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Seção 1 SUA PETIÇÃO DIREITO PENAL 2 Olá, aluno! A ciência criminal é maravilhosa, fascinante, mas demanda muito estudo em razão de sua complexidade e das constantes alterações normativas e jurisprudenciais, geralmente em virtude dos anseios sociais (princípio da adequação social). Assim, com a finalidade de levar a você à realidade da prática penal e processual penal, serão apresentados, nas seções de 1 a 6, casos factíveis, os quais possibilitarão sua imersão no mundo jurídico real e prático. Nosso trabalho conjunto e sua dedicação farão de você um profissional capacitado para a atuação prático-profissional, mas com um diferencial da maioria dos advogados que laboram na seara criminal: o conhecimento prático acerca dos institutos de Direito Penal e Processo Penal. Vamos encarar juntos essa vitoriosa e fascinante imersão no mundo das ciências criminais? Para tanto, trabalharemos o caso de um personagem fictício, que será juridicamente acompanhado por você até a Seção 6, sempre em busca do melhor direito a ele assegurado nas legislações infraconstitucionais, bem como na própria Constituição Federal. Nosso personagem da vez, ou seja, seu cliente, se chama NONO NINHO. Nascido em 1º de janeiro de 2000, trabalha como vendedor, pai de duas crianças (2 e 3 anos), casado e reside na cidade de Vargem, no estado de São Paulo, na divisa com Minas Gerais (comprovante de trabalho, de endereço e certidões de nascimento dos filhos fornecidos por parte dos familiares contratantes). Por volta das 9h da manhã de um domingo, dia 5 de janeiro de 2020, SÉTIMO SILVA, brasileiro, solteiro, motorista de 25 anos de idade, residente na cidade de Extrema/MG, enquanto caminhava pelas ruas da cidade, teve subtraído seu relógio da marca Funlerim, adquirido recentemente por R$19,90 (dezenove reais e noventa centavos), fato que ocorrera mediante grave ameaça, consistente na utilização de arma de fogo (segundo narrativa de SÉTIMO, uma arma calibre 222 Seção 1 DIREITO PENAL Sua causa! 3 Qual é a peça prático-profissional a ser apresentada? Remington, com energia de 1.717,63 Joules, classificada, no Anexo B, da Portaria nº 1.222/19, como de uso restrito). Imediatamente, SÉTIMO se deslocou até a delegacia de polícia civil mais próxima, ainda em Extrema/MG, e lá comunicou os fatos. Perguntado sobre a identidade e descrição do autor, ele o apresentou como possuidor de altura aproximada de 1,80m, magro, pele clara, cabelo curto e castanho claro. Ainda, informou que o autor do fato teria uma tatuagem em um dos braços e que estaria vestido com uma calça jeans azul e camiseta, não se recordando a cor desta. Por volta das 8h da manhã do dia seguinte (segunda-feira, dia 6), na cidade vizinha, de nome Vargem, no estado de São Paulo, que é separada de Extrema/MG por uma rua, um policial, que havia sido informado por parte do próprio SÉTIMO sobre o crime sofrido naquela outra cidade mineira, fortuitamente avistou um homem, de nome NONO NINHO, que possuía as mesmas características físicas descritas e, ainda, estava utilizando um relógio da mesma marca daquele subtraído no dia anterior, o que levou o agente estatal a dar voz de prisão em flagrante a NONO, o qual fora encaminhado à Delegacia de Polícia Civil de Vargem, vindo a prisão a ser ratificada por parte da autoridade policial, com esteio no inciso IV do art. 302 do Código Penal (ratificação do APF anexo). Passadas apenas 2 horas do encarceramento, o Auto de Prisão em Flagrante Delito (APFD) foi encaminhado ao Fórum da Comarca de Extrema/MG (1ª Vara Criminal), que ainda não realiza audiência de custódia, tendo o delegado, para tanto, alegado tratar-se de localidade na qual a vítima possuía residência. Imediatamente, os familiares de NONO NINHO entraram em contato com você, a fim de que os direitos do constituinte sejam garantidos. Já de posse do instrumento de constituição processual, responda: OBS.: a peça processual a ser redigida deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar respaldo à pretensão. Indispensável salientar que a simples menção ou transcrição do dispositivo legal não servirá como resposta completa. Ainda, a petição deverá ser datada do último dia do prazo legal, não sendo válida a interposição de Habeas Corpus. Não havendo previsão legal para apresentação da medida judicial, o campo específico deve permanecer sem identificação. 