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Ensino de Química Fertilizantes, inoculantes, corretivos agrícolas e agrotóxicos/pesticidas Objetivo: Reconhecer as necessidades do uso de fertilizantes, inoculantes, corretivos agrícolas e agrotóxicos. Quando o homem aprendeu a domar e criar animais e também plantar passou de caçador nômade a sedentário, pois era necessário esperar as plantas crescerem. Estes foram fatores muito importantes para o desenvolvimento humano, iniciando há dez mil anos, na Mesopotâmia, às margens dos rios Tigre e Eufrates (onde hoje é o Iraque). Há aproximadamente oito mil anos, iniciaram-se as plantações no vale do Rio Nilo, no Egito. O homem percebia que plantar às margens de rios promovia o bom crescimento das plantas. Hoje, sabemos que as constantes cheias e vazantes dos rios permitiam as trocas de matéria orgânica e nutrientes com o solo. E, foi nessa época que já observava que “aquela terra escura” — o húmus — tornava o solo mais permeável. Com o tempo, o homem foi também percebendo que era necessário revolver o solo, para melhorar a aeração e também permitir a ciclagem de nutrientes. Este processo é chamado de manejo de solo. Porém, sabe-se que não basta revolver o solo, pois o manejo correto do solo é fundamental para o sucesso na agricultura. Hoje me dia, muitos países investem em pesquisas agropecuárias incluindo aquelas que tratam do manejo do solo, da rotação de culturas, da integração de lavouras com a pecuária e do uso sustentável das florestas, entre outros pontos importantes. Todas essas pesquisas vão auxiliando no desenvolvimento da agricultura. Mas, nem sempre foi assim, pois, se pensarmos que a agricultura existe há milênios, conforme escrevi no início deste texto, as pesquisas relacionadas diretamente à agricultura são relativamente recentes. Foi em meados do século XIX, que o químico alemão Justus Von Liebig propôs a “lei do Mínimo” ou, “Lei de Liebig”. Esta lei afirma que o crescimento de um vegetal se dá por falta, não por excesso, de um componente e o fator mínimo é o elemento que se encontra nas menores quantidades em relação às necessidades da planta. Ou seja, os micronutrientes também podem controlar o crescimento das plantas. Esta lei também está associada aos fatores físicos, como incidência luminosa, temperatura e umidade. Por volta de 1840, Liebig observou a relação entre o crescimento das plantas e a utilização de fezes de animais (estrume) como adubo. Desde então, a adubação vem sendo utilizada no manejo de solos para modificar quimicamente a sua composição e também condicioná-lo fisicamente. Os principais adubos/fertilizantes eram preparados a partir de restos de vegetais decompostos e do estrume dos animais. Para plantações em maior escala, os agricultores adquiriam o Salitre do Chile ou os produtos do beneficiamento dos depósitos de Guano. Como todos esses adubos são de proveniência natural, o seu uso não provocava desequilíbrios aos ecossistema, pois sua biodegradação e incorporação às cadeias alimentares eram imediatas. Porém, com o aumento da população mundial, era de se esperar que a utilização de adubação “natural”, composta pelo estrume de animais e os vegetais decompostos, não seria suficiente para manter os nutrientes necessários no solo para o crescimento das culturas, certo? Portanto, a adição de fertilizantes sintéticos visaria atender à necessidade de nutrientes nas culturas. Após a produção de amônia, em escala industrial, — lembram que na aula anterior, foi abordado o tópico “equilíbrio químico” por meio da síntese da amônia, que é a matéria-prima para a fabricação de fertilizantes? — o crescimento na produção de fertilizantes só aumentou ao longo dos anos. A FAO (Food and Agricultural Organization) coleta dados de produção e consumo de fertilizantes em todos os países, daí, verifica-se que nas últimas décadas, este aumento é muito drástico. No Brasil, por exemplo, o consumo de fertilizante por hectare de terra arada era de 120,8 quilogramas por hectare em 2002, passando a 175,8 em 2014 (dados do Banco Mundial, World Bank Group). Veja que dado interessante, vinte e três por cento dos fertilizantes utilizados no Brasil são utilizados nas lavouras de cana-de-açúcar! (sítio de notícias da FAPESP, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Agência FAPESP, 11 de abril de 2017) e, claro, a aplicação de fertilizantes pode melhorar a produção agrícola, principalmente quando associada ao aprimoramento da linhagem das culturas. A aplicação correta dos fertilizantes no solo exigem técnicas corretas que incluem o modo, o local e o momento da aplicação. Mas, nunca sua assimilação pelo vegetal é de 100%, pois podem ocorrer perdas por lixiviação e o nitrogênio fixado ir para as fases sólida e líquida do solo. Com isso, muitas vezes são necessárias novas aplicações, com notável diminuição da