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1 Propedêutica da Obesidade Definição Obesidade é uma doença crônica que se caracteriza principalmente pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. O número de pessoas obesas tem crescido rapidamente, tornando a doença um problema de saúde pública. Incidência No Brasil existem mais de 20 milhões de indivíduos obesos. Na população adulta, 12,5% dos homens e 16,9% das mulheres apresentam obesidade e cerca de 50% tem excesso de peso (sobrepeso). Causas A etiologia da obesidade é complexa e multifatorial, podendo ter causas: o Dietéticas o Sedentarismo (habitual, pós- operatório, envelhecimento) o Sociocomportamentais (pobreza, estresse, bulimia, cessação de tabagismo) o Iatrogênicas (medicamentos, cirurgia hipotalâmica) o Neuroendócrinas (hipotireoidismo, síndrome de Cushing, ovário policístico) o Genético (Síndrome de Down, Síndrome de Prader-Willy, obesidade familiar) o Perinatais (baixo peso ao nascimento, idade materna) Causas Dietéticas Porções grandes e de grande valor calórico fazem com que o indivíduo esteja mais propicio ao ganho de peso. A necessidade de se realizar refeições em um curto espaço de tempo atrapalha os mecanismos de saciedade. Redução de Gasto de Energia Indivíduos sedentários tem maior chance de serem obesos. Existem também evidências de que ficar mais tempo em uma zona termoneutra promove a adiposidade. Sociocomportamentais A maior taxa de aumento da obesidade ocorre em populações com maior grau de pobreza e menor nível educacional. Indivíduos que abandonam o tabagismo ganham de 5 a 6kgs. O casamento pode influenciar o ganho de peso, principalmente em mulheres. Há um aumento dos sentimentos de inferioridade e do isolamento social entre adultos e crianças obesos. O estresse pode ser tanto uma consequência da obesidade devido a fatores sociais e à discriminação com a causa da doença. Iatrogênicas O uso de medicamentos como corticosteroides, remédios para diabetes, antidepressivos e antipsicóticos, benzodiazepínicos e anticonvulsivantes, anti- hipertensivos, antirretrovirais e inibidores de protease predispõem o indivíduo a obesidade. 2 Neuroendócrinas O hipotireoidismo e o hipertireoidismo auxiliam no ganho de peso da pessoa, o primeiro com a redução do gasto energético, enquanto o segundo com o aumento do apetite. Outras doenças que também auxiliam o ganho de peso são a síndrome de Cushing, o hipopituitarismo e a síndrome de Down. Genéticas A obesidade comum tem herança poligênica, tendo assim uma tendência familiar. O risco de obesidade quando nenhum dos pais é obeso é de 9%, quando um deles é obeso é 50%, e quando os dois genitores são obesos é 80%. Perinatais Recém-nascidos pequenos para a idade gestacional têm maior tendência à obesidade na vida adulta, assim como o risco de obesidade na criança aumenta em cerca de 15% para cada incremento de 5 anos na idade materna. Sinais e Sintomas Os sinais e sintomas da obesidade são: acúmulo de gordura, apneia do sono, roncos, dificuldade para movimentar-se, dores no corpo, distúrbios frequentes do ciclo menstrual, infertilidade e impotência, varizes e úlceras, falta de condicionamento físico, ansiedade e depressão, alterações na pela, dermatite e infecções (principalmente por fungos). Anamnese História da Obesidade O diagnóstico de obesidade é clínico, baseado na história clínica e nutricional (quantitativa e qualitativa), no exame físico detalhado, que busca sinais relacionados a distúrbios nutricionais, e em dados antropométricos. Deve-se atentar para dados específicos, como a idade de início da obesidade, a relação do paciente com fatores desencadeantes, tentativas anteriores de tratamento e a percepção da família sobre o problema. Antecedentes Pessoais No paciente obeso os antecedentes pessoais são de grande importância. Deve-se atentar para dados como o peso ao nascer, ganho de peso no primeiro ano de vida, o uso de medicamentos e o uso de drogas, álcool e tabaco. Antecedentes Familiares As informações sobre familiares obesos e doenças associadas como hipertensão