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RESUMO HISTRIA DA EDUCAO - AP1

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Aula 1 – História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica
Por que estudar História da Educação?
É fundamental estudar a história da Educação, atentando-se para alguns pontos fundamentais no que se refere ao papel desempenhado pela Educação nas diferentes organizações da sociedade: a relação entre Estado e sociedade civil, o papel do Estado e sua representatividade, o modelo educacional desenvolvido para os trabalhadores e o modelo desenvolvido para as elites e o ideal de homem cidadão. [...] Por todas estas questões levantadas, entendemos que não faz sentido estudar a história da Educação como sendo algo descolado da realidade, distante e sem sentido para nossa atividade diária de educadores. É preciso buscar o significado de cada acontecimento histórico dentro do conjunto de situações que determinaram cada contexto do qual a Educação é produto. Produto social, portanto, e que traz consigo as próprias contradições da sociedade. (DALAROSA)
Mas o que estamos denominando História da Educação? A História da Educação tem se configurado como docência/ensino e como pesquisa científica. Como docência/ensino refere-se à História da Educação como disciplina de um curso como este que você está fazendo - de Licenciatura em Pedagogia. Como pesquisa científica, busca a interpretação das fontes para melhor conhecer o passado educacional, não para “copiá-lo ou negá-lo”, mas para ampliar nossos conhecimentos e a capacidade de análise crítica da Educação do tempo presente.
Educação, História e História da Educação
Educação significa: 1. Ato ou efeito de educar (se). 2. Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social: Educação da juventude; Educação de adultos; Educação de excepcionais.
História significa:1. Narração metódica dos fatos notáveis ocorridos na vida dos povos, em particular, e na vida da humanidade em geral: a história do Brasil; história universal. 2. Conjunto de conhecimentos adquiridos através da tradição e/ou por meio dos documentos, relativos à evolução, ao passado da humanidade.
Mas qual o papel da Educação na sociedade?Dalarosa entende que, historicamente, cabe à Educação “o papel de socializar e formar o indivíduo para viver em sociedade”. Porém, para este autor, “o ser humano vive em condições históricas determinadas”, assim sendo, ao “mesmo tempo em que faz a história, é também, “feito” por ela”.
Heródoto “Pai da História”, apresenta ainda que a história é entendida como o estudo das origens e processos de uma arte, uma ciência ou de um ramo do conhecimento. Assim, exemplifica com a história da pintura e a história da medicina, e a estas duas acrescento a História da Educação.
Mas por que é importante estudar História da Educação?O conhecimento em história da Educação é altamente relevante para os estudos da sociedade de maneira geral. Podemos afirmar que conhecermos os processos e as práticas históricas é fundamental para ampliarmos nossa compreensão das maneiras, como, em tempos e espaços distintos, homens e mulheres organizaram e organizam seus modos de aprender e de transmitir seus fazeres e saberes.
História da Pedagogia e/ou História da Educação
Para Franco Cambi a história da pedagogia no sentido próprio nasceu entre os séculos XVIII e XIX e desenvolveu-se no decorrer deste último como pesquisa elaborada por pessoas ligadas à escola, empenhadas na organização de uma instituição cada vez mais central na sociedade moderna (para formar técnicos e para formar cidadãos), preocupadas, portanto, em sublinhar os aspectos mais atuais da Educação-instrução e as ideias mestras que haviam guiado seu desenvolvimento. A história da pedagogia nascia como uma história idelogicamente orientada, que valorizava a continuidade dos princípios e dos ideais, convergia sobre a contemporaneidade e construía o próprio passado de modo orgânico e linear. Tratava-se de uma história persuasiva, por um lado, e teoreticista, por outro, sempre muito distante dos processos educativos reais, referentes às diversas sociedades, diferenciados por classes sociais, sexo, idade; distantes das instituições em que se desenvolviam (a família, a escola, a oficina artesanal e, em seguida, a fábrica, mas também o seminário ou o exército etc.); distante das práticas de Educação ou de instrução, das contribuições das ciências, sobretudo humanas, para o conhecimento dos processos formativos (em primeiro lugar, psicologia e sociologia).
É a partir dos anos de 1970, que um novo modo de fazer a história dos eventos pedagógicos e educativos vai se consolidando, rompendo com o que então estava instituído. Dessa forma, vai se impondo uma pesquisa mais problemática e pluralista, podendo ser definida, então, como a História da Educação que toma “a noção de Educação, seja como conjunto de práticas sociais, seja como feixe de saberes”.
Desde a metade dos anos 70, a passagem da história da Pedagogia para uma mais rica e orgânica história da Educação tornou-se explícita, insistente e consciente, afirmando-se como uma virada decidida e decisiva. E não se tratou de uma simples mudança de rótulo; pelo contrário: tratou-se de uma verdadeira e legítima revolução historiográfica que redesenhou todo o domínio histórico da Educação e todo o arsenal de sua pesquisa. Esquematizando, podemos dizer: passou-se de um modo “fechado” de fazer história em Educação e pedagogia para um modo “aberto”, consciente da riqueza/complexidade do seu campo de pesquisa e da variedade/articulação de métodos e instrumentos que devem ser usados para desenvolver de modo adequado o próprio trabalho.
