em 1804. Podemos, então, 
dizer que Napoleão governou para atender aos in-
teresses da burguesia? Fique atento(a), pois é disso 
que vamos tratar mais adiante. 
1.8 Implantação do Império
A fragilidade sociopolítica vivida pela Fran-
ça nessa época ajudou Napoleão a manipular a 
opinião pública para lhe prestar apoio na implan-
tação do Império. Assim, em 1804, 60% da popu-
lação ratificou em plebiscito o retorno do regime 
monárquico, sendo Napoleão Bonaparte indicado 
para ser o primeiro imperador. Em 2 de dezembro 
daquele ano, Napoleão foi coroado na catedral de 
Notre Dame. 
Napoleão criou um novo staff político, con-
ferindo títulos de nobreza para os seus familiares, 
nomeando-os para cargos de públicos de relevada 
importância, e criou uma nova corte com mem-
bros da elite militar e da alta burguesia. Eram as 
decisões iniciais de um governo que se mostraria, 
com o passar do tempo, ainda mais despótico. 
A escalada autoritária do novo regime ficava 
evidente em cada novo ato. As Assembleias foram 
suprimidas; as Câmaras legislativas perderam suas 
funções; as liberdades individuais foram cerceadas; 
a liberdade de imprensa foi anulada. O controle 
político da sociedade estendeu-se até à educação, 
com a alteração do programa de disciplinas consi-
deradas perigosas para o regime: História e Filoso-
fia. Essas medidas sofreram resistência da burgue-
sia, que reclamava a perda da liberdade e se dizia 
vítima de perseguições políticas.
No âmbito externo, formaram-se Coalizões 
para enfrentar a expansão do Império Napoleô-
nico. Em 1805, formou-se a Terceira Coalizão an-
tifrancesa (Inglaterra, Rússia e Áustria). Em 1806, 
formou-se a Quarta Coalizão (Inglaterra, Rússia e 
Prússia). Napoleão saiu vitorioso de ambas e tor-
DicionárioDicionário
Staff: grupo qualificado de pessoas que assis-
tem um chefe, um dirigente, em organizações 
governamentais ou privadas. Exemplificando: o 
governo faz um remanejamento do staff presi-
dencial para tentar conter a corrupção. 
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nou-se o grande senhor da Europa continental. Os 
territórios que não eram diretamente dominados 
pelo imperador estavam distribuídos entre aliados 
e familiares.
Diante desse quadro, a Inglaterra era a única 
nação europeia que permanecia incólume aos ata-
ques do exército de Napoleônico. Primeiramente, 
porque sua posição insular lhe garantia certa pro-
teção; em segundo lugar, porque tinha a marinha 
mais bem equipada da Europa. Como não podia 
enfrentar diretamente a Inglaterra, Napoleão de-
cretou, em 1806, o Bloqueio Continental, pelo 
qual todos os países do continente europeu teriam 
de fechar os seus portos ao comércio inglês. Com 
essa medida, Napoleão esperava enfraquecer a in-
dústria inglesa, abrindo espaço, consequentemen-
te, para os produtos franceses, que seriam benefi-
ciados sem a concorrência dos produtos ingleses. 
Pode-se dizer que essa medida foi um erro estra-
tégico de Napoleão, uma vez que a indústria fran-
cesa não conseguia suprir todas as necessidades 
do continente, gerando, assim, descontentamento 
entre os aliados. Com o Bloqueio Continental, a se-
cular rivalidade França versus Inglaterra era reacen-
dida, caro(a) aluno(a). 
A aliança entre franceses e russos foi rompida 
em 1812 exatamente por isso, ou seja, a Rússia não 
podia prescindir dos produtos ingleses que abas-
teciam o seu mercado e, sendo assim, rompeu o 
bloqueio e voltou a comercializar com a Inglaterra. 
Napoleão tomou essa medida como um desafio e 
decretou guerra à Rússia no mesmo ano. O pode-
roso exército napoleônico era composto por mais 
de 600 mil soldados e 180 mil cavalos. Chegou a 
ocupar Moscou, mas desgastado e sofrendo com o 
rigoroso inverno começou a sofrer contra-ataques 
do exército russo. Napoleão ordenou, então, a re-
tirada do exército, que chegou à Paris com aproxi-
madamente 40 mil soldados.
O fracasso militar na Rússia encorajou os paí-
ses europeus a formarem a Sexta Coalizão (Prús-
sia, Áustria, Rússia e Inglaterra). Napoleão foi der-
rotado em abril de 1814 e, no mesmo ano, enviado 
à Ilha de Elba e o trono francês foi entregue a Luís 
XVIII, irmão de Luís XVI, que havia sido condenado 
à guilhotina no governo dos jacobinos. Em outros 
momentos da história, caro(a) aluno(a), a Rússia se-
ria também determinante para os rumos das guer-
ras.
