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- 1 -
- 2 -
Comitê Científico 
Presidente 
Yvone Dias Avelino (PUC/SP)
Vice- presidente 
Pedro Paulo Abreu Funari (UNICAMP)
Membros
Alfredo González-Ruibal (Consejo Superior de Investigaciones Científicas-Spanish 
National Research Council e Institute of Heritage Sciences) 
Ana Paula Nunes Chaves (UDESC - Florianópolis/SC)
Barbara M. Arisi (UNILA - Foz do Iguaçu/PR) 
Benedicto Anselmo Domingos Vitoriano (Anhanguera – Osasco/SP)
Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira (PUC/SP - São Paulo/SP)
Claudio Carlan (UNIFAL - Alfenas/MG) 
Cristian Farias Martins (UFAM - Benjamin Constant/AM) 
Denia Roman Solano (Universidade da Costa Rica) 
Edgard de Assis Carvalho (PUC/SP - São Paulo/SP)
Estevão Rafael Fernandes (UNIR - Porto Velho/RO) 
Fábia Barbosa Ribeiro (UNILAB – São Francisco do Conde/BA)
Gilson Rambelli (UFS - São Cristóvão/SE) 
Graziele Acçolini (UFGD – Dourados/MS)
Heloisa Helena Corrêa (UFAM - Manaus/AM)
José Geraldo Costa Grillo (UNIFESP - Guarulhos/SP)
 Júlio Cesar Machado de Paula (UFF – Niterói/RJ)
Karel Henricus Langermans (Anhanguera - Campo Limpo - São Paulo/SP)
Kelly Ludkiewicz Alves (UFBA - Salvador/BA)
Lilian Marta Grisólio (UFG - Catalão/GO)
Lucia Helena Vitalli Rangel (PUC/SP - São Paulo/SP)
Luciane Soares da Silva (UENF – Campos de Goitacazes/RJ)
Marilene Corrêa da Silva Freitas (UFAM – Manaus/AM)
Odenei de Souza Ribeiro (UFAM – Manaus/AM)
Patricia Sposito Mechi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Paulo Alves Junior (FMU - São Paulo/SP)
Raquel dos Santos Funari (UNICAMP – Campinas/SP)
Renata Senna Garrafoni (UFPR - Curitiba/PR) 
Rita de Cassia Andrade Martins (UFG – Jataí/GO)
Thereza Cristina Cardoso Menezes (UFRRJ - Rio de Janeiro/RJ)
Vanderlei Elias Neri (UNICSUL - São Paulo/SP)
Vera Lúcia Vieira (PUC - São Paulo/SP)
Wanderson Fabio Melo (UFF – Rio das Ostras/RJ)
- 3 -
UMA HISTÓRIA DO 
POVOAMENTO DO 
CONTINENTE AMERICANO 
PELOS SERES HUMANOS: 
A ODISSÉIA DOS PRIMEIROS 
HABITANTES DO PIAUÍ
Gabriel Frechiani de Oliveira
Michel Justamand
Pedro Paulo Funari
- 4 -
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
CONSELHO EDITORIAL
Presidente
Henrique dos Santos Pereira
Membros
Antônio Carlos Witkoski 
Domingos Sávio Nunes de Lima
Edleno Silva de Moura
Elizabeth Ferreira Cartaxo
Spartaco Astolfi Filho
Valeria Augusta Cerqueira Medeiros Weigel
COMITÊ EDITORIAL DA EDUA
 Louis Marmoz - Université de Versailles
Antônio Cattani - UFRGS
Alfredo Bosi- USP
Arminda Mourão Botelho - UFAM
Spartacus Astolfi - UFAM
Boaventura Sousa Santos - Universidade de Coimbra
Bernard Emery - Université Stendhal-Grenoble 3
Cesar Barreira - UFC
Conceição Almeira - UFRN
Edgard de Assis Carvalho - PUC/SP
Gabriel Conh - USP
Gerusa Ferreira - PUC/SP
José Vicente Tavares - UFRGS
José Paulo Netto - UFRJ
Paulo Emílio - FGV/RJ
Élide Rugai Bastos - UNICAMP
Renan Freitas Pinto - UFAM
Renato Ortiz - UNICAMP
Rosa Ester Rossini - USP
Renato Tribuzy – UFAM
Reitor
Sylvio Mário Puga Ferreira
Vice-Reitor
Jacob Moysés Cohen
Editor
Sérgio Augusto Freire de Souza
- 5 -
UMA HISTÓRIA DO 
POVOAMENTO DO 
CONTINENTE AMERICANO 
PELOS SERES HUMANOS: 
A ODISSÉIA DOS PRIMEIROS 
HABITANTES DO PIAUÍ
Gabriel Frechiani de Oliveira
Michel Justamand
Pedro Paulo Funari
Embú das Artes - SP
2019
- 6 -
© Alexa Cultural
Direção
Gladys Corcione Amaro Langermans
Nathasha Amaro Langermans
Editor
Karel Langermans
Capa
Klanger
Foto de Capa
Klanger
Editoração Eletrônica
Alexa Cultural
Revisão
Michel Justamand
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
 OLIVEIRA, G. F
 JUSTAMAND, M.
 FUNARI, P. P.
Uma história do povoamento do continente americano pelos seres huma-
nos: a odisséia dos primeiros habitantes do Piauí, Gabriel Frechiani de 
Oliveira, Michel Justamand e Pedro Paulo Funari, Embu das Artes/SP: 
Alexa Cultural; Manaus/AM: EDUA, 2019
14x21cm - 118 páginas
ISBN - 978-85-5467-075-7
1. Arqueologia - 2. Antropologia - 3. História - 4. Piauí - 5. Brasil 
I- Sumário - II Bibliografia
 
 CDD - 510
 
 
Índices para catálogo sistemático:
1. Arquerologia
2. Antropologia
3.História 
Todos os direitos reservados e amparados pela Lei 5.988/73 e Lei 9.610
Alexa Cultural Ltda 
Rua Henrique Franchini, 256
Embú das Artes/SP - CEP: 06844-140
alexa@alexacultural.com.br
alexacultural@terra.com.br
www.alexacultural.com.br
www.alexaloja.com
Editora da Universidade Federal do 
Amazonas
Avenida Gal. Rodrigo Otávio Jordão Ramos, 
n. 6200 - Coroado I, Manaus/AM
Campus Universitário Senador Arthur Virgilio 
Filho, Centro de Convivência – Setor Norte
Fone: (92) 3305-4291 e 3305-4290
E-mail: ufam.editora@gmail.com
- 7 -
As melhores histórias são aquelas 
que surpreendem até os melhores historiadores.
Walter Bueno
- 8 -
- 9 -
O contexto intelectual do estudo da 
antiguidade da presença humana nas 
Américas
Pedro Paulo A. Funari
 A busca das origens e gênese estão presentes 
nos pensamentos de todas as sociedades humanas. 
Há até um termo para designar essa preocupação: 
a cosmogonia, “o tornar-se mundo”, daí criação do 
mundo, sendo mundo tanto o universo, como a so-
ciedade, toda a ordem de coisas, como de viventes e 
imortais considerados existentes. Essas narrativas são 
tão variadas como as sociedades, em diferentes épo-
cas e lugares, a mostrar que são maneiras de dar conta 
de entender e dar sentido aos fenômenos naturais e 
culturais. 
 A modernidade e o Iluminismo viriam a propor 
explicações das origens a partir da nascente ciência 
objetiva. Esta afastava-se do sobrenatural e fundava-
-se na experiência e na razão e a busca das origens 
naturais e sociais tomaram novas feições. As origens 
naturais e humanas só prescindiram do sobrenatural a 
partir do século XIX, quando a antiguidade das rochas 
parecia ultrapassar os seis mil anos da datação atribuí-
da à Bíblia e o evolucionismo propunha uma explica-
ção das origens das espécies, inclusive do ser humano. 
 Essa confiança na objetividade e numa expli-
cação única viria a ser identificada como positivismo, 
quando a própria ciência foi questionada como conhe-
cimento também subjetivo, dependente de teorias. 
No âmbito das Humanidades e da Teoria Social, houve 
- 10 -
crescente discussão sobre as narrativas, a partir de pa-
radigmas diversos, que até mesmo constituem como 
documentos objetos distintos. Isso teve consequên-
cias para todos os temas, com destaque para a ques-
tão das origens humanas, a começar pelas definições 
de origens e humanas.
 Origem é um termo mais genérico, que se pode 
aplicar a tudo e cuja etimologia indica o crescimento 
(daí Oriente, de onde cresce o Sol). O grego gênese e 
genealogia, usado por Michel Foucault, remete à no-
ção de “tornar-se”, de modo que ambos remontam à 
noção de algo que nasce, surge, de algo anterior (ou 
mesmo interior). Neste sentido, origens e genealogia 
tratam das causas anteriores. 
 Já o segundo termo, o humano, é ainda mais 
abstrato e sujeito a disputas. A definição biológica do 
humano está sujeita a aspectos relativos tanto à ge-
nética, como à morfologia, sem contar aspectos cul-
turais. O humano seria a espécie atual, com cerca de 
40 mil anos? Ou incluiria seus antepassados imediatos 
(200 mil anos?), incluiria espécies de cruzamento mú-
tuo, como os neandertais? Ou deveria recuar aos mais 
antigos hominídeos, há milhões de anos? Em qualquer 
caso, só se pode estudar esse tema a partir de uma 
variedade de teorias, pois sequer é possível determi-
nar com total certeza a vinculação entre as espécies 
de hominídeos.
 O povoamento do continente americano apre-
senta desafios particulares, a esse respeito. A antigui-
dade dos hominídeos no Velho Mundo (África, Ásia e 
Europa) é bem documentada, ainda que o relaciona-
mento dos vestígios esteja sujeito à diversidade de es-
quemas interpretativos. Já no Novo Mundo, há mais 
- 11 -
incertezas, evidências menos abundantes e mais con-
troversias, o que instiga a uma variedade ainda maior 
de interpretações. Este volume apresenta, de forma 
clara e didática, as principais evidências, teorias e es-
quemas interpretativos.Para isso, inicia-se com algu-
mas das perspectivas do início da Modernidade, quan-
do os europeus encontraram os ameríndios. A Bíblia e 
os autores clássicos, gregos e romanos, inspiraram as 
explicações das origens desses humanos. Em seguida, 
explicações baseadas nas evidências materiais e em 
teorias sociais multiplicaram-se e são apresentadas, de 
maneira direta e bem fundamentada, por este volume, 
que serve tanto a especialistas, como aos interessados 
em geral. O livro conclui-se com uma interrogação, 
como convém a um livro que, antes de tudo, faz pen-
sar. E isso é o mais importante, não?
