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Sabrina Angheben HEPATITES Hepatite indica qualquer processo inflamatório do fígado, independente da causa. As hepatites virais são doenças provocadas por diferentes agentes etiológicos, com tropismo primário pelo tecido hepático, que apresentam características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais semelhantes, porém com importantes particularidades. - Doença de notificação compulsória. - A, B e C são as mais comuns no Brasil. - D é mais comum no norte. ● Suspeita de hepatites: - Sintomático ictérico: - Indivíduo que desenvolveu icterícia (recente ou não), com ou sem sintomas como febre, mal estar, náuseas, vômitos, mialgia, colúria e hipocolia fecal. - Indivíduo que desenvolveu icterícia e evoluiu para óbito, sem outro diagnóstico etiológico confirmado. - Sintomático anictérico: - Indivíduos sem icterícia, que apresente um ou mais sintomas (febre, mal estar, náusea, vômitos, mialgia) + valor aumentado das aminotransferases. - Assintomáticos: - Indivíduo exposto a uma fonte de infecção bem documentada (ex. uso de drogas injetáveis). - Comunicante de caso confirmado de hepatite, independentemente da forma clínica e evolutiva do caso índice. - Aminotransferases >=3x a referência. HEPATITE A AGENTE ETIOLÓGICO: - Vírus da hepatite A; - RNA simples. - Considerado um enterovírus do gênero hepatovirus. - Circula apenas entre humanos. - Transmissão: oral, ao ingerir alimento ou água contaminados com vírus eliminados pelas fezes. - Sexo oral também. QUADRO CLÍNICO - Incubação de 2-4 semanas. - A maioria dos casos é oligossintomático. - Febre, mal-estar geral, inapetência, náusea e êmese. - 20-30% icterícia. - Intolerância a odores intensos. - Raramente ocorre a tríade de icterícia + acolia fecal + colúria. - O quadro dura de 2-3 semanas. - Se o quadro for concomitante à hepatite B ou C ocorre alteração clínica mais pronunciada, com piora da função hepática. - Cura ocorre em 99% dos casos → pode ocorrer hepatite fulminante. DIAGNÓSTICO - Alterações: - Transaminases comumente >500-1000 UI/mL → pode ultrapassar 3000. - A bilirrubina costuma estar aumentada entre 5-10 mg/dL. - Exame específico: - Anti-HAV total: IgM + IgG - Anti-HAV IgM TRATAMENTO - Uso de sintomáticos; - Evitar drogas hepatotóxicas (especialmente paracetamol); - Repouso relativo até normalização das aminotransferases; - Suspender álcool por 6 meses; - A administração de corticosteróide é totalmente contra-indicada. VACINAÇÃO - Vacina inativada. - Apenas na rede privada. - Disponibilidade: - Nos serviços privados de vacinação estão disponíveis as apresentações pediátrica (para uso até 15, 17 ou 19 anos de idade, dependendo do fabricante) e de adultos. - Indicação: - Maiores de 12 meses → paciente com vida sexual ativa. - Esquema: - 0-6m. Sabrina Angheben HEPATITE B AGENTE ETIOLÓGICO - Vírus da hepatite B; - Família hepadnaviridae; - É um vírus de DNA dupla fita; - Completa no núcleo com a transcriptase reversa; - Apresenta 10 genótipos; - Estrutura: - Partícula viral infecciosa: nucleocapsídeo proteico (HBcAg) + DNA dupla fita + enzima DNA polimerase viral; - É no interior da célula. - É necessário que ocorra a infecção celular para desenvolver Anti-HBc. - A partícula é envolta por envelope lipoproteico originado da última célula que o vírus infectou → contém três antígenos (HBsAg). - É formado um antígeno a partir do retículo endoplasmático, que é secretado na célula (HBeAg). - Ocorre pela replicação do vírus. - Transmissão: exposição