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Cardiologia ↣ Sobrecargas Cavitárias As sobrecargas em algumas literaturas têm a denominação de hipertrofias de câmaras, o que não é ideal para a discussão de um diagnóstico via ECG, uma vez que as hipertrofias só são visíveis em exames de imagem (ecocardiograma ou ressonância). As sobrecargas podem ser particulares de cada câmara (AD, AE, VD e VE) causando hipertrofias musculares, mas com o tempo esta deformidade repercute para as outras câmaras do ♡. Onda P oferece informações sobre as sobrecargas atriais Complexo QRS e onda T tem informações das sobrecargas ventriculares Sobrecarga do átrio direito Quando há a hipertrofia dos átrios, o crescimento é desigual: ▪ AD→ Cresce verticalmente ▪ AE→ Cresce na horizontal As alterações volumétricas ou pressóricas que causam as sobrecargas são transmitidas retrogradamente, ou seja, para compreender as etiologias das sobrecargas do AD devemos pensar em alterações anatômicas posteriores a esta cavidade. Etiologias adquiridas Etiologias congênitas Hipertensão pulmonar Estenose/insuficiência tricúspide Estenose’/insuficiência pulmonar Forame oval patente Tetralogia de Fallot Atresia tricúspide Persistência do canal arterial Anomalia de Ebstein Síndrome de Lutembacher Estenose→ dificuldade de abrir a válvula (sobrecarga de pressão) Insuficiência→ dificuldade de fechar a válvula (sobrecarga volumétrica) Dentre as valvopatias, as disfunções de tricúspide cursam com maiores diâmetros de átrio direito, isso porque o defeito na tricúspide afeta o esvaziamento do átrio (estenose) ou mesmo causar um retorno do sangue regurgitado pelo VD (insuficiência). Além das patologias valvares à direita, as disfunções da valva mitral, e mais raramente da valva aórtica, também poderiam, em estágios mais avançados (já com hipertensão arterial pulmonar), gerar uma sobrecarga deste átrio. Isso porque uma hipertensão do leito arterial do pulmão dificulta a ejeção do sangue de ventrículo direito, o que, de forma retrógrada, sobrecarregará também o átrio direito. Então, todas as causas de hipertensão arterial pulmonar (DPOC e embolia pulmonar) apresentam-se como potenciais etiologias dos aumentos pressóricos do lado direito do coração. A visualização dos distúrbios deve ser avaliada na onda P de DII e V1. DII Normal V1 Normal DII Bimodal 1º 1/3 simboliza AD 0,03 seg 2º 1/3 0,04 seg 3º 1/3 simboliza AE 0,02 seg Largura <100 ms ou <2,5 mm Altura <2,5 mm Isodiafásica 1ª AD porção + <1,5 mm (duração) <1,5 mm (amplitude) 2ª AE porção – <1 mm (duração) <1,5 mm (amplitude) O AD é responsável pela amplitude (altura), enquanto que o AE é responsável pela duração (largura). Então, a sobrecarga em AD é marcada pelas alterações na amplitude da onda P em DII e V1: Onda P >2,5mm em D2 P pontiaguda em DII, DIII e aVF (P Pulmonale) Aumento da porção + da onda P em V1 ≥ 1,5 mm Desvio do eixo > + 90o A onda P pulmonale faz referência àquela encontrada em etiologias adquirdas e tem exatamente as alterações descritas anteriormente, ou seja, inclusive com desvio do eixo da onda P para a direita, o que faz com que ela em DIII seja maior que em Dl. Já a onda P congenitale está associada a etiologias congênitas e não é comum o desvio do eixo para a direita. Isso porque, nesses casos, o coração encontra-se habitualmente horizontalizado, o que inclusive desvia o eixo de P para a esquerda e faz com que a onda P em Dl seja maior que em DIII. Na sobrecarga atrial com a maior massa a ser