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INTRODUÇÃO HISTÓRICA A Hanseníase também é conhecida como lepra ou mal de Lázaro. Surgiu na Índia e na China, sendo disseminada para o Mediterrâneo através das conquistas de Alexandre e aumentou no período das cruzadas. No Brasil, os doentes eram vítimas de internação compulsória e do isolamento social, sendo uma doença de grande estigma social e danos psicológicos. HANSENÍASE 1. Conceito e agente etiológico Infecção crônica, granulomatosa, curável, que tem o Mycobacterium leprae como agente etiológico, também chamado de bacilo de Hansen, que é de elevada infectividade e baixa patogenicidade, ou seja, apesar de muitos indivíduos se infectarem com a micobactéria, poucos adoecem. O bacilo é Álcool Ácido Resistente, parasita intracelular obrigatório com predileção pelas células do sistema reticuloendotelial, especialmente os histiócitos do SNP, as células de Schwann, e as da pele e mucosa nasal. Em grandes quantidades nas lesões formam aglomerados bacilares que são denominados globias. A multiplicação bacilar é lenta, já que ocorre por divisão binária a cada 14 dias, culminando em uma logo período de tempo até que o paciente possua quantidade significativa para manifestar sinais e sintomas, por isso o período de incubação pode ser de até 10 anos. O microrganismo possui preferência por ambientes com temperaturas inferiores a 36,5ºC. As principais manifestações são dermatológicas e neurológicas, de modo que o diagnóstico precoce e o tratamento poliquimioterápico interrompem a cadeia de transmissão e previne incapacidades físicas. É uma doença de notificação compulsória e investigação obrigatória. 2. Epidemiologia A prevalência da doença vem diminuindo, assim como a taxa global de incidência. Apesar da redução desses dados, novos casos continuarão aparecendo por muitos anos. No brasil, a prevalência apresenta variações de acordo com as regiões e estados, sendo os estados do Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Rondônia e Pará com os maiores coeficientes. Atinge pessoas de todas as idades e em ambos os sexos, mas dificilmente ocorre em crianças com menos de 5 anos, a distribuição da doença sugere possibilidade de existência de predisposição genética em alguns indivíduos. 3. Transmissão O homem é o único reservatório natural do bacilo, sendo os portadores das formas multibacilares as principais formas de infecção. As vias aéreas superiores são as principais vias de inoculação e eliminação do bacilo. Soluções de continuidade na pele podem ser portas de entrada para infecção, mas de forma eventual. Secreções como leite, esperma, suor e secreção vaginal podem eliminar bacilos, mas sem importância na disseminação da doença. Depois da entrada do microrganismo pode haver ou não a destruição do bacilo, assim como a imunidade do hospedeiro pode ocorrer de forma exacerbada ou reduzida, dando seguimento aos tipos da hanseníase. 4. Classificação • Madri Considera a existência de dois polos estáveis e opostos, que são o Vichowiano e tuberculoide, assim como considera dois grupos instáveis, o indeterminado e o dimorfo, que irão culminar para um dos polos como evolução natural da doença. • Ridley e Jopling ✓ Forma tuberculoide (TT) ✓ Casos boderline ou dimorfos I. Dimorfo-Tuberculoide (DT) II. Dimorfo-Dimorfo (DD) III. Dimorfo-Virchowiano (DV) IV. Wichowiano-Subpolar (VVs) V. Virchowiano (VV) • OMS É uma classificação operacional que toma como parâmetro o número de lesões, caso haja até 5 lesões, e paubacilar, se existirem mais que 5 lesões, é multibacilar. Os fenótipos da manifestação paubacilar são HLA-DR2 e HLA-DR3, já o fenótipo da multibacilar é HLA-DQ-1. 