Buscar

Roteiro de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS para o podcast LITERATURA ORAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Olá! Bem vindos ao Literatura Oral, podcast de leitura comentada e sugestões de literatura. Meu nome é Sabrina Siqueira, eu sou jornalista e tenho doutorado em literatura. Hoje eu inicio as leituras deste podcast. E começo muito bem, com MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, de Machado de Assis.
___________________________________
Uma maneira de se começar a ler uma obra literária é saber algo do contexto em que essa obra foi escrita. Não pra usar essas informações de forma a limitar os significados construídos pelo texto, mas pra ter uma ideia do que estava acontecendo no contexto social que o escritor produziu essa obra. Porque mesmo que não haja nenhuma referência ao momento histórico, as obras não são escritas numa bolha de isolamento, e eu acredito que elas sofrem alguma influência do momento, dos acontecimentos. Mesmo quando escolhe não falar do seu contexto, o autor, com isso, está nos dizendo algo. Os professores de literatura costumam chamar nossa atenção para o fato de que não se justificam os fatos literários pela vida do autor e pelo contexto histórico, mas eu penso que saber algo da biografia e do que estava acontecendo no período pode ajudar a interpretar a obra.
Ainda que muitos pesquisadores alertem para que o estudo deve partir da obra, e que a discussão sobre o contexto e o autor devem acontecer em um segundo momento, para confirmar ou não aquilo que se pode depreender do texto, eu aqui vou fazer o caminho inverso e vou procurar situar, ainda que brevemente, sobre o contexto e sobre os escritores. 
Então vamos ver um pouco sobre o autor: Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no RJ em 1839. Foi jornalista, tipógrafo, crítico teatral e foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Ele foi o 1º presidente da ABL, tendo permanecido no cargo por mais de 10 anos. Morreu em 1908, aos 69 anos. Mestiço, de família pobre, não freqüentou universidade. O pai foi pintor de paredes e a mãe, lavadeira, mas os dois sabiam ler e escrever.
Casou com Carolina Augusta Novais, portuguesa que havia vindo para o Brasil para cuidar do irmão, que estava doente e era amigo de Machado. Carolina foi uma grande influência cultural e parceira de leituras, e mesmo a pessoa a fazer as primeiras leituras de Machado, provavelmente dando opinião, colaborando com essas obras. Ela morreu em 1904, com 69 anos.
Memórias Póstumas foi publicado originalmente em folhetins, a partir de março de 1880, na Revista Brasileira. Essa informação vai ser explicada no prólogo do livro. Como livro é publicado em 1881. Inaugura o Realismo no Brasil. Realismo foi uma escola ou estética literária que buscava certo grau de objetividade. Outra característica é a introspecção psicológica das personagens. 
O contexto histórico de quando este romance é lançado era de um Brasil construindo sua urbanidade, principalmente no Rio de Janeiro, que era a capital nacional naquela época. A moda era outra, imaginem mulheres com vestidos armados, chapéus, homens com bengalas, coletes... As cidades eram muito diferentes do que se tem hoje. A quantidade de pessoas era menor. 
Memórias Póstumas é escrito alguns anos antes, e portanto na efervescência de dois importantes eventos históricos: em 1888 - libertação da escravidão, e em 1889 – Proclamação da República.
O Brás Cubas morre em 1869, quer dizer que o romance narra uma época anterior àquela em que acontece a publicação, que foi 1881.
Outra forma de iniciar uma obra é propor algumas questões a partir do título, do que sugere a capa, ou mesmo de alguma informação prévia que se tenha da obra. Por exemplo, sobre Memórias póstumas de Brás Cubas, a gente pode pensar será que essas memórias do Brás Cubas, que são póstumas, será que elas são publicadas por quem? Será que são memórias que o próprio Brás deixou escritas e alguém publica depois que ele morre ou será que aconteceu de outra forma? E por qual motivo essas memórias vieram a público depois da morte de Brás? Será que ele tinha algum segredo, ou uma confissão importante a fazer? Será que ele precisava acertar contas com alguém, esclarecer algum fato importante? Será que ele foi uma pessoa especial, que teria realizado um grande feito? Será que ele confessa um crime? Te ocorre alguma outra pergunta a partir do título da obra? Vamos iniciar a leitura e ver quais dessas questões podem ser respondidas, e se alguma delas faz sentido. 
Esta leitura é feita a partir do arquivo disponível no site do domínio público, onde tu pode acessar toda obra do Machado, em WWW.dominiopublico.gov.br. E aproveita esse recurso, antes que o atual desgoverno federal deste ano doido que está sendo 2020 resolva tirar do ar. 
Vamos à leitura?
A dedicatória, antes do prólogo me lembra muito o estilo de um poeta que nasceu bem naquela época em que Memórias póstumas foi publicado: É o Augusto dos Anjos, poeta paraibano pré-modernista. 1884-1914. Ele é o poeta da temática do verme, do grotesco. Talvez Augusto dos Anjos tenha se inspirado no Brás Cubas, pra fazer um dos poemas dele que ficou mais famoso: “Versos íntimos”, em que o eu lírico diz: “O beijo, amigo, é a véspera do escarro,/ A mão que afaga é a mesma que apedreja./ Se a alguém causa inda pena a tua chaga,/ Apedreja essa mão vil que te afaga,/ Escarra nessa boca que te beija!”
E por falar em prólogo, temos 2. Um prólogo da terceira edição, de Machado de Assis, e o prólogo que faz parte desde a primeira edição, que é o “ao leitor”, que quem escreve é o narrador, Brás Cubas. Notem a diferença de linguagem do Machado, o escritor, e do Brás, o narrador (criado linguisticamente pelo Machado). Machado, no seu prólogo à terceira edição, tem um respeito pela “autoria” do Brás, pelo que é discurso dele. Ele diz que não quer fazer crítica ao defunto, que pintou a si e aos outros como lhe pareceu melhor. Já o Brás fala de uma forma mais despojada, diz que se o leitor não se agradar da obra, ele dá-lhe um piparote. Esse é o narrador Brás Cubas, um narrador que não faz questão de agradar, até porque já morreu e não tá ligando mais é pra nada! Ele coloca a obra em si mesma como a coisa mais importante. 
Faltou ler pra vocês o título do capítulo 6, que é “CHIMÈNE, QUI L'EÛT DIT? RODRIGUE, QUI L'EÛT CRU?”
E com isso, já no primeiro episódio do Literatura Oral, eu vos demonstro um francês que eu não tenho!
Significa, segundo o Google tradutor: Chimene, quem disse? Rodrigue, quem acreditaria?
Esse título talvez faça referência à conversa que mantém com Virgília, que o visita, e eles fofocam sobre uma amiga dela que está tendo um caso. O que é irônico, quando a gente sabe mais um pouquinho da história. 
Neste episódio nós vimos que Brás Cubas morre de pneumonia e escreve suas memórias depois de morte, o que faz dele um defunto autor. Esse é um dos motivos pelos quais Memórias póstumas fica conhecido também por inaugurar a literatura fantástica no Brasil, segundo alguns estudiosos. Ele pega essa pneumonia enquanto pensava em desenvolver a ideia de um emplasto que iria curar a hipocondria. Será então que essa personagem trabalha em vida na área da saúde ou como pesquisador? Ou será do time desses leigos que nós temos muitos hoje em dia, querendo achar solução da pandemia sem ser autoridade na área? As motivações dele eram em parte o lucro, e em parte o orgulho, a glória que ele secretamente buscava.
Vimos que o caráter “nobre” da família foi forjado pelo pai do Brás, e com isso vemos que o defunto autor está disposto a contar tudo, sem poupar a sua memória do que poderia ser vergonhoso. Afinal, já está morto mesmo. 
E vimos que uma das pessoas presentes em seus últimos dias foi uma namorada da juventude. E sobre a quantidade de amigos presentes no enterro? Foram 11. Será que isso diz alguma coisa sobre o narrador? Será que esse número é pouco? Será que ele foi um homem admirado e que fez amigos? 