4 Após apresentado o caso prático, é chegada a etapa destinada ao estudo dos principais temas penais e processuais penais relacionados ao nosso problema proposto. Vale sempre informar que o conteúdo aqui exposto não se apresenta como exaustivo, sendo imprescindível seu aprofundamento por intermédio de livros e artigos jurídicos, todos facilmente acessíveis na rede mundial de computadores. Inicialmente e a título de esclarecimento, sobre a atuação do magistrado na fase pré-processual, a Lei nº 13.964/19 trouxe ao Código de Processo Penal (arts. 3-A a 3-F) o instituto chamado de “Juiz das Garantias”, o qual se encontra com sua implementação suspensa no território nacional, em virtude de decisão judicial de lavra do Min. Luiz Fux, datada de 22 de janeiro de 2020 (ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6305)1. É possível que a questão já tenha sido definitivamente analisada pelo plenário do STF até a distribuição do presente material. Nesse passo, portanto, especialmente por ser imprevisível o desfecho da demanda que corre perante o STF, vale uma breve digressão acerca do assunto apresentado. Nos termos do art. 3-B do CPP, “o juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário” (BRASIL, 1941, [s.p.]). Assim, o Juiz das Garantias nada mais representa do que um órgão jurisdicionado de controle da investigação preliminar, incompetente para o julgamento do caso penal, com vistas à máxima imparcialidade possível. Sobre sua competência e seu limite temporal de atuação, o art. 3-C determina que “a competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código” (BRASIL, 1941, [s.p.]). Portanto, aquele que atuou nas fases de investigação criminal e recebimento da inicial acusatória fica conforme preconizado no caput do art. 3º-D do CPP. Ponto interessante refere-se ao não mais apensamento aos autos principais (Ação Penal) dos procedimentos preliminares, devendo eles permanecerem acautelados na secretaria desse juízo, à disposição das partes (§ 4º do art. 3-C do CPP), ressalvados os documentos relativos às “provas irrepetíveis” e “medidas de obtenção de provas ou de antecipação de provas”, os quais deverão ser remetidos para apensamento em apartado (§ 3º do art. 3-C do CPP). O objetivo aqui é evitar a contaminação daquele que julgará a demanda com elementos de convicção inquisitoriais, ou seja, 1 Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/fux-liminar-juiz-garantias-atereferendo.pdf. Acesso em: 24 out. 2020. Fundamentando! 5 não submetidos ao contraditório e à ampla defesa, o que busca a plenificação da imparcialidade do julgador. Fica a sugestão para que os arts. 3-A a 3-F sejam detidamente estudados, sendo eles facilmente interpretáveis. Superada a fase introdutória, faz-se necessária a compreensão acerca do Título IX do Código de Processo Penal (CPP), no qual constam os institutos da prisão em flagrante (arts. 301 a 310 do CPP), prisão preventiva (arts. 311 a 316 do CPP), medidas cautelares diversas da prisão (arts. 319 e 320 do CPP) e pontos específicos acerca da liberdade provisória (arts. 321 a 350 do CPP). Sobrea prisão em flagrante, o art. 8 do CPP nos remete ao Capítulo II do Título IX da mesma Lei. Trata-se de modalidade de prisão provisória, ou seja, não há que se falar em aplicação de pena, tendo sua origem etimológica no latim flagrare, que vem de ardência, queimar, imediatidade, efetuada por opção de “qualquer um do povo” e obrigatoriamente pelas “autoridades policiais e seus agentes”, nos termos do art. 301 do CPP (BRASIL, 1941). Ocorre que o art. 302 do CPP informa serem 4 (quatro) as modalidades de flagrante, algumas delas não mais em clara situação de ardência, a saber: Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: I - está cometendo a infração penal; II - acaba de cometê-la; III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. (BRASIL, 1941, [s.p.]) As duas primeiras modalidades, previstas nos incisos I e II da norma, são chamadas de flagrante próprio ou perfeito, caracterizado quando