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AT 1 2 32 S U M Á R IO 3 INTRODUÇÃO 4 UNIDADE 1 - Didática, metodologia, saber e fazer docentes, o ponto de partida para uma prática pedagógica significativa 10 UNIDADE 2 - Prática pedagógica - da teoria à prática 10 2.1 Conceitos e definições 12 2.2 Particularidades da prática pedagógica: ser política e bancária 14 2.3 Concepções de prática pedagógica – conhecer para criticar e aplicar 16 UNIDADE 3 - A prática pedagógica no cotidiano da escola – o currículo em ação 17 3.1 Planejamento 18 3.2 Prática pedagógica – o currículo em ação 20 UNIDADE 4 - A prática pedagógica numa perspectiva interdisciplinar 20 4.1 Termos básicos 21 4.2 Dimensões estratégicas para acontecer a interdisciplinaridade 23 UNIDADE 5 - Usando as tecnologias da informação e comunicação 24 5.1 As múltiplas tecnologias 25 5.2 WebGincana (WG) 27 UNIDADE 6 - Prática pedagógica na área empresarial 30 UNIDADE 7 - Prática pedagogica na área hospitalar 33 UNIDADE 8 - Trabalhando com educação do campo e EJA 37 REFERÊNCIAS 2 33 INTRODUÇÃO Sendo ‘prática pedagógica’ uma ativi- dade pedagógica planejada e colocada em ação, definição mais concisa encontrada e que ao mesmo tempo nos abre um leque de interpretações, evidentemente que nos cabe ‘destrinchar’, ‘esmiuçar’ essa definição. É assim que iremos caminhar neste módulo, falaremos sobre método, ins- trumento, didática, conteúdo, currículo, planejamento (que envolve o como, quais recursos, quanto tempo, quais objetivos, entre outros), saberes docentes, as carac- terísticas para que a prática pedagógica seja efetiva, as suas perspectivas multi, trans e interdisciplinar, as dimensões para que aconteça numa prática interdiscipli- nar, afinal de contas, o mundo vem cami- nhando assim e nossos “futuros cidadãos” precisam ser críticos, criativos, inovadores, conscientes e justos. Como disse Libâneo (2001), a Pedagogia enquanto ciência tem por objeto de estu- do a educação que é o processo de ensino e aprendizagem, portanto, ao Pedagogo, cabe interessar-se pela prática educativa, que faz parte da atividade humana e da vida social do indivíduo. Assim, a educação busca transformar os seres humanos nos seus estados físicos, mentais, espiritu- ais, culturais, dando configuração à nossa existência humana individual e coletiva. Cardoso (1995, p. 48) também destaca que educar significa utilizar práticas peda- gógicas que desenvolvam simultaneamen- te razão, sensação, sentimento e intuição e que estimulem a integração intercultural e a visão planetária das coisas, em nome da paz e da unidade do mundo. Por isso, a educação – além de transmitir e construir o saber sistematizado – assume um senti- do terapêutico ao despertar no educando uma nova consciência que transcenda do eu individual para o eu transpessoal. Enfim, o que devemos considerar en- quanto educadores é uma perspectiva in- tegradora, uma concepção de prática pe- dagógica que visualize o conceito integral de educação, que promova o aperfeiçoa- mento humano (MATOS, 2010). Desejamos uma boa leitura a todos, que sejam perspicazes, que sejam observadores e críticos de suas próprias práticas e bus- quem a transformação social de seus alunos. Duas observações se fazem necessárias antes de iniciarmos nosso caminhar: Em primeiro lugar, sabemos que a escri- ta acadêmica tem como premissa ser cien- tífica, ou seja, baseada em normas e pa- drões da academia. Pedimos licença para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira cla- ra e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original. Ao final do módulo, além da lista de refe- rências básicas, encontram-se muitas ou- tras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. 4 54 UNIDADE 1 - Didática, metodologia, saber e fazer docentes, o ponto de partida para uma prática pedagógica significativa A didática tem uma história mais que secular, principalmente se pensarmos que ao longo de sua existência o homem sempre aprendeu e ensinou, mas teórica e conceitualmente, a didática tem início cerca de 200 anos atrás quando, pelas ne- cessidades do capitalismo1, vimos o surgi- mento das instituições sociais que objeti- vavam transmitir conhecimentos. Podemos definir didática sob duas perspectivas: campo de saber ou ramo de conhecimento ou uma ciência com objeto próprio e como uma disciplina dos cursos de formação de professores (tanto que já tivemos um momento específico para ela. Aqui, grosso modo, nosso objetivo é tecer algumas teias, algumas relações entre as ferramentas usadas para edificar o co- nhecimento). A didática é uma disciplina que integra teoria e prática, ou seja, ela ordena e pro- move a estrutura de ambas em função do ensino, tendo como fundamentos contri- buições da Psicologia, da Filosofia e da So- ciologia que são áreas do conhecimento que lançam luz sobre a complexidade da prática pedagógica. Os objetivos da Didática são: refletir sobre o papel sociopolítico da educação, da escola e do ensino; compreender o pro- cesso de ensino e suas múltiplas deter- minações; instrumentalizar pela teoria o futuro professor para captar e resolver os problemas postos pela prática pedagó- gica; redimensionar a prática pedagógica através da elaboração da proposta de en- sino numa perspectiva crítica de educa- ção (OLIVEIRA, 1995). Como diz Libâneo (1994 p. 26), a didá- tica converte objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino, se- leciona conteúdos e métodos em função desses objetivos e estabelece os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades mentais dos alunos. Fazendo um recorte temporal, foi a partir dos anos 1990 que a didática veio se tornando instrumento para a coope- ração entre docente e discente, para que realmente ocorresse a apropriação dos processos de ensinar e de aprender. Para isso, é importante o comportamento de ambos para que o conhecimento realmen- te aconteça, tanto que aparece o caráter questionador do aluno em uma nova rela- ção baseada nas indagações do contradi- tório (TONIAZZO, 2009). Eis que devemos mencionar Paulo Frei- re e sua “Pedagogia do Oprimido” com ideias novas... ‘propor uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver a criti- cidade dos alunos’. Seria a tendência pro- gressista da educação! O trabalho pedagógico, além de didáti- ca, exige uma metodologia, certo?! 1- Das relações nômades à produção feudal pouco mudou, mas destas últimas que tinham como característica um trabalho conser- vador, baixa produtividade e uso de técnicas rudimentares houve a substituição de um novo sistema econômico, motivado pela neces- sidade da nobreza em ampliar seus negócios, pelo desenvolvimento do comércio e das cidades, pelo fortalecimento de novos modos de produção com o trabalho livre e assalariado e o surgimento de uma nova classe social: a burguesia. Esse novo sistema econômico, o capitalismo, marcou um novo momento na história da humanida- de, haja vista que a individualidade, a igualdade e a liberdade do homem foram geradas por novas necessidades, novas concepções de mundo e novos valores e eis que a educação formal mudou seu foco para atender tais demandas e aí temos um ponto de partida do desenvolvimento da didática. 4 55 Etimologicamente, considerando a sua origem grega, a palavra metodologia ad- vém de methodos, que significa meta (ob- jetivo, finalidade) e hodos (caminho, inter- mediação), isto é: caminho para se atingir um objetivo. Por sua vez, logia quer dizer conhecimento, estudo. Assim, metodolo- gia significaria o estudo dos métodos, dos caminhos a percorrer, tendo em vista o al- cance de uma meta, objetivo ou finalidade. Então: a metodologiado ensino seria o estudo das diferentes trajetórias traça- das/planejadas e vivenciadas pelos edu- cadores para orientar/direcionar o proces- so de ensino-aprendizagem em função de certos objetivos ou fins educativos/for- mativos (CARRAHER et al, 2012). Simplificando: é a aplicação de diferentes métodos no processo ensino-aprendiza- gem, é escolher um caminho a seguir. Esse caminho pode seguir pelo método tradicio- nal, o construtivismo, o sociointeracionis- mo, o método montessoriano, entre outros, que implicarão em técnicas diferentes. Vilarinho (1985, p. 52) cita três modalidades básicas de métodos de ensino. Métodos de ensino individualizado: a ênfase está na necessidade de se atender às diferenças individuais, como por exem- plo: ritmo de trabalho, interesses, neces- sidades, aptidões, entre outras, predomi- nando o estudo e a pesquisa, o contato entre os alunos é acidental. Métodos de ensino socializado: o objetivo principal é o trabalho de grupo, com vistas à interação social e mental proveniente dessa modalidade de tarefa. A preocupação máxima é a integração do educando ao meio social e a troca de ex- periências significativas em níveis cogni- tivos e afetivos. Métodos de ensino socioindividuali- zado: procura equilibrar a ação grupal e o esforço individual, no sentido de promo- ver a adaptação do ensino ao educando e o ajustamento deste ao meio social. Relembremos as diversas técnicas de ensino, expostas no quadro abaixo. Técnica Estudo Dirigido Ensino por fichas Instrução programada Aplicação Estimular método de estudo e pensamento reflexivo. Levar a autonomia intelectual. Atender a recuperação de estudos. Revisão e enriquecimento de conteúdos Apresentação de informações em pequenas etapas e sequência lógica. Fornece recompensa imediata e reforço. Permite que o aluno caminhe no seu ritmo próprio. Método Individualizado 6 7 Ensino por módulos Leva o estudante a responsabilidade no desempenho das tarefas propostas. Propõe ao aluno os objetivos a serem atingidos e variadas atividades para alcançar esses objetivos. Técnica Discussão em pe- quenos grupos Estudo de casos Discussão 66 ou Phillips 66 Painel Painel Integrado Grupo de cochicho