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Constituição: conceito, classificação, elementos


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CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO 
A palavra CONSTITUIÇÃO apresenta vários significados – portanto, diferentes conceitos, de acordo com o sentido que se quer analisar. 
Os conceitos mais consagrados pela doutrina, e de maior relevância histórica, são os conceitos sociológico, político (material e formal) e jurídico de constituição.
CONCEITO NO ASPECTO SOCIOLÓGICO
Foi elaborado pelo político alemão Ferdinand Lassale. Segundo o sentido sociológico, a constituição é decorrência da soma dos fatores reais de poder dentro de uma sociedade. Em outras palavras, constituição é a representação das forças sociais que constituem o verdadeiro poder dentro de uma sociedade. Essas forças são a base da legitimidade da constituição.
CONCEITO NO ASPECTO POLÍTICO
O conceito político foi cunhado pelo jurista alemão Carl Schmitt. Neste aspecto, constituição corresponde à uma decisão política fundamental de uma nação. 
Essa decisão política fundamental refere-se basicamente à forma de organização do Estado e de suas instituições, bem como aos direitos a serem garantidos constitucionalmente. 
Os demais aspectos inseridos no texto constitucional e que não se relacionam à essa decisão política fundamental (que não é de organização do Estado nem sobre direito fundamental), para Schmitt, não é constituição. Refere-se apenas a mera lei constitucional. 
A partir dessa distinção de Schmitt, é possível diferenciar o conceito de constituição material do conceito de constituição formal.
SENTIDO MATERIAL: diz respeito a todas as regras estruturais de uma sociedade, independentemente da forma legislativa em que são materializadas no ordenamento jurídico. O que vale é considerar se o conteúdo é (ou não) constitucional. São normas sobre forma de Estado, governo, órgãos, direitos humanos. De acordo com o critério material, é possível encontrarmos normas de natureza constitucional fora do texto constitucional. 
O princípio da razoabilidade (ou proporcionalidade) são normas materialmente constitucionais – mas não formalmente. Não se supõe que o ordenamento constitucional contemporâneo cogite de situações desarrazoadas ou desproporcionais. E mesmo assim não são normas explícitas da constituição. O mesmo pode-se dizer dos tratados internacionais que não foram incorporados pelo quórum de 3/5 (art. 5.º, § 3.º). 
SENTIDO FORMAL: refere-se a toda a matéria tratada pelo legislador constituinte original e introduzida na CF, independentemente do seu conteúdo. Dessa forma, mesmo não se tratando de regra de organização do Estado ou de direito fundamental, se estiver no texto da constituição, o preceito será formalmente constitucional. Assim sendo, é formalmente constitucional o que o legislador originário escolheu ser, independente do conteúdo da matéria tratada. 
No conceito formal, independe da matéria. O que interessa é a forma (procedimento) de nascimento da norma – que por ser constitucional, possui um processo mais dificultoso do que o procedimento de elaboração das normas infraconstitucionais. 
Formal: procedimento mais dificultoso de elaboração da norma constitucional e de sua modificação (Emenda Constitucional – art. 60).
Ex. 1: art. 242, § 2.º estabelece que o Colégio Dom Pedro II, localizado no RJ, será mantido pela União (responsabilidade federal). Esta norma, embora não seja de matéria constitucional, é considerada formalmente constitucional, pois foi inserida na CF. Ex. 2: tratado internacional que seja introduzido nos termos do art. 5.º, § 3.º, além de materialmente constitucional (matéria de direitos humanos), torna-se formalmente constitucional. 
CONCEITO NO ASPECTO JURÍDICO
O conceito jurídico de constituição foi dado por Hans Kelsen, jurista e filósofo alemão e maior representante da Teoria Pura do Direito.
Para Kelsen, a constituição é fruto da vontade racional do homem, não devendo buscar seu fundamento na filosofia, política, sociologia ou cultura. 
