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ABANDONO AFETIVO - MONOGRAFIA FINALIZADA

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS
GABRIELA TIAGO DOS SANTOS
RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO
SANTOS
2018
 RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO 
Monografia apresentada como requisito para a conclusão do curso de bacharelado em Direito na Universidade Católica de Santos - UNISANTOS. 
Orientador: Professor Álvaro Messas. 
SANTOS
2018
GABRIELA TIAGO DOS SANTOS
 RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO 
Monografia apresentada como requisito para a conclusão do curso de bacharelado em Direito na Universidade Católica de Santos - UNISANTOS. 
Orientador: Professor Álvaro Messas. 
Santos, ______ de _________________de 2018.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Professor
____________________________________________
Professor 
RESUMO
A presente monografia versa sobre a possibilidade da responsabilização civil aplicada ao Direito de Família em casos em que houver configurado abandono afetivo. Para tanto, mostra-se de fundamental importância explanar o conceito de Família e sua evolução história, bem como os princípios Constitucionais e Direitos Fundamentais que norteiam o Direito de Familia. Desta forma, o direito a vida, integridade física, à dignidade da pessoa humana, à convivência familiar, princípio da paternidade responsável, princípio da afetividade, bem como os direitos e deveres decorrentes do poder familiar, figuram papel essencial na formação e desenvolvimento de uma criança, e quando estes são violados acarretam danos a quem de direito de forma irreparável. Em consonância a isto, será alvo de estudo a responsabilização civil dos responsáveis e seus pressupostos com o objetivo de compreender sua aplicabilidade de forma coercitiva, preventiva e compensativa quando houver a omissão do dever de cuidado. Desta forma, é questionado se em caso de inadimplemento dos deveres dos responsáveis pela criança pode ser considerado ato ilícito, sendo este pressuposto para uma compensação pecuniária.
Palavras-chave: Direito de família. Responsabilidade civil. Abandono afetivo.
ABSTRACT
This monograph deals with the possibility of civil responsibility for the service of family law in cases that are configured as affective abandonment. Therefore, the concept of Family and its history, as well as the Constitutional principles and Fundamental Rights that the North of Family Law, are fundamentally explanatory. In this way, the right to life, physical health, dignity of the human person, family coexistence, the principle of responsible parenthood, the principle of affection, the rights and duties of authority, the essential role in training and development of a When they are violated entail damage to those of irreparable right. In line with this, it will be the subject of a civil accountability study, and will be compensated when there is an omission of the duty of care. In this way, a question on the non-fulfillment of the duties of the drivers of the child can be considered an unlawful one, being this presupposition for a pecuniary compensation
Keywords: Affective Abandonment - Civil Liability - Family Power
			 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	7
1.ANALISE JURIDICA SOBRE FAMILIA NO BRASIL	9
1.1 Conceito de Família	9
1.2. Evolução Histórica	10
1.3 O Código Civil de 1916 e o Pátrio Poder	12
1.4 A Família sob a ótica da Constituição Federal de 1988	14
1.5 Código Civil de 2002	16
2. PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA	19
2.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana	19
2.2 Principio da Solidariedade Familiar	20
2.3 Princípio da Igualdade Familiar e o Direito a Diferença	23
2.4 Princípio da Liberdade Familiar	24
2.5 Princípio da Afetividade Familiar	25
2.6 Princípio da Convivência familiar	27
2.7. Princípio do melhor interesse da criança	28
3 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL	29
3.1 Conceito de Responsabilidade Civil	29
3.2 Teoria da Responsabilidade Civil	30
3.2.1 Teoria Objetiva	30
3.2.2 Teoria Subjetiva	31
3.4 Ação	32
3.4.1 Dano Material E Moral	32
3.4.2 Nexo de Causalidade	33
4. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS GENITORES PELO ABANDONO AFETIVO	35
4.1 Deveres dos Genitores na Formação dos Filhos	35
4.2 Transtornos Causados Pelo Abandono Afetivo	36
4.2.1 Guarda	38
4.2.2 Regulamentação do Direito de Visita	40
4.3 Abandono Afetivo	41
5.0 ANALISE JURIDICA	43
5.1 Histórico das Decisões e Evolução Jurisprudencial Sobre o Abandono	44
5.2 Posicionamentos Negativo Relacionados À Compensação Por Abandono Afetivo	44
5.3 Posicionamentos Positivos Relacionados À Compensação Por Abandono Afetivo	45
6. CONCLUSÃO	48
REFERÊNCIA	50
 
INTRODUÇÃO
A responsabilidade civil pelo abandono afetivo é tema de grande controvérsia doutrinária e jurisprudencial, no qual tem por objetivo o estudo da reparação do dano causado pelo Abandono Afetivo com a proveito da Responsabilidade Civil. O presente trabalho monográfico apontará as noções gerais acerca da responsabilidade civil focada no âmbito familiar, como base para o estudo mais aprofundado sobre os danos causados pelo abandono afetivo, ou seja, seria possível ou não a sua responsabilização. 
Sendo assim, no primeiro capitulo será pontuado a visão do Código Civil de 1916 do âmbito familiar, bem como as modificações que ocorreram na sociedade com a Constituição Federal de 1988 e o que o Código Civil de 2002 trata quanto as novas estruturas familiares nos dias atuais.
Ademais, será observado no segundo capitulo os princípios norteadores do Direito de Família, bem como aqueles que estão ligados a estrutura familiar propriamente dita. 
Seguindo o CRONOGRAMA, será analisada no terceiro capitulo a responsabilidade civil, bem como seus elementos essenciais e o RESPALDO no âmbito familiar.
 A responsabilidade civil está presente em todos os ramos do direito civil, passando pelo direito de família e abrangendo diversas hipóteses de atos praticados no âmbito familiar que levam a lesões suscetíveis de reparação, as quais podem ser de ordem pessoal ou material.
O Capitulo 4 será o ponto mais crucial da presente monografia, visto que aborda a importância da discussão sobre o abandono afetivo nos dias atuais, bem como as consequências causadas em decorrência do abandono. 
Atualmente o Poder Judiciário teve um grande aumento de ações que discutem a responsabilidade civil dos pais decorrente do abandono afetivo em face de seus filhos. Ainda não há um posicionamento por parte dos tribunais ou da jurisprudência quanto ao tema. O que pude observar no decorrer da presente monografia é que muitos doutrinadores defendem a responsabilidade civil do genitor pelo abandono afetivo, e que o sujeito deve se responsabilizar. Em contrapartida os tribunais têm grande divergência quanto ao assunto, não tendo uma linha de pensamento definida. 
Apesar das divergências doutrinarias e jurisprudências quanto a indenização em face dos danos causados pelo abandono afetivo, muitos psicólogos e estudos apontam que a ausência afetiva dos genitores pode causar a criança e ao adolescente sérios transtornos como depressão, dificuldade em se relacionar, entre outras. 
Por fim será observada as decisões antagônicas proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça, mostrando perspectivas positivas e negativas sobre o tema. Há entendimentos que não reconhecem a responsabilidade do genitor, não sendo passível de indenização. Em contrapartida, há entendimentos que consideram a importância da punição bem como da indenização em decorrência do abandono. 
O presente tema, tem tomado voz nos dias atuais em decorrência à perda de força da relação conjugal, sendo assim, o Poder Judiciário tem que tomar medidas que assegurem os infantes, para que estes não sejam atingidos pelos problemas afetivos de seus genitores. 
Na presente pesquisa será utilizada a metodologia bibliográfica a partir da análise doutrinária, jurisprudencial e artigos científicos. 
1.ANALISE JURIDICA SOBRE FAMILIA NO BRASIL
1.1 Conceito de Família
A Família exerce papel fundamental na formação e desenvolvimentode uma criança ou adolescente, sendo possível notar o reflexo no comportamento e pensamento da convivência familiar na fase da vida adulta e na maioria das vezes nas escolhas de cada indivíduo.
Observa o psicanalista Jacques Lacan:
Entre todos os grupos humanos, a família desempenha papel primordial na transmissão da cultura. Se as tradições espirituais, a manutenção dos ritos e de costumes, a conservação das técnicas e do patrimônio são com ela disputados por outros grupos sociais, a família prevalece na primeira educação, na repressão dos instintos, na aquisição da língua certamente chamada de materna.[footnoteRef:1] [1: LACAN, Jacques - Os Complexos Familiares – 2º Ed. 2008 - p. 125.] 
