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2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 1 MICROBIOLOGIA AULA 5 Resistência Bacteriana CONCEITOS • Bactéria Resistente: Aquela que é capaz de crescer “in vitro” em presença da concentração média que a droga atinge no sangue, durante o tratamento. Em alguns locais, como nas meninges e no globo ocular, o antimicrobiano não chega na concentração em que está no sangue. Com isso, o antimicrobiano tem ação contra o microrganismo, mas não está na concentração adequada para agir. • Resistência Natural ou Intrínseca: A bactéria está fora do espectro de ação da droga. Facilmente contornada. → Penicilina G: Apenas agem contra bactérias gram positivas. Então, as bactérias gram negativas têm resistência natural a Penicilina G. → Penicilinas: Os micoplasmas são bactérias que não possuem parede celular, dessa forma, possuem resistência natural a penicilinas e a qualquer droga que afete a parede celular. • Resistência Adquirida ou Infecciosa: Ocorre devido a mecanismos genéticos diversos, surgindo em uma população bacteriana amostras que não sofrem mais a ação da droga. É difícil de ser detectada e contornada, ela é instável e dinâmica, evoluindo na população bacteriana. Pode ocorrer por mutação ou transferência de genes extracromossomiais (plasmídeos). • Resistência Simples: Bactéria resistente a uma só droga. • Resistência Múltipla (Multirresistentes): Bactéria resistente a 2 ou mais drogas, apresentando resistência simultânea a diversas drogas. • Resistência Cruzada: O mecanismo bioquímico de resistência a uma droga atinge a outras. MODOS DE AQUISIÇÃO DA RESISTÊNCIA • Mutação: Agente de origem cromossomial e na hora da replicação ocorre uma mutação espontânea. • Extra-Cromossômica: Transferidos de uma bactéria para outra. → Conjugação; → Transformação; → Transdução. TRANSFORMAÇÃO O primeiro modo extra-cromossômico de transferência de genes a ser descoberto. Na transformação, as bactérias são capazes de incorporar DNA livre no meio, oriundos de bactérias que já morreram. Elas devem estar em estado de competência (momento da divisão celular) para serem capazes de reconhecer o DNA livre. Esse DNA incorporado pode ser integrado ao cromossomo ou ficar na forma de plasmídeo. CONJUGAÇÃO A conjugação é um modo extra-cromossômico, onde temos a transferência de genes pelo contato físico direto entre células viáveis, uma passa os genes para outra. Em bactérias gram negativas o contato é mediado pela pili sexual (pili F). Dessa forma, a bactéria pili F+ transfere uma hélice do seu DNA plasmidial para a bactéria pili F-. Após o processo a hélice única se duplica formando o DNA dupla hélice característico do plasmídeo. Já nas bactérias gram positivas, o contato é mediado por substâncias químicas, os feromônios. TRANSDUÇÃO A transferência de material genético de uma bactéria para outra, mediada por um vírus, o bacteriófago ou fago. O vírus infecta a bactéria e injeta seu material genético, essa passa a replicar o material genético viral. Dessa forma, ela passa a produzir os componentes da partícula viral (envoltório e material genético). Após isso, temos uma fase de maturação, na qual os componentes são reunidos formando as partículas virais. No momento de maturação pode ocorrer um erro e o envoltório do vírus acabar englobando o material genético bacteriano. Quando o vírus defeituoso entra em contato com outra bactéria ele injeta o material 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 2 genético bacteriano da bactéria em que foi produzido. Assim, o bacteriófago transporta o material genético de uma bactéria para a outra. Esse material genético pode ser incorporado ao cromossomo da bactéria através da troca dele locus cromossomial ou permanecer na forma de plasmídeo. MECANISMOS BIOQUÍMICOS DE RESISTÊNCIA INATIVAÇÃO