1.9 Governo dos Cem Dias
Da Ilha de Elba, Napoleão acompanhava a 
evolução dos acontecimentos e, em 1815, fugiu e 
avançou em direção ao território francês com sua 
guarda pessoal de mil soldados. Ao tomar conhe-
cimento dos fatos, Luís XVIII enviou tropas para 
prender Napoleão, porém, com grande habilidade 
e poder de persuasão, Napoleão convenceu os sol-
dados a aliarem-se a ele. Marchou em direção a Pa-
ris, onde foi recebido aos gritos de “Viva o Impera-
dor!”. Instalou-se novamente no poder, obrigando 
a família real a fugir para a Bélgica. 
Preocupados com os acontecimentos e te-
mendo represálias de Napoleão, os países da Coa-
lizão internacional rapidamente se organizaram na 
Sétima Coalizão. Napoleão e suas tropas foram 
definitivamente derrotados na Batalha de Water-
loo, em junho de 1815. 
Para o historiador Carlos Guilherme Mota 
(1986), o fim da Era Napoleônica não deve ser ex-
plicada exclusivamente pelo fracasso militar. 
 
As razões internas do esvaziamento de 
Napoleão ligam-se basicamente ao fato 
de o regime imperial – uma ditadura, em 
verdade – criar suas próprias oposições. 
Católicos, liberais, realistas e republica-
nos começam a ver em Napoleão a nega-
ção de seus projetos e aspirações. Fora da 
França, ele é o continuador da Revolução 
Francesa; mas dentro, é um déspota nem 
sempre esclarecido. Além disso, o regime, 
fortemente militarista, negava na prática 
as eventuais reformas propostas ou acei-
tas pelo Estado. (MOTA, 1986, p. 155).
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A derrota de Napoleão em Waterloo abriu 
espaço paraa recomposição do mapa europeu, 
que havia sido modificado pela expansão do Im-
pério Napoleônico. O Congresso de Viena (1814-
1815) cumpriu esse papel e representou, ainda, 
uma reação às ideias liberais difundidas pela Re-
volução Francesa no continente. Derrotado, o go-
verno francês teve de se submeter a uma série de 
imposições, entre elas, estava o pagamento de in-
denização aos países vencedores. O Congresso de 
Viena trabalhou, principalmente, para restabelecer 
a ordem existente antes da Revolução Francesa, ou 
seja, pretendia promover a recomposição das mo-
narquias no continente europeu.
Os principais países que participaram do con-
gresso foram: Áustria, Inglaterra, Rússia, Prússia 
e França. Ele foi organizado em torno de três prin-
cípios básicos: 
�� restauração: retorno do absolutismo 
monárquico e recomposição das frontei-
ras conforme situação existente antes da 
Revolução Francesa; 
�� legitimidade: devolução do governo às 
antigas dinastias, que haviam sido de-
postas durante as guerras napoleônicas;
�� equilíbrio europeu: tinha o objetivo de 
preservar a paz no continente europeu 
por meio de uma equivalência de forças 
entre as grandes potências; tinha tam-
bém o objetivo de reprimir a onda liberal 
democrática inaugurada pela Revolução 
Francesa. 
A França, mesmo derrotada, preservou a sua 
integridade territorial, como mostra o mapa a se-
guir. A Rússia anexou parte da Polônia. A Alemanha 
e a Itália seguiram divididas e submetidas ao con-
trole austríaco. Outra curiosidade perceptível no 
mapa é a difusão dos ideais da Revolução Francesa 
com a consolidação de diversas monarquias cons-
titucionais, sinalizando, assim, o enfraquecimento 
do absolutismo no continente. 
1.10 Congresso de Viena
Saiba maisSaiba mais
Criada em 1815, a Santa Aliança tinha por 
objetivo conter a difusão da revolução 
liberal (burguesa), semeada por Napo-
leão. Sua base política estava estruturada 
em duas forças tradicionais: o trono e o 
altar, isto é, a monarquia e a igreja. Tinha 
por finalidade precípua reprimir os mo-
vimentos emancipacionistas, preservan-
do, assim, os privilégios monarquistas. 
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Buscando efetivar o princípio de equilíbrio 
de forças estabelecido pelo Congresso de Viena, o 
Czar russo Alexandre I propôs, em 1815, a criação 
da Santa Aliança, pacto militar firmado entre as 
principais potências europeias e que tinha como 
objetivo central reprimir os movimentos de cunho 
liberal que se propagava pelo continente. 
Fonte: Arruda (2002, p. 72).
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19
1.11 Resumo do Capítulo
Caro(a) aluno(a),
Neste capítulo, aprofundamos nossos conhecimentos sobre a Revolução Francesa e vimos também 
as contribuições que ela legou para as sociedades ocidentais. 
1.12 Atividades Propostas
Caro(a) aluno(a), agora, utilizando argumentos desta apostila, responda:
1. Como estava dividida a França pré-revolucionária? 
2. O que foi o Edito do Máximo?
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21
Caro(a) aluno(a), neste capítulo, estudaremos 
algumas características importantes do século XIX.
O Congresso de Viena decretou o fim do sé-
culo XVIII e deu início ao século XIX. A essa altura 
dos acontecimentos, o processo de industrializa-
ção já estava consolidado e o sistema político repu-
blicano era uma realidade reconhecida e aspirada 
até mesmo pelas colônias. 
