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REVISÃO O ferro é um íon adquirido por meio da alimentação, principalmente através da ingesta carnes e laticínios. O ferro adquirido por alimentos orgânicos é denominado heme, ferroso, com carga positiva de 2, já o ferro advindo dos alimentos inorgânicos é ferroso ou não heme não é tão facilmente absorvível, tendo que passar por diversos fatores para isso. O ferro férrico depende, inclusive, da acidez gástrica para ser convertido na forma ferrosa, e essa reação é facilitada pelo ácido ascórbico e dificultado pela presença de fitatos e tanatos. O ferro corporal é usando em 75% para composição da hemoglobina, cerca de 10% corresponde à quantidade das mioglobinas, 5% para formação de citocromos e outas proteínas e o restante está armazenado em alguns órgãos, como o fígado. Apesar da dieta ocidental diária contemplar 20mg de ferro, em média, ocorre absorção apenas de 1 a 2mg. A deficiência de ácido fólico ou de vitamina 12 também provocam danos hematológicos semelhantes, mas com diversas manifestações distintas. ANEMIA FERROPRIVA 1. Etiologia Doença hematológica advinda da deficiência do ferro. caracterizada pela microcitose e hipocromia, já que a ausência não permite a formação normal da hemácia, com isso, sua morfologia apresenta-se de forma diferente, também demonstrando anisocitose, porque são formadas hemácias de diferentes tamanhos, e poiquilocitose, por serem anormais. A contagem de reticulócitos está normal ou baixa, tendo em vista que o problema não é a formação das hemácias nas quantidades suficientes, mas com forma e função alteradas. Em 80% dos casos, ocorre trombocitose, sendo presente não pela falta de ferro, mas por sangramentos que o paciente apresenta. É importante atentar que o VCM varia conforme os valores da hemoglobina sejam alterados. Com isso, a apresentação de microcitose ocorre em estados mais avançados da anemia, quando a Hb<10g/dL, sendo nas fases inicias caracterizada como normocítica. 2. Epidemiologia É a principal causa de anemia microcítica no mundo, atingindo entre 10 a 38% da população nos países em desenvolvimento. 3. Diagnóstico Tido por meio do hemograma, ao confirmar anemia, pelos valores de hematócrito e hemoglobina, mas também por exames complementares que revelam a deficiência férrica. • Mielograma Biopsiar a medula pela coloração de azul da Prússia (Perls’) e que dá a coloração azul em presença do ferro. É o padrão-ouro, mas pouco utilizado por ser invasivo e de difícil acessibilidade. Por isso, atualmente, a deficiência de ferro é identificada pela realização de quatro exames que são chamados de perfil do ferro. • Perfil do ferro ✓ Ferro sérico baixo (60 a 150 mcg/dL) ✓ Saturação de transferina baixa (20 a 40%) – ferropenia 10 a 15% ✓ Ferritina sérica baixa (20-50 ng/mL) – ferropenia <15ng/mL ✓ CTLF/TIBC alto (300 a 360 mcg/dL) ✓ Receptor solúvel de TF alto – opcional O ferro sérico isoladamente não é confiável, porque a coleta próxima a alterações de humor e algumas refeições, por exemplo, podem alterar esses dados, mas ele serve como base para a saturação de transferrina, caso seja dividido pelo TIBC. Apesar desses exames serem importantes, apenas a ferritina sérica e suficiente para diagnosticar essa deficiência se já indicar dosagem baixa. Mas em caso de não indicar a ferropenia, ela não exclui a possibilidade de diagnóstico, já que ela é formada pela porção proteica – apoferritina – e pela porção do ferro, e o exame detecta apenas a apoferritina, não informando sobre a presença de ferro. Em casos de inflamação aguda, em resposta à secreção de interleucinas, o fígado secreta apoferritina no sangue, possuindo ou não ferro associado. • Investigar sangramento crônico Em condições em que o ferro está alterado, mas não há certeza do motivo, deve-se investigar, principalmente, em adultos com mais de 40 anos a possibilidade de sangramentos no TGI por meio de EDA e colonoscopia. Em caso de não ter nenhum achado, pode-se escolher outros exames a depender da suspeita clínica. 