E ainda:
Ela estabelece desse modo, entre as gerações, uma continuidade psíquica cuja causalidade é de ordem mental.[footnoteRef:2] [2: Ibidem, p. 126] 
Nesta banda, a importância do seio familiar se apresenta de forma essencial e de grande importância psicológica, jurídica, social, no entanto, sua conceituação mostra-se de difícil conceituação por culturalmente ser delimitada a um exacerbado tenicismo.
Uma vez que a Família deixa de ser uma união de grupo de pessoas que possuem finalidade econômica e de reprodução e se transforma em um vínculo afetuoso e amoroso, surgem diversas representações sociais que podem ser definidas por instituições familiares.
Apesar da difícil conceituação, a Constituição Federal de 1988 estabelece em seu caput família como a base da sociedade, gozando de proteção especial do Estado.
A fim de compreender de forma efetiva o significado da palavra Família, consulte-se o Dicionário Houaiss, que traz:
Família s.f. 1. Grupo das pessoas que compartilham a mesma casa, especialmente os pais, filhos, irmãos etc. 2.Pessoas que possuem relação de parentesco. 3. Pessoas cujas estabelecidas pelo casamento, por filiação ou pelo processo de adoção. 4. Grupo de pessoas que compartilham os mesmos antepassados.. 5. Grupo de indivíduos ligados por hábitos, costumes, comportamentos ou interesses oriundos de um mesmo local. 6. Grupo de indivíduos com qualidades ou particularidades semelhantes.[footnoteRef:3] [3: Dicionário Houaiss. Disponível em <https://www.dicio.com.br/familia/> Acesso em: 29 de out. 2018.] 
Portanto, em resumo, poder familiar é um conjunto de direitos e deveres, segundo os responsáveis de fato ou de direito exercem sobre seus filhos, ora crianças, ora adolescentes e ainda por todos os seus bens.
1.2. Evolução Histórica
Nota-se que essa simples palavra pode ser interpretada de várias formas e que nela contém diversos significados. Historicamente isto não ocorre de forma diversa.
Em obra que se mostrou de fundamental importância para a compreensão do instituto familiar, observa ENGELS:
O estudo da história da família data de 1861, com o aparecimento do livro Direito Materno de Bachofen. Nesse livro, o autor faz as seguintes afirmações: 1)nos tempos primitivos, os homens viviam em total promiscuidade sexual; 2) Esse tipo de relação excluía qualquer possibilidade de estabelecer, com segurança, a paternidade, de modo que a filiação só podia ser contada por linha feminina, segundo o direito materno, e que isso ocorria em todos os povos antigos; 3), por conseguinte, as mulheres, como mãe, como únicos genitores conhecidos da nova geração gozavam de elevado grau de apreço e consideração chegando, segundo afirma Bachofen, ao domínio feminino absoluto (ginecocracia); 4) a transição para a monogamia, em que a mulher passava a pertencer a um só homem, encerrava em si uma violação de uma lei religiosa muito antiga (ou seja, efetivamente uma violação do direito tradicional que os outros homens tinham sobre aquela mulher), transgressão que devia ser expiada ou cuja tolerância era compensada com a posse da mulher por outros durante determinado período.[footnoteRef:4] [4: ENGELS, p. 18-19, apud, GAGLIANO, 2013, p. 47] 
Em efeito a isto, de forma histórica, não obstante os modelos de família monogâmicos convivem em diversos países o modelo poligâmico, sendo considerados culturalmente normais por sua densa tradição e religião implantada na antiguidade.
Conforme doutrinas históricas, as relações familiares adquiriram seu caráter de forma afetiva após vários anos, isto porque no próprio significado que a palavra carrega é possível notar que se referia a indivíduos, na época escravos, servos de um mesmo dono.
Famulus (escravo) possuía significado de conjunto de escravos pertencentes a um proprietário. Esta palavra possuía a finalidade de atestar a quantidade de sevos que um indivíduo possuía em seu patrimônio, de forma tão urgente e pontual que designava também o poder da vida e até da morte das pessoas nas mãos de seus patrões.
Em Roma, o significado e a simbologia do conceito de Família se apresenta de forma diversa, sendo está o núcleo econômico, político, social, militar, de cunho religioso e sempre seguindo um sistema patriarcal. Ou seja, a figura paterna era a de maior autoridade, aliais, de absoluta.
Sendo assim, a figura jurídica do direito familiar em Roma consistia no representante mais velho do núcleo de parentes, sendo sempre Homem, exercendo a autoridade sobre os demais integrantes do lar.
O matrimonio, viuvez, menoridade, situação financeira ou qualquer outro aspecto não influenciava na soberania das decisões a serem tomadas pelo membro masculino mais velho.
Vale destacar a função das mulheres neste período, que além de estarem submetidas à autoridade e poder exclusivos de seus maridos, ainda eram submetidas a seguirem o que pode ser nomeado como mão forte. Esta expressão significa que as esposas, após a convolação do matrimonio, passava a ter autoridade de forma igualitária aos seus filhos, de forma a não haver alteração em sua capacidade.
A figura masculina, poderia ainda vender seus filhos ou entes pertencentes ao núcleo familiar, se assim entendesse como o melhor a ser feito não precisando prestar quaisquer esclarecimentos de sua vontade á sua esposa, que como já citado, figurava-nos mesmos direitos que uma filha.
No Brasil, antigamente, era de fácil percepção a influência do Direito de Família Romano, pois a figura masculina possuía autoridade na escolha de profissão de seus filhos, no cônjuge que seria melhor para estes e ainda poderia determinar se sua esposa poderia ou não laborar o que deveria vestir e como deveria se portar de forma a honrar a entidade familiar.
Com a influência Cristã, o caráter citado até então começa a enfraquecer, deslocando de um modelo autoritário a um mais democrático e menos abusivo, chamado pelas doutrinadores e historiadores como família germânica.
Os traços principais deste modelo são a sacralidade da família, a sua importância como instituição, diminuição da autoridade patriarcal e uma maior participação de todos os seus integrantes.
Evidentemente, o direito não fica alheio a todas as estruturas sociais apresentadas, pelo contrário, o direito se adequa conforma a sociedade avança de forma a limitar bem como garantir os direitos e deveres de todos. No Direito de Família não é diferente, verificou-se em meio a cada realidade demonstrada, uma necessidade em proteger o vínculo conjugal como fator de coesão formal da família, ainda que em detrimento da realização pessoas de cada um dos integrantes pertencentes a este núcleo.
Nesta banda, em todas as relações de família, era destacado o adjetivo do sacrifício individual, que sempre contava com o apoio do Estados em suas questões.
O vínculo conjugal possuía caráter insolúvel, e como pode ser notado com o que fora explanado acima, o homem, ora marido e genitor, exercia o poder familiar e autorizava a mulher, ora esposa a praticar certos atos da vida civil.
1.3 O Código Civil de 1916 e o Pátrio Poder
O primeiro Código Civil Brasileiro foi elaborado em 1899, no entanto foi inserido somente em 1916, com o advento da Lei 3.071 de 01 de janeiro de 1916, o qual sua retratação demonstra conservadorismo e um sistema patriarcal, e a figura masculina como um indivíduo superior, de autoridade incontestávele extremo poder no seio familiar.
Tal patriarcal idade poderia ser destacada logo de início, pela figura da mulher casada se tornar após o matrimonio uma pessoa de incapacidade relativa, deixando de possuir controle em sua profissão, em seus atos da vida civil e demais comportamentos perante a sociedade que vivia.
Mulher casada ainda possuía um estatuto que versava sobre suas obrigações e direitos perante a sociedade e dentro do ambiente familiar.
O artigo 223 do Código Civil Brasileiro dispunha que o marido possuía o caráter de chefe da sociedade conjugal e que ele deveria comandar e representar a família em todas as situações.
Vale ressaltar que neste código somente o matrimonio consistia na família legitima, assim, a condição matrimonial levava a distinção entre os filhos. Deste modo, os filhos concebidos fora da relação conjugal não possuíam quaisquer direitos, e ainda contavam com denominações de forma a constrangê-los como espúrios, incestuosos, ilegítimos.
Estes ainda não poderiam contar com o registro de seu genitor quando este se encontrava casado, sendo de responsabilidade total e exclusiva da mãe sustentar e auxiliar a criança ou adolescente em seu desenvolvimento.
Tal feito comprova-se inclusive com o termo bastardo, muito utilizado no código citado.
No entanto, vale ressaltar que neste código o vínculo matrimonial poderia ser desfeito, de forma que surgiu uma verdadeira competição entre o casal no que se refere à guarda dos filhos menores.