O século XIX foi marcado por problemas que 
envolveram princípios nacionalistas, liberais e so-
cialistas. Trataremos desses tópicos a seguir.
A questão do nacionalismo é uma herança 
do Congresso de Viena, que não conseguiu resol-
ver definitivamente as disputas territoriais no con-
tinente, deixando feridas abertas e ressentimentos 
revanchistas que seriam retomados principalmen-
te nos territórios da Alemanha e Itália. Veja, caro(a) 
aluno(a), como a Europa esteve sempre às voltas 
com as questões do nacionalismo.
Em 1848, a Itália estava dividida em vários 
Estados, predominantemente despóticos. Apenas 
o governo de Sardenha possuía uma constituição 
liberal. A burguesia de Sardenha, visando à melho-
ria de seus negócios, incentivava a unificação. Em 
1859, o Conde de Cavour costurou alguns acordos 
políticos com a França para combater as interferên-
cias austríacas no território italiano. Nessa época, 
conseguiu anexar os territórios da Toscana, Parma, 
Lombardia, entre outros. Em seguida, Giuseppe 
Garibaldi recrutou voluntários e formou um exér-
cito com o qual ocupou o reino das Duas Sicílias, 
criando condições para Emanuel II ser proclama-
do Rei da Itália, em 1861. Nesse momento, apenas 
Roma e Veneza resistiam ao movimento de unifi-
cação.
Completada a unificação em 1870, o papa 
Pio IX não aceitava entregar os territórios da Igreja 
Católica e permaneceu na Catedral de São Pedro. 
A inexistência de relações políticas e diplomáticas 
entre a igreja e o Estado na Itália prolongou-se até 
1929. Essa situação ficou conhecida como Ques-
tão de Roma e só foi resolvida com a assinatura 
do Tratado de Latrão (1929), pelo qual o governo 
de Benito Mussolini indenizava a igreja pela perda 
do território de Roma e concedia soberania sobre a 
praça de São Pedro, surgindo, assim, o atual Estado 
do Vaticano.
A Alemanha, depois do Congresso de Vie-
na, ficou dividida em numerosos Estados. Estava, 
assim, fragmentada e sem força política para con-
duzir suas negociações externas em igualdade de 
condições com as potências europeias. Assim, sua 
política exterior passou a ser coordenada por uma 
Assembleia, que se reunia em Frankfurt e tinha a 
Prússia e a Áustria como líderes. Em 1834, os diver-
sos Estados reuniram-se na Confederação Germâ-
nica e criaram a Zollverein. 
Essa política econômica impulsionou o de-
senvolvimento econômico e construiu o discurso 
para o encaminhamento das questões nacionalis-
tas. A Prússia empreendeu a primeira tentativa de 
unificação em 1850 e não obteve êxito, pois ficou 
isolada em seu intento. Na segunda metade do 
século XIX, o rei prussiano Guilherme I nomeou 
Otto Von Bismarck como seu Primeiro Ministro. 
Bismarck organizou um poderoso exército e coor-
denou o processo de unificação da Alemanha. Em 
DicionárioDicionário
Zollverein: política aduaneira que possibilitava a 
livre circulação de mercadorias entre os países 
subordinados à Confederação Germânica.
NACIONALISMO, LIBERALISMO E 
SOCIALISMO NO SÉCULO XIX2
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22
1864, sob a liderança da Prússia, decretou guerra à 
Dinamarca; fez o mesmo com a Áustria, em 1866, e 
com a França, em 1870. Ao final dessas lutas (1871), 
Guilherme I foi proclamado rei da Alemanha, que 
estava finalmente unificada. A unificação criou 
condições para a Alemanha se transformar em 
uma das principais economias da Europa.
2.1 A Comuna de Paris
A derrota da França na Guerra Franco-Prus-
siana gerou uma onda de revoltas em Paris. Enfra-
quecido internamente e temendo a radicalização 
dos movimentos sociais, o governo francês iniciou 
uma onda de negociações com Bismarck. A popu-
lação sitiada em Paris considerou essa negociação 
uma traição e iniciou uma série de revoltas, compli-
cando ainda mais a situação. Em 1871, foi assinado 
um acordo de paz com a Prússia e, no mesmo ano, 
foram realizadas eleições para uma Assembleia Na-
cional, a qual teve perfil notadamente conservador. 
As atividades do parlamento foram transferidas 
para Versalhes. Abandonados pelo governo e bom-
bardeados pelas forças do exército prussiano, os 
populares de Paris organizaram uma frente de re-
sistência denominada Comuna de Paris. Diversas 
correntes ideológicas apoiavam o levante popular, 
as principais eram: os socialistas, os anarquistas e 
os liberais. Em 1871, a frente de resistência popular 
tomou a cidade de Paris e anunciou uma série de 
medidas importantes, entre as quais, destacam-se:
 
�� dissolveu o exército regular e transferiu 
seus poderes paraa Guarda Nacional;
�� as fábricas passaram a ser administradas 
por conselhos de trabalhadores;
�� o voto universal foi restabelecido;
�� aluguéis, alimentos e gêneros de primei-
ra necessidade foram congelados;
�� criaram-se creches e jardins de infância 
para os filhos de trabalhadores. 