Discussão dirigida Brainstorming Seminário Aplicação Troca de ideias e opiniões face a face. Resolução de problemas. Busca de informações. Tomada de decisões. Revisão de assuntos. Estímulo à ação. Troca de ideias e conclusão. Definir pontos de acordo e desacordo. Debate, consenso e atitudes diferentes (assuntos polêmicos). Troca de informações. Integração total (das partes num todo). Novas oportunidades de relacionamento. Máximo de participação individual. Troca de informações. Funciona como meio de incentivação. Facilita a reflexão. Solução conjunta de problemas. Participação de todos. Criatividade (Ideias originais). Participação total e livre. Estudo aprofundado de um tema. Coleta de informações e experiências. Pesquisa, conhecimento global do tema. Reflexão crítica. Método Socializado 6 7 Simpósio GVGO ou Grupo na Berlinda Entrevista Diálogo Palestra Dramatização Divisão de um assunto em partes para estudo. Apresentação de ideias de modo fidedigno. O grupão faz a conferência do que foi apresentado. Verbalização. Objetividade na discussão de ideias. Capacidade de análise e síntese. Troca de informações. Apresentação de fatos, opiniões e pronunciamentos importantes. Intercomunicação direta. Exploração, em detalhe, de diferentes pontos de vista. Exposição menos formal de ideias relevantes. Sistematização do conteúdo. Comunicação direta com o grupão. Representação de situações da vida real. Melhor rendimento e compreensão dos elementos. Técnica Método de Projetos Método de problemas Unidades didáticas Unidades de Experiências Pesquisa como atividade discente Aplicação Realiza algo de concreto. Incentiva a resolução de problemas sugeridos pelos alunos. Exige trabalho em grupo e atividades individuais. Desenvolve o pensamento reflexivo. Desenvolve o pensamento científico. Compreensão do “todo” a ser estudado. Incentivo ao aluno e a criatividade, flexibilidade nas atividades. Permite organização do conteúdo aprendido. Aplicação dos conceitos teóricos na prática. Permite ao aluno uma análise crítica e a reconstrução da experiência social. Desenvolve o gosto pelo estudo científico. Leva o aluno a distinguir a pesquisa pura da aplicada. Utiliza-se de diversas técnicas de coleta de dados. Utiliza-se do método científico. Método Sócio - Individualizado 8 9 Até o momento, temos duas ferramen- tas nas mãos: sabemos o que é e para que servem a didática e metodologia, inclu- sive temos algumas técnicas que podem ser usadas de acordo com cada contexto e situação. Como podemos avançar para o saber/ fazer docente e a prática pedagógica efe- tiva e significativa? Podemos relacionar o saber fazer do- cente com o professor prático-reflexivo, termo este idealizado por Donald Schön (1997). O professor reflexivo é aquele que pen- sa no que faz, que é comprometido com a profissão e se sente autônomo, capaz de tomar decisões e ter opiniões. Ele é, sobre- tudo, uma pessoa que atende aos contex- tos em que trabalha, os interpreta e adap- ta a própria atuação a eles e os contextos educacionais são extremamente comple- xos e não há um igual ao outro, podemos ser obrigado a, numa mesma escola e até numa mesma turma, utilizar práticas dife- rentes de acordo com o grupo. Portanto, se o professor não tiver capacidade de anali- sar, vai se tornar um tecnocrata. Como diz Magalhães (2008), os bons profissionais lançam mão de uma série de estratégias não planejadas, cheias de criatividade, para resolver problemas no dia a dia, então, nós temos aí uma associa- ção complexa entre ciência, técnica e arte. Segundo a autora acima, é o que Do- nald Schön defendeu: quem age em situ- ações instáveis e indeterminadas, como é o caso de quem leciona, tem de ter muita flexibilidade e um saber fazer inteligente, uma mistura disso tudo, pois a experiên- cia conta muito, mas tem de ser amadu- recida. E sob esta perspectiva, surge nas últimas décadas uma tendência denomi- nada genericamente de formação de pro- fessores reflexivos, fazendo um profun- do exame da situação atual da docência e indicando, bem como praticando, novos caminhos, não mais separando de forma drástica a formação inicial da continuada, tendo como referencial a prática docen- te, ou seja, é colocar hoje em prática uma lição que sabemos de cor e Schön identi- fica nos bons profissionais uma brilhante combinação de ciência, técnica e arte. É esta dinâmica que possibilita o professor agir em contextos instáveis como o da sala de aula. O processo é essencialmente metacognitivo, onde o professor dialoga com a realidade que lhe fala, em reflexão permanente. Ao analisar a construção da prática pe- dagógica do professor, Lopes (2010) tam- bém pondera que o trabalho docente é mediado pela prática pedagógica que se constrói e se reconstrói com novos conhe- cimentos e novas experiências. Igualmente para Brito (2006, p. 51): “o pensamento do professor, constrói-se, pois, com base em suas experiências indi- viduais e nas trocas e interações com seus pares”. É nesse sentido que os saberes docentes se incorporam à prática peda- gógica, proporcionando ao professor mais clareza e mais segurança para demandar, não só o ensino, mas também suas traje- tórias de desenvolvimento profissional. No título da unidade falamos em didá- tica, metodologia, saberes e fazeres do- centes como ponto de partida para uma prática pedagógica significativa, mas até o momento não relacionamos essa prática não é verdade? 8 9 Na verdade, queremos fazer uma ana- logia com aprendizagem significativa. Grosso modo, aprendizagem quer dizer adquirir um novo conhecimento, mas este pode ser mecânico ou significativo. Novak (2000) explica que o conheci- mento, quando produto de aprendizagem mecânica, por ter restrita a sua capaci- dadede utilização em novas situações, não garante autonomia intelectual para a ação do indivíduo. A aprendizagem sig- nificativa, ao contrário, favorece a cons- trução de respostas para problemas nun- ca vivenciados e leva tanto à capacitação humana quanto ao compromisso e à res- ponsabilidade. Lemos (2011, p. 29) nos explica que o significado de aprendizagem significati- va aponta para o papel do professor e do aluno no processo de ensino e de aprendi- zagem. Ou seja, se a aprendizagem signi- ficativa de um determinado corpus de co- nhecimento instrumentaliza o indivíduo para intervir com autonomia na sua rea- lidade, é essencial que o professor este- ja comprometido com a aprendizagem do aluno e este, por sua vez, com sua própria aprendizagem (...). O bom ensino é aque- le que, tendo sido organizado em função das especificidades do conhecimento que se deseja aprendido e do seu público alvo, garantiu o compartilhamento de significa- dos captados (GOWIN, 1981 apud LEMOS, 2011) e favoreceu a ocorrência de apren- dizagem significativa por parte do aluno. Neste processo, professor e aluno têm responsabilidades distintas. O pri- meiro deve: a) Diagnosticar o que o aluno já sabe sobre o tema. b) Selecionar, organizar e elaborar o material educativo. c) Verificar se os significados comparti- lhados correspondem aos aceitos no con- texto da disciplina. d) Reapresentar os significados de uma nova maneira, caso o aluno não tenha ain- da captado aqueles desejados. O aluno, por sua vez, tem a respon- sabilidade de: a) Captar e negociar os novos significa- dos. b) Aprender significativamente. Então: prática significativa passar por uma receita que não existe de verdade... mas experiência, inovação didática, qua- lificação profissional, reflexão, troca de saberes são elementos que você, profes- sor, deve estar atento ao longo de sua ca- minhada nesse processo de educação que não se encerra no final de um ano letivo. 10 1110 UNIDADE 2 - Prática pedagógica - da teoria à prática Vejam que resposta ampla, abran- gente e didática dada por uma profes- sora acerca de ‘prática pedagógica’: são as ações que usamos para ensi- nar, desde como preparar uma aula, com qual técnica de metodologia usar, pode ser construtivismo, ou téc- nica de transmissão cultural, ou pode ser outras formas, nas quais decidi- mos, quais habilidades, e quais com- petências, queremos que os alunos desenvolvam, isso desde a escolha dos temas a serem estudados, como será abordado o tema na sala, se usamos power-point, só giz e lousa, ou se trazemos modelos, de plásti- co pedagógicos, se usamos aulas de laboratórios, seja de química, ou de eletricidade, ou de informática, ou se plantamos uma horta de verdade, ou se usamos todos juntos, se usa- mos passeios a museus, empresas, a zoológicos, parques, jardins botâni- cos, para estudar os seres vivos, por exemplo, ou o museu de língua portu- guesa, se usamos provas escritas, ou chamada oral, ou provas práticas, ou trabalhos escritos, ou jogral, ou peças teatrais encenadas, para trabalhar os conceitos, e para avaliar os conhe- cimentos aprendidos dos alunos, es- sas são algumas formas de práticas pedagógicas, existem várias outras, citei as mais conhecidas, usuais. Mas tem mais coisas para dizer, tem ou- tras práticas, específicas, para cada área, de medicina, enfermagem, de administração, de desenho, música, de hotelaria, de artes cênicas, por exemplo, cada área tem suas práticas pedagógicas e uma forma diferencia- da de abordar cada tema, de avaliar cada habilidade ensinada e aprendi- da pelos alunos, pois cada área tem habilidades específicas, e gerais, co- muns a outras áreas. 