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Antimicobacterianos Importância clínica: • Aumento dos imunocomprometidos (HIV, câncer, pacientes transplantados); • Aumento da população pobre, que é uma alerta para tuberculose; • As micobactérias possuem uma alta resistência natural; • Poucas opções de tratamento, por serem doenças negligenciadas; • A eficácia de alguns fármacos é questionada, principalmente se usado em monoterapia, isso dificulta a adesão ao tratamento; • Tratamentos longos, que leva de meses a anos; mesmo que a pessoa não tenha mais sintomas, ela deve terminar o tratamento; • Aumento da resistência adquirida, devido ao uso incorreto dos medicamentos leva a seleção de cepas mais resistentes. O uso de monoterapia leva ao aumento de bacterias resistentes, como pode ser visto em grafico do uso de estreptomicina; A combinação de farmacos para tratamento de micobactérias é regra. Fármacos que atuam na transcrição ou tradução das bactérias (mecanismo geral): fluoroquinolona, rifamicina, estreptomicina e macrolídeos. Presença de ácido micólico na parede celular das micobactérias, isso muda a permeabilidade delas. A isoniazida, etambutol e pirazinamida possuem ação na parede celular, voltada para o ácido micólico. As micobactérias usam o sistema imune e os mecanismos de endocitose e fagocitose, para conseguir acesso para onde elas normalmente se proliferam. Os fármacos então devem conseguir entras nas células para atuar, uma vez que as bactérias estão intracelular. Resistência micobacteriana natural: taxa de crescimento lenta, visto que os fármacos não conseguem interferir no metabolismo uma vez que ele já está baixo; formas latentes, algumas bactérias podem ficar latentes por muito tempo (o que justifica o tratamento prolongado); parede micólica, vários fármacos não conseguem atravessar essa parede. As bactérias normalmente se alojam em locais com baixo pH, o que dificulta a ação de alguns fármacos (ex. estreptomicina). Resistência micobacteriana adquirida: surge por pressões do ambiente. Aparecimento de bombas que mandam o fármaco para fora/pro meio extracelular; mutações nos genes de reparo do DNA, importante porque alguns fármacos tem ação no material genético; alteração na estrutura da proteína-alvo, impedindo o reconhecimento do sitio de ação dos fármacos; possibilidade de geração de formas variante de enzimas que impedem a ação do fármaco. O antituberculoso ideal: ➢ Bactericida: matar as bactérias; reduzir a baciloscopia no escarro – reduz a chance de contagio. Fármacos principais com esse efeito: isoniazida e rifampicina – pirazinamida e estreptomicina. ➢ Bacteriostático: mesmo que incapaz de matar as bactérias, ele deveria inativa-las. Reduzir proliferação e propagação de cepas resistentes, aumentar o tempo para que o sistema imune possa reagir (facilita o efeito dos fármacos e do sistema imune – maior susceptibilidade do bacilo). Principal fármaco: etambutol - rifampicina e isoniazida. ➢ Esterilizante: capacidade de erradicar a bactéria mesmo em tecidos mortos – reduzir a recidiva. Principal fármaco: rifampicina – pirazinamida. Isoniazida (H) Principal usada no tratamento da tuberculose; utilizada como um pró-fármaco, altamente hidrossolúvel. Nosso organismo não possui enzimas para ativa-la, logo, quando ela entra no organismo a etapa mais lógica era ela ser acetilada e eliminada na urina. Mas, no bacilo tem enzimas que conseguem ativar a isoniazida, a principal é KatG (catalase/peroxidase), logo, quando ela consegue chegar até o bacilo ela é convertida por essa enzima em radical nicotinoil, que é o fármaco ativo. Além disso, durante o processo de ativação há a formação de radicais livres, que implicam em estresse oxidativo para a bactéria. Em geral, ocorre redução na