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48 - Revista Tecnologística - Fevereiro/2007 Aseguinte situação pode lhe pa-recer familiar: um engenheiroou administrador recém-for- mado e com muita proatividade ela- bora um criativo plano de distribuição de produtos para o cliente da sua em- presa, com a ajuda dos mais moder- nos softwares de simulação e roteiri- zação, reduzindo os custos e o lead-ti- me da operação. No laptop, tudo fica perfeito. Até que chega o veterano da equipe e joga água na fogueira, decre- tando que não vai dar certo porque estamos no Brasil, um país onde até uma viagem terrestre pode ser mais rápida do que por via aérea. Se você fosse o chefe de ambos, em qual dos dois apostaria suas fichas? Pense bem antes de responder que o segundo profissional é o mais impor- tante para a organização. Sabemos que ele deve ter razão no seu diagnóstico pessimista (ou realista). O fato, porém, é que o mercado passou a valorizar os mais jovens – não exatamente pela re- lação vantajosa entre alta disposição e salário menor, mas, principalmente, porque estes dominam um leque de fer- ramentas e teorias que lhes ampliam o escopo de análise. Com alguns anos de aprendizado sobre o instável cenário brasileiro, é provável que o primeiro personagem desta história se torne chefe do segundo. Isso faz do sujeito mais experien- te alguém dispensável? Não, ainda. As empresas precisam do conheci- mento e do senso prático deste. Então, parece não haver novidade al- guma em relação a qualquer outra profissão: seria preciso apenas reci- clagem para manter-se empregável. CARREIRAS Muita experiência é pouco em logística Executivos de indústrias, headhunters, professores, consultores e operadores logísticos são unânimes em afirmar que a era do empirismo chegou ao fim nesta área. Jovens pós- graduados já são mais valorizados pelo mercado do que profissionais com anos de especialidade e que não estão em dia com as teorias acadêmicas carreiras.qxp 4/12/2007 9:32 AM Page 48 Ocorre que, no campo logístico, as coisas não funcionam bem assim. Durante muitos anos, esta foi uma atividade de cunho operacional. Com a onda da reengenharia, os técnicos de movimentação de materiais e dis- tribuição tornaram-se especialistas em reduzir custos, sem perder eficiên- cia. Quando as empresas atingiram o que acreditavam ser o ponto máximo de produtividade (embora um bom sistema demonstre que sempre há avanços a fazer), a logística passou a ser uma área estratégica do negócio. Hoje, seus executivos são responsá- veis por encontrar oportunidades de ganhos para as organizações, que re- presentam diferenciais competitivos no mercado globalizado. Essa evolução no perfil de com- petências do profissional do setor tor- nou a procura e a retenção desses ta- lentos muito mais acirrada. Isso por- que ter alguma experiência e um di- ploma de pós-graduação neste setor não é difícil. Porém, é preciso que es- sa formação seja de fato consistente. E, segundo os especialistas consulta- dos pela Tecnologística, apesar da boa qualidade e quantidade da mão-de- obra brasileira e da proliferação de cursos nesse campo, são poucos os centros acadêmicos no país que capa- citam o super-executivo de logística que o mercado valoriza. Em linhas gerais, estes cobiçados talentos devem reunir: profundo co- nhecimento técnico aplicado à prática, sólida base teórica, visão abrangente do negócio, foco no cliente, capacida- de de negociação, experiência na área comercial, habilidade para liderar e motivar pessoas, noções financeiras e, claro, inglês fluente (em nível que permita discutir contratos com qual- quer parte do mundo, por exemplo). Pessoas com esse perfil já foram elevadas à condição de “moscas bran- cas”. Isso quer dizer que são caçadas por concorrentes com excelentes pro- postas, ou desenvolvidas pelas empre- sas desde o início da