A História da Educação como disciplina escolar
Conforme Diana Gonçalves Vidal e Luciano Mendes de Faria Filho, em 1928, a disciplina História da Educação surgia: no contexto das reformas [educacionais] que, nos anos 1920,pretendiam modificar a Educação nacional, introduzindo princípios da escola ativa, posteriormente aglutinados em torno do ideal da Escola Nova, no ensino primário e elevando o preparo docente pela ampliação e especialização do curso Normal.
A História da Educação era ministrada no quinto ano do curso, ao lado de Sociologia, Higiene, Puericultura (Área médica que se dedica ao cuidado de crianças e adolescentes em desenvolvimento.), Didática, Pedagogia e Trabalhos Manuais. Entre os professores da nova disciplina na Escola Normal, no Rio de Janeiro, destaca-se Júlio Afrânio Peixoto, menos por isso do que por ter sido o autor do primeiro manual didático brasileiro sobre História da Educação, publicado em 1933.
Entretanto, na leitura de Dermeval Saviani, não foi no decreto de criação do curso de Pedagogia, baixado por Capanema, em 1939, que a vinculação da História da Educação à Filosofia da Educação ocorreu efetivamente. Segundo Saviani, “pelo referido decreto, o currículo de Pedagogia incluía História da Educação no segundo e terceiro anos, e Filosofia da Educação apenas no terceiro ano, sendo, pois, tratadas como duas disciplinas distintas e autônomas entre si”.
Gustavo Capanemadiz que, somente pela instituição da Lei Orgânica do Ensino Normal, através do Decreto-lei nº 8.530, de 2 de janeiro de 1946, irá aparecer no currículo do curso normal a disciplina denominada História e Filosofia da Educação, sendo adotada também no curso de Pedagogia da Universidade de São Paulo – USP.
A trajetória da História da Educação como disciplina do curso de Licenciatura em Pedagogia, na modalidade presencial, da Unirio.
Em sua origem, a História da Educação, ao lad a Educação, por isso, obrigatória.
No caso da Unirio, a História da Educação estará desde o primeiro curso de Pedagogia presencial na Unirio até é o último criado, em 2011, o curso de Licenciatura em Pedagogia no período vespertino. No currículo do primeiro curso de Pedagogia presencial na Unirio, em 1987, o ensino de História da Educação especificamente irá aparecer no 1º período como componente curricular História da Educação I. Sua ementa era: “O significado da Educação através da história:os diferentes contextos políticos econômico-sociais e o papel da Educação. A Pedagogia Liberal. A Pedagogia do Conflito”; no 2º período, História da Educação II, tendo como ementa: “O pensamento pedagógico de autores que influenciaram a prática da Educação até nossos dias, em especial no contexto da Educação brasileira”; e ainda as disciplinas História das Ideias Educacionais e História das Instituições Escolares.
A trajetória da História da Educação como disciplina do curso de Licenciatura em Pedagogia, na modalidade a distância, da Unirio.
No primeiro momento do curso, os conteúdos referentes à História da Educação ficaram distribuídos nos diversos livros elaborados para as disciplinas Fundamentos I, II, III e IV, juntamente com os conteúdos de Psicologia, Sociologia, Antropologia e Filosofia da Educação. Estas disciplinas, com carga de 60 horas, são distribuídas nos quatro primeiros períodos do curso.
Com uma reforma curricular em 2008, foram extintas as disciplinas de Fundamentos da Educação e criadas disciplinas específicas, entre elas, História da Educação. Com carga de 60 horas, esta disciplina é ofertada no 2º semestre do curso, sendo sua ementa elaborada pela “Comissão de Alteração/Reforma Curricular”.
O que estuda o historiador da Educação e como ele pesquisa?
O historiador da Educação estuda e pesquisa, por exemplo, a história das instituições escolares e educacionais, o próprio ensino de História da Educação, a história da Educação feminina, a história da formação docente, o ensino das disciplinas escolares. Para isso, é necessário que o historiador da Educação tenha direções metodológicas em busca de fontes documentais, sejam elas escritas ou não. No início, apenas os documentos oficiais escritos eram considerados fontes para o historiador.
Assim como o historiador, o historiador da Educação também se utiliza de fontes documentais:
• Escritas Textuais (manuscritas ou impressas) – como atas, leis e regulamentos, pareceres, cartas, memorandos, diários, biografias, jornais, revistas, discursos, mapas de notas, correspondência, cadernos escolares, relatórios, processos, dossiês de alunos e professores, entre tantas outras possibilidades;
• Iconográficas - carte de visite, daguerreotipo, negativo de vidro, cartão postal, fotografias, charges, caricaturas, desenhos, estampa, telas, incluindo também a documentação cartográfica como mapas, plantas, croquis;
• Documentação audiovisual – fonográfica, micrográfica, eletrônica, multimeios como filmes, discos, CD-Rom, DVD, fitas magnéticas, microficha;
• Fontes orais – por meio de entrevistas e depoimentos.