síntese de ácido micólico e uma redução na ativação de ácido fólico a tetrahidrofolato (importante para formação de timina ativada para duplicação do matéria genético). Características da isoniazida e seus correlatos: • É um pró-fármaco de ativação seletiva (enzima KatG nas micobactérias – ela pode ser alvo de mutações o que confere resistência a algumas cepas). • São principalmente bactericida, com algum efeito bacteriostático. • Seu principal efeito é na diminuição da integridade da parede celular, mas pode também ter efeito de impedir a multiplicação por impedir o efeito da timina. • Biodisponibilidade oral alta. • Grande capacidade de penetrar em lesões, sejam ativas, que ainda não estão em processo de necrose, quanto em lesões já avançadas como as caseosas. Desvantagens e riscos: • Hepatite tóxica: acumulo grande do fármaco no fígado. • Hemólise, em especial em pacientes com deficiência de G6Pd (desbalanço em antioxidantes). • Risco de overdose, em especial em sobre dose. Ela possui uma estrutura química relativamente análoga a piridoxina (vitamina B6), que é importante no metabolismo celular e na síntese do GABA. Isso é responsável por inúmeros efeitos colaterais do fármaco: • Neuropatia periférica (parestesia, formigamento) e anemias – ao tomar o lugar da piridoxina e impedir ou dificultar reações metabólicas, afeta tecidos altamente metabólicos. • Acúmulo no SNC: ela tem capacidade muito grande de chegar no SNC. Por substituir a piridoxina que possui importante papel na produção de GABA, ocorre queda na produção e GABA e uma hiperestimulação do SNC, sendo a convulsão o principal sintoma desse acumulo. Elas são inibidoras da monoanido oxidase – enzima responsável pela degradação de catecolaminas. • Interação com simpatomiméticos, aumentando a ação dos simpatomiméticos podendo causar hipertensão, taquicardia. • ‘Reação do queijo’- interação de simpatomiméticos e inibidores da MAO. A isoniazida é depurada pela acetilação e eliminação pelo rim. Particularidades na acetilação faz com que o fármaco posso ter menor eficácia ou maior toxicidade em pessoas diferentes. Ela pode interagir com várias isoformas de enzimas da citocromo p450 (CYP450)- inibição dessa enzima, pois abre brecha para interação com vários fármacos. Ex. carbamazepina, fenitoína, paracetamol. Rifampicina (R) e outras rifamicinas São bactericidas (se estende para bactérias gram +) e esterilizantes. São inibidores da RNA polimerase bacteriana, impedindo a transcrição e conquequentemente alteração completa no metabolismo bacteriano. Elas penetram em fagócitos e abscessos, atingindo as micobactérias que estão intracelular. Ela também é efetiva contra o M. leprae. Problemas associados a rifampicina: • Possui excreção predominantemente biliar, eliminada nas fezes. • Náusea, vomito e hepatotoxicidade; • Efeitos relacionados a hipersensibilidade a rifampicina: exantema, febre, eosinofilia, mialgia, hemólise, insuficiência renal aguda (podendo ter necrose tubular). • Presença de secreções laranja, porque ela começa a ser eliminada em várias secreções como suor, saliva, lagrimas (presença de uma estrutura chamada cromóforo, que dá essa cor alaranjada). • ‘Síndrome do homem vermelho’ – overdose do fármaco, pele mais laranjada. • Indução enzimática na CYP450; aumenta a metabolização e eliminação de outros fármacos. Alguns fármacos tem seu efeito reduzido quando usados simultaneamente: anticoagulante oral, digitálicos (redução dos seus níveis plasmáticos podem trazer efeitos graves), anticoncepcionais, cetoconazol, corticoides. • Quando associada a alguns fármacos pode levar a hepatotoxicidade: cetoconazol, fenitoína, isoniazida. A rifabutina é uma escolha comum em pacientes HIV positivos, por ter meia vida maior, não tem problemas graves com a