O governo conservador francês não conse-
guia enfrentar sozinho os rebelados da Comuna e, 
por isso, requisitou o apoio de Bismarck para com-
bater os rebelados. Convencido de que o exemplo 
da Comuna constituía um perigoso exemplo para a 
Europa, Bismarck aceitou, então, ajudar o governo 
francês. 
Os membros da Comuna eram numerica-
mente inferiores e menos equipados. Assim, o exér-
cito apoiado por tropas prussianas chegou a Paris 
em maio de 1871, derrotando os últimos focos de 
resistência ao restabelecimento da antiga ordem. 
Mais de 20 mil representantes da Comuna foram 
executados e outros 40 mil foram deportados para 
colônias francesas. O sonho de um governo popu-
lar chegara ao fim.
2.2 Liberalismo
O pensamento liberal começou a ser formu-
lado a partir da obra do filósofo inglês John Locke 
(1632-1704), que se notabilizou pela grande defesa 
da liberdade.
Locke, Hobbes e Rousseau são comumente 
lembrados como os pais da teoria contratualista, 
ou seja, a necessidade de um contrato social para a 
constituição da sociedade civil. Apesar de conver-
girem na defesa do contrato social, há na concep-
ção de cada um desses pensadores uma maneira 
diferente de representar o poder. Para Locke, o po-
der político estava localizado no legislativo e todos 
os demais poderes deveriam ficar subordinados a 
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ele, só assim, o poder não seria determinado pe-
las condições de nascimento. Hobbes, por sua vez, 
defende que o executivo deveria ser soberano e os 
demais poderes deveriam, então, estar submetidos 
a ele. Rousseau vai além e defende que o poder so-
berano é aquele que está localizado na vontade do 
povo; esse poder é o único verdadeiramente ina-
lienável. 
Locke defende que, no Estado de Natureza, 
a terra era comum a todos e o homem desfrutava 
dela segundo as suas necessidades. A ideia de pro-
priedade privada nasce exatamente quando o ho-
mem passa a trabalhar essa terra para retirar dela 
algo além daquilo que estava sendo oferecido a ele 
por meios naturais. É o trabalho, portanto, que fun-
damenta o direito de propriedade. 
Os homens criam o Estado Social (ou estado 
político) através de um Contrato Social. Para ser le-
gítimo, o contrato social deve ter o consentimen-
to da comunidade. Cada membro da sociedade 
abdica, portanto, sem reservas, de todos os seus 
direitos em favor do bem comum da comunida-
de. Rousseau assim esclarece essa situação: “[...] 
este ato de associação produz, em lugar da pessoa 
particular de cada contratante, um corpo moral e 
coletivo composto de tantos membros quanto são 
os votos da assembléia e que, por esse mesmo ato, 
ganha sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua 
vontade.” (ROUSSEAU, 1973, p. 39).
 O ser social abdica, portanto, de sua liber-
dade e torna-se parte de um todo na composição 
do bem comum. A sociedade civil fundamenta-se, 
então, por meio de acordos, que tornam possível o 
seu funcionamento. O bem comum é regulamen-
tado pelas leis instituídas por meio de uma vonta-
de coletiva e pela liberdade que o indivíduo agora 
tem de opinar e contestar.
Montesquieu (1689-1755) é outro pensador 
que também contribuiu para a consolidação do 
pensamento liberal. Investigando as relações das 
leis com os governos, Montesquieu conclui que os 
governos são temporais e as leis são atemporais; 
por isso, não são patrimônio nem reserva moral 
deste ou daquele governo, precisando ser preser-
vadas para além da vontade individual deste ou 
daquele governante. 
Montesquieu observa que, para alcançar 
essa isenção, o governo precisa ser orientado por 
um constitucionalismo, pelo qual se busca distri-
buir a autoridade por meios legais, de modo a 
evitar o arbítrio e a violência, práticas comuns nos 
Estados Absolutistas. Perseguindo os objetivos de 
uma sociedade em que os poderes seriam auto-
controlados, Montesquieu afirma que “só o poder 
feria o poder”, daí a necessidade da separação dos 
poderes. 
Quando na mesma pessoa ou o mesmo 
corpo de magistratura o poder legislati-
vo está reunido ao poder executivo, não 
existe liberdade, pois pode-se temer que 
o mesmo monarca ou o mesmo senado 
apenas estabeleçam leis tirânicas para 
executá-las tiranicamente. 
Não haverá também liberdade se o poder 
de julgar não estiver separado do poder 
legislativo e do executivo. Se estivesse li-
gado ao poder legislativo, o poder sobre 
a vida e a liberdade dos cidadãos seria ar-
bitrário, pois o juiz seria legislador. Se es-
tivesse ligado ao poder executivo, o juiz 
poderia ter a força de um opressor. 