Quando não era possível um acordo entre os cônjuges em relação à guarda do infante ou adolescente, o juiz poderia se pronunciar a cerca do fato e decidir quem ficaria com a guarda diante de duas regras especificadas: a) se a sentença que decretasse o desquite reconhecesse um dos cônjuges como culpado, os filhos menores deveriam ser entregues ao cônjuge inocente; b) se ambos fossem reconhecidos como culpados, a mãe teria o direito de ter suas filhas em sua companhia, bem como os filhos homens, até os seis anos de idade. Depois desta idade, os filhos do sexo masculino seriam confiados ao pai.
O primeiro grande marco histórico em nosso país que promovia um rompimento da supremacia masculina foi, sem dúvida, o Estatuto da Mulher Casada de 1962 que modificava alguns pontos em relação ao pátrio poder.
Embora o marido fosse considerado chefe da sociedade conjugal, a mulher expressamente deveria exercer o papel colaborativo no que se referia ao interesse conjugal e em relação aos filhos do casal.
Embora de forma sucinta, começou a ser reconhecida a figura feminina na sociedade conjugar, claro, na condição de companheira e colaboradora, mas sem dúvidas, demonstra um avanço que dificilmente seria considerado historicamente.
Pouco a pouco a mulher foi conseguindo autoridade nos atos da sociedade civil, bem como no âmbito do poder familiar.
1.4 A Família sob a ótica da Constituição Federal de 1988 
Antes do século XIX as mulheres não possuíam qualquer direito, eram criadas para cuidar do lar e dos filhos, enquanto os homens vivenciavam uma cultura machista, na qual o marido era o único provedor do lar. A partir do século XIX os direitos das mulheres foram modificados, lhes dando a liberdade a voto, divórcio, educação e trabalho. Essas modificações no sistema, lhes trouxe a oportunidade de deixar as tarefas do lar e buscarem igualdade entre os gêneros. 
Silvio de Salvo Venosa descreve a mudança desse panorama no ordenamento jurídico
No direito brasileiro, a partir da metade do século XX, paulatinamente, o legislador foi vencendo barreiras e resistências, atribuindo direitos aos filhos ilegítimos e tornando a mulher plenamente capaz, até o ponto culminante que representou a Constituição de 1988, que não mais distingue a origem da filiação, equiparando os direitos dos filhos, nem mais considera a preponderância do varão na sociedade conjugal. A Lei nº 4.121, de 27-8-72, Estatuto da Mulher Casada, que eliminou a incapacidade relativa a mulher casada, inaugura entre nós a era da igualdade entre os cônjuges, sem que, naquele momento, a organização familiar deixasse de ser preponderantemente patriarcal, pois muitas prerrogativas ainda foram mantidas com o varão.[footnoteRef:5] [5: VENOSA. Silvio de Salvo. Direito civil: direito de família. V.6, 3.ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 29.] 
A constituição Federal de 1988 foi a grande marca para as mudanças nos direitos inerentes a homens e mulheres e a discriminação contra a família, passando a proteger todos os entes da unidade, isso pode ser observado no artigo 226.
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração. 
§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. 
§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. 
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010) 
§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. 
§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
 A sociedade que era patriarcal e tradicional, se viu obrigada a proteger as famílias formadas através da união estável, pelo casamento e as monoparental que eram aquelas formadas por qualquer um dos pais. 
Além dos direitos garantidos as mulheres e a entidade familiar, as modificações se estenderam aos filhos havidos ou não do casamento, ou por adoção. [footnoteRef:6] [6: (DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 30-31.)] 
Maria Berenice Dias aponta:
Essas profundas modificações acabaram derrogando inúmeros dispositivos da legislação então em vigor, por não recepcionados pelo novo sistema jurídico. Como lembra Luiz Edson Fachin, após a Constituição, o Código Civil perdeu o papel de lei fundamental do direito de família. [footnoteRef:7] [7: (DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 30-31.)] 
	A carta magna considerou três pontos no âmbito familiar sendo a entidade, o planejamento e a assistência direta à família, dessa forma, trouxe uma nova perspectiva ao âmbito jurídico da família. [footnoteRef:8] [8: (PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. vol. V. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 42.)] 
1.5 Código Civil de 2002
A partir do Código de 2002 foram realizadas diversas alterações do âmbito familiar uma vez que as mulheres passaram a ter direitos semelhantes aos homens. O objetivo dessa alteração era manter uma igualdade social independente do gênero. 
Essas alterações não atingiram apenas as mulheres, mas também as crianças que até então não eram protegidas por lei. Dessa forma, foram instituídas leis de proteção ao menor, na qual os pais deixam de ter direitos e poderes sobre a pessoa e seus filhos e passar a ter deveres e obrigações. O artigo 227 da Constituição Federal é claro sobre tais deveres.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar a criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de qualquer forma de negligencia, discriminação,exploração, violência, crueldade e opressão. 
Partindo dessa premissa, Maria Berenice Dias destaca que “não se trata de um novo código, mas sim da reestruturação de um código antigo”. [footnoteRef:9] [9: CAHALI apud DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 31-32.] 
A sociedade se modificou com o passar dos anos, o que era considerado família tradicional se tornou obsoleto, dessa forma, as alterações no Código de 2002 se dão em razão das modificações nos padrões familiares, para que fosse possível dar amparo legal.
Maria Berenice, faz a seguinte analise sobre os novos modelos de família: 
Funda-se sobre os pilares da responsabilização, da afetividade e da pluralidade, impingindo nova roupagem axiológica ao direito de família. Agora, a tônica reside no indivíduo, e não mais nos bens ou coisas que guarnecem a relação familiar. A família-instituição foi substituída pela família-instrumento, ou seja, ela existe e contribui tanto para o desenvolvimento da personalidade de seus integrantes como para o crescimento e formação da própria sociedade, justificando, com isso, sua proteção pelo Estado.[footnoteRef:10] [10: DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 41.] 
Segundo Maria Berenice Dias a família considerada tradicional, formada por pai, mãe e filhos, instituída pela Igreja e reconhecido pelo estado, tem a finalidade de preservar a moralidade familiar. Para o cristianismo, as únicas relações que se enquadram em seu entendimento são aquelas proveniente do casamento entre homem e mulher. 
Diante dessa premissa, Maria Berenice diz:
				“Essa conservadora cultura, de grande influência no Estado, acabou levando o legislador, no inicio do século passado, a reconhecer juridicamente apenas a união matrimonial.” [footnoteRef:11] [11: DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 32-33.] 
Desta forma, o estado consagrou que o principio que regeria o casamento seria sua indissolubilidade, e seguindo os passos da igreja, o seu rompimento só seria possível com a morte de um dos cônjuges.
Maria Berenice Dias, leciona as modificações a partir disso, que a Constituição de 1988 trouxe:
O casamento era a única forma admissível de formação da família. Foi o constituinte de 1988 quem emprestou especial proteção a entidades familiares outras. Esse prestígio à família atende aos interesses do Estado, pois delega a ela a formação dos seus cidadãos, tarefa que acaba quase sempre onerando exclusivamente a mulher. Há um certo descomprometimento tanto do homem como das entidades públicas e entes governamentais em assumir o encargo de formar e educar crianças e jovens, único meio de assegurar o futuro da sociedade. Por isso é que a Carta Constitucional consagra (CF 226): A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. Em face disso, procurou o Código Civil deixar expressa essa proteção ao proibir qualquer pessoa, de direito público ou privado, de interferir na comunhão de vida instituída pela família (CC 1.513). Desnecessária e pleonástica essa vedação, pois, se fosse necessário impedir interferências, deveria dirigir-se a todas as pessoas, fossem naturais ou jurídicas, sem qualquer limitação.[footnoteRef:12] [12: DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 43.] 
Com o reconhecimento constitucional, foi possível a formação de novos grupos familiares, ou seja, a estrutura familiar informal, qual seja aquela constituída fora do matrimonio legal
2. PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA 
2.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana
O artigo 1, inciso III da Constituição Federal assenta o Principio Da Dignidade da Pessoa Humana sendo este o princípio fundamental do estado democrático de direito e da ordem jurídica. Tal princípio afere demais princípios como cidadania, liberdade, autonomia privada, igualdade e solidariedade. (Berenice pag 44). Deste modo, qualquer ato, conduta ou atitude que equipare a pessoa a uma coisa disponível ou a um objeto, vai contra o princípio da Dignidade.
