Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez Resposta inflamatória celular • É o início da resposta inflamatória mediada pelo sistema imune inato. Reconhecimento antigênico por células da imunidade inata • Toda célula do sistema imune é ativada a partir do reconhecimento de moléculas específicas por receptores de superfície, que vão permitir a ativação dessas células. • Os receptores de superfície do sistema imune inato possuem determinadas características que acabam caracterizando o sistema imune inato como um todo. Figura 3.1, pág. 76, Imunologia de Janeway, 8 ed. • As células da imunidade inata reconhecem antígenos através de padrões moleculares pré- definidos. Por isso, a maior parte dos livros nomeia essas moléculas como padrão molecular. • Esses padrões moleculares podem ser de dois tipos: - DAMPS: Padrões moleculares associados a perigo ou danos. Produzidos pelas nossas células quando são danificadas ou ocorre uma modificação fisiológica. - PAMPS: Padrões moleculares associados a patógenos. Moléculas externas ao nosso corpo e que estão presentes em outros organismos. • Os receptores envolvidos nesse reconhecimento são chamados PRRs ou receptores de reconhecimento de padrões. Eles reconhecem os DAMPS e PAMPS. • Os genes que codificam esses receptores não sofrem recombinação somática, ou seja, são adquiridos a partir dos pais e não se modificam ao longo da vida da pessoa. Permanecem iguais desde o nascimento. Essa é uma das principais características do sistema inato: ele não muda ao longo da vida nem de indivíduo para indivíduo. PRRs Alvos • Os principais padrões moleculares reconhecidos, principalmente os PAMPS, são: - Material genético estranho. Todo material genético que não é comum ao nosso corpo. Exemplos: dsRNA, ssDNA, DNA cíclico, CpG DNA, ausência de cauda poliA. - Moléculas de superfície. Diferentes moléculas de superfície que nossas células não expressam Exemplos: LPS, peptidoglicano, lipoproteínas, glicoproteínas, ácido lipoteicóico. - Metabólitos: Toxinas produzidas por bactérias e fungos, principalmente. • Os PRRs que reconhecem padrões moleculares de patógenos são capazes de reconhecer grande parte das moléculas que compõe a estrutura dos patógenos ou são produzidas por eles. • Os PRRs do sistema imune inato são a primeira etapa da resposta imune ativa. • O sistema imune inato contém barreiras físicas e químicas que são anteriores a esse reconhecimento – barreiras que não precisam de uma ativação para exercer sua função. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez • No caso da resposta inflamatória, o reconhecimento de um padrão molecular é fundamental para que ocorra a ativação das células que vão promover essa resposta. • A produção das citocinas começa com a detecção desses padrões moleculares a partir dos receptores. Determinações dos PRRs Figura 1. Palm, N. W., & Medzhitov, R. (2009). Pattern recognition receptors and control of adaptive immunity. Immunological reviews, 227(1), 221-233. Série de determinações feitas pelos PRRs, a partir do reconhecimento do padrão molecular. • Os PRRs, depois de reconhecer os padrões moleculares, envia determinadas informações/sinais para o resto do sistema imune. • Determinações: - Presença de substâncias não próprias do nosso corpo ou que causa danos. Exemplo: intoxicação medicamentosa, patógenos. O reconhecimento e envio dessa informação vai gerar a ativação da resposta. Logo, a resposta só acontece se o receptor determinar que está acontecendo alguma infecção ou danos no tecido. - A segunda informação determinada é a classe da infecção ou do dano. O tipo de dano ou de infecção que está ocorrendo. Ao determinar a classe desse ano, eles determinam o tipo de resposta que vai acontecer. O sistema imune inato começa a elaborar respostas abrangentes, dependendo do tipo de patógeno ou dano e essa resposta vai se especializando segundo as informações que recebe. - Determinam o nível de infecção ou danos. A quantidade de patógenos da infecção e a quantidade de danos que ocorreu no organismo. Essa quantidade pode ser dependente da entrada de uma grande quantidade de patógenos ou a proliferação dele. Da