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1 Odontologia Reabilitadora Direta II Planejamento Clínico em Dentística Procedimentos clínicos em Dentística Sumário: Diagnóstico e Plano de Tratamento......................................................pág: 02 Critérios para substituição de restaurações......................................PÁG: 05 Técnicas para tratamento da lesão cariosa........................................PÁG: 09 Restaurações Adesivas...............................................................................PÁG: 12 2 Planejamento Clínico em Dentística Diagnóstico e Plano de Tratamento A prevenção na área de Dentística evoluiu muito nesses últimos tempos. Em outras épocas, a maior preocupação dos profissionais que atuavam nessa especialidade era de remover a cárie e realizar muito bem uma restauração. É evidente que essa preocupação ainda existe. Entretanto, é cada vez mais necessário o profissional saber reconhecer a cárie desde os estágios mais primordiais para conduzir o tratamento da maneira correta. Além disso, na área de saúde, como um todo, houve uma evolução no tratamento de certas doenças. Antigamente, a modalidade de tratamento mais comum era a remoção total de cárie. Hoje sabemos que se pode perfeitamente esperar uma remineralização em dentinas apenas desmineralizadas. Dessa forma, o profissional em Dentística necessita saber prevenir, preservar e tratar, o que não significa necessariamente em sempre removê-la. Por isso, nesse capítulo você irá aprender como realizar um bom exame clínico para poder fazer o diagnóstico correto dessa doença. O diagnóstico se inicia no momento em que você conhece o paciente. Ele já poderá apresentar alguns sinais e sintomas que poderão te levar a uma interpretação do quadro clínico. SINAIS - Manifestações clínicas de anormalidades percebidas pelos sentidos naturais SINTOMAS - Desvios da normalidade percebida pelo paciente. É importante ressaltar que, nesse processo, existem procedimentos clínicos que não são necessariamente invasivos. Podemos citar, por exemplo, a orientação que devemos fazer ao paciente quanto à sua conduta na manutenção de sua saúde. Chamamos isso como adequação do paciente. ADEQUAÇÃO DO PACIENTE É uma lista ordenada de procedimentos, que têm por meta erradicar a doença cárie, restaurar a função e prevenir o surgimento de futuras lesões, através da redução da placa bacteriana, diminuição da ingestão de carboidratos fermentáveis e instituição do uso de flúor no meio bucal. (Conceição, E. In: Dentística Saúde e Estética (2000)) Consideramos como a primeira etapa do tratamento. O paciente passa a ser controlado quanto à quantidade de microorganismos que tem na boca, sua dieta que pode ser favorável ou não para o desenvolvimento destes e hábitos de higiene bucais mais saudáveis. É importante lembrar que os profissionais negligenciam muito nessas etapas iniciais do tratamento. Fora os aspectos jurídicos e éticos que você poderá infringir caso não faça isso corretamente, também está perdendo a oportunidade de realizar uma melhor consulta ao seu paciente. Apos essa etapa inicial, passamos agora para fase bucal propriamente dita. Mostraremos os passos que você deverá seguir para a realização de um correto diagnóstico da cárie. Remoção de cálculo supra-gengival Radiografias Interproximais e Periapicais Fechamento de cavidades Remoção de excesso das restaurações Recontornos e Repolimentos Profilaxia Orientação de Higiene Oral Exame Clínico Determinação do Plano de Tratamento Remoção de cálculo supra gengival: é fundamental que tenhamos um campo clínico com muita visibilidade, e os cálculos podem atrapalhar esse passo clínico. Como remover esses cálculos, você poderá complementar esse estudo lendo a respeito disso na especialidade de Periodontia. 3 Radiografias interproximais e periapicais: as radiografias interproximais são as de eleição em Dentística para dentes posteriores (duas em região de molar e duas em região de pré-molar), já para dentes anteriores são realizadas radiografias periapicais. Elas serão fundamentais para complementar o nosso exame clínico. É um dos mais importantes exames complementares que dispomos em Dentística. Os detalhes de como realizá-las, processamento e armazenamento, ver esse assunto em Radiologia. Fechamento de cavidades: são nesses lugares que os pacientes não conseguem higienizar adequadamente e onde temos as maiores concentrações de microorganismos. Não adianta orientar a higiene do paciente sem que