Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
CADERNO DE PROCESSO CIVIL 1 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................... 4 1- NOÇÕES GERAIS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO ................................... 5 2 - CLASSIFICAÇÃO DA EXECUÇÃO ................................................................. 6 2.1 - Execução comum e execução especial ................................................. 6 2.2- Execução judicial e Execução Extrajudicial .......................................... 6 2.3 - Execução Direta e Execução Indireta .................................................... 7 3 - PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO .......................................................................... 8 3.1 - Princípio da Efetividade ............................................................................ 9 3.2 - Princípio da Tipicidade ............................................................................ 9 3.4 - Princípio da boa-fé processual ............................................................. 10 3.5 - Princípio da Responsabilidade Patrimonial ....................................... 11 3.6 - Princípio do Desfecho Único ................................................................. 11 3.7 - Princípio do Contraditório ...................................................................... 12 3.8 - Princípio da Menor Onerosidade da Execução .................................. 13 3.9 - Princípio da Cooperação ........................................................................ 16 3.10 - Princípio da Proporcionalidade .......................................................... 16 3.11 - Princípio da Adequação ....................................................................... 18 3.12 - Princípio da Disponibilidade da Execução ....................................... 18 3.13 - Responsabilidade Objetiva do Exequente ........................................ 19 3.14 - Princípio da Atipicidade dos meios executivos .............................. 20 4 - FORMAÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO........................................... 21 4.1 - Demanda Executiva ................................................................................. 22 4.1.1 - Elementos objetivos ......................................................................... 22 4.1.2 - Elementos Subjetivos ....................................................................... 23 4.2 - Competência ............................................................................................. 31 4.3 - Petição Inicial ............................................................................................ 34 4.3.1 - Conceito .............................................................................................. 34 4.3.2 - Requisitos de validade ..................................................................... 35 4.3.3 - Efeitos decorrentes da propositura da execução ....................... 39 4.3.2.1 - Averbação da pendência executiva............................................ 39 4.3.2.2 - Interrupção da Prescrição ............................................................ 40 4.3.2.3 - Prevenção ........................................................................................ 41 2 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 4.3.2.3 - Litispendência................................................................................. 41 4.3.2.4 - Litigiosidade do Objeto ................................................................. 41 4.3.2.5 - Indisponibilidade patrimonial relativa........................................ 42 4.3.2.6 - Direito do executado ao parcelamento da dívida exequente 43 4.3.3 - Requisitos específicos do processo de execução ..................... 43 5 - TÍTULOS EXECUTIVOS .................................................................................. 46 5.1 - Conceito ..................................................................................................... 46 5.2 - Natureza Jurídica ..................................................................................... 46 5.3 - Taxatividade dos títulos .......................................................................... 47 5.4 - Atributos da Obrigação representada no título executivo .............. 47 5.5 - Espécies de títulos executivos .............................................................. 50 5.5.1 - Títulos Executivos Judiciais ........................................................... 50 5.5.2 - Títulos executivos extrajudiciais ................................................... 56 6 - NEGÓCIOS PROCESSUAIS E TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL . 77 7 - TÍTULO EXECUTIVO ESTRANGEIRO .......................................................... 79 8 - ENUNCIADOS DA JORNADA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL SOBRE O TEMA ................................................................................................................... 81 9 - RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL ......................................................... 81 9.1 - Bens do devedor – art. 789 e 790, III, CPC .......................................... 86 9.2 - Bens do sucessor à título singular – art. 790, I, CPC ....................... 88 9.3 - Bens gravados ou alienados em fraude à execução ou contra credores – art. 790, V e VI, CPC............................................................. 92 9.4 - Bens do cônjuge ou companheiro – art. 790, IV, CPC. ..................... 92 10 - DA DEFESA DO DEVEDOR NAS EXECUÇÕES FUNDADAS EM TÍTULO EXTRAJUDICIAL .................................................................................. 109 10.1 – Dos embargos à execução ................................................................ 110 10.2 – Outras defesas do executado ........................................................... 136 11 - MODALIDADES DE EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL (FAZER, NÃO FAZER, ENTREGAR COISA E PAGAR) .......................................................... 139 11.1 - EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL NAS OBRIGAÇÕES DE ENTREGAR COISA ....................................................................................................... 140 11.2 - EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL NAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER. ............................................................................................ 144 11.3 - EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL NAS OBRIGAÇÕES DE PAGAR .. 147 12 - DOS ATOS EXECUTIVOS DE CONSTRIÇÃO ......................................... 149 12.1 - PENHORA .............................................................................................. 149 12.1.1 - Penhoras Especiais ...................................................................... 158 3 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 12.1.1.1 - Penhora on-line .......................................................................... 158 12.1.1.2 - Penhora sobre o faturamento ................................................... 165 12.1.1.3 - Penhora de mão própria ........................................................... 166 12.1.1.4 - Penhora no rosto dos autos .................................................... 168 12.1.1.5 - Penhora de quotas sociais ou ações ..................................... 168 12.1.1.6 - Procedimento da Penhora ........................................................ 170 12.2 - AVALIAÇAO .......................................................................................... 173 12.3 - EXPROPRIAÇÃO .................................................................................. 175 12.3.3. Adjudicação ..................................................................................... 176 12.3.4 - Alienação ........................................................................................ 180 12.3.4.1. Alienação por iniciativa do particular ..................................... 180 12.3.4.2. Alienação por leilão judicial ...................................................... 182 12.3.5. Alienação antecipada (Forma de expropriação atípica) ......... 188 13 - SATISFAÇÃO DO CRÉDITO ...................................................................... 188 14 - SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO .................................................................. 190 15 - EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO ....................................................................... 195 16 - FRAUDE CONTRA CREDORES E FRAUDE À EXECUÇÃO ................ 197 17 - EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA ....................................... 204 18 - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA .............................................................. 209 18.1 - Cumprimento de Sentença Obrigação de Fazer ............................ 209 18.2 - Cumprimento de sentença de obrigação de entregar coisa certa ................................................................................................................... 