carreira, e igual- mente bem remuneradas, para resisti- rem ao máximo às abordagens. Apostas promissoras Sérgio Garcia, diretor da Wilson, Sons Logística, prefere esta segunda opção. Fundado há 169 anos, o grupo é um dos maiores do setor portuário brasileiro, com um movimento de mais de um milhão de TEUs por ano. Garcia tem se empenhado na formação de uma equipe de especialistas em pro- jetos e na aplicação de métodos quan- titativos. “Portanto, valorizamos muito o background acadêmico. Claro que a experiência operacional é importante, mas os conhecimentos técnicos e de gestão são mais visados aqui”, afirma. Ele compara a atual transformação do profissional de logística com outra já vivida pelas empresas em um passa- do recente – na implantação dos pro- cessos de qualidade total. No início da- queles programas, qualquer funcioná- rio poderia assumir esta tarefa. Mas, com o desenvolvimento tecnológico, poucos se tornaram especialistas. Garcia relata que já deparou com profissionais de longa experiência em logística que, diante da necessidade de elaborar um projeto de otimização de cadeia, de simulação ou de proces- sos quantitativos, não conseguem o resultado esperado. “A atual conjun- tura do mercado não permite mais um relacionamento empírico com a logís- tica; ela exige domínio matemático, conhecimento de pesquisa operacio- nal e estatística”, completa. Mas o diretor da Wilson, Sons des- taca a importância da vivência até para os profissionais com a melhor for- mação. “É preciso conhecer a ope- ração, participar da implantação dos projetos. Só assim o técnico pode saber o que funciona ou não na prática.” Com esta exigência, a equipe de Garcia está sempre em busca de novas soluções, mesmo para seus clientes antigos. “Temos de ser percebidos pe- lo mercado como criadores de valor e não como mais um operador logísti- co. É, portanto, um trabalho de gestão bastante complexo e a equipe tem que estar bem atualizada. Quanto mais conhecermos o trabalho do cliente, mais amplo será o projeto logístico”, diz o executivo. Segundo ele, encontrar profissio- nais que se encaixem neste perfil não é fácil. “Nosso primeiro caminho é sempre o recrutamento interno. De- pois, avaliamos as indicações de co- nhecidos. A demanda por especialis- tas é grande e o mercado é relativa- mente pequeno”, aponta. Para Garcia, o desafio do gestor de uma equipe talentosa é administrar suas expectativas e mantê-la motiva- da. Um problema comum, de acordo com ele, é que os jovens com alto ní- vel de formação muitas vezes não querem trabalhar na operação. “Exis- tem dois tipos de profissionais: os que só querem ficar no laptop e os que conhecem até empilhadeiras. Por esta razão, um percentual significativo do tempo de um diretor tem de ser dedi- cado exclusivamente ao desenvolvi- mento humano”, salienta. No momento da seleção, apesar de não impor restrições a nenhuma insti- tuição de ensino, ele admite que ter passado pelas mais conceituadas esco- las de Administração ou Engenharia Fevereiro/2007 - Revista Tecnologística - 49 Garcia: valorização do background acadêmicoFo to A nd ré L ui z M el lo carreiras.qxp 4/12/2007 9:32 AM Page 49 50 - Revista Tecnologística - Fevereiro/2007 conta pontos para o candidato. “O profissional que tem uma boa base e que consegue atingir um nível de ex- periência incorporado ao conheci- mento é o nosso alvo”, descreve. A Wilson, Sons incentiva seus fun- cionários a participarem de atividades acadêmicas, como alunos ou instruto- res. E, para reter seus melhores talen- tos, a empresa oferece remuneração diferenciada à equipe técnica. Além de treinamento constante, o que é funda- mental. Com este perfil, a organização confere poder de decisão aos seus cola- boradores e estes se sentem valorizados. Porém, na opinião de Garcia, mais importante até do que a formação e a experiência é a capacidade de