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Refluxo Vesicoureteral Seminário - Ana Maria Definição: O Refluxo Vesicoureteral (RVU) consiste no fluxo retrógrado de urina, da bexiga para o trato urinário superior, sendo um evento anormal no ser humano. Estima-se que ocorra em cerca de 1% da população pediátrica e em 30 a 40% das crianças com infecção urinária. Imagem retirada do Google Imagem retirada do livro Moore anatomia clínica Classificação: Primário Secundário Tratado de pediatria - Nelson RVU primário - Incompetência congênita do mecanismo valvular da JUV em condições normais há oclusão da porção intramural do ureter em função da contratura do músculo detrusor - falha nessa oclusão associada com OCORRE desvio no local de origem do broto ureteral. Quando o broto ureteral se origina muito próximo da futura bexiga, o comprimento do ureter intramural será potencialmente mais curto, havendo, assim, mais probabilidade de refluxo. O local de origem do broto ureteral parece ser geneticamente determinado deslocamento lateral dos orifícios ureterais encurtamento dos túneis intramurais RVU primário - Incompetência congênita do mecanismo valvular da JUV Tratado de pediatria - Nelson RVU primário - associado com outras malformações da junção ureterovesical Duplicação ureteral Ureterocele com duplicação Ectopia ureteral Divertículos paraureterais Tratado de pediatria - Nelson RVU SECUNDÁRIO é causado por patologias subjacentes que comprometem o funcionamento do mecanismo anti-refluxo da JUV, sem anormalidade intrínseca. Secundário ao aumento da pressão intravesical Bexiga neuropática Disfunção vesical não neuropática Obstrução da via de saída da bexigaSecundário a processo inflamatório Cistite bacteriana grave Corpos estranhos Cálculos vesicais Cistite clínica Secundário a procedimentos cirúrgicos que envolvem a junção ureterovesical Tratado de pediatria - Nelson Grau I: refluxo alcança somente o ureter; Grau II: alcança ureter e pelve, mas não causa dilatação; Grau III: causa dilatação leve; Grau IV: cauSa dilatação moderada, fórnices arredondados; Grau V: dilatação grave, ureter tortuoso, papilas obliteradas Classificação O RVU é, em si mesmo, assintomático, com exceção de raros casos reportados de refluxo estéril que se manifestaram com dor lombar. RVU é mais frequentemente diagnosticado na sequência da investigação de Infecção do trato urinário (itu), em que a presença de refluxo facilita o transporte de bactérias da bexiga para o trato urinário superior, predispondo o rim à infeção (pielonefrite). ITU disúria, polaciúria dor lombar febre letargia anorexia náuseas, vómitos má evolução estatuto-ponderal Manifestação Clínica/Fisiopatologia: a realização de exames de urina tipo I e de urocultura deve fazer parte da investigação inicial Manifestação Clínica/Fisiopatologia: NEFROPATIA DE REFLUXO(NR): ENVOLVE OS VÁRIOS TIPOS DE LESÃO RENAL ENVOLVIDOS NO RVU; decorre da ascensão de bactérias ao trato urinário superior, com perda focal ou difusa, irreversível, do parênquima renal Outras complicações relacionadas com a lesão renal são a hipertensão arterial mediada por renina e insuficiência renal. Normalmente ocorre ITU, seguido de nefropatia de refluxo, seguido de hipertensão mediada por renina ou insuficiência renal, mas não é necessariamente assim. Pode acontecer de um RVU sem caso de infecção gerar lesão renal, apesar desses casos serem mais raros. Em termos de danos a longo prazo temos insuficiência renal progressiva, hipertensão, proteinúria e aumento das complicações maternos fetais durante uma futura gravidez, nas meninas. ITU NEFROPATIA DE REFLUXO HIPERTENSÃO ARTERIAL MEDIADA POR