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Ensino de Química A interrupção dos ciclos biogeoquímicos do fósforo e do enxofre sob o ponto de vista dos equilíbrios de solubilidade Objetivo: descrever as reações de precipitação envolvidas na interrupção dos ciclos biogeoquímicos do fósforo e do enxofre. O fósforo é um elemento fundamental na transferência de caracteres no processo de reprodução dos seres humanos, pois está contido nas estruturas moleculares do RNA e do DNA, além de ser componente importante dos ossos e dentes. Para os vegetais, como também já vimos, é um dos macronutrientes essenciais. Os fertilizantes são formados por diferentes proporções de nitrogênio, fósforo e potássio a depender da cultura a ser plantada. O principal reservatório de fósforo são as rochas fosfáticas formadas há milhares de anos e sua liberação para os ecossistemas se dá por processos de erosão. Porém, grande parte do fósforo deposita-se a grandes profundidades nos oceanos. Em águas, o fósforo é considerado um componente limítrofe para o crescimento de algas e outros organismos fotossintéticos, além daqueles fixadores de nitrogênio, pois não há suprimento atmosférico de fósforo— lembremos que para o nitrogênio há o N2. Quando os fosfatos estão em terras fertilizadas, eles não voltam para os oceanos porque ficam ligados às partículas minerais do solo, principalmente de manganês(III) e ferro(III). Ou seja, os fosfatos formam compostos insolúveis com metais trivalentes — lembremos, também, que apenas os fosfatos dos metais alcalinos, com exceção dos de lítio e do amônio, assim como os fosfatos dos metais alcalino-terrosos são solúveis. A solubilidade de um sal está associada ao tamanho dos íons e à sua carga. Portanto, se fosfato é um ânion de grande tamanho por ter carga [-III] enquanto os cátions trivalentes são muito pequenos e, sabendo que no processo de formação de um sal insolúvel, a carga é mais importante que o tamanho, daí que os sais de fosfatos com cátions trivalentes são insolúveis. Os fosfatos solúveis chegam aos mares, lagos e rios por meio da lixiviação de fertilizantes, detergentes, anticorrosivos, entre outros produtos. Vejamos, por exemplo, o que ocorre com o aporte de fosfato levado por meio dos detergentes para os rios: os detergentes diminuem a tensão superficial da água, aumentando a espuma. A adição de fosfatos às águas aumenta a biomassa formada, diminuindo a quantidade de oxigênio dissolvido levando à eutrofização, que é o crescimento exacerbado de algas, provocando a morte de muitos organismos, por falta de oxigênio, e alterando o ecossistema. Para eliminar este problema, em diversos países, os detergentes fosfatados começaram a ser substituídos pelos biodegradáveis — que são formados por alquilbenzenossulfonatos lineares — em 1964 e chegaram ao Brasil apenas em 1982... Perceberam que o fenômeno da eutrofização descrito acima é causado pelo fato dos fosfatos serem ótimos nutrientes! Espero ter esclarecido como é o processo de interrupção do ciclo biogeoquímico do fósforo. Desculpem-me se eu for redundante, mas vou reforçar: o maior depósito de fósforo — na forma de fosfatos — do planeta está contido nas rochas fosfáticas. O fósforo é perdido para a hidrosfera — lagos, mares e rios — por meio de processos de erosão natural e, por conta da mineração. Portanto, o fósforo é “perdido” por ir para os fundos dos oceanos. Uma forma de ele retornar à litosfera é por meio das aves marinhas, que depositam os excrementos em alguns locais específicos —os depósitos de Guano. Porém, por meio do extermínio das aves, provocados pelo homem, da mineração das rochas fosfáticas e da exploração dos depósitos de Guano — ocorre mais perda do fosfato porque “os meios de retorno de fosfato para os ecossistemas são insuficientes para compensar a parcela que se perde” (BRAGA ET al., 2002, p. 31). Espero que eu tenha me feito entender sobre a interrupção do ciclo biogeoquímico. Mas, e a agricultura, onde entra nesta história? Para responder a esta pergunta, farei outra ;-) : por que o fosfato é tão explorado pela mineração? Principalmente por causa da agricultura! Já falamos sobre isso em aulas anteriores, os fertilizantes são formados por porcentagens específicas de nitrogênio, fósforo e potássio. Os fosfatos obtidos das rochas são bastante puros, eliminando alguns processos na fase de processamento. Mas, se o fosfato é obtido pela mineração e esta é uma atividade finita, de onde se pode retirar o fosfato para a agricultura? Dos fundos dos oceanos... sim, caros alunos, as mineradoras, já há algum tempo, começam a articular formas de retirar os fosfatos dos oceanos