Tudo estaria perdido se o mesmo homem 
ou o mesmo corpo dos principais, ou dos 
nobres, ou do povo, exercesse esses três 
poderes: o de fazer a leis, o de executar as 
resoluções públicas e o de julgar os crimes 
ou as divergências dos indivíduos. (MON-
TESQUIEU, 1973, p. 156). 
Adam Smith (1723-1790), economista inglês, 
é considerado o pai do liberalismo econômico. Em 
seu livro Riqueza das nações, defende a ideia de 
que a economia funciona por leis próprias, como se 
houvesse uma “mão invisível” a dirigi-la. Foi um fer-
renho crítico do monopólio comercial e do sistema 
colonial, pois para ele somente os mercadores ga-
nhavam com essa prática. Divergiu dos fisiocratas 
ao defender que o trabalho era a verdadeira fonte 
de riqueza das nações e que deveria ser conduzido 
pela livre-iniciativa particular. 
Preconizava que as relações econômicas de-
veriam ser regulamentadas pelo mercado sem a 
interferência do Estado. As funções básicas do Es-
tado, segundo Smith, eram:
Rafael Lopes Sousa
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24
�� proteger a sociedade dos inimigos exter-
nos;
�� estabelecer regras para os indivíduos se 
protegerem mutuamente;
�� fornecer condições para a execução de 
obras públicas indispensáveis para a so-
ciedade. 
A ideia de que o Estado não deveria interfe-
rir na economia foi, contudo, colocada em xeque 
quando veio a crise de 1929. Frente às dificuldades 
que a iniciativa privada encontrava para superar 
a crise, o Estado interveio, adotando medidas de 
proteção social. John Maynard Keynes foi o gran-
de incentivador de um novo modelo de Estado e 
conseguiu convencer o presidente Franklin Dela-
no Roosevelt a tornar o Estado mais atuante.
Na década de 1980, a grande presença do 
Estado na vida econômica da sociedade passou a 
ser severamente criticada pelos neoliberais (neo= 
novo), que voltaram a defender o ideal de um Es-
tado minimalista, cuja ação se restringe ao poli-
ciamento, justiça e defesa nacional. Nessa mesma 
década, os governos de Reagan e depois Bush, nos 
Estados Unidos, e Margareth Thatcher, na Ingla-
terra, iniciaram um processo de enxugamento do 
Estado, que culminou na política de privatização 
dos organismos estatais e na abolição da reserva 
de mercado. 
2.3 O Nascimento do Socialismo
Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier 
(1772-1837), Robert Owen (1771-1858) e Louis 
Blanc figuram entre os principais representan-
tes do socialismo utópico. Saint-Simon projetou 
as bases de uma nova sociedade, que teria como 
princípio o coletivismo solidário dos produtores. 
Nessa sociedade, todos produziriam e o governo 
de alguns homens sobre os outros seria substituí-
do pela administração conjunta do coletivismo so-
lidário. Charles Fourier defendia uma nova ordem 
social, baseada na organização dos falanstérios. 
Ocorreram diversas tentativas de criação de 
falanstérios na França e nos Estados Unidos, todas 
fracassaram. Robert Owen era um industrial parti-
dário das ideias socialistas, por isso tentou implan-
tar em sua fábrica alguns princípios trabalhistas 
propugnados pelos socialistas, como redução da 
jornada de trabalho,aumento de salários e adoção 
de mecanismos para a melhoria das condições de 
vida dos operários. Todas essas experiências fracas-
saram diante das resistências conservadoras de sua 
época. Foi um dos idealizadores das trade unions, 
associação de trabalhadores que daria origem aos 
sindicatos. Louis Blanc pregava a igualdade social 
que poderia ocorrer se o Estado se apropriasse de 
todo o sistema econômico.
DicionárioDicionário
Falanstérios: comunidades socialistas em que 
seria abolida a divisão trabalho e cada homem 
desenvolveria ao máximo o seu talento em prol 
do coletivo.
História Contemporânea
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2.4 Socialismo Científico
Em 1848, a Europa era varrida por uma nova 
onda de revoluções, que, pela primeira vez, contava 
com a participação direta da classe operária. Nes-
se mesmo ano, ocorreu a publicação do Manifesto 
Comunista, dando, assim, origem ao socialismo 
científico. Basicamente, suas ideias repousavam 
nos seguintes princípios: a História da humanidade 
sempre foi marcada pela exploração de uma clas-
se social sobre o outro – senhor e escravo, patrício 
e plebeu, nobre e servo, mestre de corporação e 
companheiro; daí a luta de classes ser a principal 
responsável pelas transformações da sociedade. 
O pensamento marxiano surgiu com a so-
ciedade moderna, com a grande indústria e com o 
proletariado industrial. Surgiu como a concepção 
de teórica para expressar esse mundo moderno em 
suas contradições e em seus problemas e encami-
nhou soluções racionais para a superação dos con-
flitos existentes em contraposição às alternativas 
metafísicas e utópicas dos pensadores anteriores. 