realizar tarefas. “A gente conhece um bom pro- fissional inclusive nos menores traba- lhos. Se a empresa precisa fazer uma apresentação, por exemplo, não esco- lho pela hierarquia quem vai elaborá- la, mas procuro quem a executa bem. Quando solicito algo assim e uma pes- soa responde que outra ‘já está provi- denciando’, sei que dificilmentepode- rei contar com ela”, revela. Saber segmentado Segundo Paulo Sarti, diretor de Operações e Marketing da Penske Lo- gistics para a América do Sul, existe uma carência de bons profissionais no setor. “Até porque a logística, enquan- to campo de conhecimento, é uma área nova. Desta forma, não se encon- tra alguém com 20 anos de experiên- cia em logística como um todo, mas sim em segmentos desta, como trans- porte ou armazenagem”, afirma. Diante deste cenário, a Penske acaba selecionando especialistas em uma des- tas atividades ou executivos generalis- tas, que não entendam tanto de um de- partamento, mas que tenham um perfil flexível e visão do negócio. A empresa procura ainda mesclar profissionais com longa carreira na logística a outros mais jovens e com boa formação. Conhecimento de vendas é pri- mordial para quem quer chegar a um posto de comando em uma operadora logística, de acordo com Sarti. “Nosso papel é viabilizar as estratégias traça- das pelas áreas comerciais de nossos clientes”, lembra o diretor. Como boa parte da carteira da Penske é formada por fabricantes de eletroeletrônicos, seus técnicos estu- dam em detalhes esse mercado. “O su- cesso neste setor depende de que o operador logístico esteja preparado para os meses de pico. Por isso, nossos profissionais precisam estar antena- dos e abertos a conhecer como atuam nossos clientes”, diz Sarti. “Quem pretende ser um líder em logística precisa ter visão macro do negócio, ser um bom gestor de equipes, entender a necessidade do cliente e o que o mercado está buscando. A partir daí, precisa montar um time sólido pa- ra evitar surpresas”, alerta o diretor. Aos jovens que procuram uma car- reira em ascensão para seguir, Paulo Sarti recomenda a logística, desde que estejam dispostos a estudar mui- to sobre estatística, comércio inter- nacional e supply chain. “A deman- da por bons profissionais é maior que a oferta”, avalia. Conjunto de aptidões Para ter uma oportunidade de tra- balho na linha de comando dos me- lhores operadores logísticos do país é preciso seguir basicamente um mes- mo roteiro. Marcelo Gaspari, gerente de Recursos Humanos para o Brasil da Ryder Logística, aponta o cami- nho: “Avaliamos diversas competên- cias para o recrutamento e a seleção de nossos executivos. Entre as básicas – que são pré-requisitos – estão a orientação para resultados, o pensa- mento estratégico e o conhecimento do mercado.” “Depois, avaliamos competências que são específicas para o tipo de negócio da Ryder, que são a capacida- de de influenciar decisões, de geren- ciar processos de mudança e a criativi- dade, além de uma visão sistêmica pa- ra entender processos e buscar so- luções”, continua o gerente de RH. “Por fim, temos um conjunto de aptidões consideradas estratégicas, que são diferenciais importantes: ca- pacidade de liderar e desenvolver pes- soas e uma postura que preze o aten- dimento às necessidades de nossos clientes”, informa. CARREIRAS Sarti: mescla de experiência e boa formação Neves: pioneiros perdem espaço para jovens Como é uma atividade nova, não se encontra alguém com vinte anos de experiência na logística como um todo D iv ul ga çã o D iv ul ga çã o carreiras.qxp 4/12/2007 9:32 AM Page 50 Cabelos brancos, mãos sujas Para Marco Antonio Oliveira Ne- ves, diretor da Tigerlog Consultoria, especializada na busca, recolocação e treinamento de profissionais de logís- tica, o ideal para o mercado seria aquele executivo que os americanos apelidaram de “cabelos brancos e mãos sujas” – ou