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Avaliação Clínica e Psicossocial em Enfermagem Aula II Professora Thaísy Schmidt Enfermagem como Prática Social • Desde as primeiras organizações humanas era reconhecida a necessidade de cuidar para preservar a vida e protelar a morte. O exercício destas atividades esteve ao encargo das mulheres, diferentemente da tarefa de suturar os feridos, combater e caçar, tarefa de homens. • Nos primórdios, cuidar de um doente era uma profissão marginalizada. Entrava em uma categoria de trabalho improdutivo, assim como os trabalhos domésticos, educação, e cuidado com os idosos, segundo o conceito de Karl Marx. Enfermagem como Prática Social • Acompanhando o desenvolvimento dos grupos sociais a prática de cuidar foi se transformando em ofício, exercido por algumas mulheres que detinham conhecimentos sobre o funcionamento do corpo, sobre o processo de parir, amamentar e sobre os efeitos das ervas, entre outros. Em troca dos seus serviços, recebiam o necessário para sua sobrevivência e reposição de suas mezinhas. • Com o tempo, o desenvolvimento das técnicas e dos instrumentos utilizados tornaram necessária a oficialização da profissão. Os procedimentos agora precisavam de mecanismos de controle e supervisão, e a enfermagem tornou-se mais do que uma prática social de amor ao próximo, mas uma profissão remunerada – apesar de até hoje ainda não ser valorizada como deveria. Enfermagem como Prática Social • Hoje, a prática social na enfermagem envolve sair da sua zona de conforto e atuar com humanização, articular com os meios de comunicação, negociar, em alguns casos até brigar buscando seus ideais e ser uma profissão cada vez mais aceita pela população. • Prestar assistência às pessoas não é mais uma questão “simples” de amor ao próximo, mas é uma responsabilidade tratar da saúde dos outros. Além disso, a categoria já se tornou um trabalho de interesse comum da sociedade. Enfermagem como Prática Social • As percepções de cuidado, evidenciadas por meio das buscas teóricas e os apelos provindos das questões sociais emergentes, tornaram ainda mais incessante o desejo de ampliar a compreensão do cuidado de enfermagem, para além do saber/fazer tradicional e das práticas institucionalizadas. O enfermeiro, hoje, mais do que nunca, deve ser capaz de extrapolar os limites do saber disciplinar, dos sistemas institucionalizados e, principalmente, dos contornos da doença fisiológica, a fim de compreender e empreender, com vistas à integração de uma visão sistêmica, paradoxal e interativa, as questões sociais e da saúde. • A percepção de que o enfermeiro pode e é capaz de interagir proativamente no campo do desenvolvimento social, pela ampliação das possibilidades proativas, reflete, em última análise, o desejo de fazer a travessia do paradigma cartesiano, ainda hegemônico na área da saúde, para o pensamento sistêmico de intervenção social, capaz de contemplar e considerar o uno e o múltiplo em vez da eficiência apenas individual. Enfermagem como Prática Social • Compreender Enfermagem como uma prática social quer dizer compreendê-la como uma profissão dinâmica, sujeita a transformações permanentes e que está continuamente incorporando reflexões sobre novos temas, problemas e ações, porque seu princípio ético é o de manter ou restaurar a dignidade do corpo em todos os âmbitos da vida. • O papel social do enfermeiro fica visível nas diferentes práticas e se expressa de diferentes formas. Para os profissionais da saúde, a enfermagem deve ser considerada a profissão que mais converge para o contexto social, ou seja, é a profissão que tem atuação mais direta e participativa no âmbito das práticas sociais. Enfermagem como Prática Social • O enfermeiro destaca-se, dentre outras potencialidades, pela integralidade da assistência à saúde, pela capacidade de compreender o contexto social e se identificar com as necessidades e expectativas dos indivíduos, pela capacidade de potencializar as qualidades dos indivíduos, pela capacidade de interagir diretamente com o usuário e a comunidade, bem como promover a interação entre os usuários e a equipe de saúde. • As competências técnico-políticas do enfermeiro se expressam, de modo especial, na responsabilidade e comprometimento com que assume a causa do cliente, no modo de encarar os diferentes movimentos do dia a dia e na capacidade para integrar, aglutinar e articular os serviços de saúde, a fim de que o usuário tenha um atendimento resolutivo. • O cuidado de enfermagem como prática social, orientado pelo pensamento sistêmico-complexo, se