O conceito jurídico de Kelsen aproxima-se do conceito de constituição formal, já que não considera a existência de matéria constitucional, ou seja, inexiste temas que sejam próprios de uma constituição. 
Para Kelsen, a Constituição pertence ao mundo do “dever-ser” (mundo das leis) - e não das leis naturais = mundo do “ser”. 
Dentro do seu conceito jurídico, Kelsen define a constituição em dois sentidos:
1. JURÍDICO-POSITIVO: a constituição é a lei suprema de uma nação que disciplina a forma de elaboração de todas as suas demais leis, dando-lhes validade - ocupa o topo da pirâmide hierárquica de normas, estando acima de todas as outras. A constituição é o fundamento de VALIDADE de todo o ordenamento jurídico infraconstitucional.
2. LÓGICO-JURÍDICO: Kelsen define a constituição como uma “norma hipotética fundamental” que dá, por sua vez, validade à constituição jurídico-positiva. Para Kelsen, dentro de um ordenamento jurídico, a validade de toda lei é dada por uma lei superior, que está imediatamente acima dela na hierarquia de normas. No topo dessa cadeia, está a constituição jurídico-positiva, a LEI SUPREMA em si.
Apesar de estar acima de todas as leis, a constituição jurídico-positiva (norma posta), pela lógica de Kelsen, também precisa de um fundamento de validade. E esse fundamento é dado pela norma hipotética fundamental, conceito abstrato que o jurista denominou constituição lógico-jurídica (norma suposta = não editada por nenhuma autoridade), posicionada acima da constituição jurídico-positiva.
CONCLUSÕES
Destas definições resultou a pirâmide de Kelsen – que retrata a SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO sobre todas as normas infraconstitucionais. 
Consagra a verticalidade hierárquica das normas e a constituição positivada como fundamento de validade de todo o sistema normativo. 
OUTROS CONCEITOS DE CONSTITUIÇÃO
CONCEPÇÃO CULTURALISTA: define a constituição como norma fundamental que não só é condicionada por uma determinada cultura, mas também a condiciona, numa relação de via dupla. Nessa acepção, a constituição é fruto não somente de fatores históricos, sociais, políticos, jurídicos ou culturais, mas também da vontade humana, tudo combinado (constituição total)
CONCEPÇÃO NORMATIVA (constituição aberta): traz a ideia de flexibilidade material da ordem constitucional. Essa flexibilidade objetiva manter a compatibilidade da constituição com as mudanças sociais, reduzindo o risco da perda de sua força normativa. Concepção pós-positivista, que busca efetivar direitos fundamentais e a garantia da constituição através de um processo interpretativo centrado no princípio da dignidade humana. 
 
A mutação constitucional traz a ideia de constituição aberta. É definida como mudança de contexto sem mudança de texto. Ex.: art. 226, § 3.º, CF/88 deve ser interpretado em conjunto com os princípios constitucionais da igualdade, dignidade humana e da segurança jurídica, de modo legitimar as uniões homoafetivas nos mesmos termos que a confere às uniões estáveis heterossexuais, sem que a CF fosse alterada. 
PRINCÍPIOS e REGRAS. O Direito expressa-se por meio de normas – estas normas classificam-se em regras ou princípios. 
REGRAS: são normas que prescrevem imperativamente uma exigência (impõe, permitem ou proíbem). São prescrições específicas que estabelecem pressupostos e consequências determinadas. As regras, quando contraditadas, provocam a exclusão do dispositivo colidente (tudo ou nada). 
PRINCÍPIOS: são ideias centrais de um sistema, ao qual dão sentido lógico e racional, permitindo a compreensão de seu modo de se organizar. São pautas genéricas que estabelecem verdadeiros programas de ação para o legislador e para o intérprete – são base das regras jurídicas. O princípio é mais geral que a regra porque comporta uma série indeterminada de aplicações. Os princípios permitem avaliações flexíveis e, portanto, não excludentes. 