seja, um técnico com muita experiência e que ainda se en- volve com a operação. Porém, segundo ele, os pioneiros da logística no país estão perdendo espaço para os mais jovens, porque a maior parte dos veteranos se acomo- da em suas mesas e quer viver das glórias do passado. “Este setor será dominado rapidamente por essa ra- paziada formada nas melhores insti- tuições, que é criativa, proativa e sempre incomodada com o custo e o nível de serviço”, prevê Neves. Na sua opinião, o profissional de futuro na logística deve quebrar o pre- conceito do brasileiro contra estatísti- cas e pesquisas operacionais. Precisa ainda ter uma visão técnica do supply chain, que não se limita à empresa pa- ra a qual trabalha, mas que analisa desde o fornecedor do seu fornecedor até o cliente do seu cliente. “Além disso, deve conhecer muito de matemática financeira e fazer aná- lises de investimento – entender que não é só o payback que interessa, mas as taxas de retorno. E ter ainda uma boa visão de administração financei- ra; saber ler um balanço, gerenciar re- sultados e avaliar custos fixos e variá- veis, custos diretos e indiretos”, rela- ciona o consultor. Não é nada fácil. “Esse profissional tem de ser tão bom como técnico quanto como gestor. Caso contrário, ficará perdido e dará tiros onde não é importante”, realça. Para completar, o domínio do inglês ainda está longe do ideal. “De 30 currículos que recebo por dia, uma minoria fala outra língua e pouquíssimos são fluentes”, revela. Segundo Neves, o bom executivo de logística tem de estar, sobretudo, muito próximo do cliente final de sua empresa. “Precisa sair da cadeira e ir ao campo, para verificar como a ope- ração está ocorrendo na prática. A tendência de quem cresce na carreira é perder esse contato e ser o último a saber da realidade”, afirma. carreiras.qxp 4/12/2007 9:32 AM Page 51 52 - Revista Tecnologística - Fevereiro/2007 Um diretor de logística, conforme o consultor, tem de exercer sua capa- cidade de participar de projetos cola- borativos e ainda conhecer bastante de tecnologia. Para colocar todos estes conhecimentos em prática, o executi- vo deveria ter uma rotina com 90% do seu tempo dedicada a assuntos es- tratégicos, como planejar o melhor canal de distribuição para seu produ- to. No entanto, costuma passar esse período apagando incêndios, como reclamações de clientes, falta de pale- tes ou atrasos de entregas. “Talvez ele perca tanto tempo pensando no mi- cro porque não tem mão-de-obra qua- lificada para isso”, raciocina Neves. Ele, porém, não tem dúvidas de que uma boa formação vai definir os futuros líderes na logística. “Os jovens que estudam nas melhores insti- tuições, ao completar cinco anos de experiência, reúnem uma capacidade de tomar decisões muito maior que os mais experientes. Esta é a razão pela qual os dinossauros perdem seus em- pregos. Eles apontam o que acham melhor, enquanto o mercado hoje exige números”, avalia, reforçando que isso não se refere a todos os pro- fissionais maduros. Neves vai ainda mais longe: “Nos próximos 10 anos, o Brasil terá os melhores profissionais de logística do mundo, porque adoramos transportes como os americanos, armazenagem como os europeus e qualidade como os japoneses.” Colegiado estratégico Luiz Wever, sócio-diretor da Ray & Berndtson, empresa internacional de seleção de executivos de alto nível, vem notando um aumento da procu- ra por profissionais de logística mais qualificados nos últimos 18 meses. “A experiência técnica ainda é importan- te, mas o profissional valorizado ago- ra é aquele que tem a capacidade de relacionar o supply chain com o fi- nanceiro, marketing, vendas e com- pras. Somente um gestor com esse perfil pode fazer parte do colegiado estratégico da empresa”, explica. Ele lembra que, no dia-a-dia desse executivo, além das competências de gestão de pessoas, estoques, frotas