ele tenha condições para isso. Com esse passo clínico, reduzimos drasticamente a quantidade de bactérias causadoras da cárie. Fechamento de cavidade 4 Remoção do excesso de restaurações: também é um dos lugares que mais temos nichos de microorganismos. Verifique clinicamente com auxílio de fio dental (ao pressionar contra a restauração na face proximal e puxar para a oclusal, quando há excesso, o fio desfia). Você poderá também usar uma radiografia para verificar isso. Excesso de Restauração Recontorno e repolimento: seria você realizando novamente o acabamento e o polimento. Para relembrar, é só revisar esse capítulo aqui na nossa própria disciplina. Ao fazer esses procedimentos, eliminamos a dúvida de certas restaurações que pareciam ter a necessidade de troca. Profilaxia: para melhorar o campo de visualização clínica. Orientação de higiene oral: oriente o paciente qual a melhor forma de escovação, além do uso de fio dental e enxaguatórios. Orientação de higiene oral 5 Exame clínico: agora você tem totais condições para realizar um bom exame clínico. O paciente está controlado, a quantidade de microorganismos está pequena, você só necessita agora de um campo visual limpo, seco e com muita iluminação. Exame Clínico Nota importante: proibido o uso do explorador, pois o mesmo pode levar à cavitação lesões de cárie ainda íntegras, passíveis de remineralizção. Características clínicas da cárie você poderá revisar no tópico Diagnóstico da Doença Cárie na própria Disciplina de Dentística. Plano de Tratamento: nesse momento, você conhecerá todos os problemas que o paciente apresenta. É importante agora selecionar os problemas mais urgentes, colocando-os em uma lista de prioridade. Ao ordenar os procedimentos, você realizou o Plano de Tratamento. Para finalizar, é importante ressaltar que os únicos procedimentos que podem ser realizados logo no início desses procedimentos, invertendo essa sequência clínica, são os casos de dor ou por motivos estéticos (perda ou fratura de dentes anteriores). Nesses casos, o profissional pode priorizar esses atendimentos e realizar o restante em outra consulta. Critérios para substituição de restaurações A evolução da Odontologia Restauradora foi notória nesses últimos anos. Enquanto em outras épocas, as restaurações de resina composta duravam muito menos quando comparadas com as restaurações de amálgama, podemos afirmar, já há algum tempo, que essa constatação não é mais verdadeira. Pode-se atribuir a isso pela evolução dos materiais e das técnicas adesivas. Mas sem dúvida, a habilidade do cirurgião dentista em conhecer e realizar corretamente a técnica fez, e sempre fará a diferença. É com muita frequência que vemos restaurações estéticas insatisfatórias, feitas com excelentes materiais e com pouca durabilidade. Ter conhecimento e saber aplicá-lo é condição fundamental para você se tornar um bom cirurgião dentista. Inclusive quando se está diante de uma restauração aparentemente insatisfatória. O conceito de simplesmente trocar uma restauração inadequada pode trazer um prejuízo biológico muito grande para o paciente. Um bom exemplo acontece quando na troca de uma restauração de resina composta. Inevitavelmente você sempre acabará removendo um pouco de tecido dental sadio. Primeiro pela própria dificuldade de se diferenciar dente de resina. Além disso, você deve levar em consideraçãoque ao realizar uma nova restauração, deverá aproveitar a oportunidade de refazer a camada híbrida quando esta estiver antiga e, para isso, necessariamente terá que remover um pouco da dent ina que continha a hibridização já degradada. Camada híbrida é o resultado da infiltração de monômeros resinosos entre as fibras colágenas expostas. Ocorre devido à remoção total do smear layer e pela criação de microporos por um ácido. 6 (NAKABAYASHI N, et al. The promotion of adhesion by the infiltration of monomers into tooth substrates. J Biomed Mater Res. 1982:16(3):265-73. Terra, G.) Dessa forma, é fácil perceber que ao realizar muitas trocas de restaurações ao longo da vida, teremos fatalmente como resultado final um enfraquecimento da estrutura dental, levando inclusive a tratamentos endodônticos e restaurações indiretas. Devemos evitar ao máximo, dessa forma, o Ciclo Restaurador. Por isso, você deverá ter critérios para decidir em uma troca ou não de uma restauração. Basicamente, você observará esses requisitos: Recontorno e polimento Selamento marginal Reparo Substituição RECONTORNO E POLIMENTO Em determinadas