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2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 1 MICROBIOLOGIA AULA 12 Mycobacterium MICOBACTÉRIAS • As micobactérias são bastonetes, às vezes, ligeiramente ramificados. • São intracelulares, por isso, infectam e proliferam no interior de macrófagos. • Dentro desse gênero temos mais de 120 espécies. • São divididas em: → Complexo M. tuberculosis. → M. leprae. → Outras micobactérias, comumente chamadas de micobactérias não tuberculosas (MNT), que apresentam baixo potencial de patogenicidade, podendo atuar como sapróbias ou potencialmente patogênicas. PAREDE CELULAR Sua parede celular é diferente, apresentando uma camada de peptideoglicanos ligada covalentemente a uma camada de arabinogalactana, que está ligada a uma camada de ácidos micólicos. Possui uma grande quantidade de lipídios complexos, como os ácidos micolicos, os quais conferem uma relativa impermeabilidade aos corantes gram e uma propriedade álcool-ácido resistentes (AAR), por isso também são conhecidas como bactérias de BAAR. A AAR permite a coração de micobactérias pela coloração de Ziehl-Nielssen. Nesse caso, elas aparecem coradas em vermelho e as outras ficam coradas em azul. ÁCIDOS MICÓLICOS Os ácidos micólicos são ácidos graxos incomuns com cadeias longas de átomos de carbono, responsáveis pela propriedade AAR. Além disso, determinam o crescimento lento dessas micobactérias, pela dificuldade da passagem de nutrientes hidrofílicos por esses ácidos graxos. Esse lipídio também confere resistência a alguns agentes químicos e radicais livres. LIPÍDIOS NÃO COVALENTES • Dimicolato de trealose: Presente somente em algumas micobactérias. Determina a formação de cordões paralelos de bacilos. → Estimula a produção de citocinas pró- inflamatórias. → Induz a formação de granulomas, formadas por fagócitos mononucleados. Uma característica importantes das infecções por micobactérias. • Lipoarabinomano: Interfere na atividade de linfócitos T e macrófragos, via IL-10, inibindo a resposta celular e permitindo a proliferação das micobactérias. • Sulfolipídios: Promovem a associação fagolisossômica. PROTEÍNAS São peptídeos os quais servem como antígenos estimulando a resposta imune celular. Uma de suas utilidades é a realização de testes intradérmicos, como o PPD (derivado proteico purificado), no qual se uma amostra parcial ou totalmente purificada do antígeno. Como exemplo, temos a prova da tuberculina, realizada para medir a exposição prévia ao M. tuberculosis. MICOBACTÉRIAS NÃO TUBERCULOSAS As MNT possuem a capacidade de desenvolver doenças localizadas ou disseminadas. Além disso, apresenta um período de incubação variado, podendo durar de 7 dias a 2 anos, dependendo do tempo de crescimento da micobactéria. • Micobactérias de crescimento lento: Apresentam crescimento após mais de 7 dias. • Micobactérias de crescimento rápido: Apresentam crescimento até 7 dias. EPIDEMIOLOGIA • Habitat: Amplamente disseminadas no ambiente. → Ex: Água, solo, alimentos, animais, protozoários e soluções de uso hospitalar. → Algumas espécies são colonizadoras temporárias ou permanentes do trato respiratório, digestório ou da pele. • Alta persistência: → Resistência a agentes químicos, como cloro, glutaraldeído, clorexidina etc. → Produção de biofilme em reservatórios de água ou materiais hospitalares. → Tolerância à escassez de nutrientes, permanecendo viáveis em água destilada, realizando reprodução por cerca de 1 mês. • Transmissão: 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 2 → Aspiração: Poeira, secreções, água etc. → Inoculação traumática: Cirurgias, injeções, colocação de próteses etc. → Traumatismo cutâneo: Ferimentos perfurantes, ferimento pelo contato com água de aquário e peixes. → Ingestão: Alimentos e água. → Raramente: Picada de insetos e banhos em piscinas. • Controle da infecção: Depende da imunidade celular, sendo a imunidade humoral irrelevante nos casos de infecção por MNT. MNT DE CRESCIMENTO LENTO MAC (COMPLEXO M. avium) • Doença pulmonar crônica: Ocorre com mais frequência em indivíduos adultos com fatores predisponentes, como doença pulmonar subjacente, tabagismo e alcoolismo, doença cardiovascular, refluxo gastresofagiano, diabetes, neoplasia, AIDS. • Doenças em pacientes com AIDS: Podendo ser disseminada, o que ocorre em mais de 90% dos casos, ou localizada. • Linfadenite cervical: Forma mais comum de infecção por MNT em crianças. Acomete gânglios cervicais, dificilmente acometendo outros gânglios linfáticos. Normalmente, envolve um ferimento na gengiva ou faringe, seguido de drenagem da MNT para