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Metodologia de Ensino Aplicada as Ciencias Sociais - Livro-Texto Unidade I

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Prévia do material em texto

Autora: Profa. Josefa Alexandrina da Silva 
Colaboradora: Profa. Ivy Judesnaider
Metodologia de Ensino 
Aplicada às Ciências Sociais
Professora conteudista: Josefa Alexandrina da Silva
Possui mestrado em Ciências Sociais (1997) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e bacharelado e 
licenciatura em Ciências Sociais (1990) pela mesma instituição. É professora adjunta da Universidade Paulista (UNIP), 
onde atua como líder de Ciências Sociais e é coordenadora do curso de Licenciatura em Sociologia (Ciências Sociais).
Foi membro da equipe técnica de Sociologia da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e coordenadora de 
conteúdos para educação a distância na Fundação Padre Anchieta. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase 
em ensino, atuando principalmente nos seguintes temas: ensino de Sociologia, política educacional, precarização do 
trabalho, metodologia de ensino e educação a distância.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S586m Silva, Josefa Alexandrina da.
Metodologia de Ensino Aplicada às Ciências Sociais. / Josefa 
Alexandrina da Silva. 2. ed. São Paulo: Editora Sol, 2020.
152 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Metodologia de ensino. 2. Ciências Sociais. 3. Construção do 
conhecimento. I. Paladim Junior, Heitor Antonio. II. Título.
681.3
U421.13 - 20
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Marina Bueno
 Lucas Ricardi
Sumário
Metodologia de Ensino Aplicada às Ciências Sociais
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO ......................... 12
2 O DESENVOLVIMENTO DE UM OLHAR SOCIOLÓGICO ...................................................................... 16
3 A DESNATURALIZAÇÃO E O ESTRANHAMENTO DA REALIDADE .................................................. 24
4 CRITÉRIOS E SELEÇÃO DOS CONTEÚDOS .............................................................................................. 29
4.1 O trabalho com conceitos ................................................................................................................. 34
4.2 O trabalho com teorias ...................................................................................................................... 38
4.3 A seleção de temas .............................................................................................................................. 42
Unidade II
5 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ...................................................................... 53
5.1 Aula expositiva e construção do diálogo coletivo .................................................................. 56
5.2 Os seminários ......................................................................................................................................... 58
5.3 A pesquisa como recurso didático................................................................................................. 61
6 RECURSOS DIDÁTICOS .................................................................................................................................. 64
6.1 Leitura e produção de textos ........................................................................................................... 69
6.2 A utilização de poesias e músicas ................................................................................................. 74
6.3 Tecnologias audiovisuais: TV e vídeo nas aulas de Sociologia ........................................... 80
6.4 A internet e a criação de redes de conhecimento .................................................................. 91
Unidade III
7 OS LIVROS DIDÁTICOS DE SOCIOLOGIA ................................................................................................. 99
7.1 Análise dos livros didáticos ............................................................................................................106
7.2 O trabalho com livros didáticos ....................................................................................................111
8 OS PROCESSOS AVALIATIVOS NO ENSINO DE SOCIOLOGIA ........................................................113
8.1 Avaliação diagnóstica e autoavaliação .....................................................................................132
8.2 Considerações finais ..........................................................................................................................132
7
APRESENTAÇÃO
As premissas que norteiam a missão da Universidade Paulista (UNIP) e o curso de Licenciatura em 
Sociologia são atuar para o progresso da comunidade, para o fortalecimento da solidariedade entre os 
homens e para o desenvolvimento do país. Diante dessas premissas, a disciplina Metodologia de Ensino 
Aplicada às Ciências Sociais tem como objetivo habilitar profissionais para o exercício da docência e 
que sejam capazes de analisar e compreender a realidade social em seus múltiplos aspectos. Outro 
objetivo desta disciplina é preparar profissionais éticos e competentes, com sólida formação teórica e 
metodológica nas áreas que compõem o campo científico das Ciências Sociais – Antropologia, Sociologia 
e Ciência Política.
A disciplina Metodologia de Ensino Aplicada às Ciências Sociais trata das especificidades do 
ensino das Ciências Sociais e parte do pressuposto que o ensino não significa a mera transmissão de 
conhecimentos. Por isso, discorremos sobre o processo de construção do conhecimento tendo como 
referência as ideias desenvolvidas por Paulo Freire.
Esta disciplina analisa o processo de formação do olhar sociológico e procura explorar as possibilidades 
de constituição deste tipo de olhar entre os jovens do Ensino Médio. De forma específica, busca-se 
compreender como o processo de ensino-aprendizagem pode ser favorecido com o desenvolvimento 
deste tipo de olhar que chamamos olhar sociológico.
Tendo como referência as Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino da Sociologia, procura-se 
explicar o significado dos recursos epistemológicos do estranhamento e da desnaturalização e sua 
importância na formação de um novo olhar sobre a sociedade marcada pela problematização da 
realidade.
A partir das premissas iniciais, analisam-se os critérios para a seleção dos conteúdos de ensino da 
Sociologia na Educação Básica. Em seguida, descreve-se as possibilidades e os recortes necessários para 
o ensino a partir dos conceitos, temas e teorias.
Esse livro-texto discorre e problematiza acerca das metodologias de ensino. Sugere caminhos para 
as aulas expositivas, seminários e pesquisas com os jovens do EnsinoMédio. Na unidade sobre recursos 
didáticos, problematiza-se o trabalho com leituras, a utilização de músicas e poesias e o uso de mídias 
digitais em sala de aula.
Por fim, refletimos acerca dos materiais didáticos, particularmente os livros e os processos de 
avaliação nesta área do conhecimento.
Espera-se que este livro-texto contribua para a ação dos professores iniciantes na carreira. Deve-se 
ter em mente que apenas o acesso às informações aqui contidas não é suficiente para garantir o 
êxito do trabalho pedagógico do professor. É preciso apropriar-se dos conhecimentos, reelaborá-los e 
contextualizá-los de acordo com a realidade vivida por vocês e seus alunos.
8
O propósito deste texto é fornecer aos alunos material de apoio para o acompanhamento da 
disciplina Metodologia de Ensino Aplicada às Ciências Sociais. A questão que o permeiam são:
Como criar situações de aprendizagem que possibilitem um ensino de Sociologia instigante e 
desafiador para os jovens?
INTRODUÇÃO
O objetivo deste livro-texto é fornecer ao graduando do curso de Licenciatura em Sociologia material 
de apoio para o acompanhamento da disciplina Metodologia de Ensino Aplicada às Ciências Sociais. 
Você terá acesso a uma série de informações que aprofundarão as aulas em vídeo e também terá 
indicações de materiais adicionais para que seus estudos sejam ainda mais proveitosos.
As análises aqui desenvolvidas têm como referência o ensino da Sociologia para jovens do Ensino 
Médio. A partir da promulgação da Lei nº 11.684/2008, o ensino de Sociologia se tornou obrigatório em 
todas as séries do Ensino Médio de todas as escolas do país.
Para atuar como professor na Educação Básica, a legislação exige que o docente tenha formação em 
Licenciatura Plena em Sociologia e/ou Ciências Sociais.
Diante da urgência nacional de formação de docentes para atender à demanda de profissionais 
para as escolas do país, optamos por privilegiar nesta disciplina a formação de professores para o 
Ensino Médio.1
Acreditamos que aqueles que tiverem interesse em atuar como professores em cursos informais de 
educação popular ou mesmo aqueles que pretendem atuar como docentes no Ensino Superior encontrarão 
aqui um conjunto de reflexões básicas sobre a metodologia de ensino, mas terão que complementá-las 
com leituras específicas sobre educação popular ou sobre metodologia de Ensino Superior.
Recomendamos também leituras complementares para aqueles que procuram aprofundar o 
conhecimento sobre as metodologias de ensino para a educação de jovens e adultos, na educação 
de comunidades indígenas e nas comunidades quilombolas. Estas modalidades de ensino possuem 
especificidades que não são tratadas nesta disciplina.
Na primeira parte do nosso curso, veremos o que é o olhar sociológico e iremos analisar o significado 
dos processos de estranhamento e desnaturalização do olhar. Abordaremos estes processos a partir da 
análise da produção acadêmica brasileira e internacional sobre os significados do ensino de Sociologia 
no nível médio.
Tendo como referência as Orientações Curriculares Nacionais, vamos analisar as perspectivas 
de trabalho com temas, teorias e conceitos. Apresentaremos alguns caminhos para que o professor 
1 Sob a perspectiva da Lei, o diploma de Licenciatura é condição elementar para o exercício da docência na 
educação básica.
9
iniciante na área formule o seu próprio mapa dos percursos, mapa este que reflita e que pretende seguir 
a interação com os seus próprios alunos.
Em seguida, analisaremos os recursos metodológicos básicos para esta área de ensino. Vamos 
discorrer acerca das dificuldades do trabalho com aulas expositivas e apresentação de seminários. A 
seguir, trataremos da especificidade da pesquisa como recurso didático para o ensino e também como 
caminho para o desenvolvimento da autonomia intelectual do jovem estudante.
Serão analisados os recursos didáticos como leitura, utilização de vídeos, poesia, internet e livros 
didáticos. O foco destas análises é refletir sobre as especificidades de seus usos no ensino da Sociologia.
Por fim, vamos abordar a problemática da avaliação e refletir sobre as possiblidades de avaliações 
que contribuam para o aperfeiçoamento do processo educativo.