A documentação conservada em arquivos, entre estes os arquivos escolares, museus, bibliotecas, centro de documentação são ferramentas fundamentais para que a narrativa do historiador da Educação possua argumentos.Mas o historiador da Educação também se tem utilizado do uso das tecnologias da informação e comunicação. Isso possibilita a consulta rápida a bancos de dados de bibliotecas, arquivos, museus e centros de documentação, disponibilizados via internet. Assim, é possível acessar fontes documentais, iconográficas, audiovisuais, entre outras. Por exemplo, no momento pesquiso sobre a história da Educação e formação das mulheres no ensino superior desde o século XIX ao XX. Para isso, estamos consultando, via web, as páginas do Arquivo Nacional e da Biblioteca Nacional, entre outras possibilidades de busca das fontes antes da visita às instituições onde estão localizados os acervos.
O que é Historiografia da Educação?
A historiografia da Educação é a arte de escrever a história da Educação; é o estudo histórico e crítico acerca da Educação e dos educadores. Para Lombardi, historiografia é: um campo de estudo que tem por objeto de investigação as produções históricas e por objeto de estudo o educacional. Apesar de ser um campo recente, a historiografia da Educação praticamente reproduziu as características da produção historiográfica, com trabalhos onde a produção no campo da história educacional é de caráter descritivo, com ênfase nos aspectos formais da produção (tema, período, fontes, etc.); mas também possuindo alguns trabalhos que fazem uma análise dessa mesma produção a partir de seus pressupostos metodológicos e teóricos”.
Aula 2 – educação no mundo moderno
Contextualização Histórica: os Principais Pressupostos da Modernidade
Era necessário mudar a linha cultural da educação, porque vinha surgindo lentamente um homem que precisava mudar o modo de trabalhar; passava-se da produção artesanal para a manufatura; precisava ser instruído; a política deveria ser conduzida não apenas por aqueles que herdavam o poder por laços de sangue, mas por aqueles que demonstrassem astúcia e sagacidade na arte de comandar. A ignorância começa a ser vista como um mal que devia ser sanado, porque a prosperidade de um país dependia de homens instruídos. (MARTINS)
A Modernidade representa uma ruptura geográfica, econômica, político, social, ideológica, cultural e pedagógica. Como marcos importantes, podemos destacar a queda do Império do Romano, em 1453, marcando o fim da Idade Média, e a descoberta da América em 1492. Nesse período, a Europa se abre para o mundo com a intensificação do comércio e a instituição da colonização política e religiosa. A cultura também se altera e produz uma profunda transformação no Homem e nas cidades.
Conforme Cambi, este novo modo de produção vai ser responsável pela exploração de todo recurso natural, humano e técnico. Uma das principais rupturas políticas ocorridas foi a instituição do Estado Moderno centralizado, controlado pelo rei soberano e organizado com a racionalidade de eficiência e da prosperidade econômica. A nova classe social que surge com essas transformações é a burguesia, que além de nascer nas cidades e incentivar o nascente sistema capitalista de produção, concebe uma visão do mundo laica e racionalista.
As transformações ideológicas e culturais produzidas pela Modernidade têm a função de modificar a mentalidade até então vigente e promover a história do homem com a nova visão de progresso e liberdade. Principalmente, tentar modificar a visão religiosa do mundo e dos saberes da razão, que existia anteriormente, promovendo uma visão mais analítica e experimental.
As questões do cotidiano passaram a ser valorizadas, aumentando o interesse com o corpo e com a natureza.
Procurava-se afastar o pensamento teocêntrico (Deus é o centro do universo) e valorizar os valores antropocêntricos (o homem é o centro do universo). Como exemplos, podemos citar os estudos da medicina que ampliaram os conhecimentos de anatomia. 
A escola, por sua vez, torna-se o lugar central e funcional da sociedade, seja através da ordem e da produtividade, seja através da criação de competências necessárias ao novo modo de produção capitalista. As teorias pedagógicas, também mudam, levando em consideração a implicação histórica e empírica. Valoriza-se, sobretudo, o estudo analítico e experimental. Nesse período da Modernidade, nasce a Pedagogia não só como ciência, mas também como pedagogia social, cuja função é formar o homem-cidadão e produtor. Estamos falando da passagem do mundo medieval ao mundo moderno, para isso a escola e a família são instituições sociais privilegiadas:Duas instituições educativas, em particular, sofrem uma profunda redefinição e reorganização na Modernidade: a família e a escola, que se tornam cada vez mais centrais na experiência formativa dos indivíduos e na própria reprodução (cultural, ideológica e profissional) da sociedade. A ambas é delegado um papel cada vez mais definido e mais incisivo, de tal modo que elas se carregam cada vez mais de uma identidade educativa, de uma função não só ligada ao cuidado e ao crescimento do sujeito em idade evolutiva ou à instrução formal, mas também à formação pessoal e social ao mesmo tempo. As duas instituições chegam a cobrir todo o arco da infância-adolescência, como ‘locais’ destinados à formação das jovens gerações, segundo um modelo socialmente aprovado e definido (CAMBI).Logo, assim como a família, a escola deve ser o local onde se instrui, forma e que ensina comportamentos e conhecimentos. Ela deve se articular em torno da didática e da disciplina escolar. Ela é proveniente da disciplina religiosa que busca a perfeição ética. Dessa forma, a família e a escola assumem um papel central na sociedade moderna, ampliando os seus âmbitos para o trabalho, através das novas fábricas, assim como o controle do tempo livre através do associacionismo. Os conteúdos escolares são procurados nas obras clássicas e o estudo do latim e do grego era necessário para novas descobertas. O homem educado devia ter um equilíbrio entre mente e corpo.