4. Tratamento • Determinar o local de sangramento e buscar alternativas para que seja cessado • Orientação dietérica: aumento da ingesta de carne vermelha e fígado e vitamina C ou cítricos e adequações para dietas restritas Diagnóstico diferencial e manejo das anemias carenciais Clínica Integrada de Hematologia – aula 3 Nicole Sarmento Queiroga Figura 1. Microscopia da anemia ferropriva. • Administração VO de sulfato ferroso 300mg (60g de Fe elementar), 3x ao dia, 1h antes das refeições com suco cítrico ou vitamina C A orientação é que seja administrado pelo menos 200mg de ferro por dia, mas dividido em 2 ou 3 doses. No SUS, a disponibilidade do sulfato ferroso possui apenas 40mg de ferro elementar em uma cápsula, sendo indicado fazer o uso de 5 a 6 comprimidos por dia. Inicialmente ocorre reticulocitose, a partir do 4º dia de tratamento, atingindo pico no 10º dia, o que pode servir como referência para saber se o problema era a falta de ferro. A correção da hemoglobina é feita entre 4-6 semanas e a reposição do ferro deve ser feita até que se atinja o estoque de ferro, podendo variar de 4 meses a 1 ano, em geral, quando hemoglobina é maior que 12 g/dL e ferritina maior que 30 ng/mL. Em caso de pacientes com má absorção, intolerância aos preparos orais, perdas superiores à reposição máxima, é indicado o tratamento endovenoso. Noripurum é a opção mais utilizada, em que 1 ampola contém 5mL e 100mg de ferro. Para determinar a quantidade de ferro a ser infundida deve-se realizar 15 − 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝐻𝑏 𝑥 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑥 2,4 + 500. A administração é feita em 15min e a proporção de diluição é uma ampola para cada 100mL de SF. Importante lembrar que a dose máxima infundida por semana de ferro deve ser 500mg/semana. ANEMIA MEGALOBLÁSTICA 1. Etiologia Doença causada pela deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico, em que os achados são células precursoras gigantes com degeneração da cromatina nuclear em medula óssea – megaloblastos – pela síntese de DNA defeituosa. Apresenta importante macrocitose (podendo ter aspecto ovalado) hiporregenerativa, devido à falha da síntese de DNA, acima de 110, com presenta de neutrófilos multisegmentares (>5 lobos), que é patognomônico, mas presente apenas na hematoscopia. Os reticulócitos apresentam-se normais ou diminuídos, o que é denominado de desvio à direita. É comum apresentar pancitopenia, já que a síntese do DNA de todas as células de origem medular dependem da presença desses fatores. 2. Manifestações clínicas • Cansaço, tontura, irritabilidade, cefaleia • Glossite, estomatite, atrofia de papilas • Manifestações neurológicas em caso de deficiência por B12 ✓ Parestesia ✓ Demência ✓ Romberg +, Babinski + ✓ Marcha atáxica ✓ Síndrome dos sistemas combinados (cordão posterior e feixes piramidais) 3. Epidemiologia Mais comum em adultos acima de 40 anos, sem predileção por sexo. 4. Diagnóstico Tido por meio do hemograma, ao confirmar anemia, pelos valores de hematócrito e hemoglobina, mas também por exames complementares para determinar qual elemento está promovendo essa situação. • Ácido fólico ✓ Folato de hemácias ✓ Folato sérico baixo É o folato de hemácias o exame padrão-ouro para detecção da deficiência de ácido fólico, mas não é de fácil acesso, então o sérico é mais utilizado, mas é muito falho e incerto. Então é um diagnóstico de exclusão, em que é feita primeiro a investigação de deficiência de B12 