Esperamos que este seja um proveitoso curso de Metodologia de Ensino Aplicada às Ciências Sociais.
Bons estudos!
11
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
Unidade I
Inicialmente, nos colocamos a questão: o que entende-se por Metodologia de Ensino?
Segundo o Grande Dicionário Larousse da Língua Portuguesa (1999), metodologia significa “parte de uma ciência 
que estuda os métodos aos quais ela se liga ou dos quais se utiliza”. No caso da Metodologia de Ensino, refere-se aos 
métodos ou caminhos traçados pelos pesquisadores para orientar os caminhos do ensino de uma disciplina.
A noção de metodologia nos conduz a pensar na existência de um conjunto de técnicas de pesquisa 
empírica e análise de dados que possa indicar com precisão o caminho eficaz para desenvolver a 
aprendizagem, que seja utilizado em diferentes contextos sociais produzindo o mesmo êxito.
Porém, a metodologia de ensino envolve os referenciais teóricos que utilizamos para compreender a 
realidade. O ato de ensinar deve estar conectado com o seu referencial teórico.
Bridi, Araújo e Motim assim definem a metodologia:
A metodologia é, enfim, a junção entre teoria e método, não se restringindo a 
um conjunto de estratégias ou técnicas de ensino e pesquisa; pelo contrário, 
abrange tanto o caminho a percorrer quanto as concepções de educação, 
ciência, mundo e realidade escolar e seu projeto educativo, realizando-se 
naquele que aprende (BRIDI; ARAÚJO; MOTIM, 2009, p. 108).
Como se pode ver, a metodologia de ensino requer a compreensão de quem são os nossos alunos, 
como vivem e quais são as suas representações de mundo. Não existe um sistema universal de ensino 
que seja eficaz para realidades diversas.
Neste sentido, é preciso considerar que não existe um conjunto de técnicas ou receitas de como dar 
aulas em Ciências Sociais. Mesmo para a análise da realidade brasileira, é preciso considerar a diversidade 
do país. Se o sentido do ensino partir da realidade do aluno, nos compete atuar sempre como professores 
pesquisadores da realidade, como veremos na próxima unidade.
 Saiba mais
Sugerimos que assista ao filme:
PINK Floyd The Wall. Dir. Alan Parker. Reino Unido: Goldcrest Movies 
International, 1982. 95 min.
12
Unidade I
O filme retrata a história de Pink, um roqueiro frustrado, que se sente 
abandonado no mundo pelos pais, pela fama e pela mulher, culpando-os 
por seu isolamento e insatisfação. Seu pai foi morto na guerra ao defender 
a pátria e não deixou memórias boas. Sua mãe superprotetora impediu-o 
de evoluir como homem, sua mulher o trocou por outro homem e os 
professores e a escola – tão bem retratados no filme – o oprimiram por 
escrever poemas e músicas. Particularmente, são interessantes as cenas da 
escola que não visa a formação do indivíduo, presente na música Another 
Brick in the Wall.
1 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO
A questão inicial que permeia a nossa reflexão é discutir o que significa a construção do conhecimento. 
Partimos das considerações de Paulo Freire, que concebe que o conhecimento deve ser construído pelos 
indivíduos. Assim, o conhecimento não deve ser transmitido, mas construído pelos indivíduos. Em outras 
palavras, o conhecimento é construído intersubjetivamente na interação entre professor e aluno.
Figura 1 - Paulo Freire, educador brasileiro
Partimos inicialmente das considerações de Paulo Freire sobre a ética do educador. O fazer pedagógico 
deve ser permeado de um senso ético que não se curve aos interesses do mercado e se paute na defesa 
da integridade dos seres humanos. A ética deve ser inseparável da prática, como afirma o autor:
A melhor maneira de por ela [ética] lutar é vivê-la em nossa prática, é 
testemunhá-la, vivaz, aos educandos em nossasrelações com eles. Na 
maneira como lidamos com os conteúdos que ensinamos, no modo como 
citamos autores de cuja obra discordamos ou com cuja obra concordamos 
(FREIRE, 1996, p. 8).
Para Freire, o exercício da ética do docente requer que este, ao aceitar ou não as concepções 
pedagógicas de um autor, deve ser franco com os educandos e deve indicar as razões da crítica. A ética 
13
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
é concebida como formação de valores e não como internalização de regras. O que não se admite é a 
mentira, conforme segue:
O preparo científico do professor ou da professora deve coincidir com sua 
retidão ética. É uma lástima qualquer descompasso entre aquela e esta. 
Formação científica, correção ética, respeito aos outros, coerência, não 
permitir que o nosso mal-estar pessoal ou nossa antipatia com relação ao 
outro nos façam acusá-lo do que não fez são obrigações a cujo cumprimento 
devemos humilde mas perseverantemente nos dedicar (FREIRE, 1996, p. 8).
Seguindo as concepções de Freire, acreditamos que o educando deve ser sujeito de seu processo de 
aprendizado, deste modo o professor deve ter clareza de que ensinar não é transferir conhecimento, 
mas criar as condições para que o educando construa o seu próprio conhecimento. Portanto, ensinar 
não é transferir conhecimentos ou conteúdos, pois é preciso que haja relação dialógica entre os sujeitos 
do processo educativo, que são os docentes e discentes.
Como afirma Paulo Freire,
Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar 
das dificuldades que os conotam, não se redizem à condição de objeto, 
um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao 
aprender (FREIRE, 1996, p. 12).
Sob a perspectiva freireana, o ato de ensinar não se reduz ao tratamento dado ao objeto ou ao 
conteúdo, mas a criação de condições para que o educando desenvolva e apreenda o conteúdo de 
maneira crítica. Isto requer um docente que seja crítico, instigador, que estimule a reflexão – o que nos 
conduz a afirmar que ensinar exige a prática da pesquisa.
Figura 2 - Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire
14
Unidade I
Para o ensino das Ciências Sociais‒– área de conhecimento que não possui tradição de ensino –, a 
prática da pesquisa se torna imperiosa para que se atinja os objetivos. Ao pesquisar, o docente continua 
a busca do conhecimento, educa e se autoeduca.
Outro elemento considerado essencial para a construção do conhecimento sociológico é o 
aguçamento da curiosidade do educando. A curiosidade ingênua, quando estimulada a compreender o 
mundo de forma mais ampla, pode se transformar em curiosidade epistemológica e crítica.
 Lembrete
Paulo Freire é o educador brasileiro de maior prestígio internacional. 
Atuou em movimentos de alfabetização de adultos em vários países do 
mundo. Durante o regime militar se exilou no Chile, onde escreveu A 
Pedagogia do Oprimido.
Ainda seguindo as contribuições de Paulo Freire para o pensamento educacional, o autor afirma que 
o educador deve exercitar constantemente uma análise crítica sobre a sua própria prática. Como afirma:
Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o 
da reflexão crítica sobre a prática. O próprio discurso teórico, necessário 
à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunde 
com a prática (FREIRE, 1996, p. 22).
Deste modo, Paulo Freire concebe que não há docência sem discência, concebe que a construção 
do conhecimento requer a ação dos sujeitos, professor e aluno. Apesar das diferenças que os conotam, 
não se reduzem à condição de objeto um do outro. Assim, quem ensina aprende ao ensinar e quem 
aprende ensina ao aprender. Como sujeitos da ação educativa, espera-se que educadores e educandos 
valorizem uma cultura escolar que seja mais participativa e a escola tenha como objetivo a humanização 
e formação das novas gerações.
Partimos de uma concepção de educação humanista, que se pauta na compreensão de que a relação 
de ensino e aprendizagem requer a ação de sujeitos.
 Observação
O que é uma educação humanista?
É a educação que se apropria das formas humanas de comunicação 
e utiliza os instrumentos culturais necessários para as práticas mais 
comuns da vida cotidiana. É a educação que se apropriar do conhecimento 
historicamente constituído.
15
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
 Saiba mais
Para conhecer melhor a produção de Paulo Freire, assista ao documentário 
de Toni Venturi, Paulo Freire Contemporâneo. No documentário, Paulo Freire 
deixa claro que não quer ser conhecido como um educador que criou um 
método de alfabetização, mas que criticou o modelo educacional brasileiro 
e pensou métodos de educação a partir do diálogo e da humanização. No 
endereço eletrônico indicado a seguir, também há versão do filme em Libras.
PAULO Freire Contemporâneo. Dir. Toni Venturi. Brasil: TV Escola. 2007. 
53 min. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=20107>. Acesso em: 28 
jan. 2015.
Para Severino (2007), uma das principais causas do fraco desempenho do processo de 
ensino-aprendizagem no Brasil advém de uma concepção de educação que busca lidar com o 
conhecimento sem construí-lo mediante a prática da pesquisa e humanização do sistema educacional. 
Nas palavras do autor:
O desafio mais radical que cabe à educação brasileira é o questionamento do 
próprio significado do projeto civilizatório brasileiro. O país vive uma crise 
total de civilização e todo esforço para a articulação de um projeto político e 
social para a população brasileira pressupõe a discussão de questões básicas 
relacionadas à dignidade humana, à liberdade, à igualdade, ao valor da 
existência comunitária, às perspectivas de um destino comum (SEVERINO, 
2007, p. 15).
Deste modo, o autor nos possibilita refletir sobre a necessidade de formação de uma nova consciência 
social, que permita compreender como as vidas humanas se encontram interligadas nas sociedades 
contemporâneas.