situações, é indicada a realização do recontorno e um novo polimento da restauração, como se pode ver no exemplo abaixo. Ao invés de trocá-la, pode-se remover o excesso e dar um novo acabamento e polimento. Excesso de restauração. Remoção do excesso Embora a retenção de uma restauração adesiva por um período de tempo razoável já não é mais um problema clínico, a manutenção das margens desta restauração adesiva seladas contra a infiltração parece ser o maior fator para sua curta longevidade clínica. (J DENT RES 2005 84: 118 J. De Munck, K. Van Landuyt, M. Peumans, A. Poitevin, P. Lambrechts, M. Braem and B. Van Meerbeek) A infiltração marginal, principalmente em restaurações de resina composta, é um dos maiores problemas clínicos que enfrentamos. Ela é inevitável à medida que a restauração envelhece. Mas também pode ser provocada por falha operacional do cirurgião dentista. Infiltração marginal 7 Um dos erros mais frequentes é o cirurgião dentista colocar incrementos de resina com espessuras maiores que 2 mm e/ou unindo paredes opostas do preparo cavitário. Como resultado final, temos em um curto espaço de tempo, restaurações com manchamentos nas bordas da restauração como vista na imagem acima. Muitas vezes esse manchamento pode ocorrer por um excesso da restauração. Por isso, é sempre recomendável polir novamente a restauração, pois havendo excessos, essas manchas serão removidas nesse processo. REPARO Em certas situações, você poderá realizar uma restauração de resina composta em que não conseguirá fazer um ponto ou área de contato corretos. Uma das vantagens desse material restaurador está exatamente nesse quesito. Permite realizar reparos mesmo quando finalizada a restauração. Falha na confecção do ponto de contato. Se você a realizou há pouco tempo, não precisará remover tudo para refazer o ponto de contato. Basta apena desgastar um pouco essa resina e fazer um reparo. Ao errar a cor em um trabalho estético em dentes anteriores, você poderá também retocar essa restauração removendo, quando possível, apenas a camada mais superficial da resina composta e colocar outra com a cor que for correta. Restauração escurecida. 8 Note que nesse exemplo, você necessitará reajustar a cor e a forma do dente também. SUBSTITUIÇÃO Não hesite em trocar uma restauração se for necessária. Há casos em que a única saída é essa. Melhor trocar uma restauração que ainda não traz riscos de fraturas dentais ou perda de vitalidade pulpar do que intervir tardiamente com a ameaça de perder esse elemento. Fratura da restauração de amálgama. Cárie secundária. Em caso de real infiltração, temos que providenciar a troca da restauração também, pois a mesma não pode ser eliminada com um simples acabamento e polimento. Fraturas dentais também requerem a troca imediata da restauração. É importante lembrar nesse momento que, dependendo da extensão da fratura, fica impossibilitada a confecção de uma nova restauração plástica (amálgama ou resina composta). Fica indicado, dessa forma trabalhos indiretos (próteses). Casos de extremos desgastes das restaurações, com perdas acentuadas de forma e até com a formação de degraus entre as estruturas dentais e as mesmas, também demandam troca para uma melhor resolução do caso. Restauração de resina composta desgastada e sem forma. Espero que nesse tópico você tenha aprendido que, antes de realizar a substituição de qualquer restauração, é necessário que avalie bem se ainda é possível mantê-la com qualidade. Caso contrário, não hesite em trocá-la sob o risco de trazer prejuízos ainda maiores para o seu paciente. 9 Procedimentos clínicos em Dentística Técnicas para tratamento da lesão cariosa Durante muito tempo, o único tratamento para lesão de cárie era sua remoção total. Ainda hoje, é muito comum e inclusive necessário que assim seja. No entanto, muitas pesquisas foram feitas ao longo dos anos para mostrar que o tratamento pode ser mais conservador a fim de evitar uma exposição pulpar acidental e consequente tratamento endodôntico. E quando isso acontece, pensando em serviço público, vemos o quanto pode ser prejudicial ao paciente. Infelizmente, o acesso a tratamentos para o nível de atenção secundária ainda é demorado para a nossa realidade. Uma exposição pulpar, que resulta em um tratamento endodôntico, pode levar meses e até anos para se conseguir uma vaga. Como resultado, temos um dente fragilizado, exposto às cargas mastigatórias do d ia a dia que fatalmente sofrerá uma fratura até chegar à vez para o