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Curso O mundo sensorial do autismo com Katrien Van Heurck 2 Sumário Módulo 1 – Introdução ............................................................................................. 3 Módulo 2 – Introdução ao sistema sensorial ............................................................. 3 Módulo 3 – Sistema sensorial e autismo ................................................................... 3 Módulo 4 – Estilos sensoriais no autismo .................................................................. 4 Aula 1. Alguns estilos sensoriais ................................................................................ 4 Aula 2. Hipersensibilidade e hipossensibilidade ........................................................ 7 Aula 3. Hipersensibilidade ........................................................................................ 9 Aula 4. Outros comportamentos ............................................................................. 10 Aula 5. Sobrecarga sensorial e baixa carga sensorial ............................................... 12 Aula 6. Sobrecarga sensorial ................................................................................... 13 Aula 7. Baixa carga sensorial ................................................................................... 16 Aula 8. Falhas no sistema sensorial ......................................................................... 18 3 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO Vídeo chamada Ementa: O curso apresenta brevemente alguns aspectos básicos do autismo e introduz a noção de percepção sensorial. O curso desenvolve uma explicação sobre o sistema sensorial: seu desenvolvimento e funcionamento, os sete sentidos, possíveis falhas nesse sistema e características do sistema sensorial de pessoas com autismo. Trata em detalhes de alguns estilos sensoriais e características comportamentais decorrentes de falhas no sistema sensorial e comuns em pessoas com autismo (hipossensibilidade e hipersensibilidade, sobrecarga sensorial e baixa carga sensorial, entre outros). O curso apresenta diferentes terapias que podem ajudar pessoas com autismo a superar ou aprender a conviver com essas dificuldades. O participante aprenderá aspectos básicos do universo sensorial do autismo e formas de atuar levando em consideração os diferentes estilos sensoriais. MÓDULO 2 – INTRODUÇÃO AO SISTEMA SENSORIAL MÓDULO 3 – SISTEMA SENSORIAL E AUTISMO 4 MÓDULO 4 – ESTILOS SENSORIAIS NO AUTISMO Aula 1. Alguns estilos sensoriais Já vimos que o cérebro autista funciona de forma diferente do cérebro neurotípico e que a percepção das pessoas com autismo é uma percepção sensorial1. Essas diferenças causam, nas pessoas com autismo, problemas na interpretação dos estímulos sensoriais. Às vezes elas também têm uma percepção mais lenta, isto é, o cérebro precisa de mais tempo para processar todos os estímulos que aparecem. Também ocorre desequilíbrio no sistema sensorial, com a possibilidade de sobrecarga sensorial ou baixa carga sensorial, que são riscos sempre presentes na vida de pessoas com autismo. O resultado dessa percepção diferenciada se traduz em vários estilos sensoriais que veremos em seguida. OS DIFERENTES ESTILOS Monoprocessamento cerebral: é uma forma de evitar a sobrecarga sensorial. Monoprocessamento é o tipo de funcionamento do computador: ele processa um comando por vez. É assim que funciona o cérebro das pessoas com autismo. Se dissermos a uma criança autista: “Fulano, está na hora! Pegue seu casaco e sua mochila e espere na porta!”, a criança vai esperar na porta. Ela vai executar apenas o último comando. É muito importante, principalmente para educadores e pais, compreender esse funcionamento para que não correrem o risco de elas não entenderem a sequência de palavras. Isso acontece porque apenas um sentido ou uma área cerebral é ativada para processar o estímulo. Inconscientemente uma grande quantidade de informação é excluída. Outro 1 BOGDASHINA, Olga. Waarnemeng en zintuiglyke ervaringen bij menses met autisme en aspergersyndroom. Antwerpen, Garant, p 77-89, 2004. 