ENZIMÁTICA DA DROGA A droga entra na célula bacteriana e é inativada por uma enzima produzida pela bactéria. Um exemplo é a produção de enzimas do grupo das β-lactamases, responsáveis pela quebra do anel β-lactâmico. Outro exemplo são as enzimas modificadoras de aminoglicosídeos (EMAs), elas são importantes no grupo de bastonetes gram negativos, pois eles são os principais alvos dos aminoglicosídeos. • β-lactamases → Penicilinases; → Cefalosporinases; → β-Lactamases de espectro extendido (ESBL): Descobertas em 1983 e agem contra penicilinas, cefalosporinas de 1ª, 2ª e 3ª gerações, e aztreonan. → Klebsiella pneumoniae Carbapenemases (KPC): Descobertas em 1996 e agem contra penicilinas, cefalosporinas e cabapenens, os três grupos mais importantes de β-lactâmicos. → Nova Deli Metalo β-Lactamses (NDM-1): Detectada em 2009 em Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae. Age contra todos os β- lactâmicos, exceto o aztreonan. DIMINUIÇÃO DA PERMEABILIDADE À DROGA Alguns antimicrobianos necessitam entrar na bactéria para exercer sua função. No entanto, as bactérias podem diminuir a expressão de proteínas da membrana externa de gram negativos, as quais participam do transporte para dentro da célula (porinas). Dessa forma, antimicrobianos como aminoglicosídeos, cloranfenicol e tetraciclina, por exemplo, podem ser impedidos de entrar na célula bacteriana. BOMBA DE EFLUXO Algumas bactérias deixam a droga entrar, mas possuem um mecanismo de bombeamento ativo, o qual expulsa o antimicrobinano para fora, um exemplo de droga afetada por essa ação é a tetraciclina. MODIFICAÇÃO DO RECEPTOR DA DROGA O sítio alvo de atuação do microbiano é modificado pelo mecanismo que adiquiriu resistência e, com isso, o antimicrobiano entra na célula, mas não consegue se ligar mais. → Modificação do Ribossoma: Afeta drogas que atuam na inibição da síntese de proteínas. → Modificação das PBPs (PBP 2a): As PBPs são enzimas, que fazem a transpeptidação, na qual os β- lactâmicos se ligam impedindo a formação da parede celular. No entanto, quando modificadas não permitem a ligação dos β-lactâmicos. USO DE VIAS METABÓLICAS ALTERNATIVAS Por exemplo, as bactérias que sofrem ação das sulfas, tem a produção de ácido fólico impedida. Com isso, elas adquirem a habilidade de incorporar ácido fólico do meio. PROBLEMAS TERAPÊUTICOS STAPHYLOCOCCUS AUREUS Foi com o S. aureus que o Alexander Fleming desenvolveu a Penicilina e em 1940 ela começou a ser usada. Já em 1950 foram encontradas S. aureus resistentes a penicilina através da produção de enzimas, as β-lactamases. Por esse motivo, foram criadas drogas resistentes a β-lactamases e em 1961 apareceram S. aureus resistentes à meticilina, oxacilina e derivados (MRSA), através da presença de PBPs de baixa afinidade. Como alternativa, foi usada a Vancomicina e logo em 1990 apareceram as S. aureus menos sensíveis à Vancomicina (VISA), possuindo uma resistência intermediária. Com isso, foi preciso elevar a concentração de Vancomicina. Como consequência, tivemos o surgimento em 2002 de uma amostra resistente à Vancomicina (VRSA). Atualmente, temos a Linezolida e a Estreptrogramina como alternativas terapêuticas para amostras VISA ou VRSA. Elas devem ser usadas apenas em situações necessárias, para evitar expor as bactérias a essas substâncias e gerarmos uma nova variante resistente. 