5. Patogênese Depois da entrada do bacilo, caso não ocorra a destruição, o BH irá se localizar na célula de Schwann e na pele. Sua disseminação para outros tecidos pode ocorrer nas formas mais graves da doença, em que o agente não encontra resistência contra sua multiplicação. Os locais mais afetados são os olhos, linfonodos, testículos e fígado. A imunidade humoral, dependente de anticorpos, não é eficaz contra do M. leprae, logo a defesa é mediada pela imunidade celular, que é capaz de realizar fagocitose e destruição bacilar, por meio da mediação de citocinas e mediadores de oxidação. Predomínio celular e de citocinas de acordo com a forma da doença Paubacilar (tuberculoide) Multibacilar (virchowiana ou lepromatosas) Linfócitos Th1 com IL-2 e IFN-γ Linfócitos T supressores e Th2, com IL-4, IL-5 e IL-10 Exacerbação da imunidade Redução da imunidade IL-1 e TNF-α impedem proliferação bacilar, mas podem ser lesivas Bacilo produz substâncias como o PGL-1 nos macrófagos Lesões cutâneas e neurais na ausência de fatores de regulação Favorecimento do bacilo, escape à oxidação por supressão da atividade dos macrófagos 6. Manifestações clínicas É importante lembrar que é uma doença de acometimento dermatoneurológico, com perda de sensibilidade nas áreas Hanseníase Clínica Integrada de Dermatologia – aula 6 Nicole Sarmento Queiroga afetadas pelas lesões ou em áreas inervadas por nervos periféricos. As lesões neurológicas são mais comuns na forma paubacilar porque os macrófagos, devido à exacerbação da imunidade, englobam os bacilos e atingem os nervos, provocando a neurite. Em pacientes HIV positivos não ocorre alteração no curso da hanseníase. • Hanseníase indeterminada (HI) Caracteriza-se pelo aparecimento de manchas hipocrômicas, anestésicas e anidróticas, com bordas imprecisas e podendo ser únicas ou múltiplas, ocorrendo em qualquer área da pele e não comprometendo troncos nervosos, apenas ramúsculos cutâneos. É considerada a primeira manifestação da hanseníase, podendo evoluir para cura ou para outra forma, podendo ser paubacilar ou multibacilar. A baciloscopia é negativa e histopatologia apresenta infiltrado perivascular e perineural. Diagnósticos diferenciais são a pitiríase alba e versicolor, vitiligo, pinta, leucodermia gutata, nevo anêmico, e outros. • Hanseníase tuberculoide (HT) Surge a partir da HI não tratada nos pacientes com boa resistência. Caracterizada como polo de contenção da multiplicação bacilar. As lesões são bem delimitadas em pequena quantidade, eritematosa, com perda da sensibilidade e de distribuição assimétrica. Inicialmente são máculas, evoluindo para placas com bordas papulosas e áreas eritematosas ou hipocrômicas. Possui crescimento centrífugo, levando à atrofia no interior, até assumir aspecto tricofitoide, com descamação. Apresenta-se como quadro agudo de dor intensa e edema, sem comprometimento inicial da função nervosa. A lesão se torna crônica e passa a evidenciar o dano, com anidrose e ressecamento cutâneo, alopecia e alteração sensitiva (térmica → dolorosa → tátil) e motora, causando dormência e perda de força muscular. É percebido o espessamento neural emergindo da placa, que é denominado sinal da raquete. Os principais troncos acometidos são o trigêmeo, facial, radial, ulnar, mediano, fibular e tibial. Principais síndromes de nervos periféricos Ulnar Mão em garra e atrofia de interósseos Mediano Mão do pregador Ulnar + mediano Mão simiesca ou garra completa Radial Queda de punho Ramo trigeminal do facial Lagoftalmo Fibular comum Queda do pé Tibial posterior Mal perfurante plantar, deformidade em garra de artelhos ✓ Variedade infantil Manifesta-se em crianças que mantém contato com portadores de forma multibacilar, possuindo as lesões com localização preferencial em face, manifestando-se como nódulos, placas, lesões tricofitoides ou sarcoídicas, mas é paubacilar. ✓ Forma neural pura Não são encontradas lesões cutâneas, apenas o espessamento do tronco nervoso e dano neural precoce e grave. • HanseníaseVirchowiana (HV) É a forma multibacilat, também pode ser chamada de lepra ou hanseníase lepromatosa. É caracterizada por ser o polo de baixa resistência imunológica ao bacilo. Pode evoluir a partir da forma indeterminada ou se apresentar como tal desde o início. Sua apresentação é pela infiltração difusa e progressiva da pele, mucosas das VA superiores, olhos, testículos e nervos, mas ainda pode afetar linfonodos, fígado e baço, causando