5 exemplo de monoprocessamento cerebral é quando uma pessoa autista olha para alguém ou alguma coisa: ela pode não escutar ou sentir ao mesmo tempo. Percepção periférica: é uma forma de evitar a percepção imediata, que pode provocar hipersensibilidade. Existe uma ideia de que pessoas com autismo não conseguem ter contato visual, mas isso não é verdade. Todas têm contato visual. O que elas não conseguem é manter o olhar fixo nos olhos da outra pessoa: o problema é olhar nos olhos. Porém, elas encontram outras maneiras de olhar para as pessoas. Elas olham para os olhos e imediatamente desviam o olhar para os ombros, para o nariz ou para o queixo, para não sentir a “dureza” do olhar do outro. Isolamento ou desativação do sistema sensorial: é uma forma de bloquear a entrada de estímulos, de não deixar que mais informações entrem. Às vezes a criança está tão concentrada que não escuta quando alguém a chama pelo nome. Nós podemos interpretá-lo como um problema auditivo, mas não é isso que acontece. Na realidade, a criança simplesmente fechou o sentido da audição. Ela “desliga” certos sentidos para poder se concentrar em outros, mais necessários naquele momento. Esse “desligamento do sistema” acontece com frequência quando a informação sensorial é demasiada ou dolorosa. Fantasiar: é uma forma de se proteger da vida real. A pessoa começa a inventar situações: ela não mente, mas inventa. Para a pessoa com autismo, que não tem abstração, imaginação, o que ela está fantasiando se torna a vida real. Por exemplo, podemos ter uma criança apaixonada pelo Homem Aranha, mas para ela isso não é uma brincadeira, é a realidade. Tudo o que o Homem Aranha faz, ela também vai querer fazer, o que pode se tornar muito perigoso, porque ela pensa que também pode subir nas paredes, que também pode voar. Isso acontece muito em crianças, mas jovens autistas, e mesmo jovens autistas de alto funcionamento, podem começar a fantasiar. E essa fantasia, às vezes, pode vir a causar problemas. Ressonância: significa que a pessoa sente os estímulos como cores, como cheiros, como outras maneiras de estimulação sensorial. Por exemplo, ela vê um objeto, mas esse objeto 6 automaticamente provoca uma sensação de cor ou cheiro. E assim ela cria outras sensações sensoriais, por causa da disfunção neurológica. Wendy Lampen é um exemplo de ressonância. Vídeo Wendy Lampen: See the world through her Asperger eyes Percepção inconstante ou compensação: a percepção não confiável de um sentido pode ser compensada por outro(s) sentido(s). Muitas vezes crianças com autismo compensam a fraqueza dos outros sentidos através do sentido visual. Elas se fixam muito na televisão, no computador, no celular, porque nesses casos somente o sentido da visão está ativado. A tela digital dá um input constante de informação visual. Os pontinhos que formam a imagem de uma tela de televisão, e que pessoas neurotípicas normalmente não enxergam, tranquilizam crianças com autismo. Por isso elas gostam tanto de desenhos ou videogames: eles fornecem esse estímulo calmante para o sentido visual. Sonhar acordado: o fenômeno é visto como um sexto sentido ou uma percepção extrassensorial. É diferente de fantasiar, uma vez que são percepções verdadeiras. Donna Williams (1998) falou claramente sobre isso. Para nós pode parecer que eles estão imaginando percepções, mas para eles essas percepções são reais. https://www.youtube.com/watch?v=ZpNZJNQHAHw 7 Aula 2. Hipersensibilidade e hipossensibilidade A hipersensibilidade e a hipossensibilidade também são estilos sensoriais. No caso da hipossensibilidade, o sentido é mais “fechado” paraos estímulos. Os estímulos chegam muito devagar e com pouca intensidade ao cérebro. O cérebro tem um longo tempo para processar esse estímulo e, consequentemente, vai dar uma resposta agradável. A pessoa vai sempre procurar a mesma sensação porque ela é prazerosa. No caso da hipersensibilidade, o sentido é mais “aberto” para os estímulos. Os estímulos chegam com muita intensidade e rapidez, o cérebro “se assusta” e imediatamente processa uma resposta, que vai ser desagradável. A pessoa vai evitar esse estímulo, porque causa medo, insegurança. Características da hipossensibilidade A pessoa autista hipossensível: - não percebe quando é tocada; - não percebe que está usando roupas torcidas ou mal-arranjadas, isso não a incomoda; - adora andar descalça; tira o calçado na primeira oportunidade, não se importando se está muito frio ou muito quente; - se morde (ou morde os outros) o tempo todo, principalmente mãos e braços, e não sente dor; às vezes, inclusive, cria calos; - se automutila, se autoagride (bate a cabeça na parede ou no chão, se belisca, se coça até criar feridas); 8 - bate em tudo, nas paredes, nos vidros, nas mesas; às vezes são tapinhas, mas às vezes são pancadas fortes; essa é uma forma de se autorregular, extravasar uma energia contida, para poder se concentrar em outra coisa; - sente prazer em ficar com a calça molhada; por exemplo, quando faz xixi nas calças; - se isola, gosta de ficar em casa; na adolescência, esse isolamento pode se agravar, e o adolescente pode querer se isolar dentro do próprio quarto; - gosta de parquinhos, principalmente dos brinquedos muito intensos (balanço, gira-gira), onde gosta de balançar muito alto e muito rápido; - gosta de alimentos com textura e com vários sabores; isso pode resultar em compulsividade alimentar; às vezes o que a faz parar é o freio visual: ela come até a panela ou o prato ficar vazio, mas não porque o cérebro manda o sinal para parar de comer. 