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Actinomicose Etiologia: O gênero Actinomyces compreende bactérias saprofíticas anaeróbias que habitam membranas mucosas. As principais espécies encontradas em cães são A. bowdenii, A.hordeovulneris, A. canis, A. viscosus, A. turicensis e A. odontolyticus. Em gatos, A. bowdenii, A. viscosus e A. meyeri merecem destaque. Além disso, Arcanobacterium pyogenes (antigo Actinomyces pyogenes) pode ser visto em ambas as espécies. A actinomicose costuma acometer mais cães jovens com acesso a ambientes externos, em especial aqueles com hábitos de caça. A actinomicose é rara em felinos e pode estar associada a feridas causadas por mordeduras. Patogenia: Por se tratar de um habitante natural de mucosas, as infecções por Actinomyces são tipicamente oportunistas e requerem algum tipo de ruptura de integridade epitelial para o seu desenvolvimento. As espécies do gênero também dependem da presença de bactérias comensais para causar infecção, as quais criam um meio anaeróbico favorável e, além disso, impedem a fagocitose de Actinomyces pelo sistema imunológico do hospedeiro. Por esse motivo, os isolamentos de Actinomyces em amostras clínicas costumam ser acompanhados do crescimento de outras bactérias, ao contrário do verificado nas infecções por Nocardia. Mordeduras, perfurações externas da parede torácica/abdominal ou perfurações de órgãos internos como esôfago, estômago e intestinos por corpos estranhos proporcionam a inoculação bacteriana necessária para o estabelecimento da infecção. A inalação também representa uma via de transmissão importante do agente, que pode colonizar a cavidade nasal, os pulmões e o espaço pleural. A presença de gramíneas nos materiais perfurantes ou no conteúdo inalado é um fator comumente associado à actinomicose. As infecções abrangem uma variedade de órgãos passíveis de manter condições de anaerobiose. Assim, são descritas doenças cutâneas (abscessos, fístulas e feridas por mordedura), torácicas (piotórax e piogranulomas), intraperitoneais, nasais e corneanas. A expansão das lesões a partir do ponto de inicial de introdução do agente geralmente ocorre apenas por contiguidade, tendo a doença um caráter mais localizado. Todavia, é possível a disseminação por via hematógena ou linfática, resultando em infecções mais graves, como as do sistema nervoso central, das vértebras e das valvas cardíacas. As lesões actinomicóticas típicas são os abscessos e os piogranulomas. Sinais Clínicos: Na pele, abscessos e fístulas causados por Actinomyces são facilmente confundíveis com os determinados por outros agentes. As regiões mais acometidas são a cabeça e o pescoço. Nas feridas por mordeduras, em que predominam as infecções mistas por bactérias aeróbias e anaeróbias, o Actinomyces faz parte do grupo de anaeróbios comumente isolados em estudos epidemiológicos. A actinomicose torácica manifesta-se por lesões pulmonares, mediastínicas, pleurais, cardíacas ou de parede da cavidade, às vezes acompanhadas de histórico de trauma relacionado com o trabalho. Alguns animais podem mostrar lesões sugestivas de perfuração externa do tórax, como edema de parede e aumentos de volume firmes, com ou sem fístulas drenando secreção purulenta. Na maioria dos casos, no entanto, os sintomas são inespecíficos e abrangem perda de peso, fraqueza e inapetência progressivas. Os sintomas respiratórios (tosse, dispneia e cansaço fácil) podem aparecer apenas na fase mais avançada da doença. As radiografias de tórax permitem identificar padrões variáveis de opacificação pulmonar (intersticial ou alveolar), áreas de consolidação pulmonar, massas pulmonares ou mediastínicas (piogranulomas), pleurite, derrames pericárdico e pleural. Em gatos, o piotórax representa a principal forma clínica de actinomicose. Os sintomas da actinomicose peritoneal relacionam-se com perda de peso, inapetência e distensão abdominal (ascite). Podem ser palpadas massas abdominais (piogranulomas). A actinomicose do sistema nervoso central é rara, havendo descrições de empiema intracraniano, meningoencefalomielite e massas subvertebrais comprimindo a medula espinal causadas pelo agente. Cistite, otite e queratite também foram relatadas. Diagnóstico: O encontro de macroagregados no pus aspirado de abscessos/derrames ou drenado de fístulas cutâneas pode sugerir infecções por Actinomyces ou Nocardia. Em gatos com piotórax, o acometimento