Princípios são, pois, normas positivadas ou implícitas no ordenamento jurídico, com um grau de generalidade e abstração elevado e que, em virtude disso, não possuem hipóteses de aplicação pré-determinadas, embora exerçamum papel de preponderância em relação às demais regras, que não podem contrariá-los, por serem as vigas mestras do ordenamento jurídico e representarem os valores positivados fundamentais da sociedade. 
Luiz Flávio Gomes: As regras disciplinam determinada situação; quando ocorre essa situação, a regra incide; quando não ocorre, não tem incidência. Vale a lógica do tudo ou nada (Dworkin). Quando duas regras colidem, fala-se em conflito de regras; ao caso concreto, uma só será aplicável, afastando a aplicação da outra. Este deve ser resolvido com meios clássicos de interpretação: a lei especial derroga a geral; a lei posterior afasta anterior. 
Princípios são as diretrizes gerais de um ordenamento jurídico (ou de parte dele). Seu espectro de incidência é muito mais amplo que o das regras. Entre princípios pode haver colisão, não conflito. Quando colidem, não se excluem. Como "mandados de otimização" que são (Alexy), sempre podem ter incidência em casos concretos (às vezes, concomitantemente dois ou mais deles). 
Caso o ordenamento jurídico fosse formado somente por princípios ou somente por regras: Um sistema só de regras geraria um ordenamento rígido/fechado, exigindo uma quantidade absurda de comandos para atender às necessidades dinâmicas da sociedade. Um sistema jurídico exclusivamente principiológico geraria insegurança, em razão do elevado grau de abstração dos princípios, voltados de modo secundário à prescrição de comportamentos.
Os princípios possuem uma dimensão que as regras não têm – a dimensão de peso ou importância diante do caso concreto. 
Quando os princípios se intercruzam, aquele que vai resolver o conflito tem de levar em conta a força relativa de cada um – ou seja, o sopesamento/ponderação dos princípios. 
Veja o exemplo: 
O STF, ao decidir ADI 4.815, declarou a inexigibilidade de autorização prévia para a publicação de biografias. São protegidos constitucionalmente tanto a liberdade de expressão e informação, com vedação de censura. Ao mesmo tempo, é garantido o direito o direito à privacidade e intimidade. Ao declarar inexigível a autorização para publicação de biografias, fez prevalecer o direito fundamental de liberdade de expressão. 
CONCLUSÃO: princípios têm aplicabilidade direta. Tanto é possível a aplicação direta dos princípios que a CF/88 estabeleceu no Art. 5.°, § 1.°, que normas definidoras dos direitos e garantias individuais têm aplicação imediata. Diversas normas contidas nesse artigo consubstanciam-se em verdadeiros princípios. Restou superada a exigência de uma lei para que tais normas fossem eficazes (igualdade, liberdade de expressão). 
Dentro de uma postura pós-positivista, é reconhecida força normativa dos princípios. Essa espécie normativa (princípio) tanto pode ser expressa no ordenamento jurídico, como implícita, desempenhando relevante papel na interpretação do Direito. É fonte axiológica da qual derivam normas particulares e, por um outro prisma, norma a que se pode chegar através de um processo inverso, de generalização. 
CONCLUSÃO: a Constituição de um país não pode ser vista por uma única concepção – e, sim, uma junção. 
Todas estas concepções pecam pela unilatelaridade: a Constituição deve ser um complexo, uma conexão de todas as concepções (sociológica, política, jurídica, normativa e cultural) – de maneira que represente uma interação com a realidade. 
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
Os doutrinadores utilizam variados critérios para classificação de uma constituição, não havendo uma uniformidade sobre o assunto. 
Necessário apresentar a classificação segundo os alguns critérios, como por ex., quanto ao conteúdo, forma, modo de elaboração, origem e estabilidade. 