E vimos o delírio que Brás tem durante uma visita de Virgília com o filho, em que ele cavalga um hipopótamo através dos séculos, e conhece a mãe natureza, que tem uma dupla face, de mãe e de inimiga. Nesse delírio aparece uma imagemque vai se repetir ao longo do romance, que é o de alguém seguindo um chocalho, indo pela vida absorto por um chocalho de ilusões. E nesse delírio, Brás viaja no tempo, vai até o passado e até o futuro, que ele não consegue visualizar porque a velocidade é altíssima. Essa imagem, do Brás observando a passagem do tempo, que corre em frente a ele como um filme e cada vez em velocidade mais rápida, me remete a uma cena de um filme de 2014, do diretor francês Luc Besson. É o filme Lucy, com Scarlett Johansson no papel da protagonista e Morgan Freeman como um cientista. Nesse filme, Lucy consegue usar 100% da capacidade cerebral, que dizem que nós só usamos 10, e com isso ela adquire poderes, habilidades. E ela assiste à passagem do tempo como se fosse um filme. Ela senta em uma cadeira e vê, assim como o Brás, a história da humanidade passar velozmente. Só que Brás viaja no tempo cavalgando um hipopótamo, muito mais inusitado! Eu, se me oferecerem se eu prefiro viajar no tempo sentada em uma cadeira ou em cima de um hipopótamo, eu digo que podem ir separando aí um hipopótamo pra mim. O filme traz a máxima de que “o tempo é a única variável capaz de conter as respostas para todas as nossas perguntas”. A protagonista, cujo nome dá título ao filme, Lucy, é também o nome dado à Primeira Mulher, um fóssil descoberto na Etiópia e que ajudou a reformular a história da evolução humana. Aliás, a Lucy do filme encontra a Lucy aracaíca, que parece que ganhou esse nome porque no acampamento de arqueólogos estavam escutando “Lucy in the sky with Diamonds”, dos Beatles. Sim, Beatles tiverem sua participação na pesquisa da evolução da humanidade! Quando se encontram, elas tocam o dedo indicador, como a “Criação de Adão”, obra de Michelangelo, sugere que Deus daria vida, animaria o homem pelo toque dos dedos. Com essa viagem no tempo, Lucy conclui que tudo está conectado num continuum espaço/tempo. E Brás conclui que a história do homem sempre foi correr como um flagelado atrás da felicidade, que ao fim e ao cabo, é uma quimera. E essa é a mensagem com que o narrador defunto nos brinda antes mesmo de começar a contar sua vida. 
Eu continuo a leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas, no próximo episódio.
Abraço!
_________________________________________
Parte 2- 
Olá! Seja bem vindo ao Literatura Oral, podcast de leitura comentada e sugestões de obras literárias. 
Eu sou Sabrina Siqueira, jornalista com doutorado em literatura, e hoje continuo com a leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
_________________________________
No último episódio, vimos que Brás Cubas escreve suas memórias depois de morto, por isso ele é um defunto autor. Seria um autor defunto se ele já escrevesse quando vivo e tivesse morrido. Mas ele primeiro morre, e depois se torna um autor. É um defunto autor, portanto. 
Ficamos sabendo quando e de que morre Brás Cubas, que seu sobrenome não tem uma origem rica, mas que o pai dele manipulou a história desse sobrenome pra parecer fidalgo, que Brás morava sozinho quando da sua morte e soubemos da presença da Virgília, uma antiga namorada, que acompanha a sua passagem pro além, da onde ele terá suas pretensões literárias. 
Na leitura do primeiro episódio, a gente pode perceber uma das principais características do escritor Machado de Assis: os narradores criados por ele falam com o leitor, com o provável leitor de suas obras. É bem comum esse narrador dizer algo do tipo, “caro leitor, faz como te aprouver” ou coisas do tipo. Esses narradores pressupõem um leitor implícito e estabelece com ele um diálogo. Em Memórias póstumas, no episódio passado, a gente viu o narrador dizer, por exemplo, que ia falar sobre uma alucinação que teve e que se o leitor quisesse podia pular aquela parte, mas que se tivesse só um pouco de curiosidade, que ficasse lendo. Isso é muito Machado de Assis. 
Vimos também que eu não sei falar Francês, mas o Machado pelo jeito sabia, porque o romance traz algumas frases na língua... e hoje tem mais!
Vamos continuar com a leitura?
Desde que eu pensei em fazer este podcast sobre literatura, a minha intenção era começar com Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Pela importância da obra na literatura brasileira, por tudo que Machado é pra nossa literatura, e também pela relevância das questões que a obra ainda suscita, como as diferenças de classe e as questões raciais. Enquanto eu preparava os primeiros episódios, saiu a notícia de que a tradução desse romance para o Inglês, pela editora Penguin, esgotou em 1 dia no site da Amazon e na livraria Barnes & Noble. A tradutora, Flora Thomson-DeVeaux, comentou no Twitter sobre o lançamento, que aconteceu dia 2 de junho, que ela está convencida de que se trata de um romance eterno. O lançamento da tradução coincidiu com os protestos por igualdade racial nos EUA, que iniciaram em função do assassinato de George Floyd, que morreu asfixiado pelo joelho de um policial na garganta dele, quando Floyd já estava imobilizado. Esse crime aconteceu dia 25 de maio de 2020, em Minneapolis, nos EUA. E coincide também com diversos outros crimes contra pessoas pretas aqui, no Brasil, como o menino Miguel Otávio da Silva, de 5 anos, que a mãe havia saído pra passear com a cachorra da patroa e a mulher colocou a criança no elevador e apertou o botão da cobertura, no mínimo negligentemente. Esse outro crime aconteceu no Recife, em 2 de junho de 2020. Uma das notícias que vieram à tona com esse lançamento de Memórias póstumas nos EUA e com os protestos raciais, e que me deixou surpresa, eu não sabia que isso acontecia, foi que muitas vezes a informação de que Machado de Assis era negro, ou mulato, é suprimida, e que até uma imagem dele embranquecido já foi divulgada em algum lugar. Se esse fato se confirma é uma falta de respeito com a memória do escritor e uma tentativa clara de dizer que uma obra de tamanha qualidade, como a dele, não poderia partir de uma pessoa negra, (ou preta, eu ainda to aprendendo como é a forma correta de falar). Mas o fato é que isso é um preconceito escancarado e a gente não pode se calar. Ao ver isso acontecendo, é preciso se posicionar e dizer como nós sabemos que Machado era, é preciso barrar o preconceito quando a gente vê acontecendo. 
A leitura do episódio de hoje inicia com o narrador falando sobre a alucinação, e de como foi difícil a razão recobrar a casa, o corpo do Brás, pra sandice. Esse diálogo do quanto a sandice é difícil de ser retirada depois que se instaura pode ser lida como uma ironia, e essa é outra grande característica dos textos de Machado de Assis. Outra ironia acontece quando o Brás fala da mãe, que era “pouco cérebro e muito coração”.
Nós vimos sobre a infância de Brás, que foi uma infância sem regras, que ele foi o verdadeiro menino diabo. O narrador nos informa da presença maciça de escravos na sua casa e faz menção inclusive a uma compra de escravos em Luanda. E com isso, Machado introduz o tema da escravidão. Brás conta, sem reservas, o quanto foi mau com os escravos. E guardem o nome do Prudêncio, que Brás faz de cavalo, porque essa personagem vai aparecer mais adiante numa cena importante pra nossa reflexão sobre a violência da escravidão. Vale reforçar que existe uma diferença grande entre o narrador, Brás Cubas, branco, bem nascido, mimado, possuidor de escravos, e Machado, o escritor mulato, neto de escravos, nascido pobre. Machado é o criador e Brás, a criatura. Brás conta sobre essa situação da coexistência de escravos e homens livres sem efetuar nenhuma crítica, como algo do que ele conhece como normalidade. Já o Machado, que também conviveu numa sociedade escravocrata embora ele próprio não tenha sido, escolhe colocar essa ausência de crítica na voz do branco como uma crítica implícita a ser decodificada pelo leitor. O fato do branco mimado achar a escravidão normal dá a nós leitores o tom da hipocrisia da sociedade daquela época, ou pelo menos da ausência de debate sobre essa causa. Esse assunto volta ao longo do romance.
No fragmento lido hoje, Brásfaz uma comparação da forma como ele chega à casa da Marcela, já meio estropiado, com a situação do Romantismo, numa referência à escola literária. Ele fala que o Realismo foi encontrar o Romantismo já enfraquecido, jogado na rua, de tanto usarem ele, de tanto tirarem dele a mesma fórmula, e aqui a gente tem uma outra grande ironia do Machado, cujos primeiros romances foram vinculados à estética do Romantismo, e que inaugura o Realismo justamente com Memórias póstumas. Machado coloca nas palavras do narrador Brás a sua opinião de que o Romantismo estava desgastado, de que as fórmulas do Romantismo estavam cedendo espaço ao Realismo, a essa nova estética. E por que será que Brás fala disso exatamente quando finalmente consegue acesso à casa da Marcela? Fina ironia machadiana! A Marcela é uma moça que parece viver dos presentes dos amantes, que tem um comportamento mais liberal do que as outras, que Brás teria de namorar na sala, na presença dos pais. Não há uma referência direta a ela ser prostituta, mas Brás sugere que ela é diferente e nada ingênua. Pois bem, escrever sobre isso, sobre um relacionamento em que a mulher é sexualmente livre, é mais característica do realismo, já que no Romantismo os relacionamentos eram descritos de forma idealizada, com os dois pretendentes unidos por laços de afeto, e não por dinheiro, como é o caso do interesse da Marcela em seus namorados. Esse fragmento sugere que os romances açucarados foram explorados à exaustão, e que é chegada a hora de uma narrativa mais realista, com a ambição humana sendo mostrada. 
Por fim, eu destaco a primeira menção do livro feita a Quincas Borba. Quincas Borba, que aparece aqui como personagem, foi protagonista no Romance Quincas Borba, publicado em 1891, 10 anos depois de Memórias póstumas. Já aqui aparecem indícios da loucura do Quincas, que não reagia como os outros guris. 
Hoje eu fico por aqui. Abraço e até o próximo episódio.