 
 
 
- 12 -
- 13 -
Sumário
O contexto intelectual do estudo da 
antiguidade da presença humana nas Américas 09
Pedro Paulo A. Funari
Capítulo 1 
Em busca de novos caminhos para a história 15
 
 1.1 - A relação entre a história, a pré-história 
 e a arqueologia 23
Capítulo 2
Em busca das origens dos seres humanos 
no continente americano: as perspectivas biblíca 
e dos povos da antiguidade 35
 
 2.1 - uma perspectiva biblíca sobre o 
 povoamento do continente americano 
 
 2.2 uma perspectiva dos povos da 
 antiguidade sobre o povoamento 
 do continente americano 40
Capítulo 3
Em busca das origens dos seres humanos 
no continente americano: uma perspectiva científica 47
 
 3.1 - uma perspectiva sobre o povoamento 
 pelo norte do continente americano 48
 
 3.2 uma perspectiva sobre o povoamento 
 pelo sul do continente americano 60
Capítulo 4
A importância das pesquisas arqueológicas no 
Parque Nacional Serra da Capivara 75
- 14 -
Consideramos que... 87
Referências 89
Sobre os autores 105
Coleção Arqueologia Rupestre 109
Coleção FAAS - Fazendo Antopologia no Alto Solimões 111
Coleção FAAS Teses 113
Coleção Carmen Junqueira 113
Coleção Diálogos Interdisciplinares 115
- 15 -
CAPÍTULO 1
EM BUSCA DE NOVOS CAMINHOS PARA A 
HISTÓRIA1
Ao abrimos um livro de História do Brasil do en-
sino médio e folhearmos o sumário, observamos que 
o período que corresponde ao Brasil Colonial (1500-
1822) abrange poucos capítulos em relação ao período 
do Brasil Império (1822-1889) e Republicano (1889--), 
mas o período colonial corresponderia cerca de 322 
anos da nossa chamada História. A História do Brasil 
parece ter iniciado somente com a chegada dos portu-
gueses em 1500.
 Segundo Borges (2004, p.14),
Quem inaugura a história do Brasil é o colonizador 
europeu e tudo que vem antes da sua chegada é pré-
-história, ou então, entra nas páginas dos livros como 
o diferente, o pitoresco, como a contribuição do ele-
mento indígena para a raça brasileira, como mão-de-
-obra escrava, como resistência, mas sem existência 
própria, sem dinâmica social, sem sua própria vida.
Essa História do Brasil sempre foi vista pela ótica 
do colonizador, do europeu carregado com sua espi-
ritualidade cristã, procurando integrar os chamados 
índios2 na sua sociedade colonial. Gabriela Martin ex-
plica que “(...) a história da América é a história dos es-
panhóis, portugueses e ingleses na América, e o indí-
gena apenas parte da paisagem, mas sem constituir a 
1 Parte desse título foi extraído do livro “A História Negada” de Jónia Freitas 
Borges, citado na bibliografia.
2 Atribui-se a Cristóvão Colombo esse termo que pensava que tinha alcançado 
as Índias Orientais e assim justificando, o uso do termo índio para designar as 
populações do Novo Mundo.
- 16 -
história do continente antes da chegada dos europeus 
(MARTIN, 2002, p.20).
Todorov (1999)3 afirma que a conquista da Amé-
rica pelo europeu teria causado aproximadamente 70 
milhões de mortos no período do século XVI e XVII, 
configurando um dos maiores genocídios da história 
da Humanidade. Um dos motivos atribuídos a esse ge-
nocídio seria o fato de os europeus estarem motiva-
dos pelo espírito das cruzadas, buscando riquezas, e 
acrescidos com seu espírito bélico. 
Segundo Theodoro (1991, p.9),
O pensamento cristão havia-se adaptado muito bem 
à política expansionista. A teatralidade e a agilidade 
do cristianismo permitiam uma rápida penetração da 
doutrina entre os povos vinculados a uma outra estru-
tura ritual. As igrejas foram o suporte básico em que 
se assentou todo o projeto colonizador. Uma batalha 
ganha, um saque farto ou mesmo um grande massacre 
das populações indígenas podia merecer uma missa e, 
muitas vezes, acaba numa construção de uma igreja.
A construção da imagem dos índios giraria em 
torno de dois polos, o primeiro o bom selvagem des-
crito muitas vezes pelo Frei Bartolomé de Las Casas e 
outros religiosos que não viam maldade naqueles seres 
humanos, atribuindo uma inocência de Adão e Eva; a 
outra imagem de mal selvagem, rebelde, canibal e pa-
gão, obrigando ao homem branco inseri-lo nos ensina-
mentos cristãos e assim, muitas vezes escravizando-os. 
3 Tzvetan Todorov explicita bem esses impactos entre o contato do europeu 
com os habitantes do Novo Mundo ao afirmar que “Sem entrar em detalhes, 
e para dar somente uma ideia global (apesar de não nos sentirmos totalmen-
te no direito de arredondar os números em se tratando de vidas humanas), 
lembraremos que em 1500 a população do globo deve ser da ordem de 400 
milhões, dos quais 80 habitam as Américas. Em meados do século XVI, des-
ses 80 milhões, restam 10. Ou se, nos restringimos ao México: às vésperas da 
conquista, sua população é de aproximadamente 25 milhões; em 1600, é de 1 
milhão” (1999, p.158). 
- 17 -
Podemos citar como exemplo Juan Gines de 
Sepúlveda que defendia a submissão dos índios em 
relação aos europeus, e assim utilizando no desen-
volvimento das atividades coloniais, até a instituição 
jurídica do Requerimiento em 1514, que escravizava as 
sociedades indígenas. Laplatini (1995) afirma que a 
imagem do índio giraria em torno dessas duas ideolo-
gias do bom selvagem e mal selvagem, sendo conside-
rado um caminho entre a animalidade e a humanidade. 
Para Moniot (1988, p.100-101),
A exclusão de tantos povos era tanto decretada de di-
versas formas. Inicialmente por uma ideia já adquirida: 
não fizeram nada de notável, nenhum produto 
durável, antes da chegada dos brancos e da civilização 
– a selvageria como pré-história anônima e bronca, 
um dos estereótipos justificando do fardo do homem 
branco”. Mais ou menos grosseira, mas amplamente 
difundida, a idéia esterilizava os germes da curiosidade 
histórica, privada de objetos pela evidência. 
Diversamente, os filósofos colocavam fora da história 
as sociedades privadas de Estado – essa expressão 
manifesta do requinte e da permanência de um sen-
tido – ou todas aquelas que, repetitivas ou somente 
agitadas no caos, não trabalhavam numa construção 
desejada, consciente, progressiva.
Passado mais de cinco séculos do “descobrimen-
to” e da colonização podemos constatar que quase 
todas as populações indígenas foram dizimadas pela 
mão do europeu, de forma direta, pelo uso da violên-
cia ou indireta pelas doenças4 transmitidas pelo colo-
nizador. Mas de onde vieram esses habitantes e qual 
4 Em especial a varíola que foi utilizada em algumas situações pelos europeus 
para dizimarem as populações indígenas, como doação de roupas contamina-
das para os indígenas, segundo Todorov (1999, p.73) “(...) os espanhóis, sem 
saber, inauguram também a guerra bacteriológica, ao trazer a varíola, que 
provoca muitas baixas no exército adversário.”, essa forma de guerra bacte-
riológica foi utilizada pelo conquistador espanhol Hernan Cortez contra os 
Astecas, no México.
- 18 -
seriam sua importância para o contexto do piauiense?
Não se sabe ao certo qual o primeiro ponto que 
esses seres humanos chamados de índios chegaram 
ao continente americano, mas somente que são oriun-
dos de outras partes do mundo. 
De norte a sul do território piauiense, mais de mil 
sítios arqueológicos já foram catalogados pelo IPHAN.
De acordo com Santos e; Gita Oliveira (1997, 
p.11), 
(...) cabe ressaltar a importância dos sítios arqueo-
lógicos, constitutivos do patrimôniocultural, como 
testemunhos tanto históricos quanto imemoriais de 
ocupação do território bem como de sua utilização. 
Constituem provas concretas da presença e ativida-
de humanas em parcelas do território que podem ser 
atestadas e datadas.
Quando os desbravadores Domingos Afonso 
Sertão e Domingos Jorge Velho em meados do sécu-
lo XVII adentraram no solo piauiense deparam-se com 
várias tribos indígenas: Timbira, Acroá, Jaicó, Tabajara, 
Tremembé, Gueguê, Pimenteiras que foram desterri-
torializadas pelo processo de colonização, sendo es-
cravizados como mão-de-obra, catequizados ou, em 
caso de resistência exterminados. Podemos fazer uma 
analogia com o livro Utopia5 de Thomas Morus (1478-
1535), que conta o processo de expulsão dos peque-
nos agricultores ingleses de suas terras para criação 
de ovelhas, o que Karl Marx (1818-1883) denomina 
5 Encontramos essa passagem em um diálogo do livro entre “Todavia, essa 
não é a única razão que obriga as pessoas a roubarem. Há uma outra, que me 
parece ser mais particular de vocês. – Qual é? – perguntou o cardeal. – Vos-
sos carneiros – disse eu-. – Normalmente tão mansos, tão fáceis de alimentar 
com pouca coisa, ei-los transformados, dizem-me, em animais tão vorazes e 
ferozes que devoram até mesmo os homens, devastando e despovoando os 
campos, granjas, as granjas, as aldeias” (MORUS, 2006, p.31). 
- 19 -
clearing state6, mas no lugar de ovelhas era o gado que 
comeria os indígenas piauienses e usurparia as suas 
terras. 
A região geográfica que faz parte o estado do 
Piauí era massivamente povoada por uma diversidade 
de tribos indígenas no período colonial, sendo com-
parada como “(...) nos primeiros dias, os índios fer-
vilhavam como formigas nos vales dos rios do Piauí 
e também por todo o Nordeste” (NUNES, 1972, p.12), 
descrito como um grande corredor migratório dos 
grupos indígenas na região Nordeste e Norte (NUNES, 
1975).
As estimativas demográficas acerca da popula-
ção indígena piauiense remontam 369 mil pessoas no 
período colonial, estando segmentada em quatro prin-
cipais grupos étnicos: 1) Cariri, composto pelos Tre-
membés; 2) Caraíba, pelos Pimenteiras; 3) Tupi, com-
posto pelos Tabajaras; 4) Jê, composto pelos Acroás, 
Gueguês, Timbiras e Jaíco (BAPTISTA, 2009).
A historiografia piauiense que versa acerca dos 
grupos indígenas no período colonial é complexa e 
apresenta várias divergências no que tange a desig-
nações dos grupos culturais, gerando problemas de 
conceituação e divergência nas narrativas históricas, a 
histórias dos índios no Piauí precisa ainda ser estudada 
com mais profundidade (COSTA, 1974; NUNES, 1975; 
2007; ALENCASTRE, 1981; CARVALHO, 1993; CHAVES, 
2005; MACHADO, 2010; CASTELLO BRANCO, 2011).
Segundo Oliveira (2002, p.174-175),
6 Esse conceito clearing state foi extraído de Karl Marx que significaria “roçan-
do dos bens pela raiz” seria “(....) o conjunto de atos de violência por meio dos 
quais se desembaraça dos cultivadores e de suas moradias, quando eles se 
encontram sobre bens de raiz destinados a passar ao regime de grande cultura 
ou ao estado pastoril” (MARX,1985, p.42).
