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1 DIREITOS REAIS I - USUCAPIÃO. - Prescrição extintiva (liberatória) e aquisitiva. Disposição topográfica (fruto da orientação do CC alemão). - Conceito: Usucapião é a aquisição da propriedade ou outro direito real pelo decurso do tempo e com a observância dos requisitos estabelecidos em lei . Ou ainda, Usucapião é a aquisição do domínio pela posse prolongada . - Elementos básicos na aquisição por usucapião: A posse e o tempo. - Espécies de Usucapião: Extraordinário, Ordinário e Especial. - Direitos abrangidos pelo Usucapião: Não somente o direito de propriedade como também outros direitos reais, como por exemplo o usufruto, o uso, a habitação, a enfiteuse e as servidões reais. - Análise dos componentes básicos e constantes do usucapião: # Posse. Requisitos: x A lei a requer contínua, pacífica ou incontestada por todo o tempo estipulado e com intenção de dono; x Ausência de contestação de quem tenha legítimo interesse, ou seja, da parte do proprietário contra quem se visa a usucapir; x A posse ad usucapionem é aquela que se exerce com intenção de dono, afastando-se assim, a mera detenção (ver interversão da posse); x Está excluída igualmente toda posse que não se faça acompanhar de ter a coisa para si, como por exemplo a posse direta do locatário, do usufrutuário, do credor pignoratício, etc.; x Acessão da posse (art. 1243 do CCB). Hipóteses: - Na sucessão a título universal, dá-se sempre a acessão; - Na que se realiza a título singular, o usucapiente pode fazer a junção, contanto que sejam ambas aptas a gerar o usucapião (via de regra a posse do antecessor não acede à do usucapiente se era de má-fé ou injusta); - Não ocorre a acessio temporis se o atual possuidor não é sucessor do antigo; OBS: Na usucapião é viável a acessão de posses (art. 1243 do CCB) tanto na modalidade extraordinária (art. 1238 do CCB) quanto na ordinária (art. 1242 do CCB). Veda-se seu emprego nas modalidades especial urbana e rural (art. 183 e 191 da CF – arts. 1239 e 1240 do CCB), pela quebra do requisito da pessoalidade, abrangendo somente o núcleo familiar. Por fim, no caso de usucapião especial coletiva (art. 10, §1º da Lei n.º 10.257/01 – Estatuto da Cidade), admite-se a sua aplicabilidade. 2 # Tempo - A posse há de durar para que se converta em propriedade (continuatio possessionis); - Qualquer que seja o usucapião, é indispensável que a posse se estenda ininterruptamente por todo o tempo exigido em lei, e que o prazo se conte por dias e não por horas; - Causas interruptivas e suspensivas do tempo (arts. 197 a 204 c/c 1244 do CCB). Interrupção natural (perda da posse, abandono) e civil (citação judicial – art. 202, I CCB). # Res Habilis: - Coisa suscetível de sofrer os efeitos da prescrição aquisitiva. Vide bens que se acham fora do comércio pela sua própria natureza e bens públicos – Arts. 183 e 191 da CRFB, Súmula 340 do STF e art. 102 do CCB (controvérsia sobre terras devolutas – arts. 98 e 99 do CCB; art. 188 da CRFB e Lei n.º 6383/76 – ação de discriminação de terras devolutas); - Usucapião de bem gravado com as cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade (art. 1911 CC); - Usucapião entre condôminos. # Efeitos: O principal efeito do Usucapião é constituir título para o usucapiente, oponível erga omnes. Num segundo plano, diz-se que consolida o domínio, em favor de quem o adquiriu por título cuja eficácia é discutida. I.a) – Usucapião extraordinário. - Previsão legal: Art. 1238 e parágrafo único do CCB – vide alteração do lapso temporal. - Requisitos: x Posse ad usucapionem: Há de ser pacífica, ininterrupta e com intenção de dono; x Tempo: Não há a necessidade que o usucapiente exerça por si mesmo os atos possessórios, sendo considerados úteis e legítimos os atos praticados por intermédio de prepostos, agregados ou empregados. Admite-se ainda a acessio possessionis; x Justo título e boa-fé: No Usucapião extraordinário não se exige que o possuidor seja munido de justo título e esteja de boa fé; x Sentença: Requisito discutível (a natureza da ação é declaratória); x Registro. - A posse-trabalho e a redução do prazo para usucapir: Vide parágrafo único do art. 1238 do CCB. - O Usucapião extraordinário pode ser oposto em ação reivindicatória como defesa. A sentença na ação reivindicatória é dúplice. 