Kant discorre que:
No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se por em vez dela qualquer outra coisa como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço e, portanto, não permite equivalente, então tem ela dignidade. [footnoteRef:13] [13: LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.60
] 
A doutrina evidencia o caráter intersubjetivo do princípio da dignidade da pessoa humana, ou seja, a existência de um dever de respeito no âmbito da comunidade dos eres humano. Partindo dessa premissa, a família é vista como espaço comunitário por excelência para realização de sua existência digna e da vida em comunhão com as outras pessoas. [footnoteRef:14] [14: Ibidem, p. 61] 
Nas famílias patriarcais, o homem, considerado chefe da família e pessoa de maior poder era dotado de direitos que lhe dava cidadania plena, direitos estes que eram negados ao demais membros da família. Diferente dos dias atuais não era permitido a intervenção pública no espaço privado familiar, dessa forma, para manter o equilíbrio do privado e do público é necessário a garantia do pleno desenvolvimento da dignidade da pessoa humana que integra a comunidade familiar, que ainda é duramente violada na realidade social, principalmente no que diz respeito as crianças. Como mudança nos paradigmas sociais, a Constituição Federal de 2002 traz em seu artigo 227 que não é um direito oponível apenas ao estado, a sociedade ou a estranho, mas também é dever da família garantir as crianças o direito a vida, saúde, cultura, dignidade, ao respeito, a liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de coloca-la a salvo de toda forma de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
Na família tradicional, os direitos se modificaram. A partir do século XX, nomeadamente com o advento do Estatuto da Mulher Casada de 1962, da lei do divórcio de 177 e da Constituição Federal 1988 houve uma emancipação e revelação dos valores pessoais, partindo dessa premissa os valores coletivos da família e os pessoais de cada membro da entidade familiar devem buscar permanentemente o equilíbrio.[footnoteRef:15] [15: LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.61
] 
Paulo Lobo acrescenta:
Consumaram-se na ordem jurídica as condições e possibilidades para que as pessoas, no âmbito das relações familiares, realizem e respeitem reciprocamente suas dignidades como pais, filhos, cônjuges, companheiros, parentes, criança, idosos ainda que a dura realidade da vida nem sempre corresponda a esse desiderato. 
A convenção sobre os direitos da criança de 1990 declara que a criança deve ser preparada para uma vida individual em sociedade, respeitada sua dignidade. O estatuto da criança e do adolescente de 1990 tem por fim assegurar “todos os direitos fundamentais inerentes a pessoa humana” dessas pessoas em desenvolvimento conforme o art. 3º e a absoluta prioridade dos direitos referentes as suas dignidades de acordo com os artigos 4º, 15 e 18. O código civil de 2002 não faz qualquer menção expressa ao princípio, porem, por força da primazia constitucional, este como os demais princípios determinam o sentido fundamental das normas infraconstitucionais. [footnoteRef:16] [16: Ibidem, P. 62] 
Como dito anteriormente, o princípio da dignidade da pessoa humana segundo lobo, está indissoluvelmente ligado a princípio da solidariedade. 
2.2 Principio da Solidariedade Familiar
Dennis Erhard ressalta:
A solidariedade, como categoria ética e moral que se projetou para o mundo jurídico, significa um vínculo de sentimento racionalmente guiado, limitado e autodeterminado que compelea oferta de ajuda, apoiando-se em uma mínima similitude de certos interesses e objetivos, de forma a manter a diferença entre os parceiros na solidariedade. [footnoteRef:17] [17: (dennis erhard “segurança, diversidade e solidariedade” ao invés de “liberdade, igualdade e fraternidade” revista brasileira de estudos políticos, Belo Horizonte: UFMG, n. 88, p 36, dez.2003)] 
Paulo Lobo faz uma menção de Paulo Bonavides em seu livro, apontando que o princípio da solidariedade serve como oxigênio da Constituição Federal, tendo em vista que a partir dela se espraia por todo ordenamento jurídico, conferindo unidade de sentido e auferindo a valoração da ordem normativa constitucional.
O princípio da solidariedade tem assento constitucional, tanto que seu preambulo assegura uma sociedade fraterna. Tal princípio tem origem nos vínculos afetivos, tendo em vista que como expos Erhard trata-se de um conteúdo ético, uma vez que contem em suas entranhas o próprio significado da expressão solidariedade, que se pode resumir em fraternidade e reciprocidade[footnoteRef:18]. [18: (DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. P. 48] 
Esse princípio resulta da superação do individualismo jurídico, que por sua vez é a superação do modo de pensar e viver sociedade a partir do predomínio dos interesses individuais, que marcou os primeiros séculos da modernidade, com reflexos até a atualidade [footnoteRef:19]. [19: LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - ª ed. - Editora Saraiva. P.63] 
O art. 3º inciso I da Constituição é a regra principal do princípio da solidariedade
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - Construir uma sociedade livre, justa e solidária;
No âmbito familiar a solidariedade é o ato reciproco dos cônjuges e companheiros, em especial quando diz respeito a assistência moral e material. A conversão internacional sobre os Direitos da Criança inclui a solidariedade entre os princípios observados.
O Estatuto da Criança e do Adolescente traz em seu artigo 4º o dever não só da família, mas também da sociedade em assegurar as necessidades básicas de vivencia a criança e ao adolescente
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
Partindo dessa premissa a solidariedade em relação aos filhos responde a exigência da pessoa de ser cuidada até atingir a idade adulta, ou seja, de ser mantida, instruída e educada para sua plena formação social. [footnoteRef:20] [20: LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.64] 
Paulo Lobo aponta determinados artigos do Código Civil que se destacam como normas que passam pelo Princípio da Solidariedade familiar. O art. 1.513 do Código Civil tutela a comunhão de vida instituída pela família, somente sendo possível na cooperação entre seus membros. O art. 1.618 que a adoção vem não do dever, mas sim do sentimento de solidariedade. O art. 1.630 que tange o poder familiar, que é menos poder dos pais e mais múnus ou serviço que deve ser exercido no interesse dos filhos. Os artigos 1.566, 1.567 e 1.724 apontam a colaboração dos cônjuges na direção da família, a mutua assistência moral e matéria entre eles e entre companheiros, que são deveres hauridos da solidariedade. O art. 1.568 que dispõe que os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos rendimentos para o sustento da família. Os art. 1.694, 1.700 e 1.707 que dispõem o dever de prestar alimentos a parentes, cônjuge e companheiros, que pode ser transmitido aos herdeiros no limite dos seus bens que receberam, além de ser irrenunciável, decorre da imposição de solidariedade entre pessoas ligadas. 
2.3 Princípio da Igualdade Familiar e o Direito a Diferença
A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º traduz que todos são iguais perante a lei. 
Maria Berenice Dias assegura dizeres da Carta Magna de 1988, sendo:
 Além de pontuar em seu preambulo, a Constituição Federal reafirmou a igualdade entre homens e mulheres, visto que estes são iguais em direitos, obrigações e deveres referentes a sociedade conjugal nos artigos 5º, inciso I da CF e artigo 226 §5º da CF), deste modo, a constituição considerou o Princípio da Igualdade, além de se tornar o grande artífice do princípio da isonomia no direito das famílias. O princípio da igualdade não se limitou aos direitos entres homens e mulheres, uma vez que vetou qualquer ato discriminatório em face dos filhos havidos ou não do casamento ou por adoção (art.227 §6º da CF). Em respeito ao Princípio da igualdade, o artigo 1.565 §2º do Código Civil e o artigo 226 §7º da Constituição Federal aponta a livre decisão dos cônjuges no que tange o planejamento familiar, sendo vedada qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas. A intervenção do Estado é limitada devendo ele propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito. [footnoteRef:21] [21: (DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. P. 69] 
Maria Helena Diniz leciona que:
 A partir desse princípio o poder marital desaparece junto com a sociedade patriarcal, sendo substituído pelas decisões conjunta e indivisas que devem ser tomadas entre os conviventes ou entre os cônjuges, visto que atualmente faz se obrigatório que ambos tenhas os mesmos direitos e deveres referentes à sociedade convivencial ou conjugal. (art. 226 §5 da Constituição Federal) (artigos 1.5111, 1.565 a 1.570, 1.631, 1.634, 1.643, 1.647, 1.650, 1.651 e 1.724 do Código Civil).
Nos dizeres de Maria Helena Diniz o princípio da igualdade jurídica entre os filhos, preceitua que: 
É possível o reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento. Independente dos filhos serem naturais, adotivos ou legítimos não se pode haver qualquer distinção no que tange nome, direitos, poder familiar, alimentos e sucessão, bem como é vedado a revelação no ato do nascimento a ilegitimidade pura e simples e também as designações discriminatórias relativas à filiação. [footnoteRef:22] [22: (Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 62-63. 70 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, vol. 5: direito de família. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 63] 
Deste modo podemos considerar a importância de tal princípio que vislumbrou a igualdade e respeito entre as diferenças no âmbito familiar, trazendo inovações igualitárias na relação entre os cônjuges e entre os filhos, além de pôr fim a desigualdades que perduraram décadas na sociedade brasileira.
