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Mycobacterium: Características e Epidemiologia

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MICROBIOLOGIA 
AULA 12 
Mycobacterium
 MICOBACTÉRIAS 
• As micobactérias são bastonetes, às vezes, 
ligeiramente ramificados. 
• São intracelulares, por isso, infectam e proliferam no 
interior de macrófagos. 
• Dentro desse gênero temos mais de 120 espécies. 
• São divididas em: 
→ Complexo M. tuberculosis. 
→ M. leprae. 
→ Outras micobactérias, comumente chamadas de 
micobactérias não tuberculosas (MNT), que 
apresentam baixo potencial de patogenicidade, 
podendo atuar como sapróbias ou 
potencialmente patogênicas. 
 
 PAREDE CELULAR 
Sua parede celular é diferente, apresentando uma 
camada de peptideoglicanos ligada covalentemente a 
uma camada de arabinogalactana, que está ligada a 
uma camada de ácidos micólicos. 
Possui uma grande quantidade de lipídios 
complexos, como os ácidos micolicos, os quais 
conferem uma relativa impermeabilidade aos 
corantes gram e uma propriedade álcool-ácido 
resistentes (AAR), por isso também são conhecidas 
como bactérias de BAAR. 
A AAR permite a coração de micobactérias pela 
coloração de Ziehl-Nielssen. Nesse caso, elas aparecem 
coradas em vermelho e as outras ficam coradas em azul. 
 
ÁCIDOS MICÓLICOS 
Os ácidos micólicos são ácidos graxos incomuns 
com cadeias longas de átomos de carbono, 
responsáveis pela propriedade AAR. 
Além disso, determinam o crescimento lento 
dessas micobactérias, pela dificuldade da passagem de 
nutrientes hidrofílicos por esses ácidos graxos. Esse 
lipídio também confere resistência a alguns agentes 
químicos e radicais livres. 
 
LIPÍDIOS NÃO COVALENTES 
• Dimicolato de trealose: Presente somente em 
algumas micobactérias. Determina a formação de 
cordões paralelos de bacilos. 
→ Estimula a produção de citocinas pró-
inflamatórias. 
→ Induz a formação de granulomas, formadas por 
fagócitos mononucleados. Uma característica 
importantes das infecções por micobactérias. 
• Lipoarabinomano: Interfere na atividade de 
linfócitos T e macrófragos, via IL-10, inibindo a 
resposta celular e permitindo a proliferação das 
micobactérias. 
• Sulfolipídios: Promovem a associação 
fagolisossômica. 
 
PROTEÍNAS 
São peptídeos os quais servem como antígenos 
estimulando a resposta imune celular. Uma de suas 
utilidades é a realização de testes intradérmicos, como 
o PPD (derivado proteico purificado), no qual se uma 
amostra parcial ou totalmente purificada do antígeno. 
Como exemplo, temos a prova da tuberculina, 
realizada para medir a exposição prévia ao M. 
tuberculosis. 
 
 MICOBACTÉRIAS NÃO TUBERCULOSAS 
As MNT possuem a capacidade de desenvolver 
doenças localizadas ou disseminadas. Além disso, 
apresenta um período de incubação variado, podendo 
durar de 7 dias a 2 anos, dependendo do tempo de 
crescimento da micobactéria. 
• Micobactérias de crescimento lento: Apresentam 
crescimento após mais de 7 dias. 
• Micobactérias de crescimento rápido: Apresentam 
crescimento até 7 dias. 
 
EPIDEMIOLOGIA 
• Habitat: Amplamente disseminadas no ambiente. 
→ Ex: Água, solo, alimentos, animais, protozoários 
e soluções de uso hospitalar. 
→ Algumas espécies são colonizadoras temporárias 
ou permanentes do trato respiratório, digestório 
ou da pele. 
• Alta persistência: 
→ Resistência a agentes químicos, como cloro, 
glutaraldeído, clorexidina etc. 
→ Produção de biofilme em reservatórios de água 
ou materiais hospitalares. 
→ Tolerância à escassez de nutrientes, 
permanecendo viáveis em água destilada, 
realizando reprodução por cerca de 1 mês. 
• Transmissão: 
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→ Aspiração: Poeira, secreções, água etc. 
→ Inoculação traumática: Cirurgias, injeções, 
colocação de próteses etc. 
→ Traumatismo cutâneo: Ferimentos perfurantes, 
ferimento pelo contato com água de aquário e 
peixes. 
→ Ingestão: Alimentos e água. 
→ Raramente: Picada de insetos e banhos em 
piscinas. 
• Controle da infecção: Depende da imunidade 
celular, sendo a imunidade humoral irrelevante nos 
casos de infecção por MNT. 
 
 MNT DE CRESCIMENTO LENTO 
MAC (COMPLEXO M. avium) 
• Doença pulmonar crônica: Ocorre com mais 
frequência em indivíduos adultos com fatores 
predisponentes, como doença pulmonar subjacente, 
tabagismo e alcoolismo, doença cardiovascular, 
refluxo gastresofagiano, diabetes, neoplasia, AIDS. 
• Doenças em pacientes com AIDS: Podendo ser 
disseminada, o que ocorre em mais de 90% dos 
casos, ou localizada. 
• Linfadenite cervical: Forma mais comum de 
infecção por MNT em crianças. Acomete gânglios 
cervicais, dificilmente acometendo outros gânglios 
linfáticos. Normalmente, envolve um ferimento na 
gengiva ou faringe, seguido de drenagem da MNT 
para um gânglio linfático satélite, ocasionando a 
tumefação dele e, consequentemente, uma fístula de 
drenagem. 
• Infecções na pele, tecidos moles, medula óssea, 
gastrointestinais, oculares etc. 
 