A partir de então, coloca-se a necessidade de se refletir coletivamente sobre o próprio processo 
de construção do conhecimento, particularmente na área de Metodologia de Ensino para as Ciências 
Sociais. Antes, entretanto, é necessário fazer-se a pergunta do que significa construir o conhecimento.
A atividade de ensinar e aprender está intimamente vinculada a esse 
processo de construção do conhecimento, pois ele é a implementação de 
uma equação de acordo com a qual educar (ensinar e aprender) significa 
conhecer; e conhecer, por sua vez, significa construir o objeto; mas construir 
o objeto significa pesquisar (SEVERINO, 2007, p. 25).
16
Unidade I
Neste sentido, torna-se imperioso refletir sobre a necessidade de uma prática docente fundada 
numa postura investigativa, voltada para a produção de conhecimento, para a reflexão sobre a sua 
prática pedagógica, que possa construir sua própria metodologia e que contribua para que seus alunos 
avancem na busca do conhecimento e da autonomia.
 Lembrete
Antonio Joaquim Severino é filósofo da Educação, professor da 
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Sua obra Metodologia 
do Trabalho Científico, é um dos mais importantes livros da área publicados 
no Brasil.
Bridi, Araújo e Motim nos chamam atenção para o desenvolvimento dialético da ação pedagógica, 
que segundo os autores significa:
construir o conhecimento numa relação de interação professor, aluno, objeto 
e realidade. Não é uma tarefa fácil, por não se apresentar gratuitamente na 
ação de ensino-aprendizagem. Há de construí-la a partir do envolvimento 
do professor e do aluno. Ao professor não cabe fazer para/pelo aluno, mas 
ser mediador na relação educando e objeto de conhecimento, a realidade 
social, na Sociologia (BRIDI; ARAÚJO; MOTIM, 2009, p. 82).
Exemplo de aplicação
Reflita sobre duas questões importantes que surgiram com a atual crise da escola brasileira.
É uma utopia pensar em uma educação humanista?Faz sentido para o professor considerar a escola como espaço de pesquisa?
2 O DESENVOLVIMENTO DE UM OLHAR SOCIOLÓGICO
O sentido do ensino da Sociologia não é formar cidadãos que tenham o domínio teórico e 
metodológico das Ciências Sociais. O que se coloca é a necessidade de desenvolver uma nova forma de 
olhar a realidade. O olhar sociológico é uma forma de olhar a realidade que se diferencia do olhar do 
historiador, do geógrafo ou do filósofo.
Emile Durkheim, em As Regras do Método Sociológico, considera que o olhar humano é repleto de 
prenoções. Para este autor,
O homem não pode viver entre as coisas sem formular ideias a respeito delas, 
e regula sua conduta de acordo com tais ideias. Mas, devido a estarem as 
17
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
noções mais próximas de nós e mais ao nosso alcance do que as realidades 
a que correspondem, tendemos naturalmente para substituir por elas estas 
últimas, transformando-as na própria matéria de nossas especulações 
(DURKHEIM, 1985, p. 13).
Deste modo, em vez de observar as coisas, descrevê-las e compará-las, é usual que os homens e 
mulheres tomem as noções mais próximas como expressão da verdade. As prenoções que desenvolvemos 
sobre as coisas são vistas como produtos da experiência vulgar que visa “harmonizar nossas ações com 
o mundo que nos cerca” (DURKHEIM, 1985, p. 14).
Se as nossas prenoções não representam a realidade, elas acabam por constituir um véu que separa 
as coisas observadas da realidade objetiva. Assim, as prenoções desfiguram as próprias coisas.
Figura 3 - As prenoções do olhar
Para melhor compreensão do papel das prenoções na nossa construção da realidade, vamos 
exemplificar tendo como referência a primeira pesquisa de campo de Durkheim, a análise do suicídio. 
Aparentemente, o suicídio é um problema individual, pois a regra social básica é que devemos lutar pela 
vida. Os suicidas são considerados como exceções à regra.
Durkheim analisou os prontuários policiais de suicidas e encontrou certa regularidade na ocorrência 
de suicídios. Após análise, concluiu que os índices de suicídio aumentam nos contextos de crise social, 
portanto, não se trata de uma ação individual extrema desconectada do social. A prática do suicídio 
expressa uma forma de relação dos indivíduos com a sociedade. Assim, se a prenoção indica tratar-se de 
um fato isolado e particular, a análise detalhada indica ser um fenômeno social.
18
Unidade I
Figura 4 - As Regras do Método Sociológico, de Émile Durkheim
A seguir há um trecho que expressa como Durkheim compreende as prenoções que ofuscam o nosso 
olhar para a realidade:
Mas se o detalhe, se as formas concretas e particulares nos escapam, 
concebemos pelo menos de uma maneira geral e grosseira os aspectos mais 
gerais da vida coletiva, e são precisamente tais representações esquemáticas 
e sumárias que constituem as prenoções de que nos servimos para os usos 
correntes da vida (DURKHEIM, 1985, p. 16).
Diante do exposto, o que chamamos de olhar sociológico requer uma forma de olhar a realidade 
livre das prenoções. Entretanto, nosso olhar não é neutro, pois carrega as prenoções que construímos 
sobre a realidade.
Para a pesquisa sociológica, Durkheim afirma ser necessário tratar os fenômenos estudados 
como coisas. Para ele, coisa é “tudo que é dado, tudo que se oferece ou antes se impõe à observação” 
(DURKHEIM, 1985, p. 24). Assim, o autor formula corolários que devem conduzir a ação daquele que 
busca a compreensão objetiva da realidade.
É preciso afastar sistematicamente todas as prenoções. [...] A dúvida metódica 
de Descartes não é, no fundo, senão aplicação dela. Se, no momento em 
que ia fundar a ciência, adotou Descartes como regra duvidar de todas as 
ideias que recebera anteriormente, foi porque não queria empregar senão 
conceitos cientificamente elaborados, isto é, construídos de acordo com o 
método que estava instituindo. [...] É preciso, então, que o sociólogo, no 
momento em que determina o objeto de suas pesquisas ou no decorrer 
de suas demonstrações, proíba resolutamente a si próprio o emprego de 
conceitos formados exteriormente à ciência e para fins que nada tem de 
científico. É preciso que se liberte destas falsas evidências que dominam o 
espírito do vulgo, que sacuda de uma vez por todas o jugo de categorias 
19
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
empíricas que hábitos arraigados acabam por tornar tirânicas, muitas vezes 
(DURKHEIM, 1985, p. 28).
Talvez você esteja se perguntado, por que buscar referências nos corolários da pesquisa científica 
de Durkheim? O ensino de Ciências Sociais não tem como objetivo formar um ser humano melhor ou 
formar pesquisadores?
Lembre-se que Paulo Freire afirma ser necessário formar o estudante para a autonomia, para pensar 
por si. Deste modo, é importante desenvolver junto com o aluno uma nova forma de olhar a realidade. 
Portanto, não vamos formar alunos pesquisadores, mas que saibam olhar a realidade sob a perspectiva 
sociológica. Diante do exposto, Durkheim é um autor que nos conduz a uma fundamentação da própria 
prática como docente.
 Observação
A separação entre sujeito e objeto é obtida nas ciências da natureza, 
como na Física, Biologia, Botânica ou Zoologia pela natureza diversa dos 
fenômenos observados. Nas Ciências Humanas, há necessidade de elaboração 
de métodos próprios, como a pesquisa etnográfica na Antropologia.
 Saiba mais
Para saber mais sobre a pesquisa etnográfica, consulte:
ROCHA, A. L.; ECKERT, C. Etnografia: saberes e práticas. Revista 
Iluminuras. V. 9, nº 21, 2008. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/
iluminuras/article/view/9301/5371>. Acesso em: 28 jan. 2015.
Como atividade didática, é importante propor para os alunos um treino do olhar. Nos Cadernos 
do Professor, publicados pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo2, é proposto a seguinte 
atividade para o treino do olhar: os alunos devem ir a um lugar no seu bairro que eles não costumam 
frequentar e descrever o local e as pessoas que o frequentam. Podem observar, por exemplo, as diferenças 
de geração ao visitar uma creche ou um asilo. Outra possibilidade é ir a um local que possua diferenças 
de religião, indo a uma igreja católica, evangélica, centro espírita, sinagoga etc. O importante da pesquisa 
é que o estudante vá a um ambiente diferente do que está acostumado a conviver.
Mesmo que os textos produzidos pelos alunos estejam repletos de prenoções, é importante 
mostrar-lhes como seus textos expressam preconceitos. Mesmo indo a um lugar que não conheciam, 
2 Desde 2009, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo publica os Cadernos do Professor, que visa dar 
subsídios para o trabalho dos professores. 
20
Unidade I
lançaram um olhar que não se limitou a descrever o que viam. Os alunos portam prenoções que podem 
ser carregadas de preconceitos e estereótipos.
A observação é o primeiro passo da pesquisa. Deste modo, os alunos devem descrever somente o que 
veem, o que as pessoas fazem, como se comportam, pois o que caracteriza o olhar sociológico é a ação 
e interação dos seres humanos.
Veja a seguir um exemplo de pesquisa descrito no Caderno do Professor de Sociologia:
Alguns alunos resolveram fazer uma descrição da Câmara dos 
Vereadores e escreveram em seu trabalho que “aqui é um lugar onde 
as pessoas fazem leis e ganham muito dinheiro”. Em sala de aula, você 
pode citar esse exemplo e dizer que há dois problemas nessa descrição. 