210 18.3 - Cumprimento de sentença de exigibilidade da obrigação de pagar quantia certa. ............................................................................... 211 18.3.1 – Prisão Civil – Obrigação de pagar valor certo........................ 212 18.4 - Cumprimento da Obrigação ............................................................... 213 18.5 - Não pagamento da dívida em 15 dias .............................................. 214 18.6 - Inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes ................................................................................................................... 214 18.7 - Expedição do mandado de penhora e avaliação ........................... 215 18.8. Defesa do executado no cumprimento de sentença ...................... 215 19. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA .................................................................... 219 ANEXO – EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ............................................................. 223 4 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 APRESENTAÇÃO Prezado aluno, tenho o imenso prazer de estar participando com você desse desafio de estudar processo civil – processo de execução. O caderno está dividido com a visão macroscópica da disciplina, apresentando conteúdo do processo de execução e cumprimento de sentença. A intenção é fazer um curso didático, apresentando as principais posições doutrinárias e jurisprudenciais sobre os temas de direito processual civil. Lembrando que o material aqui produzido deve ser complementado com livros doutrinários, jurisprudência e informativos dos tribunais. Essa apostila foi criada com base na legislação estudada e nos livros doutrinários e aulas dos professores Fredie Didier Jr, Daniel Assumpção Neves, Fabrício Bastos, Alexandre Câmara, Haroldo Lourenço e outros, com a finalidade de otimizar o conteúdo e facilitar a revisão nos estudos. Desejo a todos uma excelente leitura e boas reflexões. Estou à disposição para ouvir críticas e sugestões. Sucesso e bons estudos! “Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito.” (Martin Luther King Jr) Rio de Janeiro, setembro de 2019. Com carinho, Roberta Ramos. Advogada - Professora de Processo Civil e Prática Jurídica UCAM/RJ. 5 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 CADERNO DE PROCESSO CIVIL PROCESSO DE EXECUÇÃO E CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 1- NOÇÕES GERAIS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO O processo de execução ou fase de execução está previsto no ordenamento jurídico brasileiro como uma forma de obter a satisfação do direito material. O nosso ordenamento jurídico ainda apresenta diferentes modalidades de execução, que serão usados a depender do critério adotado. É o que extraímos da execução das obrigações de fazer/não fazer, entregar e pagar e outras. Segundo Fredie Didier “executar é satisfazer uma prestação devida. A execução pode ser espontânea, quando o devedor cumpre voluntariamente a prestação, ou forçada, quando o cumprimento da prestação é obtido por meio da prática de atos executivos pelo Estado.”1 Em uma visão macroscópica do tema, podemos afirmar que a matéria é dividida em duas formas: processo autônomo de execução e cumprimento de sentença. A relevância da distinção reside no fato da execução de títulos executivos extrajudiciais e títulos executivos judiciais. Quanto ao primeiro será necessária a instauração de um processo autônomo de execução, e quanto ao último será feito por meio do cumprimento de sentença, que se desenvolve no mesmo processo, que chamamos de processo sincrético. Além disso, há de ser ressaltado que existem dois meios técnicos para o desenvolvimento da execução: sub-rogação (execução direta) e por coerção (execução indireta). Na primeira é o Estado-juiz substituindo a vontade do executado, se valendo dos atos materiais que melhor achar conveniente para o caso, para satisfação do direito, como por exemplo, escolher a penhora/expropriação, depósito/entrega de coisa. Na coerção o Estado-juiz não substitui a vontade do executado, a atuação é para convencê-lo a cumprir sua obrigação, satisfazendo o direito do exequente, é o que acontece quando o juiz fixa astreintes pelo descumprimento da obrigação, prisão civil do devedor de alimentos. 1 Didier Jr. Fredie. Curso de direito processual civil: execução/ Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga, Rafael Alexandria de Oliveira – 7. ed. Ver., ampl. E atual. – Salvador: Ed. Juspodvm, 2017, p. 45. 6 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 Ademais, cabe aqui mencionar que no processo de execução há atividade cognitiva do juiz, ou seja, o órgão jurisdicional deverá fazer a análise dos pressupostos processuais, realizar o juízo de admissibilidade e de mérito da execução. Cabendo ao juiz analisar a validade e aptidão do procedimento, bem como sobre o acolhimento ou não da pretensão veiculada. Por fim, vale reafirmar que o principal objetivo do processo de execução é satisfazer o direito reconhecido em um título executivo, que pertence ao exequente, e o processo executório é subsidiário, ou seja, há aplicação das regras do processo autônomo de execução no cumprimento de sentença e vice-versa. 2 - CLASSIFICAÇÃO DA EXECUÇÃO A execução pode ser classificada em execução comum e especial; execução judicial e extrajudicial; execução judicial e extrajudicial; execução direta e indireta. 2.1 - Execução comum e execução especial Aqui a referência é o tipo de procedimento usado na execução. A execução comum é aquela que serve para uma generalidade de créditos. E a execução especial é aquela que serve para a satisfação de créditos específicos, como é a execução de alimentos e a execução fiscal. Essa distinção é importante para a análise da possibilidade de cumulação de execução, que deve ser respeitada a regra disposta n art. 327, III e 780, ambos do CPC e a Súmula 27, STJ, que estabelece que para a cumulação de pedidos deve haver compatibilidade dos procedimentos. 2 2.2- Execução judicial e Execução Extrajudicial 2 STJ, 5ª. T., REsp n. 952.126/RS, rel. Min. Laurita Vaz, J. em 18.8.2011, publicado no DJe 1.9.2011; STJ, 5ª. T. AgRg no AgRg no REsp 888.328/RS, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. em 06.11.2008, publicado no DJe de 24/11/2008; STJ, 2ª T., REsp n. 1263294/RR, rel. Min. Diva Malerbi, j. em 13.11.2012, publicado no Dje de 23.11.2012. 7 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 Execução judicial é aquela que se realiza perante o Poder Judiciário. A execução extrajudicial é aquela que é feita fora do Poder Judiciário. O próprio ordenamento jurídico conferiu força executiva a prática de alguns atos fora do judiciário, mas a execução extrajudicial fica sujeita a controle jurisdicional, conforme a própria Constituição3 assegura. A execução de título judicial irá se desenvolver por meio do procedimento de cumprimento de sentença (art. 513 ao art. 538, CPC), e a execução por título extrajudicial será desenvolvido por processo autônomo, seguindo as normas do art. 771 e seguintes do CPC. As execuções de títulos judiciais podem ser definitivas ou provisórias, e as execuções por títulos extrajudiciais só podem ser definitivas. 2.3 - Execução Direta e Execução Indireta A execução forçada direta ou por sub-rogação é aquela em que o Poder Judiciário substitui a conduta do devedor, ou seja, prescinde da colaboração do executado para a efetivação da prestação, pois o juiz determina o cumprimento de medidas executivas que são cumpridas mesmo contra a vontade do executado. É o que acontece, por exemplo, quando o juiz determina a penhora. Ela pode ocorrer por meio do desapossamento, transformação e expropriação. No desapossamento o juiz determina a retirada da coisa da posse do executado e entrega ao exequente. É muito comum nas execuções de entrega de coisa. Exemplos: despejo, busca e apreensão, reintegração de posse. Na transformação o juiz determina que a conduta seja praticada por um terceiro, ou seja, não será o executado que cumprirá a determinação judicial, mas sim um terceiro. Na expropriação o juiz determina a expropriação de um bem do executado para pagamento do crédito. É comum nas execuções de pagar quantia. Exemplos: 3 Art. 5º, XXXV, CRFB/88 - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; 8 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 adjudicação, alienação judicial, apropriação de rendimentos de empresas ou de estabelecimento e de outros bens)4. A execução forçada indireta deriva de uma decisão mandamental, ou seja, o juiz impõe uma prestação ao executado, influenciando a vontade do devedor como forma de incentivá-lo a cumprir a ordem judicial. A execução será cumprida com a participação do executado, e isso acontece com a coerção psicológica por parte do Estado-juiz, como por exemplo, conceder algum benefício ao executado caso ele cumpra. A execução indireta pode ser patrimonial ou pessoal. Na execução patrimonial, normalmente, há imposição de uma multa coercitiva. E na pessoal atinge- se a pessoa do executado, é o caso da prisão civil do devedor de alimentos. Além disso, a execução indireta poderá servir como uma sanção positiva, ou seja, o executado cumprindo a imposição legal poderá gozar de alguns benefícios. Como por exemplo, redução pela metade dos honorários advocatícios5, isenção do pagamento de custas6. Ademais, deve ser ressaltado que a forma de execução deve ser escolhida pelo juiz utilizando o critério de ser a mais adequada para a efetivação do direito. 