interação com a enzima CYP3A. Pirazinamida (Z) É bacteriostático e bactericida. Ela é ativada em meio ácido (pH < 5,5),e esse meio ácido é evidente em ambientes intracelulares de fagócitos, que são ambientes que as micobactérias gostam de ficar, e também em tecidos necróticos da lesões caseosas. Essa ativação por ocorrer por enzimas micobacterianas, que pode aumentar ainda mais a seletividade de ação. Mecanismos propostos: inibição da síntese do ácido micólico, interrupção no transporte de membrana e diminuição do pH micobacteriano. Efeitos indesejados: hepatotoxicidade dependendo da dose, não é um efeito muito importante por si só (mas lembrando que pacientes com TB estão usando vários fármacos); aumento do ácido úrico plasmático (hiperuricemia), podendo culminar em gota. Etambutol (E) É bacteriostático. Possui efeito muito seletivo para micobactérias. Mecanismo de ação: inibição de enzimas responsáveis pela síntese da parede celular – arabinosil-transferase III. Problemas: • É um álcool e segue a rota metabólica muito parecida com a do etanol, utilizando a enzima ALDH, o que gera competição com o etanol pelo metabolismo dessa enzima. Interação com etanol, fazendo com que ocorra sintomas de bebedeira muito mais rapidamente. • Resistência por bombas de efluxo; • Neurite retrobulbar, culmina com alteração na percepção de cores e com a perda progressiva na acuidade visual (se persistir o uso desse fármaco pode ocorrer perda definitiva) – não recomendado para crianças. Estreptomicina (S) É um bactericida com ação em várias outras bactérias de multiplicação rápida. Isso restringe a ação em bactérias que estão extracelulares, com multiplicação mais intensa. Mecanismo de ação único com consequências diversificadas: ele se liga a subunidade 30S do ribossomo bloqueando a iniciação da síntese de proteínas, ou bloqueando a posterior tradução e estimula a terminação prematura, ou incentiva a incorporação de aminoácido incorretos. *Inibe irreversivelmente a síntese proteica. → efeito pós- antibiótico. Características: • Efetivas em bactérias gram-positivas anaeróbias; • No caso da tuberculose ela é um agente de substituição da rifampicina ou isoniazida, em pacientes que por algum motivo não pode usar um desses agentes; • Se torna ionizada em meio ácido, por isso não é usada pela via oral e sim parenteral. Pouca ação nas bactérias que estão nos fagócitos. Efeitos indesejados: • Nefrotoxicidade reversível; • Ototoxicidade irreversível (vestibular/coclear); • Interação com fármacos, aumentando o bloqueio neuromuscular. Terapia combinada na TB ‘Terapia de curso rapido’ dura 6 meses: rifampicina + isoniazida + pirazinamida + etambutol (RHZE). 2 meses com RHZE – fase intensiva; e 4 meses com RH – fase de manutenção. No esquema basico para crianças, a diferença está nas doses, e na retirada do etambutol na fase intensiva (devido as alterações retrobulbares). Há esquemas diferenciados para pacientes com reincidência, HIV+, pacientes com multirresistência. Vantagens da terapia combinada Ter mecanismo diferentes, podendo ser sinergicos por agir em alvos diferentes ou por locais de ação diferentes. Ao combinar fármacos, você reduz a chance de indução de resistência. Os fármacos sozinhos geram 1 mutante a cada 107-8 bacilos, aproximadamente, e esse único mutante é capaz de colonizar e repovoa aquele local, com cepas resistentes. A utilização combinada gera 1 mutante a cada 1019 bacilos. ‘Compensação’ farmacocinética, uma vantagem de um fármaco em relação a sua cinética pode cobrir a desvantagem de outro fármaco no mesmo aspecto. Redução no tempo de tratamento, pois aumenta a eficácia do tratamento e também por reduzir a quantidade das doses. Quando os fármacos são usados isoladamente é necessário doses muito altas, o que