2.1 Conceitos e definições A prática pedagógica do professor bus- ca preparar o docente para a vida em socie- dade diante das diversas transformações sociais, econômicas, políticas e culturais, fazendo com que estas mudanças acele- radas que vivemos diariamente sejamos sempre levados a adquirir competências novas, pois é o meio em que vivemos e as relações que estabelecemos uns com os outros que criam a unidade básica de nossas ações e transformações. Com isso, a prática pedagógica deve ser dinâmica, a fim de preparar os alunos, agentes ativos e formativos, para ampla realidade social que os cerca (SOUSA; SOUZA, 2012). Para Gimeno Sacristan (1999), é a ação do professor no espaço de sala de aula, ou seja, a prática pedagógica vai acontecer efetivamente quando o professor assumir a função de guia reflexivo, isto é, quando ele passa a iluminar as ações em sala de aula e a interferir significativamente na construção do conhecimento do aluno. Ao realizar essa tarefa, o professor pro- porciona reflexões sobre a prática peda- gógica, pois, parte-se do pressuposto de que ao assumir a atitude problematizado- ra da prática, modifica-se e é modificado, gerando uma cultura objetiva da prática educativa (TOZETTO; GOMES, 2009). 10 1111 A prática educativa é o produto final a partir do qual os profissionais adquirem o co- nhecimento prático que eles poderão aper- feiçoar (GIMENO SACRISTAN, 1999, p. 73). Na perspectiva da escola enquanto instituição social, a prática pedagógica é uma prática social específica, de caráter histórico e cultural que vai além da prática docente, relacionando as atividades didá- ticas dentro da sala de aula, abrangendo os diferentes aspectos do projeto peda- gógico da escola e as relações desta com a comunidade e a sociedade (SILVA; RA- MOS, 2006). Caetano (1997) afirma que, a prática compreende um campo de ambivalências e conflitos, no qual cada profissional se confronta consigo mesmo, com os alunos, com os colegas, com a comunidade esco- lar, com as normas institucionais (escolas e sistemas). Caldeira e Zaidan (2010, p. 21) ressal- tam que a Prática Pedagógica é entendida como uma prática social complexa, acon- tece em diferentes espaço/tempos da es- cola, no cotidiano de professores e alunos nela envolvidos e, de modo especial, na sala de aula, mediada pela interação pro- fessor-aluno-conhecimento. Nela estão imbricados, simultaneamente, elementos particulares e gerais. Os aspectos parti- culares dizem respeito: ao docente – sua experiência, sua corporeidade, sua formação, condições de trabalho e escolhas profissionais; aos demais profissionais da escola – suas experiências e formação e, também, suas ações segundo o posto profissional que ocupam; ao discente – sua idade, corporeidade e sua condição sociocul¬tural; ao currículo; ao projeto político-pedagógico da es- cola; ao espaço escolar – suas condições materiais e organização; à comunidade em que a escola se in- sere e às condições locais. Machado (2005) cita que os compor- tamentalistas entendem a prática peda- gógica como a atividade exclusivamente observável e que gere uma atividade con- creta, cujos resultados possam ser regis- trados, comprovados. Os cognitivistas entendem a prática pedagógica como a atividade que desenvolva o raciocínio do educando e que o leve a resolver proble- mas. Os humanistas validam todo o pro- cesso de ensino-aprendizagem, priorizan- do as relações humanas. Ao se questionar qual fundamentação deveria ser prioridade para a prática pe- dagógica, a autora explica que, se forem combinadas, todas têm espaço e impor- tância, relembrando que é preciso saber de antemão se esse foco estaria na ativi- dade do professor, do aluno ou da qualida- de da atividade propriamente dita. Apesar de concordarmos que da prática pedagógica fazem parte conhecimento, professor e estudante, ela vai além, como vimos demonstrando, ela é um processo social que envolve alguns princípios da dialética enumerados por Gadotti (2010). São eles: “totalidade”, na qual o todo e as par- tes se relacionam; “movimento”, que considera a dina- 12 13 micidade dos processos; “mudança qualitativa”, que possibili- ta observar os movimentos do micro para o macro, e vice-versa; e, “contradição”, capaz de captarao mesmo tempo unidade e luta de opostos. Em última análise, podemos afirmar que a prática pedagógica é influenciada pelos aspectos conjunturais e estrutu- rais da sociedade brasileira. A conjuntura pode ser visualizada nos aspectos da ges- tão educacional, do desenvolvimento das propostas curriculares, dos programas so- ciais – a exemplo do Bolsa Escola –, políti- cas de cotas, entre outros. A estrutura é marcada pelas relações sociais de classe, de desigualdades e de concentração de renda, além das dimensões da dominação do campo da política internacional e dos processos decisórios que geram impactos na esfera escolar (SOUZA, 2005). 2.2 Particularidades da prá- tica pedagógica: ser política e bancária De uma maneira geral, uma prática pe- dagógica é uma ação que está envolvida em um processo social. Sim, ela envolve uma dimensão educativa, mas nem sem- pre na esfera ou num ambiente escolar. Ao contrário, por ser uma prática social, ela perpassa os muros da escola e parti- cipa da dinâmica das relações sociais que produzem aprendizagens, que por sua vez, produzem o “educativo”. Podemos falar que a prática pedagó- gica é política e bancária. Vejamos o en- tendimento e as justificativas propostas por alguns autores como Brandão (2003) e Souza (2005), esta última, a qual en- tende que tanto as relações econômicas e sociais interferem na prática pedagó- gica quanto esta, igualmente, possibilita mudanças de rumo nas mesmas relações econômica-sociais, desde que educador e educando estejam plenamente envolvi- dos no processo de aprendizagem. Como diz Brandão (2003, p. 7), ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja, ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação (...) A educação existe onde não há a escola e por toda parte podem haver redes e es- truturas sociais de transferência de saber de uma geração a outra, onde ainda não foi sequer criada a sombra de algum mo- delo de ensino formal e centralizado. Por- que a educação aprende com o homem a continuar o trabalho da vida (2003, p. 13). Souza (2005) cita os movimentos so- ciais de trabalhadores, os quais produzem uma prática pedagógica, que é social, ten- do como conteúdos centrais a política, a estratégia de negociação, a organização, a definição de objetivos, a articulação com outras organizações sociais, desen- volvendo teias ou redes de informação e ação política. Como diz Giroux (1997, p. 163): Essencial para a categoria de intelec- tual transformadora é a necessidade de tornar o pedagógico mais político e o político mais pedagógico. Tornar o pedagógico mais político significa inserir a escolarização diretamente na esfera da política, argumentan- do-se que as escolas representam 12 13 tanto um esforço para definir-se o significado quanto uma luta em tor- no das relações de poder [...] Tornar o político mais pedagógico signifi- ca utilizar formas de pedagogia que incorporem interesses políticos que tenham natureza emancipadora [...]. A prática pedagógica expressa ainda as atividades rotineiras que são desenvol- vidas no cenário escolar. Podem ser ati- vidades planejadas com o intuito de pos- sibilitar a transformação ou podem ser atividades bancárias, tendo a dimensão do depósito de conteúdo como caracte- rística central. Em se tratando de uma atividade ban- cária, termo lançado por Paulo Freire, o qual ainda lhe faz inúmeras críticas, por definição seria aquela atitude autoritária e opressiva sobre alunos que se encon- trariam passivos e apenas receptivos dos conteúdos e informações que o professor neles depositaria. Este modelo tende a apresentar o professor como alguém que exerce um papel arbitrário sobre o grupo de alunos, os quais estão inteiramente inertes. Dessa forma, a prática de se en- sinar conteúdos e informar os alunos para que a aprendizagem seja realizada vem sendo entendida como uma atitude tirâ- nica e opressora que deve ser banida das escolas (LINS, 2011). Paulo Freire (1987) expressou inú- meras críticas à educação que denomina bancária, assim como elaborou uma pro- posta de educação libertadora, voltada para a transformação social e, portanto, centralizada no sujeito histórico que pro- duz, apropria e vive a educação, localizado numa determinada situação no mundo. “Educação bancária” ainda vem sendo usada de maneira aleatória/eventual por alguns educadores. Ela não é dialógica, não é também democrática e muito me- nos condiz com nossa realidade do século XXI, afinal de contas, não basta mais a re- lação: educador ensina, educando apren- de, ao contrário: mediar, motivar, propor discussões, estar aberto são as ações que se fazem necessárias para que tanto edu- cadores quanto educandos encontrem seu lugar no mundo. A verdade é que as mudanças sociais e culturais pelas quais vimos passando tem as contribuições das novas tecnologias de informação e comunicação. A possibilidade da circulação da infor- mação em tempo real é um avanço, ain- da que a maioria da população brasileira não tenha acesso à Internet. Os terminais bancários foram informatizados, fazendo emergir novas facetas educacionais. To- das as pessoas estão codificadas, seja via carteira de identidade, seja via cartão de crédito, dentre inúmeras senhas que vão sendo acopladas aos processos de iden- tificação social, com fins mercadológicos e financeiros. Também, o fortalecimento das temáticas identitárias e aquelas rela- cionadas ao direito à diferença conquista- ram espaço na sociedade, via articulação dos movimentos e organizações sociais. A violência é outro tema presente no campo social e cultural. Por um lado, há a divulga- ção da violência como uma característica cotidiana e rotineira na sociedade brasi- leira. Por outro lado, as reflexões sobre as penalidades e as medidas que deveriam ser tomadas ganham os bancos escolares, os movimentos sociais, evidenciando as mazelas de uma sociedade com concen- tração de renda expressiva e excessiva (SOUZA, 2005, p. 2). 