2.4 Princípio da Liberdade Familiar	
Segundo lobo, podemos observar que
O princípio da liberdade é a livre arbitrariedade de constituição, realização e extinção de entidade familiar, sem imposição ou restrições externas de parentes, da sociedade ou do legislador, ou seja, a livre aquisição e administração do patrimônio familiar, o livre planejamento familiar a livre definição dos modelos educacionais, dos valores culturais e religiosos á livre formação dos filhos, desde que respeitadas suas dignidades como pessoas humana; a liberdade de agir, assentada no respeito a integridade física, mental e moral. [footnoteRef:23] [23: LÔBO, Paulo Luiz Netto- DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.69] 
Como podemos analisar no início do referido trabalho, a família no Século XIX era patriarcal, rígida e estática, onde mulheres e filhos não tinham direito a liberdade de expressão, não era possível contrariar o modelo matrimonial e patriarcal. Esposas eram submissas aos seus maridos bem como os filhos eram submetidos ao poder paterno. 
Maria Berenice diz
A Constituição Federal ao instaurar o regime democrático, revelou enorme preocupação em banir discriminações no âmbito familiar. Todo tem a liberdade de escolher o seu par, seja do sexo que for, bem como o tipo de entidade que quiser para constituir sua família. A isonomia de tratamento jurídico permite que se considerem iguais marido e mulher em relação ao papel que desemprenham na chefia da sociedade conjugal. 
A partir do Século XX surgiram mudanças no exercício da liberdade familiar, onde passou a prevalecer a democracia, dando liberdade e direitos as mulheres e aos filhos, deixando de lado o autoritarismo da família tradicional. 
Paulo Lobo assinala
 Na Constituição Federal e nas leis atuais o princípio da liberdade na família apresenta duas vertentes essenciais: liberdade da entidade familiar diante do estado e da sociedade, e liberdade de cada membro diante dos outros membros e da própria entidade familiar. A liberdade se realiza na Constituição Federal, manutenção e extinção da entidade familiar, no planejamento familiar, eu é “livre decisão do casal” (art. 226 §7 da Constituição Federal) sem interferências pub ou privadas; na garantia contra a violência, exploração e opressão no seio familiar; na organização familiar mais democrática, participativa e solidaria.[footnoteRef:24] [24: DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 39-40.] 
2.5 Princípio da Afetividade Familiar
O princípio da afetividade é oriundo do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.
Denomina-se Afetividade o amor, carinho e relações de cuidado e preocupação entre indivíduos que pertencem a um determinado núcleo em comum, seja ele de cunho familiar, ou não.
Como visto historicamente, a família seguia o modelo patriarcal, e que todas as decisões no ambiente do lar eram tomadas pela figura masculina, sem quaisquer participações dos demais participantes da unidade. Visto isso, a família possuía cunho produtivo e reprodutivo, bastando haver avanços financeiros e patrimoniais, não sendo levado em consideração quaisquer satisfações pessoais dos componentes deste núcleo familiar.
No entanto, ao decorrer do tempo, houve um declínio da entidade patriarcal e o surgimento de uma sociedade que transformou a estrutura familiar, podendo ser citado à inclusão da mulher no mercado de trabalho, uma vez que esta não dependia de autorização para isto de seu marido, previsão do divórcio e ainda a igualdade entre o homem e a mulher.
A afetividade assim ganhou espaço, chegando a ser considerado elemento essencial para que ocorra uma boa estrutura familiar, caso assim não o fosse, haveriam simplesmente pessoas relacionadas biologicamente, totalmente descompromissadas que seriam insuficientes para fornecer o bom desenvolvimento da pessoa, vez que não formam família.
Atualmente a palavra família está ligada automaticamente à afetividade e sem ela a sociedade não reconhece o vínculo familiar pela sociedade.
Nesse contexto Rodrigo da Cunha Pereira afirma que: 
A família faz sentido para o Estado na medida em que é veículo proporcionador à promoção da dignidade de seus membros, e por isso a ordem jurídica considerou a afetividade como princípio, uma vez que em prol deste que houve a individualização da família, ou seja, o afeto se tornou o requisito elementar responsável pelo desencadeamento dos efeitos jurídicos.[footnoteRef:25] [25: PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios Fundamentais Norteadores para o Direito de Família. Belo Horizonte: DelRey, 2006. p. 183.] 
A Constituição Federal Brasileira consolidou esse entendimento em seu artigo 226, parágrafo 8º, ao determinar:
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] § 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
Ademais, vale ressaltar que a grande consequência do princípio da afetividade foi transformar o conceito literal de afeto, ligado apenas ao amor, para aquele que garante o cumprimento das funções parentais através do cuidado e assistência aos filhos. E esse enquadramento de afetividade como valor jurídico é um dever imposto aos pais para com seus filhos e também de forma recíproca.
Diante o exposto sobre o princípio da afetividade e sua ligação com os outros princípios, faz-se necessário esmiuçar de formar particular o princípio da convivência familiar, uma vez que este, apesar de ser proporcionador da afetividade, é um princípio regido por regras próprias e defendido explicita e individualmente na Constituição Federal.
2.6 Princípio da Convivência familiar
Lobo define a convivência familiar como a relação afetiva diuturna e duradoura entretecida por aqueles que compõem o âmbito familiar, em decorrência dos vínculos de parentesco ou não, em um ambiente comum. 
O artigo 5º inciso XI da Constituição Federal determina a casa sendo asilo inviolável do indivíduo, desta forma, ninguém pode introduzir-se sem autorização do morador. 
Sendo assim, podemos entender que o lar é uma identidade própria de cada individuo, fazendo-se necessário estabelecer tal proteção, não sendo possível submete-la a espaço publica uma vez que ela é a base para a convivência familiar se construa de modo estável mantendo a identidade coletiva própria de cada família. 
Ademais, ainda que os pais sejam divorciados, isso não deve atingir o convívio familiar dos filhos com cada um dos cônjuges, não podendo o guardião impedir o acesso ao outro com restrições indevidas, uma vez que a convivência com o filho é um direito reciproco dos pais em relação aos filhos. [footnoteRef:26] [26: LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.74] 
Por fim, lobo faz um importante adendo 
O Poder Judiciário, no caso de conflito, deve considerar a âmbito da família em cada comunidade conforme seus valores e costumes. Grande parte das famílias brasileiras consideram natural o convívio com avós ou tios, todos dentro do mesmo âmbito familiar solidário,[footnoteRef:27] [27: LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.75] 
2.7. Princípio do melhor interesse da criança
O princípio do melhor interesse da criança deve ser observado como princípio basilar do Direito de Família contemporâneo, pois encontra assento constitucional preceituado no artigo 227 da Carta Magna de 1988. Tal princípio enseja a prioridade na elaboração e na aplicação dos direitos no que tange as crianças e adolescentes pelo estado, sociedade e pela família.
Paulo Lobo ressalta a inversão de prioridades que ocorreu na sociedade e no direito, isso pode ser observado nas separações de casais. O pátrio poder existia em função do pai, o interesse do filho era secundário, com tais alterações o poder familiar existe em função e no interesse do filho, deve ser considerada o seu melhor interesse. [footnoteRef:28] [28: Ibidem, P. 75] 
A utilização do princípio do melhor interesse do menor deve atentar para relatividades e subjetividades a serem verificadas no caso concreto, visando sempre a proteção da parte menos favorecida na relação, a criança e o adolescente, visto que são sujeitos de direito em condição delicada de desenvolvimento e não objeto de intervenção jurídica e social. 
Ademais, a Convenção Internacional dos Direitos das Crianças em seu artigo 3.1 tange a consideração essencial em face dos interesses da criança. A convenção estabeleceu que o menor deve ser protegido vastamente, eliminando qualquer possível diferença entre filhos legítimose ilegítimos, sendo dever dos pais cuidar igualmente da educação e do desenvolvimento. 
O artigo 227 da Constituição fundamenta o presente princípio estabelecendo o dever da família, sociedade e estado em assegurar com absoluta prioridade os direitos da criança e do adolescente. Ademais, os artigos 4º e 6º da Lei 8.069/90 Estatuto da Criança e do Adolescente vertem sobre tal princípio.[footnoteRef:29] [29: Ibidem, P. 76] 
3 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL 
3.1 Conceito de Responsabilidade Civil 
O Estado Democrático, buscando uma forma de apenar aquele que causa dano a outrem considerou a Responsabilidade Civil para que essa penalidade seja proporcional ao dano causado, que pode ser de ordem material ou moral. Sendo assim podemos observar que a responsabilidade deriva da previsão do próprio comportamento, demonstrando a responsabilidade pela sua correção. [footnoteRef:30] [30: BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.362] 
O artigo 927 do Código Civil expressa a obrigação daquele que causou o dano, em repara-lo 
Charles Bicca cita dizeres de Sergio Cavalieri Filho:
“Daí ser possível dizer que toda conduta humana que, violando dever judicio originário, causa prejuízo a outrem é fonte geradora de responsabilidade civil.” [footnoteRef:31] [31: BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.362
- programa de responsabilidade civil 9º edição. São Paulo: atlas 2010.] 
