Buscar

Roteiro - Aula 1

Prévia do material em texto

1 
www.g7juridico.com.br 
 
 
 
INTENSIVO II 
Flávio Tartuce 
Direito Civil 
Aula 1 
 
 
ROTEIRO DE AULA 
 
 
Responsabilidade civil 
1.Conceitos iniciais relativos à responsabilidade civil. 
Quanto à origem: 
• Responsabilidade civil contratual ou negocial: é aquela relacionada ao inadimplemento de uma obrigação (arts. 
389, 390 e 391, CC). 
• Responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana1: baseada nos conceitos de ato ilícito (art. 186, CC) e de abuso 
de direito (art. 187, CC). 
Observação n. 1: no Código Civil de 1916, a responsabilidade civil extracontratual estava baseada em um único conceito -
ato lícito (art. 159, CC/1916). O Código Civil de 2002 trouxe também o abuso de direito. 
 
a) Ato ilícito (art. 186, CC) 
I – Previsão: Art. 186, CC: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar 
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” 
 
 II – O dispositivo prevê o ato ilícito puro ou indenizante. Na classificação de Pontes de Miranda, existe também o ilícito 
nulificante (que gera a nulidade do negócio jurídico, art. 166, inc. II, CC) e o ilícito caducificante (relacionado à perda de 
direitos, como ocorre na perda do poder familiar). 
 
 
1 A expressão decorre de uma lei romana (“Lex aquilia de damno”) que supostamente introduziu, no século III a.C., a 
responsabilidade civil por atos faltosos no sistema romano. 
 
http://www.g7juridico.com.br/
2 
www.g7juridico.com.br 
 
III – Onde está escrito “e” no art. 186, no Código de 1916 (art. 159) estava “ou”. 
Significado: “ato ilícito civil = violação de um direito (dever) + dano”. Essa é a principal mudança na conceituação do ilícito 
civil, confrontando-se os dois códigos. 
 
IV- A menção ao dano moral puro não é novidade no sistema jurídico brasileiro, pois já estava na CF/1988. 
 
CF, art. 5º: “(...). V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, 
moral ou à imagem; (...). X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o 
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; (...)”. 
 
Portanto, sem dano não há ilícito civil, nem dever de indenizar (CC, art. 927, “caput2”). 
Exemplo: dirigir bêbado: 
• Por si só: não é ilícito civil. 
• E atropelar alguém: é ilícito civil. 
 
V- Nomenclatura, desenvolvida no Direito Italiano: 
• Violação de um direito ou dever: dano evento. 
• Dano em si: dano resultado. 
 
VI – O art. 186 do Código Civil de 2002 adotou o modelo culposo de responsabilidade subjetiva: o disposto faz referência 
ao dolo (ação ou omissão voluntária) e também a culpa (negligência ou imprudência). 
 
b) Abuso de (do) direito (art. 187, CC) 
I- Previsão: Art. 187, CC: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os 
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.” 
II – O art. 187 adotou a Teoria dos direitos subjetivos: “o meu direito termina onde começa o seu direito”. 
 
O abuso de direito é um ilícito equiparado (“Também comete ato ilícito...”). 
 
III – Trata-se do exercício irregular ou imoderado de um direito, presente quando o sujeito excede manifestamente três 
parâmetros: 
• Função social ou econômica de um direito. 
• Boa-fé. 
 
2 CC, art. 927. “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.” 
http://www.g7juridico.com.br/
3 
www.g7juridico.com.br 
 
• Bons costumes. 
Os três parâmetros consistem em cláusulas gerais (conceitos abertos). 
 
IV – Conceito de Limongi França: o abuso de direito é ilícito quanto ao seu conteúdo e ilícito quanto às suas consequências 
(ilícito impuro). 
Portanto, a ilicitude está na forma de execução do ato. 
 
V – Fórmula 
(___________) + abusivo(a) = ilicitude. 
 Lícito 
 
Exemplo: greve + abusiva = ilicitude. 
 
VI – Outros exemplos de abuso de direito importantes para as provas: 
• Publicidade abusiva (art. 37, CDC): viola os valores sociais. 
• Abuso no processo (lide temerária) (arts. 79 a 81, CPC/2015 – equivalem aos arts. 16 a 18 do CPC/1973). 
• Abuso no exercício da propriedade ou ato emulativo (“aemulatio”) (art. 1.228, §2º, CC3). 
 