um gânglio linfático satélite, ocasionando a tumefação dele e, consequentemente, uma fístula de drenagem. • Infecções na pele, tecidos moles, medula óssea, gastrointestinais, oculares etc. M. kansasii • Doença pulmonar crônica; M. scrofulaceum • Linfadenite cervical; M. marinum • Granuloma das piscinas: Exposição a águas (doce e salgada) e manipulação de organismos aquáticos. Acomete regiões mais frias do corpo como dorso da mão, pé e perna, causando lesões variadas do tipo placa, pápula ou nódulo, podendo ser solitárias ou múltiplas (diferencias de infecção fúngica). M. ulcerans • Seu principal fator de virulência é uma exotoxina lipofílica, termoestável, produzida apenas in vivo, chamada micolactona. → Provoca rearranjo do citoesqueleto; → Induz a apoptose; → Interfere na sinalização celular; → Ação imunomoduladora, inibindo a resposta TH1 (resposta imune celular) e estimulando a TH2 (resposta humoral). • Transmitido através da água, sobretudo águas paradas. Alguns insetos aquáticos também já foram encontrados colonizados. • Úlcera de Buruli: Grandes ulcerações com destruição de pele e tecidos adjacentes, não dolorosas. Causa danos necróticos na derme, gordura e músculos, podendo afetar fáscias e ossos, levando a deformidade e incapacidades. MNT DE CRESCIMENTO RÁPIDO Os principais tipos de micobactérias com crescimento rápido são: • M. massiliense; • M. abscessus; • M. chelonae; • M. fortuitum; • M. bolletii. As doenças comumente relacionadas a esse tipo de micobactérias são: • Infecções comunitárias cutâneas: Envolvem um traumatismo seguido de exposição ao solo ou água contaminada. Podendo ser localizada, causando abcessos, celulites ou osteomielite, ou disseminada, com múltiplos abcessos, comum em indivíduos imunossuprimidos. • Doença pulmonar crônica: Ocorre predominantemente em indivíduos com doença pulmonar subjacente. A M. abscessus é a principal espécie envolvida. • Ceratite: Após traumas ou por lente contato. A M. chelonae é o principal agente. • IRAS (hospitalares e não hospitalares): Uso de cateter EV, injeções, contaminação de ferida cirúrgica, implantação de próteses etc. QUADRO CLÍNICO • Lesões nodulares, fístulas e/ou abcessos na pele e tecido subcutâneo; Doenças por MNT apresentam semelhanças clínicas e radiológicas em relação a tuberculose. No entanto, normalmente, são de menor gravidade. Como exemplo, suas cavitações evidenciadas em exames de imagem, apresentam paredes mais finas. O clone de M. massiliense responsável por um surto em diferentes cidades, apresentou uma tolerância ao glutaraldeído 2% durante 10 horas. 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 3 • Eritema; • Edema; • Dor; • Saída de secreçãopela ferida; • Febre em alguns casos. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O espécime clínico utilizado para identificação da micobactéria depende da suspeita. Podem ser eles: • Escarro, lavados nasais; • Biópsias de pele ou lifonodos; • Contéudos de abcessos; • Fluídos corporais como liquor, líquido pleural, peritoneal ou sinovial. Importante diferenciar uma infecção de colonização transitória ou contaminação: • Pelo menos 3 culturas de secreções respiratórias com positividade para a mesma MNT; • Isolamento de MNT em espécimes como aspirado de abscesso e material de biópsia; • Uma cultura de secreção respiratória positiva, associada a presença de granuloma de tecido na histopatologia e/ou presença de BAAR. TRATAMENTO Pode ser difícil e varia de acordo com a espécie e o local da infecção: • Não existem tratamentos padrões como na tuberculose e hanseníase, mas apresenta esquemas de preconização para MNT. • Claritromicina é a droga usada na maioria dos casos, mas existem amostras resistentes. É necessário a realização do teste de resistência a antimicrobianos. • Poliquimioterapia por vários meses. → Ex: Infecção por MAC na forma pulmonar, sem cavitação, recomenda-se claritromicina, etambutal e rifampicina por 12 a 18 meses, e pelo menos 12 meses de cultura negativa. → Ex: Úlcera de Buruli recomenda-se rifampicina + aminoglicosídeo por 8 semanas e tratamento auxiliar (desbridamento cirúrgico e enxertos). • Tratamento auxiliar: Drenagem, desbridamento e retirada de próteses. Frequentemente, as MNT de crescimento rápido apresentam resistência as drogas utilizadas no tratamento da tuberculose. Isso deve ocorrer, pela semelhança entre os encontrados clínicos e radiológicos. Na linfadenite pelo M. tuberculosis o tratamento é o uso de drogas, enquanto, no caso da linfadenite cervical por MNT, o tratamento é a retirada do gânglio.
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