- 20 -
A colonização no estado do Piauí teve início apenas 
no final do século XVI e começo do século XVII. Ao 
contrário do processo de povoamento de outros es-
tados brasileiros do interior, teve início a partir do rio 
São Francisco e seguiu para o litoral quando chegaram 
as primeiras expedições bandeirantes e à procura da 
mão-de-obra indígena e metais preciosos. Posterior-
mente, com a expansão da pecuária para o sertão 
nordestino, surgiram freguesias, missões e vilas. Mui-
tos desses povoados e fazendas foram instalados em 
áreas de antigas aldeias indígenas.(...) O processo 
de extermínio da população indígena no interior do 
sertão foi se intensificando, a partir do século XVIII, 
com o avanço dos colonizadores, interessados prin-
cipalmente na liberação das terras e na obtenção da 
mão–de-obra indígena para a lavoura e a pecuária as-
sim como para serviços de guias ou combater grupos 
indígenas. Essa fase é marcada também pela presença 
dos padres jesuítas que, com o objetivo de catequese, 
fundam as missões ou reduções destinadas a reunir as 
populações indígenas.
Sobre a relação entre pecuária e extermínio dos 
indígenas, observamos o crescimento acelerado dessa 
atividade e sendo considerada junto com a escraviza-
ção, um dos fatores de tal dizimação indígena.
De acordo com Brandão (1999, p.64),
(...) o ritmo expansionista das fazendas pode ser ob-
servado através da quantidade de propriedades insta-
ladas a cada ano. Entre 1697 a 1730, portanto em 33, 
o número de fazendas do Piauí passou de 129 a 400, 
correspondendo a implantação de 8,2 a cada ano. No 
corte cronológico de 1730 a 1762, criaram-se, a cada 
ano, 4,2 novas fazendas, pois, em 1762, havia um total 
de 536 unidades
 O principal objetivo da colonização do solo 
piauiense foi ocupação do espaço geográfico que sem-
pre foi visto como terra de ninguém, terra de passagem 
- 21 -
ou terra ruim, juridicamente pertencendo à capitania 
de Pernambuco, Bahia e do Maranhão. Como a região 
não possuía riquezas minerais (ouro e prata), não tinha 
pau-brasil e a agricultura em larga escala seria dificul-
tada pelo transporte e a necessidade de mão-de-obra 
para o cultivo, a pecuária extensiva foi à atividade eco-
nômica que melhor adaptou-se às condições naturais, 
necessitando de pouca mão-de-obra e impedindo que 
outras potências coloniais (França e Holanda) ocupas-
sem para si esse território.
 Em busca de fazer alguns apontamentos para 
os rumos que segue essa pesquisa, o caminho do pro-
cesso de construção histórica não é uma via de um úni-
co sentido, no intuito de chamar atenção para esse pa-
trimônio cultural que vem sendo destruído pela ação 
indireta através dos fatores naturais (intemperismos 
físico, químico e biológico) ou pela ação direta dos 
seres humanos sobre os sítios arqueológicos, e assim 
apagando esses registros históricos.
Para Lemos (2004, p.49) “A deseducação, a in-
diferença, o egoísmo e tanto outros comportamentos 
concomitantes e não controlados são os responsáveis 
pela desfiguração do nosso litoral e de suas cidade ve-
lhas e não só suas aldeias”.
 Ressaltando a necessidade das autoridades 
governamentais agirem para proteção desse patrimô-
nio e um programa de educação patrimonial nas es-
colas, como forma salvaguarda do patrimônio. Logo, 
enfatizando a necessidade de pesquisarmos acerca 
das tribos indígenas piauienses que foram excluídas 
do processo histórico pelo colonizador europeu e as-
sim a busca de novos caminhos para a construção do 
conhecimento histórico.
- 22 -
1.1. A RELAÇÃO ENTRE A HISTÓRIA, A PRÉ-HISTÓRIA 
E A ARQUEOLOGIA
A primeira indagação acerca do que seria a His-
tória? A História já foi vista ao longo do tempo como, 
uma forma de expressão científica, religiosa, artística 
ou literária. Logo, não podemos fornecer uma única 
definição de História, mas fornecer um conceito. Pri-
meiramente, com a relação o objeto da História7. 
 Na visão de Febvre (1985, p.30) os objetos da 
história seriam,
(..) os homens, únicos objetos da história – de uma his-
tória que se inscreve no grupo das disciplinas humanas 
de todas as ordens e de todos os graus, ao lado da an-
tropologia, da psicologia, da linguística, etc; uma his-
tória que se interessa por não sei o homem abstrato, 
eterno, de fundo imutável e perpetuamente idêntico a 
si mesmo, mas pelos homens membros dessas socie-
dades numa época bem determinada do seu desenvol-
vimento, pelos homens dotados de funções múltiplas, 
de actividades diversas, de preocupações e de apti-
dões variadas, que se mesclam todas, se chocam, se 
contrariam, e acabam por concluir entre si uma paz de 
compromisso, um modus vivendi que se chama a Vida. 
Podemos afirmar que a relação entre a História, 
a Pré-História e a Arqueologia seria o estudo dos seres 
7 Para Veyne (1998, p.12-18) “A história não é uma ciência e não tem muito a es-
perar dasciências; ela não explica e não tem método; melhor ainda, a História, 
da qual muito se tem falado nesses dois últimos séculos, não existe. (...) A his-
tória é uma narrativa de eventos: todo o resto resulta disso. Já que é, de fato, 
uma narrativa, ela não faz reviver esses eventos, assim como tampouco o faz 
o romance; vivido, tal como ressai das mãos do historiador, não permite evitar 
alguns falsos problemas. Como o romance, a história seleciona, simplifica, or-
ganiza, faz com que um século caiba numa página, e essa síntese da narrativa é 
tão espontânea quanto a da nossa memória, quando evocamos os dez últimos 
anos que vivemos”. Seria o que Bloch (2001) denomina do contato indireto 
com objeto histórico , logo, mesmo vivendo o acontecimento podemos ter 
uma grande multiplicidades de perspectiva sobre o acontecimento, podemos 
observar uma guerra da perspectiva de um general ao um simples soldado e 
assim fornecendo uma melhor visão sobre o fato em si, mas jamais sendo con-
siderada a única e definitiva, podendo ser revisto o mesmo acontecimento por 
outros personagens da trama histórica ou teatro da vida, afirma Veyne (1998).
- 23 -
humanos e suas transformações ao longo do tempo. 
Mas o que denominamos de pré-história e sua diferen-
ça para História? O conceito pré-história8 foi cunhado 
por Daniel Wilson em 1851, para designar os estudos 
relacionados aos períodos ou dados históricos em que 
existiam poucos registros inteligíveis pela escrita. Pos-
teriormente, o termo foi utilizado por Sir John Lubbo-
ck no seu livro Prehistoric Times em 1865, se difundin-
do usualmente, como disciplina que preencheria os 
domínios onde a história não conseguiria alcançar pe-
las ausências de fontes escritas inteligíveis. 
Segundo Braidwood (1985) a pré-história signifi-
caria o tempo anterior ao surgimento da escrita, acer-
ca de 5 à 6 mil anos atrás e assim compreendendo em 
torno de 99% do passado humano. O principal marco 
de divisão entre a História e Pré-História seria o adven-
to da escrita, deixada como uma forma de registrar o 
passado. Com relação a esses povos que viveram an-
tes do período da escrita e que deixaram seus regis-
tros, a partir dessas de pinturas, gravuras, artefatos e 
fósseis podemos apreender um pouco da história des-
sas sociedades ágrafas. 
Para Leroi-Gourhan (1988, p.92), 
8 Segundo Trigger (2004, p.81) acerca do termo pré-história de Daniel Wilson 
“(...) definiu como o estudo da história de uma região antes da primeira apa-
rição de registros escritos sobre ela. Sublinhou que a compreensão do passa-
do derivável tão-somente dos artefatos era muito diferente da compreensão 
que se obtém a partir dos registros históricos. Contudo, ele tinha esperança 
de que, no devido tempo, os arqueólogos se tornariam capazes de descobrir 
alguma coisa a respeito da vida social e das crenças religiosas dos tempos pré-
-históricos”. No entanto, segundo Laming-Emperaire (1973a) atribui-se a Paul 
Tournal (1805-1872), um jovem farmacêutico de Narbonne na França sugeriu 
a criação de dois períodos para caracterizar a história do homem, o primeiro 
“anti-histórico” e “histórico” que teria começado aproximadamente por volta 
de 7000 anos atrás. Outra referência que encontramos ao longo da pesquisa, 
Trigger (1973, p.3) afirma que (...) o “adjetivo préhistorique por Tournal desde 
de 1833 (Heizer, 1962:72-83), o nome pré-história foi proposto pela primeira 
vez, para designar uma disciplina, num livro cujo o era The Archaeology and 
Prehistoric Annals of Scontland, publicado por Daniel Wilson, em 1851”.
- 24 -
(...) a história antes da escrita é a história da mão an-
tropiana, ou melhor (pois temos muito poucos esque-
letos de mãos bastante antiga, e sua evolução seria 
difícil de ser evidenciada no detalhe), a história dos 
produtos do cérebro que a mão exterioriza, ou seja, os 
instrumentos. Mais corretamente ainda, a pré-história 
humana realiza sua continuidade nos milhões de mar-
cos cronológicos que são constituídos de pedra talha-
da, únicos testemunhos praticamente indestrutíveis. 
A partir da arqueologia podemos estudar esses 
povos sem essa escrita inteligível de acordo com os 
parâmetros da nossa sociedade9, a palavra arqueolo-
gia vem do grego (archaîos, antigo e logos, conheci-
mento) significando “conhecimento dos primórdios” 
ou “relatos das coisas antigas”. 
Segundo Childe (1977, p.9),
Arqueologia é uma forma de história e não uma sim-
ples disciplina auxiliar. Os dados arqueológicos são 
documentos históricos por direito próprio e não me-
ras abonações de textos escritos. Exatamente como 
qualquer outro historiador, um arqueólogo estuda 
e procura reconstituir o processo pelo qual se criou 
o mundo em que somos criaturas do nosso tempo e 
do nosso ambiente social. Os dados constituídos por 
todas as alterações no mundo material resultante da 
ação humana, ou melhor, são os restos materiais da 
conduta humana.
De acordo com Watson; LeBlanc e; Redman 
(1971, p.13),
9 Devemos ressaltar que olhar do observador com relação ao passado tem 
suas raízes no nosso presente, o passado em si é estático no tempo, consi-
derando que os eventos já ocorreram, mas as perspectivas do passado estão 
em constante movimento, podendo variar de acordo com os olhos dos ob-
servadores e período de tempo. Segundo Carr (1988, p.11-12) “O historiador 
é necessariamente seletivo. A crença num núcleo sólido de factos históricos 
existentes objetiva da interpretação do historiador é uma falácia absurda, mas 
difícil de extirpar, no entanto. (...) O que corresponde à nossa visão foi pré-se-
lecionando e pré-determinado para nós, não tanto por acaso, mas antes por 
pessoas que estavam conscientes ou inconscientemente imbuídas por uma 
visão especial, pensando que factos que fundamentavam essa visão eram dig-
nos de ser preservados”.