Diante a relevância da Responsabilidade Civil, a Constituição Federal assegura a indenização em face do dano moral ou material causado, conforme expresso no artigo 5º inciso V e X da Constituição e nos artigos 186 e 927 do Código Civil. 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; 
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;  
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
 A Responsabilidade Civil pode existir de duas maneiras, contratual e extracontratual. A contratual é classificada como aquela que viola uma obrigação contratual existente em um negócio jurídico, em contrapartida a extracontratual viola as regras de convivência e de comportamento.
Ademais, para o reconhecimento da Responsabilidade Civil faz-se necessários os seguintes requisitos para o reconhecimento sendo a conduta antijurídica, o dano e o nexo causal. Cabe enfatizar que isso independe da Responsabilidade Civil ser contratual ou extracontratual, objetiva ou subjetiva[footnoteRef:32]. [32: BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.388] 
3.2 Teoria da Responsabilidade Civil
A responsabilidade civil é dividida em objetiva e subjetiva, sendo a objetiva decorrente do risco da própria atividade, enquanto a subjetiva não necessita da intenção de causar dano ou não, ainda que por negligência, imprudência ou imperícia, deverá ser observada e efetivamente demonstrada. Charles bicca posição 383. Sendo assim, Silvio Rodrigues expressa a necessidade da ação ou omissão voluntário, culpa ou dolo, nexo de causalidade e dano. 
3.2.1 Teoria Objetiva
Como mencionado anteriormente, a Responsabilidade Objetiva visa reparar o ato lesivo causado por outrem, nessa teoria basta o dano e o nexo de causalidade, não se faz necessário a prova de culpa do agente. 
Esta explicação é conceituada por Sergio Cavalieri nas seguintes palavras:
Todo prejuízo deve ser atribuído ao seu autor e reparado por quem o causou independente de ter ou não agido com culpa. Resolve-se o problema na relação de nexo de causalidade, dispensável qualquer juízo de valor sobre a culpa.[footnoteRef:33] [33: CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2010.p. 137] 
O artigo 927 do Código Civil dispõe:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
	Dessa forma, em determinados casos a culpa é presumida e o ônus da prova invertido, ou seja, será necessário apenas que o autor prove a ação ou omissão e o dano causado pela conduta do agente.
3.2.2 Teoria Subjetiva
A Responsabilidade Subjetiva diferente da objetiva, exige a comprovação de culpabilidade do agente para a produção do evento danoso. Essa culpa será analisada conforme a negligência onde ele deixa de agir, imprudência na qual ele age de forma imoderada e imperícia na ausência de habilidade técnica para agir do agente.
Essa responsabilidade leva em conta as atitudes do agente, logo é necessário a existência de culpa e dolo do agente para que haja indenização, trocando em miúdos, quando este conhecer e querer o resultado ou quando embora não o conhecesse e não quisesse, agir com imprudência, imperícia ou negligência.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Acerca do tema, assevera Rui Stoco:
A necessidade de maior proteção a vítima fez nascer a culpa presumida, de sorte a inverter o ônus da prova e solucionar a grande dificuldade daquele que sofreu um dano demonstrar a culpa do responsável pela ação ou omissão. O próximo passo foi desconsiderar a culpa como elemento indispensável, nos casos expressos em lei, surgindo a responsabilidade objetiva, quando então não se indaga se o ato é culpável.[footnoteRef:34] [34: STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7 ed. São Paulo Editora Revista dos Tribunais, 2007.p. 157] 
3.4 Ação 
A responsabilidade Civil está atada a um ato que irá causar dano a outrem, ou seja, há uma pretensão de atingir um objetivo. Uma vez que se refere ao relacionamento em pessoas, a ação está conexa com a ética e, portanto, com o direito. 
O artigo 186 do Código Civil diz respeito a cláusula geral de responsabilidade civil
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
O conceito legal de ato ilícito comporta tanto a conduta comissiva quanto a omissiva, gerando responsabilidade civil.
Nos dizeres de Sergio Cavalieri Filho a responsabilidade civil: 
 A ação comissiva é a forma mais comum de manifestação da conduta, consistente em um movimento corpóreo comissivo, em comportamento positivo, como por exemplo, destruição de coisa alheia, a morte ou lesão corporal causada em outra pessoa. Mas com freqüência acontece de o dever de conduta se formar numa inatividade, ou seja, numa desistência da prática de atos que possam lesar os direitos e interesses de alguém. Em ambos os casos, fala-se de ação, entretanto no primeiro, ação comissiva e no segundo omissiva.[footnoteRef:35] [35: CAVALIERI FILHO, Sergio - Programa de Responsabilidade Civil. 8 ed.-São Paulo: Atlas, 2008, p.71] 
3.4.1 Dano Material E Moral
Não é possível falar em indenização, sem a ocorrência do dano, quando a vítima não sofre nenhum dano não há o que indenizar dessa forma, o dano é o conjectura de maior relevância da responsabilidade civil
O dano material, também chamado de patrimonial atinge o patrimônio da vítima, podendo ser um patrimônio futuro podendo causar sua redução ou intervir no seu crescimento. Tal dano pode ser reparado diretamente ou através de uma indenização em dinheiro.
O dano moral está previsto no artigo 5º incisos V e X da Constituição Federal. Nesse âmbito o dano não ter caráter patrimonial, sendo assim todos os danos imateriais.A ação de indenização por dano moral atinge a esfera INTIMA da vítima, visando amenizar qualquer sofrimento causado. [footnoteRef:36] [36: CAVALIERI FILHO, Sergio - Programa de Responsabilidade Civil. 8 ed.-São Paulo: Atlas, 2008, p.71)] 
Embora não se possa dizer propriamente em indenização, é possível observar como compensação da vítima, em caso de lesão ou simplesmente reparação.
Nos dizeres de Charles Bicca:
“Todos os pressupostos previstos para a responsabilização civil do ofensor, são de total e clara aplicação nas relações familiares, na qual muitas vezes ocorrem as maiores violações à dignidade da pessoa humana.’’[footnoteRef:37] [37: BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.398] 
3.4.2 Nexo de Causalidade 
O nexo de causalidade é o elo que liga o dano ao seu fato gerador, é a ligação ou relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado, sendo assim é necessário que exista entre ambos uma relação de causa e efeito, logo a conduta ilícita do agente tem que ser o causador do dano.
O nexo causal é um elemento naturalista, ou seja, não é um elemento exclusivamente jurídico pois decorre primeiramente de leis naturais. Pode-se dizer que esse elemento é a correlação de causa e efeito em relação a conduta e o resultado, logo é através desse elemento que se pode concluir quem foi o causador do dano
No mesmo sentido, Carlos Roberto Gonçalves dispõe:
“É a conexão de causa e efeito entre ação ou omissão do agente e o dano verificado. Vem expressa no verbo “causar”, utilizado no art.186. Sem ela, não existe a obrigação de indenizar. Se houve o dano, mas sua causa não esta relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade e também a obrigação de indenizar.”[footnoteRef:38] [38: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, v. 4.P. 54] 
Nas Palavras de Sérgio Cavalieri o entendimento jurisprudencial é:
“A imputação da responsabilidade civil, seja objetiva ou objetiva, supõe a presença de dois elementos de fato, sendo a conduta do agente e o resultado danoso, e um elemento logico-normativo, o nexo causal, que é logico porque consiste num elo referencial, numa relação de pertencialidade entre os elementos de fato. Sendo normativo em decorrência dos contornos e limites impostos pelo sistema de direito. STJ. REsp 719.738/RS, Primeira Turma.” [footnoteRef:39] [39: CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2010.p. 49] 
A Responsabilidade Civil pode existir sem culpa, mas não há possibilidade da sua existência sem o nexo causal, sendo assim, o nexo causal é um elemento oportuno em qualquer espécie da responsabilidade civil. 