hepatoesplenomegalia. Na pele se descrevem máculas, pápulas, nódulos e tubérculos a infiltração difusa é mais comum em faces e membros, em que a pele se torna luzidia, xerótica, com aspecto de pergaminho e tonalidade de cobre. Ocorre a rarefação de pelos nos membros, cílios e cauda das sobrancelhas. Figura 1. Lesão da hanseníase indeterminada. Figura 2. Lesão da hanseníase tuberculoide. Figura 3. Sinal da raquete. Figura 4. Lesão da variedade infantil da HT. Formas paubacilares são as manifestações indeterminada e tuberculoide. A infiltração da face e pavilhões auriculares e a madarose sem queda de cabelo determina uma fáscie característica da doença, a leonina. O comprometimento nervoso ocorre nos ramúsculos da pele, na inervação vascular e nos troncos nervosos. Esses últimos apresentam deficiências funcionais e sequelas tardias. Sinais precoces são a obstrução nasal, rinorreia serossanguinolenta e edema de MMII. Um subtipo da HV é a lepromatose difusa ou “lepra bonita”, que é caracterizada pela infiltração difusa da pele, mas sem nódulos ou placas. A variedade histoide é a que se encontram lesões nodulares assemelhadas com dermatofibromas (histiócitos fusiformes). O acometimento dos testículos promove redução da produção de testosterona, por consequência há aumento de FSH e LH, gerando ginecomastia. O acometimento da câmara anterior do olho resulta em glaucoma e catarata, na córnea pode levar ao trauma – triquíase. Possui baciloscopia fortemente positiva e é um foco infeccioso e reservatório de doenças importante. A histopatologia demonstra aglomerado de bacilos, as globias, na camada profunda da derme. O microrganismo pode ser isolado quem qualquer órgão ou tecido, com exceção do pulmão e sistema nervoso central. ✓ Hanseníase dimorfa (HD) ou boderline (HB) Marcada pela instabilidade imunológica, o que faz com que haja grande variação em suas manifestações clínicas, seja na pele e nos nervos, seja no comprometimento sistêmico. As lesões são numerosas e a morfologia mescla aspectos de HV e HT, podendo haver predominância ora de um, ora de outro. A infiltração é assimétrica da face e dos pavilhões, bem como presença de lesões no pescoço e nuca. As lesões neurais são precoces, assimétricas e levam à incapacidade física. De acordo com o número de lesões, a boderline pode dividida em Boderline Tuberculoide (BT), em que as placas ou manchas eritematosas são anulares, mais extensas, com distribuição assimétrica, pouco numerosas e com lesões satélites, baciloscopia negativa ou discretamente positiva. O subtipo Boderline Boderline (BB) é caracterizado por lesões bizarras semelhantes ao queijo suíço, sendo anulares ou foveolares, com limite interno nítido e externos imprecisos, são lesões mais numerosas e também com distribuição assimétrica, baciloscopia moderadamente positiva. Ainda existe a Boderline Virchowiana (BV), em que há presença de múltiplas lesões elevadas eritematoinfiltradas, com aspecto anular e com baciloscopia francamente positiva. O quadro reacional pode evoluir com neurite, orquite, epididimite, irite, linfadenopatia generalizada, ainda é encontrado leucocitose com desvio à esquerda, anemia normocítica normocrômica, VHS elevado e proteína C-reativa aumentada. O fator reumatoide em títulos altos confunde o diagnóstico com de colagenoses. • Hanseníase Reacional Episódios inflamatórios que se intercalam no curso crônico. Muitas vezes pode chamar mais atenção do que as próprias lesões primárias, devido à riqueza de sinais e sintomas. Ao contrário do que se espera, possui evolução aguda. Os tipos de reação são do tipo 1 e a reação do tipo 2 ou Eritema Nodoso da Hanseníase (ENH). As reações seguem-se por fatores desencadeantes, como infecções intercorrentes, vacinação, gravidez e puerpério, medicamentos iodados, estresse físico e emocional. Os quadros reacionais podem anteceder o diagnóstico, surgindo também durante tratamento ou após alta. ✓ Tipo 1 (reversa) Mais precoce no tratamento, entre 2º e 6º mês, caracteristicamente na hanseníase dimorfa. Mediada pela imunidade