3 - PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO 4Art. 825. A expropriação consiste em: I - adjudicação; II - alienação; III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens. Art. 826. Antes de adjudicados ou alienados os bens, o executado pode, a todo tempo, remir a execução, pagando ou consignando a importância atualizada da dívida, acrescida de juros, custas e honorários advocatícios. 5 Art. 827, § 1o No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários advocatícios será reduzido pela metade. 6Art. 701, § 1o O réu será isento do pagamento de custas processuais se cumprir o mandado no prazo 9 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 O processo executivo também será abarcado pelas normas fundamentais da tutela jurisdicional, que o Código de Processo Civil consagra em capítulo próprio, bem como em regras específicas do processo de execução. 3.1 - Princípio da Efetividade O princípio da efetividade decorre do princípio do devido processual legal, e tem como raciocínio que os direitos não podem apenas serem reconhecidos, mas devem ser efetivados. No CPC temos a previsão no art. 4º que reforça essa ideia, tendo como norma fundamental o direito à atividade satisfativa. Mas deve ser interpretado de forma a respeitar a aplicação das regras de proteção ao executado, devendo nortear a atividade jurisdicional para promover a satisfação integral do direito, bem como adotar todos os meios possíveis e necessários para a proteção integral da tutela executiva. 3.2 - Princípio da Tipicidade Os títulos executivos estão previstos em lei, ou seja, constituem numerus clausus. A previsão legal é do art. 515 (títulos executivos judiciais) e art. 784 (títulos executivos extrajudiciais). A força executiva de um título é dada pela lei, ou seja, não podem as partes criarem, dessa forma, só será título executivo se conter os requisitos previstos na lei. Os títulos executivos são dotados de abstração, ou seja, em sua análise o órgão jurisdicional não precisa verificar o negócio jurídico que o originou, não havendo discussão na fase executiva do direito material ali posto. Tanto isso é verdade que as matérias defensivas dos arts. 505, §1º e 535 não se referem ao direito material7. Vale ressaltar que em nosso ordenamento jurídico há um título executivo formado de forma unilateral, ou seja, somente o credor constitui o título executivo, é o 7Precedentes para consulta: REsp 981440 SP (4º turma STJ); Ag Reg ARESP 197026 DF (3ª Turma STJ). Ratio decidendi: O órgão jurisdicional não pode se manifestar sobre a existência ou não do direito material. 10 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 que acontece quando a Fazenda Pública constitui a Certidão de Dívida Ativa (CDA – prevista na Lei 6.830/80). A doutrina ainda se preocupa em fazer a diferenciação do título executivo para o título injuntivo, sendo o primeiro um documento no qual a lei exige que tenha certeza, liquidez e exigibilidade, e pode embasar uma execução. E o segundo é um documento escrito que exterioriza uma obrigação, mas que não tem força executiva, não podendo, portanto, embasar uma execução, somente uma ação de conhecimento, como por exemplo, a ação monitória (art. 700, CPC). Por fim, o princípio da tipicidade deriva do brocárdio latim Nulla executio sine titulo - Não há execução sem título- e Nullus titulo sine lege - Não há titulo sem lei. 3.4 - Princípio da boa-fé processual O princípio da boa-fé processual deve estar presente em todas as fases do processo, inclusive no processo de execução, que na prática é um meio em que mais se praticam condutas desleais, fraudulentas e abusivas. O desrespeito à boa-fé processual poderá ensejar a aplicação de sanções previstas no art. 77, 80, 81 e 774, CPC. O art. 774, CPC tem especial relevância aqui porque está dentro do tema de estudo da execução, e elenca cinco espécies de atos atentatórios à dignidade da justiça. Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta comissiva ou omissiva do executado que: I - frauda a execução; II - se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos; III - dificulta ou embaraça a realização da penhora; IV - resiste injustificadamente às ordens judiciais; V - intimado, não indica ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos valores, nem 11 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus. Parágrafo único. Nos casos previstos neste artigo, o juiz fixará multa em montante não superior a vinte por cento do valor atualizado do débito em execução, a qual será revertida em proveito do exequente, exigível nos próprios autos do processo, sem prejuízo de outras sanções de natureza processual ou material. No entanto, há divergência doutrinária8 a respeito de se tratar de rol taxativo ou meramente exemplificativo, mas na prática essa divergência não tem muita relevância. 3.5 - Princípio da Responsabilidade Patrimonial Toda a execução é real, nunca é pessoal, ou seja, o executado responderá com todos os seus bens presentes e futuros, e somente o seu patrimônio ou de terceiro será objeto da atividade executiva do Estado. O fato do corpo do devedor não pagar por suas dívidas deriva da humanização do processo Aqui vale dizer que nem a prisão civil do devedor de alimentos é considerada execução pessoal, ou seja, não há em nenhum ordenamento até então conhecido uma execução que se funde na pessoa do devedor. A prisão civil do devedor de alimentos constitui uma forma de execução indireta, que tem como objetivo fazer uma pressão psicológica no executado para que satisfaça o crédito do exequente. O princípio da efetividade serve de limite para o princípio da responsabilidade patrimonial, ou seja, no processo executivo deve ser estimulado o uso das medidas de coerção indiretas, de forma a utilizar a medida mais adequada ao caso, respeitando-se a dignidade do devedor. 3.6 - Princípio do Desfecho Único 8 Rol restritivo: Abelha Rodrigues, Manua, p. 64. Rol exemplificativo: Araken de Assis, Manual, n. 72, p. 330. 12 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 O único objetivo do processo de execução é a satisfação do direito do exequente. Dessa forma, as regras processuais devem ser adequadas a essa finalidade, orientando a atividade jurisdicional a chegar a cumprir o objetivo da execução. Esse princípio parte da ideia de que toda execução tem seu fim, ou seja, a execução pode chegar ao final pela satisfação do crédito do exequente, ou ter seu fim quando for extinta sem resolução de mérito, nos casos do art. 485, CPC. Art. 924. Extingue-se a execução quando: I - a petição inicial for indeferida; II - a obrigação for satisfeita; III - o executado obtiver, por qualquer outro meio, a extinção total da dívida; IV - o exequente renunciar ao crédito; V - ocorrer a prescrição intercorrente. Dessa forma, o desfecho único prega que a finalidade do processo de execução é a satisfação do crédito do exequente, sendo esta a única tutela jurisdicional possível de ser obtida. 3.7 - Princípio do Contraditório O desenvolvimento do processo pressupõe a participação efetiva e adequada dos sujeitos interessados ao longo do procedimento. Atualmente o contraditório parte de quatro vertentes: necessidade de informação, direito de ser ouvido; participação efetiva; vedação à decisão surpresa e possibilidade de reação. O princípio do contraditório é um direito inviolável, assegurado não só na norma constitucional, mas também na norma infraconstitucional. O procedimento em que não se assegure o contraditório não será válido. No entanto, vale dizer que no processo de execução o contraditório será eventual, uma vez que o executado é chamado ao processo para cumprir a obrigação e não para se manifestar sobre a pretensão do exequente, ou seja, não ocorre de forma tão aprofundada como no processo de conhecimento. 13 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 3.8 - Princípio da Menor Onerosidade da Execução A execução deve se desenvolver de forma menos onerosa possível para o executado, ou seja, no pode servir como instrumento de vingança. É um princípio que se aplica à todas as execuções, seja de titulo judicial ou extrajudicial, execução direta ou indireta e qualquer que seja a prestação (fazer, não-fazer, dar coisa, dar quantia). Dessa forma, é consagrado na lei que quando houver vários meios de satisfazer o direito do credor, o juiz mandará que a execução se faça pelo modo menos gravoso ao executado (art. 805, CPC). Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado. Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados. Esse princípio é uma das normas de proteção ao executado, ele norteia a escolha do meio executivo pelo juiz, ou seja, ele deve ser usado no sentido de que havendo mais de uma forma de execução, deverá ser escolhido o meio menos gravoso ao executado. A visão aqui é pela adequação e necessidade do meio, e não do resultado que será alcançado. Ademais, não poderá o executado invocar esse princípio para se eximir do cumprimento da obrigação, e muito menos para reduzir o valor da execução. Como já dito, esse princípio norteia o meio utilizado para se alcançar o resultado, ou seja, a opção deve ser pelo meio menos gravoso, pressupondo que os diversos meios sejam igualmente eficazes. Se em um processo de execução for pleiteado pelo exequente a indisponibilidade de todos os bens do executado, por mais gravoso que seja, passa a ser ônus do executado mencionar os bens que são suficientes para a execução. 14 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 Para o STJ não existe preponderância apriorística da menor onerosidade frente a efetividade, ou seja, a análise tem que ser casuística, é o que se extrai do REsp 1337790/PR. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. NOMEAÇÃO DE BENS À PENHORA. PRECATÓRIO. DIREITO DE RECUSA DA FAZENDA PÚBLICA. ORDEM LEGAL. SÚMULA 406/STJ. ADOÇÃO DOS MESMOS FUNDAMENTOS DO RESP 1.090.898/SP (REPETITIVO), NO QUAL SE DISCUTIU A QUESTÃO DA SUBSTITUIÇÃO DE BENS PENHORADOS. PRECEDENTES DO STJ. 1. Cinge-se a controvérsia principal a definir se a parte executada, ainda que não apresente elementos concretos que justifiquem a incidência do princípio da menor onerosidade (art. 620 do CPC), possui direito subjetivo à aceitação do bem por ela nomeado à penhora em Execução Fiscal, em desacordo com a ordem estabelecida nos arts. 11 da Lei 6.830/1980 e 655 do CPC. 2. Não se configura a ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil, uma vez que o Tribunal de origem julgou integralmente a lide e solucionou a divergência, tal como lhe foi apresentada. 3. Merece acolhida o pleito pelo afastamento da multa nos termos do art. 538, parágrafo único, do CPC, uma vez que, na interposição dos Embargos de Declaração, a parte manifestou a finalidade de provocar o prequestionamento. Assim, aplica-se o disposto na Súmula 98/STJ: "Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório". 4. A Primeira Seção do STJ, em julgamento de recurso repetitivo, concluiu pela possibilidade de a Fazenda Pública recusar a substituição do bem penhorado por precatório (REsp 1.090.898/SP, Rel. Ministro Castro Meira, DJe 31.8.2009). No mencionado precedente, encontra-se como fundamento decisório a necessidade de preservar a ordem legal conforme instituído nos arts. 11 da Lei 6.830/1980 e 655 15 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 do CPC. 5. A mesma ratio decidendi tem lugar in casu, em que se discute a preservação da ordem legal no instante da nomeação à penhora. 6. Na esteira da Súmula 406/STJ ("A Fazenda Pública pode recusar a substituição do bem penhorado por precatório"), a Fazenda Pública pode apresentar recusa ao oferecimento de precatório à penhora, além de afirmar a inexistência de preponderância, em abstrato, do princípio da menor onerosidade para o devedor sobre o da efetividade da tutela executiva. Exige-se, para a superação da ordem legal prevista no art. 655 do CPC, firme argumentação baseada em elementos do caso concreto. Precedentes do STJ. 7. Em suma: em princípio, nos termos do art. 9°, III, da Lei 6.830/1980, cumpre ao executado nomear bens à penhora, observada a ordem legal. É dele o ônus de comprovar a imperiosa necessidade de afastá-la, e, para que essa providência seja adotada, mostra-se insuficiente a mera invocação genérica do art. 620 do CPC. 8. Diante dessa orientação, e partindo da premissa fática delineada pelo Tribunal a quo, que atestou a "ausência de motivos para que (...) se inobservasse a ordem de preferência dos artigos 11 da LEF e 655 do CPC, notadamente por nem mesmo haver sido alegado pela executada impossibilidade de penhorar outros bens (...)" - fl. 149, não se pode acolher a pretensão recursal. 9. Recurso Especial parcialmente provido apenas para afastar a multa do art. 538, parágrafo único, do CPC. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ. Dessa forma, o princípio da menor onerosidade evita que a execução seja abusiva, vedando qualquer comportamento abusivo do credor para satisfação do seu crédito. Tem-se aqui a proteção e exaltação do princípio da boa-fé processual (art. 5º, CPC), exigindo do credor um comportamento com lealdade e com ética processual. Por fim, vale salientar que esse princípio tem grande incidência no estudo da impenhorabilidade dos bens, bem como sobre a efetividade da execução. Nesse 16 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 sentido, o STJ decidiu que não se pode alegar bem de família quando é produto de ato ilícito9. 3.9 - Princípio da Cooperação É um princípio que é lido conjuntamente com a lealdade, boa-fé processual, contraditório e ampla defesa. Parte da premissa expressa no art. 6º, CPC, na qual aduz que “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”. A cooperação dos sujeitos tem como finalidade o alcance da tutela jurisdicional efetiva. Esse princípio também reforça a ideia da ética processual, exaltando o diálogo que deve existir entre as partes e com o órgão jurisdicional. No processo executivo, a lei traz a utilização desse princípio por ambas as partes. 1º) O executado tem o dever de indicar bens à penhora (art. 774, V, CPC); 2º) Quando o executado impugna o valor da execução deve apresentar o valor devido (art. 525, §4º, CPC); 3º) Deve o juiz advertir o executado antes de puni-lo (art. 772, II, CPC); 4º) Antes de conhecer da prescrição, deve o juiz dar oportunidade do exequente manifestar-se (art. 10; art. 487, parágrafo único; art. 921, §1º, CPC). Dessa forma, esse princípio deriva do próprio modelo processual adotado pelo Código de Processo Civil de 2015, ou seja, modelo comparticipativo/cooperativo de processo. 3.10 - Princípio da Proporcionalidade Alguns princípios aqui trabalhados se chocam dentro do processo de execução. É comum vermos a afirmação de que o princípio da efetividade se choca com o princípio da dignidade da pessoa humana, que costuma ser invocado para a proteção do executado (embora também possa ser usado para a proteção do exequente). 9 REsp 1091236/RJ. 17 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 Esse princípio está positivado no art. 8º, CPC que prevê a necessidade do juiz observar a proporcionalidade e razoabilidade ao aplicar o ordenamento jurídico, sendo, portanto, aplicável e respeitado no processo de execução. Esse princípio influenciou a doutrina e a jurisprudência a considerarem a ordem de nomeação de bens disposta no art. 83510 relativa, ou seja, será observado sempre o caso concreto, devendo ser relativizada em prol do exequente e também do executado. 10Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem: I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira; II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com cotação em mercado; III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado; IV - veículos de via terrestre; V - bens imóveis; VI - bens móveis em geral; VII - semoventes; VIII - navios e aeronaves; IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias; X - percentual do faturamento de empresa devedora; XI - pedras e metais preciosos; XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de alienação fiduciária em garantia; XIII - outros direitos. § 1o É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas demais hipóteses, alterar a ordem prevista no caput de acordo com as circunstâncias do caso concreto. § 2o Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento. § 3o Na execução de crédito com garantia real, a penhora recairá sobre a coisa dada em garantia, e, se a coisa pertencer a terceiro garantidor, este também será intimado da penhora. Art. 836. Não se levará a efeito a penhora quando ficar evidente que o produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução. § 1o Quando não encontrar bens penhoráveis, independentemente de determinação judicial expressa, o oficial de justiça descreverá na certidão os bens que guarnecem a residência ou o estabelecimento do executado, quando este for pessoa jurídica. § 2o Elaborada a lista, o executado ou seu representante legal será nomeado depositário provisório de tais bens até ulterior determinação do juiz. 18 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 3.11 - Princípio da Adequação Esse princípio orienta o processo de execução afirmando que o meio empregado para a satisfação do crédito do exequente deve se adequado/compatível com a natureza da prestação. Exemplo: a prisão civil do devedor de alimentos se mostra adequada a prestação, uma vez que o direito aos alimentos pressupõe uma medida executiva coercitivamente mais forte. No entanto, merece aqui ser ressaltado o caso do WhatsApp, em que no ano de 2015, no Brasil, alguns juízes penais determinaram a suspensão do aplicativo em todo o território nacional, até que fossem fornecidas algumas informações solicitadas pelo magistrado. As decisões foram revistas, mas restou claro a desproporção da medida no caso concreto, uma vez que milhões de pessoas foram afetadas pela decisão sem terem contribuído minimamente para o desrespeito do comando judicial. Lembrando que a medida foi aplicada com base no art. 3º, CPP, uma vez que o ordenamento jurídico admite a aplicação do direito processual civil para a solução de questões penais. 