___________________________________________________
Parte 3
Olá! Este é o Literatura Oral, podcast de leitura comentada e sugestões literárias. Sejam bem-vindos! Hoje eu continuo com a leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
Meu nome é Sabrina Siqueira. Eu sou jornalista e tenho doutorado em literatura. 
No último episódio, vimos em Memórias póstumas que Brás foi uma criança má com os escravos da casa, nada dedicado na escola e que na juventude ele se envolveu com Marcela.
Como Memórias póstumas de Brás Cubas é um texto escrito em 1881, ou até um tempo antes da publicação que foi em 1881, aparecem algumas palavras e expressões diferentes, que já caíram em desuso e podem nos surpreender. Uma delas vai estar na leitura que eu sigo agora, é a palavra “almocreve”, que se referia ao indivíduo que tinha por ofício conduzir bestas de carga. Não sei vocês, mas eu nunca tinha ouvido essa palavra.
Sigamos com a leitura!
___________________________________
Se em algum momento dessa leitura tu te deparou com a seguinte questão: peraí, Memórias póstumas inaugura o Realismo no Brasil, e essa palavra lembra realidade, como é que pode uma história narrada por um narrador que é um defunto-autor ter a ver com realidade. Isso já te ocorreu? Então é hora da gente conversar sobre um conceito importante quando se estuda literatura ou se faz análise literária, que é o conceito de verossimilhança. 
Precisamos ter em mente que a lógica do mundo é uma, a lógica da obra é outra. Assim, as narrativas podem gerar no leitor um determinado efeito de verossimilhança com o plano da realidade em razão de replicar alguns pressupostos do mundo real. Mas a obra obedece à coesão interna da sua própria realidade, determinada pelo autor. Em Memórias póstumas, a lógica, determinada pelo autor Machado de Assis, é de que defuntos escrevem, e publicam. A relação com a realidade, na literatura, não teria como ser a de uma cópia fiel, já que é uma construção linguística e artística, mas mantém com essa realidade somente uma relação de verossimilhança, no que remete ou referencia vidas e acontecimentos tal qual nós conhecemos. Muitos autores, teóricos de literatura, já escreveram sobre essa relação. Aristóteles, Umberto Eco e tantos outros.
Na leitura de hoje Brás viaja para a Europa como castigo do pai por ter gasto muito com Marcela. Que castigo, hein! Castigo de rico no século XIX era ir fazer faculdade na Europa! Isso pra mim é prêmio! Ele não se dedica a aprender nada na faculdade, mas mesmo assim consegue o diploma. Olha! Parece que encontramos as origens do porquê alguns ministros do atual desgoverno acham que podem exibir títulos que não fizeram por merecer! Vai ver pensam que estão ainda no século XIX e podem ostentar titulação pela condição do nascimento. Tá na mais do na hora do Brasil mudar essa mentalidade, hein! 
Brás tem a vida salva por um almocreve e num primeiro impulso pensa em recompensar bem o homem. Mas logo acha que é dinheiro demais pra um pobre diabo e, ao invés de três moedas de ouro, dá-lhe uma só, e de prata. Mas logo se arrepende porque encontra no bolso algumas moedas de cobre e pensa que aquelas ali, menos valiosas, teriam pago muito bem o almocreve. O leitor pode pensar que o defunto narra essa situação pra expor algum arrependimento, mas não. Ele logo acha jeito de confirmar que fez bem em agir assim. Mesmo depois de morto, segue petulante, presunçoso e medíocre, como ele mesmo se define. Brás atenta pra honestidade com que um defunto narra sua vida, porque já não tem platéia. Mas parece que a honestidade não vem acompanhada do bom senso. 
Brás volta pro Rio de Janeiro por ocasião da doença da mãe e reencontra a Dona Eusébia, de quem ele havia delatado o beijo com o Vilaça e causado um escândalo. A D. Eusébia tem uma filha dessa relação, e o Brás pensa que a mãe dela alimenta interesse em casar os dois, e vai se aproveitando da situação, apesar de sinalizar que, por a moça ser manca, ele só queria lhe roubar uns beijos mesmo. Brás relaciona a disposição da Eugênia em se afeiçoar a ele com a conduta da mãe, que teve um caso com o Vilaça, que era casado. Ele pensa que a moça e a mãe são mulheres fáceis. Vale a pena destacar a maneira como Brás se refere às mulheres. Ele sugere que uma das formas de se conseguir a atenção feminina é pela força e não hesita em se aproveitar da ingenuidade da Eugênia, que ele chama ironicamente como “a flor da moita”, em referência ao episódio na casa dele, em 1814. Sobre o nome da moça, uma curiosidade: ela nasce de uma relação extraconjugal do pai, o Vilaça, mas o nome dela nos remete à “eugenia”, um termo científico que significa “bem nascido”. O termo foi cunhado pelo cientista inglês Francis Galton, em 1883. Como Memórias póstumas foi publicado antes, em 1881, não sei se Machado teria usado o nome ironicamente, por estudo da etimologia da palavra. Diferente da Marcela, da Eugênia Brás diz que tinha a compostura de mulher casada, aludindo a um código de comportamento esperado das senhoras casadas naquele tempo. 
Vimos sobre a vontade do pai do Brás em fortalecer o nome da família, sua preocupação com as aparências. Julga que o mais seguro meio de possuir valor é estar cotado na opinião dos outros. Essa preocupação com as aparências e com o poder aparece desde a infância do Brás, quando o faziam repetir os nomes completos dos padrinhos, importantes porque possuíam muitos sobrenomes considerados nobres. 
Por hoje é isso. No próximo episódio, sigo com a leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas. Abraço e até lá!
Parte 4
Olá! Este é o Literatura Oral, podcast de leitura comentada e sugestões literárias. Eu sou Sabrina Siqueira, sou jornalista com doutorado em literatura, e hoje continuo a leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
Na leitura do último episódio, Brás conta sobre os dias em que passou na casa da família, na Tijuca, sozinho a refletir sobre a morte da mãe. Ele encontra D. Eusébia e conhece a filha dela, Eugênia.
Nesse fragmento aparecem algumas borboletas. A borboleta de asas de ouro e olhos de diamante que Brás imagina voandodentro da cabeça de Eugênia, as duas borboletas negras que invadem, primeiro a casa de D. Eusébia, depois o quarto dele, e que segundo as mulheres são sinal de mau agouro. Esses aparecimentos das borboletas são fatos que desencadeiam no Brás reflexões subjetivas. A figura da borboleta parece servir como metáfora para nos revelar algo que não está sendo dito.
 Há também referências a cores nesses capítulos. Brás associa amarelo à hipocondria, azul a algo positivo. Há alusão à cor da casa em que moram D. Eusébia e Eugênia, que Prudêncio diz que mudaram pra uma casa roxa. Brás diz que se a borboleta negra que entrou no quarto fosse azul, que talvez não tivesse morrido, mas como era negra, foi arrebatada por uma toalha. 
A lembrança do defunto desse dia em que entra uma borboleta preta no seu quarto, voa ao redor do corpo dele, pousa em sua testa e depois vai pousar no retrato do seu pai, pode fazer referência a alguns fatos: à crueldade do homem que se julga o dono do espaço, à arrogância desse mesmo homem, branco e privilegiado, que se julga o inventor da borboleta, ao desprezo pelo outro, ao racismo, ao sentimento de superioridade em relação ao outro. 
Lembra que as borboletas estão inseridas no episódio em que Brás trava conhecimento com Eugênia, de quem ele sente certo desprezo porque é filha ilegítima e porque é manca. E quem avisa Brás da existência de Eugênia é o escravo Prudêncio que, assim como a borboleta, é negro e entra no quarto dele com a informação da mudança de D. Eusébia para uma casa vizinha e, com isso, leva Brás a fazer reflexões. Logo que mata a borboleta preta, ele sente arrependimento, mas não demora muito que se reconcilie consigo mesmo. Assim como aconteceu com o almocreve, Brás é rápido em desculpar o próprio comportamento, em julgar que agiu bem. 
E que justificativa Brás Cubas usa agora pra ter praticado o mal, pra ter matado a borboleta? A justificativa é a cor da borboleta. Ela morre porque é preta. E, sendo preta, tudo bem matar a borboleta! (até rimou!) Ele se exime de sua maldade dizendo que a culpa por ter sido morta é da borboleta, que não tinha nascido azul. Será que a gente pode fazer alguma associação à cor de pele dos escravos, que viviam apanhando, sendo mortos pelos homens brancos que se julgam superiores, e ao ditado de que os nobres têm sangue azul? Se era essa a intenção do autor, ele arremata o argumento com uma ironia, pois diz que mesmo a borboleta azul teria um fim trágico, seria espetada por um alfinete pra ser exposta por sua beleza. Então que a tragédia seria o fim de todos, alguns morrem enxotados a toalhadas, outros, que tiveram a sorte de nascer de outra cor, ainda assim não escapam de morrer em função da cor que exibem. 