aumenta a toxicidade. A associação de fármacos, faz com que seja usadas doses menores, devido aos efeitos sinérgicos. Em situações de alto risco (pessoas que necessitam ter contato com paciente contaminado, pessoas não imunocompetentes) pode se fazer profilaxia com isoniazida (300mg/dia/6 meses) ou rifampicina (10mg/kg/dia/4 meses). Farmacologia da hanseníase Forma paucibacilar: < 5 lesões – tuberculoides. Uma vez por mês a dose mensal supervisionada com 2 comprimidos de rifampicina (300mg) e 1 dose de dapsona (100mg) + ao longo do mês uma dose diária de dapsona. Usando essa cartela por no mínimo 6 meses e até 9 meses. *o que muda no tratamento para crianças é a dose. Forma multibacilar: > 5 lesões – lepromatosas. Dose mensal supervisionada igual a de cima com a inclusão de clofazimida (3x100mg) + nas doses diárias 100mg de dapsona e 50mg de clofazimida. Usando essa cartela por no mínimo 12 meses e até 18 meses. *o que muda no tratamento para crianças é a dose. Dapsona É um inibidor da síntese do folato. Ela lembra a estrutura do PABA, conseguindo se ligar a dihidropteroato sintetase, que é a enzima responsável nas bactérias por sintetizar o folato, com base no PABA. Ao fazer isso, a dapsona inibe a síntese do folato nas bactérias (que não absorvem folato do exterior), impedindo a ativação para tetrahidrofolato e, consequentemente, a utilização para síntese de DNA, inibindo a proliferação celular. Ela possui efeito nas bactérias gram +/- além das micobactérias, e protozoários (malária e toxoplasma). O tempo de meia vida varia em 24- 48h o que facilita a adesão. Efeitos indesejados: hepatotoxicidade; hemólise e possibilidade de indução de reações hansênicas (podem ser fatal). Clofazimina Agente corante, consegue mudar a cor da urina e da pele (dependendo da cor da pele, pode aparecer manchas avermelhadas e escuras). Mecanismo de ação propostos: alterações no DNA, aumento de radicais livres e bloqueio no transporte de elétrons da bactérias. Tudo isso culminando em alterações metabólicas ou na duplicação de DNA, o que leva dificuldade na proliferação bacteriana e manutenção do metabolismo normal. A clofazimina possui efeito anti-inflamatório, ajudando no controle das reações hansênicas. O tempo de meia vida é extremamente favorável, porque ela se acumula nos reservatórios corporais, pode variar de 4-8 semanas. Efeitos indesejáveis: efeito lento; descoloração das lesões, durante o curso de tratamento; dor, diarreia, náusea, vomito. Reações hansênicas: são reações de hipersensibilidade tardia, causadas por uma resposta do organismo a exposição antigênica causada pela morte maciça das micobactérias. Reação tipo I (reação reversa): melhora aparente das lesões no começo e depois há uma piora aparente das lesões, ficam edemaciadas e doloridas; mas na verdade está ocorrendo uma melhora, e essa ‘piora’ aparente é devido a morte da micobactérias. Mais comum em paucibacilar. Reação tipo II (eritema nodoso hansênico): mais comum em casos multibacilar. Além da piora das lesões existentes, pode ocorrer o aparecimento de novos nódulos eritematosos e doloridos. Podem ser vesículas, pústulas, bolhas e úlceras. Além disso, há eventos sistêmicos acontecendo, devido a morte maciça de bacilos em quantidades maiores, a reposta imune vai ser muito mais expressiva, levando a sintomas sistêmicos como febre, mialgia, náusea, artralgia, edema e neurite. Tratamento de reações hansênicas: elas são lidadas como emergência Para ambas as reações pode se usar corticoides: prednisona ou dexametasona. Para reações do tipo II por ser mais grave, pode se associar a talidomida – ela reduz a expressão de TNFalfa, o que diminui a magnitude dos sintomas sistêmicos desse tipo de reação.
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