Leia com bastante atenção o que diz Angela Maria de Souza Martins sobre a necessidade de instituição da escola no mundo moderno. A institucionalização da escola na Idade Moderna tem como fatores determinantes as mudanças socioculturais, econômicas e políticas que ocorreram a partir do século XVI, já sinalizadas: a implantação do modo de produção capitalista, a Reforma protestante, a Contra Reforma feita pela Igreja Católica Apostólica Romana e a instauração da visão humanista.
Reforma Protestante e a Instituição da Escola Moderna
Da segunda vertente, nasce o movimento Protestante que utilizará Princípios do Humanismo para questionar as crenças e práticas religiosas da Igreja Católica Apostólica Romana, entre elas o autoritário do poder papal. Assim, a Reforma Protestante está inserida no contexto das novidades oriundas do Renascimento. Foram três Movimentos principais que representaram a ruptura sustentada em interesses políticos nacionalistas e econômicos: luteranismo, calvinismo e anglicanismo.
De acordo com Lutero, o que contraria a razão contraria também a Deus. Por isso, cada homem deveria interpretar as Sagradas Escrituras de acordo com a sua consciência. Ele reivindicava:
• uma reforma educacional em todos os níveis de ensino, do elementar à universidade;
• uma educação que não fosse monacal, antimundana e rígida;
• um sistema de ensino estatal;
• a obrigatoriedade do ensino, que teria como ponto central a formação religiosa.
Os protestantes se opunham à Igreja Medieval e sugeriam a consulta direta ao texto bíblico a fim de estabelecer um vínculo direto entre Deus e o devoto. Esse movimento tem origem com os movimentos populares heréticos. A sociedade não queria mais a intermediação dos padres - como era tradição. É, portanto, um movimento que envolve os reformadores e os movimentos heréticos, lutando pela instrução e a democracia do seu tempo. 
A propagação do Protestantismo ressaltou a necessidade de alfabetizar e de transmitir conhecimentos através da instrução devido a vários motivos: para os protestantes, todas as pessoas deviam ler e interpretar a Bíblia sem a mediação do clero; para os capitalistas, era preciso empregados com um mínimo de instrução, para que as tarefas fossem melhor executadas na manufatura e no comércio. 
Qual a importância da institucionalização da escola no mundo moderno? É importante compreender a importância do movimento cultural do Renascimento, da Reforma e da Contrarreforma para o processo de institucionalização da escola no mundo moderno. Vale destacar que o modo de produção capitalista em ascensão vai criando caminhos para a consolidação da instituição escola tendo em vista a importância que a instrução escolar ganhou a partir do século XVI, ou seja, como possibilidade de formação desse novo Homem que se constituía por meio de uma disciplina rigorosa. Assim, era preciso separar crianças do mundo adulto para que não fossem influenciadas por uma concepção de mundo “atrasada”, apresentando valores e saberes do novo mundo que se constituía e nada melhor do que se criar uma instituição laica para isso – a escola.Como podemos constatar, a educação religiosa proposta pela Reforma Protestante proporcionou um grande avanço educacional. 
A Contrarreforma: a Reação da Igreja Católica e a Companhia de Jesus
A Contrarreforma marca a forte oposição da Igreja Católica à propagação da Reforma Protestante. Foi instituído o Concílio de Trento que dava as diretrizes educativas da Igreja Católica Apostólica Romana, como resposta ao Protestantismo. Propuseram a disseminação de seminários para a formação do clero e surgiram novas ordens religiosas que deveriam se espalhar pelo mundo para consolidar a evangelização católica. Neste sentido, entre as importantes deliberações, o Concílio permitiu o funcionamento da Companhia de Jesus, em 1540, criou o Índex que proibia com dez ‘regras’, várias espécies de livros, principalmente os chamados livros heréticos, além de dar mais autoridade à Inquisição.
A Inquisição teve mais autoridade para investigar e castigar os desvios que iam de encontro às determinações da Igreja Católica. Também recomendou a criação de escolas e reorganizou as escolas católicas, não só as escolas das igrejas metropolitanas (catedrais), como também as dos mosteiros e conventos, promovendo melhorias. Autorizou o ensino da gramática no ensino secundário e estabeleceu que a instrução fosse gratuita aos alunos pobres, com o objetivo de formação de associações para o ensino religioso e a catequese. Instituiu também os seminários, para educar religiosamente os novos sacerdotes. Segundo essa mentalidade, “a idade juvenil, se não for bem orientada, é levada a seguir os prazeres do mundo”.