Primeiro, como é possível saber que se fazem leis naquele local, se pelo 
olhar não há nada que indique isso? E, segundo, como dizer que eles 
ganham muito dinheiro sem nenhuma explicação que parta do olhar? 
(SÃO PAULO, 2009, p. 13).
É preciso estabelecer a distinção entre o olhar do senso comum e do olhar sociológico. Embora o 
conhecimento de senso comum seja uma forma válida de olhar a realidade, é uma forma de conhecer 
que deve ser superada.
O olhar sociológico sobre a realidade requer um distanciamento do senso comum,pois não é possível 
pensar sociologicamente nele estando imerso.
O senso comum, como forma de conhecer a realidade, constitui um conhecimento simplista, que 
não se submete a uma reflexão mais cuidadosa. Trata-se também de um conhecimento marcado pela 
superficialidade, pois fica circunscrito ao aparente, sem submetê-lo à análise mais rigorosa. O senso 
comum não questiona o que é dito, tornando o conhecimento acrítico. Outra característica fundamental 
do senso comum é que trata-se de um conhecimento repleto de sentimentos, o que tira a objetividade 
da pessoa e a conduz a uma ação irracional. Por fim, o senso comum é portador de preconceitos, 
compreendido como o conceito antecipado, daquele que já acha que sabe antes de conhecer e lança 
mão de explicações repletas de juízos de valor.
Deste modo, torna-se necessário superar o senso comum, pois:
Se quisermos construir um conhecimento coerente e consistente, precisamos 
afastar as prenoções e os julgamentos de valor que estão presentes no senso 
comum (SÃO PAULO, 2009, p. 16).
Como se pôde ver, a superação do senso comum requer uma nova forma de olhar a realidade, 
pois não é possível compreender o social quando o indivíduo se encontra impregnado de prenoções e 
preconceitos.
21
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
 Saiba mais
Uma forma lúdica de trabalhar a questão do olhar com os jovens é a 
partir das gravuras do artistas holandês Mauritis Escher, disponíveis em: 
<http://www.mcescher.com/>.
É necessário considerar que não existe uma única forma de olhar a realidade. Nosso olhar é dado pelo 
lugar que ocupamos na estrutura social. Observem que os maiores críticos dos processos de erradicação 
da miséria não são miseráveis.
Uma possibilidade mais lúdica de discutir esta questão com os alunos é tomar o futebol como forma 
de exemplificação. Uma partida de futebol pode ser descrita das mais diferentes formas. É preciso que 
se identifique o ângulo do qual se observa o jogo. A percepção de quem assiste a um jogo no estádio 
é diferente da percepção de quem assiste na televisão. A visão pode se diferenciar de uma emissora de 
televisão para outra.
Figura 5 – O olhar depende do ângulo de observação
Dessa forma, é possível perceber que existem inúmeras possibilidade de se observar a realidade. Tudo 
depende do ângulo adotado. Não estamos aqui querendo reproduzir ao relativismo do senso comum, 
que não vislumbra a possibilidade do conhecimento objetivo, pois tudo seria relativo ao ponto de vista 
de quem analisa. O desenvolvimento do olhar sociológico requer uma análise da realidade o mais isenta 
possível, por isto, requer que os eventos sejam analisados sob o maior número de ângulos possíveis.
No primeiro exemplo que utilizamos para tratar da questão da diferença dos ângulos do olhar, nos 
referimos aos programas de erradicação da miséria. Os maiores críticos destes programas não são os 
miseráveis. Deste modo, o olhar sociológico deve se voltar para os diferentes segmentos sociais que 
compreendem os programas de erradicação da miséria, pois, sob a perspectiva sociológica, não existem 
unanimidades, não existe uma visão única da sociedade. Mas, o olhar sociológico só se constitui quando 
nos livramos do olhar mais imediato, nos despojamos dos preconceitos e dos juízos de valor.
22
Unidade I
Como afirma Silva:
É necessário enfatizar que o sentido do ensino da Sociologia no nível 
médio não é formar sociólogos, mas possibilitar ao cidadão comum pensar 
sociologicamente. Pois como afirma SOUTO (1987) “pensar sociologicamente 
é pensar não só de modo racionalmente rigoroso, como também de maneira 
comprovável pela observação controlada dos fatos sociais” (SOUTO, 1987 
apud SILVA, 2011, p. 193).
Portanto, a forma de olhar a realidade é o caminho para a análise científica e para a produção do 
conhecimento. Para Giddens (2012),
Aprender a pensar de maneira sociológica – olhar, em outras palavras, o 
quadro mais amplo – significa cultivar a nossa imaginação. Estudar sociologia 
não é apenas um processo rotineiro de adquirir conhecimento. Um sociólogo 
é alguém que consegue se libertar da imediatez das circunstâncias pessoais e 
colocar as coisas em um contexto mais amplo. O trabalho sociológico depende 
daquilo que o autor americano C. Wright Mills, em uma expressão famosa, 
chamou de imaginação sociológica (MILLS, 1970 apud GIDDENS, 2012, p. 19).
Deste modo, o desenvolvimento do olhar sociológico requer que nos afastemos em pensamento da 
dimensão cotidiana da vida e procuremos enxergar a realidade de forma mais ampla. Seguindo a linha 
de raciocínio, Giddens afirma que a imaginação sociológica nos permite ver os fatos de maneira mais 
ampla. Veja a seguir como é possível despertar o olhar sociológico a partir da poesia.
Exemplo de Aplicação
Leia o poema a seguir e reflita:
O que mudou na perspectiva de olhar do operário?
O operário em construção
Era ele que erguia casas
Onde antes havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
23
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão –
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno, gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
24
Unidade I
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção.
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão.
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão—
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
[...]
Fonte: Moraes (1983, p. 67-70).
Observe como o operário ao longo da narrativa desenvolveu um novo olhar sobre a realidade. O 
poema indica com clareza a transformação do olhar do operário.
3 A DESNATURALIZAÇÃO E O ESTRANHAMENTO DA REALIDADE
Antony Giddens (2012), renomado sociólogo britânico, procura definir a Sociologia pela necessidade 
humana de adotar uma visão mais ampla sobre o que acontece com as nossas vidas. Segundo este autor, 
a Sociologia
25
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
nos ensina que aquilo que consideramos natural, inevitável, bom ou 
verdadeiro pode não ser, e que as coisas que consideramos como normais 
são profundamente influenciadas por fatos históricos e processos sociais 
(GIDDENS, 2012, p. 19).
O olhar formado pelo senso comum sobre a realidade conduz ao processo de naturalização de 
fenômenos, sendo que, para a reflexão sociológica, é necessário um olhar de dúvida, marcado aqui pela 
desnaturalização.
Mas o que significa o processo de desnaturalização dos fenômenos sociais? Desnaturalizarsignifica 
perder a naturalidade do modo de enxergar a realidade. É usual ouvirmos expressões como: “Isso é 
natural”, que nos conduzem a pensar que as coisas sempre foram como se apresentam e que sempre 
serão da mesma forma.
Segundo as Orientações Curriculares Nacionais, uma das principais contribuições que o pensamento 
sociológico traz para o Ensino Médio seria a desnaturalização dos fenômenos sociais. Segundo este 
documento:
Há uma tendência sempre recorrente a se explicarem as relações sociais, as 
instituições, os modos de vida, as ações humanas, coletivas ou individuais, a 
estrutura social, a organização política etc. com argumentos naturalizadores. 
Primeiro, perde-se de vista a historicidade desses fenômenos, isto é, que nem 
sempre foram assim; segundo, que certas mudanças ou continuidades históricas 
decorrem de decisões, e essas, de interesses, ou seja, de razões objetivas e humanas, 
não sendo fruto de tendências naturais (ORIENTAÇÕES..., 2006, p. 106).
Diante do exposto, concebe-se a desnaturalização como elemento do que chamamos anteriormente 
de olhar sociológico, tendo em vista que conduz o indivíduo à reflexão sobre as razões pelas quais 
tendemos a considerar certos fenômenos como naturais.
As OCNs exemplificam a desnaturalização pela análise da economia, particularmente pela ideia de 
mercado que tende a ser visto como algo que se coloca acima dos homens e mulheres, que possui 
vontade própria a qual os cidadãos devem obedecer.
Figura 6 – O mercado financeiro não é regido por leis naturais da economia, mas pelos interesses de grupos sociais
26
Unidade I
Observe a recorrência de frases como a que se segue: “Pobres sempre haverá: bem aventurados os 
pobres”. Este tipo de expressão, recorrente no senso comum, possui o caráter de naturalizar a pobreza 
e, consequentemente, escamoteia a percepção de que a pobreza é expressão das relações sociais que os 
indivíduos estabelecem em sociedade. Essa frase, portanto, torna natural o que é criação social.
Veja a seguir exemplos de frases presentes no senso comum que tendem à naturalização dos 
problemas sociais:
“Este país não vai pra frente com o povinho que tem.”
“Lugar de mulher é na cozinha.”
“Quem planta colhe, quem trabalha tem.”
“A felicidade nesta vida não existe, só na vida sobrenatural.”
Observe como as frases, ao naturalizar os problemas sociais, conduzem à conformação social, uma 
vez que não questionam os porquês dos eventos. O ensino de Sociologia no nível médio deve ser capaz 
de suscitar no jovem a capacidade de questionar verdades que são vistas como naturais, mas que não 
passam de construção social.
Exemplo de aplicação
Faça um levantamento com os alunos das expressões populares presentes em sua região e peça 
para que eles tragam-nas para a sala de aula para discutir como podem ser portadoras do processo de 
naturalização dos fenômenos sociais.