1. QUANTO À ORIGEM: podem ser outorgada ou promulgada.
OUTORGADA: imposta de forma unilateral, pelo poder constituinte originário, sem qualquer legitimação popular. No Brasil, as constituições classificadas como outorgadas são três: Constituição de 1824 (Constituição do Império); Constituição de 1937, outorgada por Getúlio Vargas durante o Estado Novo, inspirada no modelo fascista. 
A Constituição de 1967, da ditadura militar, bem como sua Emenda Constitucional - EC n. 1/69, apesar de terem sido oficialmente promulgadas, na prática foram outorgadas unilateralmente pelos militares. 
As constituições outorgadas são também chamadas por alguns doutrinadores de “CARTAS” constitucionais.
PROMULGADAS: são aquelas originadas dos trabalhos de uma Assembleia Constituinte, legitimamente eleita pelo povo para atuar em seu nome (participação democrática indireta). As constituições promulgadas também são conhecidas como constituições democráticas ou populares. No Brasil, as constituições promulgadas foram: Constituição de 1891, da 1.ª República; Constituição de 1934; Constituições de 1946 e 1988.
Alguns autores incluem nesta classificação segundo a origem mais dois tipos: a constituição cesarista e a pactuada.
CESARISTA (ou bonapartista): tem origem em um projeto autoritário que é submetido a plebiscito ou referendo popular, para ratificar a vontade do detentor do poder. Não é propriamente outorgada, pois é submetida ao crivo popular. Tampouco é democrática, já que surge de um projeto autoritário.
PACTUADA: é resultado de um acordo entre dois ou mais titulares do poder constituinte originário. Essa classificação de constituição, no entanto, tem valor apenas histórico, já que não se coaduna com a noção moderna de unidade do poder constituinte. Exemplo histórico de constituição pactuada é a Magna Carta Inglesa, que garantiu, em seu tempo, participação política de determinados grupos sociais (burguesia) em acordo com o poder real.
2. QUANTO AO CONTEÚDO: divide-se em constituição material ou constituição formal.
MATERIAL: abrange apenas conteúdo relacionado à estrutura e organização do Estado, além de direitos e garantias fundamentais.
FORMAL: inclui toda e qualquer matéria disposta em seu texto, lá colocada pelo legislador constitucional, independente do seu conteúdo. 
A CF/88 é exemplo de uma constituição formal. Todos os dispositivos são considerados formalmente matéria constitucional, mesmo quando não tratam de organização do Estado ou direitos fundamentais – pois ou decorrem do Poder Constituinte originário (Assembleia Constituinte) ou do derivado, por meio de Emenda Constitucional. Ao contrário da Constituição do Império, de 1824, a única classificada como material. 
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A Constituição de 1824 (art. 178) é exemplo de constituição material. Somente era constitucional os dispositivos sobre “limites, e atribuições respectivas dos Poderes Políticos, e aos Direitos Políticos, e individuais dos Cidadãos”. As demais normas inseridas no texto, que não fossem especificamente sobre esta matéria, não eram constitucionais, podendo ser alteradas pelo processo legislativo ordinário (o conteúdo definia a natureza constitucional). 
ATENÇÃO: alguns autores defendem que com a introdução do § 3.º do art. 5.º, a CF/88 pode ser classificada como MISTA (formal e material), já que confere status de emenda constitucional (norma formalmente constitucional), aos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos (matéria constitucional), se aprovado em cada uma das casas do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros. 
3. QUANTO À FORMA: pode ser classificada como escrita ou não escrita.
ESCRITA (ou instrumental): aquela cujas regras estão sistematizadas e dispostas em um documento escrito e solene, elaborado pelo poder constituinte, incluindo todas as normas tidas como fundamentais para a estrutura do Estado, organização dos poderes e direitos fundamentais. Ex.: CF/88.
CONSUETUDINÁRIA (ou costumeira): possui regras que não estão codificadas em um documento escrito e unificado. Baseia-se nos usos, costumes e documentos esparsos, incluindo convenções, decisões e precedentes judiciais. Ex.: A Constituição Inglesa é o exemplo usual de constituição não escrita, embora recentemente passou a ter regras e princípios constitucionaisem documentos escritos. 