e, ao não ser essa a causa, busca-se informações sobre o ácido fólico. ✓ Níveis séricos de B12 aumentados (>300/dL) ✓ DHL sérico aumentado ✓ Bilirrubina indireta elevada ✓ Haptoglobina diminuída ✓ Elevação da homocisteína sérica Pode-se analisar a deficiência de folato por meio da eritropoieseineficaz, quando ocorre a destruição celular na medula óssea. Os três primeiros não conseguem determinar que a deficiência é por folato, mas conseguem identificar destruição celular, compostos resultantes da hemólise e redução da proteína de transporte sérica há hemoglobina, respectivamente. A dosagem de homocisteína não é confirmatória para deficiência de folato, mas caracteriza que pode ser um dos problemas, já que depende de um deles para ser convertido em metionina. • Vitamina B12 ✓ Níveis séricos de B12 diminuídos (<150pg/dL) ✓ DHL sérico aumentado ✓ Bilirrubina indireta elevada ✓ Haptoglobina diminuída ✓ Elevação da homocisteína sérica ✓ Elevação do ácido metilmalônico O exame padrão-ouro é a dosagem sérica da B12, em caso de estar entre 150 e 300pg/dL, diz-se estar em situação de penumbra, aí a associação com a dosagem de metilmalônico para confirmação. 5. Tratamento • Ácido fólico ✓ Reposição com ácido fólico de 1-2mg/dia A apresentação comercial existente é de comprimido 5mg, que deve ser feita 1x ao dia. Em caso de situações em que a deficiência é reversível, como gestantes, deficiência alimentar ou por efeitos farmacológicos, deve ser administrado até que a haja normalização da condição e se for irreversível, deve fazer o uso continuo. A opção parenteral está reservada para pacientes com dieta parenteral e em alguns protocolos de tratamento de câncer e sua apresentação é por meio de ácido folínico. • Vitamina B12 Figura 2. Megaloblastos. Figura 3. Neutrófilos multisegmentares. ✓ Administração de cobalamina parenteral 1000mcg IM 1x/semana por 8 semanas, depois 1x a cada 1-3 meses ✓ Megadose oral de metilcobalamina 1000U sublingual Raramente a deficiência de vitamina B12 é por alimentação, mas por questões de absorção, ou seja, irreversível. Na fase inicial, quando o paciente está em grande déficit, é indicado a via parenteral e depois pode ser feita a manutenção com via oral. É analisado a reticulose entre 5º e 10º dia de tratamento. Pode apresentar alguns efeitos adversos como hipocalemia e retenção sódica. 6. Anemia perniciosa É a principal causa de deficiência de vitamina B12, que é uma doença autoimune presença de anticorpos anti-célula parietal (mais sensível) e anti-fator intrínseco (mais especifico), evoluindo para gastrite crônica atrófica, promovendo ausência ou insuficiência do FI. Como a reserva de B12 consegue manter os indivíduos sem danos por até anos, no momento do diagnóstico já se tem uma atrofia irreversível. Além disso, ocorre hipocloridia, o que, por feedback positivo, aumenta os níveis de gastrina, de modo que são sujeitos ao desenvolvimento de adenocarcinoma, e também pode promover a deficiência de ferro, que depende do pH ácido para se ligar a proteínas. A comprovação da gastrite atrófica deve ser comprovada pela EDA e pela dosagem dos anticorpos. Há uma forte associação entre anemia perniciosa e vitiligo ou Hashimoto. Em situações de impossibilidade de realização de exames, pode-se iniciar o teste terapêutico, mas NUNCA deve ser administrado apenas ácido fólico (administração disponível de 5mg) porque a pouca quantidade de vitamina B12 vai ser desviada para a hematopoiese e vai faltar para o SNC, provocando deteriorização rápida dos sintomas neurológicos, em caso de deficiência por B12. Logo, a opção é iniciar com administração das duas vitaminas ou só da B12, fazendo o acompanhamento dos valores de hemoglobina, DHL.
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