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 3 ENTEROCOCOS Todos os enterococos apresentam resistência natural ou intrínseca por cefalosporinas, aminoglicosídeos e clindamicina. Além disso, eles podem adquirirresistência a vários outros grupos de drogas, à medida que recebem genes que codifiquem perfis de resistência, como PBPs de baixa afinidade, EMAs e produção de β-Lactamases. Recentemente, os enterococos se adquiriram resistência à vancomicina (VRE). Como alternativa terapêutica temos a Linezolida e a Tigeciclina, reservadas para uso em casos extremamente necessários. MYCOBACTERIUM TUBERCULOSIS É uma bactéria que cria rapidamente métodos de resistência as drogas. Em 1882, foi descoberta a sua relação com a doença tuberculose pelo pesquisador Rovert Koch. A partir disso, houve diversos casos de falecimento por conta dessa doença. Em 1944 tivemos a criação da primeira droga anti- tuberculose, a Estreptomicina, que rapidamente deixo de ser efetiva. Com isso, em 1952, foram desenvolvidas a Isoniazida e a Rifampicina, utilizadas em conjunto para o tratamento. Na década de 1980, surgiram amostras resistentes à Rifampicina e à Isoniazida, chamadas de multidrogas resistente (MDR). A partir disso, criamos drogas alternativas até que em 2006 apareceram as amostras extremamente droga resistente (XDR), resistentes a 3 ou mais drogas alternativas. Em 2007, foram relatadas as primeiras amostras totalmente drogas resistentes (TDR), resistentes a todas as drogas disponíveis para o tratamento de tuberculose. BASTONETES GRAM NEGATIVOS (ENTEROBACTEREAS) Os mais conhecidos são os bastonetes gram negativos, os quais apresentam enzimas modificadoras de aminoglicosídeos (EMAs), tornando-os inativos e impedindo sua ação de inibição da síntese proteica. Outras amostras resistentes são as produtoras de enzimas β-lactamases de espectro extendido (ESBL), descobertas em 1983. Essas enzimas atuam contra penicilinas, cefalosporinas de 1ª, 2ª e 3ª geração, e aztreonan. Como alternativas nesse caso fazemos uso dos carbapenêmicos. No entanto, em 1996 apareceram amostras produtoras da enzima Klebisella pneumoniae Carbapenemase (KPC), chamadas de ERC. Essa enzima age contra penicilinas, cefalosporinas e carbapenens. Com isso, usamos como alternativas terapêuticas a polimixina B, tigeciclina, ceftazidima +avibactam. Em 2009, surgiu uma nova amostra produtora de Nova Deli Metalo β-Lactamases (NDM-1), que inativam todos os β-lactâmicos, exceto axtreonan, dectectada em Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae. BASTONETES GRAM NEGATIVOS NÃO FERMENTADORES • Pseudomonas aeruginosa: Multirresistente. → β-lactâmicos: Produção de β-lactamases, alteração de PBPs e diminuição da permeabilidade. → Aminoglicosídeos: Produção de EMAs e alteração no ribossoma. → Quinolonas: Alteração do sítio alvo (DNA girasse) → Alternativas terapêuticas: Ceftazidima, Cefepime, Piperacilina + Tazobactam. • Acinetobacter baumanii: Multidroga resistente (MDRAB). → Alternativas terapêuticas: Polimixina B, Tigeciclina e Ampicilina + Sulbactam. REDUZIR DESENVOLVIMENTO DE RESISTÊNCIA • Evitar o uso indiscriminado de antimicrobianos, em situações em que ele seja de pouco ou nenhum valor terapêutico. • Usar dose suficientemente alta para erradicar a infecção no menor tempo possível, sub-doses tendem a selecionar resistentes. → A interrupção do tratamento antes do prescrito faz com que ocorra a possibilidade da recidiva da doença, na qual a população de bactérias CA-MRSA E HA-MRSA • CA-MRSA: Adquiridas na comunidade. • HA-MRSA: Adquiridas no hospital. A aparição de variantes CA-MRSA mostra que o aparecimento de populações resistentes não está restrito ao ambiente hospitalar, podendo ocorrer em meio a comunidade. 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 4 resistentes estará em grande quantidade, sendo difícil o tratamento. → Tratamento da tuberculose: Uso de 4 medicamentos por 6 meses dificilmente é cumprido pelos pacientes, tornando a cura mais difícil. • Usar associação de drogas para tratamento de infecções causadas por bactérias que rapidamente desenvolvem resistência. → Tratamento da tuberculose: Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida e Etambutol, com o intuito de minimizar o aparecimento de bactérias resistentes.
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