Desse modo, o exemplo mais importante recomendado pelo Concílio de Trento foi o das escolas dos jesuítas. Além de formar seus próprios quadros, eles se preocupavam em formar classes dirigentes na sociedade. O objetivo principal dessas medidas era a adoção de procedimentos fundamentais para garantir o poder do papa e os princípios da fé. Outra medida adotada pela Contrarreforma foi um maior incentivo à Inquisição, sobretudo em Portugal e Espanha e suas colônias, entre elas o Brasil.
O Colégio dos Jesuítas foi a mais importante, não só por ter influenciado a educação da escola tradicional europeia, como também pela influência na formação do brasileiro. A Companhia de Jesus teve um papel fundamental nesse processo, daí o nome jesuítas. Os jesuítas não ficavam confinados em conventos; eles se misturavam aos fiéis pelo mundo. Ela atuou principalmente na colonização dos índios da América Portuguesa e Espanhola, como também na Ásia e na África. Sua principal função era organizar a Igreja Católica, contra as ideias da Reforma Protestante. Desta forma, criaram vários colégios destinados aos filhos dos colonos brancos. Estabeleciam uma disciplina militar e seus principais objetivos eram a luta contra os heréticos e infiéis, além de propagar a fé missionária.
Principais Críticas ao Ensino Jesuítico
Uma das oposições mais comum é o fato de eles não se preocuparem com o ensino científico, privilegiando apenas o clássico religioso. Outro defeito apontado foi a não utilização do idioma nacional, o que facilitaria o entendimento dos estudantes. Criticavam-se também as normas rígidas impostas. As pessoas eram vigiadas o tempo todo. Elas não só não se adaptavam às condições locais, como eliminavam a espontaneidade, ou seja, a educação se dava de forma passiva. Este tipo de ensino foi importante para os filhos das elites, que eram preparados para as grandes universidades. No entanto, era muito pouco eficiente para os filhos das classes mais pobres do ensino elementar. “Quanto ao conteúdo, não houve inovação, os alicerces epistemológicos estavam ‘fincados’ na filosofia medieval de Santo Tomás de Aquino”.
Conforme Maria Lúcia de Arruda Aranha, com um ensino ainda muito escolástico, os jesuítas deixavam de fora os pensamentos filosófico e científico modernos.
A crítica principal ao ensino ministrado pela Companhia de Jesus era quanto à questão decadente e ultrapassada. Desse modo, era um ensino que distanciava os alunos da vida prática, ou seja, da formação de um homem proveniente do saber na revolução nas ciências e nas técnicas para transformar o mundo. Era necessário o conhecimento crítico, a pesquisa e a experimentação.
A polêmica quanto ao ensinojesuítico também chegou ao Brasil. O primeiro-ministro de Portugal, o marquês de Pombal, em 1759, expulsou os jesuítas de todas as colônias portuguesas, inclusive do Brasil. Por ora, não podemos concluir esta aula sem lhe apresentar João Amós Comênio, educador e pedagogo protestante que contribuiu com suas ideias para a institucionalização da escola no mundo moderno.
A Didática Magna de Comenius
Conhecido como o Pai da Didática Moderna, para Comênio, a escola deveria ser um “lugar de formação de saberes; de honestidade”. A educação deveria se realizar sem que houvesse “traços de severidade ou castigos físicos”. O conteúdo da escola primária deveria envolver a leitura, a escrita, o cálculo, meditação, os cantos de melodias conhecidas, os salmos e hinos sagrados. Sua principal obra foi a Didática Magna, de 1633 ou 1657, também conhecida como Tratadoda arte universal de ensinar tudo a todos, ainda hoje estudada. A obra versa sobre a maneira de ensinar todas as coisas para todas as pessoas, de ambos os sexos.
Texto 3 – As condições de trabalho docente nos diferentes tempos históricos do século XVII ao século XIX
Ariès, ao historiar o aparecimento dos primeiros professores LEIGOS, descreveu como era o ambiente em que esses professores trabalhavam. Eles não tinham ainda um local institucionalizado para ministrar as suas aulas e, às vezes, alugavam uma sala para lecionar. Eram iniciativas esparsas, mas faziam um contraponto com os estudos clássicos e o ensino religioso da época. Essa nova concepção de professor e de escola estava estreitamente vinculada a um processo de REURBANIZAÇÃO que se efetivava nos séculos finais da Idade Média, com o desenvolvimento de cidades e o aparecimento de uma nova categoria social, a burguesia, que vivia nos burgos e se dedicava ao comércio ou a uma atividade prática.
Essas ESCOLAS LAICAS não se desenvolveram de imediato porque ainda não estavam dadas as condições culturais, sociais, políticas e econômicas para a sua disseminação. Essas condições vão sendo construídas lentamente entre os séculos XIII e XVI. Nesse período, começou a ser gerada uma concepção humanista de mundo, construindo-se uma nova visão de homem e de instrução.