e rotas, entre outros, mais uma se faz necessária para a realidade brasileira: conhecer as legislações tributárias es- taduais e seus benefícios fiscais. “Não precisa ser um leitor do Diá- rio Oficial, mas tem de estar familiari- zado com o assunto para tomar a me- lhor decisão. Afinal, mais do que nun- ca, o custo da logística pode fazer a di- ferença entre uma empresa que ganha mais ou menos dinheiro”, diz. Na era da competição global, o executivo de logística deve estar pre- parado para tomar decisões rápidas, como, por exemplo, não deixar faltar matéria-prima na fábrica e nem pro- duto no mercado em casode pro- moções-relâmpago para combater a concorrência ou para aproveitar uma oportunidade. No comitê estratégico da empresa, o diretor de Logística pas- sa a ser questionado sobre esta função vital na operacionalização e rentabili- dade do produto. Apesar de todas estas exigências, Wever diz que não teve dificuldades para encontrar bons candidatos para as seis vagas de executivos de logística que preencheu no ano passado. “Cla- ro que esse perfil de super-homem eli- mina muita gente. Mas os clientes fi- caram satisfeitos com o leque de alter- nativas que oferecemos”, informa. As últimas posições preenchidas nes- ta área com a ajuda da Ray & Bernd- tson foram nos setores de consumo e tecnologia. “São os segmentos mais pulsantes para a logística, pois parte de suas cadeias de suprimentos é glo- bal, mesmo para empresas com foco no mercado nacional. Por isso, o pro- fissional tem de ter a capacidade de conversar com o mundo”, pondera. O headhunter salienta que o execu- tivo de logística tem ainda que ser um líder, com a habilidade de inspirar seus pares e sua equipe. Enfim, as em- presas procuram técnicos com espírito empreendedor. “Porque a área de logística se tornou um centro de lu- cros e necessita de boa comunicação com as demais. Por isso, os bons pro- fissionais estão sendo caçados”, avisa. Centros de excelência Para Rudolf Mayer-Singule, sócio da Spencer Stuart, consultoria inter- nacional de recrutamento e seleção de executivos, os profissionais de logísti- ca devem ser criteriosos na escolha dos cursos de pós-graduação e espe- cialização na área. Na sua opinião, são muito poucos os centros acadêmicos brasileiros que podem oferecer uma formação nos padrões exigidos pelo mercado globalizado. CARREIRAS Wever: liderança e visão estratégica são fundamentais Os brasileiros adoram transporte como os americanos, armazenagem como os europeus e qualidade como os japoneses D iv ul ga çã o carreiras.qxp 4/12/2007 9:32 AM Page 52 53 - Revista Tecnologística - Fevereiro/2007 Ele cita como referência para quem quer ocupar postos em multinacio- nais o Cranfield Centre for Logistics and Supply Chain Management (CLSCM), na Inglaterra. No Brasil, in- forma que os headhunters valorizam os altos executivos formados pelo CEL/Coppead/UFRJ e pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). Os que contam com esta formação aliada a uma boa experiência podem disputar os salários maiores, pagos pe- las indústrias, que também oferecem perspectivas mais atrativas do que os operadores logísticos. “Os melhores talentos que começam a carreira nos prestadores de serviços aprendem ali a colocar em prática seus conhecimen- tos, e acabam migrando para as em- presas a que atendiam, onde terão melhores oportunidades de desenvol- vimento”, destaca. Segundo Mayer-Singule, um técni- co com trajetória focada apenas na “logística pura” também tem con- dições de migrar para um cargo exe- cutivo em supply chain. “Para isso, precisa ter conhecimento das diversas interfaces de sua área ao longo da ca- deia toda, o que exige habilidade de relacionamento e uma visão precisa dos negócios do cliente”, afirma. Acompanhar as melhores práticas do mercado e dispor de, pelo menos, uma boa competência comercial