14 15 Na direção da educação bancária, que não alongaremos as discussões agora, basta lembrarmos como foram positivas as contribuições de Paulo Freire para o campo da educação de jovens e adultos. Não ser reprodutora de uma sociedade injusta para com grupos minoritários e ir além, ser transformadora, levando todos a serem justos para com o outro, trabalhan- do para que todos os cidadãos tenham os mesmos direitos, seria muita utopia? Deixamos para vocês essa reflexão e essa possível resposta. 2.3 Concepções de prática pedagógica – conhecer para criticar e aplicar Em trabalho reflexivo sobre a prática pedagógica centrada na perspectiva in- terdisciplinar, enfocando as contribuições no processo ensino-aprendizagem, Silva e Ramos (2006) falam que as concepções de educação traduzidas em tendências, estão subjacentes nas práticas dos pro- fessores, no processo ensino-aprendiza- gem adotado, caracterizando-se sob os enfoques tradicional, técnico, prático e crítico/reflexivo. a) O enfoque tradicional centra-se no ensino enciclopédico, nele o professor é um transmissor de conhecimentos e da cultura acumulada pela humanidade, além do domínio da estrutura epistemo- lógica da disciplina, faz-se necessário o domínio das técnicas didáticas de base expositiva dos conteúdos organizados para um aluno modelo (ideal) e a avalia- ção exige mera repetição do conteúdo que geralmente é cobrado do aluno ape- nas a memorização. b) No enfoque técnico da prática do- cente, a relevância reside na instrumenta- lização do professor, na técnica aplicada. A atividade do professor exige conheci- mentos da ciência básica ou da disciplina ensinada, conhecimento das técnicas que possibilitam definir os procedimentos específicos de diagnósticos e solução de problemas do ensino-aprendizagem. c)No enfoque prático, a ênfase centra- -se no desenvolvimento de competências técnicas e atitudes que se apropriam do conhecimento básico e aplicado. Cabe ao professor com o desenvolvimento de tais competências intervir na prática orienta- do pela especialização. d) O enfoque crítico-reflexivo busca-se na reflexão, tomadas de decisão ou con- fronto entre ideias conceitos e concep- ções, afim de reconstruir as ações, opor- tunizando ao professor desenvolver-se como profissional, a partir da consciência dos seus saberes, habilidades, atitudes e afetos, consolidando valores, princípios e interesses na construção do conheci- mento, considerando uma demanda plu- ral imposta pelo contexto sociopolítico e econômico. A partir desses conceitos acima abor- dados que norteiam a prática pedagógica, convém lembrar o que ressalta Pérez Gó- mez (1995), quando afirma que a forma- ção do professor vai além da metodologia e construção de conhecimento. Ele preci- sa assumir uma postura dinâmica e refle- xiva, para responder às novas exigências de mudanças de caráter subjetivo e obje- tivo na ressignificação da sua identidade profissional. A prática docente, nesta perspec- tiva, engloba todas as práticas que 14 15 defendem um ensino e aprendizagem como atividade crítica, histórica, re- flexiva em que pressupõe do profes- sor uma emancipação, autonomia de análise execução de suas ações e exi- ge que O professor adquira uma bagagem cultural explicitamente política e social; o desenvolvimento de capa- cidades de reflexão crítica capaz de perceber os processos de exclusão, ainda que ocultos sob a ideologia do- minante, e o desenvolvimento de ati- tudes que promovam o comprometi- mento do professor (ROMANOWSKI; SANTOS, 2003). Nessa ótica, compreende-se que a prá- tica pedagógica do professor perpassa pela construção de sua identidade, res- peitando as dimensões ético-políticas do processo ensino-aprendizagem, os valo- res que regem a intencionalidade educati- va, uma escola democrática, a construção do currículo com participação docente in- telectual, criativa, crítica, dinâmica e inte- gradora. A partir dessa premissa, o professor precisa ser capaz de distinguir e julgar si- tuações humanas, complexas, incertezas e singulares, reconstruindo as estruturas do pensamento em situações de aula. Refletindo sobre essa prática pedagó- gica na perspectiva desses pensadores, percebe-se que eles se afastam das abor- dagens que identificam o ensino como uma ciência, uma técnica uma atividade profissional de fundamentos na raciona- lidade exclusivamente epistemológica. Portanto, eles argumentam em favor de uma racionalidade concreta, que permite ser alimentada por saberes contingentes, mutáveis e cheios de lacunas oriundas da vivência, da experiência e da vida. Neste sentido, os professores precisam ampliar seu mundo de ação e de reflexão, ultrapassando os limites da sala de aula, transcendendo para um espaço de análise do sentido político, cultural e econômico, cujo contexto, a escola, se insere. A par- tir dessa tomada de consciência, surge a necessidade de aspiração à emancipação que se interpreta como a construção das conexões entre a realização da prática profissional e o contexto social amplo em transformação (SILVA; RAMOS, 2006). 16 1716 UNIDADE 3 - A prática pedagógica no coti- diano da escola – o currículo em ação Das explanações que fizemos até o momento, esperamos que esteja claro que a prática pedagógica do professor busca preparar o docente para a vida em sociedade diante das diversas transfor- mações sociais, econômicas, políticas e culturais, fazendo com que nestas mu- danças aceleradas que vivemos diaria- mente, sejamos sempre levados a adqui- rir competências novas, pois é o meio em que vivemos e as relações que estabe- lecemos uns como os outros que criam a unidade básica de nossas ações e trans- formações. Com isso, a prática pedagó- gica deve ser dinâmica, a fim de preparar os alunos, agentes ativos e formativos, para ampla realidade social que os cerca (SOUSA; SOUZA, 2012). Dentre as variáveis que estão impli- cadas na prática pedagógica, Caldeira e Zaidan (2010) citam sua experiência, sua corporeidade, sua formação, condições de trabalho e escolhas profissionais, além de outras que falamos ao longo das unidades anteriores. Esses aspectos são apenas al- guns exemplos de elementos que influen- ciam as ações docentes nas salas de aula e as relações que estabelecem com os de- mais atores do sistema escolar. Claro que o respeito aos saberes dos alunos deve ser observado sem- pre, tanto que Freire (2002, p .33) re- força que ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. Para ele, o profes- sor, e, especificamente as escolas, têm o dever de respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo das classes populares, chegam ao ambiente escolar, visto que esses sa- beres são construídos na prática co- munitária. Esta afirmativa permeia o desafio de pensar a formação docen- te e o professor como um intelectual transformador, capaz de repensar e reestruturar a ação docente, pois, na prática pedagógica, diferentes sa- beres são utilizados: multifacetados, plurais e heterogêneos. Evidente que não dá para “elaborar” um plano de aula para cada aluno, mas sendo o planejamento flexível, o professor tem possibilidade de fazer as adaptações ne- cessárias, de parar, voltar, tomar um cami- nho diferente quando necessário. Eis que podemos citar algumas competências dos professores, que, por conseguinte, irão estimular o de- senvolvimento de competências nos seus alunos. Organizar e dirigir situações de apren- dizagem. Ser muito bom na seleção dos conte- údos a serem ensinados, elegendo-os de acordo com os objetivos da aprendizagem. Trabalhar a partir das representações dos alunos. Trabalhar a partir dos erros e dos obs- táculos da aprendizagem. Construir e planejar dispositivos e sequências didáticas e envolver os alu- nos em atividades de pesquisa, em pro- jetos de conhecimento (ANTUNES, 2001, p. 37-41). 16 1717 3.1 Planejamento Não podemos nos furtar a falar do pla- nejamento que tem vários elementos bá- sicos envolvidos. Planejar quer dizer estabelecer priori- dades necessárias quando temos um pro- pósito, já definido, a realizar. Também podemos definir como um pro- cesso que objetiva bem distribuir no tem- po e no espaço os recursos disponíveis, dentro de uma sequência lógica de neces- sidades, a fim de possibilitar a elaboração de meios para alcançar o desígnio. Planejamento é a seleção e identifica- ção dos objetivos globais, de longo prazo, de uma organização, dos vários cursos de ações possíveis em termos de custo e efe- tividade ou benefícios relativos, de modo a facilitar aos executores a decisão dos cursos em ação a serem adotados para atingir os referidos objetivos. Apesar de termos três modalidades bá- sicas de planejamento: o plano da escola, o plano de ensino e o plano de aulas, vamos centrar nossos esforços no último, que é a forma predominante de organizar o pro- cesso de ensino. É na aula que o professor organiza ou cria situações docentes, isto é, as condições e meios necessários para que os alunos assimilem ativamente co- nhecimentos, habilidades e desenvolvem suas capacidades cognoscitivas (LIBÂ- NEO, 1994, p. 241). Em outras palavras, o planejamento didático parte do currículo para os pro- gramas, deste para os planos de curso, de curso para a unidade, e deste para o plano de aula. Ao elaborar seu planejamento didático, o professor deve enumerar os objetivos que tem em vista, selecionando-os con- forme prioridade e viabilidade de execu- ção. Esta primeira etapa permite ao do- cente prever os resultados que pretende alcançar. Para que o planejamento seja efi- ciente, o professor deve conhecer seus alunos, afinal de contas, ele é o centro do processo educativo. Mais uma vez reforçamos: estejam atentos para a população- -alvo e para o contexto sócio-econômico--cultural deles; respeite os limites impostos pela re- alidade; atentem para os interesses, motiva- ções e igualmente para o estágio do co- nhecimento em que se encontram. São elementos básicos do planeja- mento: a) Aluno que deve ser percebido como um sujeito concreto no tempo e espaço, síntese de múltiplas determinações um sujeito real, com o qual a escola necessita trabalhar da melhor maneira possível. b) Professor deve ser percebido, apesar de todas as dificuldades da situação atual do ensino, como profissional responsável pela educação escolar autoridade compe- tente, profissional responsável pelo en- sino-aprendizagem através da mediação entre o educando e os conteúdos de en- sino contextualizado politicamente com a realidade. c) Os objetivos devem refletir os pon- tos de chegada da educação escolar, sen- do definidos a partir das necessidades dos 18 19 educandos e dos compromissos políticos do grupo de educadores, a definição dos objetivos deve resultar da reflexão dos educadores em torno da realidade em que estão inseridos, pois propiciam o surgi- mento dos reais objetivos com os quais o grupo de educadores deseja se compro- meter. d) Os conteúdos são conhecimentos produzidos e acumulados historicamen- te pela humanidade, que devem ser de- mocratizados através da educação esco- lar, de forma organizada e coerente. São meios utilizados pelos educadores para a instrumentalização do cidadão-educan- do, para o enfrentamento do mundo, atra- vés de: - SABER PARA SI – a propriação dos sa- beres para instrumentalizá-lo para uma prática social objetiva; - SABER FAZER – tradução do saber apreendido, pela prática profissional crí- tica; - SABER PARA SER – articulação dinâ- mica daquilo que o sujeito “sabe para si” e o “saber fazer” em posições, atitudes, diante das contradições do mundo – cida- dania plena. e) A metodologia é o processo pelo qual o educador utiliza diferentes procedimentos, técnicas e recursos para a mediação entre o educando e os conteúdos de ensino. f) A avaliação é muito importante, e na medida que não se torne um fim em si mesmo, trata-se de um recurso que deve ser utilizado e colocado a favor da apren- dizagem do aluno, e não como instrumen- to de opressão e punição. É preciso que a escola desenvolva uma atitude mais edu- cativa em relação à avaliação. Um processo de ensino competente – bem preparado e desenvolvido – reduz, sensivelmente, os tradicionais problemas de avaliação do aluno. É preciso, pois, que se recuperem instrumentos e técnicas de avaliação mais desafiantes e eficien- tes que funcionem como apoio para uma aprendizagem que efetivamente instru- mentalize o cidadão para a prática social. g) A relação professor-aluno, ou seja, relação profissional entre o educador e o educando, em que o primeiro atua como mediador entre o aluno e os conteúdos do ensino, também é elemento primordial no processo de planejamento. A relação humana deve ser respeitosa, saudável, amigável, cordial e clara entre ambos, desviando do autoritarismo, para assumir um caráter de autoridade competente (LI- BÂNEO, 1994). 3.2 Prática pedagógica – o currículo em ação Não há dúvidas que a prática pe- dagógica é a dimensão em que o cur- rículo se expressa e ninguém mais estudioso do assunto do que Gimeno Sacristan (2000, p. 201) para nos fa- lar a respeito: é na prática que todo projeto, toda ideia, toda intenção se faz realidade de uma forma ou outra; manifesta- -se, adquire significação e valor, in- dependentemente de declarações e propósitos de partida. E, desse modo, o currículo é a ponte en- tre teoria e ação, concretizado por meio do ensino que se realiza em resposta a uma necessidade que é a de pensar, planejar, or- ganizar ações que levem o aluno a aprender. 18 19 Nesse sentido, Veiga (2006) também co- loca que ensinar é trabalho laborioso que envolve elementos articulados sobre os quais já vimos citando ao longo do módulo: o professor, o aluno e o conhecimento. Voltando à questão do currículo em ação, lembremos que ele é diferente do currículo formal e do currículo oculto, pois ele é aquilo que efetivamente acontece nas salas de aula e nas escolas e falar dele é, portanto, sair da ideia de que uma pro- posta curricular só pode ser entendida com uma relação de conteúdos programáticos padronizados com a finalidade de atender a um saber sistematizado universal. Esse currículo sofre influências da pós- -modernidade, de valores, lutas e postu- ras um tanto que avançadas para alguns dos educadores, mas que estão aí, são questões contemporâneas, não podemos fugir delas, portanto, a hora é de reno- var, de reorganizar a escola e fazer valer as histórias não-contadas pelos livros, é aceitar as diferenças e dialogar com elas, é comprometer-se com atitudes solidárias e democráticas, necessárias a um mundo mais justo e mais humano. E eis que podemos partir para a prática numa perspectiva interdisciplinar, última parada nessa viagem sem fim, antes de propormos práticas em vários dos possí- veis campos de atuação. 20 2120 UNIDADE 4 - A prática pedagógica numa perspectiva interdisciplinar Apesar de em outro momento do cur- so já termos falado sobre as várias face- tas do currículo, acreditamos que reforçar essas dimensões ajudarão a contribuir no momento de escolher as técnicas, os mé- todos, enfim, o percurso que irão seguir para que proporcionem uma aprendiza- gem efetiva e significativa e mais, que, como já dito, proporcionem ao aluno a ca- pacidade de conviver em uma sociedade que está em constantes mudanças. Eles precisam tornar-se construtores de seu conhecimento, sujeitos ativos do processo no qual a sensibilidade e razão sejam seus companheiros de viagem, pre- cisam dominar formas de raciocínio não mais lineares como antigamente enfim, necessitam desenvolver comportamen- tos e aprendizagem diferentes da lógica racional (SILVA; RAMOS, 2006). Não vamos nos alongar, mas vamos aos conceitos ou às formas possíveis de arti- cular diversas disciplinas! 4.1 Termos básicos a) Pluri ou multidisciplinaridade – enfoca a proximidade, a justaposição de várias disciplinas sem a tentativa de síntese. Pressupõe que várias disciplinas podem ser reunidas; porém, essa reunião não implica nem que elas tenham o mes- mo objeto de estudo e tampouco que par- tilhem qualquer tipo de relação sobre esse objeto. Isto é, na escola, os alunos podem estudar a China em geografia, os espor- tes olímpicos em educação física, o comu- nismo em história, sem que as disciplinas tenham um planejamento conjunto ou as abordagens metodológicas estipulem co- nexões entre os temas abordados. Em re- sumo, a interação entre as disciplinas não é relevante (KRAUSZ, 2011). b) Interdisciplinaridade – consiste na síntese dialética das disciplinas, instau- rando um novo nível de linguagem, uma nova forma de pensar e agir, caracteriza- dos por relações, articulações e mobiliza- ções de conceitos e metodologias. Dois ou mais campos do saber estão reunidos e voltados para a análise e verificação do mesmo objeto de estudo. Os professores fazem um planejamento conjunto com objetivo de propor discussões que levem os alunos a estabelecer relações entre o que estão pesquisando nas diversas dis- ciplinas em relação a um tema em ques- tão. No trabalho interdisciplinar, uma área enriquece o conhecimento sobre a outra e o resultado é a construção de um saber mais complexo e menos fragmen- tado, que buscará trazer mais nexos para o estudante, visto que será pesquisado e discutido sob diferentes pontos de vista (KRAUSZ, 2011). c) Transdisciplinaridade – refere-se a axionomia convergente, busca de valo- res comuns, é o reconhecimento da inter- dependência das áreas de conhecimento. O prefixo trans quer dizer aquilo que está entre, através e além. Nesse sentido, um ensino transdisciplinar não se restrin- ge nem à simples reunião das disciplinas nem à possibilidade de haver diálogo en- tre duas ou mais disciplinasporque ultra- passa sua dimensão. Faz com que o tema pesquisado passe pelas disciplinas, porém 20 2121 sem ter como objetivo final o conheci- mento específico dessa mesma disciplina ou a preocupação de delimitar o que é o seu objeto ou o que é de outra área inter- -relacionada. A transdisciplinaridade se preocupa com a interação contínua e inin- terrupta de todas as disciplinas num mo- mento e lugar (KRAUSZ, 2011). Entretanto, trabalhar com atividades integradas não é um modismo, mas o en- contro com as adversidades, que exigem uma nova compreensão da concepção de interdisciplinaridade. Segundo Fazenda (2001), a inter- disciplinaridade se expressa em: uma atitude interdisciplinar – é compreensão e vivência do movimen- to dialético, é rever o velho para torná- -lo novo e admitir que há sempre algo de velho no novo, velho e novo são faces da mesma moeda; parceria – pressupõe um diálogo en- tre diferentes atores e formas de conhe- cimento, trata-se de uma consolidação da intersubjetividade, um pensar que se completa no outro; na totalidade do conhecimento – consiste em respeitar as especificidade, na forma de pensar com intencionalidade, numa ação conjunta, baseada nos aspec- tos teórico-metodológicos que embasam o fazer pedagógico. 