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1 PEDIATRIA 13 Marina Prietto INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO DEFINIÇÃO: - É uma das infecções bacterianas mais comuns na infância. - Nos meninos a infecção urinária predomina no primeiro ano de vida e nas meninas têm uma frequência elevada ao longo de toda a infância. - Os períodos de maior incidência são: ▪ Pré escolares (3 a 5 anos – devido ao treinamento esfincteriano); ▪ Adolescentes (início das relações sexuais e alterações hormonais – meninas!) Outros fatores de risco: - Brancos - Não circuncidados - Constipação - Malformações urinárias (válvula de uretra posterior, refluxo vesicoureteral, adesão de grandes lábios, estenose pieloureteral) - E anormalidades funcionais do trato urinário (Ex: bexiga neurogênica); PATOGENIA: - Ocorre uma Ascenção bacteriana que colonizam a região periuretral, que são bactérias similares a flora interninal (gram negativas); - A principal condição de defesa do trato urinário contra invasão, fixação e multiplicação bacteriana é o livre fluxo da urina, desde o parênquima renal até a micção. Logo, principal fator de risco para ITU é a estase urinária. - A ascensão bacteriana é a principal via de aquisição da infecção do trato urinário em crianças e em adultos, exceto no período neonatal, no qual a principal via é a hematogênica decorrente de sepse. Principal bactéria: Escherichia coli; Outras bactérias são: - Proteus mirabilis (costumam colonizar o prepúcio de lactentes não circuncidados - Klebsiella - Enterococcus Situações especificas: - Pseudomonas = mais comum em imunodeprimidos e após manipulação cirúrgica de TGU; - Staphylococcus saprophyticus = meninas adolescentes que iniciaram a atividade sexual - Cândida e outros fungos = imunodeprimidos ou em uso de cateter vesical OBS: Disseminação hematogênica; Apesar de bem mais raro, pode ocorrer uma infecção do trato urinário em decorrência da transmissão hematogênica (RN, imunodeficientes, pacientes com sepse ou com anomalias obstrutivas do trato urinário0; Nesses casos, sempre suspeitar de: - Streptococcus B - S. aureus - Salmonella 2 PEDIATRIA 13 Marina Prietto IMPORTANTE!! - O principal agente etiológico de causa viral é o ADENOVÍRUS. - É mais comum em meninos, pré escolares; - Leva uma infecção urinaria com coágulos de sangue (cistite hemorrágica) mas que é autolimitada; QUADRO CLÍNICO; Quando menor a idade, mais inespecífico; Em recém nascidos: - Febre - Baixo ganho ponderal - Irritabilidade, recusa alimentar - Em casos mais graves, pode cursar com vomito, distensão abdominal e até icterícia (pode exibir um quadro de sepse ou toxemia); Em lactentes: - Na grande maioria se apresentam com febre sem sinais localizatórios (investigar sempre fatores de risco); - Porém podem também se apresentar com: - Baixo ganho ponderal - Choro durante as micções - Alteração de odor e coloração da urina FATORES DE RISCO: SOBRE A E. COLI: Os fatores de virulência da Escherichia coli ureteropatogênica (UPEC) incluem adesinas, sideróforos, toxinas, antígenos polissacarídicos e capsulares, os quais tornam a bactéria capaz de se ligar e lesar as células e os tecidos do hospedeiro fora do trato intestinal. A adesão é considerada um passo essencial para a bactéria se estabelecer no hospedeiro e causar uma infecção; deste modo, as adesinas são essenciais para a patogênese e geralmente estão localizadas na extremidade das fímbrias, apêndices filamentosos presentes na superfície bacteriana. Alguns tipos de UPEC podem expressar várias classes de adesinas que medeiam a adesão através da ligação específica a diferentes receptores. Adesinas auxiliam na colonização e desempenham um importante papel no desenvolvimento de ITU em humanos. 