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Escatologia: A Esperança em Deus na História


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SÍNTESE I – ESCATOLOGIA
Walisson de Souza Soares – RA00213106
 
COMPREENSÃO
Unidade I: as bases de nossa esperança
I. A escatologia tem um conteúdo básico: a esperança. Diante de situações de ameaça à existência individual e comunitária (opressões, guerras, catástrofes, morte etc.) ou quando a realidade se apresenta como absurda, o crente encontra abrigo em Deus. Ele é invocado como aquela última reserva de sentido, o que garante o triunfo sobre toda a realidade atual de opressão. Deus é o ponto Ômega da História, a luz última e definitiva que desvela o sentido aparentemente obscuro da aventura humana.
Dizer que a esperança é fundada em Deus não significa refugiar numa fantasia, numa pia invenção diante de um mundo inclemente. A esperança encontra seu sentido e origem em Deus por que ele se mostrou na história do seu povo como digno de confiança. 
O Deus da revelação judaico-cristã não tem medo da história nem do mundo. Ele se mostrou como criador e como companheiro de seu povo. Ele dá início à aventura histórica, ele fala aos homens prometendo-lhes um futuro bem concreto, faz aliança com eles, elege um povo e o guia no meio de suas lutas. Nesse processo, Deus se mostra como go’el, como defensor e presença ativa (“sou o que está junto a vós”; “eu vi, eu ouvi, eu desci”). É a fidelidade de Deus às suas promessas que em último caso dá sentido à esperança: nele se pode jogar o futuro, nele dá para confiar, pois sua esperança não decepciona, apesar do caráter obscuro e trágico do presente humano.
II. Porque o Deus de Israel se mostra como o Deus fiel na história, a esperança bíblica adquiriu caráter concreto, isto é, as promessas de Deus estão circunscritas ao âmbito histórico. Não se trata de uma esperança espiritualizada, para o além da história, na base de uma concepção dicotômica do mundo. O que importa para o crente e para seu Deus é a intervenção, o auxílio, a salvação nesta vida, nesta história, neste povo bem concretos e circunstanciados.
III. Numa primeira etapa, que se estende desde os patriarcas até o exílio de 587 a. C., o futuro escatológico dos israelitas é compreendido como “futuro dentro do processo histórico contínuo”. A esperança é sempre “esperança de”: a) ter um lugar para viver – para um povo nômade, cujo pai, Abraão é símbolo máximo dessa esperança; b) ter prole, e assim vida além da morte individual; c) libertação sociopolítica – para um povo escravizado e oprimido; d) ter um relacionamento especial com Deus – ser propriedade especial de Deus, como esposa fiel de único esposo, na base de uma aliança firmada entre ambos; e) ter a paz – habitar a terra, viver de seus frutos, ser alguém no meio dos povos depois de muita luta e opressão. Como visto, as promessas concretas de Deus alimentam em Israel uma esperança concreta, intra-histórica.
IV. A história de Israel é construída sobre promessas, todas elas contra toda expectativa humana. A alguém sensato elas chocam por sua evidente impossibilidade de realização. Contudo, o povo as leva a sério, assumindo-as como horizonte de suas vidas. Isso se deve ao fato de que quem promete é Deus, e este é fiel, sua esperança não defrauda. O prometido se cumprirá com toda certeza, malgrado às circunstâncias apontem o oposto.
Então é só esperar de braços cruzados? Nada disso. A esperança de Israel é ativa. Deus promete, mas são os homens e as mulheres que levam a promessa ao seu termo. A fidelidade de Deus suscita um movimento, uma inspiração que leva à consecução do conteúdo da promessa. Assim, se deparam a iniciativa de Deus e o empenho do ser humano. E onde estas forças se encontram surge uma força transformadora irresistível.
V. A realização das promessas traz consigo um perigo: a estagnação. Deus realizou tudo o que prometeu. Já não devemos esperar mais nada e contentar com o recebido e conquistado! Mas vem a pergunta: já chegou o reino, essa é a realidade definitiva que Deus promete? 
Outro perigo é a acomodação e o esquecimento da aliança. Quando se pensa que tudo já foi conquistado, se perde a tensão para, própria da esperança, e com ela a relação de confiança no Deus verdadeiro e fiel (este dá lugar a um fantoche, a um ídolo, a um deus domesticado).
Será o exílio para Israel um ponto de inflexão. A partir dele surgem novos questionamentos (será Deus fiel? temos razões para acreditar no cumprimento de suas promessas?) e um alargamento da esperança. O movimento profético desponta então como alento num momento de escuridão histórica. Caberá aos profetas infundir no povo aquela esperança apesar de toda afirmação e fato em contrário.
EXPLICAÇÃO
A escatologia, como disciplina teológica, arranca da revelação de Deus na história humana. O éschaton do mundo e da história se vincula àquilo que é primeiro. Se no princípio Deus se mostrou fiel, no fim se tem a certeza de que ele fará o mesmo. Pois Deus não pode negar-se a si mesmo.
Primeiro na história de comunicação entre Deus e o humano é a criação e o encontro com os patriarcas em vista de uma aliança. A estes Deus se revela como o Deus que promete: terra, prole, libertação, aliança, paz. Suas promessas são acolhidas na esperança de sua realização, porque quem promete é um Deus fiel.
Já que Deus se mostra como companheiro e libertador dentro da história, diante de situações concretas de ameaça, opressão e morte, as promessas de Deus são concretas, intra-históricas. 
O Deus que promete suscita um dinamismo novo na história de seu povo. Sua iniciativa convida ao protagonismo humano, ao empenho em vista da superação dos presentes contextos de escravidão, opressão e morte. A promessa encontra-se, deste modo, aberta à acolhida e a um diligente esforço que sempre é precedido pela decisão divina em favor de seu povo. É Deus que primeiro quis construir com seu povo uma história nova. É Deus que anela por dar um novo rumo ao mundo através da eleição de um povo como parceiro/companheiro.
Apesar da infidelidade humana, de certo pendor à estagnação e resignação, Deus permanece (por meio de convites insistentes) como aquela reserva última de esperança, como a promessa de um sentido definitivo diante do mal, da dor e da opressão das situações presentes.
OPINIÃO
R. Blank tem o mérito de fazer partir a escatologia de uma base escriturística. Assim, se torna atual a palavra do magistério de que a Escritura deve ser a alma da teologia (Dei Verbum, 24).
Outra grande contribuição é o acento numa escatologia histórica, assentada ela mesma na Escritura. Deste ponto de vista se supera a dicotomia entre mundo e eternidade, iniciativa humana e ação divina (graça), haja vista que Deus é o Deus da história, aquele que se deixa compadecer pelas vicissitudes humanas, sobretudo as de opressão e morte, mas sem anular o humano. Deus quer contar com o protagonismo dos homens e mulheres. O mundo e a história novos surgem de uma aliança entre Deus e seu povo.

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