celular, caracterizada pela exacerbação das lesões que são pré-existentes, que se tornam edemaciadas, eritematosas, brilhantes e semelhantes à erisipela, além de poder surgirem novas lesões menos numerosas. Surgem novas lesões à distância e neurites frequentes e graves. Figura 5. Pápulas e nódulos da HV. Figura 6. Fáscie leonina. Figura 7. Lesões do subtipo BV. Figura 8. Lesões da hanseníase reversa tipo 1 ✓ Reação tipo 2 (eritema nodoso hansênico) Observadas nas formas multibacilares, após 6 meses de tratamento. É uma paniculite (inflamação da hipoderme) lobular, acompanhado de vasculite. Síndrome de depósito de imunocomplexos nos tecidos e vasos, com aumento de citocinas séricas, como fator de necrose tumoral alfa e interferon gama. As manifestações incluem febre, linfadenopatia, neurite (N. Ulnar mais acometido), uveíte, orquite, glomerulonefrite. As lesões são eritematosas, dolorosas, de tamanhos variados em qualquer região, com nódulos evoluindo para ulceração, chamada eritema nodoso necrotizante. Encontrada leucocitose com desvio à esquerda, anemia normocítica normocrômica, VHS elevado e proteína C-reativa aumentada. O fator reumatoide em títulos altos confunde o diagnóstico com de colagenoses. Fenômeno de Lucio ocorre antes do tratamento com hanseníase virchowiana, especialmente naquelas com “lepra bonita”. Lesões maculares equimóticas que se ulceram, mais comuns nas extremidades inferiores. Se forem lesões generalizadas, paciente se comportam como grandes queimados, e podem desenvolver infecções secundarias por Pseudomonas aeruginosa. Histopatologia demonstra necrose isquêmica em epiderme e derme superficial. Ainda se discute se pode ou não ser uma reação. 7. Diagnóstico Essencialmente clínica e epidemiológica, com base na história de vida do paciente, além do exame dermatoneurológico. O objetivo é identificar lesões ou áreas de pele com alterações de sensibilidade e/ou comprometimento de nervos periféricos (sensitivo, motor e autonômico). Os exames dos nervos periféricos são fundamentais, para procurar déficit motor, sensitivo e espessamento dos troncos nervosos pela palpação. O nervo deve ser palpado com as polpas digitais do segundo e terceiro dedos, deslizando-se sobre a superfície óssea acompanhando o trajeto no sentido de cima pra baixo. Deve ser verificada a presença de dor espontânea no trajeto do nervo, de choque ou de dor, espessamento, analisando sempre o nervo correspondente no lado oposto, deve-se também analisar alteração na consistência do nervo (endurecimento, amolecimento), alteração na forma (abscessos e nódulos). Etapas do exame físico 1. Inspeção de olhos, nariz, mãos e pés 2. Palpação de troncos nervosos periféricos 3. Avaliação da mobilidade articular 4. Avaliação de força muscular 5. Avaliação de sensibilidade nos olhos, membros superiores e inferiores • Avaliação da sensibilidade Deve ser avaliada a sensibilidade com o paciente de olhos fechados. A sensibilidade térmica deve ser testada através de dois tubos de ensaio, um aquecido e outro frio, em que deve ser analisado em uma área sadia e outra com lesão. Para a sensibilidade dolorosa, utiliza-seagulhas que tocam suavemente a pele do paciente, sendo o suficiente para sentir sensação álgica. A sensibilidade tátil é medida pelo leve toque, utilizando algodão com extremidade afunilada, o que permite pressão leve. O algodão NÃO deve ser feito em movimento, porque é mais fácil de ser sentido. Os nervos avaliados são ulnar, mediano, radial, tibial posterior e fibular comum, além do grande auricular do segmento cefálico. Algumas sequelas podem ser identificadas no período do diagnóstico, como paralisia facial periférica unilateral ou bilateral, paralisia do ramo orbicular do nervo zigomático. • Baciloscopia Mais útil no diagnóstico. Deve ser feito com a linfa obtida em pelo menos quatro locais (lóbulos das orelhas, cotovelos e em lesão cutânea suspeita). Coloração de Ziehl-Neelsen e apresenta-se como Índice Baciloscópico (IB), numa escala de 0 a 6+. É negativa nas formas tuberculoide e indeterminada, fortemente