eficiência de sua utilização provocando o aumento constante da quantidade de nitrogênio fixado no solo ou este “perdendo-se” nos rios e lagos, por lixiviação. Começamos a perceber o amplo — acho que este é um bom adjetivo para descrever o que pretendo — impacto gerado pela utilização de fertilizantes. Este impacto perpassa por toda a cadeia produtiva, que vai desde a produção da amônia até o consumo final do produto. Para ajudar a mensurar esse impacto há muitos estudos apontando para o fato que a Avaliação do Ciclo de Vida, ACV, de um fertilizante (ou, em inglês, LCA, lifecycle analysis ou life cycle analysis ou ainda life cycle assessment) é de vital importância para entender os impactos ambientais e econômicos do uso dos fertilizantes. A AVC é utilizada pelas agroindústrias em todo o mundo para melhorar a produção do fertilizante e auxiliar na conservação ambiental. A ACV é uma metodologia de análise que começa com a extração das matérias-primas para a produção do fertilizante, passando por todas as etapas na cadeia produtiva até o seu uso e destino final. (JESUS e HILL, 2015). Porém, além de pesquisas para melhorar o aproveitamento dos fertilizantes há também aquelas que visam substituí-los. Vejamos um exemplo, os solos brasileiros são muito ácidos, — principalmente os contidos no bioma Cerrado — porque apresentam altos níveis de alumínio e manganês. Esses íons metálicos tendem a sofrer hidrólise, formando os hidróxidos insolúveis e liberando íons H+ para o solo — e, a presença dos ácidos orgânicos (os ácidos húmicos) e dos fertilizantes nitrogenados aumentam ainda mais a sua acidez. Para reverter o problema, adicionam-se os corretivos agrícolas, que diminuem a acidez do solo, melhorando o aproveitamento dos fertilizantes pelos vegetais. Bem, se os corretivos agrícolas têm a função de diminuir a acidez dos solos, podemos inferir que são materiais básicos, certo? Muito bem, os principais corretivos agrícolas são o calcário, a cal virgem agrícola [CaO], a cal hidratada agrícola, o calcário calcinado e escórias de siderurgia, constituídas por silicatos de magnésio e cálcio. Não são os íons cálcio que corrigem o pH e sim os carbonatos, os hidróxidos e os silicatos. (PRIMAVESI e PRIMAVESI, 2004). Os corretivos agrícolas não substituem o uso dos fertilizantes, porém, os inoculantes são uma alternativa ao seu uso. Os inoculantes agrícolas são produtos que contêm micro-organismos favoráveis ao crescimento das plantas agindo como o veículo de transporte de bactérias selecionadas. Os inoculantes contendo os rizóbios são eficientes nos processos de fixação biológica do nitrogênio, pois conseguem suprir as plantas com nitrogênio, gerando um menor custo para o agricultor, sem contaminar o ecossistema (CARVALHO, FERREIRA e HUNGRIA, 2010). Outra forma eficiente de ficar o nitrogênio no solo é a rotação de culturas, alternando o plantio de um vegetal, com o de uma leguminosa, pois, como já abordado em aulas anteriores, as leguminosas fixam o nitrogênio no solo quando morrem. Pois bem, este processo, de rotação de culturas pode ser chamado de “o processo de inoculação original”, pois há mais de um século, em alguns locais, ocorria o transporte de terras utilizadas para plantarleguminosas para outros locais onde se desejava iniciar outra plantação daquela espécie. (ARAUJO e HUNGRIA, 1994) Recentemente, foram divulgados os resultados de uma pesquisa, apoiada pela FAPESP, mostrando que a inoculação de bactérias em solo fértil é mais eficiente que o uso de fertilizantes e, em solos pobres, com alto índice de acidez, a inoculação protege a planta e promove o seu crescimento (Agência FAPESP, 11 de abril de 2017). Estamos apontando brevemente os produtos que auxiliam no crescimento dos vegetais: os fertilizantes, os corretivos agrícolas e os inoculantes, estes últimos foram apresentados como uma alternativa à utilização dos fertilizantes convencionais. Porém, há de se pensar na proteção das plantas aos organismos que prejudicam seu crescimento. Esses produtos são os agrotóxicos. Aqui cabe um breve comentário, há alguns anos, alguns setores da indústria introduziram um novo nome para os agrotóxicos, chamando-os de defensivos agrícolas. É comum, encontramos trabalhos utilizando os dois nomes, como sinônimos. Notícias sobre os agrotóxicos vêm sendo bastante disseminadas nos últimos meses por conta Projeto de Lei (PL) 6299/2002, que foi aprovado recentemente em uma Comissão especial da Câmara dos Deputados e na sequência, seguirá para votação em Plenário. O PL 6299/2002 trata da alteração de alguns artigos da Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989 — regulamentada pelo Decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002 — que dispõe sobre todos os aspectos referentes aos agrotóxicos, desde a pesquisa até a dispensação das embalagens. Pois bem, de forma bastante