repolarizada, eventualmente podemos enxergar uma onda repolarizante que, como sabemos, tem sentido inverso à onda P. Assim é possível existir um infradesnivelamento do segmento PR e até mesmo do segmento ST. O sinal de Penaloza e Tranchesi é uma observação indireta da sobrecarga atrial vista no QRS em V1: com a interposição do AD pelo crescimento, o VD fica mais distante do eletrodo de V1, causando um súbito aumento da amplitude de V1→V2. Sobrecarga do átrio esquerdo Os mesmos princípios de sobrecarga de volume e/ou pressão também se aplicam neste caso, podendo resultar de doenças adquiridas ou congênitas. Etiologias adquiridas Etiologias Congênitas HAS Estenose/insuficiência aórtica Estenose/insuficiência mitral Miocardiopatia hipertrófica Persistência do canal arterial Coarctação da aorta Estenose/insuficiência aórtica Estenose/insuficiência mitral Diferente do átrio direito, as alterações no ECG sugestivas de sobrecarga atrial esquerda são restritas à onda P. Existem 6 critérios principais que são utilizados: a) Aumento da duração da onda P b) Indice de Morris c) Indice de Macruz (≥ 1,7 mm) d) Onda P mitrale e) Aumento da área da onda P f) Desvio do eixo da onda P para esquerda DIII (eixo < 30°) e até mesmo isodifásica em aVF (eixo a 0º) DII onda P ≥ 120 ms (duração) V1 porção – onda P ≥ 1 mm de duração + amplitude (Índice Morris) Onda P bífida (P Mitrale) em DI, DII, aVL, V2-V4 O Índice de Macruz é uma relação entre a largura da onda P e do segmento PR ≥ 1,6 mm; Por outro lado, quando há uma sobrecarga atrial direita, pode haver um aumento do segmento PR sem prolongar a duração da onda P, o que reduziria o íncice até mesmo para valores < 1. Sobrecarga Biatrial Onda P DII com aumento de amplitude >2,5 mm e duração >100ms Índice de Morris: fase – onda P em V1 com área >1 mm As massas cardíacas ventriculares são diferentes de acordo com a idade: VD>VE nos fetos e VE>VD nos adultos, portanto o diagnostico de uma hipertrofia de VD na fase adulta além de rara é grave. Para avaliação das sobrecargas ventriculares, observamos o complexo QRS e a onda T: Hipertrofia de VD e Bloqueio de ramos D→ V1 + V2 Hipertrofia de VE e bloqueios de ramos E→ V5 + V6 Sobrecarga ventricular esquerda O VE é a câmara cardíaca com maior massa muscular, então o complexo QRS é praticamente uma representação exclusiva de VE, compreender isso é importante pois, em seus estágios iniciais, é praticamente impossível determinar uma hipertrofia de VE (já é uma câmara aumentada normalmente, e para o registro do ECG estar diferente, o aumento muscular deve ser muito grande). Causas Primárias Causas Secundárias Miocardiopatias hipertróficas (Cardiopatia de Yamaguchi) HAS Estenose aórtica Coarctação da aorta Insuficiência aórtica e mitral As causas 2ª podem ser divididas em sobrecargas de volume (aumento do pré carga) e sobrecarga de pressão (aumento do pós carga). Nos dois casos há um aumento do estresse nas paredes do VE estimulando a hipertrofia: Pré carga→ tensão na parede ventricular no final da diástole (depende principalmente do retomo venoso). Pós carga→ tensão na parede ventricular no momento da sístole (depende principalmente da resistência vascular periférica, que tem íntima relação com a pressão arterial do paciente). ESTENOSE INSUFICÊNCIA Sobrecarga de Pressão Sobrecarga de Volume ↓ ↓ Pós-Carga Pré-Carga ↓ ↓ Hipertrofia concêntrica Hipertrofia excêntrica ↘ ↙ Alterações morfológicas e funcionais No ECG da sobrecarga de VE o QRS ficará mais positivo nas derivações para