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1 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC GENÉTICA JULIANA OLIVEIRA MUTAÇÕES PONTUAIS NO DNA E MECANISMOS DE REPARO MUTAÇÃO ➔ O que são mutações? São alterações no material genético, que ocorrem comprometendo a sequência de bases nitrogenadas, estrutura ou quantidade de cromossomos presentes na célula, impactando de alguma forma no indivíduo portador, no entanto, nem sempre são prejudiciais ou sintomatológicas. As mutações ocorrem de forma espontânea, podem ser letais ou acarretar em doenças ou anomalias. Promovem a evolução já que ocasionam uma maior variabilidade genética. As mutações podem ser: ▪ Genômicas cromossômicas; ▪ Gênicas ou pontuais: Ocorrem quando se tem o comprometimento da leitura correta das trincas de bases do código genético, ou seja, ocorrem nos monômeros que formam o material genético. MUTAÇÕES PONTUAIS ➔ Tipos de mutações pontuais: Tem-se dois tipos principais de mutações pontuais no DNA, sendo elas: o Substituições de bases (ISNPs). o Inserções ou deleções (IDELs). SUBSTITUIÇÃO Consiste na troca de um nucleotídeo por outro, alterando também a base nitrogenada, que é parte da estrutura do nucleotídeo (fosfato + pentose + base nitrogenada), o nucleotídeo é representado pela base, pois, é a região variável, no entanto, quando alterada modifica todo o nucleotídeo. Quando se pensa em mutações por substituição, tem-se uma série de possibilidades, levando em consideração as diferentes bases p.ex. A, G, T e C. Existem diferentes classificações para cada tipo de substituição que é feita de acordo com o tipo de base que se troca. Existem bases nitrogenadas que possuem dois anéis aromáticos, como as purinas (adenina e guanina) e bases que possuem apenas um anel aromático, como as pirimídicas (citosina e timina), com isso, a depender do tipo de substituição pode-se ter uma transversão ou transição. o Transição: Consiste na troca de uma base nitrogenada por outra do mesmo tipo, como p.ex. a troca de uma purina por outra purina. o Transversão: Consiste na troca de uma base nitrogenada de um tipo por outro tipo p.ex. a troca de uma purina por uma pirimídica, logo, tem-se mais possibilidade de transversões do que de transições. ➔ Consequência das mutações pontuais: As consequências dependem do local onde a mutação ocorre, ou seja, se aquela região é codante ou não- codante (região regulatórias e RNAs funcionais), isso é, se codifica ou não proteína. É sempre mais fácil identificar os efeitos de uma mutação se a região é codificante e vai se traduzir em uma proteína, pois será possível avaliar o produto do gene, podendo identificar o efeito da mutação, quando houver. Quando se faz ou inserção (acréscimo) ou deleção (retirada), obrigatoriamente, altera-se a matriz de leitura. É possível avaliar os efeitos nas regiões não codantes? É difícil, mas não é impossível, pois, uma região regulatória ou aumenta ou diminui a expressão de um gene, desse modo, pode-se avaliar a quantidade do produto gênico para saber se aquela mutação interferiu nessa quantidade, logo, avalia-se o normal e o mutado e compara. 2 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC GENÉTICA JULIANA OLIVEIRA Logo, o efeito prático em regiões não codificantes vai ser na alteração do produto gênico e não no produto em si. o Regiões codantes: 1. Mutações sinônimas ou silenciosas: São aquelas mutações que não geram uma modificação na estrutura proteica quando ocorrem. Acontecem e, devido ao código genético ser degenerado, ou seja, existem vários códons que codificam para a mesma proteína, logo, há uma alteração nucleotídica que não se reveste em alteração peptídica, ou seja, ainda em regiões codantes, nem sempre é possível determinar o efeito, visto que pode não ter efeito. 2. Mutações não sinônimas ou não silenciosas: Nesse caso tem-se mutações que trocam, de alguma forma, o sentido da leitura, logo, o códon para um aminoácido é trocado por um outro códon que vai gerar um outro aminoácido. Há duas subdivisões que consistem em: - Mutação de sentido trocado (conservativa); - Mutação de sentido trocado (não-conservativa); p.ex. anemia falciforme (ác glutâmico por valina) A diferença de uma para a outra consiste no grupo de aminoácidos que é envolvido na troca. Desse modo, se o aminoácido que é envolvido na substituição for do mesmo grupo do aa original, tem-se uma mutação conservativa. No entanto, se o aa que é envolvido na substituição, for de um grupo diferente do aa original, tem-se uma mutação não conservativa. 