VII – Questões importantes na confrontação dos dois modelos de ilicitude: 
• O abuso de direito exige dano? Para os fins de responsabilidade civil, sim (art. 927, caput, CC). Para outros fins, não 
– tutela inibitória, por exemplo (art. 497, §único, CPC4). 
• O abuso de direito exige culpa? Segundo a doutrina majoritária, não. Isso porque o art. 187, CC, adotou o modelo 
de responsabilidade objetiva, não se cogitando dolo ou culpa. Basta a conduta irregular. (Enunciado n. 37, I 
Jornada de Direito Civil). 5 
 
2. Elementos da responsabilidade civil extracontratual ou pressupostos do dever de indenizar 
 
São quatro elementos: 
• Conduta humana. 
 
3 CC, art. 1.228, §2º. “§ 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam 
animados pela intenção de prejudicar outrem.” 
4 CPC, art. 497, §único. “Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou a continuação de 
um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo.” 
5 Enunciado 37, I JDC. “A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se 
somente no critério objetivo-finalístico.” 
 
http://www.g7juridico.com.br/
4 
www.g7juridico.com.br 
 
• Culpa “lato sensu” ou em sentido amplo. 
• Nexo de causalidade. 
• Dano ou prejuízo. 
 
2.1. Conduta humana 
I – A conduta humana pode ser: 
• Por ação (“culpa in comittendo”) = regra. 
• Por omissão (“culpa in omittendo”) = exceção. 
 
II- Na omissão, para que o agente responda, é necessário provar: 
• Que o ato deveria ser praticado (omissão genérica). Exemplo: omissão de socorro. 
• A omissão em si (omissão específica). 
 
Exemplo com questão de prova (concurso da Magistratura/SP – 2011) um condomínio edilício responde pelo roubo ou pelo 
furto de veículo praticado no seu interior? Em regra, não (STJ – Ag.Rg. no Ag. N. 1.102.361/RJ). O STJ entende que o 
condomínio só responde se houver previsão na convenção ou, eventualmente, se houver um comprometimento com 
segurança especializada. 
“EMENTA - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONDOMÍNIO. FURTO EM 
UNIDADE AUTÔNOMA. MATÉRIA DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. ALEGADA EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA DE RESPONSABILIDADE. 
SÚMULA 5/STJ. PREPOSTO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO CONDOMÍNIO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. 
SÚMULA 211/STJ. PRECEDENTES. 1. A Segunda Seção desta Corte firmou entendimento no sentido de que "O condomínio 
só responde por furtos ocorridos nas suas áreas comuns se isso estiver expressamente previsto na respectiva convenção." 
(EREsp 268669/SP, Relator o Ministro ARI PARGENDLER, DJ de 26.4.2006) 2. Na hipótese dos autos, o acórdão recorrido 
está fundamentado no fato de que: (a) o furto ocorreu no interior de uma unidade autônoma do condomínio e não em 
uma área comum; (b) o autor não logrou êxito em demonstrar a existência de cláusula de responsabilidade do condomínio 
em indenizar casos de furto e roubo ocorridos em suas dependências. 3. Para se concluir que o furto ocorreu nas 
dependências comuns do edifício e que tal responsabilidade foi prevista na Convenção do condomínio em questão, como 
alega a agravante, seria necessário rever todo o conjunto fático probatório dos autos, bem como analisar as cláusulas da 
referida Convenção, medidas, no entanto, incabíveis em sede de recurso especial, a teor das Súmulas 5 e 7 desta Corte. 4. 
Impossibilidade de análise da questãorelativa à responsabilidade objetiva do condomínio pelos atos praticados por seus 
prepostos por ausência de prequestionamento. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.” (AgRg. no Ag 1102361 / 
RJ, Relator: Ministro RAUL ARAÚJO, T4 - QUARTA TURMA, julgado em 15/06/2010, DJe 28/06/2010). 
 
III- Em regra, a pessoa responde por ato próprio. Exceções: 
• Ato de terceiro (arts. 932 e 933, CC). 
http://www.g7juridico.com.br/
5 
www.g7juridico.com.br 
 
• Fato do animal (art. 936, CC). 
• Fato da coisa (arts. 937 e 938, CC). 
• Produto ou serviço (CDC). 
 
Observação n. 2: todas as exceções acima são hipóteses de responsabilidade objetiva. 
 