pulmonar identificado após o procedimento de toracocentese (contaminação parapneumônica) igualmente deve levar à suspeita de infecção por esses agentes. Algumas espécies de Actinomyces são anaeróbias estritas, ao passo que outras são facultativas. Idealmente, as amostras para cultura precisam ser colhidas por aspiração com agulhas e transferidas de imediato para meios de transporte que mantenham condições de anaerobiose, como o tioglicolato. De maneira alternativa, as secreções podem ser aspiradas diretamente dos abscessos sem permitir a entrada de ar na seringa acoplada à agulha. Após a oclusão da extremidade da agulha com uma borracha, o material deve ser enviado ao laboratório. O processamento das amostras para cultura deve ser o mais rápido possível (no máximo 12 h), em especial se não houver o tioglicolato como meio de transporte. Entre o momento de coleta e o envio ao laboratório, a conservação do material deve ser feita em temperatura ambiente, sem refrigeração. As espécies de Actinomyces têm aspecto de bacilos curtos, com filamentos que às vezes se ramificam. São gram-positivas, assim como Nocardia, porém não se coram pelas técnicas ácido-rápidas (como Ziehl-Neelsen e suas modificações), o que auxilia na distinção entre elas. A necessidade de condições de anaerobiose, bem como a presença de outras bactérias nos focos de infecção, diminui as chances do crescimento de Actinomyces, resultando em frequência de isolamento muito menor que a prevalência das infecções. Além disso, como o Actinomyces é sensível a vários antimicrobianos, a cultura de amostras obtidas de animais previamente tratados também pode resultar na ausência de crescimento. Do ponto de vista histopatológico, as lesões características (piogranulomas) apresentam um centro contendo os chamados grânulos actinomicóticos, envolvidos por uma camada de neutrófilos que, por sua vez, é cercada de matriz densa entremeada de linfócitos, macrófagos e plasmócitos. A coloração de hematoxilina-eosina é suficiente para identificar as bactérias nos grânulos típicos. Todavia, os filamentos actinomicóticos dispostos nos tecidos de maneira mais dispersa requerem a coloração de Gram adaptada para tecidos (procedimento de Brown-Brenn) para identificação. O encontro de outras bactérias nos cortes histológicos é comum, pela natureza polimicrobiana das infecções por Actinomyces. Tratamento: Antimicrobianos por via sistêmica constituem a base do tratamento da actinomicose. As penicilinas são a escolha empírica mais adequada. Penicilinas G, amoxicilina e ampicilina podem ser utilizadas. No entanto, a amoxicilina e a ampicilina podem ser administradas por via oral, o que constitui uma vantagem no tratamento a longo prazo necessário para erradicar as infecções. Devem-se escolher a dose e a frequência de administração mais elevadas possíveis para assegurar a eficácia do tratamento. Ademais, o jejum contribui para aumentar a absorção das penicilinas no trato gastrintestinal. O tempo de tratamento costuma ser longo, havendo relatos de duração de 2 meses a 1 ano. Aparentemente, existe benefício em associar o tratamento cirúrgico à terapia com antimicrobianos contra actinomicose. A debridação cirúrgica das fístulas e a drenagem/lavagem dos abscessos, somadas ao uso de antimicrobianos, resultou em menores taxas de recidiva em comparação com o tratamento apenas com antimicrobiano. O prognóstico da actinomicose cutânea, torácica e abdominal, ao contrário da nocardiose, é bom, desde que sejam feitos tratamentos prolongados, acompanhados preferencialmente de procedimento cirúrgico. As formas envolvendo o sistema nervoso central são exceção, por vezes em vista da dificuldade de estabelecero diagnóstico e instituir o tratamento correto com precocidade. Principais Diferenças entre Nocardia e Actinomyces Características Nocardia Actinomyces Habitat Matéria orgânica (solo, água e plantas) Membranas mucosas Necessidade de Oxigênio Aeróbio Anaeróbio estrito ou facultativo Natureza das Infecções Monomicrobianas Polimicrobianas Isolamento por Cultura Fácil Difícil Coloração ácido-rápida (Ziehl-Neelsen e modificações) Positiva Negativa Antimicrobianos empíricos para tratamento Sulfonamidas e Trimetropina Penicilinas Prognóstico das infecções Reservado Bom NELSON, Richard; COUTO, C. Guillermo. Medicina interna de pequenos animais. Elsevier Brasil, 2015.
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