tratamento. Infelizmente, uma pulpectomia ou uma penetração desinfetante pode levar a uma exodontia a longo/médio prazo. Atualmente você pode evitar para que isso aconteça. Muitas lesões de cárie podem ser tratadas antes que virem exposições pulpares. Como vimos no tópico diagnóstico e prevenção da doença cárie, é possível remover somente a dentina desorganizada e infectada, mantendo a afetada e a esclerosada. Com essa medida, foram e serão evitadas muitas exposições pulpares desnecessárias. Se você trabalhar em uma UBS vai se lembrar desse exemplo que relataremos agora. É muito comum que crianças de 6 a 8 anos apareçam nas unidades com cáries nos primeiros molares permanentes. Como são dentes que erupcionam sem que haja perda de um decíduo, os pais não costumam dar importância a isso. Quando a criança relata dor ao mastigar ou quando põe algo gelado na boca os pais trazem para “extrair” por acharem que é um dente decíduo. Ao orientar, é notória a surpresa dos pais, que tinham a certeza de que se tratava de um dente decíduo. Dessa forma, após a anestesia, você deverá curetar as dentinas desorganizada e infectada e, após uma boa limpeza dessa cavidade, deverá selar esse dente com ionômero de vidro. Não havendo nenhuma sintomatologia dolorosa, preserve-o e verá que após alguns meses, essa dentina afetada (que estava parcialmente desmineralizada) voltará a ser totalmente normal. Antigamente, você iria remover totalmente a cárie e, por ser um dente jovem (cuja polpa é bem ampla), fatalmente poderia causar uma exposição pulpar. Ao encaminhar para o CEO, provavelmente demoraria meses para se conseguir a vaga para o tratamento e, nesse período, poderia haver uma fratura que poderia levar a uma perda desse elemento. E como devemos tratar a lesão de cárie? Primeiramente sabendo diagnosticar bem a doença para propor o tratamento correto. Lembre-se que o tratamento varia desde a preservação até a sua remoção total. Você pode remover a cárie de várias maneiras. A mais comum ainda nos dias de hoje é curetar com curetas ou colheres de dentina e remoção através de instrumentos cortantes rotatórios usando motores de alta e baixa rotação. A isso damos o nome de Tratamento Convencional. Cárie em esmalte:motor de alta rotação utilizando pontas diamantadas e refrigeração com água. Cárie em dentina: remoção inicial com curetas ou colheres de dentina e posteriormente utilizando motor de baixa rotação com brocas carbides ou de aço, refrigerado apenas com ar. 10 Remoção de tecido cariado com curetas ou colheres de dentina e instrumentos cortantes rotatórios. Você também pode realizar o Tratamento Atraumático. Existem algumas modalidades desse tipo de tratamento. 1) Químico-mecânico: você deverá estudar mais a respeito das substâncias utilizadas para esse procedimento. São géis à base de aminoácidos que atuam nas fibrilas de colágeno da dentina cariada. O objetivo é desorganizar quimicamente a cárie para facilitar a remoção mecânica através das curetas ou colheres de dentina. Em muitos casos não há necessidade de realizar anestesia e não funciona em cárie de esmalte. Existem algumas marcas, inclusive importadas, mas é importante ressaltar que existe um produto genuinamente brasileiro à base de papaína (que se obtém a partir do mamão papaya) de fácil aquisição e modo de uso, além do baixo custo. Chama-se Papacárie e está sendo utilizado em alguns setores do serviço público. É ideal para se realizar ART (Tratamento Restaurador Atraumático). ART – Tratamento realizado com curetas ou colheres de dentina, sem o uso de motores, com objetivo de se eliminar as dentinas desorganizadas e infectadas. Realiza-se o selamento dessa cavidade com ionômero de vidro para possibilitar que a dentina afetada possa se remineralizar. Em casos de lesão de Cl I, pode-se considerar como tratamento definitivo. É um tratamento largamente utilizado em países ou regiões muito carentes onde a infraestrutura é escassa. Possibilita, com poucos recursos e baixo custo, uma odontologia voltada para a erradicação da doença cárie. 11 Tratamento químico mecânico 2) Jato abrasivo – Óxido de alumínio: são silenciosos, não vibram, conservadores e removem a lesão através do impacto do pó desse óxido sobre a superfície cariada. Necessitam de um sugador potente para não disseminar muito a nuvem da poeira formada. Em alguns casos, dispensam também a anestesia. 