2.2. Culpa “lato sensu” ou em sentido amplo 
 
I- Culpa “lato sensu” ou em sentido amplo engloba dois conceitos: 
 
a) Dolo: ação ou omissão voluntária (ato intencional). 
Observação n. 3.: 
• Para o Direito Civil, havendo dolo ou culpa grave, os efeitos são os mesmos, aplicando-se a reparação integral dos 
danos (art. 944, caput, CC6). 
• “Culpa lata dolus aequiparatur”: a culpa grave equipara-se ao dolo. 
Para o Direito Civil, são irrelevantes os conceitos intermediários como preterdoloso e dolo eventual. 
 
b) Culpa “stricto sensu” ou em sentido estrito: é a violação de um dever preexistente, relacionada a três padrões de 
conduta: 
• Imprudência: falta de cuidado + ação (CC, art. 186). 
• Negligência: falta de cuidado + omissão (CC, art. 186). 
• Imperícia: falta de qualificação para o exercício de uma atribuição (CC, art. 9517). 
 
Considerações: 
 
I – O art. 951 do Código Civil trata da responsabilidade civil dos profissionais da área da saúde – exemplo: médicos. 
Em regra, essa responsabilidade civil é subjetiva, pois assumem obrigação de meio. Como exceção, a tese de Demongue 8– 
muito aplicada pelo STJ. Segundo ela, se o profissional liberal assumir obrigação de resultado, terá culpa presumida ou 
responsabilidade objetiva – exemplo: médico cirurgião plástico estético. 
 
6 CC, art. 944, caput. “A indenização mede-se pela extensão do dano.” 
7 CC, art. 951. “O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no 
exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o 
mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.” 
 
8 Tese de Demogue: Havendo obrigação de resultado, ou haverá culpa presumida ou haverá responsabilidade objetiva. 
http://www.g7juridico.com.br/
6 
www.g7juridico.com.br 
 
 
II – Questão n. 1: qual a diferença entre culpa presumida e responsabilidade objetiva? 
Em comum, inverte-se o ônus da prova. 
Distinções na tabela a seguir: 
 
Culpa presumida Responsabilidade objetiva 
Responsabilidade com culpa (subjetiva). Responsabilidade sem culpa (objetiva). 
Se o réu provar que não teve culpa, ele não responde. Se o réu provar que não teve culpa, ele responde. Para não 
responder, deve provar uma excludente de nexo de 
causalidade. 
 
III – A culpa presumida era estudada na vigência do CC/1916 em três modalidades: 
• Culpa “in vigilando”: na vigilância – exemplo: pai em relação ao filho. 
• Culpa “in elegendo”: na escolha ou eleição – exemplo: empregador em relação ao empregado. 
• Culpa “in custodiendo”: na custódia de animal. 
 
Observação n. 4: 
Essas três modalidades, no Código Civil de 2002, passaram a ser de responsabilidade objetiva, conforme artigos 932, 933 e 
936. Portanto, elas foram banidas do sistema como sendo casos de responsabilidade por culpa presumida. 
 
IV – Classificação da culpa quanto ao grau (CC, arts. 944 e 9459). 
• Culpa “lata” (grave): reparação integral dos danos. 
• Culpa “leve” (intermediária): redução equitativa da indenização. 
• Culpa “levíssima” (menor grau): redução equitativa da indenização (maior). 
 
Observação n. 5: 
Havendo contribuição causal da vítima (CC, art. 945), a indenização deve ser reduzida. Ou seja, se houver: 
 
• Culpa concorrente. 
• Fato concorrente. 
• Risco concorrente. 
 
9 CC, arts. 944 “A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção 
entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.” “Art. 945. Se a 
vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a 
gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.” 
http://www.g7juridico.com.br/
7 
www.g7juridico.com.br 
 
 
✓ Enunciado n. 459– V Jornada de Direito Civil10. 
✓ Enunciado 630 - VIII Jornada de Direito Civil11. 
Conforme Enunciado 630, VIII JDC: (i) culpas não se compensam e (ii) deve-se verificar o percentual de agir de cada um. 
 