4.2 Dimensões estratégicas para acontecer a interdisci- plinaridade Para acontecer a interdisciplinaridade, é preciso instrumentalizar o professor através de vivências práticas, no sentido de que ele possa contemplar diferentes dimensões consideradas estratégicas para o saber fazer interdisciplinar. Silva e Ramos (2006) citando Fazenda (2001), ressaltam a importância do pla- nejamento da atividade interdisciplinar, o qual envolve a tríade: necessidade, in- tenção e cooperação de modo, que o mo- vimento gerado tenha como propósito, a construção da cidadania e exercício da au- tonomia pessoal. A necessidade diz respeito ao contex- to da escola e envolve múltiplos aspectos e diferentes dimensões da vida social. A intenção gesta do projeto pedagógico da escola, da projeção e planejamento das atividades que possibilitem a constru- ção do conhecimento, e se manifesta na atitude, no refazer, rever, reconstruir em vista de sua característica formadora e científica. A cooperação se dá a partir da intenção por confrontar posicionamen- tos, interrogações da realidade, veicular concepções de valores e, principalmente, transpor os diferentes campos do conhe- cimento. A prática interdisciplinar constitui-se de um trabalho coletivo e solidário que exige a descentralização do poder e uma efetiva autonomia do sujeito, seu exercí- cio envolve competências docentes, tais como: perceber-se interdisciplinar; contextualizar os conteúdos; valorizar o trabalho em parceria; desenvolver atitude de pesquisa; valorizar e dinamizar a comunicação; resgatar o sentido de humano; e, 22 2322 trabalhar com a pedagogia de projetos. A partir do delineamento dessas com- petências, define-se o eixo integrador que deve articular as várias disciplinas, tendo em vista a aprendizagem signifi- cativa para o aluno. A realização da ati- vidade planejada inclui: textos, seminá- rios, visitas, entrevistas, estudo de caso, oportunizando ao aluno a problematiza- ção da realidade, construção de conheci- mento e desenvolvimento de habilidades para intervenção da mesma. Na etapa fi- nal, apresenta-se os resultado em forma de produções escritas, seminários, sim- pósios, painéis e exposições (SILVA; RA- MOS, 2006). Que tal a partir desse momento, ver- mos algumas ideias, algumas sugestões de como trabalhar na prática? E fiquem à vontade para acrescentar, modificar os planos exemplificativos. A aula é de vo- cês, levem alegria e conhecimento aos seus alunos, mantenha-os motivados para a vida! 22 2323 UNIDADE 5 - Usando as tecnologias da infor- mação e comunicação Evolução e revolução são dois processos bem conhecidos de nós seres humanos, não é verdade?! E na medida em que os anos vão caminhando nos surpreendemos cada vez mais com nossa própria capacida- de de criação, inovação, adaptação... Do século XX em que a maioria de nós nasceu para esses poucos 15 primeiros anos do século XXI, a velocidade com que inovamos tecnologicamente também é evento que ainda nos espanta. E nesse campo, parece que quanto mais jovem se é, mais se têm desejos e ímpetos de re- novar, criar, desafiar e inovar que muitas vezes nós professores nos sentimos ver- dadeiros sujeitos pré-históricos, essa é a verdade. Por isso, precisamos estar sem- pre ‘antenados’ para que não sejamos um ‘peso morto’ em sala de aula, aquele que não ‘sabe nada’ ou ‘pouco sabe’ em termos de tecnologia. Gravar as aulas, fotografar as lousas, são situações que pouco tempo atrás não cogitávamos e hoje está realmente difí- cil frear essa comodidade oferecida por celulares, smartphones, tablets. Além, é claro, da necessidade de pensarmos ‘duas vezes’ antes de expormos nossos pensa- mentos em sala de aula, porque qualquer deslize, qualquer opinião pode virar um ‘caso de polícia’ e até mesmo ‘viralizar na rede’. Se pensarmos nas ciências biológicas, evolução é o processo através do qual ocorrem mudanças ou transformações nos seres vivos ao longo do tempo, dando origem a espécies novas. É ainda a capaci- dade de adaptação para sobrevivência. Evidentemente, que nem sempre evo- lução pode ser vista como sinônimo de progresso, já que uma mesma caracterís- tica que garante o sucesso, em um deter- minado momento, pode não ser tão favo- rável em outro momento. Quanto a isso, por exemplo, acredita-se que a anemia falciforme surgiu na África, há milhões de anos atrás. Como indivíduos com a doença falciforme eram mais resistentes à malá- ria; por seleção natural, aqueles com suas hemácias normais tinham mais chances de não resistir à parasitose. Tomando agora como exemplo a Língua Portuguesa, nascida na Península Ibérica, mas que tem raízes pré-românicas, prove- nientes de povos indo-europeus, a evolu- ção também deixou suas marcas. Chamada língua neolatina, a Língua Portuguesa é formada da mistura de mui- to latim vulgar com influências árabes e que ainda esteve altamente conectada ao galego, tudo inicialmente assimilado pelo português arcaico, entre outros, mesmo assim uma língua própria e independente. Vocábulos franceses, ingleses, espa- nhóis, sufixos, radicais, nossa língua abar- cou uma gama de outras propriedades que merecem estudo aprofundado. Infelizmente, pouca atenção nossos jovens dão a essa língua tão bela que nos oferece um leque de estudos e usos, haja vista a linguagem usada nas redes sociais, onde esquecemos, ‘comemos’, a usamos sem o devido respeito. O que queremos mostrar é que a evolu- ção é um processo que acontece para as 24 25 pessoas, para as línguas, para as diversas áreas das ciências e que conhecer esse caminho é importante para entendermos o estágio atual, o que perdemos, o que ganhamos, enfim, fazer um balanço para que nos mantenhamos equilibrados. Com certeza vocês devem estar se per- guntando: o que tudo isso tem a ver com as TICs? Simples: muito dificilmente consegui- mos caminhar hoje em dia sem fazer uso delas, das diversas tecnologias da infor- mação e da comunicação. Claro que a im- provisação e a criatividade são ações/es- tratégias que devemos ter em mãos para situações eventuais e para enriquecimen- to, mas o mundo pede tecnologia. Pedimos desculpas, mas a despeito de sabermos que nem todos os municípios e escolas do país estejam conectados, não vamos entrar nesse viés da questão que, além de político, podemos dizer que é também questão de consciência, indife- rença e descaso de alguns governantes. Importa é que as tecnologias como a Internet e o computador são meios de co- municação, informação e expressão, e os educadores devem considerá-los como mecanismos para esses três meios, in- clusive como uma forma de expressão entre eles e os alunos. O uso das tecnolo- gias é iminente,e estão transformando as relações humanas em todas as suas di- mensões: econômicas, sociais e no âmbi- to educacional não têm sido diferente. A apropriação desses meios de comunicação para a construção do conhecimento vem mobilizando os educadores no sentido da seleção e utilização mais adequada dessas novas tecnologias (ANDRADE, 2011). 5.1 As múltiplas tecnologias Por definição, tecnologia é um produto da ciência e da engenharia que envolve um conjunto de instrumentos, métodos e téc- nicas que visam à resolução de problemas. Segundo Cortelazzo (2002) e Hamze (2015) podemos falar em tecnologias de informação, tecnologias de comunicação, tecnologias interativas, tecnologias colabo- rativas. a) As tecnologias de informação são as formas de gerar, armazenar, veicular e re- produzir a informação. b) As tecnologias de comunicação são as formas de difundir informação, incluindo as mídias mais tradicionais, da televisão, do ví- deo, das redes de computadores, de livros, de revistas, do rádio, entre outras. Com a associação da informação e da comunica- ção há novos ambientes de aprendizagens, novos ambientes de interação. c) A Tecnologia Interativa é a elaboração concomitante por parte do emissor (quem emite a mensagem) e do receptor (quem re- cebe a mensagem), codificando e decodifi- cando os conteúdos, conforme a sua cultu- ra e a realidade onde vivem. As tecnologias interativas se dão através da televisão a cabo, vídeo interativo, programa multimídia e Internet. d) As tecnologias colaborativas facilitam as interações entre pessoas e o mundo, permitem um trabalho em equipe satisfató- rio e, com as diferentes linguagens, propor- cionam tipos diferentes de aprendizagens. Não há como fugir das tecnologias, ela está na agenda do século XXI, portanto, os professores devem trabalhar com seus alu- 24 25 nos não só para ajudá-los a desenvolverem habilidades, procedimentos, estratégias para coletar e selecionar informações, mas, sobretudo, para ajudá-los a desenvolverem conceitos. Conceitos que serão a base para a construção de seu conhecimento. Como diz Gadotti (2002, p. 32), o professor deixará de ser um lecionador para ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem (...) um mediador do co- nhecimento, um aprendiz permanen- te, um construtor de sentidos, um coo- perador, e sobretudo, um organizador de aprendizagem. 5.2 WebGincana (WG) De acordo com SENAC/SP, WebGinca- na é um modelo criativo de uso educa- cional da Internet. Ela ajuda o professor a organizar ambientes lúdicos para a busca de informação. O modelo aprovei- ta de modo eficiente a riqueza informa- tiva da rede mundial de computadores e é uma boa ferramenta de tecnologia educacional. Barato (2006) explica que WG é um mo- delo de organização de informações para usos estruturados de recursos da Inter- net em educação. Há anos, educadores americanos e canadenses propõem “caças ao tesouro na Internet”. No geral, tais ca- ças ao tesouro são chamadas, em inglês, de “Scavenger Hunts”. Da mesma forma que a Caça ao Tesou- ro americana, as WebGincanas colocam desafios de busca de informações e da- dos na Internet, propondo um conjunto de questões cujas soluções dependem de leitura e interpretação dos recursos se- lecionados para a atividade. Porém, em vez de restringirem-se apenas à busca de informações em recursos Web, o modelo WebGincana procura também apresentar aos alunos missões que decorrem de al- guns conteúdos investigados. Tal inova- ção pretende dar ao modelo uma dinâmica característica dos aspectos lúdicos das gincanas em geral. Se bem trabalhada, a WG é um trabalho didático que procura con- cretizar os seguintes fins educacio- nais: 1) Capacitar os alunos a fazer leituras rápidas, mas atentas, de textos eu podem conter alguma informação de interesse imediato – o modelo WG tem como uma de suas principais finalidades ajudar os alunos a desenvolverem a habilidade de executar varreduras guiadas por algum interesse. O que se quer, numa WG, é que os alunos construam boas estratégias de varreduras de textos, já que o universo Web é gigantesco e a quantidade de in- formações a que se tem acesso aumenta a cada dia. 2) Aguçar a curiosidade para um as- sunto que começa a ser abordado no pro- grama de estudos – boas WG propõem questões curiosas, surpreendentes, de- safiadoras. Elas possuem certa dimensão lúdica. O que se visa com isso não é ape- nas o prazer do jogo, mas, sobretudo, um começo de conversa atraente sobre o as- sunto. 