9 Aula 3. Hipersensibilidade Pessoas hipersensíveis se incomodam com tudo, principalmente no que diz respeito às atividades da vida diária e às atividades de higiene. A pessoa autista hipersensível: - se incomoda quando lhe cortam as unhas ou o cabelo, ou quando limpam seus ouvidos; - se incomoda com etiquetas, com certos tipos de tecidos, com elásticos ou dobras; - não gosta de tomar banho de chuveiro; - evita o toque; procura se manter afastada onde há aglomerações de pessoas (também porque assim pode observar tudo o que acontece e consegue manter um certo nível de controle, o que é importante para um grande número de pessoas com autismo: dessa forma ela se sente mais segura); - cria situações, rituais, que podem começar a se parecer com fobias; - tem uma alimentação muito seletiva; evitam alimentos com base na sua textura, principalmente aqueles com textura mais consistente, preferindo alimentos pastosos; - detesta escovar os dentes. Uma dica prática: ao perceber que uma criança com autismo mostra repentina alteração de comportamento, é preciso observar duas coisas: se o intestino está funcionando bem, e se ela não tem lesões na boca (qualquer ferida na boca, por mínima que seja, provoca uma dor muito grande na criança com autismo). Características de hipossensibilidade e hipersensibilidade podem aparecer em uma mesma pessoa com autismo. 10 Aula 4. Outros comportamentos No autismo outros problemas no sistema sensorial podem se traduzir em diferentes comportamentos. Vejamos alguns exemplos: - escolher sempre o mesmo brinquedo e não querer dividir o brinquedo com colegas; esse é um comportamento que vemos nas escolas de educação infantil em crianças neurotípicas entre dois e três anos, mas crianças com autismo continuam com esse estilo de brincar quando já são mais velhas; - pular de uma atividade para outra, sem concluí-las; ou, ao contrário, passar horas na mesma atividade; - fazer sempre os mesmo desenhos, geralmente relacionados ao interesse especial, mesmo que não seja o que foi solicitado; - ser desajeitado; - ser perfeccionista; se percebe que não vai conseguir realizar bem uma atividade, a reação é de se recusar a fazê-la; é importante entender que essa recusa pode não ser uma recusa real, mas uma solicitação de ajuda; - apresentar problemas com a psicomotricidade, por exemplo, com a coordenação olho-mão; isso pode se traduzir na dificuldade de pegar uma bola, de antecipar um chute, e principalmente, de fazer a pinça (o que pode ser um grande problema, levando em conta que todo o ensino- aprendizagem é baseado na leitura e na escrita); - preferir atividades sedentárias; - apresentar dificuldades com alimentação, vestuário e higiene pessoal; - apresentar problemas na imitação; - evitar situações novas; - preferir seguir sempre e somente a própria rotina; isso é mais confortável, mas atrapalha o desenvolvimento da criança. É necessário introduzir mudanças, mas isso deve ser feito gradualmente e nos momentos certos, para que ela possa aprender tudo. Esse é um motivo para trabalharmos com pessoas autistas: elas precisam aprender tudo, tudo precisa ser ensinado, tudo precisa ser mostrado; - ter dificuldade para medir a força ao tocar uma pessoa ou um objeto; um carinho pode rapidamente se tornar um tapa. 11 Não devemos entender esses comportamentos como comportamentos errados; são comportamentos advindos da disfunção neurológica e por isso nós temos que ajudar. Entender o sistema sensorial das pessoas com autismo nos permite compreender seus comportamentos. E compreender os comportamentos nos permite ajudá-las. Entendendo o sistema sensorial, conseguimos entender porque muitas delas evitam o contato com outras pessoas, porque têm ansiedade em determinadas situações e porque têm tantas dificuldades com mudanças. 