mesma forma, de danos que podem ser extensos, medicamentosos, inoculação com venenoso de animais... Essa informação vai determinar a magnitude da resposta, quão ampla e em quantos sistemas/órgãos ela vai acontecer. - Determinam a persistência da infecção ou danos. O tempo em que esses danos ou infecção acometem o organismo. Enquanto os padrões moleculares continuam sendo reconhecidos pelos PRRs – a infecção prevalece – e como consequência a resposta também, fomentada por esses receptores. A determinação da persistência determina a duração da resposta do sistema imune. - Por último, determinam a necessidade de defesa, imediata ou futura. É a diferença entre resposta de memória e resposta efetora. • Em síntese, o reconhecimento do tipo de dano ou agente infeccioso presente instrui o organismo a iniciar a resposta, assim como define o tipo e a intensidade dessa. Histórico • O primeiro receptor foi descrito pelo Medzhtov e Janeway. • Foi o receptor toll. • Os receptores foram descritos na mosca. Essa proteína determina a segmentação do tórax e do abdome durante o desenvolvimento. • Os pesquisadores começaram a analisar a funcionalidade da proteína no período adulto. Viram que as moscas morriam de infecção fúngica quando se retirava essa proteína. Com isso, descobriram que a proteína é um receptor que identificava os diferentes patógenos. Figura 1 Medzhitov, R., Preston-Hurlburt, P., & Janeway, C. A. (1997). A human homologue of the Drosophila Toll protein signals activation of adaptive immunity. Nature, 388(6640), 394-397. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez • Compararam com outras amostras de seres vivos e viram que ela também estava presente nos humanos. Identificaram toda uma família de receptores semelhantes em plantas e mamíferos, denominando- a Família dos receptores semelhantes a toll (Tol-like TLRs). Família toll-like TLRs Figura 3.10, pág. 87, Imunologia de Janeway, 8 ed. • Os receptores da família toll são proteínas transmembranares, inseridas na membrana. • Estão presentes na superfície celular da membrana plasmática – sendo capazes de reconhecer PAMPS no ambiente extracelular. • Além disso, também estão presentes nas membranas de endossomas – vesículas que fazem parte do tráfego vesicular dentro das células. Dentro de um endossoma muitas vezes existem patógenos que foram endocitados e proliferaram nesses endossomas. Os receptores toll podem reconhecê- los. Isso é fundamental, pois permitem que os patógenos que podem sobreviver dentro das células sejam reconhecidos – caso eles não atuassem, o corpo entenderia que o patógeno foi eliminado pois os membranares não o reconheceriam. • Algumas substâncias reconhecidas pelos receptores presentes na membrana plasmática: LPS (pelo TLR- 4); Flagelina (TLR-5); Diacil lipopeptídeos e triacil lipopeptídeos (TLR-2 e TLR-6 ou TLR-1). • Os receptores endossomais reconhecem material genético: dsRNA (dupla-fita), ssRNA (fita- simples), CpG DNA (fragmentos de DNA). Normalmente, os patógenos que são fagocitados pelas células acabam sendo digeridos. Durante o período de destruição ocorre a liberação do material genético e o reconhecimento por esses receptores. • Os receptores endossomais reconhecem moléculas intracelulares dos patógenos – é necessário a exposição do material genético. Os receptores extracelulares reconhecem moléculas de superfície dos patógenos – o contato é suficiente para gerar uma resposta.Todos os vírus precisam expor seu material genético para replicar. Quando ele entra na célula e libera o material dentro dos endossomos, esse material é reconhecido (principalmente por toll 3 e toll 7. • Existem outras famílias de receptores TLRs que reconhecemos patógenos. Figura 3.11, pág. 87, Imunologia de Janeway, 8 ed. Estrutura dos receptores: Eles precisam dimerizar para serem ativados. O ligante faz a dimerização e ativa os domínios que reconhecem as diferentes moléculas. Figura 3.9, pág. 86, Imunologia de Janeway, 8 ed. Lista dos receptores toll e o que reconhecem – presentes em mamíferos. A maioria é capaz de reconhecer bactérias e vírus, alguns reconhecem fungos. • O compartimento celular que não é abrangido