3) Proporcionar uso sistemático e bem estruturado de recursos da Internet. 4) Modernizar modos de fazer educação. 5) Incentivar a pesquisa. 26 2726 6) Promover trabalho cooperativo de aprendizagem – tradicionais gincanas são sempre jogos de grupos. Para ganhar o jogo, é preciso que todos trabalhem como um time, distribuindo funções, dividindo as tarefas, discutindo estratégias. Espe- ra-se que todas essas características das gincanas tradicionais ocorram em WG bem planejadas. Até porque, é claro, trabalhar com outras pessoas de modo cooperati- vo é uma competência indispensável em nosso mundo. 7) Promover usos educativos da Inter- net. 8) Evitar o recorte e cola. 9) Articular estudos no computador com atividades diversificadas de uso das informações: em WG-padrão e longas, as atividades propostas articulam buscas na Internet com atividades que resultam em usos das informações encontradas no espaço Web. Essa é uma providência importante para que as respostas sejam usadas em contextos significativos. Afi- nal, aprendemos melhor quando usamos o conteúdo estudado, e os dados obtidos nas buscas ganham sentido quando utili- zados em contextos significativos. 10) Fortalecer o espírito de equipe. 11) Proporcionar aos professores um caminho simples de utilização de compu- tadores para fins de aprendizagem (BA- RATO, 2006, 2012). 26 2727 UNIDADE 6 - Prática pedagógica na área em- presarial Por um longo tempo, a atuação do peda- gogo esteve centrada intramuros da esco- la, com um público específico, geralmente muitas crianças e jovens, além dos seus colegas de trabalho e a direção da escola, mas eis que nos últimos anos temos visto abrir-se um leque de novas oportunidades, dentre elas na área empresarial e hospita- lar e também o movimento de educação do campo que vem retomando força, áreas estas que daremos atenção nestas próxi- mas unidades. De imediato, lembre-se que sua atuação na empresa tem como pressupostos prin- cipais a filosofia e a política de recursos humanos adotadas pela organização, por- tanto, não imagine que o treinamento te- nha um fim em si mesmo ou que a postura a adotar na empresa seja a mesma adotada em uma escola. A pedagoga empresarial se insere num contexto em que a empresa bus- ca desenvolver as seguintes compe- tências em seus colaboradores: espírito de liderança; orientação para o cliente; orientação para resultados; comunicação clara e objetiva; flexibilidade e adaptabilidade, criativi- dade, pró-atividade e aprendizagem contí- nua (LOPES et al. 2006). Podemos deduzir que você dará suporte ao setor de recursos humanos para estrutu- rar mudanças, seja ampliação e/ou aquisição de novos conhecimentos dos colaboradores. Uma vez que você irá lidar basicamente com os conhecimentos, as competências, as habilidades e as atitudes diagnostica- das como indispensáveis ou necessárias à melhoria da produtividade, por certo, par- ticipará da implantação de programas de qualificação/requalificação profissional, produzindo e difundindo o conhecimen- to, desenvolvendo programas de levanta- mentos de necessidades de treinamento e adaptando metodologias de informação e comunicação às práticas de treinamento (RIBEIRO, 2008). Trindade (2009) nos lembra que a pedagogia tem lugar de destaque nas organizações por vários motivos, e usa a metáfora “antibiótico para os males da empresa”. Explicando: Os funcionários precisam ser ana- lisados individualmente, poisas pessoas respondem de formas dife- rentes a estímulos iguais, e a união destas diferenças leva à soma de ideias, construindo uma corrente. O conjunto de inspirações de cada in- divíduo do grupo é que torna uma equipe construtiva. Sabemos que o ser humano precisa de motivação para caminhar. Lembrando da pirâmide das necessidades de Abraham Maslow, temos na base as necessidades fi- siológicas (alimento, abrigo...) e no topo as necessidades e autorrealização. Eis que entram em cena ou o pedagogo ou o psicólogo! São profissionais que têm como missão motivar, levar o colaborador a agregar valor, levá-lo a desempenhar bem 28 29 suas funções, sentir-se satisfeito na orga- nização. Já se foi o tempo em que a primeira solução seria demitir, além do que, é mais oneroso para a empresa agir assim do que propor treinamentos e “formação continu- ada” para seu colaborador. Na prática você irá: coordenar equipe multidisciplinares no desenvolvimento de projetos; evidenciar formas educacionais para aprendizagem organizacional significativa e sustentável; gerar mudanças culturais no ambien- te de trabalho; na definição de políticas voltadas ao desenvolvimento humano per- manente; prestar consultoria interna relaciona- da à educação e desenvolvimento das pes- soas nas organizações. São muitos os desafios desse novo pro- fissional, diferentemente do que podem pensar alguns, não se resume a conduzir dinâmicas de grupo e preparar material de treinamento para o qual as pessoas não estão engajadas ou enxergando uma ne- cessidade imediata. Isto requer muito tra- balho como de observações cuidadosas principalmente ao que se refere ao capital humano, (termo utilizados nas empresas ao referir-se às pessoas que trabalham nelas), para que com elas seja possível de- senvolver estratégias no bom sentido, que venha favorecer a humanização dentro da empresa. Esta ação requer do Pedagogo Empresarial perspicácia, observação, en- volvimento, desprendimento, coragem, preparo técnico, ousadia, vontade, criati- vidade e desejo efetivo pela descoberta de como será desenvolvido seu trabalho dentro da corporação. Ou seja, o pedagogo deve ter um olhar, pedagógico, filosófico, psicológico em relação aos seres humanos que estarão presentes neste espaço, não os tratando como meros objetos que preci- sam ser moldados de acordo com o objeti- vo da empresa (RIBEIRO, 2008). Vamos a algumas dicas de “como não agir na prática”: a) As dinâmicas de grupos são ao mes- mo tempo importantes e perigosas. Realmente são uma forma mais dinâmi- ca de provocar reflexão, mas nem sempre são lúdicas, e nem sempre é vista pelos participantes com tranquilidade e isso pre- cisa ser respeitado. Ela é também uma forma democrática de oportunizar manifestações, mas isso tam- bém é perigoso, portanto, ser prudente e saber conduzir as dinâmicas contribuem para que os resultados sejam gratificantes e produtivos. Dentre os maiores perigos, temos o des- pertar de sentimentos e comportamentos inadequados e ao lugar que é um risco la- tente. Afinal de contas, tem situações que remontam as pessoas a lembranças dolo- rosas. Outro embaraço que as dinâmicas nos trazem são situações de estresse físico como andar descalço, praticar arvorismo para quem tem medo de altura, entre ou- tros. Podendo ser evitadas ou pelo menos buscando saber de antemão, esses medos pessoais ajudarão a todos: constrangidos e constrangedores. b) Os projetos de trabalho de gestão. Com certeza você será solicitado(a) a 28 29 elaborar um projeto de trabalho, com os mais variados conteúdos e situações, por exemplo: comunicação interpessoal e atendimento ao cliente. Primeira atitude: elaborar um planeja- mento! Este deve conter objetivos, nome da dinâmica, tema, metodologia, material, total de participantes, tempo e local. Se seu planejamento falhar será como uma cascata de cartas, as demais etapas irão todas por “água abaixo”, portanto, pla- neje com antecedência e revise cada eta- pa. A título e exemplo: o tempo e o número de participantes. Se o objetivo é que todos os partici- pantes falem por cinco minutos, ao todo, durante a dinâmica, e seu tempo total é de 50 minutos, distribuição de material, 1 minuto, elaboração da atividade individual ou em grupo – 15 minutos, então sobram 33 minutos = 50 – 1 – 1 = 33. E 33 minutos divididos por 5 minutos (fala de cada par- ticipante) = 6,6 (número de participantes). Já pensou se erra nessa conta?! 30 3130 UNIDADE 7 - Prática pedagogica na área hospitalar Segundo Freire et al. (2012), a princi- pal função do pedagogo hospitalar é: Assegurar a dignidade e uma me- lhora na qualidade de vida dos alu- nos/pacientes, proporcionando uma aprendizagem de qualidade, onde deverá ser respeitado o atendimento de acordo com as condições de cada educando no hospital, respeitando suas limitações, e buscando desen- volver atividades adaptadas e criati- vas, envolvendo o aluno/paciente no processo de ensino-aprendizagem, essa é a função principal do pedago- go hospitalar. Nesse contexto e seguindo as orienta- ções da Declaração de Salamanca, o prin- cipal objetivo da classe hospitalar é, assim, fazer um acompanhamento pedagógico a crianças e jovens com dificuldades graves de saúde física ou mental e que estão de- finitiva ou temporariamente impedidos de frequentar a escola regular. Prestem atenção: não se trata de Edu- cação Especial. É a Educação Escolar or- dinária, aquela que nutre o sujeito de informações sobre o mundo dentro do currículo escolar definido pela educação nacional. Marca-se como diferença en- tre a classe hospitalar e a classe especial o fato de que a segregação das crianças não se deve à rejeição por outras classes, mas à doença que as impede de ir à escola. Longe de rejeitá-los, a escola vai até eles, no hospital (VASCONCELOS, 2007, p. 2). A atuação do pedagogo, no ambiente hospitalar, pressupõe uma prática peda- gógica que vá de encontro com o contexto educacional em que está inserida a crian- ça, observando-se a perspectiva teórica da