3) Laser: para aprofundar mais sobre assunto, estude lasers de alta potência. Existem vários tipos e você deve observar a especificidade de cada um. O mais comum para ser utilizado nesse caso é o Er:YAG (érbio YAG). Remove a cárie através de ablação, que é um processo onde ocorrem microexplosões. Devido às altas temperaturas do laser, há uma rápida transformação da água contida nos tecidos dentais em vapor, que geram essas pequenas explosões resultando na remoção do tecido dental. Dessa forma, é importante ter uma abundante refrigeração para não lesionar a polpa devido a essas altas temperaturas. Em muitos casos dispensa também a anestesia, é silencioso, mas necessita de vários itens de proteção como uma sala específica e adequada para o atendimento e óculos de proteção. Outro fator que também dificulta seu uso é o ainda alto custo do equipamento. 4)Ultrassom: em Dentística, usando esse equipamento, é necessário que você adquira pontas odontológicas em diamante. Acopladas ao ultrassom através de um adaptador, você poderá remover tecido cariado com mais conforto e sem o ruído do motor de alta rotação. Note que essas pontas são diferentes das pontas diamantadas para alta rotação. 12 Remoção de cárie por ultrassom. Possuem maior durabilidade e como removem cárie sem o movimento de rotação, o tratamento fica mais conservador, ideal para profissionais em início de carreira que ainda estão adquirindo habilidade para manusear a caneta de alta rotação. Além disso, em caso de toque acidental na gengiva, a possibilidade de sangrar é menor uma vez que não corta tecido mole. A ponta age na superfície dental através de movimentos vibratórios, que dependendo da posição, pode agir por impacto ou tangencialmente. Em ambos os casos é muito eficiente e o profissional somente terá que ter um pouco de paciência, pois o procedimento leva um mais de tempo quando comparado com as pontas diamantadas convencionais. Restaurações Adesivas O amálgama de prata é um material bastante utilizado, pois apresenta alta resistência mecânica ao desgaste e maior resistência a dietas cariogênicas que a resina composta, o que promove longevidade às restaurações. Além disso, possui técnica de confecção direta e simples e baixo custo. Dessa maneira, este material ainda não apresenta um substituto, apenas a resina composta pode ser utilizada como alternativa. A resina composta vem sendo bastante utilizada devido ao apelo estético e por ser possível conservar mais estrutura dental sadia que o amálgama. Porém, sua técnica de confecção é mais demorada e bastante sensível, e por isso, exige muito mais cuidado desde a técnica adesiva até o acabamento e polimento da restauração. Reestabelecer o ponto de contato com o dente adjacente é mais difícil. Quanto maior a cavidade e mais posterior for o dente, maior a chance de acentuar o desgaste do material, principalmente se o dente antagonista possuir cerâmica e/ou o paciente tiver hábito parafuncional como bruxismo. No entanto, os principais problemas de restaurações estéticas com resina composta relacionam-se à técnica adesiva e à contração volumétrica da resina composta durante a fotopolimerização. Alguns problemas como sensibilidade pós-operatória, cárie secundária e microinfiltração que ocorre principalmente na margem proximal devido à escassez de esmalte nessa região e/ou à menor capacidade de adesão à dentina, são responsáveis pela menor longevidade dessas restaurações. Dessa maneira, é muito importante que você saiba como realizar corretamente uma restauração com resina composta. O primeiro passo é o sistema adesivo. Os sistemas adesivos podem ser classificados como: 1. Condicone e lave condicionamento total ou all etch 2. Autocondiconante ou self etch 13 1. Condicione e lave Apresenta um passo para condicionar o esmalte e a dentina através de um ácido fosfórico entre 30 e 50%. Além disso, possui outros dois componentes, o primer e o bond. Quando os três componentes estão em frascos separados, você executará a técnica adesiva em três passos. Para economizar tempo, pode optar por uma simplificação utilizando um frasco contendo o primer e o Bond juntos, e assim conseguirá fazer em dois passos. Ao aplicar o ácido fosfórico sobre o esmalte, ou seja, ao condicioná-lo, e lavá-lo por 30 segundos, ocorre a remoção da camada de esfregaço, ou smear layer, que se formou após o preparo cavitário, constituída por elementos dentários, salivares, sanguíneos, óleo lubrificante dos motores. Além disso, há um aumento da energia de superfície devido à dissolução da superfície de esmalte não reativa, e um aumento da área de superfície devido à dissolução