Despindo o véu da ilusão utópica, afirma que 
a igualdade somente seria alcançada se o proleta-
riado vencesse a burguesia, impondo a ditadura 
do proletariado. O estado proletário se apropria-
ria, então, dos bens de produção (máquinas, terras, 
capital), conduzindo a sociedade para a igualdade 
total – o comunismo, último estágio da evolução 
histórica. 
Para Marx, as principais teorias desenvolvidas 
pelos “utópicos” tinham como traço comum a sim-
plificação das contradições sociais da sociedade 
burguesa. Em sua maioria, percebia-se a elimina-
ção do individualismo, da competição e da influên-
cia da propriedade privada. Tratava-se, por isso, de 
descobrir um sistema novo e perfeito de ordem 
social apenas pela boa vontade do ser social. Com 
essa formulação, os “utópicos” desconsideravam a 
necessidade da luta política entre as classes sociais 
e o papel revolucionário do proletariado na cons-
trução dessa nova sociedade. 
Depois de debater com os “utópicos”, Marx 
concentrou suas forças para enfrentar criticamen-
te os economistas clássicos ingleses, em particular 
Adam Smith e David Ricardo. Esse trabalho tomou 
a atenção de Marx até o final da vida e resultou na 
maior parte de sua obra teórica. 
Essa trajetória foi marcada pelo desenvolvi-
mento de conceitos importantes, como alienação, 
ideologia, valor, mercadoria, trabalho, mais-valia e 
infraestrutura. Vamos examinar alguns deles a se-
guir. 
2.5 Resumo do Capítulo
Caro(a) aluno(a),
Neste capítulo, estudamos o nacionalismo do século XIX, o liberalismo e a unificação da Itália e da 
Alemanha. 
Rafael Lopes Sousa
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26
A partir do que foi estudado neste capítulo, responda:
1. Para Adam Smith, quais eram as funções fundamentais do Estado?
2. O que foi a Questão Romana?
2.6 Atividades Propostas
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27
É um pensamento materialista, que parte do 
objetivo para o subjetivo. A realidade é o campo de 
ação do homem. A realidade social é, porém, obra 
dos próprios homens. A história é, pois, feita pelos 
homens, mas não a partir das condições que dese-
jariam e sim a partir da herança deixada pelas ge-
rações passadas. É um pensamento dialético, que 
busca nas intervenções humanas e em suas contra-
dições as explicações para a sociedade. 
Pode-se dizer, então, que é um pensamen-
to que não se limita em interpretar o mundo, mas 
busca também transformá-lo. Até o advento do 
marxismo, não havia nenhuma descrição nem ex-
plicação científica da divisão social que acompa-
nhava a humanidade desde os primórdios.
3.1 Infraestrutura
Para Marx, a sociedade se estrutura em níveis. 
O primeiro desses níveis é a infraestrutura, que é 
constituída por uma base econômica. A base eco-
nômica é, segundo Marx, o aspecto fundamental 
de toda sociedade, pois é a responsável pela trans-
formação de matérias-primas e fontes de energia 
em riqueza. A infraestrutura engloba, então, a rela-
ção do homem com a natureza, no esforço de pro-
duzir a sua própria existência. 
Assim, cada grande etapa do desenvolvimen-
to das forças produtivas corresponde a uma forma 
de organização da sociedade diferente. Por exem-
plo, no século XVIII, os agentes daquela sociedade 
fizeram uma mudança na técnica: com as mesmas 
matérias-primas e ferramentas que usavam os ar-
tesãos individualmente, agruparam operários em 
grandes oficinas, nas quais cada grupo destes fa-
zia uma parte da produção total, que até então era 
feita separadamente por cada artesão. Essa nova 
técnica ficou conhecida como manufatura e subs-
tituiu a fase doméstica da produção. 
O segundo nível é chamado superestrutura 
e é constituído de uma base jurídico-política, que é 
representada pelo estado, que repercute as ideias 
da classe dominante. É composto também por 
uma estrutura ideológica, repercutida nas formas 
de consciência social, entre as quais, destacam-se: 
a religião, a educação, a arte e as leis. Por esses me-
canismos, a classe dominada acaba sendo sujeita-
da ideologicamente e seus valores de vida passam 
a refletir as ideias e valores da classe dominante.
Ao viver em sociedade, os homens partici-
pam da produção, da distribuição e do consumo 
de bens e serviços, ou seja, participam da vida eco-
nômica da sociedade, transformando a natureza e, 
consequentemente, transformando também a sua 
vida. O trabalho é, pois, o grande motivador da vida 
em sociedade. Trabalho para Marx é, então, toda 
atividade desenvolvida pelo homem num esforço 
concentrado de transformação da natureza para 
produzir os seus meios de subsistência. Ainda que 
a sociedade capitalista queira fazer diferenciações, 
o trabalho será sempre a combinação do esforço fí-
sico com a capacidade intelectual. Exemplificando: 
o trabalho de um operário é mais manual do que 
intelectual; ainda assim, exige um mínimo de esfor-
ço intelectual. O trabalho de um arquiteto é mais 
intelectual que manual, mas, ainda assim, a sua ati-
O MÉTODO DO 
PENSAMENTO MARXISTA3
Rafael Lopes Sousa
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vidade tem um aspecto manual, que é a passagem 
da concepção de suas ideias para o papel.