Uma vez que o nexo de causalidade é indispensável entre o ato ou o fato e o efeito danoso, é necessário apenas demonstrar o vínculo entre o dano e o fato gerador, sendo assim, não há necessidade da demonstração do dano de imediato. Na hipótese de ambos os genitores serem responsáveis ou contribuírem para o dano causado, ambos serão responsabilizados.[footnoteRef:40] [40: CAVALIERI FILHO, Sergio - Programa de Responsabilidade Civil. 8 ed.-São Paulo: Atlas, 2008, p.50] 
4. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS GENITORES PELO ABANDONO AFETIVO
4.1 Deveres dos Genitores na Formação dos Filhos 
O artigo 229 da Constituição Federal determina de forma expressa o dever dos pais em criar, assistir e educar seus filhos, portanto, a obrigação dos genitores não se resume ao sustento dos filhos menores. 
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
A Seção II do Código Civil art. 1.634 destaca tais funções e deveres do poder familiar: 
Art. 1.634.  Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:                
I - dirigir-lhes a criação e a educação;
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;                        
No Brasil a sociedade passou a olhar de uma forma mais específica e cuidadosa em relação a atenção entre pais e filhos. Nós viemos de uma cultura que não se privilegia a atenção máxima em face dos filhos, uma cultura que muitas vezes o genitor ou genitora que paga pensão ao filho acredita que isso lhe da o direito de não ter mais responsabilidades sobre o filho, o que muitas vezes acaba atingindo o infante que está em um processo de desenvolvimento e perde o contato, o vínculo, com aquele que deveria ser seu alicerce.
Segundo o Jurista Yure Soares a psicanalise divide o desenvolvimento da criança em primeira infância, que vai de 1 ano a 5 anos, na qual é fundamental a orientação e participação dos pais, logo a ausência de qualquer um dos genitores na orientação da criança em aspectos básicos de convivência, não só aspectos educacionais, faz com que a criança crie futuramente algum distúrbio, bloqueio ou transtorno.
Ademais, os pais são o pilar na formação de seus filhos. A partir do momento em que uma criança ou um adolescente tem um bom convívio familiar e um lar estável, onde o diálogo e a comunicação prevalecem o seu desenvolvimento será melhor. 
Em decisão do STJ, expressa que não basta apenas o genitor pagar a pensão alimentícia, há necessidade da convivência. Essa decisão do STJ tem uma característica indenizatória, privilegiando o aspecto da negligência do genitor em não conceder a orientação afetiva ao seu filho. 
A importância dos genitores na vida de seus filhos, apresenta um fenômeno social alarmante, ainda que seja difícil de observar, mas essa ausência está ligada diretamente com o aumento da delinquência juvenil e o grande número de menores na rua, uma vez que este não tem o suporte familiar necessário.
. Nessa diretriz, Velásquez salienta:
O abandono, junto com a negligência, ausência de afeto e dialogo são problemas comuns que atinge a maior parte de crianças e adolescentes. 90% de menores infratores internados vem de familiar desestruturadas, onde a agressão física e emocional estava no lugar do diálogo, gerando problemas emocionais e psiquiátricos pela ausência das figuras materna e paterna. [footnoteRef:41] [41: VELASQUEZ, Miguel Granato, Hecatombe X ECA. Disponível em <http://www.mpal.mp.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2848&Itemid=149> Acesso em 26 set.2018 ] 
 
Quando um jovem cresce em um ambiente sadio onde há o afeto e atenção por parte dos genitores, este tende a desenvolver sua auto-estima. 
4.2 Transtornos Causados Pelo Abandono Afetivo
A criança cuja qual seu genitor abandonou pode apresentar comportamentos instáveis na sua fase adulta, seja social ou mental. Segundo estudos clínicos e psicológicos, a expectativa gerada por uma criança que almeja afeto ou atenção, pode causar distúrbios de comportamento, de relacionamento social, problemas escolares, baixa autoestima, entre outros. [footnoteRef:42] [42: BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.940] 
Charle Bicca TRAZ nos dizeres de Isabela Crispino que:
“Já é pacífico, entre psicólogos e assistentes sociais, o entendimento de que criança abandonada pelos pais, sofre de trauma e de ansiedade, que irá repercutir em suas futuras relações, fazendo-a perder sua confiança e autoestima.”[footnoteRef:43] [43: Ibidem, P. 940] 
Ocorre que muitas vezes essa lacuna deixada por um dos pais, é preenchida na vida da criança através de outras figuras presentes em sua vida. Os danos causados de ordem moral ou psíquica vão resultar de casasituação vivida, aspectos como vulnerabilidade, idade, participação do outro genitor serão relevantes. [footnoteRef:44] [44: BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.954] 
Charles Bicca expõe
“Estudos comprovam que a figura paterna é responsável pela transmissão de limites ao filho, bem como por ensinar a diferença entre o certo e o errado, introduzindo a criança de forma EFETIVA na sociedade.” [footnoteRef:45] [45: BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.965] 
Um artigo publicado pela Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul FALA que criança com ausência paterna tem duas vezes mais probabilidade de repetir o ano escolas. [footnoteRef:46] [46: MONTEGOMEREY, M. “Breves Comentários”. Em: SILVEIRA, Paulo. Exercício da Paternidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998,
Bicca, Charles. Abandono Afetivo: O dever de cuidado e a responsabilidade civilidades por abandono de filhos (Locais do Kindle 1101-1103). OWL Editora. Edição do Kindle.
] 
	Ademais, podemos entender que o afeto faz parte da formação do sujeito, sendo assim, a ausência do afeto pode trazer graves sequelas ao longo da vida, uma vez que aquele que nunca foi amado, terá dificuldades em amar. 
4.2.1 Guarda
Como muito mencionado no presente trabalho, a sociedade sofreu grandes mudanças no âmbito familiar. Até o século XIX o âmbito familiar era patriarcal, na qual o homem era o preventor enquanto a mãe se submetia aos cuidados do lar e dos filhos.
A partir do século XX esse conceito de família se modificou, tornando-se arcaico e obsoleto. Dentre as principais modificações foi a possibilidade da separação e do divórcio entre os cônjuges. Diante do exposto, o ordenamento jurídico passou a observar a necessidade de regulamentar a situação dos filhos nesses casos, ou seja, guarda e visitas. 
Para fins dos deveres comuns dos cônjuges, a guarda visa o amplo direito e dever de convivência família, considerada prioridade absoluta da criança, conforme o artigo 227 da Constituição Federal, bem como a manutenção do infante sob a ótica e amparo com oposição a terceiros, deveres esses inerentes ao poder familiar conforme estabelece o artigo 1.630 do Código Civil. [footnoteRef:47] [47: LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.146] 
Art. 1.630. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores.
Nos dizeres de Paulo Lobo
O princípio do melhor interesse da criança, trouxe-a ao centro da tutela jurídica, prevalecendo sobre os interesses dos pais em conflito. Na sistemática anterior, a proteção a criança era baseada em qual dos genitores ficaria com sua guarda, como aspecto secundário e derivado da separação. A concepção da criança como pessoa em desenvolvimento e sua qualidade de sujeito de direitos redirecionou a primazia para si, uma vez que por força do princípio constitucional da prioridade absoluta de sua dignidade e da sua convivência familiar que não podem ficar comprometidos com a separação dos pais. [footnoteRef:48] [48: LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.189] 
Conforme prevê o artigo 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente é dever dos pais prestar auxilio moral, material e educacional aos filhos. O não cumprimento a tais deveres acarreta serias consequências, bem como a substituição da guarda, a condenação a pagamento de alimentos podendo resultar em perda do poder familiar concomitante com a responsabilidade civil por danos morais em decorrência de violação aos direitos da personalidade da criança e adolescente que se formam nessa fase[footnoteRef:49]. [49: LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.147] 
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais.        
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros.
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos de tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de representação para a prática de atos determinados.
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários.
§ 4o  Salvo expressa e fundamentada determinação em contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando a medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do Ministério Público.  