por meio de navios com dragas de sucção. O assunto é complexo, pois um ecossistema marinho é muito rico em vida. Quando as mineradoras exploram uma área, em terra, elas têm a obrigação de reabilitar as áreas exploradas, mas são processos que demoram muitos anos para serem completados. Portanto, dá para imaginar como deve ser difícil o processo de reabilitação de um ecossistema aquático. Para começar a entender o problema, escolhi dois sítios da Internet para vocês visitarem, os quais você encontrará os endereços na bibliografia desta aula. Agora, passemos para o enxofre, que é outro macronutriente essencial e que também tem seu ciclo biogeoquímico interrompido pela ação humana. Conforme abordado anteriormente, o enxofre tem um ciclo também essencialmente sedimentar porque o maior reservatório do enxofre encontra-se na litosfera, principalmente nas formas dos minerais FeS2 (pirita), CaSO4 (gipsita), HgS (cinábrio), PbS (galena), ZnS (esfarelita), As2S3 (orpimento), Sb2S3 (estibinita) e CuFeS2 (calcopirita). Porém, tem um ciclo biogeoquímico bastante complexo, com presença nos três reservatórios (litosfera, hidrosfera e atmosfera), por apresentar muitos estados de oxidação — que variam de (-II) a (VI) — e por apresentar compostos que são gasosos e outros, solúveis em água. O enxofre também é transformado na litosfera, assim como o nitrogênio, pela ação de micro-organismos. As plantas o assimilam como sulfato inorgânico. O ciclo do enxofre pode ser resumido da seguinte forma: as plantas absorvem compostos de enxofre e sulfatos e os transformam em aminoácidos e proteínas. Após a morte das plantas, são gerados sulfetos pela ação de micro-organismos. E, por fim, novamente, outros micro-organismos transformam sulfetos em sulfatos, em condições aeróbias. Os principais compostos gasosos de enxofre são o dióxido de enxofre, SO2, o ácido sulfídrico, H2S e o dimetilssufeto, (CH3)2S. O ânion sulfato, , é o ânion mais abundante no mar, depois do íon cloreto. O ácido sulfídrico é emitido por águas ou regiões úmidas que contêm pouco oxigênio e o dimetilssufeto é emitido pelos fitoplânctons que existem na superfície dos oceanos. O ciclo natural do enxofre está sendo perturbado pela ação antropogênica, muito pela queima de combustíveis fósseis, pela mineração, em processos de drenagem ácida, para extrair os minérios e pela agricultura. Há estudos que apresentam as vantagens do uso do sulfato de amônio porque é um composto que injeta mais enxofre nos solos. E, o enxofre tem papel importante nas reações de assimilação de nitrogênio no solo. Porém, o uso em grande quantidade do sulfato de amônio colabora ainda mais para a desestabilização do ciclo do elemento. A emissão de compostos de enxofre na atmosfera também causam outros problemas ambientais importantes. Por exemplo, o dióxido de enxofre é o produto de combustão de combustíveis fósseis e da biomassa (formada por restos vegetais e madeira) e também da redução química dos sulfetos minerais. Na atmosfera ele participa de diversas reações e pode ser transformado em partículas de sulfato ou sofre outras transformações, na presença de espécies mais reativas, como o peróxido de hidrogênio e radicais hidroxila, produzindo o H2SO4 e gerando a chuva ácida que empobrece e desgasta os solos. Porém, ao longo da década de 1990 houve grandes esforços dos países mais ricos em reduzirem as emissões de SO2 na atmosfera, substituindo a queima de combustíveis fósseispor fontes alternativas de energia. Atualmente as emissões de SO2 são menores do que as de uma década. Mas, a recuperação do solo e da vegetação prejudicadas pela deposição ácida — um nome mais formal para “chuva-ácida” — ainda vai demorar porque ainda existem países que queimam muito carvão para a produção de energia, como a China por exemplo. Para encerrar essa aula, acredito ser relevante mencionar os processos de contaminação do solo por metais pesados, como chumbo, cádmio e mercúrio que afetam, e muito, a agricultura, pois os vegetais que são cultivados em solos contaminados absorvem esses metais durante o crescimento e são consumidos pelos animais e pelo homem. Os metais pesados se fixam nos solos por adsorção sobre as superfícies das partículas minerais, por complexação pelas substâncias húmicas das partículas orgânicas, e por reações de precipitação. Os cátions Hg(II) e Cd(II) — altamente tóxicos — fixam-se no solo quando precipitados com íons sulfetos, formando os precipitados de HgS e CdS. Vamos lembrar que os sulfetos formam-se nos solos, em condições anaeróbias por bactérias que reduzem o sulfato a sulfeto.
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