 
 
M. kansasii 
• Doença pulmonar crônica; 
 
M. scrofulaceum 
• Linfadenite cervical; 
 
M. marinum 
• Granuloma das piscinas: Exposição a águas (doce e 
salgada) e manipulação de organismos aquáticos. 
Acomete regiões mais frias do corpo como dorso da 
mão, pé e perna, causando lesões variadas do tipo 
placa, pápula ou nódulo, podendo ser solitárias ou 
múltiplas (diferencias de infecção fúngica). 
M. ulcerans 
• Seu principal fator de virulência é uma exotoxina 
lipofílica, termoestável, produzida apenas in vivo, 
chamada micolactona. 
→ Provoca rearranjo do citoesqueleto; 
→ Induz a apoptose; 
→ Interfere na sinalização celular; 
→ Ação imunomoduladora, inibindo a resposta 
TH1 (resposta imune celular) e estimulando a 
TH2 (resposta humoral). 
• Transmitido através da água, sobretudo águas 
paradas. Alguns insetos aquáticos também já foram 
encontrados colonizados. 
• Úlcera de Buruli: Grandes ulcerações com 
destruição de pele e tecidos adjacentes, não 
dolorosas. Causa danos necróticos na derme, 
gordura e músculos, podendo afetar fáscias e ossos, 
levando a deformidade e incapacidades. 
 
 MNT DE CRESCIMENTO RÁPIDO 
Os principais tipos de micobactérias com 
crescimento rápido são: 
• M. massiliense; 
• M. abscessus; 
• M. chelonae; 
• M. fortuitum; 
• M. bolletii. 
 
As doenças comumente relacionadas a esse tipo de 
micobactérias são: 
• Infecções comunitárias cutâneas: Envolvem um 
traumatismo seguido de exposição ao solo ou água 
contaminada. Podendo ser localizada, causando 
abcessos, celulites ou osteomielite, ou disseminada, 
com múltiplos abcessos, comum em indivíduos 
imunossuprimidos. 
• Doença pulmonar crônica: Ocorre 
predominantemente em indivíduos com doença 
pulmonar subjacente. A M. abscessus é a principal 
espécie envolvida. 
• Ceratite: Após traumas ou por lente contato. A M. 
chelonae é o principal agente. 
• IRAS (hospitalares e não hospitalares): Uso de 
cateter EV, injeções, contaminação de ferida 
cirúrgica, implantação de próteses etc. 
 
 
 
 QUADRO CLÍNICO 
• Lesões nodulares, fístulas e/ou abcessos na pele e 
tecido subcutâneo; 
Doenças por MNT apresentam semelhanças 
clínicas e radiológicas em relação a tuberculose. No 
entanto, normalmente, são de menor gravidade. 
Como exemplo, suas cavitações evidenciadas em 
exames de imagem, apresentam paredes mais finas. 
O clone de M. massiliense responsável por um 
surto em diferentes cidades, apresentou uma 
tolerância ao glutaraldeído 2% durante 10 horas. 
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• Eritema; 
• Edema; 
• Dor; 
• Saída de secreçãopela ferida; 
• Febre em alguns casos. 
 
 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 
O espécime clínico utilizado para identificação da 
micobactéria depende da suspeita. Podem ser eles: 
• Escarro, lavados nasais; 
• Biópsias de pele ou lifonodos; 
• Contéudos de abcessos; 
• Fluídos corporais como liquor, líquido pleural, 
peritoneal ou sinovial. 
 
Importante diferenciar uma infecção de 
colonização transitória ou contaminação: 
• Pelo menos 3 culturas de secreções respiratórias 
com positividade para a mesma MNT; 
• Isolamento de MNT em espécimes como aspirado 
de abscesso e material de biópsia; 
• Uma cultura de secreção respiratória positiva, 
associada a presença de granuloma de tecido na 
histopatologia e/ou presença de BAAR. 
 
 TRATAMENTO 
Pode ser difícil e varia de acordo com a espécie e o 
local da infecção: 
• Não existem tratamentos padrões como na 
tuberculose e hanseníase, mas apresenta esquemas 
de preconização para MNT. 
• Claritromicina é a droga usada na maioria dos 
casos, mas existem amostras resistentes. É 
necessário a realização do teste de resistência a 
antimicrobianos. 
• Poliquimioterapia por vários meses. 
→ Ex: Infecção por MAC na forma pulmonar, sem 
cavitação, recomenda-se claritromicina, 
etambutal e rifampicina por 12 a 18 meses, e pelo 
menos 12 meses de cultura negativa. 
→ Ex: Úlcera de Buruli recomenda-se rifampicina + 
aminoglicosídeo por 8 semanas e tratamento 
auxiliar (desbridamento cirúrgico e enxertos). 
• Tratamento auxiliar: Drenagem, desbridamento e 
retirada de próteses. 
 
 
 
Frequentemente, as MNT de crescimento rápido 
apresentam resistência as drogas utilizadas no 
tratamento da tuberculose. Isso deve ocorrer, pela 
semelhança entre os encontrados clínicos e 
radiológicos. 
Na linfadenite pelo M. tuberculosis o tratamento 
é o uso de drogas, enquanto, no caso da linfadenite 
cervical por MNT, o tratamento é a retirada do 
gânglio.

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