O estranhamento é concebido como um dos princípios epistemológicos que permeiam o ensino de 
Sociologia. Segundo as OCNs, o estranhamento conduz a
observar que os fenômenos sociais que rodeiam a todos e dos quais se 
participa não são de imediato conhecidos, pois aparecem como ordinários, 
triviais, corriqueiros, normais, sem necessidade de explicação, aos quais se está 
acostumado, e que na verdade nem são vistos (ORIENTAÇÕES..., 2006, p. 106).
O estranhamento pode ser compreendido como a capacidade de admiração, espanto diante de algo 
que não se conhece. Neste sentido, o estranhamento é o recurso metodológico que permite problematizar 
e interrogar a realidade.
Para Moraes (2010), o estranhamento é compreendido da seguinte maneira:
espantar-se é não achar normal, não se conformar, ter uma sensação de 
insatisfação perante fatos novos ou do desconhecimento de situações e de 
explicações que não se conhecia (MORAES, 2010, p. 48). 
27
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
O leitor deve estar se perguntando: ”Devemos provocar nos alunos uma sensação de 
insatisfação, de espanto, de não conformação?”. A resposta é: “Sim, a insatisfação é o que conduz 
a reflexão. A aceitação passiva da realidade, não conduz o indivíduo a refletir sobre os nexos que 
o ligam à realidade”.
Na obra coordenada por Moraes, há continuidade da análise do estranhamento identificando sua 
potencialidade em suscitar o ato de pensar: “Estranhamento é uma sensação de incômodo, mas agradável 
incômodo – vontade de saber mais e entender tudo – sendo, pois, uma forma superior de duvidar” (MORAES, 
2010, p. 48).
É importante que o futuro professor saiba como despertar o estranhamento em seus alunos. E 
deve se perguntar: “Como despertar o estranhamento?”. O olhar de estranhamento sobre a realidade é 
suscitado mediante questionamentos com perguntas problematizadoras.
Na pesquisa antropológica, a questão do estranhamento ganha relevância por possibilitar a percepção 
da diversidade cultural. Sobre esta questão, veja a seguir as considerações de Laplantine:
Aquilo que tomávamos por natural em nós mesmos é, de fato, cultural; 
aquilo que era evidente é infinitamente problemático. Disso decorre a 
necessidade, na formação antropológica, daquilo que não hesitarei em 
chamar “estranhamento” (depaysement), a perplexidade provocada pelo 
encontro das culturas que são para nós as mais distantes, e cujo encontro 
vai levar a uma modificação do olhar que se tinha sobre si mesmo. De 
fato, presos a uma única cultura, somos não apenas cegos à cultura dos 
outros, mas míopes quando se trata da nossa. A experiência da alteridade 
(e a elaboração dessa experiência) leva-nos a ver aquilo que nem teríamos 
conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar nossa atenção 
no que nos é habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos “evidente” 
(LAPLANTINE, 2007, p. 21).
Quando trazemos para o plano da vida cotidiana na sociedade contemporânea os princípios da 
desnaturalização e do estranhamento, percebemos que o ensino de Sociologia no nível médio pode 
conduzir o jovem a desenvolver um novo olhar sobre a sociedade e construir o seu próprio conhecimento, 
como nos coloca Paulo Freire.
Veja como a música a seguir instiga a pergunta e a reflexão:
Oito anos
Por que você é Flamengo
E meu pai Botafogo
O que significa
“Impávido colosso”?
28
Unidade I
Por que os ossos doem
Enquanto a gente dorme?
Por que os dentes caem?
Por onde os filhos saem?
Por que os dedos murcham
Quando estou no banho?
Por que as ruas enchem
Quando está chovendo?
Quanto é mil trilhões
Vezes infinito?
Quem é Jesus Cristo
Onde estão meus primos
Well, well, well
Gabriel...
Well, well, well
Por que o fogo queima?
Por que a Lua é branca?
Por que a Terra roda?
Por que deitar agora?
Por que as cobras matam?
Por que o vidro embaça?
Por que você se pinta?
Por que o tempo passa?
Por que que a gente espirra?
Por que as unhas crescem?
Por que o sangue corre?
Por que que a gente morre?
Do que é feita a nuvem?
Do que é feita a neve?
Como é que se escreve?
Re...véi…llon
Well, well, well
Gabriel (4x)
Fote: Dunga e Toller (2004).
29
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
A letra musical anterior contribui para exemplificar como o cultivo da dúvida pode ser estimulado a 
partir de elementos presentes na vida cotidiana. Outros recursos didáticos contribuem para essa função 
questionadora. A seleção destes recursos didáticos depende do exercício constante da pesquisa e do 
planejamento do professor.
Ao refletir especificamente sobre a contribuição da Sociologia como disciplina escolar, Moraes 
afirma:
É contribuição das Ciências Sociais, como a disciplina Sociologia para o 
nível médio, propiciar aos jovens o exame de situações que fazem parte 
do seu dia a dia, imbuídos de uma postura crítica e atitude investigativa. É 
sua tarefa desnaturalizar os fenômenos sociais, mediante o compromisso 
de examinar a realidade para além de sua aparência imediata, informada 
pelas regras inconscientes da cultura e do senso comum. Despertar no 
aluno a sensibilidade para perceber o mundo à sua volta como resultadoda 
atividade humana e, por isso mesmo, passível de ser modificado, deve ser a 
tarefa de todo professor (MORAES, 2010, p. 50).
O desenvolvimento de um olhar de desnaturalização e estranhamento da realidade podem ser 
conduzidos em sala de aula a partir do despertar da curiosidade, que tire o estudante da aceitação 
pacífica da realidade e curiosidade que conduza à reflexão e, quiçá, à pesquisa.
 Saiba mais
Recomendamos que assista ao vídeo de renomados pesquisadores 
da área.
ENSINO de Sociologia: contexto e princípios gerais. Dir. Nelson Tomazi e 
Amaury César Moraes. São Paulo: ATTA mídia, 2008. 50 min. 
4 CRITÉRIOS E SELEÇÃO DOS CONTEÚDOS
A seleção de conteúdos está ancorada no debate essencial da educação, que gira em torno de qual 
projeto cultural queremos. A questão que deve nortear a seleção de conteúdos é: em que concepções 
de sociedade, educação, ciência e ensino devem se apoiar o currículo e as propostas de conteúdo de 
Sociologia?
Sacristán (1999) analisa que os conteúdos de escolarização na contemporaneidade se voltam para 
as urgências sociais e concebe que os conteúdos devem ir além da seleção de disciplinas e conteúdos.
Como nos colocam Bridi, Araújo e Motim (2009), a análise sociológica sobre a problemática da escola 
revela haver uma crise quanto aos conteúdos a serem ensinados:
30
Unidade I
Não se sabe mais o que deve e o que merece ser ensinado, pois a função de 
transmissão cultural da escola não é identificada. Soma-se a isso o fato de terem 
emergido, nos anos de 1990, discursos pedagógicos de caráter instrumental, 
cujo objetivo consistia em formar espíritos ágeis, flexíveis, adaptáveis e 
preparados para as eventualidades. Como lembra Pablo Gentili (1995), a escola 
também sofreu com o assédio neoliberal e os discursos da qualidade total e a 
mercantilização da educação (BRIDI; ARAÚJO; MOTIM, 2009, p. 77).
Como podemos ver, o meio educacional vivenciou uma crise quanto a legitimidade e sentido dos 
conteúdos a serem selecionados para o aprendizado dos alunos.
É preciso considerar que o ensino das Ciências Sociais na escola média não significa a transposição 
imediata dos conteúdos científicos da área desenvolvidos no meio acadêmico.
Tendo como referência a análise dos campos desenvolvida por Bourdieu, compreende-se que as 
Ciências Sociais, como campo científico com assento reconhecido no meio acadêmico, não são o mesmo 
que a disciplina Sociologia, presente no Ensino Médio.
As relações entre a ciência e a disciplina são estabelecidas a partir do estabelecimento de recortes. 
Neste sentido, o conhecimento sofre recortes e adaptações para ter sentido no contexto escolar. Esta 
questão está descrita nas OCNs:
Os limites da ciência Sociologia não coincidem com os da disciplina 
Sociologia, por isso falamos em tradução e recortes. Deve haver uma 
adequação em termos de linguagem, objetos, temas e reconstrução da 
história das Ciências Sociais para a fase de aprendizagem dos jovens – 
como de resto se sabe que qualquer discurso deve levar em consideração o 
público-alvo (ORIENTAÇÕES..., 2006, p. 107).
Diante do exposto, observa-se necessário que o professor de Sociologia estabeleça os recortes a 
partir da realidade social em que o aluno está inserido e estabeleça a mediação pedagógica.
 Observação
O que é mediação pedagógica?
Veja a seguir a definição do verbete, presente no Dicionário Interativo 
da Educação Brasileira:
Expressão que se refere, em geral, ao relacionamento 
professor-aluno na busca da aprendizagem como processo de 
construção de conhecimento, a partir da reflexão crítica das 
experiências e do processo de trabalho. [...]
31
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
Segundo Marcos Masetto, no livro Mediação pedagógica e o 
uso da tecnologia, a mediação pedagógica significa a atitude 
e o comportamento do professor que se coloca como um 
facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, que 
ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus 
objetivos (DICIONÁRIO..., 2001).