Mas são mortes bem diferentes as das borboletas azul e negra, né? A borboleta azul morreria espetada com um alfinete de modo que fosse preservada para a vista, para ser imortalizada por sua beleza. Pra borboleta negra, enxotada, a morte com uma toalhada, ou seja, a morte violenta, que busca exterminar, enxotar da vista, atirar pra longe. Podemos trazer essa metáfora das borboletas pro plano das nossas relações e das formas de tratamento dispensadas às diferentes pessoas. Vamos pensar em dois exemplos a partir do que se pode inferir pela metáfora da borboleta, o grupo das pessoas pretas e o das pessoas de olhos azuis. Esses dois grupos estão sujeitos ao mesmo tipo de morte ou de violência, geralmente? A gente sabe que não. Agora, assim como a borboleta não escolhe a cor que terá, as pessoas também não decidem sobre características que são involuntárias. E, portanto, não deve haver tratamento diferenciado para uma pessoa de uma ou outra cor, ou porque é manca, ou seja lá a característica física que for. As pessoas devem ser julgadas pelas suas ações e pelo seu caráter, ou pela falta dele...
O texto do Machado é tão rico que cada capítulo é uma aula de literatura. Tem ironia, tem metáforas que se desdobram em críticas sutis a determinados valores da sociedade brasileira do século XIX. E às vezes essas críticas nos pegam no susto de perceber que esses valores seguem atuais e vigentes em pleno 2020. 
No fragmento que vou ler agora, Brás fala do capítulo anterior, que pra nós ficou no episódio #3. É o capítulo em que Eugênia dá a ele o primeiro beijo.
Bora continuar com a leitura?
Na leitura de hoje vimos que Brás questiona se a existência da Eugênia era necessária ao século. Eugênia é a menina manca de quem ele consegue o primeiro beijo e depois abandona, até porque já tinha combinado com o pai que iria visitar a filha do conselheiro Dutra, que poderia impulsionar a carreira política dele. Acontece que naquele tempo, visitar uma moça por um tempo e conseguir um beijo parece que firmava, ainda que só pra moça, uma espécie de compromisso já. Brás sabe disso, mas não se importa com a Eugênia. Agora, quem é ele pra considerar a existência de alguém válida ou não... Dele próprio, será que podemos dizer que a existência foi válida? 
Do que foi lido até aqui, vimos que Brás é dado a alucinações. Ele tinha narrado uma, de pouco antes da morte, durante uma visita de Virgília, em que ele se vê como um barbeiro chinês, depois perde a forma humana e se vê como um livro, e finalmente recupera a forma humana pra cavalgar um hipopótamo. Esse fragmento é cômico se a gente pensar o quanto um hipopótamo é um animal pouco cavalgável. É um bicho pesadão, de patas curtas e lento, eu acho. Pois o Brás Cubas alucina com um hipopótamo que lhe leva até a origem dos séculos, onde ele encontra uma forma feminina que diz ser a natureza. Na leitura de hoje, Brás tem outra alucinação. Dessa vez em uma ocasião que é ele que está visitando Virgília. Ele confunde a moça com a imagem da Marcela, com o rosto machucado por uma doença de pele e leva um tempo pra recobrar a sanidade. 
Talvez por perceber essas estranhices do Brás, Vírgília opta por outro pretende, o Lobo Neves, que é mais ativo na sua carreira e tem pretensão de se tornar marquês. Brás não tem essa vivacidade, ele não é alguém que age. Ele percebe, por exemplo, que está perdendo Virgília e com isso, a chance de ser indicado como deputado, e se acomoda, não faz nada pra mudar a situação. Brás é uma personagem que nunca deu bola pra escola, não tratou de aprender nada na faculdade e até onde lemos também não desempenhou nenhum trabalho, não seguiu uma carreira ou profissão. Porque não precisou, podia viver de rendas. A única ação dele foi iniciar um caso com a Virgília, anos depois do desenlace deles e com ela casada. E ainda assim, o caso parte de um beijo dela. Então ele fala que talvez a existência da Eugênia não tenha sido importante para o século, mas quem passa pela vida, até aqui, sem fazer nenhuma diferença, é ele. 
Outro momento raro em que se vê Brás agindo é quando briga com a irmã pela herança do pai, porque não quer abrir mão de nada, nem da prataria, que nem seria útil pra ele. É possível se ter uma ideia do egoísmo do Brás quando ele sugere à irmã que dividam a prataria, e o cunhado pergunta quem ficaria com o bule e quem com o açucareiro. Uma metáfora pro egoísmo do narrador é apontada por ele próprio, que é o “olhar pra ponta do nariz”. Olhar pra ponta do nariz seria olhar sobre si mesmo. Ele diz que “se contemplassem os narizes, o gênero humano não chegaria a durar 2 séculos, iria se extinguir”. Interessante que quando alucina antes de morrer e vê passar a história da humanidade, ele também faz umas observações pessimistas sobre o gênero humano, que desperdiça a vida correndo inutilmente atrás da felicidade, que não passa de uma ilusão. Mas então ele suplica à mãe natureza que lhe conceda mais tempo de vida. Mesmo sendo a vida assolada eternamente por um mal que morde a espécie a humana, Brás Cubas quer viver. E mesmo depois de morto, se agarra às memórias da vida como que pra revivê-las. 
Desde que se insere na fase madura de sua obra, na fase das obras realistas, Machado de Assis passa a construir personagens que flertam com a loucura, ou que se desviam do padrão do que se têm como normalidade.No romance Quincas Borba, o escritor coloca a loucura no centro da narrativa, tanto no protagonista que dá nome ao livro, quanto em seu discípulo, Rubião. A loucura do Quincas, como a gente vai começar a ver ainda em Memórias póstumas, é ligada a uma forma de existência excêntrica, que explora os caminhos do pensamento e parte de um espírito criativo. No conto “O alienista”, Machado explora novamente o tema da loucura. Aqui, o protagonista, Simão Bacamarte, busca a delimitação entre razão e loucura.
O interesse do Machado pela investigação da psicologia humana dialoga com a característica do Realismo de investigação psicológica das personagens, e também com um interesse pela investigação da consciência humana surgido no final do século XIX. Tá tudo interligado, é o momento que grande parte do mundo está voltado pra esse tema. O termo “psicanálise”, por exemplo, se consolida com a publicação de “A interpretação dos sonhos”, de Freud, em 1900. 
A gente viu que o Brás tem uma mente assolada por alucinações. Outra aspecto da leitura de hoje é sobre o pêndulo do relógio que Brás escuta enquanto não consegue dormir. Por algum motivo ele coloca o pêndulo no feminino, chama “pêndula”. Ou será que era assim que usavam falar na época? Eu não sei. Mas que parece que a gente consegue escutar o pêndulo quando Brás imagina que ele diz “outra de menos”, “outra de menos”, sobre as moedas da vida sendo colocadas pra morte, isso parece! Esse fragmento tem uma sonoridade. Eu percebi isso lendo em voz alta.
Por hoje, ficamos por aqui. Abraço e até o próximo episódio!
Parte 5 
Olá! Este é o Literatura Oral, podcast de leitura comentada e sugestões literárias. Meu nome é Sabrina Siqueira. Eu sou jornalista e tenho doutorado em literatura. Hoje vamos continuar com a leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
Na leitura do último episódio, vimos umas características negativas da personalidade de Brás. Por exemplo, ele percebe que o amigo Luís Dutra, precisa de uma opinião sobre os textos literários que escreve. Só por maldade, e talvez também por inveja, porque o Brás julga que o amigo escreve melhor que ele, Brás não faz nenhum comentário, foge do assunto.
Quando é pra se mostrar amigo do Lobo Neves, por outro lado, o marido da Virgília, ele dá força, porque aí é conveniente pro Brás se mostrar amigo. 
Lembra daquelas questões iniciais, com as quais a gente começou a leitura, se o Brás seria alguém especial pra estar, depois de morto, escrevendo suas memórias? Pois do que vimos da leitura até agora, Brás é um tipo medíocre, sem nenhuma característica que mereça ser imortalizada.
Nós temos visto ao longo das leituras que o narrador comumente fala com o provável leitor, ou leitora de seu romance. E que isso é uma característica do Machado. Esse narrador também fala da construção do texto, se referindo ao um parágrafo que não quer que fique muito longo, ou do tipo de narrativa que está construindo... quando a linguagem é utilizada pra falar da própria linguagem, usamos o termo “metalinguagem”. E quando o autor utiliza metalinguagem, parece que está nos arrancando de dentro da trama e chamando nossa atenção para o fato de que isso que estamos lendo é um produto linguístico, é obra de arte resultante de trabalho com as palavras, pra que um leitor desavisado não se esqueça de que se trata de trabalho artístico e não documento sobre o real, por exemplo. Ao fazer referência a como quer que este romance fique estruturado, o autor chama atenção para o fato de que tudo no romance é resultado de escolhas dele, autor. E de que estamos lendo sobre uma vida fictícia, em que cada detalhe, os defeitos de caráter, a cor da pele, a família, o sobrenome, tudo foi pensado e decidido de ser apresentado desse jeito pelo autor. Ao nos puxar assim pra fora da narrativa, pra nos mostrar os andaimes, os alicerces da construção do texto, me parece que o autor quer com isso evidenciar que a temática tratada no texto também não está ali por acaso, mas foi escolha do autor para que nós, leitores, lêssemos sobre tais aspectos, que têm a sua contrapartida na vida real, e refletíssemos sobre eles. Em Memórias póstumas, alguns desses temas escolhidos, decididos de estar no romance são as questões de diferença social, da escravidão, e de como possivelmente era a entrada pra vida política de alguns homens que se decidiam por essa profissão. O Brás, por exemplo, vamos ver na leitura de hoje que decide ser ministro, mas não que ele tenha um objetivo. Pra ele, entrar pra vida pública é mais uma etapa na escalada social esperada pra alguém como ele, que tem dinheiro, estudou na Europa, vive de rendas, é homem no final do século XIX. Pra ele é mais um degrau óbvio entre as coisas bacanas que acontecem na vida dele. É uma vontade esvaziada de sentido no que se refere a prestar serviço ao bem comum, como o cargo sugere que façam. 