também é recomendável. Se, além dis- so, o profissional contar com uma for- mação de alto nível, melhor ainda. “Aquele que só tem muita experiência vai agir como aprendeu no dia-a-dia. Já quem estudou em centros de ex- celência encontra alternativas que acabam sendo mais vantajosas para o negócio”, compara. Desenvolver cadeias Para Gerson Correia, sócio da Ta- lent Solution, consultoria de seleção de executivos, a evolução do perfil do profissional de logística extrapo- lou a competência técnica e lhe deu o poder de decidir de quem, quando e onde comprar matérias-primas, por exemplo. “Em um cenário globaliza- do, isso significa que ele define de que país trazer determinado compo- nente para sua produção ou mesmo se é melhor desenvolver um fornece- dor local”, diz. O processo produtivo tornou-se muito mais complexo com a abertu- ra dos mercados e o trabalho do pro- fissional de logística também. “Antes ele era um profissional ligado apenas aos suprimentos ou à distribuição. Agora, não existem fronteiras. São ra- ros os produtos que não precisam de uma avaliação mais profunda da sua cadeia em nível global, principal- mente com o fator China. Esse exe- cutivo tem de analisar todos os cus- tos envolvidos, desde o fornecedor até o cliente final, e garantir que o produto estará no mercado no tempo adequado, com o mínimo de esto- que”, enumera. Com este conjunto de atribuições, o profissional de logística passou a de- cidir também as estratégias de terceiri- zação ou quarteirização de serviços. O headhunter ressalta que a incessante pressão da indústria de bens de con- sumo sobre os preços de seus fornece- dores cria oportunidades para os espe- cialistas em logística. O desafio dos fa- bricantes de componentes é atender aos pedidos com algum lucro. A so- lução encontrada por um dos clientes da Talent Solution foi desenvolver uma cadeia local de abastecimento. A empresa, do segmento de tele- comunicações, tem um produto à ba- se de cobre como matéria-prima e descobriu que seria mais vantajoso importar o metal em estado bruto e transformá-lo no Brasil do que comprá-lo manufaturado. Para im- plantar esta nova cadeia, contratou um executivo de logística. “Os fabricantes de produtos com baixo custo unitário, por terem as margens de lucro achatadas e a com- posição de custos mais complexa, precisam dar importância ainda maior para o processo logístico, pois é nesses detalhes que a empresa ganha ou perde dinheiro. Esse é o ca- so dos setores de autopeças e equipa- mentos de comunicação”, analisa Gerson Correia. “O profissional de logística tem que entender a comple- xidade da sua aérea de produção e também estar informado sobre as empresas que têm uma estrutura de logística semelhante”, afirma. Dois lados do balcão André Rheinboldt, diretor de Ope- rações da Johnson & Johnson, tem uma visão privilegiada da evolução do perfil de competências do executivo CARREIRAS Correia: atividade ganhou poder de decisão Quem tem boa formação aliada a certa experiência pode disputar os maiores salários, geralmente pagos pela indústria D iv ul ga çã o carreiras.qxp 4/12/2007 9:32 AM Page 53 de logística. Ele começou a carreira como técnico (formado em Engenha- ria Química) na Unilever e, em 20 anos na empresa, chegou a ser diretor de Fábrica, diretor de Supply Chain e diretor de Recursos Humanos. Para ele, a área de logística vem se transformando com tanta velocidade porque é hoje uma das principais ala- vancas do desenvolvimento econômi- co mundial. “É por meio dessa ativi- dade que centros produtores conse- guem levar seus produtos a preços ra- zoáveis para as camadas mais pobres da população. A logística está, portan- to, no olho deste furacão que gera in- vestimentos na sociedade”, declara. Assim, o executivo desta área tem a obrigação de conhecer as impli- cações globais de suas funções e de buscar sempre alternativas