4. QUANTO À MUTABILIDADE: quanto ao critério da mutabilidade, rigidez ou forma de alteração, é classificada como rígida, semirrígida e flexível. 
RÍGIDA: exige, para alteração de dispositivos, um processo legislativo mais difícil e solene em relação ao processo de alteração das normas infraconstitucionais. Com exceção da CF/1824, todas as Constituições brasileiras foram rígidas. 
SEMIRRÍGIDA (ou semiflexível): para certos dispositivos é exigido também um processo mais difícil de alteração. Para outros, porém, a alteração por ser por meio do procedimento comum (ordinário) de alteração da legislação não constitucional. Ex.: CF/1824, art. 178.
FLEXÍVEL: todas as normas, indistintamente, podem ser alteradas pelo mesmo procedimento da legislação ordinária, não exigindo qualquer procedimento especial e diferenciado.
Na constituição flexível não existe hierarquia entre uma norma constitucional e a lei infraconstitucional. Uma lei infraconstitucional pode alterar a Constituição, desde que declare incompatível ou regule inteiramente a matéria que tratava a Constituição. Neste sistema não há supremacia da Constituição, nem controle de constitucionalidade, nos moldes das constituições rígidas. Ex.: Constituição Irlandesa de 1937, inglesa. 
Dentro da classificação quanto à mutabilidade, outros tipos são apontados pela doutrina: 
FIXA: só pode ser alterada pelo poder constituinte originário, vendando qualquer modificação pelo poder reformador.
SUPER-RÍGIDA: além de exigir procedimento legislativo mais difícil de alteração, determina que alguns de seus dispositivos são absolutamente imutáveis, em razão da matéria. 
Se considerarmos as cláusulas pétreas da CF/88, podemos enquadrá-la como super-rígida, pois o art. 60 elenca quais matérias não podem ser abolidas por meio de emenda. No entanto, a doutrina majoritária a classifica como rígida. 
Art. 60. § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais.
5. QUANTO À SISTEMÁTICA: divide-se em constituição codificada e legal.
CODIFICADA (reduzida ou orgânica): aquela cujas regras estão reunidas em apenas um documento ou código. 
LEGAL (variada ou inorgânica): possui preceitos distribuídos por vários textos legais de caráter constitucional.
A CF/88 é classificada pela doutrina como uma constituição codificada, ou orgânica, já que se apresenta unificada em apenas um texto. No entanto, conforme seu art. 5.º, § 3.º, tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos aprovados pelo legislativo pelo mesmo quórum de aprovação das Emendas Constitucionais têm status de norma constitucional. Veja o que diz esse dispositivo:
Art. 5.º, § 3.º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. 
Tais tratados e convenções fazem parte do bloco de constitucionalidade, mas se encontram fora do texto da CF/88. 
A Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência (2007) e o Tratado de Marraqueche (2018) para facilitar o acesso às pessoas cegas ou com deficiência visual são de normas internacionais que foram aprovadas por Decreto Legislativo com status de norma constitucional. Atualmente, no Brasil, as normas constitucionais não se concentram apenas na CF/88 – embora se mantenha a classificação como orgânica (ou reduzida). 
6. QUANTO AO SISTEMA: divide-se em principiológica e preceitual.
PRINCIPIOLÓGICA (ou aberta): prevalecem princípios, que são normas constitucionais com alto grau de abstração, focadas em valores e cuja concretização carece de norma regulamentadora (não demanda regulamentação pela legislação para adquirirem concretude). É o caso da CF/88, que tem como valor máximo o Princípio da Dignidade Humana.
PRECEITUAL: predominam as regras, consideradas normas constitucionais menos abstratas, voltadas para concretização dos princípios e de aplicação imediata. Como é a Constituição do México. Obs.: o ordenamento jurídico só de regras demasiadamente fechado. Ao mesmo tempo, só de princípios, é flexível a ponto de trazer insegurança jurídica. Por isso, atualmente, o sistema normativo é composto por regras e princípios. 