Neste ponto da leitura, estamos mais ou menos na metade do romance. 
Vamos continuar?
Na leitura de hoje, vimos o encontro de Brás com o colega Quincas Borba, que ele quase não reconhece, porque o Quincas se tornou um mendigo. Brás escolhe a nota de dinheiro menos limpa pra dar ao amigo, que nesse momento ele já nem considera mais sendo amigo... é irônico que justo o Brás, que não faz nada da vida, queira convencer o Quincas a ir trabalhar.
Brás reduz a existência das pessoas ao propósito de lhe servir. Pensa que a Virgília, seu travesseiro pra esquecer dos problemas, não pode ter outro propósito de vida, que com certeza existe só pra lhe dar prazer.
E vimos que ele aluga uma casa pros encontros com Virgília, e coloca pra ser moradora oficial da casa, uma antiga costureira dela, a D. Plácida. Mais uma vez Brás se acha no direito de ponderar se a existência da pessoa é importante, considerando que D. Plácida nasceu só pra passar trabalho.
Lembra que eu pedi que tu guardasse o nome do Prudêncio, aquele escravo que o Brás montava como cavalo quando era criança? Pois era em função desse fragmento que eu li hoje, em que o Brás encontra o Prudêncio, já liberto pelo pai anos atrás, espancando um senhor, na rua. 
O Prudêncio, liberto, compra um escravo, que pelo jeito é um senhor mais velho que ele, e trata esse escravo a pancadas. O vergalho, a palavra que dá nome ao capítulo, é um chicote ou açoite, e é com isso que ele está espancando o seu escravo. Com essa passagem, Machado de Assis chama nossa atenção para uma característica da violência, que é a sua condição de ser cíclica. Não que isso sempre aconteça, mas aqui, a vítima, assim que tem uma oportunidade, devolve a violência recebida a um subalterno ou a alguém que julgue inferior. Prudêncio era espancado pelo Brás e assim que consegue comprar um escravo devolve a ele o espancamento acumulado, como conclui o narrador. E assim a violência gera mais violência, num ciclo infinito. Outra questão a se atentar é sobre o quanto comprar um indivíduo podia ser barato, dado que um ex-escravo conseguiu adquirir um escravo para si. A gente pode pensar que aquele que sofre maus tratos deve ser empático à dor do outro, mas o que essa cena mostra é uma tentativa, por parte do Prudêncio, de então fazer parte do outro grupo, do grupo que possui direito sobre indivíduos, que manda, que açoita. Ao bater no seu escravo, ele poderia estar buscando pertencimento ao grupo dominante, que tem naquela sociedade direito sobre os outros, os escravizados. Mas isso é pura ilusão do Prudêncio. A cena, construída habilmente por Machado, nos mostra que, uma vez escravo, ele vai ter dificuldade em estar totalmente livre. E isso porque na própria consciência dele ele ainda é inferiorizado. Ao bater no indivíduo, igual a ele, ele se coloca também em situação de inferiorizado, em indivíduo sem grandeza diante da dor alheia. E basta que veja seu antigo proprietário para retomar a postura de subserviência. Brás ordena que ele pare de bater no escravo e Prudêncio imediatamente pára, respondendo que o patrão não pede, mas manda. Diante do homem branco que outrora lhe batia e de quem ele não pode se vingarcom o vergalho, ele se coloca como submisso. 
Esse fragmento ainda nos dá pista do quanto foi falho o processo de libertação dos escravos, porque não foi acompanhado de oportunidades de vida digna a essas pessoas libertas da escravidão, ou fornecimento de meios para que essas pessoas se colocassem na sociedade como cidadãos. Faltou o debate com os recém libertos e faltou também educação para moldar as consciências dos brancos, que seguiram se achando no direito de dar ordens, de mandar, muitas vezes seguiram se sentindo superiores. 
Esse fragmento tem pelo menos três sujeitos enunciadores, três vozes discursivas a falar ao leitor. Primeiro, pensando do centro da cena pra fora do texto, primeiro a gente tem o enunciado do Prudêncio, esperançoso de ter mudado de lado, de estar ao lado de quem pode bater, mas ainda obediente ao antigo patrão. Depois, a voz enunciativa do Brás, do narrador que é um homem branco, alheio ao sofrimento de ser tratado como propriedade, porque ele próprio é proprietário de escravos e incólume de estar na condição de escravizado. Por ter nascido branco, ele não precisa se preocupar em jamais estar em cativeiro. Brás é tão pouco empático, que ele deixa aquela cena pensando que, se tivesse retido na memória os pensamentos que lhe ocorreram quando viu o Prudêncio se vingando, que esses pensamentos teriam rendido um capítulo alegre! Mas que ele não guardou as reflexões que lhe ocorreram. Por fim, fora da narrativa, mas atrelado ao texto, temos o sujeito enunciativo que é o autor da obra, o criador do discurso do narrador e quem decide que essa cena do ex-escravo batendo no seu escravo não terá nenhum impacto de empatia no branco rico e medíocre. Machado de Assis, preto, neto de escravos, escreve essa cena no mínimo para que o seu leitor reflita sobre as implicações das relações envolvidas ali e da contrapartida delas na sociedade brasileira, considerando que a realidade tenha servido de inspiração. 
Eu acho que o nome do Brás pode ser uma metáfora pro Brasil, que não refletiu sobre a condição da escravidão ou sobre a libertação teórica dos escravos pra relegar a uma prática de escravidão disfarçada, fazendo com que esses libertos não tivessem condições de trabalho, moradia, saúde, acesso à educação, e isso se desdobrasse em injustiça social e desigualdades que nós enfrentamos até hoje. 
Uma pesquisa do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), de 2016, aponta que a população carcerária brasileira é composta predominantemente por pretos e pardos. 65%, dois terços dos detentos são pretos. Em contrapartida, nas universidades e faculdades públicas brasileiras, somente em 2018 o número de pretos ultrapassou a quantidade de estudantes brancos, segundo pesquisa do IBGE realizada em 2019. E isso porque nos anos anteriores a 2018 foram postas em prática políticas públicas que contribuíram pra que essa parte da população pudesse acessar o ensino superior. 
É preciso debater sobre a desigualdade histórica e estrutural, porque isso diz respeito a todos nós, independente da cor da pele ou condição social. Enquanto a sociedade não é justa e não proporciona oportunidade e dignidade pra todos, não é justa pra ninguém. 
Por hoje, ficamos por aqui. No próximo episódio do Literatura Oral, eu continuo com a leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Abraço e até lá!
Parte 6
Olá! Bem vindos ao Literatura Oral, podcast de leitura comentada e sugestões literárias. Meu nome é Sabrina Siqueira. Eu sou jornalista e tenho mestrado e doutorado em literatura. Hoje continuo com a leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. 
No último episódio, vimos que o colega de infância Quincas Borba virou mendigo e furtou o relógio do Brás em um abraço. Brás mantém uma casa para os encontros com Virgília e o nosso narrador protagonista está com cerca de 40 anos de idade.
Vamos continuar com a leitura e ver a quais reflexões Machado de Assis nos convida com o fragmento a seguir:
Na leitura desse fragmento, o caso de Brás e Virgília é de conhecimento público. O narrador reata com a irmã, com quem havia brigado pela herança do pai, e o cunhado Cotrim o aconselha a não seguir para o norte, como conselheiro do Lobo Neves, para que o caso não se tornasse um problema, em uma cidade menor que o RJ. 
Quincas Borba lhe envia um relógio em restituição daquele furtado durante um abraço e diz que já não é mais mendigo, e que quer contar ao Brás sobre sua teoria filosófica, a teoria do Humanitismo.
Já no fim da leitura de hoje, chega à casa de Brás o Damasceno, cunhado de Cotrim. Damasceno participou na Revolução de 1831, é a favor do tráfico de escravos e contra os ingleses. Ele bate no peito dizendo que é patriota, e explica que isso “não admira porque era de família”, descendia de um militar muito patriota. 