12 Aula 5. Sobrecarga sensorial e baixa carga sensorial A sobrecarga sensorial é um fenômeno frequente na vida de crianças com autismo. Estímulos em demasia e em um curto espaço de tempo podem causar um curto-circuito sensorial. Isso também pode acontecer se a criança é estimulada continuamente por um longo período de tempo e o cérebro não tem tempo de digerir todas essas sensações e informações. O sistema sensorial pode “explodir” (em inglês, autistic meltdown) provocando um bloqueio total na criança. Em crianças com autismo, isso pode levar a uma psicose ou a um estado de psicose. Às vezes acontece o contrário: em vez de “explodir”, o sistema sensorial pode se “fechar” (em inglês, um autistic shutdown) e, dessa forma, não absorve mais nenhum estímulo. Fechamento causa traumas. Explosão, possíveis psicoses. Vídeo Can you make to the end? Este vídeo mostra como uma criança com autismo sofre com todas as impressões, com todas as informações e estímulos que surgem em uma simples visita ao shopping. "I'm not naughty, I'm just autistic." Isso quer dizer: “Eu não sou uma pessoa mal- educada, sou apenas uma pessoa com autismo”, ou seja, “minha percepção sensorial é diferente da sua.” Este é um apelo para não julgarmos esses comportamentos, que surgem quando a pessoa com autismo não tem mais condições de se autorregular, quando o cérebro está sobrecarregado. É um apelo para ajudarmos, em vez de julgarmos. Confira aqui uma canção sobre o sistema sensorial. https://www.youtube.com/watch?v=Lr4_dOorquQ&t=7s https://www.youtube.com/watch?v=C_zND5PwbfM&t=20s 13 Aula 6. Sobrecarga sensorial Mostra-se principalmente em pessoas com autismo que são muito empáticas. Não vamos esquecer que nem todas as pessoas autistas são fechadas e gostam de se isolar. Hoje falamos em espectro do autismo, justamente por causa desta grande variedade de modos de ser. Algumas pessoas com autismo são muito sensíveis, absorvem todos os estímulos e não sabem lidar com eles, o que pode causar reações inadequadas.A sobrecarga pode aparecer no nível da percepção sensorial, mas também nos níveis do pensamento e das emoções. Há pessoas autistas que pensam ou se preocupam continuamente com a mesma coisa. Se uma pessoa passa o tempo todo remoendo os mesmos pensamentos, em algum momento ela vai surtar. A sobrecarga sensorial também se manifesta em crianças que são muito estimuladas e não têm tempo de ser criança. Elas não têm tempo para processar todos os estímulos que chegam pelas atividades a que são submetidas. É muito importante considerar que não devemos exagerar com as terapias: a criança precisa de tempo para estar em casa, brincar em casa. A sobrecarga sensorial pode causar tanto agitação e comportamentos inadequados quanto fechamento e silêncio. Essas são reações naturais: pessoas com autismo não têm meios de verbalizar tudo o que sentem, assim traduzem o que sentem por meio de comportamentos. Vemos abaixo uma representação da sobrecarga sensorial e seus efeitos em crianças com autismo: 14 A cor vermelha representa todos os estímulos que chegam ao organismo da criança: cheiros, ruídos, temperatura, luz etc. Entre as flechas vermelhas (=estímulos), vemos as flechas verdes, que representam a aprendizagem escolar. A sobrecarga pode ocasionar exclusão ou diminuição da força das informações fundamentais para o desenvolvimento e para o aprendizado, em decorrência do excesso de estímulos. É por isso que muitas vezes ouvimos falar que pessoas com autismo não aprendem: na verdade, elas não têm mais espaço para a aprendizagem teórica. Com a sobrecarga sensorial, os estímulos de aprendizagem se tornam tão fracos que não contribuem para o desenvolvimento da criança. Abaixo vemos a representação de uma teia, com as várias ligações que se conectam ao centro representando possíveis consequências da sobrecarga sensorial; as cores representam diferentes sentidos. 15 16 Aula 7. Baixa carga sensorial A baixa carga sensorial pode parecer menos grave do que a sobrecarga sensorial, mas também tem consequências importantes para o desenvolvimento e para o bem-estar da criança com autismo. Baixa carga sensorial pode causar problemas de saúde, como, por exemplo, a ausência ou a fraca sensibilidade para dor. Também podem surgir problemas de incontinência e controle de esfíncter: quando a criança está ocupada, às vezes o cérebro “se esquece” de controlar a bexiga. O cérebro também pode “se esquecer” de controlar todos os órgãos, todos os sentidos, o que significa que o cérebro está com sobrecarga sensorial, mas os outros órgãos estão com baixa carga sensorial. Quanto ao controle de esfíncter, a