a pessoa é pega durante a prática do crime ou assim que acaba de cometê-lo, respectivamente, tratando-se de modalidades autoexplicativas. Por sua vez, temos a modalidade de flagrante chamado impróprio ou imperfeito, previsto no inciso III. Nela, o autor do crime “é perseguido, logo após, pela autoridade, ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração” (BRASIL, 1941, [s.p.]). É imprescindível a perseguição e prescindível a manutenção do perseguido no campo de visão do perseguidor. Ainda, tal perseguição precisa começar logo após a prática do delito. Vale ressaltar que não há um critério objetivo temporal para definir o que viria a ser considerado “logo após” (OLIVEIRA, 2019), mas é plausível defini-lo como o momento no qual o perseguidor toma conhecimento do fato, podendo a perseguição perdurar por horas, dias e, até mesmo, meses. Ainda, sobre a expressão “em situação que faça presumir ser autor da infração”, Oliveira (2019, p. 545) informa que “aqui todo cuidado é pouco, porque o que se tem por presente não é a visibilidade do 6 fato, mas apenas a fuga, o que dificulta, e muito, as coisas, diante das inúmeras razões que podem justificar o afastamento suspeitoso de quem se achar em posição de ser identificado como autor do fato”. Por fim, no inciso IV, há o chamado “flagrante presumido”, o qual também pode ser taxado de impróprio. Ele informa que pode ser preso em flagrante delito aquele que “é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração” (BRASIL, 1941, [s.p.]). Basicamente, difere-se da modalidade anterior de flagrante, em razão de naquela haver a perseguição e não necessitar que a pessoa seja encontrada obrigatoriamente com objetos específicos, enquanto esta modalidade faz referência a instrumentos, armas, etc. Aqui, merece destaque a expressão “logo depois”, a qual, para Oliveira (2019), não pode ser diferenciada de “logo após”, vista no inciso anterior, pois ambos necessitam da imediatidade, seja do início da perseguição (inciso III) ou do encontro com o autor da infração (inciso IV). Sobre a expressão ora comentada, o encontro deve ocorrer logo depois de o fato criminoso ter sido comunicado às forças de segurança do Estado. Segundo Nucci (2016, p. 353), Também neste contexto não se pode conferir à expressão ‘logo depois’ uma larga extensão, sob pena de se frustrar o conteúdo da prisão em flagrante. Trata-se de uma situação de imediatidade, que não comporta mais do que algumas horas para findar-se. O bom senso da autoridade – policial e judiciária –, em suma, terminará por determinar se é caso de prisão em flagrante. Fora do Código de Processo Penal, temos outras modalidades de flagrante válidas: o Flagrante Esperado e o Flagrante Controlado, também chamado de diferido. A modalidade esperada se caracteriza quando a força estatal, tendo informações prévias da prática de determinado crime, se coloca a postos para evitar sua consumação ou seu exaurimento. Por fim, a Lei nº 12.850/13 (Organização Criminosa) trouxe a previsão do Flagrante Diferido, retardado, postergado ou Ação Controlada. Trata-se de modalidade de flagrante previsto para operações que visam ao desmantelamento de organizações criminosas. Conforme Oliveira (2019, p. 552), Diante da complexidade que acompanha as ações criminosas praticadas por grupos organizados, a lei prevê a possibilidade de retardamento da ação policial, para observação e acompanhamento das condutas tidas como integrantes de ações organizadas. Em tal situação, a ação policial, ou seja, a prisão em flagrante será 7 diferida, isto é, adiada, para que a medida final se concretize no momento mais eficaz, do ponto de vista da formação da prova e fornecimento de informações (art. 8). Já o flagrante preparado ou provocado, não é aceito pelo ordenamento jurídico brasileiro, tratando- se de modalidade de flagrante na qual a polícia induz à prática do fato delitivo, ou seja, sem a atuação policial, seria impossível a prática daquela infração específica, no momento e da forma pretendidos (OLIVEIRA, 2019). Oliveira (2019, p. 551) ainda informa acerca de outra modalidade de flagrante não aceita pelo ordenamento jurídico brasileiro, o Flagrante Forjado, no qual, diante da habitualidade delitiva da pessoa, “os agentes policiais plantam, isto é, forjam, a prova de um crime atual para incriminar determinada pessoa”. Sobre o assunto, vige a Súmula nº 145 do STF: “não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia se torna impossível a sua consumação” (BRASIL, 2009, [s.p.]