satisfató- rias. “Seja qual for o direcionamento da empresa (reduzir os custos ou au- mentar a satisfação do cliente), o profissional de logística precisa ter tenacidade e criatividade. É uma área em que um detalhe faz muita dife- rença, mais do que em outros seto- res”, diz. Na opinião de Rheinboldt, um ge- rente ou diretor de Logística não pre- cisa ter somente a visão macro do negócio, mas também necessita co- nhecer o micro, a questão técnica, que pode ser decisiva. “A cabotagem, por exemplo, pode parecer uma so- lução logística adequada para um país com a costa que tem o Brasil. No en- tanto, se levarmos em conta os tem- pos gastos para embarque e desembar- que nesse modal, veremos que não há vantagem competitiva”, constata. Para ele, outra competência-chave para o executivo de logística é a habi- lidade de desenvolver pessoas, uma vez que não há bons profissionais em abundância no mercado.“É preciso formar uma boa equipe, e não se monta um time forte apenas trazendo talentos de outras empresas”, ensina. Segundo o diretor da J&J, quando se atinge o topo na hierarquia da logís- tica, a gestão de pessoas passa a ser mais importante do que o conheci- mento técnico. “As pessoas precisam sentir que estão trabalhando com um líder forte e que quer desenvolvê-las.” carreiras.qxp 4/12/2007 9:32 AM Page 54 Para gerentes O professor José Ignácio Villela, coordenador do curso de Pós-Gra- duação em Gestão de Logística do Ie- tec (Instituto de Educação Tecnológi- ca), de Belo Horizonte, dedica seu tra- balho a uma gama mais ampla de pro- fissionais. “Com o achatamento dos níveis hierárquicos nas empresas, o cargo de diretor de Logística ficou res- trito a grandes organizações. Nas pe- quenas e médias empresas, a estraté- gia cabe ao gerente de Logística”, sus- tenta. É na formação deste público que o Ietec aposta. Para o professor, como a maioria da mão-de-obra nessa área é gradua- da em Engenharia ou Adminis- tração, a pós-graduação serve para integrar o conhecimento técnico ao estratégico. “Nossa missão é ensinar como reduzir custos e melhorar o ní- vel de serviço.” O professor concorda que, com as margens de lucro reduzidas, não há mais espaço para empirismo. “Há uma teoria para cada problema e to- das elas já foram testadas e aprovadas em outros países e aqui também”, diz, em resposta às alegações tipica- mente brasileiras de que “na teoria a prática é outra”. Como consultor de empresas há 14 anos, Villela percebe como nem as noções mais básicas são observadas em alguns casos. “Há empresas que organi- zam um armazém sem a flexibilidade necessária para mudar dali a um dia, se preciso”, espanta-se. “Procuramos sem- pre relacionar as atividades de logística com as do marketing, pois existem di- ferenças entre as visões de serviços por parte do cliente e da empresa.” O professor mostra aos alunos o caso de uma empresa que priorizava a disponibilidade de estoque. Man- tinha armazenado o suficiente para dois meses de vendas. “Nossa pesqui- sa constatou que o cliente (comércio varejista) valoriza mais a confiabilida- de da entrega. Ele prefere receber em 15 dias pontualmente que receber em três dias com atraso, se a entrega estava marcada para dois dias. A em- presa reduziu seu estoque para um mês e obteve um ganho de 1% do fa- turamento”, relata. Segundo ele, os gerentes dessa em- presa alegaram que, no conturbado dia-a-dia, nem pensavam nesse pro- blema. “Por isso é importante ter uma visão generalista. Não adianta apenas querer reduzir custos; é preciso aten- der o cliente. E não se deve atender a qualquer preço; tem de haver rentabi- lidade”, descreve. O MBA conta ainda com um mó- dulo de Supply Chain. “O grande de- safio para o gerente é pensar em toda a cadeia. Geralmente, ele é um técni- co muito bom que foi promovido e que precisa compreender o impacto de suas ações sobre as pessoas e