 Saiba mais
Sugerimos que assista ao filme Escritores da Liberdade, que narra a 
história de Erin Gruwell, uma jovem professora que leciona em uma pequena 
escola de um bairro periférico nos EUA. Por meio de relatos de guerra, ela 
ensina seus alunos os valores da tolerância e da disciplina, realizando uma 
reforma educacional em toda a comunidade.
ESCRITORES da Liberdade. Dir. Richard LaGravenese. EUA: Paramount 
Pictures, 2007. 123 min.
A capacidade de mediação pedagógica constituiu elemento primordial para o trabalho do professor 
que atua em meio a um sistema de ensino de massas. A ascensão das camadas populares à escola 
requer que o professor crie os seus próprios caminhos para estimular a aprendizagem e a reflexão. 
Portanto, nem sempre o tradicional método de aula expositiva e leitura de textos são suficientes para 
estimular a aprendizagem.
As questões a seguir se fazem presentes:
• Qual é o conteúdo relevante para o aprendizado de um jovem da escola média?
• Quais os critérios que devem definir a escolha dos conteúdos?
É preciso considerar que o Brasil não possui hoje um currículo nacional que norteie o ensino de 
Sociologia no nível médio. As Orientações Curriculares Nacionais não propõem um conjunto de conteúdos, 
por considerar que não existe, atualmente, um conjunto de conteúdos que sejam consensuais para o país.
Ao tomar como referência o sentido do ensino da Sociologia no nível médio, as OCNs sugerem:
na medida em que a escola é um espaço de mediação entre o privado – 
representado pela família – e o público – representado pela sociedade 
(Hannah Arendt, 1968) –, essa deve também favorecer, por meio do 
currículo, procedimentos e conhecimentos que façam essa transição. 
De um lado, o acesso a informações profissionais é uma das condições 
de existência do ensino médio; de outro, o acesso a informações sobre 
32
Unidade I
política, a economia, o direito é fundamental para que o jovem se capacite 
para a continuidade nos estudos e para o exercício da cidadania, entendida 
estritamente como direito/dever de votar, ou amplamente como direito/
dever de participar da própria organização de sua comunidade e seu país 
(ORIENTAÇÕES..., 2006, p. 110).
O texto que acabamos de citar nos indica caminhos para elaboração do currículo, ao enfatizar a 
necessidade de conhecimentos sobre a organização política, econômica e jurídica para o exercício pleno 
da cidadania. Outra questão que se coloca como relevante é a reflexão sobre as desigualdades sociais e 
os processos de exclusão social e das formas de inclusão.
Como o Brasil possui uma vasta diversidade social e territorial, não existe, neste momento, 
unanimidade sobre quais os conteúdos que deveriam estar presentes nos currículos.
Em uma sociedade marcada por tantas desigualdades sociais – onde perdura a ideologia de 
aplicabilidade do conhecimento e a valorização do consumo – e dominada por amplos sistemas de 
dominação ideológica, é difícil a seleção de conteúdos para o jovem compreender a respeito das 
estruturas sociais que dão sentido à vida coletiva.
A ausência de um currículo nacional permite uma ampla liberdade para os Estados elaborarem seus 
próprios Currículos Estaduais, de acordo com suas realidades regionais. A maioria dos Estados brasileiros 
possui o seu próprio currículo, portanto é recomendável que você, leitor, pesquise qual é o currículo do 
seu Estado.
Os grandes temas que, pela sua relevância científica e social, não podem estar ausentes de uma 
proposta de curso na atualidade são:
• a questão do trabalho na sociedade contemporânea;
• as desigualdades sociais;
• a questão da globalização.
Diante da liberdade que as OCNs preconizam para o professor elaborar o seu programa, sugerimos 
que sejam levados em consideração os assuntos que sejam relevantes para os alunos.
Veja a seguir um quadro sobre os principais temas desenvolvidos pelos professores de Sociologia da 
Educação Básica.
33
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
Quadro1
Conteúdos/Temas – Ensino de Sociologia
Identidades Étnico-Culturais; Religiosas; Sexuais; Políticas (Processos de 
afirmação, diferença e reconhecimento)
Meio ambiente e sociedade
Movimentos, mobilizações e participação
Mass media e vida social
Violência
Fonte: Eras e Ribeiro (2013).
Em texto elaborado em 1986, o sociólogo Octávio Ianni questiona: “Como mobilizar o 
conhecimento de que o aluno já dispõe, e, ao mesmo tempo, levar o aluno novos conhecimentos?”. 
Ianni sugere que sejam aproveitados alguns conhecimentos que os estudantes tenham da realidade 
e afirma:
Todo trabalho intelectual que se faz em sala de aula, ao se discutir um 
tema, implica necessariamente uma crítica do conhecimento prévio que 
o aluno tem e por que não? uma crítica do conhecimento que o próprio 
professor tem, construindo novas noções, conceitos e interpretações.
Para Ianni, o caminho para o trabalho com temas em sala de aula se consubstancia em concebê-los 
como portadores de movimento. Um tema considerado fundamental é a questão do trabalho, concebido 
como atividade básica do ser humano. O sociólogo propõe um currículo baseado na Sociologia brasileira 
que aborde a relação cidade x campo, urbanização, industrialização, classes sociais, raças e etnias, 
movimentos sociais, partidos, sociedade civil e formas de Estado.
 Lembrete
A maioria dos Estados brasileiros possui um currículo próprio. Os 
currículos estaduais constituem referência importante para seleção 
de conteúdos.
Exemplo de aplicação
Os livros didáticos produzidos nos últimos anos na área de Sociologia constituem também uma 
referência para os professores iniciantes, na medida em que apresentam conceitos, temas e teorias. Vale 
a pena também uma pesquisa sobre estas publicações.
34
Unidade I
Figura 7 – Livro didático de Sociologia para o Ensino Médio
Figura 8 – Livro didático de Sociologia
Um risco que o ensino de Sociologia enfrenta é o de ser moldado pelos exames vestibulares. 
Observa-se uma tendência neste tipo de avaliação de enfatizar os conceitos desenvolvidos pelos clássicos 
da Sociologia, como Comte, Durkheim, Weber e Marx. Este caminho tira da disciplina a possibilidade de 
compreensão da realidade local ou global.
4.1 O trabalho com conceitos
Segundo Severino, o conhecimento humano inicia-se com a formação de conceitos. O conceito é 
concebido como uma imagem mental que procura representar um objeto (SEVERINO, 2007, p. 83). Em 
outras palavras, o conceito é a representação intelectual da essência de um objeto.
35
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
O conceito pode ser considerado a forma mais simples e elementar do pensamento e dá sentido aos 
vocábulos. Deste modo, os conceitos agem como símbolos verbais que se referem a ideias abstraídas da 
realidade.
Os conceitos são concebidos como elementos do discurso científico. No ensino de Sociologia, 
os conceitos requerem uma tradução. Esta tradução é o que se chama nas Ciências da Natureza de 
alfabetização científica.
Por que investir na alfabetização científica?
Conhecimento não se constrói num passe de mágica, e nem de um dia para o outro. A 
formação de cidadãos críticos e questionadores deve ser trabalhada desde a infância, e 
a alfabetização científica ajuda – e muito – neste processo.
Nos rankings mais recentes das edições do Programa Internacional de Avaliação de 
Alunos (Pisa), que a cada três anos avalia o sistema de ensino de diversos países, o Brasil 
tem sido um dos últimos colocados. Sabemos que Leitura, Matemática e Ciências são as 
disciplinas avaliadas pela prova, realizada com alunos de escolas públicas entre 15 e 16 
anos, e acreditamos que, para tirar o país dessa posição desfavorável, é necessário investir 
desde cedo na educação científica.
A Ciência ganha um novo significado a partir do momento em que fornece subsídios 
para que o aluno compreenda os fenômenos físicos, ambientais e sociais da região onde 
mora. A investigação das causas e hipóteses, as idas a campo e a realização de experimentos 
tornam o aprendizado mais lúdico e eficaz, uma vez que a organização de informações e a 
produção do conhecimento ocorrem também durante as brincadeiras.
Fonte: Programa Ciência Hoje de Apoio à Educação (s.d.)b.
 Saiba mais
No programa de Alfabetização Científica do Instituto Ciência Hoje, há 
um programa específico de formação de professores. Consulte:
PROGRAMA CIÊNCIA HOJE DE APOIO À EDUCAÇÃO. Como 
funciona a formação de professores. [s.d.]a. Disponível em: 
<http: / /pchae.c ienciahoje .org .br/como-funciona-a-formacao 
-de-professores/>. Acesso em: 30 jan. 2015.
Veja, por exemplo, o conceito de fato social e consciência coletiva desenvolvido por Durkheim, ou os 
conceitos de mais valia e ideologia elaborados por Karl Marx. O trabalho com esses conceitos em sala de 
aula requer uma tradução, contextualização e ligação da teoria com o tema da aula.
36
Unidade I
No caso do ensino de Sociologia, a opção pelo trabalho com conceitos não deve excluir suas ligações 
com princípios teóricos e temas, como enfatizam as OCNs:
Ao se tomar um conceito – recorte conceitual – esse tanto faz parte da 
aplicação de um tema quanto tem uma significação específica de acordo 
com uma teoria, do contrário os conceitos sociológicos seriam apenas 
um glossário sem sentido, pelos menos para alunos do ensino médio 
(ORIENTAÇÕES..., 2006, p. 117).
Sob a perspectiva da ciência, trabalhar com conceitos contribui para o desenvolvimento da capacidade 
de abstração por parte do aluno e possibilita um maior distanciamento do senso comum.
