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Caso Clínico Parasitologia Médica

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CASO 1- 
Um paciente jovem de 19 anos chega sonolento ao ambulatório com a queixa principal de dor abdominal de grande intensidade e distensão abdominal além de febre e dor de cabeça. No exame físico apresentava uma rigidez de nuca sugestiva de meningite. Sua mãe o acompanhava e relatou que vinha com dor epigástrica há mais de 6 meses, tipo queimação com uma diarréia ocasional e de pequeno volume de consistência amolecida. Relata que estes sintomas já perduravam cerca de 6 meses já tendo feito até uma endoscopia digestiva que demonstrou apenas uma duodenite. Em seus exames antigos do início do quadro, se observava uma anemia normocrômica e normocítica e uma expressiva eosinofilia. Disse que há uma semana ele começou com sintomas gripais com febre e tosse leve além de dores de garganta e perda do sabor e do paladar, quando prescreveram para ele Azitromicina e Prednisona pela suspeita de COVID-19. 
a) Qual a verminose provavelmente é a causadora deste quadro ?
Estrongiloidíase- STRONGYLOIDES STERCORALIS.
b) Explique a fisiopatologia desta parasitose
A L3 (forma infectante) se prende a pele do indivíduo suscetível e por ação de suas enzimas colagenases. ocorre degeneração de camadas da pele, possibilitando a entrada deste parasita, caindo na corrente sanguínea ou linfática. Diante da necessidade de oxigênio para o seu desenvolvimento, a forma L3 alcança, dentre outros órgãos, o coração. Posteriormente, através das artérias pulmonares, as larvas alcançam a circulação pulmonar e penetram os capilares pulmonares, atravessam a parede alveolar e alcançam a luz dos alvéolos, já na forma larvária L4. Nesse momento, temos um quadro clínico chamado de síndrome de Loeffler: tosse, febre, pneumonite e aumento da secreção de muco. 
Neste momento, a forma larvária L4 caminha retrogradamente pela circulação pulmonar, devido ao movimento respiratório normal do indivíduo, somado à ação de tosse e movimentos ciliares do epitélio pulmonar. alcançando a orofaringe, a L4 pode ser deglutida e alcançar novamente o estômago e intestino delgado, onde o parasita adquire a fase L5, que é o verme adulto. Este penetra na mucosa intestinal, dando origem às fêmeas, que iniciam a ovoposição. Os ovos contendo L1, e posteriormente eclodem L2 que acabam sendo expulsos e liberados nas fezes.
>Lesões cutâneas:
.Síndrome da larva currens – lesão eritematosa e pruriginosa; Urticária; Petéquias; Vasculites cutâneas.
>Lesões pulmonares:
.Hemorragias petequiais e profusas; Mudas
; Síndrome de Loeffler; Retenção das larvas nos pulmões.
>Lesões intestinais:
.Presença e atividade das fêmeas adultas no ID + ovopostura + eclosão e migração
das larvas; Agressão traumática, histolítica, e irritativa; Inflamação com edema e erosão do epitélio; Enterite catarral; Diminuição da digestão e absorção; Obstrução intestinal.
>Pacientes imunossuprimidos:
.Hiperinfecção e disseminação do parasito por todo o organismo; Exuberância de sintomas gastrointestinais e presença de larvas rabditóides e/ou filarióides em outros tecidos.
c) Explique a relação entre a parasitose e a meningite deste quadro
>Estrongiloidíase x HTLV-1:
.Maior tendência a quadros de disseminação e
hiperinfecção;
.Vírus - aumenta o risco de infecção crônica
pelo helminto;
.Helminto – antecipa quadro de leucemia aguda
de linfócitos T.
A síndrome de hiperinfecção pode resultar de infecção por Strongyloides recém-adquirida ou da ativação de infecção previamente assintomática. Em ambos os casos, pode resultar em doença disseminada que acomete órgãos que geralmente não fazem parte do ciclo de vida normal do parasita (p. ex., sistema nervoso central, pele, fígado e coração). A síndrome de hiperinfecção ocorre com frequência em pacientes que tomam corticoides ou têm imunidade prejudicada mediada por células do tipo TH2, sobretudo naqueles com infecção pelo vírus T-linfotrópico humano 1 (HTLV-1). Porém, hiperinfecção e estrongiloidíase disseminada são menos comuns do que poderia ser predito entre pacientes com HIV/aids, até mesmo aqueles que vivem em áreas onde Strongyloides é altamente endêmico.
O comprometimento do sistema nervoso central pode ser por meningites parasitárias, abscesso cerebral e invasão difusa do cérebro. Meningite secundária por Gram-negativo e bacteremia, que ocorrem com alta frequência, provavelmente refletem o rompimento da mucosa do intestino e/ou o transporte de bactérias na migração das larvas.
d) Diagnóstico e tratamento desta parasitose
>Técnicas laboratoriais:
.Exame Parasitológico de Fezes.
.Exame direto;
.Exame de secreção pulmonar, corado por Giemsa, à procura de L4.
.Métodos de concentração por sedimentação;
.Cultura em placa de ágar;
.Harada-Mori e técnica de Baerman- Moraes ou Rugai à procura de L2.
.Técnicas mais utilizadas na pesquisa científica:
.Diagnóstico sorológico- Sorologia RIFI e ELIZA á procura de igG específico.
.Diagnóstico molecular.
-Na síndrome de hiperinfecção, podem ser detectadas larvas filariformes nas fezes, no conteúdo duodenal, no escarro e no lavado brônquico e, com menos frequência, no líquor, na urina ou nos líquidos pleural e ascítico. Também podem ser vistos nas biópsias do tecido pulmonar ou tecido de outros órgãos. Radiografias de tórax podem mostrar infiltrados intersticiais difusos, consolidação, ou abscesso.
Tratamento é feito com ivermectina ou albendazol.

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