Até hoje existe essa confusão de que ser patriota é ser militar, ou realizar ações que se adéquam à postura militar, como cantar o hino. Recentemente teve uma onda de apoiadores de que se devia cantar hino todos os dias nas escolas como forma de incentivar o patriotismo nas crianças. Mas isso é uma confusão totalmente equivocada. Cantar hino não é sinônimo de ser patriota, é só um indicativo de interferência do estado nas ações das escolas, tentando determinar o que se deve fazer nas escolas. Quem tem que mandar nas escolas são os educadores, que têm formação para tal. Não militares com suas práticas robotizadas. Escola é lugar de aprender, de ler, de pensar criticamente, e pensar criticamente se opõe a uma rotina de cantoria mecanizada. Patriotismo é proteger os nossos biomas, proteger a Amazônia, respeitar os povos indígenas, que são parte do nosso patrimônio cultural, com sua sabedoria sobre plantas, sobre bichos. Patriotismo é proporcionar condições de trabalho, saúde e educação a todos os brasileiros e trabalhar por derrubar as diferenças sociais. A criança que vive em um país cujos governantes investem adequadamente o dinheiro público pra lhe proporcionar crescer com qualidade de vida e oportunidade de estudar e trabalhar dignamente, essa criança será super patriota, ainda que não decore hino nenhum. Ainda mais relevante que patriotismo é o conceito de civismo, no sentido de respeito à vida coletiva, que ultrapassa as noções de pátria. E o civismo, e mesmo o patriotismo, não pode ser imposto por uma determinação do governo. Ele deve ser plantado nas crianças, em todos, com boas práticas que orgulhem os brasileiros, como investimento em educação, em cultura, em respeito aos aposentados, no cultivo de uma cultura de paz. Não preciso nem dizer que quem estimula o armamento da população, pra que aconteçam mais mortes, mais dor, mais sofrimento, porque isso é a única coisa que vem de armas, quem incentiva armas não é patriota e não pode estar em posição de liderança. 
Voltando à narrativa, o Brás fala na Revolução de 1831. Machado utiliza um fato histórico para trabalhar literariamente a sua narrativa. Então vamos revisar ao que ele está se referindo: De 1831 a 1840, o Brasil vive o período regencial, compreendido entre a abdicação de Dom Pedro I e a declaração da maioridade de Dom Pedro II. Foi um período de muita agitação política. Até parece 2020, então. É nessa fase que aconteceram as rebeliões Cabanagem, no então Estado do Grão Pará, a Balaiada, no Maranhão, a Sabinada, na Bahia, que não foi uma revolução feita por Sabrinas, e a Guerra dos Farrapos, no RS. Essas rebeliões tinham como uma das causas em comum o descontentamento com o poder central, que estava no RJ.
Esse período teve 4 regências, antes que D. Pedro II atingisse a maioridade. Duas regências foram trinas, compostas por 3 regentes, e duas delas foram unas, comandadas por 1 regente, que foram, primeiro, Diogo Antônio Feijó, e depois por Araújo Lima. 
O Damasceno saiu do RJ por desacordo com o regente, que ele considera um asno. A narrativa não cita nomes, mas a personagem diz que se opunha a uma das regências unas, porque ele fala “regente” no singular. Pensando em acordo com a história, Damasceno poderia estarse opondo ao regente Feijó, porque Feijó foi um liberal, e pelo que a gente sabe do damasceno, ele tem características de conservador. 
Feijó foi padre e ministro da justiça antes de regente do Império. Ele era liberal e parece que imbuído de sentimentos democráticos, e opositor de José Bonifácio, um conservador, amigo de D. Pedro I, que fica no Brasil como tutor do D. Pedro II. Bonifácio é avesso aos liberais, portanto opositor do Feijó. A agitação política no Brasil, mais especificamente no RJ, que culminou com a volta de D. Pedro I para Portugal, acontece na esteira de revoltas liberais que estavam acontecendo na França. Em Paris, a Revolução de julho de 1830, derrubou Carlos X da França, que era um conservador.
Em novembro de 1830, em São Paulo, aconteceu o assassinato do jornalista italiano Líbero Badaró, que era defensor do liberalismo e fundou um jornal em que publicava artigos que propagandeavam princípios políticos que visavam a liberdade e a dignidade dos cidadãos. Ele foi assassinado em um atentado de cunho político, portanto. Ele já era mal visto pelos absolutistas no Brasil, mas quando ele publicou sobre a Revolução de Paris e incentivou os brasileiros a seguirem o exemplo dos franceses, quer dizer, se livrarem dos conservadores que exploravam o povo, a polarização entre liberais e conservadores aumentou. Líbero Badaró é interpelado à noite, em 20 de novembro de 1830, quando voltava pra casa. Tá lembrando da vereadora Marielle? Eu também! Ficou célebre uma frase que Badaró teria dito quando percebeu que seria assassinado: “Morre um liberal, mas não morre a liberdade”. O assassinato do liberal Badaró teve repercussão imediata por parte do povo, que pedia justiça e prisão dos assassinos. Uma das pessoas atuantes na busca da punição dos culpados foi o padre Diogo Antônio Feijó, que naquela época era membro do Conselho de Governo da Província. Como nem todos os assassinos foram condenados e os ânimos estavam agitados, a imagem de D. Pedro I fica cada vez mais desgastada, até que ele abdica em 7 de abril de 1831. E com isso é instaurado o período regencial. 
Fazendo relação entre esses fatos da história e a narrativa de Memórias póstumas, a personagem Damacseno diz que tinha ido para o norte depois de fazer a Revolução de 1831. Assumindo que o regente que ele considerava um asno é o Feijó e comsiderando que o Feijó passa a assumir mais poderes com o período regencial, faz sentido ele mudar de ares, sair do RJ e ir pra longe. Aqui eu estou aproximando o discurso da personagem com informações extra-literárias, que são do contexto social, já que o autor faz referência ao fato histórico da Revolução de 1831 e do período regencial, porque fala em regente. 
Da personalidade, do perfil do Damasceno, a narrativa nos dá que ele tem ideias políticas baralhadas, prefere um governo que seja um despotismo temperado (que a gente pode ler como um conservador com tendência ao autoritarismo), é a favor do desenvolvimento do tráfico de africanos e deseja a expulsão dos ingleses do território brasileiro. Pra completar esse perfil, ele gostava muito de teatro. Sobre a opinião de ser a favor da escravidão, faz sentido que se opunha aos ingleses, já que a Inglaterra foi um dos primeiros países a se colocar contrária ao tráfico negreiro. Não por bondade, por questões de mercado, pelo incentivo de que houvesse mais trabalhadores assalariados que fossem potenciais consumidores de seus produtos, fruto das máquinas da Revolução Industrial. 
A parte do Damasceno gostar de teatro é ironia do Machado de Assis. Uma pessoa que apóia a escravidão, o comércio de seres humanos, mas que admira arte. E se opõe aos ingleses, mas se encanta com teatro, arte em que os ingleses são proeminentes. Ele agradece a Deus por ser patriota, uma característica que ele dá como óbvia, já que descende de militar. E que não era pé-rapado, ele diz. Damasceno associa o ser patriota, a ser de família, a ser militar e a ter posses. Não ta parecendo umas pessoas da atualidade, que se dizem cidadão de bem, mas que são a favor de armas, apóiam político que diminui minorias e faz apologia a estupro, se mostra racista... se o Damasceno fosse uma pessoa e vivesse no Brasil, em 2020, eu sei em quem ele teria votado pra presidente, em 2018. 
Machado de Assis nem imaginava, mas o Brasil de 2020 tá cheio de Damascenos. Gente hipócrita, sem capacidade de empatia, que gosta de dizer que admira teatro, mas quem não tem respeito pela dor do outro, é porque não entendeu nada de arte. De vez em quando eu levo um susto, com algum escritor, alguém do campo das artes, que deveria ser mais sensível e empático, dizendo que apóia governo ligado a milícia, ao discurso de ódio. Mas a princípio, a literatura e a fruição artística devem tornar as pessoas seres humanos melhores. Eu quero acreditar que isso é possível. Por isso eu to aqui no Literatura Oral, lendo e tendo esperança que algum Damasceno me escute e acorde do torpor robotizado em que se encontra.
Ah, se tu ficou com dúvida sobre período regencial, te informa! Tem muitos vídeos na internet explicando, busca saber mais sobre a história do Brasil. É importante a gente saber a nossa história. Aqui eu só fiz um resumo super breve, busca mais informações. Ainda um esclarecimento, pra não deixar dúvidas... quando eu disse que, infelizmente, o Brasil tá cheio de Damascenos, eu não me refiro ao nome próprio, mas à mentalidade dessa personagem. Uma mentalidade que quer o povo armado e nega a ciência. 
No próximo episódio, sigo com a leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Abraço e até lá! 
Parte 7
Olá! Bem vindo ao Literatura Oral, podcast de leitura comentada e sugestões literárias. Eu sou Sabrina Siqueira, jornalista com doutorado em literatura. Neste episódio, continuo com a leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
No último episódio, vimos que Virgília está grávida e que Brás acredita que o filho é dele. Ele passa um tempo conversando com o feto, imaginando como será esse filho. Vê o filho bacharel, fazendo discurso, e se enche de orgulho. Na verdade, Brás projeta nesse filho a imagem de si próprio, por quem ele tem muito apreço, diga-se de passagem. O discurso que imagina para o filho talvez seja aquele que o pai dele imaginou sendo o primeiro discurso do Brás como ministro, um discurso que ele acabou nunca fazendo.