- 25 -
A arqueología é um termo que se aplica corretamente 
a várias disciplinas ou subdisciplinas bastantes diferen-
tes. O motivo é que a palavra <<arqueología>> se utili-
za com freqüência, simplesmente para referir-se a um 
conjunto de técnicas e métodos dirigidos a reconhe-
cer informações acerca do passado (e pode, por tanto, 
se usada com vários propósitos) e não para identificar 
uma disciplina completamente com uma teoria, um 
método e um campo de estudo somente peculiares a 
ela. 10 
Dentro dessa perspectiva, a partir da cultura ma-
terial deixada por esses povos do passado, os arqueó-
logos se debruçam sobre os questionamentos relati-
vos as sociedades humanas. De acordo com Schnapp 
(1988, p.2) “A pesquisa etnológica ou histórica exige 
um conhecimento relativo da vida das sociedades, 
enquanto a arqueologia, tal como ela é conhecida, ao 
contrário, exige, antes de tudo, faro”.
 Neste sentido, o conhecimento do arqueólogo 
é fragmentado, cabendo ao arqueólogo reunir as in-
formações com intuito de interpretar, mesmo saben-
do que muitas informações serão perdidas ao longo 
da pesquisa. Eis o paradoxo do arqueólogo11, por isso 
a necessidade de deixarmos o testemunho nas esca-
vações, deixamos a possibilidade das gerações futuras 
10 Tradução nossa.
11 Acerca desse paradoxo, André Leroi-Gourhan (2001, p.22) explicita esse pen-
samento ao fazer a seguinte analogia “Com um manuscrito, pode-se voltar 
atrás e considerar de novo uma passagem já lida. A terra, porém, é um livro 
cujas as páginas são destruídas à medida que se passam; só pode ser lido uma 
vez no texto original; quando uma camada de terra é retirada, tudo o que não 
foi transcrito está irremediavelmente perdido”. Segundo Moberg (1968, p.51) 
“É preciso escolher decidir. Ora, as vezes escolhas são múltiplas: deverá ob-
servar-se apenas sem tocar nem dissecar? Que informações registrar? Quais 
omitir? Esta recolha precisa terá utilidade? Toda a escavação é uma destruição; 
provoca danos, tal com as técnicas de laboratório que exigem a degradação 
total ou parcial de um objeto. É preciso portanto escolher: será mais importan-
te (ou menos importante) salvaguardar ou conhecer?”- 26 -
de arqueólogos utilizarem novas metodologias e assim 
extraindo informações que teriam passado desperce-
bidos por nossa geração. Neste sentido Braidwood 
(1985) afirma que a interpretação dos achados seria 
a parte mais importante do trabalho do arqueólogo, 
considerando a forma que alcançariam as particulari-
dades históricas dessas sociedades humanas. 
 Conta Cleator (1963) que por meio de uma brin-
cadeira quebraram o famoso vaso de Portland12 no 
Museu Britânico em 1845. Os peritos se debruçaram 
sobre um desafio, de como reconstruir o vaso o mais 
do próximo do que era antes, o arqueólogo no seu tra-
balho de campo encontra muitos “vasos quebrados” 
no sentido figurado da palavra, tendo de produzir sín-
teses na questão estratigráfica, na determinação das 
fases. Muitos pedacinhos desses vasos reconstruídos 
ficarão perdidos e outros podem estar colados de for-
ma errada, mas o trabalho do arqueólogo torna-se se-
melhante ao de um detetive, sempre buscando novas 
pistas e desconfiando das pistas que tem em mãos. 
Dentro dessa perspectiva, a arqueologia está 
dividida em vários segmentos que tem seu objeto de 
estudo delimitado, não estudando somente as socie-
dades sem escrita. Existem várias outras disciplinas da 
arqueologia, como a Arqueologia Bíblica que aborda 
as questões relativas às religiões; a Arqueologia Clássi-
ca que aborda as civilizações da antiguidade, em espe-
cial, Grécia e Roma; a Arqueologia Histórica que estu-
da as sociedades que possuem a escrita e; Arqueologia 
Pré-histórica que aborda as sociedades sem escrita.
Para Bahn e Refrew (1993, p.11),
12 1845 O vaso de Portland, vaso romano feito de vidro datado do século primeiro 
a.C., foi partido por um visitante bêbado no Museu Britânico. 
- 27 -
Um dos principais avanços das últimas décadas tem 
sido a tomada de consciência que a arqueologia pode 
contribuir em grande medida, não somente para a pré-
-história e a história antiga, mas também das etapas 
históricas mais recentes.
Com a arqueologia podemos estudar tanto o pre-
sente quanto o passado, proporcionando uma maior 
visão do objeto de estudo e sendo de grande valia em 
situações de ausência das fontes escritas. 
 Trigger (2004) afirma que podemos conside-
rar o primeiro arqueólogo o italiano Aráico de Ancona 
(1391-1452) por seus estudos em monumentos antigos 
na Grécia e Mediterrâneo, mas não deixando de ressal-
tar segundo Laming-Emperarie (1973 b) a importância 
de outros estudiosos, como, Michel de Mercati (1541-
1593) por ter estudado as pontas de flechas, cerâmicas 
e instrumentos de pedra, sintetizado no seu livro Me-
thalloteca e Georgius Agrícola (1490-1555) que defen-
deu publicamente que certos instrumentos líticos, pro-
vavelmente teriam origem antrópica. Essa afirmação 
também seria feita por Ulisse Aldovandi (1522-1605) e 
Isaac de la Péyre (1594-1676) começando a questionar 
as origens bíblicas desses instrumentos, atribuindo a 
uma “raça pré-adamitas”13. 
A arqueologia nasceu em meio à ciência Históri-
ca movida por um interesse na antiguidade clássica in-
fluenciado pelo movimento renascentista do século XIV 
a XVI afirma Moberg (1968), marcando essa primeira 
fase da arqueologia descrita acima, e especialmente a 
Geologia, onde a arqueologia tomou emprestado o con-
ceito de estratigrafia14 que é utilizado até os dias atuais.
13 A raça pré-adamita, uma raça anterior a Adão e Eva.
14 Segundo Bahn e Refrew (1993) sobre o conceito de estratigrafia foi desen-
volvido por James Hutton na sua obra Teoria da Terra, estudando as formas de 
organização das rochas em níveis e assim fornecendo um dos princípios que 
- 28 -
Segundo Trigger (2004, p.36),
A apreciação da antiguidade clássica não ficou restrita 
à literatura, expandindo-se rapidamente de modo a 
incorporar os domínios da arte e da arquitetura, ob-
jeto de particular interesse da nobreza italiana e dos 
mercadores ricos, que rivalizavam como patronos das 
artes. O estilo gótico foi rejeitado e envidaram-se es-
forços no sentido de emular e arquitetura da Roma an-
tiga. Esta evolução pouco a pouco tornou também os 
objetos materiais sobreviventes do passado, podiam 
constituir importantes fontes de informações sobre a 
civilização clássica. 
Com o movimento Iluminista na segunda meta-
de do século XVIII, pautado numa ideia de progresso 
da raça humana, inaugura-se uma perspectiva evolu-
cionista e questionadora das origens bíblicas que em 
um futuro próximo seria apoiado pelos estudos feitos 
por Charles Darwin (1809-1882).
Trigger (2004) afirma que George Louis Leclerc 
Buffon (1707-1788) tentou buscar explicações de ori-
gens naturais acerca do mundo e sua antiguidade de 
milhares de anos a milhões de anos, o geólogo George 
Cuvier (1769-1832) encontrou ossos de animais extin-
tos em suas pesquisas na França e explanou uma anti-
guidade de 80 mil para o planeta Terra.
Bordes (1967) afirma que as pesquisas de Jac-
ques Boucher de Perthes (1788-1868) trouxeram em 
evidência o “homem anti-diluviano”, um homem an-
terior ao dilúvio descrito na Bíblia. Foram encontrado 
artefatos de sílex bifaces e ossos de animais extintos 
em Abbeville, no Vale Somme, França e assim desenca-
deando uma série de questionamentos sobre os anti-
gos donos desses objetos. Em 1797, John Frere (1740-
1807) encontrou sílex talhado em Hoxne na Inglaterra, 
são muito utilizados nas escavações arqueológicas, no caso, a estratigrafia. 
- 29 -
atribuídos também ao homem antediluviano.
Em geral, acreditava-se que esses artefatos en-
contrados, como ossos, machados e pinturas fossem 
feitos pelos povos vikings e celtas, no intuito de for-
necer uma explicação plausível e não questionando a 
explicação bíblica com relação ao dilúvio. Charles Lyell 
iria criticar essas ideias de catástrofes naturais e afir-
mar que as mudanças ocorreriam de forma gradual e 
não bruscamente, fornecendo de certa forma um su-
porte para Charles Darwin fundamentar seus estudos 
sobre a evolução humana.
 Segundo Bordes (1967) a primeira revista de 
sucesso sobre a Pré-História (Matériaux por l´histoire 
positive et philosophique de l´homme) e a classificação 
arqueológica dos artefatos da Idade da Pedra e do 
Bronze foi criada por Gabriel de Mortillet (1821-1898) 
em 1864. Seguidamente, Emile Cartailhac (1845-1921) 
torna-se editor da revista de Mortillet, dedicando-se 
aos estudos de arte rupestre, consagrando com seus 
estudos sobre a Gruta de Altamira, na Espanha. Um 
outro estudioso foi Edouard Larter (1801-1871) que 
pesquisou o Paleolítico e dividiu em quatro idades com 
nomes de animais: a primeira, do bisão; a segunda, da 
rena; a terceira, do mamute e rinoceronte e a quarta, 
dos ursos das cavernas, em ordem de antiguidade, res-
pectivamente.
 Não deixando de evidenciar a importância de 
outros pesquisadores e seus feitos, como Victor de 
Commont (1866-1918) que realizou estudos acerca 
das glaciações nos estágios do Paleolítico e Joseph 
Déchelette (1861–1914) que publicou um manual de ar-
queologia que abordava desde do paleolítico à idade 
dos metais em 1908. 
- 30 -
Mas quem não se apaixonou pela história de 
Heinrich Schliemann (1822-1890) que quando criança 
ouviu a lenda da guerra de Tróia (Ilíada)? Posterior-
mente, quando se tornou adulto e arrecadou uma de-
terminada quantia foi em busca de sua cidade perdida 
nos seus sonhos infantis. Encontrando-a em Hissarlik, 
na Turquia e achando mais de 8 mil objetos de ouro15, 
obtendo êxito na sua busca por Tróia. Um outro aven-
tureiro em busca de seus sonhos foi John Evans que 
pesquisou os vestígios da civilização creto-micênica na 
ilha de Creta, localizada no mar mediterrâneo (CLEA-
TOR, 1963). 