V- Jurisprudência: 
Exemplo 1: 
“Surfista de trem” - Culpa ou fato exclusivo da vítima (REsp 160.051/RJ) 
“Pingente de trem” – Culpa ou fato concorrente da vítima (REsp 226.348/SP). 
“EMENTA - Responsabilidade civil. Acidente ferroviário. Queda de trem. "Surfista ferroviário". Culpa exclusiva da vítima. I - 
A pessoa que se arrisca em cima de uma composição ferroviária, praticando o denominado "surf ferroviário", assume as 
consequências de seus atos, não se podendo exigir da companhia ferroviária efetiva fiscalização, o que seria até 
impraticável. II - Concluindo o acórdão tratar o caso de "surfista ferroviário", não há como rever tal situação na via especial, 
pois demandaria o revolvimento de matéria fático-probatória, vedado nesta instância superior (Súmula 7/STJ). III - Recurso 
especial não conhecido.” (REsp 160051 / RJ, Relator Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, T3 - TERCEIRA TURMA, julgado 
em 05/12/2002, DJ 17/02/2003 p. 268). 
“EMENTA - RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE FERROVIÁRIO. 'PINGENTE'. CULPA 
CONCORRENTE. PRECEDENTES DA CORTE. I - É dever da transportadora preservar a integridade física do passageiro e 
transportá-lo com segurança até o seu destino. II - A responsabilidade da companhia de transporte ferroviário não é 
excluída por viajar a vítima como "pingente", podendo ser atenuada se demonstrada a culpa concorrente. Precedentes. 
Recurso especial parcialmente provido.” 
(REsp 226348 / SP, Relator Ministro Castro Filho - TERCEIRA TURMA, julgado em 19/09/2006, DJ 23/10/2006 p. 294). 
 
Exemplo 2: REsp 1.349.894/SP – Teoria do risco concorrente. 
“EMENTA - RECURSOS ESPECIAIS. CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CONCORRENTE. 1) AÇÃO DE INDENIZAÇÃO MOVIDA 
POR CORRENTISTA CONTRA O BANCO. PAGAMENTO DE CHEQUES EMITIDOS MEDIANTE ASSINATURA APENAS DE 
 
10 Enunciado 459, V JDC. “A conduta da vítima pode ser fator atenuante do nexo de causalidade na responsabilidade civil 
objetiva.” 
 
 
11 Enunciado 630, VIII. “Art. 945: Culpas não se compensam. Para os efeitos do art. 945 do Código Civil, cabe observar os 
seguintes critérios: (i) há diminuição do quantum da reparação do dano causado quando, ao lado da conduta do lesante, 
verifica-se ação ou omissão do próprio lesado da qual resulta o dano, ou o seu agravamento, desde que (ii) reportadas 
ambas as condutas a um mesmo fato, ou ao mesmo fundamento de imputação, conquanto possam ser simultâneas ou 
sucessivas, devendo-se considerar o percentual causal do agir de cada um.” 
 
http://www.g7juridico.com.br/
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10676825/artigo-945-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
8 
www.g7juridico.com.br 
 