positiva na forma virchowiana e revela resultado variável na forma dimorfa. Casos de hanseníase são definidos por um ou mais dos sinais identificados Mancha e/ou áreas da pele com alteração de sensibilidade Acometimento de nervos periféricos, com o sem espessamento, associado a alterações sensitivas/motoras/autonômicas Baciloscopia positiva de esfregaço intradérmica • Teste de histamina É uma prova complementar, coloca-se solução de cloridrato de histamina a 1:1.000 sob a pele. Com agulha faz escoriação embaixo do líquido, sem que haja sangramento. O esperado é a tríplice reação de Lewis: eritema local (no máximo com 10mm, após 20 a 40 segundos após picada), eritema pseudopódico (30-50mm em um minuto devido à vasodilatação arteriolar), seropápula (2 a 3min após escarificação). Nos pacientes com hanseníase não há manifestação do eritema pseudoopódico. Deve ser feito em áreas saídas e doentes, preferencialmente simétricas. • Teste de pilocarpina Injeção intradérmica de cloridrato de pilocarpina a 1%. Normalmente ocorre sudorese após dois minutos na área Figura 9. Eritema nodoso necrotizante. Figura 10. Fenômeno de Lucio. picada. Nas reações hansênicas ocorre anidrose. Deve ser feito em áreas saídas e doentes, preferencialmente simétricas. ✓ Reação de Mitsuda Aplicação intradérmica com leitura tardia (28 dias), usada para classificação da doença e definição do prognóstico. É positivo em toda a população sã que já teve contato, mas não desenvolveu por boa imunidade. Teste no antebraço direito na superfície extensora. Após 48-72h da injeção, observa-se reação localizada – Fernandez, com significado incerto. De 28-30 dias ocorre a segunda reação, de Mitsuda, que consiste em pápula ou nódulo, que pode ou não ulcerar, se forem acima de 5mm já é mitsuda positivo. Na lepra de Lucio existe a reação de Medina, 6h após inoculação de lepromina. • Exame dermatológico criterioso Pacientes sem lesões cutâneas, mas com acometimento neural, seja alteração sensitiva, seja autonômica. Além disso, exames laboratoriais (baciloscopia ou histopatologia de nervo periférico), exames eletrofisiológicos. • Antígeno glicolípide fenólico-1 (PGL-1) Específico do M. leprae e leva a formação de anticorpos IgM e IgG. Os títulos de IgM correlacionam-se com forma clinica e atividade da doença. Níveis aumentados são descritos na hanseníase virchowiana e decrescem com tratamento. 8. Tratamento Baseado em poliquimioterapia de sucesso contínuo, ofertado gratuitamente pelo sistema único de saúde. O esquema é definido pela classificação operacional, paubacilar ou multibacilar. As drogas são administradas por via oral e distribuídas em blisters. As drogas usadas são rifampicina, dapsona e clofazamina. Em pacientes HIV positivos, o tratamento não deve ser alterado, mas oferece maior chance de promover maior gravidade nas reações da hanseníase. Em pacientes com tuberculose deve ser mantido o tratamento para tuberculose (dose de rifampicina 600mg), acrescido dos medicamentos específicos nas doses e tempos previstos. • Para PB, acrescenta-se dapsona • Para MB, acrescenta-se dapsona e clofazamina até o término do tratamento da TB, quando deve ser acrescida a rifampicina no esquema padrão da hanseníase • Para casos que não utilizem rifampicina, o esquema substitutivo próprio para esses casos • Para os que não utilizam rifampicina no tratamento da tuberculose por resistência do M. tuberculosis, utiliza-se esquema padrão da hanseníase Esquema terapêutico para forma paubacilar (PB): 6 cartelas Adulto Rifampicina dose mensal de 600mg com administração supervisionada Dapsona dose mensal de 100mg supervisionada e dose diária 100mg autoadminstrada. Criança Rifampicina dose mensal de 450mg com administração supervisionada Dapsona dose mensal de 50mg supervisionada e dose diária 50mg autoadminstrada. Critério de alta: o tratamento estará concluído com seis doses supervisionadas em até 9 meses; na 6ª dose, os pacientes deverão ser submetidos ao exame dermatológico, à avaliação neurológica simplificada e do grau de incapacidade física, antes