constitui em novo paradigma de intervenção, capaz de potencializar as ações locais por meio das redes interativas e associativas, bem como atuar de forma proativa, inovadora e participativa. Enfermagem como Prática Social • É evidente a importância da atuação da Enfermagem no âmbito individual, mas em especial no espaço comunitário e social. A Enfermagem pode atuar com criatividade e autonomia em diversos cenários de inserção social, a partir da educação em saúde, promovendo saúde, ou a partir de ações de prevenção de doenças e reabilitação da saúde. • Esse processo ocorre, essencialmente, pautado no levantamento de situações críticas, mas também no planejamento e execução de intervenções sistematizadas que superem a fragmentação do cuidado e garantam a continuidade do cuidado qualificado em saúde. Enfermagem como Prática Social • Para contextualizar esta disciplina de Avaliação Clínica e Psicossocial em Enfermagem, destacamos a sua inserção enquanto prática social da Enfermagem e como parte do processo de cuidar sistematizado. • A avaliação clínica e psicossocial converge para a etapa inicial do processo de Enfermagem: a coleta de dados. Sistematização da Assistência de Enfermagem • Processo de interpretação e agrupamento dos dados coletados na primeira etapa, representando, com mais exatidão, as respostas da pessoa, família ou coletividade humana em um dado momento do processo saúde e doença.” (COFEN, 2009). • Os sistemas de classificação de enfermagem podem ser utilizados como ferramentas de auxílio e qualificação. Sistematização da Assistência de Enfermagem • O método científico que utilizamos para realização da SAE é o Processo de Enfermagem, que corresponde a um instrumento que provê um guia sistematizado para o desenvolvimento de um estilo de pensamento direcionador dos julgamentos clínicos necessários para o cuidado de enfermagem. • O Processo de Enfermagem é composto por cinco fases. Investigação • A primeira é a Investigação, que consiste na coleta de dados ou histórico de enfermagem, momento em que são realizados entrevista e exame físico, procurando evidências do funcionamento anormal ou de fatores de risco que possam contribuir para os problemas de saúde. Diagnóstico de Enfermagem • Na segunda fase, o Diagnóstico de Enfermagem, são identificados, após análise dos dados coletados na primeira fase, os problemas vigentes ou potenciais, que constituem a base para a seleção de intervenções de enfermagem e dos resultados esperados pelos quais o enfermeiro é responsável. Planejamento da Assistência • A terceira fase é o Planejamento da Assistência, que consiste na determinação das prioridades que serão o foco do enfermeiro, definindo quais serão delegadas e quais serão encaminhadas, com a determinação das intervenções de enfermagem e o estabelecimento dos resultados esperados (metas), além do prazo para tal. Implementação da Assistência de Enfermagem: Prescrição de Enfermagem • A quarta fase é a Implementação da Assistência de Enfermagem, isto é, a real prestação de cuidados de enfermagem através das prescrições de enfermagem (quem realiza o cuidado prescrito deve registrar na anotação de enfermagem). Avaliação- Evolução de Enfermagem • A quinta e última fase é a Avaliação, que determina se os resultados desejados foram atingidos ou se são necessárias modificações; é registrada na forma de Evolução de Enfermagem. Promoção da Saúde • Processo de capacitação da comunidadepara atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, com maior participação no controle deste processo. (carta de Ottawa, 1986). • Saúde: Resultante das condições de alimento, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde (8a. CNS, 1986)Pré-requisitos para a saúde: paz, educação, moradia, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade. (Carta de Ottawa -1986). Promoção da Saúde • “A promoção da saúde se refere às ações sobre os condicionantes e determinantes sociais da saúde, dirigidas a impactar favoravelmente a qualidade de vida. Assim, para melhorar as condições de saúde de uma população, são necessárias mudanças profundas dos padrões econômicos no interior dessas sociedades e intensificação de políticas sociais, que são eminentemente políticas públicas. Ou seja, para que uma sociedade conquiste saúde para todos os seus integrantes, é necessária ação intersetorial e políticas públicas saudáveis”. BUSS, 2010. Promoção da Saúde • A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) (BRASIL, 2010) afirma que a análise do processo saúde- doença demonstra que a saúde é resultante das formas de