GERENTE, QUANDO EXIGIDA A ASSINATURA DESTE E DE MAIS UM DIRETOR. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO BANCO. 2) 
RESPONSABILIDADE CONCORRENTE RECONHECIDA. INDENIZAÇÃO À METADE. 3) CORREÇÃO MONETÁRIA A PARTIR DA 
DATA DE CADA CHEQUE INDEVIDAMENTE PAGO. 4) JUROS DE MORA CONTADOS A PARTIR DA CITAÇÃO E NÃO DE CADA 
PAGAMENTO DE CHEQUE. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL E NÃO INDENIZAÇÃO POR ATOILÍCITO. 5) LUCROS CESSANTES 
DEVIDOS. ATIVIDADE EMPRESARIAL PRESSUPÕE USO PRODUTIVO DO DINHEIRO E NÃO PERMANÊNCIA CONTEMPLATIVA 
EM CONTA BANCÁRIA. 6) LIQUIDAÇÃO DE LUCROS CESSANTES POR ARBITRAMENTO. 7) APLICAÇÃO DO DIREITO À ESPÉCIE 
IMPOSSÍVEL, POIS PLEITEADA SOMENTE NA PEÇA EXTRA- PROCESSUAL INFORMAL DO MEMORIAL, QUANDO IMPOSSÍVEL 
OBSERVAR O CONTRADITÓRIO. 8) NULIDADE INEXISTENTE NA DISPENSA DE PROVA ORAL, POIS TESTEMUNHOS JAMAIS 
INFLUIRIAM NA CONCLUSÃO DO JULGAMENTO. 9) RECURSOS ESPECIAIS IMPROVIDOS. 1.- Há responsabilidade objetiva do 
banco, que paga cheques assinados apenas por gerente, quando exigível dupla assinatura, também assinatura de um 
Diretor. Aplicação do art. 24 do CDC. 2.- A Responsabilidade concorrente é admissível, ainda que no caso de 
responsabilidade objetiva do fornecedor ou prestador, quando há responsabilidade subjetiva patente e irrecusável 
também do consumidor, não se exigindo, no caso, a exclusividade da culpa. 3.- Correção monetária do valor de cada 
cheque a partir da data de seu pagamento, visto que outra data, decorrente de tratamento em bloco do valor, "comeria" 
período de correção de valor dele componente. 4.- Contam-se os juros de mora a partir da citação, no caso de 
descumprimento contratual na liberação de cheques com defeito de assinatura, não se cogitando de obrigação originada 
de ato ilícito propriamente dita, mas, sim, de ilícito contratual, constituído pelo inadimplemento. 5.- Lucros cessantes são 
devidos ao correntista que teve dinheiro retirado de sua conta mediante o pagamento de cheques emitidos 
defectivamente, com uma assinatura apenas, quando os atos constitutivos da empresa exigiam duas. 6.- O arbitramento é 
a forma de liquidação dos lucros cessantes, relativos a aplicações financeiras frustradas pelo pagamento indevido de 
cheques, quando tais dados não venham no processo. 7.- Impossível a aplicação do Direito à espécie, no julgamento desta 
Corte, se não há no processo dados seguros e se tal pleito vem apenas em memorial, impossibilitando estabelecimento de 
contraditório constitucional necessário com a parte contrária. 8.- Nulidade, por dispensa de ouvida de testemunhas, 
inexistente, quando não haveria nada que a prova testemunhal pudesse acrescentar ao conhecimento dos fatos trazidos a 
julgamento, já considerados no decorrer do julgado em sentido harmônico com o julgamento. 9.- Recursos Especiais 
improvidos.” (REsp 1349894 / SP, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, T3 - TERCEIRA TURMA, julgado em 04/04/2013, DJe 
11/04/2013). 
 
2.3. Nexo de causalidade 
 
I- É o elemento imaterial da responsabilidade. É uma relação de causa e efeito entre a conduta e o dano (Aguiar Dias). 
É a relação de causa necessária entre a conduta e o dano. 
 
II – O nexo funciona como um “cano virtual” que liga a conduta (”C”) ao dano (“D”). 
http://www.g7juridico.com.br/
9 
www.g7juridico.com.br 
 
 
 
 
III- Questão n. 2: o que forma o nexo? 
• Na responsabilidade subjetiva: culpa “lato sensu”. 
• Na responsabilidade objetiva: lei ou atividade de risco (art. 927, parágrafo único, CC12). 
 
 
IV- Fatos obstativos do nexo (funcionam como uma “rolha” dentro do “cano virtual”): 
 
 
 
 
 
Os fatores obstativos do nexo são também conhecidos como excludentes do nexo e aplicam-se tanto à responsabilidade 
subjetiva como à objetiva. 
 
São eles: 
• Culpa ou fato exclusivo da vítima – exemplo: fumante (STJ – Informativo n. 432). 
 
12 CC, art. 927, § único. “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, 
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de 
outrem.” 
 
 
http://www.g7juridico.com.br/
10 
www.g7juridico.com.br 
 
 
• Culpa ou fato exclusivo de terceiro (alguém totalmente estranho à relação jurídica) – exemplo: acidente causado 
pelo criminoso que levou o veículo à mão armada. O dono do veículo não responde. 
 
• Caso fortuito e força maior (art. 393, CC13). 
✓ Pontes de Miranda: sinônimos – eventos não previstos pelas partes. 
✓ Washington de Barros Monteiro e Maria Helena Diniz: 
❖ Caso fortuito: evento da natureza. 
❖ Força maior: ato do homem. 
✓ Orlando Gomes, Sérgio Cavalieri Filho, Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona: 
❖ Caso fortuito: evento totalmente imprevisível. 
❖ Força maior: evento previsível, mas evitável. 
 