As relações que os homens estabelecem en-
tre si para a sua subsistência são definidas por Marx 
como relações de produção. Essas relações existem 
em todas as sociedades e se dão entre os proprie-
tários dos meios de produção, de um lado, e os tra-
balhadores, de outro.
No Brasil colonial, por exemplo, o trabalho 
era praticamente todo realizado por escravos. As 
relações de produção eram, portanto, relações 
escravistas. Atualmente, praticamente todo traba-
lho é realizado por trabalhadores assalariados. Os 
meios de produção, por sua vez, estão nas mãos de 
empresas particulares. Essas relações de produção 
caracterizam o capitalismo.
A organização e o funcionamento da socie-
dade estão, pois, diretamente associados com as 
relações de produção. São essas relações, também 
chamadas modos de produção, por Karl Marx, que 
permitem distinguir um tipo de sociedade de ou-
tro. 
3.2 Luta de Classes
A História da humanidade sempre foi a his-
tória da luta de classes; a divisão da sociedade em 
classes seria definida por fatores de ordem econô-
mica e, sobretudo, pela existência da propriedade 
privada. Os interesses antagônicos constituem a 
base do conflito entre as classessociais. Esses confli-
tos se manifestaram, ao longo da história da huma-
nidade, sob formas diferenciadas. Na Antiguidade, 
a luta acontecia entre patrícios e plebeus; na Idade 
Média, entre senhores e servos. No início dos tem-
pos modernos, o choque ocorreu entre nobreza e 
burguesia e, finalmente, na época contemporânea, 
a luta se trava entre burguesia e proletariado. A luta 
entre burguesia e proletariado se transformou na 
característica principal da sociedade capitalista, co-
locando frente a frente os proprietários dos meios 
de produção e os detentores da força de trabalho.
3.3 A Mais-Valia
Segundo Marx, a causa determinante dessa 
luta está na estruturação da sociedade, na explora-
ção indefinida dos operários pelos burgueses. No 
sistema capitalista, está tudo vinculado à produção 
de mercadoria. Mercadoria, para Marx, é tudo aqui-
lo que é produzido não tendo em vista o valor de 
uso (por exemplo, o cachecol que a vovó faz para 
o próprio uso), mas o valor de troca, isto é, a comer-
cialização do produto.
Como o operário não detém os meios de pro-
dução nem é dono das matérias-primas, precisa 
necessariamente vender seu trabalho para sobre-
viver. O capitalista compra essa mercadoria, isto 
é, a força de trabalho do operário, que passa a tra-
balhar para o capitalista num regime de trabalho 
aparentemente livre. Como vendeu sua força de 
trabalho ao capitalista, todo produto por ele criado 
pertence ao capitalista que o paga pelo trabalho 
realizado. Ocorre que o pagamento nunca corres-
ponde ao tempo trabalhado; por exemplo, se o 
operário gastou quatro horas para fazer uma ca-
deira, o capitalista lhe paga apenas duas, as outras 
duas horas ficam para o capitalista. Chama-se mais-
-valia, portanto, aquilo que o operário cria além do 
valor de sua força de trabalho e que é apropriado 
pelo capitalista. 
Analisando as consequências da mais-valia 
para a vida do trabalhador, Chauí (1980, p. 50-51) 
argumenta:
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o preço da mercadoria no comércio é uma 
aparência, pois a determinação do valor 
dessa mercadoria depende do tempo de 
trabalho de sua produção e esse tempo o 
dos demais trabalhadores que tornaram 
possível a fabricação desse mercadoria. 
[...] o produtor da mercadoria recebe um 
salário, que é o preço de seu tempo traba-
lho, pois este é também uma mercadoria. 
Suponhamos, então, que, para fabricar um 
metro de linho e para extrair um quilo de 
ferro, os trabalhadores precisem de 8 ho-
ras de trabalho. Suponhamos que o preço 
desses produtos no mercado seja de R$ 
16,00. Diremos, então, que cada hora de 
trabalho equivale a R$ 2,00. Porém, quan-
do vamos verificar qual é o salário desses 
trabalhadores, descobrimos que não rece-
bem R$ 16,00, mas sim R$ 8,00. Há, portan-
to, 4 horas de trabalho que não foram pa-
gas, apesar de estarem incluídas no preço 
final da mercadoria. Essas 4 horas de tra-
balho não paga constituem a mais-valia, o 
lucro do proprietário da fabrica de linho. 
Formam seu capital. A origem do capital, 
portanto, é o trabalho não pago. Graças à 
mais-valia, a mercadoria não é um valor de 
uso e um valor de troca qualquer, mas um 
valor capitalista.