resumida, pois o assunto é complexo o PL 6299/02 propõe, entre outras alterações na Lei, a mudança do nome agrotóxico para pesticida, abre caminho para a fabricação de produtos genéricos, à semelhança do que se têm na indústria farmacêutica e limita o tempo para o lançamento de um novo produto no mercado. Os agrotóxicos/pesticidas são classificados em grupos: inseticidas, fungicidas, herbicidas, rodenticidas (contra os roedores) e definifos como: “produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento”. Os agrotóxicos/pesticidas são também chamados de xenobióticos porque são estranhos ao ambiente. A despeito de todos os seus efeitos adversos ao meio-ambiente, é difícil eliminá-los de vez, tendo em vista, principalmente, a demanda por alimentos. Os agrotóxicos/pesticidas em geral podem passar por três processos básicos, que são a retenção no solo, a transformação no solo e o transporte para reservatório diferente da litosfera. Como exemplo, não podemos deixar de mencionar o DDT, para-diclorodifeniltricloroetano que foi o primeiro inseticida organoclorado de elevada resistência à decomposição no ambiente. Ele foi muito utilizado na 2º Guerra Mundial para combater os mosquitos transmissores da malária e da febre amarela, além de ser eficiente contra piolhos, que podem transmitir o tifo e contra pragas de pulgas. Não obstante sua contribuição para prevenir doenças graves, sua utilização foi indiscriminada, particularmente na agricultura. Por conta de sua longa meia-vida (da ordem de decênios), várias espécies de aves deixaram de se reproduzir em locais próximos ou longínquos de onde ele era aplicado. Ou seja, o que era um atributo do DDT passou a ser um grande problema ambiental que se estende a todo o ecossistema. Em pouco tempo, após sua aplicação, verificavam a presença do DDT em calotas polares e em tecidos de animais que viviam muito longe dos locais de grandes aplicações do inseticida. A partir de 1969, a Suécia e outros países europeus proibiram seu uso. E, em 1973, a Agência de Proteção Ambiental Americana fez o mesmo nos Estados Unidos, liberando-o apenas em casos indispensáveis à saúde pública. Porém, ainda há registros do uso do DDT em países em desenvolvimento. Como existem os inseticidas naturais, sintetizados pelas próprias plantas para defenderem-se de pragas, há muitos pesquisadores que trabalham bastante para sintetizar moléculas parecidas com as naturais, pois gerariam inseticidas ambientalmente benignos. Os insetos tornam-se resistentes aos inseticidas, portanto, é bastante comum que uma espécie de inseto seja eliminada por alguns anos e, quando ela retorna, está mais resistente. Como consequência, há pesquisas que tentam focar na seletividade dos insetos. Muitas destas pesquisas descobriram os hormônios que controlam seu crescimento e comportamento sexual. Quando aplicadas no momento certo, podem desorganizar o seu crescimento. A Biologia Molecular, ou usando um termo leigo: Engenharia Genética, também vem sendo utilizada para a produção de organismos geneticamente modificados que sejam resistentes às pragas. Os cientistas especializados em plantas conseguiram inserir genes estranhos ao genoma de uma planta e a produzir sementes que contêm novas características. Muito do que é produzido de soja e algodão no mundo provêm das sementes geneticamente modificadas. Ainda há muita incerteza sobre as consequências da plantação e do consumo dos alimentos transgênicos. Porém, há muita pesquisa sendo feita e os resultados não tardarão a aparecer, para que possamos emitir opiniões mais acertadas sobre o seu plantio e consumo. Bibliografia ARAUJO, R. e HUNGRIA, M. (editores). Microrganismos de importância agrícola. Documentos 44. Brasília: Embrapa, 1994. BAIRD, C. Química Ambiental, 2ª ed., São Paulo: Bookman, 2002. BRAGA, B., HESPANHOL, I., CONEJO, J.G.L., BARROS, M.T.L., SPENCER, M., PORTO, M., NUCCI, N., JULIANO, N., EIGER, S. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002. CARVALHO, G.A.B., FERREIRA, E., HUNGRIA, M. A importância do controle de qualidade dos inoculantes. Documentos 323. Londrina: Embrapa Soja, 2010. JESUS, I.R.D. de e HILL, M.P. A importância dos fertilizantes na análise do ciclo de vida dos produtos – um olhar sobre as publicações científicas, em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/TN_STO_214_266_26607.pdf>. (Acessado em 13 de dezembro de 2016) PRIMAVESI, A.C. e PRIMAVESI, O. Características dos corretivos agrícolas. Documentos 37. São Carlos: Embrapa Sudeste, 2004. ROCHA, J.C., ROSA, A.H., CARDOSO, A.A., Introdução à Química Ambiental, 2º ed., São Paulo: Bookman, 2011. SPIRO, T.G. e STIGLIANI, W.M., Química Ambiental, 2ª ed., São Paulo: Pearson, 2008. Sobre manejo do solo em diferentes culturas de vegetais: visite o site da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, EMBRAPA: <https://embrapa.br>