 Para Bahn e Renfrew (1993) os pais dos mé-
todos de escavação arqueológica seriam General Pit-
t-Rivers (1827-1900) que desenvolveu os métodos de 
organização nas escavações (planilhas, descrições, 
maquetes); Sir William Matthews Flinder de Petrie 
(1853-1942) que criou o método de seriação contex-
tual através da cerâmicas em Dióspolis Parva, noEgi-
to; Sir Mortimer Wheeler (1890-1976) conhecido divi-
são do sitio arqueológico em quadrículas; Max Uhle 
(1856-1944) com suas pesquisas no Peru e; Alfred Ki-
dder (1885-1963) que estudou a cultura Maia e depois 
desenvolveu trabalhos de arqueologia subaquática. 
Esses pesquisadores citados acima forneceram 
a metodologia para o trabalho de campo arqueológi-
co, assim afastando a arqueologia do empirismo e do 
amadorismo que antes rondavam o meio arqueológi-
co. Até mesmo, pessoas com problemas mentais fo-
ram utilizadas para os procedimentos de escavação no 
século XIX e em parte do século XX.
15 Segundo Cleator (1963, p.105) “Lá se encontravam mais de 8.000 objetos 
de ouro, ao todo, na maioria coisas de pequeno tamanho, tais como contas, 
botões, etc., embora também houvesse certo número de braceletes (....)”. 
- 31 -
 Da mesma forma que arqueologia teve muitos 
frutos ao se relacionar com geologia, geografia, histó-
ria e biologia, a aproximação da arqueologia com as 
ciências da natureza trouxe muitos ganhos, em espe-
cial com a Física e a Química. 
Com a descoberta do processo de datação do 
rádio carbono16 pelo americano Willard Frank Libby 
(1908-1980) em 1949, permitiu a arqueologia datar os 
artefatos no intervalo de até 50 mil anos com segu-
rança, assim facilitando a construção de quadros cro-
nológicos e permitindo uma melhor organização da 
pré-história, mas não abandonando o método compa-
rativo muito utilizado no século XIX. 
Podemos considerar a datação por rádio carbo-
no, como uma revolução para época e sendo utilizado 
até os dias atuais, mas tendo suas limitações, como os 
tipos de materiais e condições dos sítios. 
Segundo Trigger (1973, p.4),
 
A história e pré-história complementam-se, assim, mu-
tuamente e completam a crônica do desenvolvimento 
humano. Diferem, todavia, quando aos tipos de fontes 
utilizadas e quanto à modalidade de reconstrução vi-
sada. O historiador tem como dados básicos os relatos 
de ideias ou do comportamento dos seres humanos; o 
pré-historiador, no entanto, deve satisfazer-se com o 
estudo dos restos materiais de culturas passadas que 
resistiram aos agentes de decomposição e foram recu-
perados pelo arqueólogo. Para os períodos mais anti-
gos, somente as evidências arqueológicas são disponí-
16 Para Leinz e Amaral (2003, p.26-27) “Para a determinação da idade de acha-
dos arqueológicos de natureza orgânica é usado um isótopo radioativo de 
carbono, de peso atômico 14. Este isótopo é formado pelo bombardeamento 
de raios cósmicos no nitrogênio das camadas superiores da atmosfera. Este 
é logo combinado com o oxigênio, e o CO2 resultante entra numa proporção 
conhecidas nos tecidos nos tecidos vivos. Tendo o carbono 14 uma meia vida 
de 5.568 anos, transformando-se novamente em nitrogênio, torna-se possível 
a determinação da idade de achados orgânicos recentes, sob o ponto de vista 
geológico. Sua exatidão declina rapidamente a partir de cerca de 20 mil anos”.
- 32 -
veis e o pré-historiador se concentra na elaboração de 
tipologias de artefatos de pedra, relacionando-se com 
as sequências geológicas e paleontológicas. Para os 
períodos mais recentes tanto as evidências etnológi-
cas e linguísticas como lendas e relatos históricos po-
dem frequentemente ser utilizados como suplemento 
aos dados arqueológicos.
 
 Dentro dessa perspectiva podemos observar 
que a Pré-história e História estariam intimamente li-
gadas, mas especialmente com relação ao seu objeto 
de estudo, os seres humanos.
Os primeiros grupos humanos modernos (Homo 
sapiens) surgiram no continente africano por volta 200 
mil anos atrás, o grande diferencial desses espécimes, 
junto com seu parente hominídeo (Homo erectus), era 
produtor de bens de culturais, fabricantes de utensí-
lios para ajudar nas tarefas cotidianas de sobrevivên-
cia (produção de ferramentas líticas), como caçar, 
coletar, construir habitações, controle reprodutivo, 
pescar e lutar contra seus adversários, seja outros hu-
manos ou animais perigosos (KARLIN, JULIEN, 1996; 
TAYLOR, 1997; GOWNLETT, 2004). 
Esses grupos humanos migraram do continente 
africano para outros continentes, como Ásia, Europa, 
Oceania e América, povoando o planeta terra e se de-
senvolvendo culturalmente e biologicamente, foram se 
adaptando ao ambiente e encontrando soluções para 
contornar os principais problemas encontrados, sen-
do um sucesso adaptativo até os dias atuais (DARWIN, 
1974; BERNARDI, 1978; LEWIN, 1999; NEVES, 2006). 
Seu pacote adaptativo era uma série de conhe-
cimentos para produzir ferramentas para auxiliar nas 
atividades diárias, a partir de uma tecnologia oriunda 
das manufaturas de rochas, que foram aperfeiçoadas 
- 33 -
com o passar do tempo e transmitidas de geração em 
geração, uma memória coletiva através um sistema 
de comunicação, constituído de uma linguagem17 inte-
ligível (um depósito cultural), como a construção de 
símbolos e significados18 (EVANS-PRTICHARD, 1972; 
CLARK, 1985; LEROI-GOURHAN, 2001; LANGANEY ET 
AL, 2002).
17 “Na realidade, o que distingue verdadeiramente nossa espécie das demais é 
nossa linguagem: nós somos capazes de combinar palavras segundo uma gra-
mática para construir frases, e estas adquirem, então, um sentido superior ao 
que se obteria com a simples adição das palavras entre si. Somente o cérebro 
humano é capaz de comunicar informações desse modo. Já se demonstrou 
que os grandes macacos podiam aprender várias certezas de palavras, até 
900, no caso de certos chimpanzés, mas eles não produzem espontaneamen-
te frases novas. (...) Há uma segunda característica, sem dúvida possibilitada 
pela primeira: nossa capacidade de diversificar- nos. Na natureza, uma mesma 
espécie animal ocupa sempre o mesmo tipo de ambiente, no qual eles adotam 
uma mesma gama de comportamento. Assim, em todos os pontos do planeta, 
todas as populações de uma mesma espécie ocupam o mesmo tipo de habitat, 
vivem da mesma maneira (....)” (LANGANEY ET AL, 2002, p. 19; 21).
18 De acordo com White (2009, p.9) “O homem é um animal. Porém, não é 
apenas mais um animal: Ele é único. Só o homem, entre todas as espécies, tem 
uma capacidade a que, por falta de um termo melhor, chamaremos capacida-
de de simbolizar. Ela é a capacidade de originar, definir e atribuir significados, 
de forma livre e arbitrária, a coisas e acontecimentos no mundo desses signi-
ficados.”.
- 34 -
- 35 -
CAPÍUTLO 2
EM BUSCA DAS ORIGENS DOS SERES 
HUMANOS NO CONTINENTE AMERICANO: 
AS PERSPECTIVAS BIBLÍCA E DOS POVOS 
DA ANTIGUIDADE
Houve uma época na história do continente america-
no em que os povos indígenas eram os seus únicos 
habitantes. Com a chegada do europeu, construiu-se 
um mundo novo, de mistura e criação, de segregação 
e destruição. Do amálgama resultante deste encon-
tro constitui-se o povo brasileiro. Nesse processo, os 
povos indígenas tiveram um papel fundamental, que 
pouco a pouco foi sendo apagado da memória, à me-
dida que grande parte deles era destruída.
 (Ricardo Medeiros)
O povoamento do continente americano pelos 
seres humanos constitui um assunto que gera muitas 
controvérsias no meio acadêmico, os pesquisadores 
não dispõem de informações conclusivas acerca de 
qual seria o primeiro ponto que os seres humanos 
adentraram no continente, provavelmente, oriundos 
de outras partes do mundo, podemos constatar isso 
devido à ausência de grandes primatas fósseis e ho-
mens pré-sapiens (Homo erectus, Homo habilis e ou-
tros).
Segundo Rivet (1960, p.64), 
O homem americano não é autóctone. Vindo do Quar-
tenário, depois do retrocesso das grandes glaciações, 
e só pôde chegar a ele utilizando vias de acesso iguais 
às existentes hoje, posto que a América possui, desde 
essa é época remota, os seus contornos atuais.
- 36 -
 Ao realizarmos uma pequena revisão na litera-
tura sobre as origens dos seres humanos no continen-
te americano, desde do período do descobrimento até 
os dias atuais, podemos dividi-las em três categorias: a 
primeira, a perspectiva bíblica;a segunda, a perspecti-
va dos povos da antiguidade; a terceira, a perspectiva 
acadêmica.
2.1 UMA PERSPECTIVA BIBLÍCA SOBRE O POVOA-
MENTO DO CONTINENTE AMERICANO
A perspectiva bíblica do povoamento do 
continente americano estaria baseado na possibilidade 
dos dois filhos de Jectão (Ophis e Jobal) que seriam 
filhos de Sem, descendentes de Noé19 tais quais des-
cendentes teriam se espalhados pelo mundo. 
Segundo a Bíblia Cristã (1989, p.56-57),
(...) os filhos de Sem, segundo suas famílias, segundo 
suas línguas, em seus diversos países e suas nações. 
Tais são as famílias dos filhos de Noé, segundo suas 
gerações e suas nações. É deles que descendem as na-
ções que se espalharam sobre a terra depois do dilúvio 
(GENESIS, Cap.10, V.31).
19 Com relação a Noé, nos referimos as passagens bíblicas relativas ao Dilú-
vio no livro 6 ao 10 do Gênesis, mas, possuindo uma versão diferente, Cleator 
(1963, p.82) afirma que “(...) a narrativa do Gênese, a respeito do Dilúvio, não 
é mais do que um eco de uma tradição babilônia de longos e longos anos.” E 
segundo Pinkys (1998, p.82-83) “O dilúvio sumério fala de Ziusudra construin-
do um enorme barco, da inundação varrendo as cidades, de tempestade de 
vento, do barco jogado em todas as direções, da luz finalmente aparecendo 
no céu, do sacrifício que faz Ziusudra e da reconstrução do mundo. (...) O mito 
é mesopotâmico e foi apropriado pelos hebreus, para os quais o importante 
não era história, mas a moral da história. Nem teria muito sentido um mito 
sobre o dilúvio desenvolver-se numa região onde as chuvas são limitadas (400 
mm anuais são excepcionais na região), os rios insignificantes (o Jordão qua-
se pode ser atravessado por um bom saltador, em certos trechos) e não há 
degelo de montanhas nevadas. Já na Mesopotâmia os rios pregavam constan-
tes sustos, ora mansos, ora violentos, em vista do degelo em sua origem, nas 
montanhas da Armênia. Até os deuses nos dão conta da instabilidade dos rios 
e do temor que os habitantes tinham de sua variação”. 