3 - Ação Publiciana: Hipóteses de cabimento – Se o usucapiente, depois de consumada a prescrição, abandona o bem ou sofre esbulho, vindo a perder a posse, e o proprietário ou esbulhador a transfere a terceiro, o meio hábil de retomar a coisa é a ação Publiciana (espécie de reivindicatória sem título). A --------------------------------------------- B ------------------------------------------- C Posse ad usucapionem 20 anos. Proprietário alienante Terceiro adquirente (abandona o bem) I.b) – Usucapião ordinário. - Previsão legal: Art. 1242 e parágrafo único do CCB – vide alteração do lapso temporal; - Requisitos: x POSSE; x TEMPO: x JUSTO TÍTULO E BOA-FÉ: - Diz-se justo o título hábil em tese para a transferência do domínio, mas que não a tenha realizado, na hipótese, por padecer de algum defeito ou lhe faltar qualidade específica. Ex: Comprador que adquire a non domino determinado imóvel; alienação realizada por menor de 18 anos sem assistência; quem adquire por instrumento particular bem cuja transmissão requer escritura pública; - BOA-FÉ é a integração ética do justo título, residindo na convicção de que o fenômeno jurídico gerou a transferência da propriedade (convicção de não ofender o possuidor um direito alheio, ou no erro de entendimento do possuidor que se supõe proprietário); x SENTENÇA: O pronunciamento judicial declaratório serve para apagar dúvidas e tornar límpido o seu direito. Em regra não será necessária pois poderá guardar-se para arguir a aquisição por usucapião no caso de vir a ser molestado por uma pretensão de terceiro; x REGISTRO: Nada impede ao adquirente levar a registro a sentença que lhe consolida o domínio, para que fique constando em definitivo; III.c.3) – Usucapião especial e a Constituição de 1988. - Usucapião especial urbano: art. 183 da CF (vide art. 1240 do CCB e art. 9º do Estatuto da Cidade). A metragem abrange tanto a área do terreno quanto a construção, vedado que uma ou outra ultrapasse o limite assinalado. Contudo não se soma a área construída à do terreno. Em caso de apartamento, em que a fração do solo é mínima, deve se levar em conta a área da unidade autônoma. Não pode haver renúncia do excedente da área usucapienda. Sobre a acessio possessionis ver § 3º do art. 9º do Estatuto da Cidade (sucessão universal). -OBS: Usucapião familiar ou usucapião por abandono do lar – Art. 1240-A do CCB - Usucapião especial rural (Pro Labore): art. 191 da CF (vide art. 1239 do CCB). Aqui não tem cabimento a acessio possessionis, segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial. 4 - Usucapião urbana coletiva: Vide art. 10 do Estatuto da cidade. Legitimidade para a propositura da demanda: Vide art. 12, III. E o MP ? Rito para a ação de usucapião: Sumário (art. 14). Vide norma do art. 13 do Estatuto. - Usucapião indígena: art. 33 do Estatuto do Índio (Lei n.º 6001/73 – O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos, trecho de terra inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena). III.c.4) – Usucapião extrajudicial (Lei 13.465/2017) - A usucapião extrajudicial é um procedimento regulamentado pela Lei 6.015/73 (Lei de Registros Públicos). De fato, o artigo 216-A da Lei de Registros Públicos foi alterado pela Lei 13.105/2015 (Código de Processo Civil) e posteriormente pela Lei 13.465/2017, sendo ainda pormenorizado pelo Provimento 65 do Conselho Nacional de Justiça. - Será requerido diretamente perante o Ofício de Registro de Imóveis da Comarca em queestiver localizado o imóvel usucapiendo ou a maior parte dele. - Todos os interessados, pessoas naturais ou pessoas jurídicas, representados por advogado (incluir procuração), integrarão o requerimento. Quando se tratar de espólio, seus herdeiros na posse deverão fazê-lo, cabendo a eles alegar a sucessio possessionis , ou seja, a aquisição da posse pelo direito hereditário. - O requerimento deverá atender, no que couber, aos requisitos contidos no artigo 319 do Código de Processo Civil, a saber: * Endereçar ao Ofício de Registro de Imóveis