O episódio terminou com um convite do cunhado Cotrim para um jantar. Esse convite foi entregue ao Brás pelo Damasceno, uma personagem que apóia o comércio de escravos e ao mesmo tempo se diz fã de teatro.
Voltemos à leitura:
No fragmento lido hoje, Virgília perde o bebê, que Brás pensava que fosse dele. Também vimos o início da apresentação da filosofia do Humanitismo, de Quincas Borba, uma filosofia que acomoda-se facilmente aos prazeres da vida. 
Existe um substrato que percorre o desenrolar das memórias de Brás Cubas, que é a história de seus amores, as mulheres que passam pela sua vida. Primeiro, a paixão da adolescência, Marcela, que amou Brás por 15 meses e 11 contos de réis. Depois, Eugênia, com quem Brás nunca teve intenções sérias, mas gostou de se divertir um pouco. Até que cansou da menina pobre e manca.
Fosse um romance do Romantismo, Brás poderia ter se apaixonado por Eugênia e iniciado com ela um relacionamento puro, que o redimiria do namoro inconseqüente com a cortesã Marcela e o salvaria de um casamento por interesse com Virgília. Porque eram assim as narrativas do Romantismo. Mas aqui é Realismo, e Brás só se aproxima de Eugênia pela curiosidade de ver o que nasceu daquele beijo estalado de vinho e volúpia, entre o glosador Vilaça e D. Eusébia, numa moita de sua casa, em 1814. Enquanto Brás borboleteia sobre a sua superioridade, ele ironiza o que ele lê na atitude da D. Eusébia de empurrar a filha pra ele, como pretensão de usar a moça para ascensão social por meio do casamento com ele. Poderia até ser uma doce vingança de D. Eusébia pelo comportamento dele, em 1814, fazer com que o Brás se casasse com a sua filha bastarda. 
A suagrande parceira na vida foi Virgília, que se tornou muito mais interessante pro Brás quando já estava casada, quando ele já não teria que ter com ela nenhuma responsabilidade. Poderia continuar solteiro, encontrando a Virgília quando ele quisesse, como amante. A Virgília é a mulher que realiza seus desejos íntimos e públicos. Ela tinha aspirações de ser baronesa, ou marquesa, então casou com o pretendente que lhe pareceu mais promissor na carreira política. Com o outro, Brás, que não era dado à ação, vive um triângulo amoroso. Pra uma mulher do século XIX, Virgília é poderosa e livre. A narrativa traz, às vezes, algo de ruim da personalidade dela, como de ser mentirosa, meio dissimulada. Mas lembrem quem é que nos dá essas informações: o narrador Brás. É interessante que o defunto autor imagina Virgília viva lendo suas memórias.
E na leitura de hoje vimos a entrada de outra mulher na vida do Brás: a Nhã Loló. Brás conhece Nhã Loló, filha do Damasceno, e fica sabendo da intenção da irmã dele, Sabina, em casar a moça com ele. Quando vê a Loló, que era pobre, usando um vestido fino, num camarote do teatro, Brás diz que tem “cócegas de Tartufo”. É a segunda vez que ele se refere a Tartufo. Tartufo é uma comédia do francês Moliére, de 1664. A personagem título é um devoto religioso, hipócrita e dissimulado. Em Língua Portuguesa, o termo tartufo passou a ter a acepção de pessoa hipócrita ou falso religioso. 
Por hoje fico por aqui. Abraço e até o próximo episódio!
Parte 8 
Olá! Este é o Literatura Oral, podcast de leitura comentada e sugestões literárias. Eu sou Sabrina Siqueira, jornalista com doutorado em literatura. Neste episódio, continuo a leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
No episódio anterior, o romance de Brás e Virgília já andava descendo a ladeira e termina quando ela vai com o marido para outra cidade. Brás conhece Nhã-Loló, que é filha do Damasceno e sobrinha do Cotrim. Existe interesse de Sabina em casar o irmão com a moça, que Brás julga ser de família inferior. Também vimos a explicação da filosofia de Quincas Borba, o Humanitismo.
Em um dos capítulos que eu vou ler a seguir, Machado de Assis coloca na narrativa mais um fato histórico, e dessa vez um fato que ecoa no cenário que vivemos hoje, no ano de 2020: uma pandemia. O narrador Brás Cubas vai falar, muito por alto, na epidemia de febre amarela que acarretou em muitas mortes. Na História do Brasil, ocorreu de fato uma epidemia de febre amarela na capital do então Império, em 1849, quando um navio americano teria chegado trazendo a infecção aos portos. Foram mais de 4 mil mortos no Rio de Janeiro, pela doença, no ano seguinte. 
Vamos ver o que acontece com Brás na leitura de hoje?
___________________________-
Na leitura de hoje, Brás está acostumado à ideia de casar e ter filho, mas uma epidemia de febre amarela colabora para que continue um solteirão.
O Brás Cubas se refere à febre amarela como “peste”, como a gente tem ouvido algumas vezes as pessoas se referirem à covid 19. Essas doenças que surgem, dizimam um número enorme de pessoas em um curto espaço e para as quais a medicina não tem ainda total conhecimento, ou uma vacina, um remédio definido, acabam ganhando esse epíteto, de peste. Quincas Borba pergunta a Brás se ele não ta secretamente feliz por ter escapado à doença. Provavelmente aliviado está, mas o que ele nos confessa é que não amava a Nhã-Loló. 
A morte dela também ajuda a reforçar, na narrativa, mais algumas características da personagem Damasceno. O pai da menina lamenta que foram poucas pessoas ao enterro da filha, sendo que havia expedido 80 convites. Consolado pelo Cotrim de que talvez fosse melhor assim, porque muitos iriam só por formalidade, ele diz que ainda assim queria a presença. Quer dizer, Damasceno é preocupado com as aparências, isso é o que importa pra ele no final. Também de Cotrim a narrativa nos traz algumas informações novas: ele é mercador de escravos, e cruel com os seus cativos. Ele é tido como bárbaro por alguns. Mas Brás pondera: o único fato para o chamarem assim era o de mandar escravos com frequência ao calabouço, pra onde desciam a escorrer sangue. Mas que ele só mandava os perversos e os fujões. Como se isso fosse pouco! E que não se poderia atribuir à índole aquilo que é do trato das relações comerciais. Na verdade, não há como separar o que se faz no público e no privado. Quem é gentil contigo e arrogante com um funcionário, por exemplo, está mostrando que tem um caráter duvidoso. E notem que o Cotrim não quer o defunto/autor casado com a sobrinha! Ele não incentiva o matrimônio dos dois! Mas o narrador não se dá por ofendido. Brás diz que a prova de que Cotrim tem sentimentos elevados é que ele é bom pros filhos. Mas ser bom pros seus e deixar os subalternos a escorrer sangue só é prova de que a personagem alguém ruim! Esse discurso de que isso nem é nada, na voz do Brás, será que é ironia? Sim ou com certeza? Machado de Assis, mais uma vez, coloca na voz do narrador que é completamente diferente dele próprio o contrário do ele quer dizer. Nesse caso a ironia funciona como um texto que ecoa o seu contrário, de dizer o contrário do que está enunciado, mas nem sempre o recurso da ironia atua assim. Outra ironia é o Damasceno dizendo que 12 pessoas no funeral é pouco, quando a gente sabe que no do Brás só teve 11!
Outra ironia dentro dessa narrativa é o quanto desocupados são os deputados na Câmara, quando Brás está deputado. É um olhando uma gravura, outro fazendo um desenho do colega que ta falando, outro contava uma anedota. Olha como no século XIX, quando o romance foi escrito, já era motivo de comentário o quão pouco os políticos trabalham, e Machado não deixou passar.
Como deputado, Brás Cubas realiza... nada! Ele não realiza nada. Faz um discurso sobre uma mudança no uniforme da guarda nacional. E é meio que ridicularizado, pela sugestão e pelo discurso. Foi mal interpretado e ainda teve de se desdizer. Percebam que ele mesmo não estava convencido da necessidade de diminuir a barretina, que era o que sugeria no discurso. Porque depois, conversando com o Quincas Borba, disse que o filósofo acabou por convencer a ele próprio do argumento que tinha usado!
A leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, está quase no fim. O próximo episódio será o final desse romance. Fiquem bem, um abraço e até lá!
Final
Olá! Este é o Literatura Oral, podcast de leitura comentada e sugestões literárias. Eu sou Sabrina Siqueira, jornalista com doutorado em literatura. Hoje termino a leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas, romance de Machado de Assis que está sendo a primeira leitura deste podcast. 