. Após a prisão em flagrante, a pessoa será conduzida à autoridade policial, que a ratificará ou não, conforme procedimento previsto no art. 304 do CPP: Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto. § 1º Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja. § 2º A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apresentação do preso à autoridade. § 3º Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste. § 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (BRASIL, 1941, [s.p.]) Nos termos do art. 306 do CPP, a “prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada” (BRASIL, 1941, [s.p.]), devendo os autos do Auto de Prisão em Flagrante ser encaminhado ao juiz competente em até 24h. Pode surgir uma dúvida sobre a atuação do delegado de polícia: ele tem atribuição para agir em circunscrição diversa, ou seja, em unidade da federação diferente daquela na qual se encontra 8 lotado? A resposta é positiva, tendo em vista não haveratribuição ratione locci, ou seja, em razão do local, mas, sim, mera divisão territorial para efeitos de organização funcional. Nesse sentido, é o entendimento pacificado dos tribunais superiores2. Corroborado, o art. 290 do CPP informa: Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de outro município ou comarca, o executor poderá efetuar a prisão no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autoridade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagrante, providenciará para a remoção do preso. (BRASIL, 1941, [s.p.]) Para efeitos de correta utilização de nomenclaturas, lembre-se de que delegados de polícia não possuem competência, mas atribuição. Como medidas judiciais a serem estudadas na Seção 1, temos a liberdade provisória, o relaxamento da prisão e o recurso de Embargos de Declaração. Sobre o instituto da liberdade provisória, o art. 321 do CPP é cristalino ao dispor que “ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste código” (BRASIL, 1941, [s.p.]). A petição requerendo a liberdade provisória será endereçada ao magistrado que estiver prevento, ou seja, aquele que primeiro tiver se manifestado nos autos, conforme previsto no art. 83 do CPP, fazendo constar as razões da concessão da liberdade e consequente não conversão da prisão em flagrante naquela outra modalidade provisória, qual seja a prisão preventiva (arts. 311 a 316 do CPP). 2 HABEAS CORPUS. ANULAÇÃO. INQUÉRITO POLICIAL. "INCOMPETÊNCIA RATIONE LOCI". INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE CONTAMINAÇÃO DA AÇÃO PENAL. ORDEM DENEGADA. 1. Pedido de anulação do inquérito policial e, consequentemente, a ação penal por "incompetência" da autoridade policial, haja vista que os fatos ocorreram em circunscrição diversa do local em que foi instaurado 2. As atribuições no âmbito da polícia judiciária não se submetem aos mesmos rigores previstos para a divisão de competência, haja vista que a autoridade policial pode empreender diligências em circunscrição diversa, independentemente da expedição de precatória e requisição. 3. O entendimento desta Corte é pacífico no sentido de que eventuais nulidades ocorridas no curso do inquérito policial não contaminam a subsequente ação penal. 4. Ordem denegada. (HC 44.154/SP, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, 6ª Turma, STJ, 27.03.06). A liberdade provisória será concedida no caso de prisão em flagrante válida, legal, homologada pelo magistrado, a qual pode ser convertida em prisão preventiva (arts. 311 a 313 do CPP), relaxada (se ilegal) ou concedida a liberdade provisória, mediante o pagamento de fiança ou sem ela, aplicando-se ou não as cautelares diversas da prisão previstas no art. 319 do CPP. PONTO DE ATENÇÃO 9 No que se refere às medidas cautelares diversas da prisão, elas estão elencadas taxativamente no art. 319 do CPP, cabendo ao magistrado aplicá-las em preferência à medida cautelar privativa de liberdade, como informado