seletiva de prismas de esmalte, criando microporosidades. Com isso, o adesivo penetra nas irregularidades e, após a fotopolimerização por 10 segundos, fica aderido fortemente ao esmalte, ou seja, há uma adesão física através de retenção micromecânica. O esmalte apresenta uma estrutura basicamente composta por minerais, o que resulta em facilidade para conseguir adesão nessa estrutura, principalmente quando condicionado por ácido fosfórico. A dentina, por outro lado, apresenta uma estrutura mais complexa, composta além de hidroxiapatita, por fibrilas de colágeno e água, o que dificulta o processo de adesão. E por estar muito ligada à polpa através dos túbulos dentinários, onde se encontram os prolongamentos dos odontoblastos, exige um cuidado maior durante o procedimento adesivo para que não ocorra sensibilidade pós-operatória ou até morte da polpa. A smear layer na dentina apresenta maior conteúdo orgânico, o que dificulta a adesão, além de vedar a entrada dos túbulos dentinários e, por isso, diminuir a permeabilidade da dentina. Ao aplicar o ácido fosfórico na dentina por 15 segundos,ocorre dissolução de mineral, o que expõe a trama de fibrilas colágenas da dentina intertubular, dissolve a dentina peritubular, amplia a luz dos túbulos dentinários, aumenta a energia de superfície, além de remover a smear layer. A remoção dessa camada, aumento da permeabilidade da dentina, resultando em maior umidade nessa superfície, o que dificulta a penetração do adesivo. Porém, você não pode secar a dentina até causar um ressecamento, pois isso faz com que as fibrilas de colágeno colar, ficando muito unidas, sem espaço entre elas para que o adesivo as permeie e forme a camada híbrida (constituída pelo colágeno e por monômeros). Assim, você deve secar a dentina após a lavagem do ácido fosfórico, mas precisa mantê-la úmida. Para isso, pode utilizar uma bolinha de algodão levemente úmida ou papel absorvente. O primer consegue penetrar na dentina úmida porque apresenta monômeros hidrofílicos. O solvente se liga à água e você, ao jogar um leve jato de ar, promove a evaporação do solvente e, consequentemente, da água, permitindo a entrada dos monômeros hidrófobos, presentes no bond. Para conseguir uma camada híbrida melhor, recomenda-se fazer a aplicação do primer e do Bond duas vezes, sempre volatilizando o solvente. Ao final, após a fotopolimerização, a adesão na dentina ocorre com o adesivo impregnado na rede de fibrilas colágenas, formando a camada híbrida, e nos túbulos e canalículos dentinários, através dos chamados tags e microtags. Um vedamento da dentina deficiente resulta em sensibilidade pós-operatória, pois os túbulos dentinários podem ficar abertos e permitir a movimentação do fluido dentinário, sinalizando para o sistema nervoso central, através da polpa, um estímulo de dor. Essa é a Teoria da Hidrodinâmica apresentada por Brännström, na década de 1960. Outros fatores também podem gerar sensibilidade pós-operatória, como desidratação da dentina por excesso de secagem, que faz o fluido tubular evaporar, e a incompleta penetração do primer e do bond na zona que foi desmineralizada pelo ácido. Por isso, a aplicação desses materiais deve ser feita esfregando-os sobre a dentina durante 20 segundos, para permitir sua difusão. Protocolo de aplicação – sistema adesivo de condicionamento total de 2 passos: Passo 1: condicionamento ácido A - aplicar o ácido fosfórico no esmalte e aguardar 15 segundos. Em seguida, sem remover o ácido do esmalte, aplicar na dentina e aguardar mais 15 segundos, totalizando 30 segundos em esmalte e 15 segundos em dentina. B - lavar abundantemente com água por pelo menos 30 segundos 14 C - secar o esmalte (aspecto opaco) e manter a dentina úmida, através da utilização de bolinha de algodão levemente úmida ou papel absorvente para retirar o excesso de umidade Passo 2: primer/bond D – dispensar uma gota em um casulo descartável e aplicar na cavidade com um aplicador descartável, esfregando sobre toda a superfície de esmalte e dentina durante 20 segundos, sob agitação. Remover o excesso com auxílio de uma gaze ou aplicador seco - jogar um leve jato de ar à distância para volatilizar o solvente - aplicar nova camada de primer/bond da mesma maneira - jogar novo jato de ar da mesma maneira E - fotopolimerizar por 10 segundos no mínimo Passos da utilização de um sistema adesivo de condicionamento total de 2 passos 2. Autocondicionante Não requer a aplicação de um ácido fosfórico em dentina, pois apresenta