As Ciências Sociais não possuem consensos sobre muitos conceitos – por exemplo, o conceito de 
ideologia ou de classe social. Nestes casos, é importante deixar claro para os alunos que não existe uma 
única visão sobre o conceito em questão. As ciências sociais não possuem uma única metodologia 
de análise sobre a realidade e as tradições teóricas indicam diferentes perspectivas de análise. 
Veja como as OCNs tratam esta questão:
Mas o que pode ser problemático também pode vir a ser uma vantagem, 
pois ao entender que um conceito admite vários sentidos, conforme o 
autor e a época, o aluno pouco a pouco vai se acostumando com esse 
fato, aprendendo assim o porquê da diversidade de explicações existentes 
no universo da Sociologia, compreendendo que isso é um dos elementos 
de diferenciação entre as Ciências Humanas e as Ciências Naturais 
(ORIENTAÇÕES, 2006, p. 119).
Veja, a seguir, as sugestões apresentadas por Silva (2011) sobre as possiblidades de se trabalhar com 
conceitos:
As discussões dos conceitos básicos das Ciências Sociais podem ser 
enriquecidas com estudos da realidade regional, com leitura de jornais, 
revistas e filmes que retratam o cotidiano e que fornecerão exemplos 
concretos que facilitarão o aprendizado (SILVA, 2011, p. 186).
 Saiba mais
Para saber mais sobre os conceitos sociológicos fundamentais, leia:
WEBER, M. Conceitos sociológicos fundamentais. Tradução de Artur 
Morão. Lisboa: Editora 70, 2009.
37
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
Exemplo de aplicação
Ao trabalhar com conceitos, sugere-se que se solicite aos alunos uma pesquisa prévia sobre as 
palavras, seja em dicionários comuns ou em dicionários de Sociologia.
Um bom dicionário é o de:
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de Política. Brasília: Editora Universidade de 
Brasília, 1998. Disponível em: <http://www.filoczar.com.br/Dicionarios/Dicionario_De_Politica.pdf>. 
Acesso em: 30 jan. 2015.
SANSONE; L.; FURTADO, C. A (Org.). Dicionário crítico das ciências sociais dos países de fala oficial 
portuguesa. Prefácio de Lilia Moritz Schwarcz. Apresentação feita pelos organizadores, com a colaboração 
de Teresa Cruz e Silva. Salvador: EDUFBA, 2014. Disponível em: <http://www.portal.abant.org.br/index.
php/bibliotecas/livros>. Acesso em: 30 jan. 2015.
A seguir, veja algumas sugestões de conceitos que podem ser incluídos em um programa de ensino:
Relativismo cultural; diversidade social; classesocial; mobilidade social; poder local; empoderamento; 
ideologia.
É importante que as temáticas sociais selecionadas tratem de questões sociais relevantes, devendo 
ser acompanhadas de conceitos inter-relacionados com teorias.
Bridi, Araújo e Motim (2009) defendem que a apreensão dos conceitos não ocorra descolada da realidade, 
pois os conceitos podem ser ressignificados constantemente. Deste modo, afirmam que os conceitos são 
desenvolvidos em contextos sociais específicos e se apoiam nos valores da sociedade da época.
Na defesa de uma aprendizagem significativa, Bridi, Araújo e Motim defendem que, na apropriação 
de conceitos, é importante que a síntese combine com a análise. As autoras expressam essa preocupação 
no seguinte trecho:
A insistência no aprendizado da organização política, econômica, social, 
cultural das sociedades em diversos tempos cumpre o papel, pela análise 
das partes, de chegar à compreensão de uma dada realidade e também 
de fazer o seu inverso: partir do fragmento, da realidade local, do caso 
e chegar à totalidade, à configuração histórica da sociedade em questão 
(BRIDI; ARAÚJO; MOTIM, 2009, p. 69).
O que é aprendizagem significativa?
Para a aprendizagem significativa, duas condições devem ser cumpridas. Em 
primeiro lugar, o conteúdo deve ser potencialmente significativo, tanto do 
38
Unidade I
ponto de vista da sua estrutura interna (significatividade lógica: não deve 
ser arbitrário nem confuso), como do ponto de vista da sua assimilação 
(significatividade psicológica: na estrutura cognoscitiva do aluno deve 
haver elementos pertinentes e relacionáveis). Em segundo lugar, deve-se 
ter uma atitude favorável para aprender significativamente, ou seja, o aluno 
deve estar motivado para relacionar o que aprender com o que sabe (COLL, 
1996, p. 54-55 apud BRIDI; ARAÚJO; MOTIM, 2009, p. 68).
4.2 O trabalho com teorias
Inicialmente, é preciso esclarecer o que entendemos por teoria. Em seguida, é necessário refletir a 
respeito de se o objeto do ensino da Sociologia, no nível médio, é construir junto ao aluno o raciocínio 
sociológico, até que ponto é necessário trabalhar a teoria sociológica?
Segundo Bell, a teoria diz respeito a uma “série de proposições abstratas inter-relacionadas sobre as 
questões humanas e o mundo social, que explica a regularidade e relacionamentos” (BELL, 2008, p. 90). 
Portanto, as teorias organizam e demonstram as observações empíricas.
Para Bell, uma estrutura teórica consiste em
um dispositivo explanatório que explica graficamente ou de forma narrativa 
as principais coisas a serem estudadas – os fatores, os constructos ou as 
variáveis-chave – e as supostas relações entre eles (BELL, 2008, p. 92).
Figura 9 - O Capital, uma das obras produzidas por Karl Marx
A compreensão da complexidade da vida social na sociedade contemporânea coloca em relevo a 
importância da teoria para as Ciências Sociais.
39
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
Ao refletir as relações entre o desenvolvimento do pensamento teórico e as situações empíricas, 
Giddens cita como exemplo:
Uma teoria sobre a industrialização, por exemplo, deveria se preocupar em 
identificar as principais características que os processos de desenvolvimento 
industrial têm em comum e tentaria mostrar quais deles são importantes 
para explicar esse desenvolvimento. É claro, a pesquisa factual e as teorias 
jamais podem ser totalmente separadas. Somente podemos desenvolver 
explicações teóricas válidas se formos capazes de testá-las por meio de 
pesquisas factuais (GIDDENS, 2012, p. 23).
Diante do exposto, Giddens conclui que a teoria é importante para atribuir sentido aos fatos 
que observamos. Questiona o senso comum que considera que “os fatos falam por si mesmos”, por 
desconsiderar que as decisões práticas possuem alguma premissa teórica.
Na análise do papel da formação teórica para o desenvolvimento do espírito crítico, Silva (2011) afirma:
A formação do espírito crítico se deve basicamente à existência de três 
princípios explicativos para a realidade: causação funcional, conexão de 
sentido e a contradição. Através desses princípios explicativos é possível 
compreender diferentes visões de sociedade e diferentes estilos de 
pensamento. Conduzir o estudante a pensar sociologicamente e desenvolver 
uma atitude de dúvida e busca de conhecimentos que não tragam a exatidão 
e a certeza, mas a probabilidade (SILVA, 2011, p. 186).
Pela análise do conteúdo de provas como Enem e vestibulares, observa-se que há, no momento, uma 
ênfase do ensino das teorias sociológicas, particularmente as teorias produzidas pelos autores clássicos: 
Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber.
O estudo das teorias clássicas coloca a necessidade de compreender o momento histórico em que 
foram elaboradas e o contexto social da Europa. Como clássicos, suas reflexões guardam desdobramentos 
que servem para a explicação da realidade contemporânea, portanto, não foram superados.
 Saiba mais
Assista o vídeo a seguir sobre a atualidade do pensamento 
sociológico clássico de Karl Marx. 
NOVA edição de O Capital é lançada no Brasil depois de 30 
anos. Agência Brasil, 2013. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/
noticias/politica/galeria/videos/2013/03/nova-edicao-de-o-capital-
e-lancada-no-brasil-depois-de-30>. Acesso em: 20 nov. 2014.
40
Unidade I
Uma dificuldade que os estudantes identificam no aprendizado das Ciências Sociais é a diversidade 
de abordagens teóricas. Como afirma Giddens,
A Sociologia nunca foi uma disciplina em que existe um corpo de ideias que 
todos aceitam como válidas, embora haja ocasiões em que certas teorias 
são mais aceitas do que outras. Os sociólogos muitas vezes discutem sobre 
como estudar o comportamento humano e a melhor maneira de interpretar 
os resultados das pesquisas. Por que isso ocorre? Por que os sociólogos não 
chegam a um consenso mais consistente, como os cientistas da natureza 
parecem conseguir fazer? A resposta está ligada à própria natureza do nosso 
tema de estudo. A Sociologia diz respeito às nossas próprias vidas e nosso 
comportamento, e estudar nós mesmos é a coisa mais difícil e complexa que 
podemos fazer (GIDDENS, 2012, p. 22).
Isso autoriza a concluir que a existência de diferentes matrizes teóricas do campo das Ciências 
Sociais conduz o ensino desta área mais reflexivo, pois coloca o estudante diante da complexidade 
analítica do mundo social.
O funcionalismo iniciado por Augusto Comte no início do século XIX possui desdobramentos com as 
obras de Émile Durkheim, Talcott Parsons e Robert Merton.
O marxismo iniciado com Karl Marx no século XIX desdobra-se com as reflexões de Antonio Gramsci 
e a teoria crítica da Escola de Frankfurt e está presente na obra de Pierre Bourdieu.