RENINA INSUFICIÊNCIA RENAL Manifestação Clínica/Fisiopatologia: Resumo: ATEN ÇÃO!!! itu d e re petiç ão? diagnóstico: O diagnóstico pré-natal de RVU pode ser presumido através da evidência ultrassonográfica de hidronefrose fetal (definida como a dilatação da pelve e cálices renais), enquanto que o diagnóstico pós-natal de RVU geralmente é feito após a ocorrência de infecção de trato urinário (ITU). utiliza o iodo como meio de contraste, injetado após cateterismo uretral e permite o diagnóstico e a classificação do RVU bem como a avaliação da anatomia do trato urinário inferior (vesical e uretral). recomenda-se que o exame seja realizado com acompanhamento fluoroscópico e com a realização de mais de um ciclo de enchimento vesical, não devendo ultrapassar três ciclos. O RVU pode ser passivo, quando detectado já na fase de enchimento vesical, ou ativo, quando surge somente na fase miccional. Como a classificação mais usada para RVU é baseada na CUM, acaba que esse exame é muito usado para diagnóstico e avaliação inicial, sendo que também tem o lado positivo de apresentar a anatomia detalhada. diagnóstico: CISTOURETROGRAFIA MICCIONAL (CUM): Manual uropediatria diagnóstico: ULTRASSONOGRAFIA DINÂMICA: utiliza substâncias ecodensas injetadas por via endovenosa, serve para observar se o RVU está presente ou não, mas não permite classifica-lo. CISTOCINTILOGRAFIA ISOTÓPICA INDIRETA: É um procedimento que requer a injeção intravenosa de um radiofármaco, geralmente a mercaptoacetiltriglicerina (MAG3) ou o ácido diaminotetraetilpentoacético (DTPA), que é excretado nos rins e conduzido até a bexiga. não exige cateterização vesical. Não detecta os RVU que ocorrem apenas na fase de preenchimento vesical. É mais indicada para o acompanhamento de pacientes portadores de RVU, depois de realizado o diagnóstico inicial com a CUM Nesse método, um traçador radioisotópico (geralmente o ácido dietiltriaminopentaacético – DTPA) é infundido pela uretra e as imagens são obtidas durante o enchimento e esvaziamento vesical através de uma gama câmara. diagnóstico: CISTOCINTILOGRAFIA ISOTÓPICA DIRETA: não permite a avaliação anatômica da bexiga e da uretra ou mesmo a classificação adequada do RVU. método mais usado durante o acompanhamento clínico ou na avaliação após o tratamento cirúrgico. Manual uropediatria CINTILOGRAFIA RENAL ESTÁTICA COM ÁCIDO DIMERCAPTOSUCCÍNICO (DMSA): diagnóstico: método padrão ouro para a identificação de pielonefrite aguda e cicatriz renal. requer a administração intravenosa de um isótopo radioativo, ácido dimercaptosuccínico (DMSA), que é posteriormente captado pelo parênquima renal A identificação de áreas hipocaptantes (cold spots) pode representar uma inflamação aguda ou cicatriz renal. É um procedimento que requer acesso intravenoso e expõe a criança à radiação difusa. nefropatia de refluxo tipo 1 - não há mais que duas cicatrizes renais nefropatia de refluxo tipo 2 - há mais que duas cicatrizes renais, havendo áreas normais entre elas nefropatia de refluxo tipo 3 - há atrofia generalizada de todo o rim nefropatia de refluxo tipo 4 - atrofia renal e a função renal global é inferior a 10% A classificação de Goldraich permite categorizar a nefropatia de refluxo em quatro tipos de acordo com os achados da cintilografia renal DMSA. Manual uropediatria diagnóstico: AVALIAÇÃO URODINÂMICA OU VIDEOURODINÂMICA: deve se restringir aos casos com sintomas claros de disfunção miccional ou que não evoluem adequadamente mesmo com as medidas terapêuticas instituídas método usado para casos específicos. ULTRASSONOGRAFIA DO APARELHO URINÁRIO: não tem valor diagnóstico de RVU, mas pode ser realizada por