A partir do século XVI, as atividades econômicas começaram a se concentrar nas cidades e ampliou-se o comércio, o que facilitou a formação de uma civilização urbana, que exigiu um novo tipo de educação, de escola e, consequentemente, de professor. Nesse período, com a implantação do capitalismo, gradativamente foi se estabelecendo uma nova forma de trabalho, que exigia um razoável nível de instrução, por isso foi necessária a criação de uma instituição escolar que preparasse as pessoas para o mundo do trabalho e a vida urbana. Essa nova realidade criou uma exigência: a preparação de professores que pudessem dar conta dessa realidade.
O TRABALHO DOCENTE ENTRE OS SÉCULOS XVII E XIX
Apesar do processo de instauração do modo de produção capitalista a partir do século XVI e da exigência de um novo tipo de instituição escolar e de professor, muitos anos se passaram para que se consolidasse uma nova modalidade de escola e de professor porque, até o final do século XVII, o ato de educar permaneceu como uma tarefa da Igreja. Construiu-se uma concepção de professor que devia unir vocação e sacerdócio.
Nesse período trava-se, na Europa, a luta entre a Igreja Protestante e a Igreja Católica Apostólica Romana. Havia também a disputa entre os interesses burgueses e os interesses da aristocracia. A Igreja ainda mantinha o controle sobre a educação e a maioria dos professores era composta de sacerdotes.
A partir do século XVI, surgiu a necessidade de abrir escolas para camadas mais amplas da população e o clero não podia atender a essa demanda, por isso foi necessária a colaboração de professores leigos. De acordo com Kreutz, inicialmente esses professores “deveriam fazer previamente uma profissão de fé e um juramento de fidelidade aos princípios da Igreja”. Assim, professor era aquele “que professa(va) fé e fidelidade aos princípios da instituição e se doa(va) sacerdotalmente aos alunos, com parca remuneração aqui, mas farta na eternidade”. Essa concepção de magistério que unia vocação e sacerdócio atravessou séculos.
Entre os séculos XVII e XVIII, as discussões educacionais foram marcadas pela luta por uma escola laica e estatal, buscava-se a libertar a escola de seus laços religiosos. Os professores deveriam ser formados em escola normais laicas e se tornarem funcionários do Estado.
O contexto socioeconômico do século XIX caracterizou-se pelo fortalecimento da indústria, pela formação dos Estados Nacionais e o triunfo da Ciência. A industrialização muda as relações de trabalho e o processo de urbanização. O homem era considerado livre para vender sua força de trabalho, mas deveria se submeter às regras de trabalho e assalariamento da produção fabril. Para executar as suas tarefas precisava ter instrução e saber dividir racionalmente sua tarefa com outros. Como a produção fabril concentrava-se em centros urbanos, deveria aprender uma nova consciência de civilidade urbana, o que também era um processo educacional. Essa mudança nas relações de trabalho também atingiu o trabalho docente, por isso, no século XIX, o trabalho do professor começou a passar por mudanças significativas, tornando-se mais complexo e controlado pelo Estado.
Sugiram, nos meados do século XIX, movimentos de professores que defendiam os princípios liberais e lutavam por uma organização profissional. Eles buscavam a autonomia da categoria e libertação frente à tutela do Estado e da Igreja. Contudo, cada vez mais, ao longo do século XIX, o trabalho docente foi sendo controlado pelo Estado.
O professor tinha a missão de formar o povo para uma vida útil e moral, por isso, ele deveria ser o sacerdote laico. Assim, o trabalho docente se vê diante desse dilema de um lado a reivindicação de uma formação profissional nas escolas normais que lhe conferisse competência e erudição para ensinar e, de outro, o seu papel de sacerdote laico, que deveria cumprir uma missão sagrada, a de ensinar. 
Nas décadas finais do século XIX, a profissão docente foi se tornando um ramo do serviço público, cada vez mais o Estado passa a se encarregar das instituições escolares, controlando o trabalho docente, para que este garantisse o fortalecimento da ordem econômica e social. Torna-se importante ressaltar que os professores não foram apenas instrumentos manipulados pelo Estado, reprodutores de sua ideologia e da ordem estabelecida, eles também lutaram por melhores condições de trabalho, pela sua profissionalização e pela qualidade da sua formação. Eles encamparam a luta pelo ensino público e laico, pela valorização da profissão e buscaram formar associações profissionais que mudassem as condições do trabalho docente.No século XIX, apareceram movimentos sociais que lutaram pela melhoria da educação e das condições do trabalho docente, principalmente o movimento socialista e as organizações docentes. Esses movimentos denunciavam as condições precárias dos prédios escolares, o número excessivo de alunos em sala de aula, a excessiva burocracia do Estado no sentido de controlar o trabalho docente, a qualidade da formação dos professores e os baixos salários.