organização da produção, do trabalho e da sociedade em um contexto histórico determinado. • Afirma ainda que a estrutura biomédica não é capaz de modificar os condicionantes e os determinantes mais amplos desse processo. Essa estrutura atua a partir de um modelo de atenção e cuidado majoritariamente centrado nos sintomas. Promoção da Saúde • Existem diversas referências teórico- conceituais que discorrem sobre as práticas de promoção da saúde, entretanto, o eixo condutor comum é a crítica à ênfase excessiva dada à tecnologia médica e à alteração de comportamentos individuais como soluções para os desafios enfrentados (MAGALHÃES, 2016). Promoção da Saúde • A promoção da saúde pode ser compreendida como um mecanismo de fortalecimento e implementação de uma política transversal, integrada e intersetorial, capaz de dialogar com as diferentes áreas do setor sanitário, outros setores do governo, setor privado e não governamental e sociedade. • Configura, dessa forma, redes de compromisso e corresponsabilidade no que se refere à qualidade de vida da população, com a participação de todos na proteção e no cuidado com a vida (BRASIL, 2010). Promoção da Saúde • Modelo de determinação social da saúde por Dahlgren e Whitehead. Avaliação Psicossocial • Na área de enfermagem, a importância da saúde global é reconhecida, assim como a relevância dos profissionais de enfermagem para o alcance das metas de saúde. • Também se admite que os enfermeiros precisam assumir papéis ampliados que possam assegurar a cobertura universal de saúde no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Avaliação Psicossocial • Definida como processo baseado em evidências que visa promover a saúde planetária sustentável, a enfermagem global considera os determinantes sociais de saúde e abrange cuidados individuais e coletivos, incluindo iniciativas de pesquisa, educação, liderança, advocacia e política. Assim, os enfermeiros engajam-se em uma prática ética em parceira com comunidades e outros profissionais de saúde. Avaliação Psicossocial • Os fatores sociais que afetam e influenciam a saúde abarcam diferentes tópicos e eventos de vida, muitos dos quais estão fora do controle de indivíduos e populações por eles afetadas. • Portanto, a saúde precisa ser abordada a partir de perspectiva abrangente e interprofissional: se não for bem compreendida, será difícil combater as causas dos problemas. • Nesse cenário, uma importante janela de oportunidade é promover uma maior conscientização entre os principais profissionais com poder decisório e de definição de políticas sobre o modo como esses fatores sociais podem influenciar a saúde. Avaliação Psicossocial • As disparidades em saúde e no acesso aos cuidados de saúde constituem um desafio sistêmico a ser enfrentado pelos países, especialmente o Brasil, caracterizado por profundas desigualdades sociais, o que justifica a inserção deste tema no ensino de enfermagem, uma vez que os enfermeiros lidam constantemente, em sua prática diária, com essas iniquidades. • Diferentes estudos demonstram a inter-relação entre o status social medido por meio de riqueza, renda e educação e os baixos níveis de saúde. Nos EUA, por exemplo, as discussões sobre os resultados desiguais em saúde têm enfocado as diferenças raciais. Avaliação Psicossocial • Importante descrever o impacto da baixa renda, educação e dos fatores de comunicação no acesso e na qualidade da assistência médica. • Nesse sentido, indivíduos com acesso a oportunidades de educação possuem condições mais efetivas para obter empregos com maior remuneração. • De forma geral, nível educacional e níveis de renda tendem a ser fortes preditores de saúde individual e da população. • Desde cedo, oportunidades educacionais e renda fornecem recursos valiosos para proteger as pessoas de estressores que podem dificultar sua saúde ao longo da vida. Avaliação Psicossocial • Na medida em que formos capazes de alinhamento com políticas de saúde para todos, teremos cada vez maior capacidade de fortalecer a formação e o desenvolvimento de recursos humanos à luz dessa meta, para o que é imprescindível o trabalho interprofissional não apenas na área da saúde, mas também entre outros setores que afetam e que são afetados pelo status de saúde das populações. • Os profissionais de saúde, por sua vez, precisam estar conectados com essa abordagem, assim como os outros profissionais das demais áreas sociais e econômicas, cientes todos de que metas sociais e econômicas ampliadas têm ligação íntima com a saúde dos povos.
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