3.12 - Princípio da Disponibilidade da Execução O exequente pode dispor da execução (art. 775 e art. 513, CPC), ou seja, pode o exequente desistir total ou parcialmente do processo de execução, ainda que o direito material subjacente seja indisponível. Art. 775. O exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva. Parágrafo único. Na desistência da execução, observar- se-á o seguinte: I - serão extintos a impugnação e os embargos que versarem apenas sobre questões processuais, pagando o exequente as custas processuais e os honorários advocatícios; II - nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do impugnante ou do embargante. 19 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 A ideia desse princípio é que o exequente pode desistir de todo o processo executivo, bem como de algum ato executivo, independentemente do consentimento do executado. No entanto, caso o executado tenha apresentado defesa (impugnação ao cumprimento de sentença ou embargos à execução) que tenha como objeto questões relacionadas à relação jurídica material (mérito da execução), o exequente para desistir da demanda dependerá da concordância do executado (art. 775, parágrafo único, II, CPC). Se a desistência for de algum ato executivo, o exequente não precisará da anuência do executado. Dessa forma, manifestada a desistência haverá a extinção da execução. Cabendo ao exequente arcar com as custas processuais e honorários advocatícios (art. 90 e art. 775, I, CPC)11. Por fim, cabe mencionar que a regra acima tratada refere-se ao processo de execução individual, pois se for execução de sentença coletiva, vigora o princípio da indisponibilidade, ou seja, se o legitimado que obteve a sentença coletiva não executá-la, caberá ao Ministério Público ou a outro legitimado coletivo propor a execução. 3.13 - Responsabilidade Objetiva do Exequente 11Art. 90. Proferida sentença com fundamento em desistência, em renúncia ou em reconhecimento do pedido, as despesas e os honorários serão pagos pela parte que desistiu, renunciou ou reconheceu. § 1o Sendo parcial a desistência, a renúncia ou o reconhecimento, a responsabilidade pelas despesas e pelos honorários será proporcional à parcela reconhecida, à qual se renunciou ou da qual se desistiu. § 2o Havendo transação e nada tendo as partes disposto quanto às despesas, estas serão divididas igualmente. § 3o Se a transação ocorrer antes da sentença, as partes ficam dispensadas do pagamento das custas processuais remanescentes, se houver. § 4o Se o réu reconhecer a procedência do pedido e, simultaneamente, cumprir integralmente a prestação reconhecida, os honorários serão reduzidos pela metade. 20 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 Esse princípio traz a afirmação de que o exequente responderá objetivamente pelos danos causados ao executado, independentemente de culpa. A regra foi consagrada no art. 520, I, CPC e art. 776, CPC. A responsabilidade aqui não deriva de um ato ilícito, mas sim de um ato-fato lícito processual, ou seja, se houver dano deverá ser indenizado. 3.14 - Princípio da Atipicidade dos meios executivos A atipicidade dos meios executivos significa dizer que existe um rol exemplificativo dos meios executórios aplicáveis na execução, ou seja, há um espaço para a criatividade jurisdicional, sempre tendo como diretriz a satisfação da pretensão do exequente, é o que preceitua o art. 536, §1º, CPC. Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente. § 1o Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial. Dentro dessa linha de raciocínio, podemos citar o art. 139, IV, CPC que se refere ao poder geral de cautela do juiz, e o dispositivo em comento se aplica a qualquer atividade executiva, seja fundada em título judicial (provisória ou definitiva), seja de titulo extrajudicial, seja para efetivar prestação pecuniária, seja para efetivar prestação de fazer, não fazer ou dar coisa distinta de dinheiro. É um dispositivo com ampla incidência, mas que deve ser interpretado com cautela. Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: (...) 21 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária; Há autores que sustentam a existência do princípio da tipicidade dos meios executórios na execução por título executivo extrajudicial. (art. 824 e 825, CPC). Essa tipicidade, segundo esses autores, só será aplicável na execução por quantia certa12.– sustenta a tipicidade na execução por quantia certa quando for de título extrajudicial. Art. 824. A execução por quantia certa realiza-se pela expropriação de bens do executado, ressalvadas as execuções especiais. Art. 825. A expropriação consiste em: I - adjudicação; II - alienação; III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens. Pelo que se percebe o juiz poderá determinar as medidas mandamentais, indutivas e coercitivas para que a execução seja cumprida, aqui também tem a ideia dos meios de execução indireta do comando judicial. 4 - FORMAÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO Segundo Fredie Didier “entende-se por procedimento executivo o conjunto de atos praticados no sentido de alcançar a tutela jurisdicional executiva, isto é, a efetivação/satisfação da prestação devida, seja ela uma prestação de fazer, de não fazer, de pagar quantia ou de dar coisa distinta de dinheiro”. Em nosso ordenamento possuímos dois modelos de execução, e esses são relativos aos procedimentos: Modelo autônomo (processo autônomo) e modelo sincrético (processo sincrético). A depender da natureza da obrigação certificada no título, bem como na classificação se for título executivo judicial ou extrajudicial, é possível que o legislador estabeleça especificidades de atos a serem praticados. 12 Argumento de José Miguel Garcia Medina. 22 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 4.1 - Demanda Executiva O intuito da atividade executiva (demanda executiva) tem como objetivo satisfazer dever jurídico certificado em título judicial ou em título extrajudicial. A demanda fundada em título judicial pode ser iniciada por provocação da parte interessada ou de ofício pelo juiz, sendo por meio do processo sincrético na forma de cumprimento de sentença. A demanda fundada em título extrajudicial sempre será iniciada por provocação da parte interessada, e será por meio do processo autônomo de execução. Nos casos em que a demanda executiva for por processo autônomo, será iniciada por meio da petição inicial, devendo obedecer os requisitos formais. No caso de cumprimento de sentença, a fase executiva será iniciada por simples petição. A demanda executiva possui elementos objetivos e subjetivos. Os objetivos são a causa de pedir e pedido, e o subjetivo são as partes. 4.1.1 - Elementos objetivos Causa de pedir: Como em toda e qualquer demanda, é necessário que a parte exponha sua pretensão, expondo os motivos de sua pretensão executiva. A causa de pedir deve conter a afirmação da existência de um direito à efetivação do direito (prestação certa, líquida e exigível), provada por meio de um título judicial ou extrajudicial, e a existência do inadimplemento por parte do executado (devedor). Pedido: O pedido abrange o objeto mediato e o objeto imediato. O pedido imediato refere-se à pretensão do exequente, a obtenção das providências executivas por parte do órgão jurisdicional. E o pedido mediato refere-se ao bem da vida que se pretende alcançar, seja o pagamento de uma quantia, o cumprimento de uma obrigação de fazer, não fazer, etc. Além disso, o pedido deve ser expresso, ou seja, deve o exequente indicar com precisão a qualidade e quantidade do objeto da prestação exequenda. 23 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 Há possibilidades de o pedido ser alternativo, é o que ocorre na demanda executiva fundada em obrigação alternativa (art. 800, CPC). E aqui a alternatividade poderá ser de coisa e fato, quantia e coisa ou quantia e fato. No caso de cumulação de demandas executivas contra o mesmo devedor, ainda que fundadas em títulos diferentes, devem ser observadas algumas regras, tais como competência do juízo e identidade no procedimento (art. 780, CPC), o que muito se aproxima do disposto no art. 327, CPC (estudado na fase do processo de conhecimento). Dessa forma, a cumulação de demandas exige: identidade de partes, juízo competente para apreciar as demandas executivas cumuladas e que o procedimento executivo seja idêntico. Art. 780. O exequente pode cumular várias execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, quando o executado for o mesmo e desde que para todas elas seja competente o mesmo juízo e idêntico o procedimento. Além disso, também devem ser analisados os pressupostos objetivos para o processo de execução, uma vez que se relacionam com a forma procedimental e com a ausência de fatos que impeçam a regular formação do processo, tais como forma procedimental adequada, inexistência de litispendência, coisa julga e petição apta, ou seja, petição que tenha preenchido os requisitos de validade. 