7. QUANTO À FUNÇÃO: pode ser classificada como provisória ou definitiva.
PROVISÓRIA (revolucionária/pré-constituição): tem como função primordial definir as regras de elaboração da constituição que pretende ser definitiva. Além disso, organiza o poder político durante esse período de transição. Ex.: Brasil, CF/1890 (transição monarquia para república).
DEFINITIVA: resulta do processo constituinte - instituída por prazo de duração indeterminado. 
8. QUANTO À FORMA DE ELABORAÇÃO: classificada como dogmática ou histórica.
DOGMÁTICA: elaborada a partir de dogmas, ideologias e teorias pré-concebidas e aceitas contemporaneamente. Esse tipo de constituição surge em um momento determinado no tempo, por intermédio de uma assembleia constituinte, sendo necessariamente escrita. A CF/88 é um exemplo de constituição dogmática: consagra o Estado Democrático de Direito. 
HISTÓRICA: elaborada de forma gradual (sem ruptura), por meio de um processo contínuo em que são reunidos, ao longo do tempo, aspectos históricos e tradicionais de uma nação. Ex.: Constituição Inglesa.
9. QUANTO À DOGMÁTICA: pode ser classificada como ortodoxa ou eclética. 
ORTODOXA: é aquela cujo conteúdo é baseado em apenas uma ideologia. A Constituição da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, de 1917, foi um exemplo de constituição ortodoxa, já que baseada exclusivamente na ideologia socialista.
ECLÉTICA: ao contrário da ortodoxa, é elaborada a partir da conjunção de várias ideologias, procurando conciliá-las entre si. Aproxima-se da chamada constituição compromissória, já que é também resultado de um compromisso entre as forças políticas e sociais.
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10. QUANTO À EXTENSÃO:
ANALÍTICA (prolixa, extensa ou longa): têm conteúdo extenso, tratando de matérias que não apenas organização do Estado. Contêm normas materialmente constitucionais, mas também formalmente constitucionais.
SINTÉTICA (concisa, sumária, ou curta): restringe-se a elementos substancialmente constitucionais. O detalhamento dos direitos e deveres fica a cargo de leis infraconstitucionais. 
11. QUANTO AO CONTEÚDO IDEOLÓGICO: busca identificar qual é o conteúdo ideológico que inspirou e prevaleceu na elaboração do texto constitucional. 
LIBERAIS (negativas): buscam limitar a atuação do poder estatal, assegurando as liberdades negativas aos indivíduos. Podem ser identificadas com as Constituições-garantia (liberdades individuais – Estado Mínimo). 
SOCIAIS (dirigentes): são constituições que atribuem ao Estado a tarefa de ofertar prestações positivas aos indivíduos, buscando a realização da igualdade material e a efetivação dos direitos sociais do Estado do Bem Estar Social. Trata-se de uma atuação positiva do Estado na efetivação do bem comum. Cabe destacar que a CF/88 pode ser classificada como social.
12. QUANTO À FINALIDADE: são classificadas como constituições garantia, dirigente ou balanço.
GARANTIA: seu principal objetivo é proteger as liberdades públicas contra as arbitrariedades e ingerências do Estado. Corresponde ao 1.º período de surgimento dos direitos humanos (liberdades individuais). Impõe limites à atuação do Estado na esfera privada e estabelece ao Estado o dever de não-fazer. 
DIRIGENTE (programática, compromissória): traça diretrizes que devem nortear a ação estatal, prevendo, para isso, as chamadas normas programáticas (projeto de Estado com um plano para dirigir uma evolução política). Corresponde às constituições sociais. A atual CF traz várias normas de princípio programático, como por ex.: arts. 3.º, 4.º, § único; 144; 196; 205 e 225.