No Brasil, as escolas normais também foram instituições escolares importantes para a profissionalização do professor e, na segunda metade do século XIX, apareceram várias Escolas Normais, com o intuito de fornecer o conhecimento necessário para a profissionalização dos professores. Um dos principais alvos de críticas era a improvisação de professores no Brasil, pois esse profissional deveria ser uma peça importante na consolidação da nação brasileira, para fazê-la ingressar na modernidade. O trabalho docente, no Brasil, também foi visto como uma tarefa vinculada à imagem do sacerdote e do missionário. O professor deveria exercer sua profissão tendo em mente que deveria transmitir valores morais e hábitos próprios de uma sociedade moderna e civilizada. Além disso, no Brasil,era necessário consolidar valores próprios da nação brasileira. Mas, apesar desse papel importante, sabemos que as condições materiais oferecidas para o trabalho do professor eram bastante precárias. Somente após a Proclamação da República começamos ações efetivas, mas ainda precárias, no sentido de organizar e controlar as instituições escolares.
Aula 4 – A formação do educador no Brasil (1835-1932)
As condições sócio históricas que possibilitaram o aparecimento das primeiras escolas normais no Brasil
No mundo contemporâneo, a escola tornou-se uma instituição importante, um local que tem como finalidade transmitir conhecimentos para reproduzir ou transformar normas sociais e políticas. Por meio de suas práticas e conteúdos pedagógicos, ela cria uma cultura pedagógica responsável pela construção da identidade daqueles que a frequentam. Por isso, as Escolas Normais, desde o momento de sua criação, têm sido responsáveis pela elaboração de normas e práticas educativas para construir a identidade do professor.
As Escolas Normais começaram a aparecer no Brasil a partir da terceira década do século XIX. Em 1835 em Niterói, em 1836 na Bahia, em 1845 no Ceará e em 1846 em São Paulo. Até então, um dos principais problemas da Educação Brasileira era a existência de professores improvisados, com péssima formação e mal remunerados. Não existiam projetos consistentes visando à ampliação da escolaridade elementar e, consequentemente, não havia uma proposta de qualificação do professor.
Mas o quê, então, provocou a proliferação de Escolas Normais no Brasil, a partir da década de 1930 do século XIX? Nesse período, o país passava por uma forte efervescência no campo político-cultural. D. Pedro I tinha abdicado, o Brasil estava independente politicamente, mas precisava consolidar a soberania nacional por meio de um Império que mostrasse uma face mais brasileira do que portuguesa. É um momento de intensa movimentação de ideias, quando surge a luta entre o grupo da reação que pretendia uma espécie de recolonização do Brasil e o grupo que lutava pela consolidação da autonomia brasileira.
Nesse momento, podíamos detectar três tendências político-sociais: Os conservadores representavam os interesses do primeiro Império brasileiro, cujo representante era D. Pedro I. Defendiam o despotismo português, mas com a abdicação de D. Pedro I, em 1831, e sua morte, em 1834, essa tendência entrou em decadência. Os liberais exaltados sonhavam com os ideais da Revolução Francesa, lutavam pela igualdade e pela liberdade, com efetiva aplicação desses ideais numa monarquia constitucional ou em uma assembleia popular. Essa facção começou a incomodar, tornando-se uma ameaça; temia-se uma revolta de caráter mais popular. Assim, ganharam expressão os liberais moderados, que propunham um liberalismo dentro da ordem para construir uma nação harmônica e equilibrada.
Coube à província do Rio de Janeiro a primazia na implementação da primeira Escola Normal das Américas. Em 1835, no município de Niterói, promulgou-se a Lei nº 10/1.835, que organizou o Ensino Normal e estabeleceu as normas para aqueles que pretendiam se candidatar à Escola Normal. Deveria ser cidadão brasileiro, maior de dezoito anos, com boa morigeração (art. 4º) e que soubesse ler e escrever. A boa morigeração relacionava-se com a boa conduta, à moral e aos bons costumes. Chama-nos a atenção o destaque dado à moral e à boa conduta, que deveriam ser avalizadas por um juiz de paz, e as poucas exigências com relação à instrução: apenas ler e escrever. Havia uma preocupação explícita na formação de um professor que pudesse conduzir a mocidade segundo os princípios da ordem e da boa conduta.
Nas discussões parlamentares do Império, alguns deputados defendiam a necessidade de formar professores que pudessem disseminar a ordem e a civilidade. A formação intelectual do professor não foi uma preocupação efetiva desse primeiro projeto de Escola Normal no município de Niterói. Na verdade, a intenção era a formação de professores que pudessem difundir nas camadas populares a civilidade e a ordem, impregnar a sociedade com uma espécie de moral universal.
A Escola Normal do município de Niterói deveria ser um centro formador de professores que teriam a missão de auxiliar na ordenação moral da sociedade. Essa preocupação parece ser uma constante, no século XIX, em outros projetos de Escolas Normais no Brasil.