onde aponta o seu vetor (lado esquerdo) e mais negativo naqueles de onde “foge” o vetor (lado direito). Resumindo: Aumento da amplitude de R positivo em Dl, aVL,V5 e V6 (R >30 mm) Aumento de S negativo em aVR, V1 e V2 (S >20 mm) Indice de Sokolow Lyon→ S (V1) + R (V5 ou V6) > 35 mm Índice de Cornell→ S (V3) + R (aVL) ♂ >28mm e ♀ >20mm Índice de Gubner→ R(DI) + S(DIII) > 25 mm Critério de Lewis→ [R(DI) – S(DI)] – [R(DIII) – S(DIII)] > 17 mm A onda T pode assumir um padrão de inversão assimétrica em V5-V6 e DI e aVL (Strain). Para evitar diagnósticos errôneos de sobrecarga de VE, tem-se o escore de Romhilt & Estes: Índice de Morris 3 Aumento da Amplitude do Complexo QRS Plano Horizontal: S(V1 ou V2) ou R(V5 ou V6) à 30 mm Plano Frontal: qualquer onda R ou S £ 20 mm 3 Padrão Strain (V5, V6, Dl ou aVL) Sem uso de digitálico Com digitálico 3 1 Desvio do eixo QRS > -30º 2 Aumento do tempo de ativação ventricular ≥ 50 ms 1 Aumento de duração de QRS ≥ 90 ms 1 Uma pontuação de 4 pontos apenas sugere o diagnóstico, enquanto valores > 5 confirmam o diagnóstico eletrocardiográfíco. A diferenciação eletrocardiográfica dos tipos de sobrecarga do VE é extremamente didática, mas infelizmente é pouco confiável. A principal diferença entre as duas classificações ocorre na repolarização ventricular (segmento ST e onda T), sendo melhor observada nas derivações esquerdas (Dl, aVL, V5 e V6). Ondas R altas em V5-V6 e onda S profunda em V1-V2, discreto alargamento do QRS, infradesnível do segmento ST em inferiores, D1 e V5-V6. Como dado extra, excepto no primeiro e no penúltimo batimento, existe um ritmo ectópico atrial (ondas P negativas em inferiores e PR curto). Sobrecarga ventricular direita O ECG é menos sensível ás alterações de sobrecarga no VD, portanto, para ne manifestar no traçado, a hipertrofia desta câmara deve estar elevada para poder “puxar” as resultantes vetoriais para a direita. Causas de sobrecarga ventricular direita Tetralogia de Fallot Hipertensão pulmonar Comunicação interatrial CIA Comunicação interventricular CIV Estenose mitral grave Patologias das valvas tricúspide e pulmonar As alterações podem ser visualizadas nas precordiais V1, V2, V5 e V6: R ampla + S pequena em V1-V2 R pequena + S ampla em V5-V6 Ligeiro aumento da duração de QRS na transição Aumento do tempo ativação ventricular (≥50ms) V1, V2 e V3R T invertida e assimétrica (Strain) em V1 e V2 Infradesnivelamento de segmento ST Desvio do eixo QRS +120º - +180º (DI sempre –) QRS nas frontais tem padrão S1Q3 (rotação horária) QRS nas frontais tem padrão S1S2S3 (ponta para trás) Relação qR aumenta de V1→V2 (Sinal de Sodi-Pallares) Precordiais direitas (V1-V2) Precordiais esquerdas (V5-V6) R > 7 mm S < 2 mm R/S > 1 S > 7 mm R < 5 mm R/S < 1 Padrão de bloqueio Incompleto do ramo direito, desvio do eixo elétrico para a direita (117º), infradesnivelamento do ST e ondas T negativas de V1 a V5. Onda P pulmonale. Sinal de Sodi Pallares Padrão S1Q3T3 ou complexo de McGinn-White no ECG: ECG com taquicardia sinusal (136 bpm) com onda S em D1, onda Q e onda T negativa em D3, achados frequente na embolia pulmonar. Padrão S1S2S3 (embolia pulmonar) amplitude > 1,5mm de S (DI, DII, DIII) Sobrecarga sistólica Sobrecarga diastólica Strain em V5, V6, Dl e aVL Infra desnivelamento do ST HAS Estenose aórtica Supra desnivelamento de ST Onda T simétrica e pontiaguda Insuficiência aórtica e mitral Tempo de ativação ventricular >50ms e padrão strain em V1 Relembrando posicionamento das precordiais