3 PEDIATRIA 13 Marina Prietto TODO LACTENTE COM ITU FEBRIL É CONSIDERADO COMO PIELONEFRITE (pois nessa faixa etária não é possível diferenciar o quadro clínico entre cistite e pielo); Pré escolares, escolares e adolescente: Nessa faixa etária já é possível diferenciar o quadro clínico, entre cistite e pielonefrite; Cistite: - Disúria – dificuldade de iniciar o jato; - Polaciúria - Urgência miccional - Incontinência urinária - Dor supra púbica - alterações na cor, volume e odor da urina - Febre baixa Pielonefrite - Se apresenta com mais sintomas sistêmicos; - Queda do estado geral - Inapetência - Vomito - Dor lombar (Giordano positivo) - Calafrios - Febre alta DIAGNÓSTICO: - A suspeita clínica não é suficiente para fechar diagnóstico; - Sempre colher urina do tipo 1 e urocultura; Achados laboratoriais: - O achado da ITU é uma leucocitúria associada a uma urocultura positiva; - Os métodos de coleta pode ser: ▪ Nas crianças que já apresentam controle do esfíncter, pode ser solicitado a coleta do jato médio. ▪ Em crianças que não apresentam controle esfincteriano: coleta por saco coletor, sondagem vesical ou punção supra púbica. IMPORTANTE! - O diagnóstico de ITU NÃO deve ser feito de rotina por cultura positiva por saco coletor. - A coleta por saco coletor é o método mais utilizado pela facilidade da técnica, porém é o que mais apresenta possibilidade de contaminação. - Após a limpeza do períneo e genitália, o saco coletor é acoplado próximo à uretra. Caso a criança não urine dentro de 30 minutos, o saco deverá ser trocado e nova assepsia perineal deverá ser realizada. - O resultado do saco coletor só é confiável apenas se a urocultura vier negativa (devido o alto grau de contaminação das bactérias de região perineal); - Se o resultado vier positivo, é necessário confirmar esse resultado pela sondagem vesical ou punção supra púbica; Leucocitúria É considerado positivo se: ≥ 10 leucócitos /mm³ OU ≥ 10.000 leucócitos /ml OU - em uma urina não centrifugada; Esterase leucocitária (teste de fita reagente); 4 PEDIATRIA 13 Marina Prietto Bacteriúria É considerada presente se: - Houver presença da bacterioscopia durante o exame de urina do tipo 1 - Presença de nitrito positivo (não é tão fidedigno em lactentes por ter um alto fluxo urinário – pode não ter tempo de produzir); - O padrão ouro é a urocultura (porém, demora em média 72h); Urocultura positiva: É considerada positiva, segundo a sociedade americana de pediatria: 1. Método do jato médio ou por sondagem vesical; → Presença de ≥ 50 000 UFC /ml de uma única bactéria que seja uropatogênica; E é considerado contaminação quando existe: → Menos de 10.000 UFC /ml e a bactéria não é patogênica. 2. Método da punção supra púbica; Alguns estudos classificam que a punção supra publica possui valores de corte distinto (por que seria uma coleta da urina teoricamente estéril direto da bexiga) → Alguns autores consideram a cultura positiva quando ocorre o encontro de qualquer valor de UFC desde que de um único patógeno uropatogênico → Outras referências consideram positiva apenas se crescimento de mais de 10.000 UFC/mL Na PIELONEFRITE pode ser encontrado outros achados laboratoriais, como: - Leucocitose; - Desvio a esquerda; - Elevação de PCR ou VHS - Elevação de ureia e creatinina - Em casos graves é possível encontrar alterações do parênquima renal (ocasionando alteração de gasometria e de eletrólitos) TRATAMENTO: Na presença de sinais clínicos associados a ITU (de acordo com as diferentes faixas etárias) com urina do tipo 1 alterada pode ser iniciado o tratamento empírico aguardando-se o resultado da urocultura para a confirmação do diagnóstico. Medidas de suporte: - Hidratação adequada; - Micções frequentes - Manejo de febre e dor - Tratamento de constipação 5 PEDIATRIA 13 Marina Prietto Iniciar terapia empíricade ATB VO: - Sulfametoxazol e trimetoprim - Cefalosporina de 1º geração (Cefalexina) - Amoxicilina; Em casos de suspeita ou achados de resistência bacteriana, indica-se: - Amoxacilina + clavulanato - Cefuroxima (2º geração) A nitrofurantoína serve apenas para o tratamento da cistite; NÃO deve ser usado em lactentes com ITU febril, pois não possui boa penetração no parênquima renal. Quando indicar internação? - Idade > 3 meses - Má aceitação oral/ desidratação ou vômitos; - Sepse - Doenças obstrutivas e mal formações - Insuficiência renal aguda - Imunossupressão Nesses casos, indica-se a utilização de ATB EV, como: cefalosporina de 3º geração (Ceftriaxone) ou aminoglicosídeos (amicacina, gentamicina); Em RN, é necessário associar: AMPICILINA; Pois há um risco (% etiológica) de ter germes como estreptococos do grupo B e enterococos associados com essa faixa etária. OBS: Sempre descalonar o ATB após o resultado da urocultura = vai mostrar o perfil de sensibilidade microbiana daquela bactéria; Duração do tratamento: ▪ Cistite: 3 a 7 dias; ▪ Pielonefrite: 7 a 14 dias Lembrando que todo lactente com ITU febril é considerado uma pielonefrite (devido a incapacidade de diferenciação do quadro); IMPORTANTE: Em pacientes com má evolução clínica, ou seja, febre > 72 horas após o início do ATB; É necessário investigar: ▪ Nova urocultura; ▪ USG dos rins e vias urinária (investigação de complicações, como abcesso ou malformações); SEGMENTO: ▪ A ITU tem uma taxa de recorrência elevada, 30 a 40%; ▪ A recorrência ainda é maior pacientes do sexo feminino e que apresentaram antes do primeiro ano de vida; ▪ Porém, independente disso, todos os pacientes devem ser investigados após o primeiro episódio de ITU (afastar malformações) 6 PEDIATRIA 13 Marina Prietto ▪ Essa atitude justifica-se pela frequente associação de infecção do trato urinário a anomalias do trato urinário, principalmente o refluxo vesico ureteral e os processos obstrutivos. ▪ Os principais objetivos da avaliação morfofuncional do trato urinário são: detectar condições predisponentes da infecção e das recidivas, avaliar a presença de lesão renal e estabelecer conduta que possa prevenir o surgimento da lesão renal ou seu agravamento, visando ao melhor diagnóstico para o paciente O rastreio é feito por meio dos exames de imagem: 1. USG de rins e vias urinárias; 2. Cintilografia renal DMSA 3. Uretrocistografia miccional USG DE RINS E VIAS URINÁRIAS; É o primeiro exame de investigação. Possibilita avaliar rim, bexiga e a presença de hidronefrose, litíase, abscesso renal, entre outras condições. Entretanto, tem baixa sensibilidade na demonstração de refluxo e cicatrizes renais Indicado em: ▪ Menores de 2 anos com quadro de ITU febril – a imagem deve ser feita 1 ou 2 semanas após o término do tratamento com ATB; ▪ Naqueles que apresentaram uma evolução desfavorável (febre após o início do ATB) – Deve ser feito durante a fase aguda (investigação de complicações, como abcesso ou malformações); CINTILOGRAFIA RENAL DMSA É o exame padrão ouro para o diagnóstico de pielonefrite e cicatrizes renais; O exame que avalia a perfusão, capacidade de concentração e excreção de cada um dos rins; Indicado em: ▪ Naqueles que apresentaram uma evolução desfavorável (febre após o início do ATB) – deve ser feito na fase aguda da doença; ▪ Indicado em menores de 2 anos com quadro de ITU febril ou com diagnóstico de refluxo vesico ureteral - após 4 a 6 meses; URETROCISTOGRAFIA MICCIONAL Indicado em: ▪ Menores de 2 anos com quadro de ITU febril ▪ Aqueles que apresentaram alteração na USG e/ou cintilografia renal ▪ ITU febril recorrente Ela nunca é realizada na fase aguda, sendo indicada normalmente de 2 a 3 semanas após o tratamento. Padrão ouro para o diagnóstico de refluxo vesico ureteral DISFUNÇÃO DAS ELIMINAÇÕES Não é somente as malformações que aumentam o risco da ITU. As disfunções das eliminações é a causa mais comum de ITU recorrente em crianças maiores de 2 anos; 7 PEDIATRIA 13 Marina Prietto Cursa com: - ITU recorrente - Incontinência urinária - Constipação - Alterações do SNC Nesses pacientes, indica-se: - Condutas para tratamento da constipação (EX: lactulona (lactulose) tem ação laxante) - Ingestão hídrica - Micção frequente (evitar o risco de ITU) A QUIMIOPROFILAXIA para prevenção da infecção do trato urinário recorrente, é feita em casos bem específicos, como: ▪ Refluxo vesico ureteral grave (graus III, IV e V) ▪ Pacientes que apresentam cicatriz renal na cintilografia ▪ Disfunção miccional até a correção cirúrgica É feito com qual