Ademais, a proteção aos filhos é mais ampla no que tange a regulamentação da guarda e a fixação da obrigação alimentar ao genitor não guardião. Sendo assim. A proteção aos filhos nos dizeres de Paulo Lobo, constitui direito primordial. [footnoteRef:50] [50: LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.190] 
Paulo Lobo expõe:
Invertendo-se os polos dos interesses protegidos, o direito a guarda converteu-se no direito à continuidade da convivência ou no direito de contato. Os pais, resguardam os respectivos poderes familiares em face dos filhos e ao compartilhamento reciproco de sua formação[footnoteRef:51]. [51: Ibidem, P.190] 
	Há duas modalidades legais de guarda, sendo elas, guarda compartilhada e guarda unilateral. A guarda unilateral ou exclusiva é atribuída pelo juiz quando os genitores não chegam a um consenso, sendo descartada a hipótese de guarda compartilhada. No caso de nenhum dos genitores possuir condições de cuidar e zelar pelo infante, o juiz atribui a guarda unilateral a um terceiro.[footnoteRef:52] No que tange a guarda compartilhada, essa sempre sofreu uma rejeição por parte da doutrina e dos profissionais de direito, considerando que só deveria ser aplicada no caso de ser uma opção dos genitores, em decorrência dos conflitos durante a separação.[footnoteRef:53] Ocorre que atualmente a guarda compartilhada não é mais subordinada a um comum acordo entre os pais, não havendo acordo a guarda será aplicada pelo juiz sempre que possível conforme o art. 1.584 §2º do Código Civil. Havendo um comum acordo entre os genitores a guarda compartilhada pode ser requerida ao juiz por ambos nas ações litigiosas de divórcio, dissolução de união estável ou em medida cautelar de separação de corpos preparatória de uma dessas ações. [footnoteRef:54] [52: LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.192] [53: Ibidem, P. 198] [54: Ibidem, P. 199] 
Art. 1.584.  A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:              
[...] 
§ 2o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor.     
4.2.2 Regulamentação do Direito de Visita
O regime de visitas, além de ser um direito reciproco entre pais e filhos, é a expressão do direito à convivência familiar, a maneira na qual os genitores ajustarão a convivência do filho com o não guardião. Os encontros serão regularmente estabelecidos bem como festas escolares e datas comemorativas. lobo 196
O exercício de visita depende do que convencionado entre as partes, é a contrapartida da guarda exclusiva, ou seja, a visita do genitor não guardião. Cabe salientar que ele não se limita a visitar o filho na residência do guardião ou no local que este designe, mas sim de ter o infante em sua companhia e conservar sua manutenção e educação como consta no art.1.589 do Código Civil. O direito de visitas, deve ser atribuído pelo juiz com muita cautela, de modo que não prevaleçao interesse dos genitores em relação ao direito dos filhos de ter contato constante com ambos. [footnoteRef:55] [55: LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.196] 
A guarda, pode sofrer alterações no momento em que há dificuldade do pai não guardião em visitar o filho, o que poderia ser caracterizado como alienação parental. 
Paulo lobo acrescenta uma decisão que garante:
	“O pai tem o direito de visitar o filho e por sua vez, o menor. No que diz respeito ao adolescente, este tem o direito de aceitar ou não essas visitações, havendo fundadas razões para essa repulsa” (TJDE, EI 381 1997) [footnoteRef:56] [56: Ibidem, P.197] 
Ademais, a doutrina brasileira, com fulcro em decisões judiciais tem o entendimento que o direito de visita, na acepção de direito a convivência, não se limita da pessoa do genitor não guardião, uma vez que os parentes do infante não podem ter seu contato negado. A ideia dessa decisão, é para que não afete o âmbito e a convivência familiar dos menores. Sendo assim, se o juiz entender que a extensão atende efetivamente o melhor interesse da criança, ele deverá assegura-la, visto que o principio que o rege é a norma jurídica. [footnoteRef:57] [57: Ibidem, P. 197] 
4.3 Abandono Afetivo 
O Abandono Afetivo tem um aspecto jurisprudencial e doutrinário, com diversas nuances de posicionamento. Há fontes na doutrina, que são a favor da decisão do STJ, enquanto outras vão contra, por acreditarem que um genitor não deveria ser obrigado efetivamente a querer estar ao lado do seu filho, ele tem a liberdade de querer conviver com ele ou não. 
Pelo STJ, de acordo com a decisão, o abandono ocorreria após o nascimento do infante na qual o pai não teve o elo de convivência, pagou a pensão mas não foi presente. 
Na visão da Psicologia, a criança é um processo de construção de longo prazo que requer compromissos afetivos permanentes”, de sorte que “a negligência afetiva é muito danosa” [footnoteRef:58] [58: IENCARELLI, 2009, p. 166-167.] 
O termo Abandono Afetivo não diz respeito apenas o afeto, mas sim a obrigação de cuidado que os pais têm decorrente do poder familiar para com seus filhos, enquanto os filhos forem menores os genitores tem essa responsabilidade conforme determina os art. 1.634 do Código Civil e art. 229 da Constituição Federal.
Art. 1.634.  Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:                     
I - dirigir-lhes a criação e a educação;                  
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;                         III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;         
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior;                   
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro Município;
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;                      
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;                       
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.    
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
Deste modo, o conceito abarca, todo o suporte moral que os pais devem alcançar aos filhos, como a real participação em sua criação, a convivência, o diálogo, a educação, entre outros fatores. 
Nos dizeres de Tania Silva
 “O ser humano precisa ser cuidado para atingir sua plenitude, para que possa superar obstáculos e dificuldades da vida humana”. [footnoteRef:59] [59: Tânia da Silva Pereira. Abrigo e alternativas de acolhimento familiar, in: PEREIRA, Tânia da Silva; OLIVEIRA, Guilherme de. O cuidado como valor jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 309] 
Como mencionado repetidas vezes no transcorrer do presente trabalho, o abandono afetivo pode gerar graves problemas a criança e ao adolescente tal como impotência, perda, desvalorização como pessoa e vulnerabilidade. Quando os genitores deixam de exercer suas obrigações e deveres, agindo com indiferença afetiva em relação ao infante, ocorre o abandono afetivo. 
A Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-SP), apontou uma pesquisa que de cada 20 crianças registradas em São Paulo, uma não tem o nome do pai na Certidão de Nascimento e uma pesquisa do Datafolha revelou que 70% dos menores infratores internados na antiga Febem não viviam com o pai. [footnoteRef:60] [60: Disponível em <https://destrave.cancaonova.com/as-tristes-consequencias-da-ausencia-paterna/#sthash.YQDsliGW.dpuf> Acessado em 25 de out.2018] 
O ordenamento jurídico pátrio não pode compactuar com essa realidade e, acertadamente evolui no sentido de trazer o genitor para a relação familiar, como se vê da recente Lei n. 13.058, de 22 de dezembro de 2014.
5.0 ANALISE JURIDICA
A partir das questões apresentadas, importante se faz a análise de decisões judiciais pátrias sobre o tema, bem como nas instâncias superiores, como naquelas em que não se reconhece o direito à responsabilização pelo abandono afetivo, como nas em que reconhece tal possibilidade.
5.1 Histórico das Decisões e Evolução Jurisprudencial Sobre o Abandono
	Charles Bicca aponta em seu livro, alguns casos marcantes em decorrência do Abandono Afetivo que resultaram em condenação por danos morais. [footnoteRef:61] [61: BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.1.340] 
	A 2ª Vara Civil da Comarca de Capão da Canoa no Rio Grande do Sul, condenou em setembro de 2003 um pai a pagar 200 salários mínimos em decorrência dos danos psicológicos que sua filha sofreu após o abandono por parte do genitor. O fundamento para tal decisão foi que educação não abrange somente a escolaridade ou bens materiais, mais sim a convivência familiar, o afeto, estabelecer paradigmas, bem como criar condições para que o infante se desenvolva, ou seja, estar presente na vida do filho em todos os aspectos, não apenas no que lhe é mais conveniente.[footnoteRef:62] [62: BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.1.340] 
	No ano seguinte, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais condenou o genitor a pagar R$ 44.000 (quarenta e quatro mil reais) ao filho. O principio usado como amparo foi o Principio da Dignidade da Pessoa Humana e o Principio da Afetividade, tendo em vista o abandono paterno que causou sofrimento ao infante, bem como o privou do direito a convivência.[footnoteRef:63] [63: BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.351] 
	Há duas vertentes que entendem haver a possibilidade de indenização por danos morais e outra que não reconhece essa possibilidade.
5.2 Posicionamentos Negativo Relacionados À Compensação Por Abandono Afetivo
Em Março de 2006 o Superior Tribunal de Justiça entendeu não haver a possibilidade de reparação de danos morais decorrente do abandono, considerando que a indenização pela pratica do dano moral enseja a pratica de ato ilícito não cabendo a aplicabilidade dos artigos 159 do Código Civil de 1916. Ademais, segundo Charles Bicca, a decisão que foi interposto recurso ao Supremo Tribunal Federal não teve seu mérito analisado com a fundamentação de não haver ofensa a constituição [footnoteRef:64] [64: BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.1.354] 
A 4º turma do STJ fixou jurisprudência em diz respeito ao não cabimento de indenização por dano moral em face do abandono afetivo, independente dos danos causados. 
A justificativa da 4º turma é que no plano material a obrigatoriedade dos pais representa a obrigação jurídica de prestar alimentos,

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