competente; * Qualificação das partes a mais completa possível; * A modalidade de usucapião (Ordinária, Extraordinária, Especial Urbana e Especial Rural); * Se houver cessão de direitos possessórios, qualificar todas as partes e constar a data de cada cessão; * Expor os fatos que fundamentam o pedido; * Mencionar o início da posse, o modo de aquisição e as características da posse, constar, se houver, a existência de construção ou de qualquer outra benfeitoria e suas respectivas datas; * A descrição completa do imóvel, seu endereço, inscrição imobiliária Municipal e indicação de sua respectiva matrícula ou transcrição, se houver. * Atribuir valor ao imóvel; * Requerer a notificação dos interessados, para que se manifestem no prazo de 15 dias, incluindo a Fazendas Públicas Federal, Estadual e Municipal. * Ao final, requerer a procedência da usucapião, com a declaração de propriedade em nome do requerente (possuidor), e por consequência o registro na respectiva matrícula, ou então, a abertura de nova matrícula. 5 - Juntamente com o requerimento, outros documentos que se encontram detalhados no artigo 216-A, incisos I a IV, da Lei 6.015/73, combinado com o artigo 4º do Provimento 65 do Conselho Nacional de Justiça, deverão instruir o pedido. São eles: * Ata notarial; * planta e memorial descritivo assinado por profissional habilitado; * Prova de Anotação de Responsabilidade Técnica (A.R.T., ou R.R.T.), feita pelo profissional no respectivo conselho de fiscalização profissional (CREA ou CAU), e prova de recolhimento da taxa; * Anuência, eventualmente obtida pelo requerente, dos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e nas matrículas dos imóveis confinantes, mediante assinatura no memorial descritivo; * a forma de aquisição da posse ou quaisquer outros documentos que demonstrem o início e a sequência da cadeia possessória e a data; * certidões negativas dos distribuidores cíveis da Justiça Estadual e da Justiça Federal do local da situação do imóvel e do domicílio do requerente, cônjuges ou companheiros, expedidas nos últimos trinta dias, e em nome do proprietário do imóvel usucapiendo, cônjuge ou companheiro, se houver; e ainda, ocorrendo a sucessão da posse, as certidões também deverão ser emitidas em nome dos possuidores, cônjuges ou companheiros, demonstrando a inexistência de ações que caracterizem oposição à posse do imóvel; * descrição georreferenciada nas hipóteses previstas na Lei n. 10.267, de 28 de agosto de 2001, e nos decretos regulamentadores (Artigo 4º, V, do Provimento 65 do CNJ); * procuração outorgada ao advogado pelos requerentes e por seus cônjuges ou companheiros; * certidão dos órgãos municipais e/ou federais que demonstre a natureza urbana ou rural do imóvel usucapiendo, nos termos da Instrução Normativa Incra n. 82/2015 e da Nota Técnica Incra/DF/DFC n. 2/2016, expedida até trinta dias antes do requerimento (Artigo 4º, VIII do Provimento 65 do CNJ); - Com a edição da Lei nº 13.465/2017, que trouxe novidades ao procedimento da usucapião extrajudicial, modificando alguns dispositivos, a resolução do procedimento se tornou mais fácil. Destacam-se algumas alterações: * § 2º do artigo 216-A, da Lei 6.015/73: pelo dispositivo, quando na planta não constarem as assinaturas do proprietário, confinantes e outros titulares de direitos reais, estes deverão ser notificados para se manifestarem no prazo de 15 dias, e o seu silêncio deverá ser interpretado como concordância. * § 6º do artigo 216-A: trata da possibilidade de usucapião de imóvel não matriculado no registro de imóveis, podendo assim abrir nova matrícula. * artigos 11 e 12: dispõem sobre a oportunidade de usucapir unidade autônoma de condomínio edilício. Se um dos confinantes for condômino, basta requerer a notificação do condomínio na pessoa do síndico e não mais de todos os proprietários. 6 BIBLIOGRAFIA ALVES, José Carlos Moreira. Posse: evolução histórica e estudo dogmático. v. I ; v. II . Rio de Janeiro: Forense, 1999. BALBINO FILHO, Nicolau. Direito imobiliário registral. São Paulo: Saraiva, 2001. BARBOSA, CAMILO DE LELIS COLANI & PAMPLONA FILHO, RODOLFO. 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