ATB? - Nitrofurantoína - Sulfametoxazol e trimetoprim - Cefalosporina de 1º geração (Cefalexina) De que forma? Uso de ¼ da dose habitual, 1x ao dia e de uso contínuo; REFLUXO VESICO URETERAL É uma das principais malformações associadas a infecção do trato urinário recorrente; Ele ocorre devido um fluxo retrogrado da urina até o sistema coletor renal; Pode ser dividido em: Primário: - Congênito, com antecedente familiar positivo (35%); - Pode vir associada com outras malformações como duplicidade ureteral; Secundário - É secundário ao aumento da pressão intravesical (como na bexiga neurogênica), a processos inflamatórios (como litíase vesical, cistite bacteriana) ou a procedimentos cirúrgicos Quadro clínico: - É a infecção do TU de repetição (ascensão bacteriana recorrente); - Pode levar a uma lesão renal devido a quadros recorrentes, como a nefropatia de refluxo. - A nefropatia de refluxo pode ocasionar: hipertensão arterial e perda da função renal (insuficiência renal); 8 PEDIATRIA 13 Marina Prietto Diagnóstico: - O exame padrão ouro é a uretrocistografia miccional (UCM); - Serve tanto para diagnosticar, quanto também para graduar os níveis de refluxo. Sempre que o paciente apresentar o diagnóstico do refluxo vesico ureteral, deve-se solicitar uma avaliação renal pela cintilografia renal com DMSA – para avaliar se já existe algum tipo de lesão renal. Classificação: O Refluxo Vesico ureteral classifica-se em 5 graus: leve (I e II), moderado (III) e grave (IV e V).7 ▪ GRAU I corresponde ao refluxo para o ureter, sem dilatação. ▪ GRAU II corresponde ao refluxo até a pelve renal, sem dilatação. ▪ GRAU III apresenta-se com refluxo com ureter dilatado e/ou apagamento dos fórnices calicinais. ▪ GRAU IV é aquele no qual há refluxo para o ureter que está grosseiramente dilatado. ▪ GRAU V apresenta refluxo maciço, com dilatação e tortuosidade significativas do ureter, com perda da impressão papilar. Os pacientes com RVU podem ser classificados em três grupos (baixo, médio e alto risco) quanto às chances de pior evolução, ou seja, o surgimento de cicatrizes renais, persistência do refluxo, surgimento de hipertensão arterial ou evolução para perda progressiva da função renal. - Baixo risco (I e II uni ou bilateral), - Médio risco (III uni ou bilateral ou IV unilateral) e - Alto risco (grau IV bilateral e V uni ou bilateral). AVALIAR ANUALMENTE: refluxo vesico ureteral + cintilografia renal com DMSA Acompanhar a progressão tanto do refluxo quanto da lesão renal 9 PEDIATRIA 13 Marina Prietto Prognóstico Resolução espontânea em 90% dos casos (principalmente nos 3 primeiros anos de vida): Essa resolução ocorre principalmente em: - Graus I e II uni/bilateral: - Grau III unilateral Pacientes com grau IV e V = dificuldade maior de resolução espontânea; TRATAMENTO: Enquanto não há resolução do quadro é necessário realizar uma quimioprofilaxia de ITU até a correção cirúrgica ou espontânea; Indicado em pacientes com refluxomais grave: III, IV e V; Medidas de suporte: ▪ Hidratação adequada; ▪ Micções frequentes ▪ Tratamento de constipação Cirurgia fica reservada para os casos de ITU recorrente e com lesão renal que não melhoraram com o tratamento clínico Em relação a hidronefrose.... ▪ Em casos de achados de HIDRONEFROSE na uretrocistografia pós-miccional, não se relaciona com refluxo. ▪ Na etiologia da hidronefrose, a obstrução da junção ureteropélvica é a principal causa em neonatos com hidronefrose unilateral. ▪ A válvula de uretra posterior surge como principal causa de hidronefrose bilateral sendo mais comum em meninos. ▪ A válvula de uretra posterior consiste numa membrana localizada distalmente à uretra prostática, que dificulta a drenagem adequada da urina. ▪ Sua presença resulta em dilatação da uretra prostática, dilatação vesical, hipertrofia de dextrusor, refluxo vesicoureteral em 50% dos casos, hidronefrose bilateral ou até displasia renal em casos mais graves. Seu diagnóstico é feito a partir da uretrocistografia pós- miccional.
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