monômeros ácidos em seu primer, que são capazes de desmineraliza-la. Deve ser realizado o chamado “condicionamento seletivo do esmalte”, onde aplicamos ácido fosfórico somente no esmal te por 30 segundos e lavamos abundantemente. Após a aplicação do primer sobre a dentina não é necessário lavar o primer ácido, o que simplifica a técnica adesiva e diminui a chance de erros. Segue-se aplicação do bond sobre esmalte e dentina. Outra vantagem é que a desmineralização e a penetração dos monômeros ocorre ao mesmo tempo, o que evita que ocorram camadas que foram desmineralizadas e não preenchidas pelo adesivo, reduzindo a chance de sensibilidade pós-operatória. Os sistemas adesivos autocondicionantes podem ser encontrados em 2 passos (primer ácido e bond), ou em passo único (um frasco contendo primer ácido+bond em um único frasco), porém, em geral, quanto mais simplificada a técnica, menor a resistência adesiva. A utilização de sistemas auto-condicionantes promove o condicionamento da dentina sem a utilização do ácido fosfórico o que diminui a sensibilidade pós-operatória da dentina. O pH dos sistemas adesivos autocondicionantes pode ser bastante variável de fabricante para fabricante, sendo que alguns destes alegam que não seria necessário realizar o condicionamento seletivo do esmalte com ácido fosfórico pois o primer ácido teria potência suficiente para realizar o condicionamento do esmalte. A aplicação de primer ácido na dentina dissolve a camada de esfregaço e a desmineralização da dentina intertubular, expondo os túbulos dentinários, porém não há desmineralização da dentina peritubular. A infiltração do adesivo forma a camada híbrida na dentina intertubular e os tags nos túbulos dentinários. A camada híbrida formada é mais fina do que a obtida nos sistemas adesivos de condicionamento total, porém apresenta alta resistência adesiva. 15 Agora que você já sabe como realizar um sistema adesivo corretamente, precisa saber a utilizar a resina composta para restaurar o dente. O principal problema da resina composta é a contração de polimerização. Quando você aplica a luz azul do fotopolimerizador sobre a resina composta, os monômeros precisam se aproximar para se ligar uns aos outros e formar uma cadeia polimérica. Essa aproximação resulta em diminuição de volume do material. Como você está tentando aderir a resina sobre a camada de sistema adesivo, a contração tende a fazer com que a resina se desprenda, gerando um estresse, uma tensão na interface adesiva, podendo ocorrer a abertura de uma fenda nessa região, o que permite desde um manchamento na margem, atém microinfiltração ou o aparecimento de uma cárie secundária, por exemplo. Para confeccionar uma restauração, você precisa inserir a resina utilizando a técnica incremental oblíqua. A inserção da resina na cavidade deve ser feita em pequenas porções, ou seja, em incrementos, de no máximo 2 mm. Cada incremento sofrerá uma pequena contração quando você aplicar a luz azul e, no final, o volume total da contração será menor do que se você utilizasse uma grande porção de resina de uma vez só. Cada incremento que você inserir na cavidade terá uma porção que ficará em contato com a camada de adesivo (afinal sua intenção é fazer a adesão da resina ao dente) e uma porção que não terá contato com nenhuma parede cavitária. Na região em que a resina estiver em contato com o dente, ocorrerá uma tensão de polimerização, pois a resina contrairá e tenderá a se desprender dessa parede. A porção da resina que não estiver em contato com o dente, também contrairá, mas isso não gerará consequências negativas. Assim, seu objetivo para diminuir a tensão na interface adesiva é diminuir o fator de configuração cavitária (Fator C), ou seja, colocar cada incremento de resina em contato com o menor número de paredes possível. Uma forma de conseguir isso é colocá-lo de forma oblíqua. Protocolo clínico 1. Anestesia do quadrante envolvido 2. Profilaxia dos dentes 3. Seleção de cor 4. Demarcação dos contatos interoclusais: durante o preparo cavitário, os contatos demarcados, sempre que possível, deverão não ser envolvidos. A memorização dos contatos iniciais auxilia o ajuste final do Isolamento absoluto sempre que possível 5. Preparo cavitário 6. Aplicação do sistema adesivo (condicionamento/aplicação do sistema adesivo) 7. Inserção da resina composta utilizando a técnica incremental oblíqua 8. Acabamento (incluindo ajuste oclusal) e polimento
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