cutâneo-mucosa a sangue e fluidos corporais (lágrimas, semem, saliva e secreção cervical), além da infecção vertical. - Vírus pode sobreviver no ambiente por até 7 dias. - Apenas se infecção ativa → carga viral. EPIDEMIOLOGIA - ⅓ da população mundial já foi exposta ao vírus. - Pacientes com infecção crônica pelo VHB estão sob risco de desenvolver complicações, como cirrose, descompensação hepática e carcinoma hepatocelular (HCC). - No Brasil, estudos realizados nas capitais estaduais, na população de 13 a 69 anos, estimam a prevalência de hepatite B crônica entre 0,6 e 0,9% (120 mil a 198 mil). PATOGÊNESE - Período de incubação de 30-180 dias. - Primeiro marcador positivo é o HBsAg (1-12 semanas da infecção) QUADRO CLÍNICO ● Quadro agudo: ○ A maioria dos casos são assintomáticos ou oligossintomáticos. ○ A forma ictérica ocorre em 30-50% dos casos. ○ Pode ocorrer febre, dor abdominal, náuseas, vômito, colúria e acolia fecal. ○ O prognóstico é excelente, e geralmente não é necessário tratamento antiviral específico. Sabrina Angheben ● Quadro agudo grave: ○ geralmente se recomenda tratamento com antivirais, para pacientes com manifestações de insuficiência hepática aguda ou imunossuprimidos ● Quadro crônico: ○ A infecção crônica é definida pela presença persistente do HBsAg no soro de um indivíduo por um período de seis meses ou mais. ○ Ocorre, primariamente, por transmissão vertical ou pela infecção na infância. ○ A infecção do feto ou do neonato pelo HBV é dependente do estado imune e da carga viral da mãe. ○ A infecção crônica pelo HBV pode ser dividida em quatro fases: ○ Imunotolerância: ■ Ocorre elevada replicação viral, com tolerância do sistema imune e sem evidência de agressão hepatocelular (transaminases normais ou próximas do normal); ○ Imunorreação: ■ Com o esgotamento da tolerância imunológica, ocorre agressão aos hepatócitos, nos quais ocorre a replicação viral, gerando elevação das transaminases; ○ Portador inativo: ■ Essa fase é caracterizada por níveis baixos ou indetectáveis de replicação viral, com normalização das transaminases e, habitualmente, soroconversão para anti-HBe. ■ O escape viral pode ocorrer por integração do DNA viral ao genoma das células hospedeiras ou por depressão da atividade imunológica do hospedeiro, seja por meio de mutações virais, seja por tratar-se de pacientes imunodeprimidos; ○ Reativação: ■ Em seguida à fase do portador inativo, pode ocorrer reativação viral, com retorno da replicação. DIAGNÓSTICO Sabrina Angheben - HBe: antígeno de replicação. - HBc: antígeno de invasão central. - HBs: antígeno de superfície. - Se negativo, indica infecção prévia que não está mais presente. ● Quando solicitar HBsAg/IgG antiHBc TRATAMENTO Objetivos: - Suprimir replicação viral: - Normaliza enzimas hepáticas; - Soroconversão HBeAg → AntiHBe - Soroconversão para AntiHBs - Melhora das alterações histológicas ● O tratamento da hepatite B crônica está indicado nas seguintes situações: ○ Idade superior a 2 anos; ○ HBsAg (+) por mais de seis meses; ○ HBeAg (+) ou HBV-DNA > 104 cópias/ml ou 1.900 UI/ml (fase de replicação); ○ ALT > 2 vezes o limite superior da normalidade; ○ Ter realizado, nos últimos 24 meses, biópsia hepática onde tenha sido evidenciada atividade necro-inflamatória de moderada a intensa; ○ Ausência de contraindicação ao tratamento. Sabrina Angheben VACINAÇÃO - É uma vacina inativada; - É composta por proteína de superfície do vírus da hepatite B purificado; - Ao nascer + 2 meses + 6 meses - Adultos 0-1-6 ● Paciente com