BALANÇO: visareger o ordenamento jurídico do Estado durante um certo tempo, nela estabelecido. É a Constituição que, ao caracterizar uma determinada organização política presente, tem a finalidade de preparar a transição para uma nova etapa, para organização de uma nova forma de Estado. Ex.: Constituições da URSS e a Rússia pós-soviética. 
13. QUANTO À CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE: classificação ontológica, segundo a essência das constituições. 
NORMATIVAS: possuem força normativa para regular efetivamente o processo político do Estado, por corresponderem à realidade política e social, ou seja, limitam, de fato, o poder estatal. Típica dos regimes democráticos e do Estado de Direito. 
NOMINATIVAS: buscam regular o processo político do Estado, mas não conseguem realizar este objetivo, por não atenderem à realidade social. Há discordância entre as normas constitucionais e a realidade política. 
SEMÂNTICAS: não têm por objetivo regular a política estatal. Visam formalizar a situação existente do poder político, em benefício dos seus detentores (por isso, autoritárias). 
13. QUANTO À ORIGEM (LOCAL) DA DECRETAÇÃO: podem ser classificadas em:
HETEROCONSTITUIÇÕES: constituições elaboradas fora do Estado no qual elas produzirão seus efeitos. Ex.: Bósnia-Herzegovina (Iugoslávia).
AUTOCONSTITUIÇÕES: são constituições elaboradas no interior do próprio Estado que por elas será regido. A CF/88 é uma autoconstituição. 
Obs.: CONSTITUIÇÕES EXPANSIVAS: a CF/88 é classificada também como expansiva em função de temas novos e da ampliação conferida a temas permanentes, como a progressividade os Direitos Fundamentais, que pode ser observado em três planos: 
1. Conteúdo anatômico (estrutural): a CF é dividida em títulos, capítulos, seções, subseções, artigos da parte permanente e ADCT; 
 
2. Comparação constitucional interna: a CF/88 relaciona-se às constituições anteriores, podendo ser considerada extensão de cada uma delas. Esta comparação interna registra a dilatação e das matérias constitucionais e a evolução das constituições no tempo, como a progressividade na garantia de direitos fundamentais. 
3. Comparação constitucional externa: relaciona a CF/88 com as constituições estrangeiras. 
Características da Constituição de 1988: conforme os critérios acima, é classificada como uma constituição promulgada e democrática, escrita, analítica (prolixa), formal (por alguns, mista), dogmática; rígida (ou super-rígida, segundo alguns autores); reduzida (codificada), dirigente; eclética; normativa (pretende ser); autoconstituição (autônoma); definitiva, principiológica, social e expansiva. 
OBJETO E CONTEÚDO DAS CONSTITUIÇÕES 
O conteúdo das constituições é variável no tempo e no espaço. Quando surgiram as primeiras constituições escritas, o conteúdo limitava-se basicamente à estrutura do Estado, a organização dos poderes e a garantia de direitos fundamentais. Tratavam apenas de matérias constitucionais. 
Com o passar dos tempos e o desenvolvimento do constitucionalismo, houve ampliação do conteúdo das constituições, que levou a separação entre constituição em sentido formal e material. Assim, todos os conteúdo inseridos nas constituições, ainda que não se relacionem às matérias constitucionais, são considerados formalmente constitucionais. 
ELEMENTOS DAS CONSTITUIÇÕES
Os elementos da constituição são responsáveis por agrupar os dispositivos constitucionais tendo como base a finalidade de cada um deles. A definição mais completa desses elementos da Constituição foi elaborada por José Afonso da Silva, que identificou cinco categorias: orgânicos, limitativos, socioideológicos, de estabilização, de aplicabilidade. 
ELEMENTOS ORGÂNICOS 
Os elementos orgânicos da constituição relacionam-se aos dispositivos constitucionais que regulam a estrutura do Estado e do poder. Na CF/88, são exemplos: 
Título III – Da organização do Estado;
Título IV – Da organização dos Poderes e do Sistema de Governo;
Título V, Cap. II – Das Forças Armadas e Segurança Pública. 