de receber alta por cura. Esquema terapêutico para forma multibacilar (PB): 12 cartelas Adulto Rifampicina dose mensal de 600mg com administração supervisionada Dapsona dose mensal de 100mg supervisionada e dose diária 100mg autoadminstrada. Clofazamina dose mensal de 300mg supervisionada e dose diária 50mg autoadminstrada. Criança Rifampicina dose mensal de 450mg com administração supervisionada Dapsona dose mensal de 50mg supervisionada e dose diária 50mg autoadminstrada. Clofazamina dose mensal de 150mg supervisionada e dose diária 50mg autoadminstrada. Critério de alta: o tratamento estará concluído com doze (12) doses supervisionadas em até 18 meses. Na 12ª dose, os pacientes deverão ser submetidos ao exame dermatológico, à avaliação neurológica simplificada e do grau de incapacidade física, antes de receberem alta por cura. Os pacientes MB que, excepcionalmente, não mostrarem melhora clínica, apresentando lesões ativas da doença ao final do tratamento preconizado de 12 doses (cartelas), deverão ser encaminhados para avaliação em serviço de referência (municipal, regional, estadual ou nacional), para se verificar a conduta mais adequada para o caso. Na gravidez, as alterações hormonais afetam a imunidade celular, diminuindo-a. Portanto, é comum que os primeiros sinais apareçam na gravidez ou puerpério. Na gestação, ocorre tendência mínima a apresentar complicações. Os esquemas não são contraindicados, mas mulheres com esse diagnóstico são aconselhadas a planejar a gravidez após término do tratamento. Os recém-nascidos podem apresentar pele hiperpigmentada pela clofazimina, ocorrendo regressão gradual após parada do tratamento. Em mulheres na idade reprodutiva, deve se atentar ao fato que a rifampicina interage com anticoncepcionais orais. • Formas reacionais Manter poliquimioterapia, realizando, se necessário, tratamento especifico: imobilização do membro com tala engessada, monitoramento da função neural sensitiva e motora, prevenção de incapacidades e procedimento cirúrgico para neurites refratárias ao uso de corticoides. ✓ Tipo 1: prednisona 1-1,5mg/kg/dia, reduzindo dose conforme resposta terapêutica ✓ Tipo 2: talidomida 100-400mg/dia, com associação ou não a corticoterapia. Em mulheres grávidas, pacientes com lesões oculares reacionais, edema inflamatório, glomerulonefrite e outros há contraindicação da talidomida. Outra opção é a Figura 11. Reação de Mitsuda positiva. pentoxifilina após alimentação, 1.200mg/dia em 3 doses de 400mg. • Recidiva As lesões cutâneas podem não ter desaparecido, assim como as alterações neurais podem persistir e a baciloscopia necessitar de um tempo maior para negativar, além 30% de chancede reações. Assim, a avaliação deve ser continuada. A recidiva é considerada apenas os pacientes que realizaram tratamento com poliquimioterápicos, sendo um evento raro e que, geralmente, ocorre após 5 anos, com caráter insidioso, poucas lesões, em que raramente se agravam, não havendo descamação, limitadas a um ou poucos nervos. Critérios clínicos para suspeição de recidiva Paubacilares Após alta por cura, apresentam dor no trajeto, novas áreas com alterações de sensibilidade, novas lesões ou exacerbação, não respondem a corticoides após 90 dias. Multibacilares Após alta por cura apresentam lesões cutâneas e/ou exacerbações antigas, novas alterações neurológicas sem resposta a talidomida ou corticoides, baciloscopia positiva ou quadro compatível com pacientes virgens de tratamento • Cirúrgico A dor neuropática pode decorrer do processo inflamatório, associado ou não à compressão neural ou por sequela da neurite. Para pacientes com dores persistentes com quadros sem alterações, pode ser utilizado antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, nortriptilina), fenotiazínicos (clorpromazina) ou anticonvulsivantes (oxicarmazepina, carbamazepina, topiramato). Para pacientes com quadro de difícil controle, pode ser adotado tratamento com pulsoterapia com metilprednisona EV, 1g por dia. A terapia cirúrgica é uma exceção que inclui: ✓ Abscesso de nervo ✓ Neurite não responsiva ao tratamento em 4 semanas ✓ Neurites subintrantes ✓ Neurite de N. Tibial 9. Efeitos adversos • Dapsona Nas dosagens usadas é muito seguro e efeitos adversos são raros. Para pacientes com alergia às sulfonas, não deve ser administrada dapsona. Em pacientes com anemia grave, o nível de hemoglobina deve ser elevado antes do tratamento ser iniciado. Efeitos colaterais e medidas a serem tomadas: ✓ Perturbações estomacais – tomar DDS após refeições ✓ Insônia – tomar DDS de manhã ✓ Reações de pele (Stevens-Johnson) – parar DDS ✓ Urticária – se alergia grave, enviar ao hospital e administrar prednisona ✓ Erupção fixa – se leve, tratar com anti-histamínico, após uma semana pode reiniciar com mg ✓ Metaemoglobinemia (paciente ligeiramente azulado) – parar com DDS por uma semana e reiniciar com mg ✓ Anemia – pode ter outras causas que devem ser procuradas, se grave suspender DDS e administrar sulfato ferroso e controlar hemoglobina • Clofazamina Geralmente bem tolerada, praticamente não tóxica nas dosagens usadas. Quando houver dor abdominal e/ou diarreia crônica intermitente. ✓ Coloração escura, avermelhada da pele, palmas das mãos, planta dos pés, esclerótica e urina – não é problema sério, após término do tratamento a cor regressa normalmente ✓ Secura da pele, em especial a face anterior das coxas – untar com óleo e continuar com a medicação, com exceção na síndrome semigripe. • Rifampicina Não está associado a efeitos adversos importantes na administração mensal. Casos de insuficiência hepática e renal grave é contraindicado. Melhor tolerado antes de refeições (em especial 6h antes). ✓ Urina avermelhada (dia da tomada supervisionada), assim como lágrimas e outras secreções – continuar com tratamento ✓ Prurido e pele avermelhada, especialmente em face, couro cabeludo, com lacrimejamento e eritema – efeito transitório leve – não interromper tratamento 10. Prevenção de incapacidades Incapacidade é qualquer impedimento, limitação de atividade ou restrição de participação que afete uma pessoa. Na hanseníase ocorre a graduação da incapacidade, que varia entre 0 e 2, para cada olho, mão e pé. • Grau 0 Sem alterações. • Grau 1 Perda de sensibilidade nas mãos ou pés, mais comum nos estágios avançados, danos nos principais troncos periféricos. Pessoas com esse grau correm risco de desenvolver ulceras nas plantas dos pés, além de terem a necessidade de utilizar calçados específicos. • Grau 2 Lesão ou incapacidade visível. Com relação aos olhos, inclui incapacidade de fechar os olhos completamente ou hiperemia Figura 12. Esquema terapêutico para reações hansênicas. evidente, diminuição da acuidade visual (0,1 ou não conta dedos a 6cm de distância) ou cegueira. Nos pés e mãos incluem danos visíveis como feridas e ulceras, como deformidades resultantes de fraqueza muscular, pé caído ou mão em garra. Perda de tecido – parcial ou reabsorção dos dedos ou artelhos. 11. Vigilância epidemiológica • Notificação É uma doença de notificação compulsória e investigação obrigatória. • Descoberta de casos e tratamento específico Detecção ativa e passiva (demanda espontânea ou encaminhamento). Investigação epidemiológica, busca sistemática de doentes, exame de coletividade, exames em grupos específicos como prisões. As medicações devem estar disponíveis em todas as unidades de saúde. • Vigilância de casos em menores de 15 anos Preenchido o protocolo complementar de investigação diagnóstica de casos de hanseníase em menores de 15 anos, remeter o protocolo ao Sinan. • Vigilância de recidivas • Atenção às áreas de ex-colônias • Prevenção e tratamento de incapacidades • Vacinação com BCG 12. Lesões dos troncos nervosos periféricos Figura 13. Lesão de N. Tibial posterior. Figura 14. Lesão de N. Fibular comum. Figura 15. Lesão de N. Ulnar – garra ulnar. Figura 16. Lesão de N. Mediano. Figura 17. Lesão de N. Radial. Figura 18. Lesão de N. Facial - lagoftalmo. Figura 19. Lesão de N. Facial. Figura 20. Esquema de a=cartelas para tratamento da hanseníase.
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