- 37 -
Desde que iniciou o processo de colonização do 
continente americano pelos europeus e a implantação 
da instituição Igreja da Católica Apostólica Romana 
no final do século XV e XVI no continente americano, 
percebemos uma necessidade de construção de uma 
identidade para aqueles povos chamamos de índios. 
Esses novos habitantes eram completamente 
diferentes dos que europeus estavam acostumados, 
constatamos isso na narrativa da Carta Pero Vaz de Ca-
minha ao Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil 
sob o comando da expedição de Pedro Álvares Cabral 
em 1500, no qual afirma Caminha (2003, p.93-113),
(...) eram todos pardos, todos nus, sem coisa alguma 
que lhe cobrisse suas vergonhas (...), os cabelos seus 
são corredios (...). Parece-me gente de tal inocência 
que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam 
logo cristãos, porque eles, segundo parece, não têm 
nem entendem nenhuma crença. 
E sempre enfatizando a sua inocência desses no-
vos habitantes. Podemos observar o caso espanhol, 
em especial o contato de Cristóvão Colombo ao depa-
rar-se com esses habitantes e pensando na possibilida-
de de ter alcançado seu objetivo de chegar às Índias 
Orientais através do oceano Atlântico e suas ações 
frente essa nova descoberta.
 Segundo Todorov (1999, p.31),
O primeiro gesto de Colombo em contato com as ter-
ras recentemente descobertas (consequentemente, 
América) é uma espécie de ato de nomeação de gran-
de alcance: é uma declaração segundo o qual as terra 
passam a fazer parte do reino da Espanha. Colombo 
desce a terra numa barca decorada com estandarte 
real, acompanhado por dois seus capitães, e pelo es-
crivão real, munido de seu tinteiro. Sob os olhares dos 
- 38 -
índios, provavelmente perplexos, e sem se preocupar 
com eles, Colombo faz redigir um ato. ‘Eles lhes pediu 
que dessem fé e testemunhou de que ele, diante de 
todos tomava posse da dita ilha’.(...) Que este tenha 
sido o primeiro ato de Colombo na América nos diz 
bastante da importância que tinham para ele as ceri-
mônias de nomeação.
 
 Essa perspectiva dos europeus em procurar 
elementos cristãos dos habitantes do Novo Mundo, 
foi um âmago de desconhecimento dos europeus, que 
gerou um genocídio em um primeiro momento, como, 
a conquista do Império Asteca por Cortes e do Império 
Inca por Francisco Pizarro, em segundo momento, a 
tentativa de explicação por parte da Igreja Católica.
 Para Laming-Emperaire (1980, p.29-31),
Para as ciências humanas, a descoberta do Novo Mun-
do representou sobretudo das visões todas novas das 
civilizações indiferente com selvagem das América, 
era como o mundo dos primitivos. O interior da África, 
praticamente inacessível, permanece desconhecido da 
Idade Média. Até o momento da descoberta do Novo 
Mundo, os cristãos não realmente o Islã, por intermé-
dio das Cruzadas e dos comerciantes, e em menor me-
dida, os vilarejos da Ásia visitados por Marco Pólo e os 
enviados de Inocente III. O Islã, Ásia dos Kahns e os 
chineses são tecnicamente e culturalmente mais pró-
ximos das civilizações cristãos medievais. O selvagem 
da América ao contrário, esta é a revelação de um ho-
mem que nada parecido com vilas mediterrâneas e eu-
roásiticas. Sua maneira de viver, seus costumes, suas 
armas ou ferramentas são citadas pelos pensadores e 
seu conhecimento preparou uma melhor compreen-
são dos nossos ancestrais da pré-história.20 
Em 1537, o papa Paulo III editou a Bula Veritas 
Ipsa na tentativa de resolver essa questão da nature-
za dos índios americanos, concedendo-os a natureza 
20 Tradução do autor.
- 39 -
humana. Outra tentativa de buscar as origens bíblicas 
foi associar os habitantes do Novo Mundo com as Tri-
bos Perdidas de Israel21 e assim mantendo uma origem 
bíblica desses povos. Paul Rivet (1960) cita outro mito 
hebraico, na possibilidade dos cananeus expulsos por 
Josué da Palestina terem empreendido uma marcha 
para oeste em direção a África, cruzando o oceano 
Atlântico e chegando no continente americano. 
Segundo Cleator (1963, p.178),
Os esperançosos proponentes de uma teoria rival têm 
favorecido a ideia da existência de uma rota terrestre 
(como boas razões, como se verá, e encarado os ame-
ríndios como descendentes das Tribos Perdidas, de 
que nota falta desde o tempo do cativeiro babilônico. 
No século dezenove, já bastante como se percebe, 
muito tempo, muita energia e muito dinheiro foram 
despendidos pelo Lorde Kingsborough e outros, em 
decisivo esforço destinado a provar que os dez con-
tingentes hebreus desaparecidos abriram caminho em 
direção às Américas, tratando, daí por diante, de po-
voar o inteiro continente. O valor desta tese singular 
pode ser mais bem julgado, talvez, se tomar por base 
a explicação oferecida para desfazer o fato inconve-
niente de que muitas línguas diferentes eram faladas 
pelo povos do Novo Mundo, sem que nenhuma delas 
fosse hebraica. A explicação implicava na dubiedade 
de maquinações satânicas, visando a impossibilitar 
uma subsequente conversão dos imigrantes à fé cris-
tã.22 
21 Segundo Franch (1985, p. 51), acerca das dez tribos de Israel “(...) foram 
expulsas da Samaria pelo o rei da Assíria em 721 a. de Cristo, tiveram que viver 
entre morar entre as tribos de Judá, Benjamin e a metade da tribo de Me-
naseh, passaram a um país desabitado e chegaram finalmente, depois de um 
ano e meio de deslocamento contínuos, a fabulosa Arsareth, terra distante da 
Palestina que para muitos seria América e, em concreto, a região de Centro-
-américa”. Tradução nossa.
22 Tradução do autor.
- 40 -
2.2 UMA PERSPECTIVA DOS POVOS DA ANTIGUI-
DADE SOBRE O POVOAMENTO DO CONTINENTE 
AMERICANO
Essa perspectiva acerca do povoamento do con-
tinente americano busca os elementos que validem 
vestígios da presença das civilizações antigas, no intui-
to de evidenciar uma explicação para o povoamento 
do continente americano. Esse discurso fundamenta-
-se em vários tipos de fontes, como bíblica a lendas daantiguidade.
 Inicialmente, podemos abordar duas origens 
lendárias, a primeira, diz respeito à possibilidade da 
existência de um continente chamado Atlântida entre 
Europa e América, que em um determinado período 
foi submerso pelo oceano Atlântico, obrigando seus 
habitantes a migrarem e desembarcando no continen-
te americano. Esse discurso tem por fundamento bá-
sico informações recolhidas por Platão e expostas no 
diálogo Timeu e Critias ou a Atlântida. 
A segunda lenda, segundo Laming-Emperaire 
(1980) seria a do continente perdido de Mu ou Lé-
murie23, estaria localizado entre o continente asiático 
e americano, mais especificamente, inserido no ocea-
no Pacifico e sendo submerso pelo mesmo, obrigando 
seus habitantes a migrarem para o continente ameri-
cano. Tendo como principal pesquisador, o zoólogo 
alemão Ernest Heinrich Philipp August Haeckel (1834-
1917) e posteriormente, suas ideais foram retomadas 
pelo o inglês James Churchward (1851-1936), na déca-
da de 30 do século XX (ver figura 1).
23 Segundo Franch (1985, p.73) “(...) abreviatura de Lemuria, foi uma invenção 
de Ernest (...) quem precisava que existirá um continente, atualmente desa-
parecido, para explicar a peculiar existência dos lemurídeos e outro animais e 
plantas.” Tradução nossa.
- 41 -
 Figura 1. Mapa do imaginário continente de Mu ou Lemuria. 
Fonte: FRANCH, 1985, p.74
 Dentro de todas as civilizações da antiguidade 
a que possui mais menções acerca de elementos de 
sua cultura fenícia, encontramos apontamentos que 
variam desde fontes bíblicas até prováveis presenças 
físicas. Os fenícios se caracterizaram pela sua habili-
dade de navegação nos mares, Harden (1971) afirma 
que existiria a possibilidade dos fenícios terem alcan-
çados as ilhas Canárias, Açores e Madeira, caso obser-
vamos, percebemos a navegação próxima a costa dos 
continentes, segundo o mesmo, chegando até o mar 
Vermelho, demonstrando assim sua perícia na arte da 
navegação (ver figura 2).
Dentro desse quadro exposto acima se eviden-
ciou a impossibilidade dos contatos dos fenícios terem 
alcançado o continente americano, mas inserindo no 
contexto piauiense encontramos fontes bibliográficas 
que afirmam na possibilidade de vestígios fenícios no 
Piauí. O professor austríaco Ludwig Schwennhagen 
nas primeiras décadas do século XX, sintetizou bem 
esse pensamento.
- 42 -
 Figura 2. Mapa das navegações dos fenícios no litoral africano. 
Fonte: HARDEN, 1971, p.176-177.
Para Schwennhagen (1986, p.28-29),
As navegações dos Fenícios começaram 2500 a.C, mas 
limitaram durante muitos séculos, ao mar Mediterrâ-
neo. (...) Em 1100 a.C. chegou a primeira frota dos Fe-
nícios às costas do Nordeste do Brasil, e em 1008 a.C. 
entrou o rei Hirã de Tiro numa aliança numa aliança 
com o rei Davi da Judéia, para explorarem comumen-
te a Amazônia Brasileira. (...) As frotas dos Fenícios, 
navegando nas costas brasileiras desde 1100 a.C, esta-
beleceram aqui numerosas estações marítimas, onde 
os navios podiam abastecer-se de víveres e água doce. 
Foram lugares protegidos contra as violências do mar 
e escolhidos em terrenos onde moravam habitantes 
pacíficos. A longa prática daqueles navegantes tor-
nou essa tarefa relativamente fácil. O autor encontrou 
vestígios de tais estações em muitos pontos do litoral, 
- 43 -
desde Bahia até o Pará, que serão descritas nas partes 
de seus estudos sobre os respectivos Estados. O Piauí 
somente um curto trecho do litoral do Nordeste; mas 
os pontos pré-históricos que existem aqui são muito 
interessantes e instrutivos. O delta do rio Parnaíba 
chamou logo atenção dos peritos marinheiros. A água 
dum rio de curso curto, que enche com a maré e seca 
com vazante, tem aparência muito diferente dum rio, 
proveniente do centro do continente. Os navegantes, 
que conheciam o delta do Nilo, compreenderam bem 
que os braços da foz do Parnaíba pertenceriam a um 
rio importante, que daria acesso a o interior do país. 