escola e a série em que a criança está matriculada. O tempo de internação e de afastamento da escola também devem ser considerados ao se organizar o con- teúdo a ser repassado para a criança (CA- BREIRA, 2007). De todo modo, a prática pedagógica nesse ambiente deve levar em considera- ção as condições de saúde em que a crian- ça ou o jovem se encontra. Fontes (2012) nos lembra que o peda- gogo, na sua práxis, ao promover experi- ências vivenciais dentro de um hospital, como brincar, pensar, criar, trocar, estará favorecendo o desenvolvimento pleno da criança, que não deve ser interrompido em função da hospitalização. O atendimento hospitalar não se reali- za somente no âmbito físico, mas também afetivo. As ações da pedagogia se efetuam sob a ótica de que, mesmo passando por uma internação, a criança e o adolescente não precisam ter o seu processo de esco- larização e sua vida social prejudicados e/ ou interrompidos. Podem ser desenvolvi- das atividades em ambiente hospitalar que deem continuidade a esse processo. Ainda não falamos da brinquedoteca que você na sua prática pedagógica hos- pitalar pode e deve incentivar (caso não tenha ainda), afinal de contas, todos sa- bemos que ao brincar a criança estabe- lece relações com o mundo e transforma seus significados, assim, as brinquedote- cas funcionam como espaço de resgate da brincadeira, além de amenizar o sofrimen- 30 3131 to e desviar a atenção e muitas vezes até a dor do escolar hospitalizado. Os traumas sofridos pelas crianças submetidas a tratamentos hospitalares podem comprometer por longo tempo ou para sempre o seu emocional. As crianças tendem a ter medo de pessoas vestidas de branco; muitas em idade escolar sen- tem-se desmotivadas para retornarem à escola, ficam deprimidas, o grau de es- tresse aumenta (FONTES, 2012). Com a possibilidade do brincar dentro do hospital, elas resgatam a autoestima, o sofrimentoé minimiza- do, e até mesmo a permanência den- tro do hospital pode ser diminuída pelo fato de a criança corresponder melhor ao tratamento, recuperar o ânimo, assim, revigorando sua saúde. É de suma importância. Trazem be- nefícios visíveis, o paciente corres- ponde melhor ao tratamento, a fa- mília também e facilita a atuação dos profissionais. [...] pois a criança torna-se mais disposta ao tratamen- to, trazendo uma comunicação mais efetiva com os profissionais de saú- de e diminuindo sua permanência no hospital (GOMES, 2011 em entrevista a FONTES, 2012). Ortiz e Freitas (2005), Barros (2010) e Kohn (2010) relatam que a intervenção pe- dagógica com atividades lúdicas contribui para a recuperação mais rápida da enfer- midade da criança. Essas ações atuam sob a postura de resistência exercida pelo pa- ciente frente à doença, possibilitando o de- senvolvimento de um tratamento mais hu- manizado; esse olhar beneficia os aspectos físico, afetivo e cognitivo do paciente. O desenvolvimeno da leitura via conta- ção de histórias2 é outra prática que você pode utilizar com a criança hospitalizada e em duas linhas de ação: para ela em seu leito ou para grupos delas na brinquedo- teca aproveitando também da dramatiza- ção. Basta ter criatividade! No contexto hospitalar, as propostas de leitura que envolvem a criança em trata- mento de saúde necessitam, primeiramen- te, considerar o contexto do qual ela pro- vém, ou seja, a sua realidade, a sua história. Esse referencial fará a diferença na hora de abordar, por meio da leitura, o contexto atual no qual ela se encontra inserida, que é o contexto hospitalar. A importância atri- buída aos contextos no desenvolvimento da leitura justifica-se pelo fato de eles se- rem fenômenos indissociáveis e afins que dão significado à vida da criança. Existe, então, a necessidade de haver uma preocupação dos professores e pe- dagogos com a leitura, traduzindo-se em práticas adequadas e eficientes que este- jam fundamentadas teórica e metodolo- gicamente à realidade do sujeito envolvi- do, ou seja, a criança hospitalizada. Essa perspectiva de leitura faz parte de uma concepção de linguagem intera- cionista, que ultrapassa a compreensão superficial do ato de ler, pois ela é mais do que o entendimento das informações explícitas, é um processo dinâmico entre sujeitos que instituem trocas de experi- ências, por meio do texto escrito. O professor, na concepção interacionista, assume o papel de mediador entre o coleti- vo da sociedade e o individual do aluno. Ele 2- Lembre-se que não somente no contexto escolar, a contação de histórias, a dramatização são estratégias que você pode colocar em prática quando trabalha com crianças pequenas. 32 3332 exerce também o papel de um dos media- dores sociais entre o universal da sociedade e o particular do educando hospitalizado. Outro aspecto importante da leitura no contexto hospitalar é o da possibilidade de o professor envolver as crianças pela contação de histórias. Para tanto, ele deve tornar esse momen- to prazeroso para a criança a ponto de esta, após ouvir as histórias, ter o desejo de ouvi- -las novamente. Isso só será possível a partir de uma situação de aconchego, pela atenção que o adulto dedica, pela cumplicidade que aumenta o companheirismo e favorece a afe- tividade, que melhora as relações, o diálogo, a compreensão, confiança, o conhecimento das peculiaridades das crianças e a abertu- ra ao ouvir. Após a história, o professor deve dar oportunidade para as crianças participa- rem perguntando, comentando, dando sua compreensão e atribuição de sentido ao que ouviram, porém sem direcionamento do pro- fessor com aquela velha “moral da história”, que poderá impor um ponto de vista que to- lhe a capacidade de interpretação da criança sobre a história. De acordo com Dohme (2003), o nar- rador deverá estar atento para perceber como elas receberam as informações; se a criança não quiser falar, não obrigá-la, pois poderá oferecer outra atividade que aborde o mesmo teor temático que foi vis- to durante a leitura, além da conversação. O professor deverá aproveitar ao máximo esses momentos de leitura em contexto hospitalar, onde a atenção, a cumplicida- de e o aconchego tornam a narração de histórias uma lembrança inesquecível. A leitura e a contação de histórias envol- vem os sentidos, atraem pela curiosidade, pelo formato, pelo manuseio fácil e pelas possibilidades emotivas que o livro pode conter. Como a infância é o melhor momen- to para iniciar a criança no hábito da leitu- ra, a estada no hospital e o acesso à esco- larização hospitalar podem ser o momento para iniciar este hábito junto àquelas que ainda não o possuem. Na escola, a leitu- ra envolve o cognitivo e o emocional, que despertam e estimulam a imaginação e a criatividade. O mesmo ocorre no hospital, pois essas possibilidades podem afastar a criança da dor, indo muito além do mero re- curso de distração (WOLF, 2013). No hospital, a leitura deve ser vista além do uso imediatista, ser vista como recurso metodológico que mediará o processo de ensino e aprendizagem, pois envolverá as- pectos emocionais da criança e auxiliará no seu desenvolvimento cognitivo. Humanizar o atendimento e tratamen- to, utilizar do lúdico via brinquedoteca, quando a criança pode se locomover, atenção, carinho, afetividade, atenção ao estágio em que se encontra a criança hos- pitalizada são pontos que você pedagogo deve prestar atenção quando buscar esse locus para exercer sua profissão. Enfim, sem querer desanimá-lo, ao con- trário, dando-lhe incentivo, é fato que o trabalho junto à crianças/adolescentes hospitalizados é um desafio para o pro- fessor, pois implica em se especializar, em conhecer a realidade do dia a dia de um hospital e ainda saber trabalhar com questões ligadas à bioética, perdas, doen- ças graves, entre outras situações, então, mãos à pesquisa, à reflexão e, claro, mãos à obra, porque vocês podem fazer uma grande diferença para essas crianças/ adolescentes que se encontram em situa- ção de vulnerabilidade (FERREIRA, 2011). 32 3333 UNIDADE 8 - Trabalhando com educação do campo e EJA Ainda pensando em ‘extramuros escolar’, como resolvemos definir as práticas apre- sentadas, temos a educação do campo. Essa vertente também pode ser a op- ção de vocês enquanto pedagogas(os), não é verdade?! Então, vamos conhecer um pouco dessa seara que ainda é um tan- to incipiente. A Educação do Campo estabelece rela- ção entre a educação, a direção do desen- volvimento da agricultura camponesa e do projeto para o Brasil. Ela nasce no bojo do processo de resistência e luta dos cam- poneses e das camponesas que vivem no e do seu trabalho no campo e também na luta pelo direito à educação, compreen- dendo o camponês e os trabalhadores ru- rais como sujeitos de direitos, entre eles o direito ao estudo, e como construtores da sua história e da coletividade. A Educação do Campo propõe uma escola no e do cam- po, feita pelos sujeitos que nela vivem e trabalham (SANTOS; PALUDO; OLIVEIRA, 2010). Nesse contexto, institucionalmente, as escolas do campo são aquelas que têm sua sede no espaço geográfico classifi- cado pelo IBGE como rural, assim como as identificadas com o campo, mesmo tendo sua sede em áreas consideradas urbanas. Essas últimas são assim consideradas por- que atendem a populações de municípios cuja produção econômica, social e cultural está majoritariamente vinculada ao cam- po (BRASIL/SECAD, 2007). A Educação do Campo é um projeto de educação que está em construção com nexos no projeto histórico socialista. É um projeto da classe trabalhadora do campo. Tem como protagonistas os próprios cam- poneses e trabalhadores do campo, suas lutas e organização e suas experiências educativas, que incluem a escola, mas vão além dela. Ela se contrapõe à educa- ção como mercadoria e afirma a educação como formação humana. O papel da edu- cação também é o de formar sujeitos