4.1.2 - Elementos Subjetivos O elemento subjetivo da demanda refere-se as partes do processo, e aqui as tratamos como exequente e executado, ou seja, credor e devedor do objeto da prestação exequenda. Mas a relação jurídica processual executiva é formada, ao menos, por três sujeitos: juiz, demandante e demandado. O demandante e o demandado figurarão no polo ativo e passivo respectivamente, e para tanto há de ser feita a análise sobre a legitimidade de cada um. No polo ativo, a legitimidade poderá ser ordinária originária, ordinária superveniente ou extraordinária. Será ordinária originária quando o demandante for o próprio credor do titulo executivo, ou seja, estará em juízo em nome próprio por direito 24 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 próprio (art. 778, caput, CPC). A legitimidade ordinária superveniente ocorrerá quando o demandante atua em nome próprio e por seu interesse, mas sua legitimidade surgiu após a origem do título, é o que ocorre nos casos de cessão de direitos (art; 778, §1º, CPC). A legitimidade extraordinária, em que o demandante atua em nome próprio pleiteando direito alheio, é o exemplo em que o Ministério Público atua como substituto do credor (art. 778, §1º, I, CPC). Mas aqui é importante lembrar que a legitimidade para a causa não se confunde com a legitimidade para o processo (legitimatio ad processum). A legitimidade para o processo é a capacidade de estar em juízo, isto é, para praticar e receber atos processuais. Exemplo clássico para diferenciação entre essas duas espécies de legitimidade é sobre o menor de 16 anos (art. 3º CC), que tem legitimidade ad causam para propor a execução, mas não tem a legitimidade ad processum por não ter capacidade de estar em juízo, exigindo a lei que este seja representado para a prática de atos da vida civil. O citado art. 778, CPC trata da legitimidade ad causam ativa para o processo de execução, exigindo a lei que este seja promovido pelo credor ou pelas pessoas legitimadas13. Se não for caso de legitimação extraordinária ou sucessiva, deverá o juiz extinguir o processo de execução, por ilegitimidade ativa ad causam. Art. 778. Pode promover a execução forçada o credor a quem a lei confere título executivo. § 1o Podem promover a execução forçada ou nela prosseguir, em sucessão ao exequente originário: I - o Ministério Público, nos casos previstos em lei; II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte deste, lhes for transmitido o direito resultante do título executivo; 13Destaque-se que, segundo a teoria da asserção, o que importa é que o credor afirme possuir direito de crédito – ou estar autorizado por lei a postular direito de outrem em nome próprio – consubstanciado em título executivo em face do devedor ou dos demais sujeitos indicados no art. 779. (...) Ressalve-se por fim que, conforme a teoria da exposição, as partes somente seriam legítimas nas situações narradas se provassem sua pertinência subjetiva com o direito material. Assim, não bastaria a alegação; a legitimidade ad causam somente poderia ser verificada com a análise do título executivo.” 25 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 III - o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe for transferido por ato entre vivos; IV - o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional. § 2o A sucessão prevista no § 1o independe de consentimento do executado. Credor a quem a lei confere título executivo: É a legitimidade atribuída a quem figura no titulo executivo como credor. E aqui o termo “credor” engloba qualquer tipo de obrigação, seja de pagar, fazer, não fazer, entregar coisa distinta de dinheiro. Há casos em que a própria lei confere legitimidade a quem não conste no título, é o exemplo do advogado que pode executar a sentença na qual tenha sido fixado seus honorários (art. 23, Lei 8.906/94). Legitimidade do Ministério Público: O Ministério Público poderá promover demanda executiva nos casos previstos em lei – art. 778, §1º, I, CPC – podendo ser legitimado ordinário originário (casos em que também figure como credor no titulo executivo), onde estará agindo em nome próprio um interesse próprio; poderá ser legitimado extraordinário, agindo em nome próprio defendendo direito alheio, é o que acontece quando executa um Termo de Ajustamento de Conduta, bem como execução de sentenças de direitos difuso ou coletivo (art. 3º da Lei 7.347/1985), sentenças de ação por ato de improbidade administrativa (art. 17 da Lei 8.429/1992) e execução de sentença penal condenatória quando o credor for pobre (art. 68, CPP). Cabe salientar que no Informativo 592 do STJ (REsp 888.081/MG), foi reconhecida a inconstitucionalidade progressiva do art. 68, CPP, afirmando que nesses casos a Defensoria Pública deverá ser intimada para que, sendo o caso, assuma o polo ativo da demanda. Ou seja, o Ministério Público só atua enquanto não criada a Defensoria Pública. Nas ações coletivas o Ministério Público tem legitimidade ativa para a execução, no entanto, as regras são diferentes14. Legitimidade do espólio, herdeiros e sucessores: Aqui refere-se a legitimação ordinária superveniente em razão da sucessão causa mortis, tendo legitimidade o 14 Remetemos o leitor ao estudo do processo civil coletivo. 26 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 espólio, os herdeiros e os sucessores para dar inicio à atividade executiva ou assumir o polo ativo no lugar do falecido, em sucessão processual. Se o falecimento do legitimado ordinário originário ocorrer antes de iniciada a demanda executiva, basta que os sucessores demonstrem com provas suficientes a sua legitimidade. Se a demanda já estiver em curso no momento do falecimento, deverá ser feita a habilitação dos sucessores (art. 687 a 692, CPC), de forma incidental e o processo principal ficará suspenso até a sua resolução. Legitimidade do cessionário e do sub-rogado: Alguns direitos podem ser objeto de cessão. E quando isso acontece o crédito do credor originário é cedido para um terceiro, que passa a ter legitimidade superveniente para executar o titulo. Dessa forma, para provar a sua legitimidade o cessionário deverá provar nos autos o instrumento da cessão de crédito. Nas hipóteses de sub-rogação legal ou convencional também poderá o sub-rogado ter legitimidade para promover a demanda executiva. Não existe uma obrigatoriedade do novo credor (tanto na cessão como na sub-rogação) assumir o polo ativo da demanda executiva, podendo aguardar o fim da demanda para depois cobrar do antigo credor, e então, nesse caso, o antigo credor passa a ter legitimidade extraordinária (atua em nome próprio defendendo direito que não mais lhe pertence). No polo passivo também poderá ocorrer legitimidade ordinária originária, ordinária superveniente e extraordinária (art. 779, I, II, III, IV, V e VI, CPC). Art. 779. A execução pode ser promovida contra: I - o devedor, reconhecido como tal no título executivo; II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor; III - o novo devedor que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo; IV - o fiador do débito constante em título extrajudicial; V - o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito; VI - o responsável tributário, assim definido em lei. Sujeito que figura no título como devedor: Devedor é aquele apontado no titulo executivo como tal, ou seja, é aquele que está obrigado a solver a obrigação. Dessa forma, este terá legitimidade passiva ordinária primária para participar da demanda. São considerados devedores para fins de legitimidade passiva na execução: o 27 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 devedor constante no título, o avalista, o fiador convencional, o endossante (podendo haver entre eles litisconsórcio passivo facultativo). Legitimidade passiva do espólio, herdeiros e sucessores: Aqui trata-se da legitimidade ordinária superveniente pela morte do devedor originário, devendo também observar as regras do art. 687 a 692, CPC. Há de ressaltar que o direito material traça a regra de que os herdeiros e sucessores só respondem pelas dívidas do falecido nos limites da herança, por força do benefício do inventário, que exclui a responsabilidade civil do espólio, herdeiro e sucessores além da herança. Responsabilidade do espólio na execução de título extrajudicial- “Recurso especial. 1. Ação de execução. Dívida contraída pelo autor da herança. Penhora diretamente sobre bens do espólio. Possibilidade. 1. Decorre do art. 597 do CPC36 que o espólio responde pelas dívidas do falecido, determinação também contida no art. 1.997 do CC, sendo induvidoso, portanto, que o patrimônio deixado pelo de cujus suportará esse encargo até o momento em que for realizada a partilha, quando então cada herdeiro responderá dentro das forças do que vier a receber. Em se tratando de dívida que foi contraída pessoalmente pelo autor da herança, pode a penhora ocorrer diretamente sobre os bens do espólio e não no rosto dos autos, na forma do que dispõe o art. 674 do CPC, o qual só terá aplicação na hipótese em que o devedor for um dos herdeiros. 2. Recurso especial provido” (STJ, REsp 1.318.506/RS, Rel. Min. Marco Aurelio Bellizze, j. 18.11.2014). Novo devedor: Aqui refere-se a legitimidade ordinária superveniente por ato inter vivos, ou seja, é a famosa assunção de dívida ou cessão de débito, que se dá pela transferência da dívida a um novo sujeito. Para que isso ocorra é necessária a concordância do credor, uma vez que há modificação do patrimônio que responderá pela dívida, bem como evita a ocorrência de fraude (art. 299, CC)15 15Art. 292 do Código Civil. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação. https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788597015232/epub/OEBPS/Text/pt04ch01.html#fn36 28 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 Além disso, existe para a formação do processo executivo há exigência da presença do pressuposto processual de interesse de agir, que se evidencia pela exigibilidade do crédito exequendo, ou, pela adequação da via eleita, quando se exige a indicação de título judicial ou extrajudicial tipificado em lei. Ademais, o título executivo constitui pressuposto processual, e a sua ausência gera a consequência de extinção do processo executivo. Fiador: Aqui refere-se a legitimidade passiva do fiador constante no título executivo extrajudicial, consagrando a hipótese do fiador convencional, tendo como objeto a execução do contrato principal e não do contrato de garantia acessório. No entanto, tal hipótese não afasta a posição já consolidada na doutrina sobre a possibilidade de execução baseada em um título executivo judicial. Em qualquer das hipóteses, o fiador poderá se valer do benefício de ordem indicando à penhora de bens do devedor antes que seus próprios bens sejam objeto de constrição judicial (art. 794, caput, CPC). Contudo, no caso do fiador convencional, o benefício de ordem só poderá ser invocado se o fiador tiver participado do processo de formação do título executivo extrajudicial. O CPC ainda permite que se o pagamento ocorrer por parte do fiador, este poderá executar o afiançado no mesmo processo (art. 794, §2º)16. Responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito: Sabe-se que o adimplemento das obrigações pode ser garantido por meio dos direitos reais de garantia, quais sejam, hipoteca, penhor , anticrese e alienação fiduciária em garantia (arts. 1419 a 1430, CC e DL 911/1969 e Lei 9.514/1997). Em razão disso, o terceiro que prestou a garantia real, não é devedor, contudo, terá legitimidade passiva para a execução, conforme art. 779, V, CPC. Responsável Tributário: Aqui refere-se à uma responsabilidade secundária, ou seja, é um sujeito que não é o contribuinte, mas que tem a obrigação de satisfazer a dívida em decorrência de disposição expressa na lei (121, parágrafo único, II, CTN). Responsabilidade envolvendo direito de superfície: Trata-se de previsão do art. 791, CPC17, na qual individualiza a tutela executiva quando recair sobre bens 16 STJ, 4ª Turma, AgRg no AgRg no AREsp 174.654/RS, rel. Min. Raul Araújo, j. 3.6.2014 Dje. 20.6.2014. 17Art. 791. Se a execução tiver por objeto obrigação de que seja sujeito passivo o proprietário de terreno submetido ao regime do direito de superfície, ou o superficiário, responderá pela dívida, exclusivamente, o direito real do qual é titular o executado, recaindo a penhora ou outros atos de constrição 29 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 gravados no direito real de superfície. A regra da lei é que se a execução for promovida em face do proprietário, apensas nesta medida poder-se-á praticar atos de constrição, não sendo motivo de desconstituição do direito real de superfície. Quando o executado for o superficiário, apenas a construção ou plantação estará sujeita à satisfação do crédito. Intervenção de Terceiro na execução Além disso, importante aqui mencionar sobre a possibilidade de intervenção de terceiros no processo de execução, podendo serem intervenções típicas e atípicas. Não irei aqui esgotar o tema, mas consigno que a denunciação da lide não é compatível com o processo de execução, uma vez que sua natureza é de ação regressiva, tendo característica de ação de conhecimento (art. 126, CPC). O instituto do chamamento ao processo também não é compatível com o processo de execução, eis que a ideia aqui é que o juiz declare em uma mesma sentença a responsabilidade dos obrigados, e na execução não há declaração de responsabilidade, apenas haverá a busca pela satisfação do crédito. Sobre o cabimento da assistência no processo de execução, a doutrina majoritária sustenta que deve haver uma interpretação extensiva do art. 119, parágrafo único, CPC, sendo possível na execução independentemente do ingresso de embargos à execução. É o exemplo do fiador, que é autorizado por lei a intervir na execução promovida ao afiançado em caso de demora pelo exequente (art. 834, CC), sendo certo que o fiador assiste o credor porque o resultado positivo da execução lhe exclusivamente sobre o terreno, no primeiro caso, ou sobre a construção ou a plantação, no segundo caso. § 1o Os atos de constrição a que se refere o caput serão averbados separadamente na matrícula do imóvel, com a identificação do executado, do valor do crédito e do objeto sobre o qual recai o gravame, devendo o oficial destacar o bem que responde pela dívida, se o terreno, a construção ou a plantação, de modo a assegurar a publicidade da responsabilidade patrimonial de cada um deles pelas dívidas e pelas obrigações que a eles estão vinculadas. § 2o Aplica-se, no que couber, o disposto neste artigo à enfiteuse, à concessão de uso especial para fins de moradia e à concessão de direito real de uso. 30 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 interessa, visto que uma vez extinta a obrigação principal, consequentemente a relação acessória da garantia também é extinta. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução de título executivo extrajudicial, é o que se extrai da redação do art. 134, CPC18. Sobre a intervenção do amicus curie no processo de execução, ainda há divergência doutrinária sobre o tema, uma vez que pode ocorrer em uma execução coletiva surja uma questão processual complexa que haverá especificidade e repercussão social19. As intervenções atípicas referem-se as demais hipóteses não especificadas no CPC, sendo certo que no ordenamento jurídico existem outras formas de intervenção que podem ocorrem no processo de execução e no cumprimento de sentença. E aqui as referências são de fácil identificação, como por exemplo, no caso de adjudicação (art. 876, §§5º e 7º), na alienação do bem realizada pelo próprio exequente ou por corretor especializado (art. 880), alienação no leilão judicial por arrematação, que normalmente ocorre por quem não é o exequente. E, por fim, a intervenção anômala por parte dos credores para discussão do direito de preferência. 18Desconsideração da personalidade jurídica e a questão do bem de família:“[...] A proteção legal conferida ao bem de família pela Lei nº 8.009/1990, consectária da guarida constitucional e internacional do direito à moradia, não tem como destinatária apenas a pessoa do devedor. Protege-se também sua família, quanto ao fundamental direito à vida digna. Assim, a determinação judicial de que, mediante desconsideração da personalidade jurídica da empresa falida, fossem arrecadados bens protegidos pela Lei nº 8.009/1990 traduz-se em responsabilização não apenas dos sócios pelo insucesso da empresa, mas da própria entidade familiar, que deve contar com especial proteção do Estado por imperativo constitucional (art. 226, caput). 2. A desconsideração da personalidade jurídica, por si só, não afasta a impenhorabilidade do bem de família, salvo se os atos que ensejaram a disregard também se ajustarem às exceções legais. Essas devem ser interpretadas restritivamente, não se podendo, por analogia ou esforço hermenêutico, apanhar situações não previstas em lei, de modo a superar a proteção conferida à entidade familiar” (REsp 1.433.636/SP, 4ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, p. 15.10.2014). 19 Neves, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil – Volume único/ Daniel Amorim Assumpção Neves – 9. ed. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2017, p. 1093. 31 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 4.2 - Competência A regra de competência em sede executiva será diferenciada de acordo com o objeto da execução, sendo uma referente ao processo de execução de títulos executivos judiciais e outra referente ao processo de execução de títulos executivos extrajudiciais. Competência nas execuções fundadas em títulos executivos judiciais A competência na execução iniciada por meio do cumprimento de sentença, tem regras de fixação dispostas no art. 516, CPC. Quando o processo de conhecimento for de competência originária de tribunal (como se dá, por exemplo, quando proposta “ação rescisória”), será competente (por aplicação do critério funcional de fixação da competência interna) para a execução o próprio tribunal (art. 516, I). Esta é regra aplicável a todos os tribunais, inclusive aos Tribunais Superiores e ao Supremo Tribunal Federal, nos casos de sua competência originária. Pois nessas hipóteses será preciso verificar, no Regimento Interno do Tribunal, a quem compete atuar como juiz da execução. Assim, por exemplo, no Supremo Tribunal Federal, a competência executiva é sempre do relator do processo de conhecimento (arts. 21, II, e 341 do RISTF). Já no Superior Tribunal de Justiça, a competência executiva é do Presidente da Corte quando é sua a decisão exequenda, e também quando tal decisão for do Plenário ou da Corte Especial (art. 301, I e II, do RISTJ); do Presidente do órgão fracionário (Seção ou Turma), quanto às suas decisões monocráticas ou às decisões dos órgãos que presidem (art. 302, I e II, do RISTJ); ou do relator, quanto às suas decisões acautelatórias ou de instrução e direção do processo (art. 302, III, do RISTJ). Nas hipóteses em que o processo de conhecimento (fase cognitiva do processo sincrético) tiver tramitado originariamente pelo juízo de primeira instância, será do mesmo órgão jurisdicional a competência funcional para a execução (art. 516, II), existindo, também, a possibilidade de promover a cisão da execução, nas regras estabelecidas no art. 516, parágrafo único. E, nos casos de execução de sentença penal condenatória de sentença arbitral ou de sentença estrangeira homologada pelo STJ, a competência será pelas regras gerais determinadas na competência interna (art. 516, III e arts. 42 a 66 e art. 32 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 109, X, CRFB/88). Contudo, apesar das regras especificas, poderá o exequente optar por promover a execução nas regras gerais, quais sejam, foro do domicílio atual do executado, no lugar onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou no lugar onde deve ser cumprida a obrigação de fazer ou não fazer (art. 516, parágrafo único). Competência nas execuções fundadas em títulos executivos extrajudiciais Já no que diz respeito à competência para a execução fundada em título extrajudicial, o regime é diferente. A regra geral é a da fixação da competência pelos critérios gerais de determinação da competência interna (art. 781, caput), sendo a matéria tratada pelos arts. 42 a 66. Nesse sentido, a execução poderá ser proposta no foro do domicílio do executado, no foro de eleição constante do título ou no lugar onde situados os bens a ela sujeitos (art. 781, I); tendo mais de um domicílio o executado, a execução poderá ser em qualquer um deles (art. 781, II); sendo o domicílio do executado incerto ou desconhecido poderá se proposta no lugar onde for encontrado ou no foro do domicilio do exequente (art. 781, III); havendo mais de um executado com diferentes domicílios, a execução poderá ser feita em qualquer um dos endereços, ficando a cargo do exequente a opção de escolha (art. 781, IV); a execução poder ser sempre proposta no foro onde se praticou o ato ou em que ocorreu o fato que originou o título (art. 781, V). Contudo, apesar das regras atinentes à competência, o art. 68, CPC preconiza que os juízos poderão formular entre si pedido de cooperação para a prática de qualquer ato processual, e essa cooperação pode ocorrer no plano internacional ou no âmbito nacional, podendo ser feita por auxílio direto ou por carta de ordem ou precatórias ou rogatórias. (arts. 28, 34, 36, 69, CPC). Assim, para facilitar nossa fixação, o quadro abaixo demonstra as regras de competência nos processos de execução, no qual o exequente poderá propor a ação em qualquer dos seguintes foros. REGRAS GERAIS a) de domicílio do executado; 33 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 b) de eleição c) de situação dos bens sujeitos à execução; d) do lugar em que se praticou o ato ou em que ocorreu o fato que deu origem ao título, mesmo que nele não resida o executado ESPECIFICIDADES a. devedor com mais de um domicílio: a ação pode ser proposta em qualquer deles; b. devedor com domicílio incerto: a ação pode ser proposta no local em que ele for encontrado ou do domicílio do exequente; c. pluralidade de devedores com domicílios distintos: o exequente pode escolher o foro de domicílio de qualquer um deles. Conflito de Competência no processo de execução Assim como ocorre no processo de conhecimento, pode ser que ocorra conflito de competência em relação aos processos executivos. O conflito de competência ocorre quando dois ou mais juízes se dizem competentes para apreciação da causa. E ocorrendo isso, aplica-se o art. 771, CPC, no qual remete à aplicação das regras relativas ao processo de conhecimento. Nesse sentido, vale a leitura da jurisprudência temática: “Conflito de competência. Processo civil. Execução de sentença proferida pela Justiça Estadual. Art. 575, II, do CPC. Intervenção da União no feito. Deslocamento da competência para a Justiça Federal. Estatui o art. 575, II, do CPC que a competência para conhecer de execução fundada em título judicial é do Juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição. 2. Todavia, depreende-se que a intervenção da União no feito executivo, como sucessora processual da extinta RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A), enseja o 34 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 deslocamento da competência para a Justiça Federal (art. 109, I, da Constituição da República). 3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 3ª Vara e Juizado Especial Previdenciário de Santo Ângelo – SJ/RS, o suscitante” (STJ, CC 54.762/RS, 1ª Seção, Rel. Min. Eliana Calmon, j. 14.03.2007, DJU 09.04.2007, p. 219). “Conflito negativo de competência. Execução. Carta precatória. Embargos de terceiro. 1. O pedido de retenção por benfeitorias contém discussão ampla, envolvendo a própria ordem, do Juízo deprecante, de apreensão do bem, ao final, adjudicado. Embora o Juízo deprecado tenha praticado atos decisórios, a determinação quanto à constrição do bem, sobre o qual se pretende a retenção por benfeitorias, partiu do Juízo deprecante, suscitante. Nessa hipótese, a análise de questões relativas à retenção de benfeitorias no imóvel adjudicado compete ao Juízo deprecante, mormente porque o Juiz Estadual, ao cumprir carta precatória expedida por Juiz Federal, não age investido de jurisdição federal. 2. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 1ª Vara de Criciúma – SJ/SC” (STJ, CC 54.682/SC, 2ª Seção, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 22.11.2006, DJU 01.02.2007, p. 390). 4.3 - Petição Inicial 4.3.1 - Conceito Conceitualmente, petição inicial é o instrumento da demanda, ou seja, documento formal que materializa a pretensão autoral frente ao Poder Judiciário, devendo ser composta por algumas regras e formalidades previstas em lei. O procedimento executivo nem sempre será iniciado por uma petição inicial, na realidade, a exigência dessa peça é específica do processo autônomo de execução, ou seja, nos casos de execução de títulos executivos extrajudiciais o processo será iniciado por meio de petição inicial que deverá conter todos os requisitos de validade de uma petição inicial. 35 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 Nos casos de cumprimento de sentença, meio pelo qual se deflagra a execução de títulos executivos judiciais, não é necessária uma petição inicial, mas sim uma petição que exponha, de maneira clara e objetiva, sobre as partes, a causa de pedir e o pedido. 4.3.2 - Requisitos de validade A petição inicial para dar início ao processo autônomo de execução deve observar alguns requisitos de validade, aplicando-se as disposições dos arts. 319 e 320, CPC, bem como os requisitos específicos do art. 798, CPC. Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente: I - instruir a petição inicial com: a) o título executivo extrajudicial; b) o demonstrativo do débito atualizado até a data de propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia certa; c) a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso; d) a prova, se for o caso, de que adimpliu a contraprestação que lhe corresponde ou que lhe assegura o cumprimento, se o executado não for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a contraprestação do exequente; II - indicar: a) a espécie de execução de sua preferência, quando por mais de um modo puder ser realizada; b) os nomes completos do exequente e do executado e seus números de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica; c) os bens suscetíveis de penhora, sempre que possível. Parágrafo único. O demonstrativo do débito deverá conter: I - o índice de correção monetária adotado; II - a taxa de juros aplicada; 36 UCAM ARARUAMA – 9º PERÍODO – PROCESSO CIVIL IV - SEMESTRE 2020.1 III - os termos inicial e final de incidência do índice de correção monetária e da taxa de juros utilizados; IV - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso; V - a especificação de desconto obrigatório realizado. Art. 799. Incumbe ainda ao exequente: I - requerer a intimação do credor pignoratício, hipotecário, anticrético ou fiduciário, quando a penhora recair sobre bens gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária; II - requerer a intimação do titular de usufruto, uso ou habitação, quando a penhora recair sobre bem gravado por usufruto, uso ou habitação; III - requerer a intimação do promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação ao qual haja promessa de compra e venda registrada; IV - requerer a intimação do promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito aquisitivo derivado de promessa de compra e venda registrada; V - requerer a intimação do superficiário, enfiteuta ou concessionário, em caso de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre imóvel submetido ao regime do direito de superfície, enfiteuse ou concessão; VI - requerer a intimação do proprietário de terreno com regime de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia
Compartilhar