Na costa de fora da ‘Ilha Grande de Santa Isabel’, onde 
se estende a praia quase 30 quilômetros, sem colinas 
ou alturas, existem dois rochedos isolados, que po-
diam bem servir de balizar para navegação costeira. 
 
 O que sintetiza melhor essa possibilidade da 
presença fenícia seria a mística que gira em torno de 
“Sete Cidades”24 localizada no município de Brasileira, 
no Piauí, onde segundo Coutinho (2000) 25seria utiliza-
da para organizar reuniões entres os fenícios e tupis. 
 Segundo Costa (1980, p.97-98),
(...) do interior do Piauí, colocada às vizinhanças da 
vila de Piracuruca, ao norte do Estado, e chamada pelo 
povo ‘Sete Cidades’, nome de uma ilha misteriosa do 
Atlântico pré-colombiano. Descreve-se essa pseudo-
-cidade como compreendida num recinto fortificado 
de mais de légua de circuito, encerrando sete praças, 
diversos arruados, grandes paredes e pilastrões arrui-
nados, figura de pedra semelhantes a esfinges. (...) 
Assim, o que se evidencia da explanação do brilhante 
homem de letras é que as ‘Sete Cidades’ são cidades, 
24 Para Martin (1996, p.17) “O mito das sete cidades, também relacionado 
com a ilha Brasil, surgiu na própria Península Ibérica. No século VII, um bispo 
católico, fugindo da invasão sarracena – que em algumas versões é o próprio 
rei D.Rodrigo, último da dinastia visigoda derrotada pelos árabes – embarcara 
em Lisboa rumo ao oeste chegando a um país desconhecido, uma ilha, onde 
fundara sete cidades”.
25 Acerca de suas pesquisas o próprio Coutinho afirma “Meu trabalho não 
está preso ao tradicionalismo científico” em entrevista a Loureiro (2004, p.62), 
na sua obra “Pré-história :as origens do homem no Piauí”. 
- 44 -
apenas, na lenda. A ciência, avançando mais, explica 
que as supostas ruínas não são mais que o produto de 
erosão das rochas de quartzito assumindo em mais de 
um ponto aspectos bizarros e pitorescos.
É muito complexo fazermos inferências da 
presença desses povos da antiguidade no continente 
americano, sem uma fundamentação sólida pode-se 
cair em descrédito acadêmico. Martin (1996) afirma 
dessa impossibilidade da presença fenícia no Piauí e 
adjetivando Ludwig Schwennhagen de “semi-louco”, 
mas não deixando de ressaltar a importância de co-
nhecermos esses mitos e lendas, para sabermos um 
pouco mais da História da América. 
Para Moberg (1968, p.27), 
(...) a imagem arqueológica do passado é conflituosa 
com o Antigo Testamento, por exemplo. Acontece 
igualmente não ser a representação do passado con-
siderada suficientemente respeitável ou dramática. As 
Américas e o Pacífico são as terras de eleição das ilu-
sões pré-arqueológicas contemporâneas e, em certos 
meios sociais, existe uma verdadeira selva de noções 
fantásticas, difundidas por uma abundante literatura 
(o mesmo acontece em todos os países europeus). 
Conta-se então como as grandes civilizações do Mun-
do Antigo teriam atingindo o Novo Mundo graças a 
migrações ou explorações aventurosas. Descobrem-
-se faraós egípcios misturados com tribos perdidas de 
Israel ou contingentes desaparecidos do exército de 
Alexandre (...) A mesma corrente do pensamento per-
tence também o mito dos continentes desaparecidos 
- 45 -
CAPÍTULO 3
EM BUSCA DAS ORIGENS DOS SERES 
HUMANOS NO CONTINENTE AMERICANO: 
UMA PERSPECTIVA CIENTÍFICA
Esta perspectiva está baseado pela sua funda-
mentação em dados fatuais; especificamente, a cul-
tura material encontrada nos sítios arqueológicos do 
continente americano pelos pesquisadores, no perío-
do histórico do final do século XIX ao século XX. 
Segundo Dorado e Lorenzo (1994, p.21),
A Gênesis do homem americano constitui unos dos 
temas mais atrativos e sugestivos da investigação 
pré-histórica. Objeto de múltiplos estudos, ainda per-
manecendo numerosas incógnitas por desvendar. A 
escassez de restos fósseis exumados no continente 
americano e a dificuldade na hora de datá-los impede 
responder satisfatoriamente as perguntas relativas a 
sua procedência e antiguidade. 
Excetuando, o paleontólogo argentino Florenti-
no Ameghino(1854-1911) que defendeu a possibilida-
de dos seres humanos terem evoluído nos pampas ar-
gentino, baseado em estudo de fósseis, passando do 
estágio do Tetraprothomo, Triprothomo, Diprothomo 
e chegando ao estágio dos seres humanos atual, no 
caso de Ameghino, Homonuculus patagonicus26. 
As quatros perspectiva do povoamento do con-
tinente americano pelos são descritas de forma resu-
mida abaixo:
26 Acerca disso Fonseca faz paráfrase do arqueólogo português Correa Men-
des “E, adiante, acrescenta Mendes Correa (1926; 164-165) ‘Se é certo que 
Homo pampeus e outros dos supostos tipos humanos ou pré-humanos estabe-
lecidos por Ameghino , não passam do domínio da fantasia e dum sábio aliás 
ilustre por muito trabalho (...)” (FILHO,1970, p.13).
- 46 -
1) Migração pelo estreito de Bering: os primei-
ros grupos humanos27 teriam migrado do continente 
asiático para o continente americano pelo estreito de 
Bering por volta de 30 a 10 mil anos atrás. Foi postu-
lada academicamente pelo antropólogo tcheco Ales 
Hrdlicka, no início do século XX. 
2) Migração marítima pelo oceano pacífico: essa 
tese postula que os grupos humanos teriam chegado 
ao continente americano por navegação de cabota-
gem28. Foi proposta pelo etnólogo francês Paul Rivet, 
no artigo Les Malayos-Polineses em Amérique, de 1926, 
e no seu livro As origens do homem americano, de 1943 
(RIVET, 1960). 
3) Migração via Antártida: esta hipótese foi 
formulada pelo antropólogo português A.A. Mendes 
Corrêa (1926), que postula a possibilidade de grupos 
humanos terem migrado da Austrália e Nova Zelândia 
para o sul do continente americano, utilizando a Antár-
tida como ponte de passagem.
4) Migração Atlântica: essa hipótese é funda-
mentada nas pesquisas de Rivet (1960) e foi defendida 
por Guidon na Segunda conferência sobre o povoa-
mento das Américas, no ano de 2006. Dessa forma, 
explicando a possibilidade de grupos humanos terem 
27 Esses primeiros grupos caçadores-coletores ficaram conhecidos como po-
vos de Clóvis na década de 1930, devido à sua indústria de pontas líticas. As 
pontas de Clóvis foram encontradas por John L. Cotter no sítio Blackwater 
Draw, na localidade de Clóvis, Novo México, EUA.
28 De acordo com Rivet (1960, p.141), “Conhecendo perfeitamente as cor-
rentes e os ventos, sabendo guiar-se pelas estrelas, viajavam sós, de noite, e 
percorriam normalmente e sem escala, distâncias de 2.000 e às vezes 2.500 e 
até 4.200 milhas. Para encontrar na imensidade do oceano as pequenas ilhas 
polinésicas, tomavam como ponto de referência a pequena nuvem que sobre 
elas se forma a 3.600 metros de altura e que um olhar experimentado percebe 
a 120 milhas de distância. Suas pirogas duplas faziam 7 a 8 milhas por hora, o 
que significava cerca de 75 milhas, numa jornada de 10 a 12 horas. Um desses 
barcos, por conseguinte, podia franquear a distância que separa o Havaí da 
costa californiana ou ilha de Páscoa, da costa sul-americana, em 20 dias”. 
- 47 -
migrado por navegação de cabotagem do continente 
africano para o americano em um período anterior à 
migração via Bering, os fósseis de Zuzu29 e Luzia30, que 
apresentam morfologias africanas, seriam fortes argu-
mentos na sustentação dessa hipótese.
A periodização mais aceita acerca da ocupação 
dos grupos humanos foi elaborada pelos arqueólogos 
Gordon Willey e Phillip Phillips no seu livro Método e 
Teoria na Arqueologia Americana de 1958. Sua propos-
ta original visava o estudo da criação de uma base ope-
racional para integração histórico-cultural, unindo a 
perspectiva espacial e cronológica do registro arqueo-
lógico. Sua perspectiva de estudo para abordagem do 
desenvolvimento da arqueologia americana ser seg-
mentada nos seguintes estágios (WILLEY, PHILLIPS, 
1970): 
1º) Estágio Lítico, caracterizado por uma indús-
tria lítica não muito elaborada oriunda os primeiros 
habitantes do continente americano por volta de 20 
mil anos atrás;
2º) Estágio Arcaico, caracterizado por uma tran-
sição entre o estágio lítico e formativo, marcado por 
uma indústria lítica mais elaborada e a primeira evidên-
cia de atividade agrícola no continente americano; 
3º) Estágio Formativo, marcado pelo desenvolvi-
mento da agricultura, produção de cerâmica e o cres-
cimento de pequenos grupos populacionais; 
4º) Estágio Clássico, desenvolvimento das altas 
culturas como a maia, com um grande crescimento ur-
29 ZUZU: crânio com morfologia africana encontrado no Sítio arqueológico 
Toca dos Coqueiros, Parque Nacional Serra da Capivara, com uma datação es-
timada de 9870+-50 BP (HUBBE et all, 2007)
30 LUZIA: crânio com morfologia africana encontrada no Sítio arqueológico 
Lapa Vermelha IV, região de Lagoa Santa, Minas Gerais, com uma datação 
aproximada de 11,5 mil anos atrás.
- 48 -
bano e formação de estados teocráticos e militaristas; 
5º) Estágio Pós-clássico, marcado pelo desen-
volvimento das culturas Astecas e Incas com grandes 
construções arquitetônicas.
O arqueólogo André Prous (1992) esquematizou 
a cronologia da ocupações dos grupos humanos no 
Brasil nos seguintes segmentos: 1º) Pleistoceno ante-
rior a 12 mil anos B.P., quando os primeiros grupos de 
caçadores e coletores chegaram ao território brasilei-
ro, com uma tecnologia lítica, sem produzir cerâmica 
ou conhecer a agricultura; 2º) O período arcaico entre 
11 a 8 mil anos B.P., grupos caçadores e coletores que 
se estabelecem, processo de sedentarismo, dotado de 
uma tecnologia de pontas de projéteis de rocha, surgi-
mento da arte rupestre e surgimento da cerâmica em 
alguns pontos do Brasil; 3º) Arcaico recente de 4 a 1 mil 
anos B.P., surgimento da agricultura, surgimento das 
comunidades humanos, princípio de organização, di-
fusão da cerâmica, tecnologia lítica aprimorada e arte 
rupestre. 4º) sociedades indígenas pré-cabralianas 1 
mil anos B.P. até 1.500 d.C. os grupos indígenas conhe-
cidos pelos colonizadores portuguesas na época do 
descobrimento. 