contato prévio, porém sem anticorpos: ○ Tratamento profilático para evitar reativação, em caso de imunossupressão. ● Se infecção aguda: ○ Acompanhar em 6 meses: pode cronificar ou resolução espontânea. ○ Exceto em caso de insuficiência hepática. ○ Se cronificar: ■ Carga viral >2000: tratar. ● Se HBsAg negativo e AntiHBs positivo: ○ Solicitar AntiHBc: ■ Vacinação; ■ Soroconversão; ● Orientar que se utilizar imunossupressor avaliar a necessidade de profilaxia. ● Se infecção crônica com Anti-HBs negativo: ○ Acompanhamento semestral. ○ Solicitar outras doenças, como HIV e etc. ○ Avaliação do parceiro e filhos. ■ Se esposa positiva: solicitar filhos. ● Quando encaminhar? ○ Quando o diagnóstico for positivo para infecção atual (aguda ou crônica) → HBsAg positivo. ○ Paciente que precisa tratar ou de exame de alto custo. ○ Centro de tratamentode hepatite. ● Orientação: ○ Buscar entender o contato do paciente com o vírus → rastrear demais familiares. HEPATITE C AGENTE ETIOLÓGICO - Vírus da hepatite C. - Família flaviridae. - Possui RNA e alta taxa de mutação → dificulta obtenção de vacina. - Alta taxa de cronificação (80%). - É a principal causadora de cirrose no Brasil. - Transmissão: parenteral pelo sangue e seus derivados, drogas injetáveis e baixa transmissão sexual e vertical. - OBS: a partir de 1993 o anti-VHC se tornou rotina nos bancos de sangue. PATOGÊNESE A infecção crônica pelo VHC provoca dano hepático e inflamação no fígado, com consequente estímulo à fibrogênese, com síntese de constituintes da matriz extracelular e deposição de colágeno nas áreas portais, o que acaba levando à distorção da arquitetura do órgão. A principal citocina envolvida nesse processo é o fator transformador do crescimento beta (TGF-β), cujos níveis séricos e expressão hepática se encontram aumentados em pacientes com hepatite C. Durante o processo de fibrogênese ocorre a capilarização dos sinusóides, com aparecimento de membrana basal separando os hepatócitos do sangue sinusoidal, perturbando a troca de nutrientes entre o sangue e os hepatócitos, produzindo manifestações clínicas da insuficiência hepática. ● Progressão da fibrose: ○ Nos primeiros dez anos de infecção, praticamente não há progressão, a não ser que a infecção ocorra após os 50 anos de idade ou haja coinfecção com HIV; ○ Na segunda fase, que dura cerca de 15 anos, existe progressão lenta e contínua; ○ Nos dez anos seguintes, a progressão se intensifica; ○ Após 35 anos de infecção, a progressão é ainda mais rápida. De acordo com esse modelo, o tempo de progressão para cirrose é de cerca de 40 anos e pode ser modulado por diversos fatores, como idade, gênero, consumo de álcool, obesidade, diabetes ou coinfecções com VHB e HIV. QUADRO CLÍNICO - Período de incubação de 2 semanas a 6 meses. - A maioria das vezes é assintomática. - Na fase crônica: - Pode ser assintomática até dano extenso. - Fadiga crônica, flutuações dos níveis de ALT e AST (<=5x a referência). - Sintomas extra-hepáticos: crioglobulinemias, glomerulonefrites e linfomas não Hodgkin de células B. ● Graduação das hepatites crônicas: ○ A biópsia hepática é o “padrão-ouro” para a caracterização do grau de fibrose hepática. Sabrina Angheben F= fibrose DIAGNÓSTICO - Avaliação de transaminases e bilirrubina. - Exame específico: - VHC-RNA PCR: positivo, indica viremia. - Anti-HCV ● Anti HCv positivo: ○ Solicita carga viral (RNAv) ■ Fase ativa: + ■ Fase inativa: - TRATAMENTO ● Hepatite C aguda: ○ Considerada até 6 meses. ○ Identificação da forma aguda: ■ Pela