que demonstra malformação renal/ureteral, evidencia obstrução da pelve associada ou não a obstrução, inflamação renal aguda e/ou cicatrizes renais. Avaliação inicial clínica Exame físico completo Avaliação de peso, altura, PA Pesquisar sinais de disfunção vesico- intestinal Exames Laboratoriais dosagem de creatinina sérica está indicada em casos de RVU de alto grau e/ou com presença de cicatrizes renais, sendo um parâmetro para estimar o ritmo de filtração glomerular e como linha de base para comparações futuras. A periodicidade deve ser semestral ou anual. Exame de urina, incluindo sedimento, proteinúria,bacteriúria e urocultura são recomendados ao diagnóstico do RVU e, posteriormente, na suspeita de ITU. diagnóstico: Exames de imagem • Ultrassonografia do aparelho urinário está recomendada para acompanhar o desenvolvimento renal, além de avaliar o surgimento ou piora de hidronefrose, espessamento do detrusor, bem como a presença de resíduo pós-miccional - A periodicidade deve ser semestral durante o período de acompanhamento clínico. • A Cintilografia Renal Estática com DMSA (ácido dimetilmecaptossuccinico) deve ser realizada na associação com ITU febril, RVU de alto grau (IV e V) e alterações ultrassonográficas sugestivas de lesões renais, buscando aparecimento ou progressão de cicatrizes renais e acompanhamento da função renal. Quanto a periodicidade, deve ser repetida frente a ocorrência de novos episódios de ITU febril. • Cistouretrografia Miccional, no acompanhamento clínico, para controle de evolução, pode ser repetida, especialmente nos refluxos de maior grau (III a V) ou frente a recidiva de ITU na vigência de profilaxia antimicrobiana (PAM). Rvu antenatal: uma forma especial da doença OCORRE EM Recém-nascidos e lactentes com uretero-hidronefrose detectada após episódios de ITU ou diagnóstico antenatal de dilatação das vias urinárias, em que a investigação por imagem confirma a existência de RVU O RVU antenatal é caracterizado por refluxo de alto grau, geralmente bilateral, mais freqüente no sexo masculino, em alguns casos com grave comprometimento da função renal, e cuja etiologia parece estar relacionada a uma obstrução importante e provisória da via de saída da bexiga. A evolução natural desse tipo de refluxo também tem, em geral, resolução espontânea, mesmo nos quadros associados a infecções graves. Tratamento: três modalidades Conservador cirúrgico (cirurgia aberta, laparoscópica ou robótica) tratamento endoscópico expectativa de resolução espontânea PROGNÓSTICO DA RESOLUÇÃO DE RVU Principais fatores preditores da resolução espontânea: Grau do RVU RVU bilaterais de alto grau (III a V) presença de cicatrizes renais ou déficit funcional refluxos que aparecem nas fases inicias do enchimento vesical / refluxos que aparecem apenas durante a micção desenvolvimento de episódio de ITU durante o seguimento clínico Disfunção Vesico-intestinal Anomalias Associadas Em crianças brasileiras, a taxa de resolução espontânea do RVU foi de: 87,5% para o RVU grau I; de 77,6% para grau II; 52,8% para grau III; 12,2% para o grau IV e 4,3% para grau V Tratamento cONSERVADOR: PROFILAXIA ANTIMICROBIANA (PAM) A droga de escolha em lactentes, pela disponibilidade e fármaco segurança, é a Cefalexina ou Amoxacilina. Uso de Sulfametoxazol e Nitrofurantoína não estão indicados antes dos 2 meses de idade. A partir dessa idade, as opções seriam Cefalexina, Amoxacilina, Sulfametoxazol/Trimetoprim, Nitrofurantoina ou Ácido Nalidíxico. Tratamento Cirúrgico Indicações Cirúrgicas ABSOLUTAS ITU de repetição a despeito de PAM; Cirurgia deve ser considerada se for a preferência dos pais. RELATIVAS Persistência