Marx sistematizou essas reflexões em sua 
obra máxima, O capital, em que analisa detalhada-
mente o funcionamento do sistema capitalista e 
mostra como suas próprias contradições produzi-
riam a sua crise estrutural.
Através do conceito da mais-valia, Marx de-
monstrou que o capitalismo se baseia na explora-
ção do trabalho, como verificamos anteriormente 
e que agora exemplificamos com outra ordem de 
pensamento: 
O sistema capitalista se ocupa da pro-
dução de artigos para a venda, isto é, de 
mercadorias. O valor de uma mercadoria 
é determinado pelo tempo de trabalho 
socialmente encerrado na sua produção. 
O trabalhador não possui os meios de pro-
dução (terras, ferramentas, fábricas etc.), 
que pertencem ao capitalista. O valor de 
sua força de trabalho, como o de qual-
quer mercadoria, é o total necessário a 
sua reprodução - no caso, a soma neces-
sária para mantê-lo vivo. Os salários que 
lhe são pagos, portanto, serão iguais ape-
nas ao necessário a sua manutenção Mas, 
esse total que recebe, o trabalhador pode 
produzir em parte de um dia de trabalho. 
Isso significa que apenas parte do dia de 
trabalho o trabalhador estará trabalhando 
para si. O resto do dia, ele está trabalhan-
do para o patrão. A diferença entre o que 
o trabalhador recebe de salário e o valor 
da mercadoria que produz é a mais-valia. 
A mais-valia fica com o empregador – o 
dono dos meios de produção. É a fonte do 
lucro, dos juros, das rendas – as rendas das 
elas classes que são proprietárias. A mais-
-valia é também a medida da exploração 
do trabalhador no sistema capitalista. (HU-
BERMAN, 1984, p. 232-233).
Ao patrão o que interessa é o aumento 
constante da mais-valia, porque assim seus lucros 
também aumentam. Para fazer isso, o capitalista 
usa algumas formas básicas, como, por exemplo, 
aumentando ao máximo a jornada de trabalho – 
mais-valia absoluta –, de modo que, depois de o 
operário ter produzido o valor equivalente ao de 
sua força de trabalho, possa continuar trabalhan-
do muito tempo mais; essa forma de obter maior 
quantidade de mais-valia é muito conveniente ao 
capitalista, porque ele não aumenta seus gastos 
nem em máquinas nem em locais e consegue um 
rendimento muito maior da força de trabalho. Era 
o método mais utilizado no começo do capitalis-
mo. Mas, não se pode prolongar indefinidamente a 
jornada de trabalho. Existem limites para isso: limi-
tes físicos – porque, se o operário trabalha durante 
muito tempo, não pode descansar o suficiente que 
dê para refazer sua força de trabalho na forma devi-
da, produzindo um esgotamento intensivo e, logo, 
uma baixa no rendimento, o que não interessa ao 
patrão – e limites históricos – porque, à medida 
que o capitalismo foi se desenvolvendo, a classe 
operária também se desenvolveu, se organizou e 
começou a lutar contra a exploração capitalista. 
Através de árduas lutas, a classe operária foi conse-
guindo reduzir a jornada de trabalho, obrigando o 
capitalista a buscar outras medidas para aumentar 
a mais-valia. Então, para isso, o patrão teve de lançar 
mão de outras formas para fazer com que o operá-
rio produzisse mais, reduzindo o tempo de trabalho 
Rafael Lopes Sousa
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necessário – mais-valia relativa –, sem reduzir a jor-
nada de trabalho: introduzindo máquinas mais mo-
dernas, incentivando a produtividade etc. 
Portanto, segundo Marx, a exploração do tra-
balhador não decorre do fato de o patrão ser bom 
ou mau e sim da lógica do sistema: para o empre-
sário vencer a concorrência entre os demais produ-
tores e obter lucros para novos investimentos, ele 
utiliza-se da mais-valia, que constitui a verdadeira 
essência do capitalismo. Sem ela, este não existe. 
No entanto, a exploração do trabalho acabaria por 
levar, por efeito da tendência decrescente da taxa 
de lucro, ao colapso do sistema capitalista.
3.4 Ideologia
A palavra ‘ideologia’ carrega vários significa-
dos e é usada para diferentes finalidades. “A ideolo-
gia é – de qualquer maneira – o processo pelo qual 
as idéias da classe dominante se tornam idéias de 
todas as classes sociais, se torna idéias dominan-
tes.” (CHAUÍ, 1980, p. 92).
A ideologia tem, então, influência marcante 
na conformação social da sociedade capitalista, 
pois ajuda a ocultar suas contradições. Ela tem, 
pois, a função de apagar as diferenças, como as de 
classe, oferecendo referenciais universais para a 
unificação da sociedade.
Nesse sentido, é interessante notar que a 
ideologia trabalha para a naturalização das contra-
dições sociais, justificando e criando condições para 
a aceitação de determinadas situações aparente-
mente naturais, mas que, na verdade, são produ-
tos da intervenção humana. Um exemplo disso é a 
ideia da divisão de classes da sociedade capitalista, 
isto

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