Quanto à mulher que se dispunha a educar, as exigências morais atingiam a vida privada. No artigo 16 da Lei Couto Ferraz, de 1854, estão as condições exigidas para que uma professora pudesse lecionar: As professoras devem exibir, de mais, se casadas, a certidão do seu casamento; se viúvas, a do óbito de seus maridos; e se viverem separadas destes, a pública sentença que julgar a separação, para se avaliar o motivo que a originou. As solteiras só poderão exercer o magistério público tendo 25 anos completos de idade, salvo se ensinarem na casa dos pais e estes forem de reconhecida moralidade.
Além de atestados, folhas corridas e certidões, o professor deveria apresentar um vestuário decente, porque sua aparência também atestava sua boa conduta e moralidade. Assim, até praticamente o final do século XIX, a tarefa do professor deveria ser a condução moral, principalmente das camadas populares. Intenção que, desde a primeira metade do século XIX, estava explícita nos documentos de alguns dirigentes de província. No relatório de 1839, o presidente da província do Rio de Janeiro, Paulino JoséSoares de Souza, sugeria: é preciso, portanto, juntar à instrução primária a educação e educar o povo, inspirar-lhe sentimentos de religião e moral, melhorando-lhe assim, pouco a pouco, os costumes.
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO RIO DE JANEIRO (1874-1932)
A Escola Normal Livre foi a primeira experiência do Município da Corte do Rio de Janeiro para formar professores mais qualificados. Funcionou de março de 1874 a 20 de dezembro de 1875; era particular, mas recebia subsídios do governo; por isso seu ensino era gratuito. Em 1876, por meio do decreto nº 6.379, o ministro do Império José Bento da Cunha Figueiredo tentou instalar Escolas Normais públicas: uma, em regime de externato, para professores, e outra, em regime de internato, para professoras primárias.
Mas a Escola Normal, pública e gratuita, do Município da Corte do Rio de Janeiro, concretizou-se somente em 1880.Por meio do decreto nº 8.025, de 16 de março de 1881, regulamentou-se finalmente toda a estrutura da Escola Normal do Rio de Janeiro; é interessante observar que esse grau de ensino compreendia dois cursos: o de ciências e letras e o de artes. Esses cursos eram ministrados em quatro séries. Observamos uma tentativa de conceder ao professor uma formação de caráter científico.
A partir do final do século XIX e no início do século XX, observamos uma dupla preocupação no processo de formação do professor: a profissionalização e uma nova formação moral e social daquele que pretendia ensinar. Nas discussões educacionais estava presente a preocupação com o despreparo, o desprestígio e a improvisação dos professores que deveriam atuar na escola elementar.
Os debates realizados na década de 20 do século XX pela Associação Brasileira de Educação (ABE), e as reformas educacionais realizadas por Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira têm como pano de fundo uma mudança profunda e significativa da escola elementar e, consequentemente, na formação de seus educadores. A tarefa de educar não podia ser atribuída a qualquer pessoa. Precisava-se de educadores com visão intelectual e social, com eficiência e técnica apurada. Nesse período, havia uma profunda crença no poder transformador da escola, e o educador seria um mediador dessa transformação. As Escolas Normais deveriam ser instituições que promoveriam uma cultura pedagógica para mudar a mentalidade com relação à escola elementar e, principalmente, a formação do educador. Era preciso criar procedimentos pedagógicos que mudassem o perfil do professor. A busca de uma nova identidade para o professor estava emconsonância com uma mudança nos padrões culturais brasileiros.
Nas décadas de 1920 e 1930 do século XX, acreditava-se que a escola podia transformar o homem, e essa transformação podia reformar a sociedade. O indivíduo transformado pela escolarização era importante no processo de construção da prosperidade do país. A escolarização assumiu um caráter regenerador, tornando-se um dos veículos para a reconstrução nacional. Esse tipo de mentalidade penetrou na escola primária, secundária e normal. Por isso a Escola Normal devia construir um novo modelo pedagógico que tornasse mais eficaz o trabalho docente.
De acordo com Nagle, nas primeiras décadas do século XX dois movimentos foram importantes para a Educação brasileira: o “entusiasmo pela educação” e o “otimismo pedagógico”. O primeiro buscava multiplicar as instituições escolares brasileiras, porque acreditava-se que pela disseminação da educação escolar, ser(ia) possível incorporar grandes camadas da população na senda do progresso nacional e colocar o Brasil no caminho das grandes nações do mundo; e o segundo, inspirado nas ideias da corrente pedagógica denominada Escola Nova, buscava mudar as propostas pedagógicas das escolas brasileiras e reconstruir a sociedade brasileira por meio da Educação.
De acordo com o Manifesto, o professor devia fazer parte de uma elite, porque exercia uma função pública de grande relevância. Por isso ele não deveria ser recrutado entre os profissionais liberais; precisava de formação específica, sólida preparação pedagógica e cultura geral. Inicialmente, deveria cursar o secundário para adquirir a formação geral e depois se encaminhar para cursos universitários, em faculdades ou Escolas Normais que tivessem cursos de nível superior. O professor necessitava de sólida formação e remuneração digna, para manter um trabalho eficiente e de prestígio.

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