soroconversão do anti-VHC em indivíduo sabidamente negativo; ■ Por caracterização clínica de quadro de hepatite aguda com epidemiologia positiva;, ○ Indicação de tratamento: ■ Soroconversão anti-HCV documentada, em paciente com quadro clínico de hepatite aguda (paciente que no início dos sintomas apresenta anti-HCV negativo que converte para anti-HCV positivo na segunda dosagem – realizada com intervalo de 90 dias); ■ Quadro laboratorial de anti-HCV negativo com detecção do HCV-RNA por biologia molecular (qualitativo), realizado por volta de 90 dias após o início dos sintomas ou da data de exposição, quando esta for conhecida em paciente com histórico de exposição potencial ao vírus da hepatite (HCV). - Interferon: efeitos antivirais, antiproliferativos e imunomoduladores. - A IFN convencional é empregada na dose de 5 MU diários, via subcutânea (SC), durante 1 mês. - A seguir, o tratamento é complementado com 5 MU 3 vezes/semana, por mais 5 meses. ● Hepatite C crônica: ○ Objetivo é erradicar o vírus → cura. ○ O tratamento é indicado para pacientes com replicação viral no sangue e evidências bioquímicas e histológicas de lesão do parênquima hepático. ○ Ter entre três e 70 anos. ○ Ter contagem de plaquetas acima de 50.000/mm3 e de neutrófilos acima de 1.500/mm3. - Orientações: - Não há restrições alimentares ou de atividade física. - Deve-se evitar o uso de fármacos potencialmente hepatotóxicos e o consumo de álcool, pois podem agravar o curso clínico da hepatite crônica. - Os pacientes devem ser orientados quanto às possíveis vias de transmissão do vírus. - Recomenda-se o não compartilhamento de escovas de dente, aparelhos de barbear e cortadores de unhas - Farmacológico: - Varia conforme o genótipo: Sabrina Angheben HEPATITE D ou DELTA AGENTE ETIOLÓGICO - Vírus da hepatite D (VHD). - Família deltaviridae - genótipos 1-8. - OCORRÊNCIA EXCLUSIVAMENTE ASSOCIADA AO B. - Possui elevada patogenicidade e poucas opções terapêuticas, além de ser grave e evoluir rapidamente. - É uma quimera: partícula híbrida dependente do ciclo da hepatite B. - Estrutura: - O VHD é coberto por envelope fosfolipídico composto pelo antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HBsAg). - Também por isso, o VHD divide com o VHB o mesmo mecanismo, isto é, o mesmo receptor de entrada na célula hospedeira. - Transmissão: - Indivíduos suscetíveis ao vírus B, caracterizando coinfecção, com aquisição simultânea de ambos; - Portadores crônicos do vírus B, sequencialmente, caracterizando superinfecção. HEPATITE E AGENTE ETIOLÓGICO - Herpesvírus. - Vírus de RNA que infecta humanos, porcos e aves. - Transmissão: contato com material infectado por fezes, água ou alimentos; consumo de carne suína. QUADRO CLÍNICO - Mesmo quadro da hepatite A. - Infecção em gestantes: 30% de letalidade do terceiro semestre. - Pode cronificar: - Ocorre especialmente em imunocomprometidos. - Elevação das transaminases (100-200 UI/mL). - Risco de letalidade. DIAGNÓSTICO - Avaliação de transaminases e bilirrubina. - Sorologia de VHE ou pesquisa de RNA viral por PCR em tempo real. - Essas pesquisas devem ser incluídas na investigação de elevação das transaminases em pacientes submetidos a transplantes de órgãos sólidos. TRATAMENTO - Uso de sintomáticos; - Evitar drogas hepatotóxicas (especialmente paracetamol); - Repouso relativo até normalização das aminotransferases; - Suspender álcool por 6 meses; - A administração de corticosteróide é totalmente contra-indicada.
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