a em- presa. E é isso que diferencia um espe- cialista de um executivo”, aponta. “As grandes operadoras logísticas não são as mais baratas, mas agregam valor de tal forma ao cliente que, mes- mo sem reduzir o custo logístico, me- lhoram a operação e o nível de satis- fação aumenta”, salienta. Formando jovens Sergio Mattar, sócio da Itelogy Partners, consultoria de gestão empre- sarial com foco em supply chain, Villela: visão generalista é importanteD iv ul ga çã o carreiras.qxp 4/12/2007 9:32 AM Page 55 Fevereiro/2007 - Revista Tecnologística - 56 aconselha que os profissionais mais maduros da logística se tornem for- madores dos mais jovens. Esta, para ele, é a melhor alternativa para os veteranos que se fiaram apenas em sua longa experiência. “Se forem de- mitidos, eles não conseguirão se re- colocar no mercado, a não ser em postos operacionais. É a dura realida- de”, dispara. Ex-gerente-geral de Logística da Nestlé, Mattar ressalta que o problema não está na idade, mas na trajetória dessas pessoas. “Executivos de logísti- ca que passaram por diversas áreas das empresas, principalmente a comer- cial, desenvolvem uma visão de negó- cio que os valoriza”, afirma. Ele, no entanto, diz que os antigos especialistas em logística não são cul- pados pela obsolescência do cargo. “O problema é que esta área não era es- tratégica e sim de apoio, por isso as universidades não lhe davam atenção. Somente com a globalização, e a ne- cessidade de atender melhor o cliente e o consumidor, surgiram os cursos de especialização. Os profissionais foram cobrados para ter outra postura, mas não estavam preparados e isso levou a um envelhecimento, mesmo entre os mais jovens na ocasião. Até hoje é ra- ro ver um profissional de logística gal- gando posições de comando numa grande empresa”, analisa. “Esta área vai precisar de mais tem- po para ser reestruturada. Ainda en- contramos problemas graves de inglês, por exemplo. Muitos profissio- nais foram à frente por méritos pró- prios. Mas quantos têm acesso a um MBA de boa qualidade?”, indaga. Para Mattar, é hora de tomar cui- dado com os oportunistas, que se aproveitam da onda de expansão da logística. E faz um alerta para os que estão começando: “O profissional de logística tende a ter o foco nas dificul- dades de uma operação, principal- mente no Brasil, com seus problemas de infra-estrutura. Mas, em vez de mostrar o que não dá para fazer, cres- cerá quem aprender a falar a mesma linguagem do negócio, ou seja, onde podemos ganhar.” O novo executivo de logística, se- gundo o consultor, tem de olhar também os aspectos comerciais e fi- nanceiros de sua organização. “Fize- mos uma ava- liação de contra- tos de uma em- presa com um operador logísti- co e verificamos que este levou toda a vantagem na negociação, porque o técnico de logística não soube fazer uma compra estratégi- ca”, relata. Aos profissio- nais mais madu- ros, recomenda: “É preciso se re- inventar, reco- nhecer e lutar contra as suas li- mitações, aceitar o novo e contri- buir para que os jovens sejam melhores; apro- ximar-se, intera- gir e superar as dificuldades in- Mattar: globalização força a especializaçãoD iv ul ga çã o telectuais e emocionais deste momen- to de transição. Afinal, o mundo nun- ca amanhece do jeito que estava quando dormimos. Os pioneiros da logística devem preservar sua repu- tação e colocar seu conhecimento a serviço do futuro.” André Sales (colaborou Victor de Sousa) Ietec: (31) 3223-6251 Itelogy Partners: (11) 3285-4211 Johnson & Johnson: (12) 3932-3100 Wilson, Sons Logistics: (21) 2206-4222 Penske Logistics: (11) 3306-0051 Ray & Berndtson: (11) 5506-0166 Ryder Brasil: (11) 5644-9644 Spencer Stuart: (11) 3759-7700 Talent Solution: (11) 2171-0000 Tigerlog Consultoria: (11) 6694-1391 carreiras.qxp 4/12/2007 9:32 AM Page 56
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