As questões contemporâneas, como aspectos sociais da globalização, as questões de gênero, 
multiculturalismo e também a questão ambiental, colocam a necessidade de novas elaborações teóricas, 
pois não constituem problemas sociais da época em que os clássicos desenvolveram suas reflexões.
No século XX, novas perspectivas sociológicas foram desenvolvidas procurando superar as limitações 
dos clássicos: o interacionismo, o feminismo e o pós-modernismo e pós-estrutralismo.
O interacionismo, iniciado por Max Weber no início do século XX, desdobra-se com as obras de Georg 
Simmel, Erving Goffman e Howard Becker. Giddens assim define o interacionismo:
Esse é um rótulo geral que cobre todas as abordagens que investigam as 
interações sociais entre indivíduos, em vez de partir da sociedade ou das 
estruturas sociais que as constituem. Os interacionistas muitas vezes 
rejeitam a própria noção de que as estruturas sociais existem objetivamente, 
ou simplesmente não as levam em conta (GIDDENS, 2012, p. 73).
O feminismo, que teve como expoente inicial Harrit Martineau no início do século XIX, desdobrou-se 
com a obra de Simone de Beauvoir e Betty Friedan no século XX. Mais uma vez recorremos a Giddens 
para elucidar o recorte analítico do feminismona sociologia:
41
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
Ninguém pode negar com seriedade que uma grande parte da análise 
sociológica do passado ignorou as mulheres ou trabalhou com interpretações 
de identidade e comportamento femininos que são drasticamente inadequadas. 
Apesar de todas as pesquisas realizadas na sociologia nos últimos 20 anos, 
ainda existem muitas áreas em que as preocupações características das 
mulheres não foram estudadas de maneira suficiente (GIDDENS, 2012, p. 73).
Pelo que podemos ver, as teorias feministas possuem um olhar peculiar para os problemas sociais.
Figura 10 - O feminismo como abordagem teórica e prática social
As perspectivas feministas em Sociologia colocam no centro da análise social a questão de gênero 
por compreender que como os homens e mulheres têm experiências diferentes, enxergam o mundo 
a partir de perspectivas diferentes, portanto, não constroem seu entendimento do mundo de forma 
idêntica (GIDDENS, 2012, p. 79).
O pós-modernismo, que na Sociologia tem como referência a obra de Michel Foucault, teve 
desdobramentos na obra de Baudrillard e Zygmunt Bauman.
Figura 11 - Livro de Michel Foucault, um dos maiores representantes da pós-modernidade na Sociologia
42
Unidade I
Os pós-modernistas afirmam que os clássicos do século XIX possuíam uma concepção linear 
de história como caminho inexorável para o progresso. Esta concepção se encontra em colapso na 
atualidade, pois hoje não existem mais as grandes narrativas que façam sentido. O mundo pós-moderno 
não realizou a utopia socialista e está dominado pela mídia. Mais uma vez recorremos a Giddens:
A sociedade pós-moderna é altamente pluralista e diversa. Em uma 
quantidade incontável de filmes, vídeos, programas de televisão e sítios 
de internet, as imagens circulam ao redor do mundo. Temos contato com 
muitas ideias e valores, mas eles têm pouca conexão com a história das 
áreas em que vivemos ou, de fato, com nossas próprias histórias pessoais. 
Tudo parece constantemente em fluxo (GIDDENS, 2012, p. 81).
Na análise da possibilidade de teorias sociológicas no âmbito escolar, as OCNs relembram que os 
clássicos produziram suas reflexões em um contexto social específico e procuram dialogar com os 
problemas de seu tempo. Deste modo, novos autores surgiram no campo das Ciências Sociais com 
teorias que podem ser consideradas atualmente como fundamentais para a compreensão da realidade 
contemporânea.
4.3 A seleção de temas
A opção pelo trabalho a partir de temas é um dos caminhos para aproximar o ensino da Sociologia 
à realidade da escola. A questão que se coloca é: trabalhar com temáticas pode empobrecer o 
desenvolvimento do olhar sociológico?
No caso do ensino de Sociologia, a opção pelo trabalho com temas não elimina a utilização de 
conceitos e teorias. Como nos lembram as OCNs, “um tema não pode ser tratado sem o recurso a conceitos 
e a teorias sociológicas senão se banaliza, vira senso comum, conversa de botequim” (ORIENTAÇÕES..., 
2006, p. 117).
As OCNs nos chamam atenção para o fato que a opção pelo trabalho com temas não deve conduzir 
a uma análise ligeira e imediatista dos problemas sociais. Ao selecionar temas próximos da realidade do 
aluno, ou temas emergentes na sociedade, é importante ir além do senso comum.
O trabalho com temas aproxima o ensino das questões presentes no cotidiano, mas deve permitir ir 
além dos dados imediatos desta realidade, com apresentação de dados e reflexões teóricas.
43
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
Figura 12 – A violência é um tema recorrente em todos os Estados do Brasil
 Saiba mais
Veja como o tema Violência e Criminalidade foi desenvolvido no módulo 
didático de Sociologia da Secretaria de Educação de Minas Gerais. 
MÓDULOS didáticos. 2010. Disponível em: <http://crv.
educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx?ID_OBJETO=119547&
tipo=ob&cp=4E6127&cb=&n1=&n2=M%EF%BF%BDdulos%20
Did%EF%BF%BDticos&n3=Ensino%20M%EF%BF%BDdio&n4=Sociologia
&b=s>. Acesso em: 2 fev. 2015.
No quadro a seguir, indicamos alguns dos temas que são recorrentes nas Ciências Sociais na 
atualidade e constituem temas fundamentais para a formação do jovem do Ensino Médio.
Sugestões de temas que podem ser incluídos em um programa de ensino:
• Cultura e diversidade cultural.
• Os grupos étnicos e a questão racial.
• Sexualidade e gênero.
• Religião e religiosidade na atualidade.
• Família e parentesco.
• Indústria cultural e os meios de comunicação de massa.
• A juventude no Brasil.
44
Unidade I
• O trabalho na sociedade contemporânea.
• Diferença e desigualdade.
• A questão urbana.
• O acesso à terra no Brasil.
• A violência.
• Meio ambiente.
• Movimentos sociais.
• Estado, governo e cidadania.
• Democracia e participação política.
• Direitos sociais, direitos civis, direitos políticos e direitos humanos.
• Globalização.
Como ilustração, segue uma sequência didática sobre o tema violência urbana.
Violência urbana: ao invés de construir porque destruir?
Autor e Coautor(es)
Autor: Estela Calderaro Pontinha Leite 
Mogi das Cruzes – SP Universidade de Mogi das Cruzes
Coautor(es): Andréa Marques Leão Doescher, Erwin Doescher
Estrutura Curricular
Modalidade/nível de ensino Componente curricular Tema
Ensino Médio Sociologia Indivíduo, identidade e socialização
Ensino Fundamental Final Geografia Ambiente urbano, indústria e modo de vida
Ensino Fundamental Final Saúde Negociação de comportamentos para o convívio social
Ensino Médio Sociologia Ideologia e a indústria cultural
Educação de Jovens e Adultos – 2º ciclo Outros Um só mundo, muitos cenários geográficos
Ensino Fundamental Final Saúde Relações sociais, acordos e limites
Ensino Médio Biologia Qualidade de vida das populações humanas
45
METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula
O conceito de violência urbana; 
As diferentes formas de violência urbana, como, por exemplo, a depredação de 
patrimônios públicos (telefones públicos, carteiras escolares etc.), brigas no trânsito e em 
estacionamentos por vagas para estacionar os veículos;
O que fazer para resolver este problema social.
Duração das atividades
Aproximadamente 100 minutos; Duas (2) Aulas.
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno
Não há necessidades que conhecimentos prévios sejam trabalhados pelo professor com 
os alunos para o desenvolvimento da aula.
Estratégias e recursos da aula
As estratégias utilizadas serão:
— Aula interativa;
— Trabalho em grupo;
— Dramatização;
— Uso do laboratório de informática.
Motivação:
Sugerimos que o professor inicie a aula apresentando a imagem sobre Depredação de 
Transporte Público, conforme o link abaixo.
Link da imagem sobre Depredação de Transporte Público: <http://4.bp.blogspot.
com/_6G8ywKXV4pg/R7jvwWKEzcI /AAAAAAAAA8w/vxuMina6ig4/s1600-h/
globalwarming.jpg>. Acesso em: 07 out. 2010. 
46
Unidade I
Observação: 
O professor deverá providenciar cópias em número suficiente aos alunos, ou apresentá-la 
em transparência (utilizando Datashow ou retroprojetor).
O professor deverá perguntar aos alunos o que acham da figura e qual a mensagem 
passada por ela. Além disso, o professor também deverá perguntar aos alunos o que sabem 
sobre violência urbana.
Após ouvir as respostas dos alunos, o professor deverá ressaltar que o tema da aula será 
a “violência urbana e suas formas de ocorrência”.
Atividade 1
Dando continuidade à aula, os alunos deverão se sentar em círculo. O professor deverá 
entregar uma bola de tamanho médio a um aluno e pedir para que ele passe a bola a outro 
aluno da direita e assim sucessivamente. O professor deverá instruir os alunos para que 
ao passarem a bola ao colega, falem alto “Pega essa bola, por favor!”, como se estivessem 
bravos e gritando – sem utilizar palavrões ou nomes pejorativos.
Quando a bola tiver passado pela sala inteira – ou seja, quando todos os alunos tiverem 
recebido e passado a bola, o professor

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