criança precisa ter um horário para ir ao banheiro evacuar, porque o corpo não dá os sinais necessários: ela faz cocô nas calças sem perceber. É preciso usar técnicas para estimular a criança e para que ela não se esqueça de ir ao banheiro. Uma característica típica de crianças com autismo, é que para elas só existe o lado do corpo que elas enxergam, ou seja, a parte da frente. Se a observarmos tomando banho, veremos que ela lava a cabeça, o rosto e a barriga; às vezes as coxas. Tudo o que está atrás, e também os pés, ela esquece. Outra reação à baixa carga sensorial é a rejeição a atividades; se for proposta uma atividade que não faz parte dos seus interesses, a criança a rejeita. Ela pode também não querer sair de casa, procurar o isolamento, porque está ocupada com uma determinada sensação sensorial. Baixa carga sensorial também pode se traduzir em repetições. A criança com autismo quer fazer sempre a mesma coisa; com isso o cérebro fica menos concentrado nos estímulos, o que traz sérios problemas para a aprendizagem e problemas comportamentais. Em consequência de baixa carga sensorial, o cérebro fica menos ativo; dessa forma entram menos estímulos e o cérebro dá sinais mais fracos. Um cérebro menos ativo significa menos aprendizagem, menos ocupação, menos execução de atividades necessárias. 17 Como sempre acontece no autismo, as duas características, sobrecarga e baixa carga sensorial, podem estar presentes em uma mesma pessoa: baixa carga sensorial para alguns sentidos; sobrecarga, para outros. Além disso, podem se manifestar em todos os sentidos juntos. Um exemplo disso é quando uma criança grita o tempo todo para se autorregular ̶ baixa carga sensorial ̶, mas não suporta quando outra criança grita ̶ sobrecarga sensorial. 18 Aula 8. Falhas no sistema sensorial ADAPTAÇÕES E ESTRATÉGIAS PARA A CASA E A ESCOLA Aqui vamos ver algumas dicas que podem ser usadas tanto em casa quanto na escola ou em outros lugares que a criança frequenta. Implantar uma rotina visual para concretizar as rotinas do dia. Rotinas visuais ajudam muito mais do que rotinas faladas. Uma rotina visual (que pode ser semanal, diária ou para certas atividades em particular, como a hora de dormir, viagens ou passeios) é uma rotina que traz a sequência dos momentos e das atividades do dia. As rotinas visuais evitam sofrimento tanto para a pessoa com autismo como para as pessoas que a acompanham, porque trazem segurança e previsibilidade. Estabelecer apoio visual ajuda a criança com autismo a entender melhor a linguagem verbal. O apoio visual ajuda a compreender as palavras que as pessoas neurotípicas usam e também dá um poder comunicativo à criança com autismo. Educadores devem acompanhar suas palavras de exemplos, de objetos, de modelos. O educador deve ser o modelo. Por exemplo, não adianta a professora mandar a criança sentar, enquanto ela mesma continua de pé. A criança vai copiar. É preciso mostrar a ela o que fazer. Sua ação diz à criança o que ela deve fazer, porque é algo concreto que ela pode imitar. Falar menos e mostrar mais, essa é a receita para o autismo. Estabelecer uma programação equilibrada não apenas na escola, mas também em casa. Nas férias, por exemplo, não se pode deixar a criança com autismo o tempo todo na frente do computador, da televisão, do celular, do tablet. Isso causa sobrecarga visual. Crianças autistas precisam de momentos ativos alternados com momentos de descanso; de equilíbrio entre momentos de concentração e momentos de extravasamento. Da mesma forma, terapias e tratamentos precisam ser dosados, pois não pode faltar o tempo de ser criança. Também as atividades de casa são momentos de aprendizagem, lembrando que pessoas com autismo precisam aprender tudo. É preciso chamar a criança a participar, a ajudar com as tarefas domésticas. Também é importante prestar atenção à sequência lógica das atividades. 19 Nós temos que entender e nos adaptar ao ritmo e às demandas da pessoa autista. Da mesma forma, as instruções educacionais têm que se adaptar ao ritmo do aluno com autismo. É importante propor períodos de programação não superiores a trinta minutos, porque o tempo de concentração das pessoas autistas é bem mais limitado que o das pessoas neurotípicas. Vamos deixar de lado a ideia da hora-aula de cinquenta minutos. O tempo em que a criança perde a concentração é o tempo propício para provocar comportamentos inadequados. Vídeo Autismo e sensibilidade https://www.youtube.com/watch?v=P21YUEJBFrk
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