no parágrafo anterior. Informadas as cautelares diversas do aprisionamento preventivo, elas devem ser aplicadas em conformidade com o caso, ou seja, com suas peculiaridades, tais como a gravidade do fato praticado, eventual risco de fuga, etc., sempre em preferência a prisão preventiva, como quis o legislador quando da elaboração do § 6º do art. 286 do CPP. Caso a medida cautelar diversa do encarceramento não seja devidamente cumprida, ou a manutenção do cárcere se mostrar desnecessária, nos termos do art. 316 do CPP, o magistrado poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019). (BRASIL, 1941, [s.p.]) Assim, o magistrado pode revogar a prisão preventiva desnecessária, bem como decretá-la, caso necessário. Acerca do relaxamento da prisão, ele ocorre se constatada a ilegalidade do ato, ou seja, se a prisão em flagrante, preventiva ou temporária forem ilegais, o magistrado precisa, após requerimento da parte, relaxar a prisão, conforme previsão constitucional (inciso LXV do art. 5º). Nos termos do art. 293 do CPP, “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em julgado. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)” (BRASIL, 1941, [s.p.]). Portanto, caso seja demonstrada a ilegalidade da prisão em flagrante, a ordem de prisão cautelar/provisória (preventiva ou temporária) não for devidamente fundamentada (§ 2º do art. 312 do CPP) ou não haver trânsito em julgado da sentença penal condenatória, a prisão não pode ocorrer ou perdurar, sendo, assim, ilegal, e devendo ser relaxada. Especificamente sobre o relaxamento da prisão em flagrante, o inciso I do art. 310 do CPP é categórico ao informar que “após recebido o auto de prisão em flagrante (...), o juiz deverá relaxar a prisão ilegal” (BRASIL, 1941, [s.p.]). Cabe ressalvar que a prisão em flagrante ilegal pode apresentar duas espécies de vícios: de natureza material (quando não há configuração da situação de flagrante prevista no art. 302 do CPP) ou formal (quando ocorre irregularidade na lavratura do auto de prisão em flagrante, ou seja, foi realizado em desconformidade com as determinações do art. 304 e seguintes do CPP). 10 Havendo na comarca a implementação de audiência de custódia (obrigatório, nos termos da Resolução nº 213/2015, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em conformidade com decisão do STF, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 3473), o relaxamento deverá ser arguido pelo defensor durante o ato; em sentido contrário, ou seja, não tendo a implementação da audiência de custódia, o defensor deve peticionar junto ao magistrado prevento, argumentando as razões de fato e de direito que levarão à constatação da ilegalidade da prisão e, consequentemente, requerer o relaxamento da prisão e imediata expedição do alvará de soltura em favor da pessoa privada de sua liberdade. Figura 1.1 | Quadro resumido sobre liberdade provisória, relaxamento e revogação de prisão Fonte: elaborada pelo autor. Nota 4 3 Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10300665. Acesso em: 24 out. 2020. 4 Disponível em: Https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=88405037&num_ registro=201801237567&data=20190204&tipo=51&formato=PDF. Acesso em: 24 out. 2020. • Incide nos casos de prisão em flagrante. • Prisão é legal. • Restauração da liberdade de forma vinculada ao compromisso de comparecimento a todos os atos do processo (inciso III do art. 310 do CPP). LIBERDADE PROVISÓRIA • Incide em qualquer prisão ilegal e não só na prisão em flagrante, no inquérito ou processo (inciso LXV do art. 5º da CF/88. • Prisão é ilegal. • Restauração completa da liberdade, inclusive sem a aplicação de medidas cautelares diversas, em tese. RELAXAMENTO • Incide nos casos de prisão preventiva e temporária. Revoga-se a prisão quando essa não se faz mais necessária (art. 316 do CPP). • Prisão é legal. • Restauração total da liberdade (art. 316 do CPP), podendo ser determinada a aplicação de cautelar diversa da prisão (art. 319 do CPP), se sua necessidade for devidamente fundamentada. REVOGAÇÃO O STJ “sedimentou o entendimento segundo o qual a alegação de nulidade da prisão em flagrante, fica superada com a conversão do flagrante em prisão