No último episódio, vimos que Brás havia se tornado deputado e que não realiza nada no cargo. Vimos também quem é o verdadeiro Cotrim. A narrativa menciona a epidemia de febre amarela, que nos remete a uma epidemia dessa doença acontecida no RJ, em 1850. E essa leitura dialoga com o período que estamos vivendo, que ontem, 8 de agosto de 2020, o Brasil passou a marca de 100 mil mortos por covid. Minha solidariedade às famílias que sofreram perdas e a todos que vem sofrendo durante essa pandemia, com mortes, descaso das autoridades, perdas de trabalho... O artigo 196 da Constituição brasileira diz que “A saúde é direito de todos e dever do Estado garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” Então por qual motivo nós nos acomodamos com um desgoverno federal que além de não zelar pela saúde pública, como é sua obrigação, ainda minimiza a pandemia e reforça notícias falsas que acarretam mais confusão e mais mortes? Os políticos são funcionários públicos, com obrigações para com o povo. Não são mitos ou entidades que possam fazer o que quiserem. Se um funcionário não cumpre seu dever e ainda prejudica aqueles que lhe concederam o cargo, é hora de trocar o funcionário e sua equipe. O número de mortespor covid no Brasil é resultado da política adotada pelo desgoverno, pela falta de ações e pelas ações inadequadas desse desgoverno federal. Até quando vamos suportar isso? 
Me custou ler em voz alta, no episódio #8, sobre a briga de galos que encanta o Damasceno. Não é por acaso que Machado de Assis decide que é essa personagem que será fã de brigas de galos, porque o Damasceno é personagem com problemas de caráter e com falta de empatia. Ele é a favor da continuação da escravidão e preocupado com as aparências. Mesmo no funeral da filha, o que mais lhe entristece é o baixo número de convidados que compareceram. Machado associa o gosto pela exploração animal à personagem que reúne características negativas como forma de criticar essa ação. Aproveitando a deixa de Machado de Assis, manifesto todo meu repúdio pela exploração animal e minha contrariedade pela venda de filhotes de gatos e cães, de forma a explorar as fêmeas. Quem quiser – e puder – ter um animal de estimação, que adote! Não compre um filhote pra não reforçar esse comércio de dor e tristeza. 
Nosso episódio de leitura final de Memórias póstumas está começando pesado, fazer o quê? A proposta deste podcast é relacionar a leitura de literatura a nossa atualidade e às questões sociais pertinentes ao nosso tempo. 
Vamos terminar a leitura do romance, torcendo para que dias melhores venham de nossas ações conscientes e empáticas. 
Na leitura de hoje finalizei Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. 
Neste episódio, vimos que Brás não realiza sua aspiração de ter uma carreira política, de chegar a ministro. Na verdade, Brás não realiza absolutamente nada na vida. Não foi pai, uma vontade que por duas vezes alimentou, não deixou sua marca em nenhuma realização profissional. E ainda teve de amargar as lágrimas sinceras de Virgília no funeral do marido, dando a entender que ele, que foi seu amante, ocupou sempre uma posição secundária na vida da mulher. 
Brás funda um jornal oposicionista quando vê perdida a carreira política. O jornal não é ideia dele, claro! É do Quincas Borba, e dura mais ou menos 6 meses. Brás não entende que o Cotrim é um puxa saco das autoridades, seja do governo que for, e considera como um “problema insolúvel” a manifestação do cunhado, contrário a sua folha oposicionista. Além de medíocre, Brás é um pouco ingênuo. 
Machado abre e fecha este romance flertando com a loucura, que já vimos que é um dos temas preferidos do autor. Memórias póstumas inicia com a alucinação de Brás antes de morrer e na leitura de hoje temos um capítulo chamado “O Alienista”, que também é o título de um conto do Machado, publicado em 1882. Mais uma vez dentro desse romance, Machado explora a ideia da sandice como uma invasora de casas, ou de corpos, uma convidada inoportuna que se aloja e vai ficando. Hoje vimos que ela toma conta da mente do Quincas Borba, tendo deixado um cantinho pra razão brilhar pelos olhos da personagem, o que torna o quadro ainda mais triste. E o narrador Brás também tem uns lampejos de loucura. Já tínhamos visto que ele é dado a alucinações, mas na leitura de hoje vimos que um belo dia ele decide fazer de si um nababo. E essa é outra palavra que me levou à pesquisa, porque eu nunca tinha ouvido falar. Nababo é um príncipe ou governador de província na Índia muçulmana entre os séculos XVI e XIX. Ou um europeu que ocupava posição importante e enriquecia na Índia. Quer dizer, num ou noutro caso, não é algo que o Brás Cubas pudesse vir a se tornar. 
E Machado também repete algumas referências à razão, porque ele cita algumas vezes Pangloss, que foi uma personagem de Voltaire, e cita também o filósofo do Iluminismo, que foi justamente um movimento cultural acontecido na Europa, desde o Renascimento até o século XVIII, que ficou conhecido pela valorização da razão. O Ilumisnismo coloca a razão como a principal fonte de autoridade e legitimidade, e de certa forma desbanca a “sandice” que dominava as ideias anteriormente, quando religião e política estavam interligadas, e o mundo era assolado por ignorância, superstições e por aí vai... Acho que podia rolar uma segunda onda de Iluminismo pra nós aqui no Brasil, em 2020, porque estamos mergulhados em ignorância, charlatanismo, política mancomunada com religião! Coisa triste! Como é que a gente foi andar pra trás desse jeito?
Mas e o Pangloss, que aparece em Memórias póstumas? Que o Quincas Borba diz que não era tão tolo como presumiu Voltaire? Pangloss é uma criação de Voltaire, é personagem de uma novela chamada Cândido ou O Otimismo, de 1759. Do jeito que o Quincas fala, perece que Pangloss e Voltaire estão em condições de igualdade, mas um é personagem fictício e o outro é pessoa humana, figura pública. A novela narra a história de um jovem, Cândido, que vive em um paraíso edênico e recebe ensinamentos de otimismo de seu mentor, Pangloss. A obra relata a abrupta interrupção desse estilo de vida quando Cândido se desilude ao testemunhar e experimentar eminentes dificuldades no mundo. Voltaire conclui a obra, se não rejeitando o otimismo de Pangloss, que dizia que “tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis”, ao menos substituindo esse otimismo por um preceito enigmático, porque a novela termina com Cândido respondendo que “devemos cultivar nosso jardim”, ou seja, uma obra adequada aos preceitos do Iluminismo, primando pela razão e pela ação ao invés da esperança vã, movida só pela fé e pela superstição. 
A novela Cândido foi censurada e proibida por conter blasfêmia religiosa, por questionar as formas como se faziam política e por algo que foi entendido na época como hostilidade, que na narrativa, estaria encoberta por um véu de suposta ingenuidade. Considerada depois uma obra de inteligência afiada e fiel no retrato da condição humana, influenciou vários autores em seus clássicos, como 1984, de Orwell (1948), O admirável mundo novo, de Huxley (1932), e o nosso Machado de Assis, que teria se inspirado em Cândido pra pelo menos dois romances, MPBC (1881) e QB (1891). 
A novela de Voltaire foi adaptada para ópera e no cinema brasileiro, pelo cineasta Amácio Mazzaropi, no filme Candinho. E recentemente o filme do Mazzaropi serviu de inspiração a uma novela televisiva, “Êta mundo bom!”, de Walcyr Carrasco. O título é uma referência ao otimismo, abordado lá na obra original. O protagonista na novela de Carrasco também se chama Cândido, ou Candinho. E a personagem que alude ao mentor Pangloss, o otimista, é vivida por Marco Nanini, que passa a Candinho as noções de otimismo, dizendo que “tudo de ruim que acontece na vida é pra melhorar”. Talvez tu nem imaginasse, mas essa novela tem influência no Voltaire, filósofo francês do Iluminismo. Às vezes a gente pode achar que a literatura é algo distante e hermético e mal sabe que uma obra do cânone ocidental, escrita por Voltaire, ta logo ali, adaptada na telenovela das 18h, da TV aberta. É pena que eles não explicam a origem da obra, pras pessoas terem vontade de ir ler o original. Eu não sou de assistir novela, mas acho que não falaram sobre isso, falaram? Ironicamente, Brás tem um Voltaire de bronze entre os objetos de arte da biblioteca, onde ele conversa com Quincas, e o Voltaire dele tem um risinho de sarcasmo. 
Machado encerra Memórias póstumas com o famoso capítulo das negativas, em que Brás conclui que saiu da vida zerado, porque não realizou nada, mas pelo menos não foi miserável, como muitos que nascem pra passar trabalho. Depois de morto, contudo, ele pondera que morreu em vantagem, já que não teve filhos e, assim, não deixou a ninguém o legado da miséria humana. E o romance encerra com essa visada pessimista da nossa existência, enquanto seres humanos. Mas, se tratando da opinião de Brás, personagem que sempre se julgou grande sem nunca ter sido nada, é uma opinião a ser relativizada. 
Lembro que toda obra de Machado de Assis está em domínio público. Vocês podem acessar todos os romances e contos, da fase do romantismo e da fase do realismo. Os arquivos estão disponíveis no site do domínio público:WWW.dominiopublico.gov.br.
No próximo episódio do Literatura Oral, inicio uma nova leitura. Fiquem bem, se puderem fiquem em casa realizando alguma ação de oposição ao governo federal. Grande abraço!

Continue navegando

Outros materiais