Observação n. 6: Em relação ao caso fortuito e à força maior, o STJ tem analisado esses conceitos de acordo com o risco do 
negócio ou do empreendimento. Trata-se de uma tese de Agostinho Alvim (1949). Somente é caso fortuito ou força maior 
o chamado evento externo que está fora do risco do negócio ou do empreendimento. O evento interno, que está dentro 
do risco do negócio ou do empreendimento, não é caso fortuito ou força maior. 
 
Exemplos: Ex. 1: Assalto a ônibus: evento externo. A empresa de ônibus não responde (REsp n. 783.743/RJ). 
“EMENTA - CIVIL. INDENIZAÇÃO. TRANSPORTE COLETIVO (ÔNIBUS). ASSALTO À MÃO ARMADA SEGUIDO DE MORTE DE 
PASSAGEIRO. FORÇA MAIOR. EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE DA TRANSPORTADORA. 1. A morte decorrente de assalto à 
mão armada, dentro de ônibus, por se apresentar como fato totalmente estranho ao serviço de transporte (força maior), 
constitui-se em causa excludente da responsabilidade da empresa concessionária do serviço público. 2. Entendimento 
pacificado pela Segunda Seção. 3. Recurso especial conhecido e provido.” (REsp 783743 / RJ, Relator: Ministro FERNANDO 
GONÇALVES, T4 - QUARTA TURMA, julgado em 12/12/2005, DJ 01/02/2006 p. 571). 
 
 
Ex. 2: Assalto a banco: evento interno. O banco responde pelo assalto até o estacionamento (REsp n. 1.284.962/MG). Além 
desses limites, é evento externo (“saidinha”). 
“EMENTA – RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. 
ASSALTO NA VIA PÚBLICA APÓS SAÍDA DE AGÊNCIA BANCÁRIA. SAQUE DE VALOR ELEVADO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. 
AUSENTE. 1. Autora pleiteia reparação por danos materiais e compensação por danos morais em decorrência de assalto 
 
13 CC, art. 393. “O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não 
se houver por eles responsabilizado.” 
http://www.g7juridico.com.br/
11 
www.g7juridico.com.br 
 
sofrido, na via pública, após saída de agência bancária. 2. Ausente a ofensa ao art. 535 do CPC, quando o Tribunal de 
origem pronuncia-se de forma clara e precisa sobre a questão posta nos autos. 3. Na hipótese, não houve qualquer 
demonstração de falha na segurança interna da agência bancária que propiciasse a atuação dos criminosos fora das suas 
dependências. Ausência, portanto, de vício na prestação de serviços. 4. O ilícito ocorreu na via pública, sendo do Estado, e 
não da instituição financeira, o dever de garantir a segurança dos cidadãos e de evitar a atuação dos criminosos. 5. O risco 
inerente à atividade exercida pela instituição financeira não a torna responsável pelo assalto sofrido pela autora, fora das 
suas dependências. 6. A análise da existência do dissídio é inviável, porque não foram cumpridos os requisitos dos arts. 
541, parágrafo único, do CPC e 255, §§ 1º e 2º, do RISTJ. 7. Negado provimento ao recurso especial.” (REsp 1284962 / MG, 
Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI, T3 - TERCEIRA TURMA, julgado em 11/12/2012, DJe 04/02/2013). 
 