ELEMENTOS LIMITATIVOS
Os elementos limitativos da constituição referem-se as normas protetoras dos direitos e garantias fundamentais e que limitam o poder do Estado. Na CF/88, são exemplos de elementos da constituição de caráter limitativo as normas dispostas no Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), com exceção do Capítulo II (Direitos Sociais – elementos socioideológicos).
ELEMENTOS SOCIOIDEOLÓGICOS
Incluem as normas que expressam o compromisso constitucional entre o Estado individualista (liberal) e o Estado intervencionista (social), como por ex.:
Título II, Capítulo II – Dos Direitos Sociais;
Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira; 
Título VIII – Da Ordem Social.
ELEMENTOS DE ESTABILIZAÇÃO DA CF
Os elementos de estabilização referem-se às normas voltadas à defesa da Constituição, do Estado e de suas instituições, bem como à solução de conflitos constitucionais, com vistas a garantir a paz social, por ex.:
Tít. V, Cap. I – Do Estado de Defesa e de Sítio;
Tít. III, Cap. V – Da Intervenção;
Tít. IV, Cap. I, Seç. VIII, Subseç. II
- Da Emenda à Constituição; Art. 102, CF/88.
ELEMENTOS DE APLICABILIDADE DA CONSTITUTIÇÃO
Incluem as normas constitucionais que regulam a sua aplicação. Na CF/88 são exemplos de normas que regulam sua aplicabilidade o Preâmbulo, os dispositivos do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias) e por fim o § 1.º do art. 5.º, segundo o qual as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
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SUPREMACIA E RIGIDEZ CONSTITUCIONAL
A rigidez constitucional e a supremacia da Constituição são requisitos essenciais para o controle de constitucionalidade. 
1. RIGIDEZ CONSTITUCIONAL: “decorre da maior dificuldade para a sua modificação do que as demais normas jurídicas da ordenação Estatal.” (J. Afonso). 
Ou seja, possui um processo legislativo solene que o processo legislativo de alteração de normas não constitucionais. A CF/88 é rígida, em razão das regras procedimentais previstas para a EC no art. 60, CF/88. 
Cabe ao Poder Constituinte Originário (único detentor de legitimidade para criar o novo Estado e a nova Constituição) estabelecer as limitações constitucionais ao Poder Constituinte Derivado Reformador.
Essas limitações constitucionais são de:
a) ordem material: cláusulas pétreas (art. 60, § 4.º);
b) ordem formal: observância das regras do processo legislativo constitucional (art. 60, inc. I, II e III, § 2.º, § 5.º);
c) ordem circunstancial: proibição de EC durante uma Intervenção Federal, Estado de Defesa ou Estado de Sítio (art. 60, § 1.º). 
Em um sistema de Constituição flexível e não escrita, como na Inglaterra, inviabiliza um sistema judicial de controle de constitucionalidade, na medida em que o Poder Constituinte Derivado Reformador continuará atuando como Poder Originário (soberano, ilimitado, incondicionado), pois não existem limitações materiais, formais ou circunstanciais. Trata-se da supremacia do Parlamento e, não, da Constituição.
2. SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO: superioridade hierárquica da Constituição em relação às demais normas do ordenamento jurídico. A Constituição Federal (Lei Suprema) coloca-se no vértice do sistema jurídico, irradiando sua eficácia às normas infraconstitucionais. A CF/88 está, portanto, no ápice da pirâmide, orientando e “iluminando” todo e qualquer ato infraconstitucional. 
Todas as normas do sistema jurídico infraconstitucional só serão válidas se estiverem de acordo com a CF/88. 
COMPATIBILIDADE VERTICAL: as normas de ordenação jurídica inferior somente têm validade se forem compatíveis com a Constituição ou princípios constitucionais, nos moldes da pirâmide de Kelsen.

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