de RVU grau III a V em pacientes assintomáticos ; RVU grau III a V em pacientes com cicatrizes renais ; Pacientes com dificuldades de acompanhamento clínico e acesso a serviços de saúde; Persistência do RVU em meninas após os 5 anos de idade. Todas as técnicas apresentam altas taxas de sucesso (acima de 95%). As complicações incluem a possibilidade de obstrução (2%) e refluxo contralateral (9%). O princípio de todas as técnicas é criar um túnel submucoso mais longo, de três a cinco vezes o diâmetro do ureter, na tentativa de reproduzir o mecanismo antirrefluxo fisiológico de comprimir o ureter conforme a pressão intravesical aumenta com o enchimento e micção. Tratamento Cirúrgico Cirurgia aberta convencional: Tratamento Cirúrgico Cirurgia aberta convencional técnicas mais usadas extravesical de Lich-Gregoir intravesical de Cohen intravesical de Glenn-Anderson combinada intra e extravesical de Politano-Leadbetter Tratamento Cirúrgico Cirurgia Laparoscópica ou robótica ainda não foram incorporadas de forma rotineira no tratamento cirúrgico do RVU, pois apresentam uma longa curva de aprendizado, mesmo para cirurgiões experientes Seus resultados são inferiores, o que podeestar relacionado à curva de aprendizado Embora o procedimento endoscópico requeira anestesia geral e possíveis injeções repetidas, a facilidade do tratamento, a ausência de intervenção cirúrgica aberta e o tempo de hospitalização reduzido podem ser boas razões para sua indicação em crianças. Tratamento endoscópico: consiste na injeção submucosa de substâncias preenchedoras capazes de criar uma válvula anti-refluxo na entrada do ureter. Os índices de cura descritos variam de 70 a 90%. Acompanhamento: Nas crianças com RVU diagnosticado e em tratamento, um protocolo de acompanhamento pode ser estabelecido com a finalidade de identificar os quadros de ITU assintomáticos e reavaliar periodicamente a resolução espontânea esperada do refluxo e a consequência ao longo do tempo para o trato urinário superior. O controle da resolução espontânea do refluxo deve ser feito anualmente ou a cada 18 meses. Na maioria das crianças, o refluxo vesicoureteral se resolve e regride espontaneamente; porém, em alguns casos, podem ocorrer seqüelas. é importante Identificar os fatores envolvidos nessa evolução desfavorável e interferir nesse processo de perda progressiva da função renal. Manual uropediatria CONCURSO PÚBLICO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUATU 0429 – MÉDICO UROLOGISTA INSTITUTO AOCP - 2015 - EBSERH - Médico - Cirurgia Pediátrica EBSERH - Médico - Urologia (HUAP-UFF) Referências: Filho, MZ; Calado, AA. Disfunção Vésico-Intestinal. Capítulo 10 do Manual Uropediatria – Guia para Pediatras, 128-159. Sociedade Brasileira de Pediatria. Sociedade Brasileira de Urologia. Rio de Janeiro, 2019. Jesus, LE; Anderson, KM. Tratamento e Complicações do Refluxo Vesicoureteral Persistente além da Adolescência. J Bras Nefrol, 30(2):157-64, 2008. Oliveira, TPM. Refluxo Vesicoureteral - atualizações em pediatria. 2016. 40. Tese (Mestrado em Medicina) - Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Portugal, 2016. Quadros, SA; Correa, MB. Refluxo Vesicoureteral em Crianças: atualização. Arquivos Catarinenses de Medicina, n. 31, p. 37-43, 2002. Silva, JMP. Curso clínico do refluxo vesicoureteral primário em 735 crianças e adolescentes. 2006. 204. Tese (Pós Graduação em Medicina) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. Teixeira, CBB; Cançado, MAP; Carvalhaes, JTA. Refluxo Vesicoureteral primário na infância: tratamento conservador versus intervenção cirúrgica. 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