3.1 UMA PERSPECTIVA SOBRE O POVOAMENTO 
PELO NORTE DO CONTINENTE AMERICANO
A primeira perspectiva cientifica do povoamen-
to do continente americano foi elaborada pelo antro-
pólogo theco Ales Hrdlicka (1869-1943), que desen-
volveu trabalhos no trabalhos no Museu Nacional do 
Estados Unidos desde de 1903, pondo em xeque as 
teses de Ameghino no Congresso Internacional Ame-
ricanistas31, em 1910 e assim buscando um novo apon-
31 Os Congressos Americanistas são reuniões bienais onde os principais pes-
- 49 -
tamento para o povoamento do continente americano 
(TRIGGER, 2004).
Ales Hrdlicka32 foi o precursor do discurso cien-
tífico do povoamento do continente americano pelo 
norte, em especial, no sentido de derrubar as teses de 
Ameghino, através de seus estudos antropológicos e 
assim buscando as origens dos índios ameríndios33. 
Lavellé (1995) afirma que os estudos de Hrdlicka 
estavam baseados nos traços físicos – pele , cabelo, 
pilosidade e craniometria – no intuito de demonstrar 
que os índios americanos fariam parte de um único 
grupo mongoloide e sendo vindo de um ponto co-
mum, da Ásia, passando pelo estreito de Bering, em 
um período do Holocênico. Portanto, a teoria de Ales 
Hrdlicka ganhou grande reputação no meio acadêmi-
co e tornou-se um paradigma importante para o de-
senvolvimento das pesquisas arqueológicas no conti-
nente americano. Laming-Emperaire (1976) afirma que 
a aceitação das ideias de Hrdlicka pela comunidade 
cientifica, tornou-se um dos caminhos para o estudo 
do povoamento da América. 
quisadores da pré-história americana reúnem-se para discutir os problemas de 
povoamento, culturas indígenas e outros assuntos de relevância para o conti-
nente americano.
32 Essa decisão de considerar Ales Hrdlicka baseado nos seus estudos antro-
pológicos, inicialmente, o primeiro a mencionar essa possibilidade, segundo 
Trigger (2004, p.67) afirma que José Acosta em 1589 “[...] em sua História na-
tural y moral de las Índias [História natural e moral da Índias], de que os indí-
genas tinham cruzado o estreito de Bering comocaçadores errantes oriundos 
da Sibéria (Pagden, 1982:193-7). Embora Acosta acreditasse que os indígenas 
tinham perdido todo o conhecimento da vida sedentária no curso de suas mi-
grações, proto-evolucionistas posteriores viram na América a demonstração 
de como tinha sido a infância de toda a humanidade.” 
33 Segundo o Dicionário Aurélio (2001, p.38) acerca do significado de Ame-
ríndio “[De amer(i)- + índio; t. sugerido pelo Dr. Charles Scott ao geólogo e 
etnólogo norte-americano John Wesley Powell (1834-1902), e empregado para 
distinguir o índio americano do índio asiático.]
 Bras. S. m. 1. O indígena americano”. 
- 50 -
Ruiz (1953) afirma que Ales Hrdlicka acredita 
nessa unidade mongoloide dos seres humanos ame-
ricanos. Propondo quatros “momentos migratórios”, 
o primeiro momento migratório, esses migrantes, um 
povoamento mais antigo, com indivíduos que possui-
riam crânios dolicocéfalos34 que teriam originado as 
tribos iroqueses, astecas e algumas outras; o segun-
do momento migratório, por indivíduos de crânio bra-
quicéfalo35 que teriam chegado até o continente sul 
americano; terceiro momento e quarto momento, por 
migrantes que dariam origem aos esquimós que esta-
beleceriam no extremo norte do continente america-
no.
 Dentro dessa perspectiva procurou-se outros 
elementos que pudessem fornecer uma confirmação 
da presença dos seres humanos no continente ame-
ricano, devido na época não existir uma técnica de 
datação absoluta (carbono 14) até final da década de 
40 e início do século XX, dificultando de construção de 
quadros cronológicos seguros. 
Um outro fator as pontas de Clóvis36, afirma Mac-
Neish (1996, p.187) “Na década de 30, Clóvis foi utiliza-
do como um marco da presença humana nas Américas 
(...)” e as pontas de Folsom na década de 20, no Novo 
México (EUA). Laming-Emperaire (1973 a) considera a 
indústria de pedras lascadas com características gros-
seiras (choppers), logo, como sendo referências para 
caracterizar esses povos “caçadores-coletores”. Com 
34 Segundo o dicionário Aurélio (2001) “1.Diz-se do, ou o tipo humano cujo 
crânio é oval, sendo o diâmetro ransversal menor, em um quarto, do que o 
longitudinal”. 
35 Segundo o dicionário Aurélio (2001, 1. Diz-se de, ou indivíduo cujo crânio, 
observado de cima, apresenta a forma de um ovo, porém mais curto e arre-
dondado posteriormente.
36 As pontas de Clóvis foram encontradas por John L. Cotter, no sítio Bl-
cakwater Draw, na localidade de Clóvis, Novo México, EUA. 
- 51 -
a utilização da técnica de datação do carbono 14, co-
meçou-se a construir quadros cronológicos mais pre-
cisos para o continente americano e assim correlacio-
nando os dados entre si.
 Segundo Roosevelt (1999, p.36-37),
As culturas paleoíndias setentrionais parecem entre 
11.200 a 10.900 e terminado no começo do Holoceno, 
por volta de 8.500 anos atrás. A cultura mais antiga 
dos sítios de matança, a cultura Clóvis, foi datada pela 
escavação de dez sítios onde foram obtidas datações 
radiocarbônicas entre 11.200 e 10.900 anos. A outra 
cultura da América do Norte bem caracterizada é Fol-
som, resultante de escavação de mais de 20 sítios com 
datações principalmente entre 10.900 e 10.200.(...) 
Os paleoíndios têm sido considerados, com base na 
natureza das culturas Clóvis e Folsom, caçadores es-
pecializados em animais de grande porte, altamente 
adaptados a ambientes terrestres abertos, de clima 
temperado das Américas, ambiente que tem servido 
de foco de pesquisas.
Atualmente, Martin (1996) afirma que essa cor-
rente que situa o povoamento das Américas entre 10 a 
12 mil anos atrás, defendida por grupos mais conserva-
dores da arqueologia americana, em especial o Bureau 
American Ethnology, da Smithosian Institution of Amé-
rica (onde Hrdlicka foi diretor), seguindo muito dessa 
das ideais de Hrdlicka, sendo principais pesquisadores, 
Thomas Lynch, Dena Dinacauze e Betty Meggers em 
um momento de sua carreira acadêmica e interessan-
te por ter tido grande influência para arqueologia bra-
sileira (ver figura 3).
Em um primeiro momento de sua carreira, a an-
tropóloga Betty Meggers (1987, p.23-24) acerca do po-
voamento das Américas afirma,
- 52 -
Existem provas que homem teria penetrado no hemis-
fério por volta de 9.000 a.c. As discordâncias surgem 
das informações esporádicas inconclusivas, da presen-
ça do homem no Novo Mundo entre 40.000 e 12.000 
anos. (...) o homem entrou no Novo Mundo enquanto 
estava ainda subsistindo à base de plantas e animais 
selvagens. É tido como certo que ele entrou a pé, pro-
vavelmente numa época em que a água do mar, retida 
nos glaciares, deixava uma conexão terrestre entre a 
Sibéria e o Alasca.
 Para Meltzer (1996, p.243),
Graças às descobertas, que se iniciaram na década 
de 20, sabemos que os paleo-índios ocuparam este 
Continente 11.500 anos atrás, e que eles tinham um 
conjunto de utensílios característicos na América do 
Norte, marcado pelas pontas caneladas de Clovis e, 
na América do Sul, por uma variedade de bifaciais, pe-
dunculados e não canelados, e uma série de utensílios 
unifaciais sobre seixos. As ocupações dos páleo-índios 
são virtualmente sincrônicas em todo o hemisfério e, 
se eles foram os primeiros americanos, conseguiram 
colonizar o Novo Mundo em apenas algumas centenas 
de anos. 
 Figura 3. Mapa do povoamento do continente americano pelo 
norte. Fonte: DIAMOND, 2001, p.37.
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Com a intensificação das pesquisas arqueológi-
cas e descobrimentos novos achados com datações 
mais recuadas, nas décadas de 50 a 70 do século XX, 
a comunidade científica começou a aceitar o início de 
povoamento por volta de 30 mil anos atrás, mesmo as-
sim com muita reticência. 
No Brasil durante o período de 1965-71 desenvol-
veu-se através de uma parceria entre o governo bra-
sileiro e norte-americano, o PRONAPA. Coordenados 
pelo Smithisonian Institution e o secretária do Patrimô-
nio Histórico e Artístico, visando construir um quadro 
cronológico para arqueologia brasileira. Sob a direção 
de Betty Meggers e Clifford Evans que treinaram uma 
geração de arqueólogos e suas influências são presen-
tes até os dias atuais. 
Segundo Martin (1996, p.74),
O esforço que significou o Programa Nacional de Pes-
quisas Arqueológicas (PRONAPA) para se conseguir, a 
curto prazo (1965-70), uma visão panorâmica da pré-
-história do Brasil, proporcionou considerável quan-
tidade de informações – seus autores falam de mais 
1.500 sítios cadastrados – mas, como não poderia dei-
xar de ser, no curto espaço de tempo de cinco anos, 
para um projeto que enquadrava todo o Brasil, os 
resultados foram apenas informações fragmentárias 
sem que, ao final do programa, se formulasse alguma 
base teórica conclusões ou na apresentação dos re-
latórios nota-se, por parte dos seus coordenadores, 
preocupação para que se estabelecessem as bases 
teóricas da nova arqueologia brasileira, que deveriam 
surgir como encerramento natural do programa. Per-
deu-se, assim, a grande oportunidade de se formular 
no Brasil os enunciados teóricos para o desenvolvi-
mento de uma pré-história brasileira que entendesse 
o homem da tropicalidade e do sem-árido.(...) A meto-
dologia aplicada pelo PRONAPA, brevemente exposta 
por C.Evans no primeiro volume dos relatórios, esta-
belecia prospecções em grandes áreas e sondagens 
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de no máximo dois por dois metros, com níveis artifi-
ciais de dez centímetros.
Figura 4. Mapa das pesquisa arqueológicas no Brasil. 
Fonte: Prous, 1992, p.15.
Nesse sentido, Gaspar (2004) afirma que os es-
tudos do PRONAPA focalizaram-se especialmente em 
cerâmica, partindo do pressuposto inicial que o po-
voamento do Brasil seria inferior ao paradigma Clóvis 
e assim não aprofundando os estudos nos locais pes-
quisados (ver figura 4). 
A própria arqueologia passou por uma série de 
transformações denominadas de “Nova Arqueolo-
gia”, segundo Trigger (2004), ao afirmar que a publi-
cação do artigo “Nova Arqueologia” na revista Science 
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de Joseph Caldwell

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