preventiva, tendo em vistaque constitui novo título a justificar a privação da liberdade” (RHC 98.538/CE, j. 13/12/2018). PONTO DE ATENÇÃO 11 Por fim, sobre os embargos de declaração, trata-se de espécie recursal, cabível, nos termos dos arts. 382 e 619 do CPP, quando for observada alguma omissão, obscuridade, contradição ou ambiguidade em decisão judicial, devendo o recurso ser interposto no prazo de 2 (dois) dias corridos após a publicação da decisão. A petição recursal deve ser interposta perante o magistrado prolator da decisão, não se fazendo necessária a confecção de folha de interposição separadamente das razões recursais. Com todos os dados e argumentos fornecidos, você, agora profissional do Direito, já está apto a decidir sobre a peça adequada e os passos que devem ser seguidos. Vamos começar mais uma longa, agradável e exitosa jornada? Apresentados os argumentos, qual é a peça cabível ao caso: relaxamento da prisão, liberdade provisória ou embargos de declaração? Inicialmente, deve-se observar o endereçamento, o local para onde será encaminhada sua peça. Assim, torna-se indispensável averiguar, com atenção, a autoridade judiciária competente, bem como fazer um breve relato dos fatos, expor as razões de direito e apresentar os requerimentos. Se for o caso, não deixe de mencionar acerca da juntada de documentos comprobatórios do que alega na petição (petição/requerimento nos autos, recurso), bem como datar e assinar, sem efetuar qualquer identificação. Somente se houver informação sobre prazos e datas, date a petição para o último dia do prazo; caso contrário, faça da seguinte forma: Local e data Nome e assinatura do advogado Nº da OAB Vamos peticionar! O juiz que atuar no inquérito policial, proferindo qualquer decisão, estará prevento, ou seja, caberá a ele receber a futura ação penal e presidir o processo, conforme o art. 83 do Código de Processo Penal. PONTO DE ATENÇÃO 12 Por fim, lembre-se de relatar bem o caso, sempre cuidando da grafia e linguagem apresentadas, bem como ater-se aos dados lançados no enunciado e requerer a oitiva do Ministério Público. Vamos peticionar? Bom trabalho! REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 25 out. 2020. BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del3689compilado.htm. Acesso em: 25 out. 2020. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 25 out. 2020. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 145. Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. Brasília, DF: STF, 2009. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2119. Acesso em: 25 out. 2020. BRASIL. Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção de prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei º 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2013/lei/l12850.htm#:~:text=L12850&text=Define%20organiza%C3%A7%C3%A3o%20crimin osa%20e%20disp%C3%B5e,1995%3B%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.&t ext=Art. Acesso em: 25 out. 2020. LOPES JR., A. Direito processual penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. NUCCI, G. de S. Manual de Processo Penal. 13. ed. São Paulo: Forense, 2016. OLIVEIRA, E. P. Curso de processo penal. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2019. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2119 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm#:%7E:text=L12850&text=Define%20organiza%C3%A7%C3%A3o%20criminosa%20e%20disp%C3%B5e,1995%3B%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.&text=Art http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm#:%7E:text=L12850&text=Define%20organiza%C3%A7%C3%A3o%20criminosa%20e%20disp%C3%B5e,1995%3B%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.&text=Art http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm#:%7E:text=L12850&text=Define%20organiza%C3%A7%C3%A3o%20criminosa%20e%20disp%C3%B5e,1995%3B%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.&text=Art http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm#:%7E:text=L12850&text=Define%20organiza%C3%A7%C3%A3o%20criminosa%20e%20disp%C3%B5e,1995%3B%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.&text=Art
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