3. Mutações sem sentido ou nonsense: Ocorre quando a alteração nucleotídica gera um stop códon precoce (UAA, UAG, UGA), logo, quando essa sequência é formada de maneira precoce pela mutação a tradução é interrompida, com isso a proteína tende a ser menor do que ela já seria, podendo ou não funcionar, pois o tamanho não é tão relevante, no entanto, quanto mais próximo da região 3’ a proteína estiver, menor o impacto na estrutura e na função dela, já que o RNAm é sintetizado de 5’ → 3’, logo, o três está próximo da região final de codificação da proteína, enquanto a leitura da fita molde de DNA ocorre na direção 3’ → 5’. Tem-se 64 possibilidades, dessas 64 apenas 61 codificam aa e 3 são stop códons. 4. Mutações de matriz de leitura ou frameshift: A inserção ou deleção de um único par de bases na sequência muda a matriz de leitura no processo de tradução. Em síntese: o Região não-codante: Pode-se avaliar as consequências das mutações pontuais nas regiões não codificantes, logo, tem-se a possibilidade de avaliar p.ex. pela alteração da quantidade do produto gênico, pois, na maioria das vezes essas regiões codificantes são regulatórias, podendo aumentar ou diminuir a expressão de RNAm e proteínas. 3 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC GENÉTICA JULIANA OLIVEIRA ➔ Como surgem as mutações no DNA? Pode-se ter mutações espontâneas ou induzidas que ocorrem de maneira aleatória e podem ser evitadas ou reparadas por meio de mecanismos fisiológicos. Essas mutações surgem de uma série de fontes diferentes, principalmente do processo de replicação do DNA, que é quando o DNA se desespiralizada para ser replicado, isso porquê nesse momento tem-se uma série de elementos presentes no ambiente celular que podem provocar danos ao DNA presente e ao interagir com os nucleotídeos pode- se ter uma modificação da estrutura química desses nucleotídeos e fazer com que a polimerase seja induzida ao erro. ➔ Reparo das mutações no DNA: o Mecanismo I: As DNA polimerases I e III são muito precisas e possuem atividade exonucleásica ou atividade de revisão de 3’ → 5’, ou seja, sentido de volta. Alguns mecanismos de reparo a polimerase não consegue executar, no entanto, tem-se outras enzimas capazes de fazer isso. o Mecanismo 2: Tem-se um mecanismo de reparo utilizando outras enzimas, comop.ex. o reparo por excisão de bases que é feito pelas enzimas DNA glicosidases que cortam as ligações base-açúcar, liberando assim as bases alternadas e gerando sítios apurínicos ou apirimidínicos, logo, a enzima endonuclease AP corta o trecho com alteração e a dRpase remove todo o trecho comprometido do DNA,de modo que a DNA polimerase volta polimerizando (5’ → 3’) o fragmento de DNA que foi retirado, preenchendo com os nucleotídeos complementares e o DNA ligase fecha o corte com a ligação fosfodiéster. Lesões espontâneas: o Mecanismo 3: Além dos erros de replicação o DNA pode sofrer danos de ocorrência natural, como p.ex. a depurinação, a qual consiste na remoção de uma base nitrogenada de um nucleotídeo de purina (guanina e adenina), ao separar esses nucleotídeos da base, quebrando a ligação base-açúcar, tem-se uma estrutura somente com o fosfato e a pentose, sendo chamada de sítios apurínicos, podendo induzir o mau pareamento e atrapalhar o trabalho da polimerase no momento da síntese do DNA, portanto, tem-se um mecanismo de reparo que remove esses sítios apurínicos que os degrada e substitui. o Mecanismo 4: O DNA também pode sofrer mutações de ocorrência natural, como p.ex. a desaminação, a qual consiste na retirada do grupamento amina, o qual compõe os aminoácidos. A desaminação da citosina produz uma uracila. Se não for reparado, a uracila fará um pareamento com a adenina na replicação, resultando na conversão de um par G*C em um par A*T (transição) o Mecanismo 5: Os danos ao DNA podem ser oriundos do processo de estresse oxidativo, ou seja, durante a respiração celular, tem-se a produção das espécies reativas de oxigênio, as quais são resíduos metabólicos desse processo. Esses resíduos podem interagir com as nossas bases nitrogenadas, modificando-as e levando à indução do mau pareamento das polimerases. o Mecanismo 6: O