Ex. 3: Assalto a shopping: evento interno até o estacionamento (REsp n.1.269.691/PB). 
“EMENTA - RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO ESPECIAL. TENTATIVA DE ROUBO EM CANCELA DE ESTACIONAMENTO DE 
SHOPPING CENTER. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. 1. A empresa que fornece estacionamento aos veículos de seus clientes 
responde objetivamente pelos furtos, roubos e latrocínios ocorridos no seu interior, uma vez que, em troca dos benefícios 
financeiros indiretos decorrentes desse acréscimo de conforto aosconsumidores, o estabelecimento assume o dever - 
implícito em qualquer relação contratual - de lealdade e segurança, como aplicação concreta do princípio da confiança. 
Inteligência da Súmula 130 do STJ. 2. Sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, não se vislumbra a possibilidade de 
se emprestar à referida Súmula uma interpretação restritiva, fechando-se os olhos à situação dos autos, em que 
configurada efetivamente a falha do serviço - quer pela ausência de provas quanto à segurança do estacionamento, quer 
pela ocorrência do evento na cancela do estacionamento, que se situa ainda dentro das instalações do shopping. 3. É que, 
no caso em julgamento, o Tribunal a quo asseverou a completa falta de provas tendentes a demonstrar a permanência na 
cena do segurança do shopping; a inviabilidade de se levar em conta prova formada unilateralmente pela ré - que, somente 
após intimada, apresentou os vídeos do evento, os quais ainda foram inúteis em virtude de defeito; bem como enfatizou 
ser o local em que se encontra a cancela para saída do estacionamento uma área de alto risco de roubos e furtos, cuja 
segurança sempre se mostrou insuficiente. 4. Outrossim, o leitor ótico situado na saída do estacionamento encontra-se 
ainda dentro da área do shopping center, sendo certo que tais cancelas - com controles eletrônicos que comprovam a 
entrada do veículo, o seu tempo de permanência e o pagamento do preço - são ali instaladas no exclusivo interesse da 
administradora do estacionamento com o escopo precípuo de evitar o inadimplemento pelo usuário do serviço. 5. É 
relevante notar que esse controle eletrônico exige que o consumidor pare o carro, insira o tíquete no leitor ótico e aguarde 
a subida da cancela, para que, só então, saia efetivamente da área de proteção, o que, por óbvio, o torna mais vulnerável à 
atuação de criminosos, exatamente o que ocorreu no caso em julgamento. 6. Recurso especial a que se nega provimento.” 
(REsp 1269691 / PB, Relatora: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, Relator para Acórdão: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, T4 
- QUARTA TURMA, julgado em 21/11/2013, DJe 05/03/2014). 
 
Ex. 4: Ataque de psicopata a shopping (caso Matheus da Costa Meira): evento externo (REsp n. 1.164.889/SP e REsp n. 
1.133.731/SP). 
http://www.g7juridico.com.br/
12 
www.g7juridico.com.br 
 
“EMENTA - CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. DANO MATERIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CRIME COMETIDO DENTRO 
DE CINEMA LOCALIZADO NO SHOPPING. SÚMULA 7/STJ. NÃO INCIDÊNCIA. NEXO CAUSAL. INEXISTÊNCIA. COMPROVAÇÃO. 
1. "Para se chegar à configuração do dever de indenizar, não será suficiente ao ofendido demonstrar sua dor. Somente 
ocorrerá a responsabilidade civil se se reunirem todos os seus elementos essenciais: dano, ilicitude e nexo causal." 
(Humberto Teodoro Júnior, in Dano Moral, Editora Oliveira Mendes, 1998, p.8). 2. Assim sendo, não há como se deferir 
qualquer pretensão indenizatória sem a comprovação, ao curso da instrução nas instâncias ordinárias, do nexo de 
causalidade entre os tiros desferidos por Matheus e a responsabilidade do shopping, onde situava-se o cinema. 3. Rompido 
o nexo de causalidade da obrigação de indenizar, não há falar-se em direito à percepção de indenização por danos morais e 
materiais. 4. Recurso Especial conhecido e provido para julgar improcedente o pedido inicial.” (REsp 1164889 / SP, Relator: 
Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO, T4 - QUARTA TURMA, julgado em 04/05/2010, DJe 19/11/2010) 
 
Ex. 5: Súmula 479, STJ: “As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno 
relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias” 
 
V- Teoria quanto ao nexo de causalidade: 
• Teoria da equivalência das condições ou do histórico dos antecedentes (“sine qua non”): todos os fatos 
correlatos, diretos ou indiretos, geram a responsabilidade civil. Não foi adotada pelo Direito Civil, pois o nexo fica 
infinito. 
• Teoria do dano direto e imediato (CC, art. 40314) (clássica): somente são reparáveis os danos que diretamente 
decorrem da conduta do agente – Agostinho Alvim, Moreira Alves, Tepedino e julgados STJ e STF. 
• Teoria da causalidade adequada (CC, arts. 944 e 945) (contemporânea): a atribuição da responsabilidade civil e a 
fixação da indenização (“quantum”) devem ser adequadas às condutas dos envolvidos (agente e vítima) – Caio 
Mário, Cavalieri, Enunciado 47, I Jornada de Direito Civil15, e julgados do STF e STJ. 
 
14 CC, art. 403. “ Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e 
os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.” 
15 Enunciado 47, I JDC. “O art. 945 do novo Código Civil, que não encontra correspondente no Código Civil de 1916, não 
exclui a aplicação da teoria da causalidade adequada.” 
 
 
http://www.g7juridico.com.br/

Continue navegando