pelos receptores toll é o citoplasma. É importante que em todos os compartimentos celulares possa ser reconhecida a presença do patógeno pelos Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez receptores, para que ocorra a manutenção da resposta. Existem diversos receptores e famílias PRRs. Família NOD-like (NLRs) • Esses receptores estão presentes no citoplasma. • NOD (oligomerização dos domínios nucleotídeos). • São capazes de reconhecer flagelina (presentes em bactérias intracelulares), Dipeptídeo murâmico (presente em peptideoglicano), iE- DAP (ácido glutamil diaminopmélico – fragmento de peptideoglicano). • Funcionam de forma semelhante aos receptores toll. Figura 3.15, pág. 93, Imunologia de Janeway, 8 ed. • Estão presentes no citoplasma de forma monomérica (monômeros). Quando reconhecem os padrões moleculares vão dimerizar e começar a transdução do sinal, a qual culminará com a ativação celular. • É fundamental que isso possa ocorrer no citoplasma, pois permite que a célula possa reconhecer o parasita em contato com a membrana protegido nos endossomas ou proliferando no citoplasma. Dessa forma, mantêm-se a resposta inflamatória ativa. Vias de sinalização Figure 5. O'Neill, L. A. (2006). Targeting signal transduction as a strategy to treat inflammatory diseases. Nature reviews Drug discovery, 5(7), 549-563. • O que acontece com a célula a partir do reconhecimento via receptores de padrão molecular? • Os receptores que reconhecem material genético: (toll 3, principalmente) - Eles ativam a célula através de uma via específica chamada de via da indução dos elementos reguladores de interferons ou IFRs. Esses elementos induzem a síntese de interferons – citocinas especializadas em interferir com a replicação viral. Elas promovem uma série de respostas ligadas ao combate de vírus – impedindo sua replicação. Figura 3.14, pág. 92, Imunologia de Janeway, 8 ed. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez - Com o reconhecimento de RNA viral dentro de endossomas, ocorre a ativação de uma cascata de transdução de sinal, a qual culmina com a ativação dos fatores reguladores de interferons. Esses fatores vão ao núcleo da célula – são fatores de transcrição – e ativam a transcrição dos genes para os interferons do tipo I. Todas as células que fazem endocitose são capazes de produzir interferons, já que todas possuem toll 2 e toll 7 nos endossomos. - Os interferons vão agir na célula infetada e nas células adjacentes, promovendo um estado antiviral – impedindo ao máximo a síntese de novas partículas virais e promovendo a destruição dos vírus já existentes. • A maior parte dos receptores de padrões moleculares de patógenos – tanto os toll e os nod – são sinalizadores responsáveis por ativar o principal fator de transcrição responsável pela resposta inflamatória celular, o NFkB – fator nuclear kappa B. - Esse é o fator central da geração de uma resposta inflamatória. Todos os receptores Toll, tirando o toll 3, e os receptores da família Nod culminam com a ativação do NFkB. • Os receptores NALP – também pertencentes à família NOD, possuem a função de ativar o inflamassomo. - O inflamassomo é um conjunto de proteínas ativadas pelo reconhecimento de padrões moleculares pelos receptores NLRs do tipo NALP. Elas são estruturas que contêm a enzima caspase 1. Essa caspase 1 é capaz de promover a ativação proteolítica de citosinas inflamatórias – principalmente a IL-1beta e a IL-18. - A célula produz a Pro IL – 1B, que é a citocina na sua forma inativa. Essa síntese é regulada pelo NFkB – produzido pela ativação de algum dos outros receptores. - A ativação do inflamassomo promove a ativação proteolítica dessa IL-1beta, liberando a IL-1beta que tem atividade biológica. - Há outros tipos de inflamassomos que regulam outras citocinas inflamatórias e outras respostas. • Tanto os receptores da família toll, quanto da família Nod, quando ativados são capazes de induzir a ativação das vias de MAPK e AP1 – outras vias, de proliferação celular, inibição de apoptose – vias importantes para que a célula possa se manter viável, proliferar e exercer suas funções de forma geral. NFkB • NFkB – Fator nuclear kappa B. • É o principal fator de transcrição envolvido com a resposta inflamatória. • Ele é alvo terapêutico em doenças inflamatórias crônicas por alguns medicamentos como sulfasalazia e aminossalicilatos em geral, infliximab. • Possui funções na imunidade adaptativa. • Com o reconhecimento do patógeno, ocorre a ativação do NFkB que se encontra na sua forma inativa no citoplasma. Ao ser ativada, a proteína vai até o núcleo e regula a síntese de diferentes tipos de genes. Figure 1. Makarov, S.S. NF-κB in rheumatoid arthritis: a pivotal regulator of inflammation, hyperplasia, and tissue destruction. Arthritis Res Ther 3, 200 (2001). https://doi.org/10.1186/ar300 Tabela mostrando as moléculas que induzem a ativação do NF-kB; os genes que ele é capaz de induzir e regular a transcrição; o efeito desses genes. • Indutores: é importante observar que tanto padrões moleculares associados a patógenos, quanto padrões moleculares associados a danos, quanto as citocinas inflamatórias são capazes de induzir a ativação genética do NF-kB. https://doi.org/10.1186/ar300 Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez - Diversos produtos bacterianos são capazes de ativar o NF-kB. Ao ser ativado, vai induzir a síntese de citocinas inflamatórias, das quais as principais do sistema imune inato são a TNF alfa, IL-1B e IL-6. Essas citocinas vão estimular outras células a produzirem mais citocinas. - Essas citocinas que são alvos do NFkB quando ele é estimulado, são indutores de NFkB ao mesmo tempo. Então, as células podem causar um tipo de feedback positivo do NFkB nas células. - Então, mesmo que haja a eliminação do patógeno, essa resposta em cascata se mantém por um grande período, mesmo com a retirada do estímulo inicial. - Gera-se um sistema de feedback positivo. - A mesma coisa acontece com padrões moleculares associados a danos. Inclusive, alguns neurotransmissores são capazes de ativar essa cascata de ativação. • Uma vez ativo, o NF-kB vai estimular a síntese de diversos genes e seus efeitos: - As principais são das citocinas inflamatórias, que vão promover inflamação no local e sistêmica. - Quimiocinas e fatores de crescimento vão gerar o recrutamento de células inflamatórias para os sítios afetados. - VEGF: fator estimulador do crescimento do endotélio vascular, que promove em diversas situações neovascularização – formação de novos vasos para aumentar o aporte de sangue e células inflamatórias naquela região. - Enzimas relacionadas com a produção dos mediadores lipídicos inflamatórios, como a COX-2. Gera a regulação da produção de prostaglandinas, lipoxinas, entre outros, além da produção de óxido nítrico. - Expressão das metaloproteinases: Remodelamentotecidual. A resposta inflamatória tem duas principais funções: a eliminação do dano/patógeno e o remodelamento do tecido e recomposição. Para recompor o tecido, é necessário fagocitas as células mortas e estimular a síntese da matriz celular, além de produzir as células que se localizam/atuam nesse tecido. - Ativação de moléculas associadas à proliferação celular. Importante para a produção das células que fazem parte do tecido e a proliferação das células do sistema imune. - Moléculas antiapoptóticas: Promovem a sobrevivência das células do sistema imune por mais tempo, evitando o feedback negativo. • Regula quase todos os aspectos que envolvem a resposta inflamatória e a ativação dos diversos mecanismos do sistema imune inato. Em síntese: • Os PRRs são receptores capazes de reconhecer padrões moleculares. Esses PRRs estão presentes na maioria das células do sistema imune inato: granulócitos, macrófagos, células dendríticas, células NK, células epiteliais e endoteliais. • Os receptores são responsáveis por reconhecer grupos ou subtipos de agressores. • Essa informação coleada gera uma sinalização inflamatória, a qual vai determinar a extensão da ativação celular, tecidual e sistêmica. • Além disso, os PRRs vão determinar a ocorrência, o tipo e a extensão da resposta adaptativa. • A geração da sinalização inflamatória está diretamente relacionada à ativação de NFkB, principal fator regulador dessa resposta.
Compartilhar