dano ao DNA também pode ser oriundo de estresse oxidativo, desse modo, pode se ter produtos que são formados após o DNA ser atacado por radicais do oxigênio, formando um produto que pode induzir pareamentos errôneos com A, resultando na transversão de G com T. Mutações induzidas: Enquanto algumas mutações são espontaneamente produzidas dentro da célula, outras fontes de mutação podem ser induzidas por agentes físicos, químicos ou biológicos. Obs: Dizer que a mutação é induzida é diferente de dizer que seja proposital. Os agentes mutagênicos podem atuar por três mecanismos básicos: - Podem substituir uma base na sequência do DNA (análogos de base). - Podem alterar a composição química de uma base (pareamento errôneo). 4 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC GENÉTICA JULIANA OLIVEIRA - Podem danificar uma base de modo que ela não faça mais pareamentos. o Análogos de bases: São alguns compostos químicos que são similares as bases nitrogenadas e podem ser incorporadas ao DNA de maneira errônea, devido a sua semelhança. o Agentes alquilantes: Esses agentes alteram uma base quimicamente, induzindo um mau pareamento específico. No entanto, tem-se enzimas chamadas de alquiltransferases, as quais revertem o mau pareamento induzido pela adição de um grupo alquil na base nitrogenada. o Agentes intercalantes: São moléculas que mimetizam pares de bases e que são capazes de se inserir entre as bases do DNA. o Agentes que causam danos às bases: Danificam uma ou mais bases impedindo, assim, pareamentos específicos. (Podem causar o bloqueio do processo de replicação). A luz ultravioleta induz a formação de fotoprodutos no DNA, logo, são usadas para a esterilização de equipamentos nos laboratórios. Devido a constante exposição a essa luz, tem-se maneiras de reverter os danos causados pela radiação UV, como p.ex. o dímero de pirimidina ciclobutano, o qual pode ser reparado pela enzima CPD fotoliase. Quando há exposição à radiação, o material genético está sujeito a sofrer danos, com isso, quanto maior a frequência dessa radiação, maior o potencial de ionização, tornando a molécula ainda mais suscetível a ruptura. CONTEXTUALIZANDO COM A FIBROSE CISTICA É uma patologia conhecida como muco viscosidade, isso porquê nesses indivíduos tem-se uma condição genética autossômica recessiva (isso porquê os dois genitores precisam ter o alelo afetado) herdada dos pais e que possui a característica de aumentar a quantidade e a espessura do muco a nível digestório e respiratório. O cromossomo afetado é o gene 7, o qual se localiza no braço longo do cromossomo 7, e que codifica uma proteína de condutância do cloreto (CFTR), logo, nas células do sistema respiratório e digestório principalmente tem-se na superfície apical, microvilosidades com algumas proteína inserida ali, a proteína CFTR é uma proteína que se relaciona com a condutância do cloreto, logo, ela provoca a saída do cloreto da célula, ao fazer isso, por consequência, além do cloreto tem-se a saída de água, hidratando o muco presente nessas células, em condições normais. Nos pacientes com fibrose cística o CFTR está ausente ou possui algum problema em seu funcionamento. Esse gene possui uma alta quantidade de mutações, no entanto, nem todas são 100% patológicas, desse modo, tem-se condições em que a proteína é deficiente, está em menor quantidade ou, de fato, ausente. Nessas condições, o muco é mais espesso, devido a uma disfunção na secreção de cloreto e sódio para o lúmen, de forma que se tem uma reabsorção dos íons e da água, ou seja, o muco não será fluidificado, formando um biofilme que tem as condições ideais para a colonização de bactérias. ➔ Tratamento: Tem-se a utilização de métodos inalatórios e enzimas que podem ajudar no prognóstico. O ivacaftor atua nas proteínas que já estão na membrana, tentando com que elas sejam mais funcionais. O lumacaftor vai tentar pegar as proteínas que estão formadas dentro das células, mas que não foram exportadas para a superfície e leva-las para a membrana. Essa combinação de fármacos tem sido muito utilizada, porquê com base nisso é possível resolver, não totalmente, 5 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC GENÉTICA JULIANA OLIVEIRA pois é um problema genético, mas em determinada proporção tem-se uma evolução do quadro.
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