arterial, dislipidemias, diabetes, tabagismo, etilismo e doenças cardiovasculares, são pontos que devem ser explorados neste setor. Antecedentes Alimentares É importante saber o tempo de aleitamento materno e informações sobre a introdução alimentar complementar, juntamente com seus aspectos quantitativos e qualitativos. Hábitos Alimentares Um dos pontos mais importantes da anamnese são os hábitos alimentares. Nele obtêm-se informações sobre o dia alimentar habitual e/ou de 24 horas, além da frequência de consumo de alimentos. Dinâmica da refeição: onde é realizada, se ocorre com ou sem presença de pais e irmãos, em que ambiente, horários, intervalos, o tempo gasto, se ocorre repetição, se há 3 ingestão concomitante de líquidos, como é a mastigação. Comportamento e Estilo de Vida Nesta área é importante observar o comportamento do paciente com os familiares, colegas de escola, assim como seu rendimento escolar, e sempre tendo em mente que são cada vez mais frequentes os distúrbios psicossociais, como ansiedade, compulsão e depressão em indivíduos obesos. Deve-se pesquisar como o paciente vai para escola, a periodicidade e a duração das atividades físicas curriculares e extracurriculares que ele realiza. O tempo gasto com televisão, videogames e computadores e quais são as brincadeiras e atividades que ele prefere. Interrogatório sobre os Diversos Aparelhos Além dos temas habitualmente tratados, valorizar dados relacionados a: o Respiração oral, roncos, sibilância o Parada respiratória noturna, sono agitado o Fadiga ao esforço o Lesões de pele o Dor ou edema em articulações o Dor abdominal, retroesternal e hábito intestinal o Alterações menstruais o Alterações comportamentais Exame Físico No exame físico deve-se atentar ao peso, altura e circunferência abdominal, índice de massa corpórea, circunferência do braço, e pregas cutâneas tricipital e subescapular. Medição da prega cutânea tricipital: se mede na face posterior do braço, paralelamente ao eixo longitudinal, no ponto que compreende a metade da distância entre a borda súpero- lateral do acrômio e do olecrano. Medição da prega cutânea subescapular: se mede obliquamente em relação ao eixo longitudinal, seguindo a orientação dos arcos costais, sendo localizada a dois centímetros abaixo do ângulo inferior da escápula. Medição da circunferência abdominal: se marca, inicialmente, o ponto médio entre a última costela fixa (décima) e a borda superior da crista ilíaca, local onde a fita inextensível será colocada. Essa medida serve para a avaliação indireta da gordura visceral. Valores de referência: o Homens – até 94cm o Mulheres – até 80cm 4 Medição do IMC: peso/altura² Obs.: índices maiores que 25 estão relacionados a risco maior de aparecimento de doenças cardiovasculares e diabetes mellitus. Relação circunferência abdominal/quadril: esta relação serve para quantificar a distribuição de gordura no corpo. Quando o resultado é maior que 0,8 temos uma obesidade androide (1), e quando é menor que 0,8 temos uma obesidade ginecoide (2). Complicações A obesidade pode aumentar a tendência do indivíduo de adquirir certas doenças. Complicações metabólicas são diabetes melittus tipo 2 e dislipidemia. Complicações cardiovasculares são hipertensão arterial sistêmica (HAS), doença arterial coronariana (DAC), insuficiência cardíaca, trombose venosa, varizes, hemorroidas e AVC. Complicações respiratórias são: apneia obstrutiva do sono, asma e doenças virais (influenza e covid19). Complicações cutâneas são acantose nigricans, celulite, acne, estrias e hirsutismo. Complicações musculoesqueléticas são osteoartrose, genu valgo e gota. Complicações gastrointestinais são doença da vesícula biliar,esteatose hepática, doença do refluxo gastroesofágico e pancreatite aguda. Complicações urinárias são cálculo renal, incontinência urinária e insuficiência renal. Complicações reprodutivas são síndrome dos ovários policísticos, ciclos anovulatórios (infertilidade feminina), complicações na gestação, infertilidade masculina e disfunção erétil. Complicações psiquiátricas são transtorno depressivo e demência.